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DIP 1 DIP Prof. Lara DIP: Doença inflamatória pelvica que acomete os órgãos genitais femininos (útero, trompas de falópio, ovários e/ou estruturas contíguas) e que pode ser de etiologia infecciosa ou não infecciosa, instalando uma síndrome aguda ou crônica � Baixo conhecimento sobre a doença Manejo indequado 50% dos médicos não sabem o tratamento correto <25% examinam os parceiros secuais 📊 Prevalência entre 2-12%,s endo a doença infeciosa mais comum em mulheres de países desenvolvidos 5ª causa de hospitalização entre as mulheres Ocorre comumente em mulheres <35 anos Raramente ocorre antes da menarca, após a menopausa ou durante gestações EUA: 100.000 mulheres hospitalizadas por DIP ao ano 15% necessitam de UTI Transmissão 1. Sexual 90% dos casos são originados de uma DST 2. Procesimentos ginecológicos e cirúrgicos 3. Parto/aborto 4. Transmissão sanguínea (TB pélvica) 5. Contaminação para outras estruturas inflamadas na cavidade abdominal (apêndice, vesícula) ➯ 10% dos casos possuem origem iatrogênica ➯ Altas taxas de complicações: infertilidade, gravidez ectópica e dor pélvica crônica ➯ Altos custos econômicos Agentes etiológicos Infecção polimicrobiana: ➯ 30% por clamídia ou gonorreia ➯ 50% dos casos não se identifica um agente causador Neisseria gonorrhoeae, Chlamydia trachomatis (DST) Micoplasma hominis e Ureaplasma urealyticum Bactérias da flora vaginal endógena: A presença de ATO e peritonite são eventos tardios resultantes de uma mistura de bactérias anaeróbias e facultativas A redução da elafina, uma proteína com propriedades antimicrobianas e anti-inflamatórias, está relacionada com vaginose bacteriana, com uso de pílulas anticoncepcionais e com hidrossalpinge, o que explicaria a alteração do ambiente cervicovaginal e a ascensão da infecção para o trato genital superior DIP 2 aeróbios e anaeróbios Gram + e Gram – Bacteroides Peptoestreptococcus Gardnerela vaginalis Escherichia coli Spreptococcus B-hemolítico do grupo A Actinomices israeli (usuárias de DIU) Haemophilus influenza: papel incerto Patogênese Fisiopatologia: Em decorrência da ascensão de microrganismos do trato genital INFERIOR Processo iniciado por uma DST que lesa o tecido tubário Inicia-se uma CERVICITE seguida por mudança no microambiente cervicovaginal Ocorre uma VAGINOSE BACTERIANA e ASCENÇÃO para o tratao genital superior (TGS) Atinge o endométrio trompas, ovários e estruturas adjacentes Processo inflamatório tubário (principalmente fímbrias e ampola) → danos ao seu funcionamento Pode ocorrer oclusão tubária e formação de abscessos Frequentemente atinge os ovários Necrose do tecido tubário altera o potencial de óxido-redução tecidual → facilita a infecção por outros microorganismos (principalmente anaeróbios) Nível depende: virulência do agente e mecanismos de defesa do hospedeiro Infecção do trato genital SUPERIOR: salpingite: inflamação nas trompas endometrite: inflamação no endoétrio parametrite: inflamação do tecido que circunda o útero e se estende lateralmente até a parede pélvica pelviperitonite: inflamação do peritônio pélvico abscesso tubo-ovariano (ATO): coleção de pus nos anexos, desenvolve em cerca de 15% das mulheres com salpingite Peritonite: extravasamento de material purulento do aparelho genital para a cavidade pélvica Fatores de risco DST prévia ou atual DIP prévia Adolescência ou adulta jovem Anticoncepção e risco de DIP Métodos de barreira → muito efetivos DIP 3 Idade (inversamente proporcional) 25% têm menos de 25 anos Múltiplos parceiros Início precoce da atividade sexual Parceiro portador de uretrite (sintomática ou não) Baixo nível sócio-econômico Relação com IST’s aumento da incidência classe alta está relacionado a maior liberdade sexual Tabagismo Procedimentos ou condições que envolvem a quebra da barreira cervical, como a intrumentação cirurgica do colo uterino Ducha vaginal (não demostrou ser um fator de risco para DIP) - livro condutas em ginecologia ACOs: alteram o muco cervical dificultando a ascensão dos microorganismos → aumenta o risco de DIP pelo baixo uso de método de barreira DIU: há aumento do risco durante 3 semanas após a inserção; em caso de cervicite, o DIU está contra-indicado Laqueadura Tubária: pode proteger as trompas distais, mas não previne a infecção � Porque tratar DIP? Riscos de infecção sistêmica / Abscesso tubo-ovariano Dor crônica (15-20 %) → Histerectomia Gestação ectópica (1%) Infertilidade tubária: 40% ~ 3 episódios 20% ~ 2 episódios Recorrência (25%) Doença genital masculina (25%) Ca cervical/ Ca ovário? Apresentação Clínica DIP assintomática: 60% das DIPs são silenciosas Sintomas vagos: dispareunia, sangramento irregular, disúria ou sintomas gastrintestinais A clamídia está implicada nos casos de DIP assintomática e leva ao dano tubário e à infertilidade A DIP deve ser tratada inclusive com baixa suspeita clínica DIP sintomática: Dor pélvica recente associada ou não à dispareunia, ao corrimento vaginal e ao sangramento pós coital ou intermenstrual Casos mais graves de DIP apresentam febre, mal-estar, náuseas, vômitos, dor no hipocôndrio superior direito (síndrome de Fitz-Hugh-Curtis, que ocorre em 5% dos casos) DIP aguda Dor severa e sensibilidade em baixo ventre Febre, mal estar, vômitos, taquicardia Corrimento vaginal abundante Sangramento vaginal irregular Sensibilidade anexial Dor a mobilização do colo Massa tubo-ovariana Síndrome Fitz-Hugh-Curtis DIP crônica/dor pélvica crônica Dor crônica em baixo ventre, dor lombar Mal-estar e fadiga Dispareunia profunda, dismenorréia Corrimento vaginal abundante e intermitente Menstruação irregular Sensibilidade em baixo ventre/pélvis Útero volumoso, sensível Infertilidade (“Epidemia silenciosa”) DIP 4 � A síndrome de Fitz-Hugh-Curtis é a peri-hepatite, demonstrada pela dor do quadrante superior direito em uma mulher com diagnóstico clínico de DIP e nenhuma outra causa para essa dor, geralmente causando dor à palpação de quadrante superior direito de abdome, podendo ter envolvimento pleurítico e dor irradiada para ombro É uma complicação incomum e responde ao tratamento antibiótico padrão para DIP e pode estar associada à salpingite gonocócico Abscesso tubo-ovariano (ATO) Evolui na maioria das vezes para formação de processo estéril, contendo líquido citrino no seu interior → hidrosalpinge A evolução para a ruptura é pouco frequente, mas é grave, necessitando intervenção imediata – alto risco de morte O diagnóstico precoce e tratamento adequado são fundamentais para prevenir as graves sequelas da DIP Classificação (estágios) Estágio 0: Cervicite Estágio 1 (leve): Salpingite aguda sem peritonite Estágio 2 (moderada sem abscesso): Salpingite aguda com peritonite Estágio 3 (moderada com abscesso): Salpingite aguda com evidências de oclusão tubária ou abcesso tubo-ovariano íntegro Estágio 4 (grave): Abcesso tubo-ovariano roto Diagnóstico ➯ O diagnóstico em geral é feito pela história clínica e exame físico não sendo necessários outros métodos diagnósticos para iniciar o tratamento Critérios diagnósticos a. Critérios mínimos: Dor no abdome inferior Dor à palpação dos anexos Dor à mobilização do colo uterino COM BHCG NEGATIVO b. Critérios adicionais TA >38,3º Secreção vaginal ou cervical mucopurulenta PCR ou VHS elevados Sintomas urinários Náuseas e vômitos Sangramento vaginal irregular em pequenas quantidades Massa ou tumoração pélvica + 5 LEU/C no material da endocervice c. Critérios definitivos: Evidência histopatológica de endometrite Presença de abscesso tuboovariano ou de fundo-desaco de Douglas em estudo de imagem Fundo de saco de Douglas é o nome dado a uma região da pelve localizado entre o útero e o reto, onde poder haver acúmulo de líquido ou pus Laparoscopia com evidência de DIP História: multiplos parceiros, parceiro com queixa de corrimento uretral ou úlcera genital Clínica: alteração do muco cervical (aspectomucopurulento) ou sinais de cervicite Exames complementares DIP 5 Rx simples do abdome: diagnóstico diferencial do abdome agudo cirúrgico (ex:apendicite) Hmg: VHS aumentado e leucocitose com desvio a esquerda Hemocultura Proteína C reativa: atividade inflamatória Culturas material de endocérvice para anaeróbios e anaeróbios, pesquisa de clamídia/gonococo/micoplasma/ ureaplasma por PCR (material da endocérvice, punção do fundo de saco de Douglas, tubas e peritônio em laparotomia ou laparoscopia) EQU e urocultura: afastar ITU Exame bacterioscópico para Vaginose Bacteriana (VB) BHCG: excluir ectópica Sorologias para HIV, sífilis e hepatites e outras DST � Diagnósticos diferenciais de DIP Gravidez ectópica Apendicite aguda ITU Litíase ureteral Torção de cisto ovariano Torção de mioma uterino Ruptura de cisto ovariano Endometriose e endometrioma roto Pneumonia de base Mittelschmerz (dor da ovulação) Laparoscopia: principalmente em dúvida do diagnóstico → PADRÃO OURO Observação dos órgãos internos por meio de pequenos cortes e da inserção de uma ótica conectada a uma câmera, que processa as imagens de todo o abdôme Visão direta da cavidade abdominal: avaliação acurada da extensão do problema, coleta de material para a cultura, e permite procedimentos terapêuticos Ainda pouco usada: alto custo e morbidade Falso negativo: estágios iniciais (doença de dentro para fora) Indicada para falha do tratamento, sem melhora por 72h USG transvaginal: método não invasivo Fundamental para avaliação de abscesso tubo-ovariano Pode auxiliar no tratamento guiando drenagens de abscessos Principal achado na DIP: fina camada líquida preenchendo a trompa com ou sem presença de liquido livre na pelve Tratamento DIP - estágio inicial, achados à laparoscopia: útero e trompas edemaciadas DIP severa: achados à laparotomia. Abscessos tubo- ovarianos bilaterais Aderências em forma de “cordas de violino”, em caso de DIP e peri- hepatite por clamídia DIP 6 Iniciar antimicrobiano imediatamente e empiricamente Casos mais leves (salpingite sem peritonite) - amulatorialmente-mandatória → reavaliação em 72h Estárgios mais graves → internação obrigatória Em casos de: Gonorréia: Cefalosporinas, quinolonas Clamídia: Doxiciclina, Azitromicina, Eritromicina Anaeróbicos: Metronidazol, Clindamicina Estreptococo Beta hemolítico e E. Coli: Penicilina e derivados, tetraciclina, cefalosporina, gentamicina Tto. com abscesso tubo-ovariano ausente (SLIDE PROF) Pencilina G cristalina 5 milhões UI, EV, 4/4h + Cloranfenicol 500mg EV, 6/6h Gentamicina* 60-80mg EV, 8/8h + Clindamicina 600-900mg EV, 8/8h Gentamicina 60-80mg EV, 8/8h + Metronidazol 500mg EV, 8/8h Amicacina 5 0 0mg E V, 12 / 12 h + Clindamicina 600-900mg EV, 8/8h ➯ Por ser uma DST, a solicitação de sorologias para sífilis, HIV, hepatite B e hepatite C são feitas rotineiramente ➯ Homens que tiveram contato sexual, nos últimos 60 dias, com mulheres com diagnóstico de DIP devem ser avaliados, testados e tratados ➯ O seguimento está indicado entre 48 e 72 horas, uma vez que o diagnóstico de DIP é impreciso ➯ Não havendo melhora do quadro clínico em até 72 horas, deve-se pensar em três possibilidades: 1. Falta de cobertura antimicrobiana adequada (usar segunda linha de antimicrobianos; TAB DIP 7 2. Presença de outra doença (p. ex., apendicite); 3. Presença de ATO Tratamento dos ATOs O tratamento inicial dos ATOs é com esquema antimicrobiano de amplo espectro com cobertura para anaeróbios Não havendo melhora em até 72 horas, deve-se considerar a troca de antimicrobianos ou a drenagem do ATO Havendo melhora clínica, não há necessidade de realizar exames de imagem de controle DIU + DIP Não é necessário retirar o DIU na presença de DIP, contudo, se for indicado remoção, fazer após 2 doses do antibiotico O DIU é mantido em casos de DIP leve e retirado na presença de ATO, quando necessita de internação ou quando não há melhora clínica dentro de 72 horas DIP 8 ATO sem melhora OU aumento no volume OU suspeita de ruptura → CIRURGIA IMEDIATA!!! ATO até 5cm: boa resposta ao tratamento clínico ATO >10cm: geralmente necessitam cirurgia DIP nos últimos 3 meses é contra-indicação de inserção de DIU Tratamento cirurgico Falha no tratamento clínico Massa pélvica persistente ou aumentando Suspeita de ruptura de abscesso, hemoperitônio, abscesso de fundo de saco de Douglas Em mulheres pós-menopáusicas – devido ao potencial de malignidade, que é cerca de 47%, o manejo cirúrgico mais agressivo deve ser considerado ➯ Incisão mediana infra-umbilical: menor chance de infecção da parede posterior ➯ Aderências- risco de lesão intestinal ou bexiga ➯ Coletar Gram e cultura � Indicações para cirurgia: 1. DIP aguda: Ruptura abscesso Falha da resposta ao tratamento Diagnóstico incerto 2. DIP crônica- dor pélvica crônica: Dor pélvica severa e progressiva Exacerbações repetidas da DIP Abscessos bilaterais > 8 cm Obstrução ureteral bilateral � Doença inflamatória pélvica na gestação ➯ A concomitância de DIP e gestação é rara, mas aumenta o risco de: morbidade materna abortamento trabalho de parto pré-termo ➯ O uso de antimicrobianos intravenosos (IVs) compatíveis com a gestação está indicado (p. ex., cefuroxima com clindamicina) Critérios de alta Melhora laboratorial e clínica Ausência de febre por no mínimo 72h Terapia VO até desparecimento de sinais clínicos e biológicos (leucocitose, proteína C, etc) ou pelo menos por 14d Importante tratar parceiro SEMPRE com: Azitromicina 1g VO dose única + ceftriaxone 500mg IM Reavaliar a paciente a cada 3 meses no primeiro ano Tratamento associado Repouso Solicitar sorologias Abstinência sexual até a cura Anti-inflamatórios Anticoncepcionais hormonais: efeito contraceptivo + proteção dos ovários contra uma reação inflamatória peritoneal + mucocervical característico tem efeito preventivo da re- infecção DIP 9 Complicações e sequelas A incidência de oclusão tubária total aumenta com o número de episódios de DIP Com um episódio de DIP, a incidência chega a 12%; com dois episódios, 38%; e com três episódios, 54% As sequelas mais comuns em longo prazo são: Dor pélvica crônica (cerca de 42% das pacientes) Dispareunia (dor durante a relação sexual) Infertilidade (cerca de 15%) — obstrução tubária e hidrossalpilge Após um único episódio de DIP, 12% das pacientes tornam-se inférteis; após dois episódios, 20% e, após três, mais de 40% Gravidez ectópica (<1%) DIP recorrente Prevenção Primária: Aconselhamento sexual: prática de sexo seguro, limitar o número de parceiros, evitar contato com parceiros de alto risco, retardar o início da atividade sexual até ≥ 16 anos Uso de métodos de barreira e contraceptivos orais: diminuem o risco de DIP Secundária: Rastreamento de infecções em pacientes de alto risco Diagnóstico rápido e tratamento efetivo de DST e infecções do trato urinário inferior Terciária: intervenção precoce e tratamento completo Hidrossalpinge à direira e oclusão da trompa esquerda