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1 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S 2 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S 3 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S Núcleo de Educação a Distância GRUPO PROMINAS DE EDUCAÇÃO Diagramação: Rhanya Vitória M. R. Cupertino PRESIDENTE: Valdir Valério, Diretor Executivo: Dr. Willian Ferreira. O Grupo Educacional Prominas é uma referência no cenário educacional e com ações voltadas para a formação de profissionais capazes de se destacar no mercado de trabalho. O Grupo Prominas investe em tecnologia, inovação e conhecimento. Tudo isso é responsável por fomentar a expansão e consolidar a responsabilidade de promover a aprendizagem. 4 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S Prezado(a) Pós-Graduando(a), Seja muito bem-vindo(a) ao nosso Grupo Educacional! Inicialmente, gostaríamos de agradecê-lo(a) pela confiança em nós depositada. Temos a convicção absoluta que você não irá se decepcionar pela sua escolha, pois nos comprometemos a superar as suas expectativas. A educação deve ser sempre o pilar para consolidação de uma nação soberana, democrática, crítica, reflexiva, acolhedora e integra- dora. Além disso, a educação é a maneira mais nobre de promover a ascensão social e econômica da população de um país. Durante o seu curso de graduação você teve a oportunida- de de conhecer e estudar uma grande diversidade de conteúdos. Foi um momento de consolidação e amadurecimento de suas escolhas pessoais e profissionais. Agora, na Pós-Graduação, as expectativas e objetivos são outros. É o momento de você complementar a sua formação acadêmi- ca, se atualizar, incorporar novas competências e técnicas, desenvolver um novo perfil profissional, objetivando o aprimoramento para sua atu- ação no concorrido mercado do trabalho. E, certamente, será um passo importante para quem deseja ingressar como docente no ensino supe- rior e se qualificar ainda mais para o magistério nos demais níveis de ensino. E o propósito do nosso Grupo Educacional é ajudá-lo(a) nessa jornada! Conte conosco, pois nós acreditamos em seu potencial. Vamos juntos nessa maravilhosa viagem que é a construção de novos conhecimentos. Um abraço, Grupo Prominas - Educação e Tecnologia 5 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S 6 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S Olá, acadêmico(a) do ensino a distância do Grupo Prominas! É um prazer tê-lo em nossa instituição! Saiba que sua escolha é sinal de prestígio e consideração. Quero lhe parabenizar pela dispo- sição ao aprendizado e autodesenvolvimento. No ensino a distância é você quem administra o tempo de estudo. Por isso, ele exige perseve- rança, disciplina e organização. Este material, bem como as outras ferramentas do curso (como as aulas em vídeo, atividades, fóruns, etc.), foi projetado visando a sua preparação nessa jornada rumo ao sucesso profissional. Todo conteúdo foi elaborado para auxiliá-lo nessa tarefa, proporcionado um estudo de qualidade e com foco nas exigências do mercado de trabalho. Estude bastante e um grande abraço! Professora: Silvia Cristina da Silva 7 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S O texto abaixo das tags são informações de apoio para você ao longo dos seus estudos. Cada conteúdo é preprarado focando em téc- nicas de aprendizagem que contribuem no seu processo de busca pela conhecimento. Cada uma dessas tags, é focada especificadamente em partes importantes dos materiais aqui apresentados. Lembre-se que, cada in- formação obtida atráves do seu curso, será o ponto de partida rumo ao seu sucesso profisisional. 8 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S Esta disciplina levanta os principais problemas que dificultam o estabelecimento de relações entre o conhecimento sobre educação e as práticas reais de ensino no Brasil nos últimos anos. Oferece uma perspectiva histórica: a distância entre a universidade e a escola, a ruptura criada entre o passado e a teoria, a orientação acadêmica da formação inicial de professores, as culturas profissionais dos centros e a difícil comunicação entre os teóricos e os acadêmicos. Além disso, fornece linhas de trabalho que contribuem para superar essas limita- ções da formação de professores: a criação de ciclos de pesquisa- -ação, acordos interinstitucionais, a construção de um conhecimento profissional docente, a adoção de uma abordagem realista e a cons- trução de pequenas pedagogias. Conclui com a relevância do papel que os professores têm para superar essa ruptura. Educação. Práticas na Educação Infantil. Teorias. 9 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S CAPÍTULO 01 PERSPECTIVAS DE UMA PEDAGOGIA DA INFÂNCIA: VISÃO DE FOU- CAULT Apresentação do Módulo ______________________________________ 10 12 20 Foucault e o Saber Educativo __________________________________ A Teoria do Poder de Foucault no Campo Educacional _____________ CAPÍTULO 02 AÇÃO PEDAGÓGICA ENTRE DOCENTES, CRIANÇAS E COMUNIDADE A Docência e suas Ações Pedagógicas __________________________ 31 27Recapitulando ________________________________________________ Recapitulando _________________________________________________ 45 CAPÍTULO 03 ESTRATÉGIAS DE ATUAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Conceitos e Aplicações da Educação Infantil: Estratégias _______ 51 Recapitulando _________________________________________________ 63 Considerações Finais _________________________________________ 68 Fechando a Unidade ___________________________________________ 69 Referências ____________________________________________________ 73 10 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S A relação entre teoria e prática é um problema em quase todas as áreas da vida, as discrepâncias entre os discursos e os fatos são ha- bituais. Também no campo da educação, a teoria e a prática sofrem mal- -entendidos. Nesse sentido, destaca a importância da distância que exis- te entre a produção de conhecimento e sua implementação nas escolas. Embora as manifestações dessa lacuna entre teoria e prática sejam diversas, podemos apontar que a universidade e a escola são instituições que lidam principalmente com uma dessas questões, o co- nhecimento que é colocado em jogo é diferente, o corpus profissional também (acadêmico e prático) e o treinamento inicial e o acesso ao cargo também são diferentes. No entanto, o problema da relação teo- ria-prática transcende o âmbito da atividade profissional de docência e formação de professores, uma vez que se trata de uma questão com- plexa: a construção do conhecimento. Os professores dos primeiros níveis foram geralmente excluí- dos dos debates educacionais, o que produziu uma situação de aliena- ção profissional, os professores foram expropriados do conhecimento educacional, com o qual seu pensamento conseguiu atingir um alto ní- vel no assunto que ensinam, mas muitas vezes é muito pobre no que tem a ver com o campo da educação, uma situação que torna os profes- sores em partes funcionais do sistema educacional. Uma das razões que dificulta o estudo espinhoso da relação entre teoria e prática é a ausência de uma conceituação compartilhada onde o mais ambíguo é uma reivindicação, o mais provável para despertar mais significados pessoais, para reunir e juntar esperanças, de tal forma que issoseja assumido como um instrumento compartilhado em que, aparente- mente, todos concordam, embora cada um atribua um significado diferente. Em vez de ser um instrumento para se comunicar, torna-se um mito que une todos os crentes nele. Com o princípio da relação teoria- -prática, algo semelhante acontece na educação. A prática e a teoria são, evidentemente, dois brincalhões da linguagem, cujo significado disperso complica a maneira de entender a relação entre ambos. Os termos "teoria" e "prática" são usados com muita frequência no mundo da educação, mas o significado dado a eles nem sempre é compartilhado. Isso nos leva ao primeiro problema quando se trata de colocar a ruptura entre teoria e prática e as possíveis relações entre eles: como limitar os termos? A partir dessas definições, podemos entender a teoria como a elaboração sistemática de conhecimento pedagógico que é frequente- mente realizada sob a proteção de pesquisadores e acadêmicos nas universidades. Alguns termos comuns para se referir à teoria são os de 11 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S conhecimento, ciência ou pesquisa. Por outro lado, podemos compreender, pela prática "corpo a corpo", o cotidiano docente nos centros educacionais dos diferentes ní- veis, sobretudo nas salas de aula, mas também fora delas (da infância ao sistema universitário). Assim, a prática seria constituída por todo o repertório de comportamentos, ações, atitudes e valores manifestados pelos professores em seus centros de trabalho e, mais especificamen- te, nas salas de aula. Referir-se à prática frequentemente usada como praxis, ação ou ensino. Assim, e resumindo, neste texto, entendemos a teoria educacio- nal como o conhecimento formal que é produzido sobre a educação, e a prática educacional como a atividade que ocorre nos centros educacio- nais em geral. A teoria refere-se a uma elaboração sistemática de ideias contrastadas pelas comunidades científicas, e a prática ao conjunto de atividades desenvolvidas na realidade concreta das salas de aula. Atualmente, as contribuições de ambos para o campo educacio- nal são fundamentais, embora exista uma diferença epistemológica entre as formas de produzir e usar o conhecimento em um e em outros espa- ços: a teoria é produzida sob a pesquisa científica das comunidades uni- versitárias e usada principalmente em novas investigações. Na prática, o conhecimento é produzido no exercício das funções profissionais e é usa- do no desenvolvimento do ensino profissional na forma de experiência. 12 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S FOUCAULT E O SABER EDUCATIVO Esta disciplina expõe um dos elementos-chave na gênese da escola moderna: a invenção da infância. Nesse sentido, descreve-se o papel desempenhado pela família e pela medicina na construção de um modelo de infância, de acordo com uma política de normalização social. Da mesma forma, analisamos a função desenvolvida pelo “confinamen- to escolar” para a configuração da tipologia do bebê e do aluno. Neste último processo, a produção de conhecimento que tem sido realizada dentro da escola e o trabalho que ela realizou para refor- çar a cultura dominante é de singular importância. Em suma, a história da escola moderna destaca o processo de construção da ideia de in- fância e como esta invenção representa uma condição de possibilidade PERSPECTIVAS DE UMA PEDAGOGIA DA INFÂNCIA: VISÃO DE FOUCAULT P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S 12 13 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S para o surgimento do discurso pedagógico. Ao refletir sobre a escola e sua função social, a importância de incorporar na análise a dimensão histórica que explica a especificidade dessa instituição em cada época é muitas vezes esquecida. Não é um descuido casual, já que há uma espécie de naturalização da escola na maioria das abordagens teóricas que são formuladas em relação à edu- cação. Uma tendência a pensar que a escola sempre existiu e que a sua realidade é algo absolutamente intrínseco à ordem social. Nessa perspectiva, muitas histórias de educação, embora re- conhecendo as mudanças da instituição escolar ao longo dos séculos, muitas vezes estabelecem uma continuidade histórica que nos remete à Grécia clássica para definir a missão transcendental da escola. Deste modo, as infinitas rupturas e descontinuidades que caracterizam esta história são negligenciadas e permitem identificar a extraordinária sin- gularidade dos mecanismos e procedimentos que emergem na escola a partir do século XVIII. (FOUCAULT, 2001) Essa pretensão de universalidade e eternidade da escola é evidenciada como algo mais que uma mera ilusão, pois funciona como um discurso que legitima o sistema vigente de dominação. Quando a escola é um exemplo básico de reprodução social, seu processo de des-historicização necessariamente se traduz em uma compreensão da sociedade dada como algo natural e uma desqualificação de qualquer projeto para transformá-la. Assim, a crítica radical da escola é interpretada como uma agressão à vida social, cuja conexão com um modelo de organização institucional é hoje cada vez mais reforçada. Parece que questionar de forma importante o ambiente escolar só pode representar uma nova for- ma de anarquismo e uma espécie de subversão do senso comum que sinaliza a impossibilidade de uma sociedade sem escolas. No entanto, é um fato suficientemente validado pela análise his- tórica que a escola constitui uma invenção recente, articulada nos últimos quatro séculos. De fato, as ferramentas da abordagem crítica de Foucault (arqueologia e genealogia) nos permitem descrever o nascimento da es- cola moderna, como consequência dos deslocamentos sofridos pelos dispositivos de conhecimento de poder na sociedade capitalista. 14 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S Figura 1 – Análise histórica Fonte: Elaborado pela autora (2019) A escola moderna que, em certo sentido, até hoje sabemos, é uma construção que obedece às determinações sociais que se desen- volveram no contexto do Iluminismo. Se as estruturas que davam vida à escola desaparecessem, seu possível declínio poderia ser diagnosti- cado. Não se trata, portanto, de afirmar arbitrariamente o fim da escola ou sua necessária repressão, mas de descrever as rupturas que deram origem a essa instituição específica do nosso tempo e de caracterizar o cenário contemporâneo em que se desdobra. A sociedade sem escolas, então, não é a opção de uma teoria radical, mas talvez um fenômeno que o próprio capitalismo globalizado começa a tornar possível. Diante disso, não há espaço para triunfalismo ou alarme, basta fazer uma reflexão que restaure a escola dentro do papel histórico que teve que cumprir.Entre os elementos que determinam a constituição da escola moderna, há um que é decisivo: a definição de um estatuto de infância. Isto significa que a nossa percepção da criança hoje, a sua po- sição dentro da família ou relacionamento com o processo educacional é uma consequência de certas práticas sociais que tornaram possível. Assim distingue Foucault: uma coisa é o problema das crianças no século XVIII (taxas de natalidade ou de mortalidade, por exemplo) e outra é o privilégio dado às crianças (ou seja, a gestão é feita em uma de- terminada "fase" concebida como específica e dotada). A infância, então, seria uma invenção recente que obedece aos parâmetros com os quais um modelo de infância é construído. Somente a partir dessa construção do "bebê" como objeto estritamente delimitado em sua singularidade po- de-se justificar uma variedade de intervenções (FOUCAULT, 2001).A modernidade, nesse sentido, pode ser caracterizada como a era em que a preocupação com a criança nasce em sua capacidade de corpo infantil. No entanto, a invenção da infância é um processo com- plexo, caro e não sem controvérsia. Uría Varela e Alvarez confirmaram, afirmando que, no século XVI, uma divergência importante é observada para a periodização da infância e o direito de iniciar as crianças no tem- 15 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S po de instruções básicas. No entanto, já começam a circular uma série de conceitos que buscam diferenciar, com certa opacidade, um período de vida que pre- cederia a idade adulta. Insiste na maleabilidade, na fraqueza de julga- mento que os jovens teriam e que justificariam sua proteção rigorosa. A chave para esta imprecisão é superada e a infância torna-se um dos objetos perfeitamente definidos, será a ação da família e da captura e confinamento nas instituições (escolas, asilos, abrigos, etc.). No que diz respeito ao primeiro elemento, é notável, assim como afirmava Foucault ou Donzelot, que a invenção da infância ocor- re no contexto de uma 'familiarização' da sociedade crescente que se desenvolve a partir do século XVIII, onde a medicina tem um papel de liderança. Um exemplo claro deste último é a abundante literatura diri- gida às classes abastadas que apela ao papel médico e educacional da família. Uma verdadeira união orgânica entre a medicina e a familia per- mite o isolamento da unidade familiar, no que diz respeito aos perigos da mídia social, e ocorre a configuração da mãe como responsável por tarefas sanitárias e educacionais (FOUCAULT, 2001). A medicina utiliza a família como um instrumento decisivo para o funcionamento de um dispositivo de saúde que busca aumentar a uti- lidade e o desempenho dos corpos. Tal mecanismo de "familiarização", deve-se esclarecer, intervém principalmente na área das famílias ricas, através da literatura e do papel atribuído ao par mãe-médico. No nível das classes populares, será necessário esperar até meados do século XIX para articular um "complexo tutelar" que supervisione, controle e restaure - se necessário - a vida familiar. Esta segunda fase do processo de "familiarização" também fornece um papel fundamental para as mulheres, embora neste caso outras instâncias serão decisivas para a normalização da popular famí- lia de adição: principal instituição, a criação de creches para crianças de trabalhadores, o estabelecimento de descanso dominical e "habita- ção social". Essas duas áreas de familiarização envolvem, por sua vez, duas táticas claramente diferenciadas em relação à infância. No modelo burguês estabelece-se uma cerca sanitária real em torno da criança, que a incorpora a um sistema de vigilância discreta que observa seu desenvolvimento físico e atende a sua saúde em geral. Por outro lado, dentro da família popular, a delimitação da criança consiste em separá-la de seu ambiente social, das influências do ambiente, para introduzi-la em espaços onde a vigilância pode ser mais efetiva. Neste contexto, a ação da escola e da habitação familiar são entendidas como instâncias que incorporam a criança em um es- paço sanitário, dentro do qual os corpos são isolados e os pontos de 16 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S contato convenientemente minimizados. Foucault forneceu um exem- plo extraordinário dessas conexões entre família, medicina e infância: a cruzada contra o onanismo empreendida por inúmeros autores desde o início do século XVIII. Segundo o filósofo francês, esse fenômeno consiste em uma verdadeira explosão discursiva em torno do tema da criança mastur- badora. Nestes discursos, a construção do corpo da criança como um "objeto médico" emerge claramente, sujeita a extrema maleabilidade e um repertório de inúmeras patologias. No entanto, a responsabilidade pela prática onanista será atri- buída ao adulto que rodeia a criança. Assim, a partir da preocupação com a masturbação, passamos a uma preocupação primordial pelo es- paço familiar, que levará a uma nova organização de seus membros e de seus papéis. No nível da família burguesa, isso implica reduzir o modelo familiar ao núcleo pai-irmão e romper todos os laços entre a criança e a servidão. Os pais, então, adquirem uma responsabilidade tutelar com re- lação à sexualidade da criança, o que leva à articulação de cada canto da casa em termos do cuidado corpo-criança. Os quartos independen- tes aparecem, as orações noturnas e uma ritualização silenciosa da vi- gilância. Dessa forma, pode-se perceber que é em nome da doença que ameaça o corpo da criança, que a família será estruturada e medicali- zada em sua totalidade. A família se torna um princípio de normalização dos corpos, uma vez que a sexualidade infantil foi inventada como uma dinâmica potencialmente perigosa. Figura 2 – Responsabilidade dos pais Fonte: Elaborado pela autora (2019) Por outro lado, a cruzada contra a masturbação nas classes populares suporá, em primeiro lugar, a extirpação da criança do lugar corrupto que a rua representa e será a principal fonte de inspiração para a promoção da "habitação social". Devemos evitar esses corpos aglo- 17 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S merados, aquele contato da criança com a dureza da vida adulta. Nesse sentido, a figura da criança delinquente e as dificuldades inerentes à retórica médica para atingir uma população em grande parte analfabeta exigirão o surgimento de novos mecanismos que monitorem e discipli- nem a própria unidade familiar. Dessa forma, o processo de "familiarização" social é reconfi- gurado como a escolarização da infância popular e a tutelarização da família por psicólogos ou assistentes sociais. Ambos os dispositivos, en- tende-se, tentarão fazer com que a família funcione corretamente como uma ferramenta de normalização. Além do papel desempenhado pela família, o papel do mecanismo de fechamento das crianças na definição de infância também deve ser destacado. A crença na livre formação de crianças dentro do ambiente adulto começa a ser gradualmente substituída pela ideia de delegação do trabalho educativo familiar em uma instituição que encerra e isola corpos de crianças. Tal instituição usará a figura do convento como modelo de um espaço corretamente governado. Com efeito, o convento constitui um verdadeiro instrumento orientado para a modelagem comportamental do noviço, através de uma série de técnicas que ordenam e regulam toda a sua atividade cotidiana. Em tal espaço, autoridade e hierarquia se tornam valores superiores, dentro de códigos caracterizados por seu conteúdo moralizante. De forma semelhante, a escola funcionará primeiro como um gabinete (especialmente no caso de crianças pobres) que visa, em vir- tude do isolamento social, modificar o comportamento. Então, através de um processo complexo e prolongado, esta instituição de captura irá adquirir uma função educacional cada vez mais relevante. Tudo isso explica a relação íntima que existe entre o desenvolvimento da escola moderna e o trabalho realizado por algumas ordens religiosas. De fato, haverá certas ordens, como a dos jesuítas que com- preenderão, antes de mais ninguém, a necessidade de um aparato de especialistas para tomar conta dos corpos das crianças fechadas. Nes- se sentido, devemos entender que a invenção da infância e a educa- ção de educadores são processos concatenados que não podem ser separados. Será no espaço da escola, e em relação a uma experiência direta, onde um conhecimento específico vinculado a essa instituição será formado. Esse novo conhecimento equipará os educadores com critérios e estratégias para enfrentar a infância. Assim, por exemplo, os jesuítas serão pioneiros na promoçãode uma concepção menos autori- tária do professor, que o define como tendo um conhecimento rigoroso, mas particularmente como um modelo moral. 18 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S Em qualquer caso, aqui devemos destacar a conexão estabe- lecida entre o espaço de confinamento e a formação do conhecimento. Em outras palavras, a gestão da infância em ambientes institucionais possibilitará, ao longo dos séculos, desenvolver uma diversidade de conhecimentos ligados à vida infantil e escolar. Dentro desses conheci- mentos que surgirão, podem ser citados: as técnicas relativas à ordem e disciplina dos alunos, teorias sobre a hierarquia de conteúdos ou várias concepções do método de ensino, entre outras. Em suma, pode-se dizer que as ciências pedagógicas surgem de uma política do espaço associada à infância. Com relação a esta última questão, como condição sine qua non da produção pedagógica, a conformação da pedagogia é o produto de uma abordagem analítica da infância na situação escolar e é a partir desse objeto de estudo que ela encontra a justificativa para uma série de intervenções. Nesse contexto, pode-se dizer que, enquanto a infância e a pedagogia são dois eventos simultâneos na gênese histórica, o amadu- recimento científico do conhecimento pedagógico está vinculado a uma complexidade do conceito de infância na noção de aluno. É uma distinção epistemológica bastante significativa. A infância representa um conceito geral de que certas formas de conhecimento, como psicologia ou psica- nálise, naturalizam, enquanto o aluno assume uma noção derivada que lida com a infância em uma situação escolar e que é um objeto da ciência pedagógica. Entende-se, assim, a posição de subordinação que as ciên- cias da educação têm com relação ao discurso geral da psicologia: Na Educação Infantil, busca-se um ensino democrático, que visa à formação de cidadãos críticos, cientes dos seus direitos e deveres, que atuem segun- do princípios éticos. Além disso, tem-se a intenção de incentivar a atuação autônoma das crianças, respeitando seu tempo de infância, suas particula- ridades, sua posição social e seus interesses. Diferente da escola, em ins- tituições infantis, o interesse não é o de escolarizar, mas manter relações educativas travadas em um espaço coletivo, que tem como sujeito a criança de zero a cinco anos. (FOUCAULT, 2001, p. 32) No entanto, a genealogia da escola moderna nos mostra que a noção de aluno não deve ser entendida sob o prisma pedagógico que, segundo o léxico psicológico, a concebe como consequência do con- ceito natural e biológico da infância. A infância é um fato incorporado à própria gênese da escola como espaço de confinamento e instituição de ensino. Portanto, a invenção da pedagogia e suas categorias não se distingue da construção artificial da infância. Por outro lado, essa produção de conhecimento escolar forta- lecerá a instituição de ensino em detrimento de outros modos de socia- 19 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S lização e de comunicação do conhecimento. A escola vem quebrar um padrão de aprendizagem, anterior ao século XVIII, que se caracteriza pela formação direta da criança no ambiente adulto. Tal é o caso da so- cialização que ocorre no estudo de ofícios populares ou carreira militar. Há, então, uma fissura entre escola e vida real que condiciona o conhe- cimento escolar como uma estrutura desconectada da prática e cada vez mais caracterizada pela abstração, formalismo e distância do cotidiano. Nesse contexto, o papel do professor e do aluno será delimita- do pelo funcionamento da escola como um espaço fechado e isolado. O primeiro adquirirá uma posição monopolista em relação ao conheci- mento e às prerrogativas daqueles que são responsáveis por sancionar o erro e a verdade. Capital de conhecimento, dotar-se de um conheci- mento que é todo poderoso quando se trata de desacreditar as crenças "vulgares" das classes populares, mas funciona de forma "neutra" quan- do se trata de decidir sobre a vida social e política. Assim, o estudante se torna o lugar do "não saber", dado que todo o capital cultural disponível, graças à sua família ou ao seu meio social, será desacreditado pelo conhecimento dominante que incorpora a escola. Pode-se dizer, portanto, que a escola moderna visa fracio- nar o valor e o significado da socialização comunitária, preservando as crianças de um ambiente que é descrito como insuficiente. A criança no fechamento da escola é igual, então uma operação complexa contendo um gesto de violência cultural e um corpo na imposição artificial que visa ganhar a criança aos interesses do sistema. Figura 3 – Estudante Fonte: Elaborado pela autora (2019) Essa transação não é parte da tarefa de equalizar as chances do universo infantil, já que a criança será educada de acordo com sua inserção, como um trabalhador, longe de rebelião e desordem do seu ambiente social e formando-o em sua apresentação, a obediência e a aceitação da cultura legítima. Desta forma, o propósito da instituição escolar é consumido como ferramenta política de controle e governo das classes proletárias. 20 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S Em suma, a genealogia da escola moderna, pode se esconder por trás da retórica educacional reiterativa que proclama o direito à educa- ção para todos, escola de massas ou melhoria dos conhecimentos peda- gógicos. A escola e a pedagogia moderna nasceram como um instrumento nas mãos de uma cultura dominante que buscava minimizar a força política dos corpos, em função do aumento de sua docilidade técnica. No entanto, a crise da instituição de ensino e as ambivalências do discurso pedagógico no momento não supõem nenhuma crise equi- valente da cultura dominante. Ao contrário, hoje os mecanismos sociais de sujeição foram fortalecidos e ampliados, evidenciando que a escola e a pedagogia devem basear-se em uma nova relação com o poder. Sem dúvida, este último fato implica uma questão fundamental para a reflexão crítica sobre a educação no presente. A escola e o conhecimento pedagógico deixaram de funcionar como instâncias centrais da cultura dominante, desdobrando-se da ló- gica imposta pela crise de seu modelo fundador. Assim, é necessário aprofundar o deslocamento que ocorre, entre os séculos XVI e XVIII, no discurso sobre educação para compreender os principais eixos que sustentam a construção da escola em crise. A deslegitimação da escola contemporânea só pode ser entendida se descrevermos com precisão a gênese histórica de seus fundamentos. Nesta perspectiva, o trabalho didático de Comenius, Didática Magna, livro publicado em 1649, é decisivo na identificação de algumas chaves para o que será o discurso pedagógico moderno. Comenius, pela primeira vez, retrata o ideal pansófico aplicado ao ensino, a con- cepção de pedagogia como didática e a ideia de "instrução simultânea" aparecerão pela primeira vez em sua obra. No entanto, é uma análise que ainda não aborda ou isola a unidade problemática do que mais tar- de será chamado de "infância". Desta forma, abandonamos o reino dos sonhos do conheci- mento e retornamos à história material de nossas pequenas lutas e nos- sas utopias mais perigosas. A escola deve ser repensada na história, se você não quiser esquecer o seu futuro. A TEORIA DO PODER DE FOUCAULT NO CAMPO EDUCACIONAL Analisando a teoria de Michael Foucault serão apresentadas questões onde ele procura explicar como origina-se o poder e a autori- dade sobre uma pessoa e também como o sujeito procura livrar-se dela, ou seja, como se dá a resistência à autoridade. Teoria que se aplica ao campo educacional tomando como exemplo duas escolas na história 21 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U CA Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S da pedagogia: a pedagogia tradicional e a pedagogia da nova escola. Michel Foucault, filósofo francês que viveu entre os anos de 1926-1984, em grande parte de seus escritos sobre a teoria do poder, vai deixar de se referir à autoridade, para monitorar e punir. Foucault destaca: Tem havido, no decorrer da era clássica, uma descoberta do corpo como objeto e alvo de poder. Eles poderiam dar facilmente sinais desta grande atenção, em seguida, dedicou o corpo, o corpo para ser manipulado, que é em forma, que é educado, que obedece, responde, que se torna proficiente ou cujas forças são multiplicadas (Foucault, 2001, p. 46). Foucault refere-se ao processo histórico do poder de controle e subjugação que se centrou sobre o controle do corpo, controle do indi- víduo/homem, levando-o a este obedecer, a reconhecer a superioridade do outro. Este outro é submetido, não só é submetido, mas é formado de acordo com os requisitos de ter a potência, de modo que a energia se torna autoridade sobre a outra pessoa, que será relativamente obe- diência e amabilidade. Podemos ver alguns exemplos desse tipo de autoridade na ida- de média, onde a religião junto com a igreja era a autoridade suprema, pois eles tinham o poder e eram a autoridade, já que impunham um modo de vida, uma concepção de mundo uma filosofia, um estilo de vida em sua totalidade. Mas, o que aconteceu se isso não foi obedecido pelos homens que foram submetidos? Foram impostas punições que foram le- gitimadas pela autoridade, os homens tinham que ser treinados e educa- dos de acordo com as regras estabelecidas pela autoridade que tinham e exerciam o poder. Quanto a este último, vejamos o que Foucault nos diz: a disciplina produz corpos subjugados e exercitados, corpos "dóceis". A disciplina aumenta as forças do corpo (em termos econômicos de utilida- de) e diminui essas mesmas forças (em termos políticos de obediência): Em uma palavra: dissocia o poder do corpo; por um lado, faz desse poder uma "aptidão", uma "capacidade" que tenta aumentar e, por outro lado, muda a energia, o poder que poderia resultar dela, e a converte numa relação es- trita de sujeição. Se a exploração econômica separa a força e o produto do trabalho, digamos que a coerção disciplinar estabelece no corpo o elo coercivo entre o aumento da aptidão e o aumento da dominação (Foucault, 2001, p. 49). A teoria do poder de Foucault nos leva a entender que o poder é transformado não apenas em autoridade, mas em sujeição por parte do perdedor do poder, isto é, em uma relação de autoridade há duas entidades, aquele que dá sua liberdade e poder ao outro e este outro que se torna o sujeito com poder que exercitará o que é dado pelo outro, 22 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S tendo não só poder mas a autoridade designada pelo outro para poder exercê-lo com ele, assim se torna uma relação de sujeição e obediên- cia, obediência porque o outro lhe deu o poder de dominá-lo e controlá- -lo e, portanto, puni-lo se ele não obedecer à autoridade. Mas, mesmo que não haja plena liberdade pelo poder exercitar e autoridade, pela outra parte, ou seja, o assunto à vontade, que está formando uma força de resistência quando ele observa que o poder dado a sua autoridade, degenera em tirania, em poder absoluto contra o outro, um poder de controle absoluto sobre todo o seu ser, é nesse sentido que o homem desenvolve formas de resistência ao poder. Elas só podem existir em função de uma multiplicidade de pon- tos de resistência: eles jogam, nas relações de poder, o papel do ad- versário, do alvo, do apoio, do saliente para uma apreensão. Os pontos de resistência estão presentes em todos os lugares dentro da rede de energia (Foucault, 2001). Mas, isso significa "que onde há poder há resistência", essa é uma ótima frase de Foucault, talvez encerre toda a sua teoria do poder, vamos à explicação apropriada, chegamos nas páginas anteriores que: • o homem rendeu a sua dominação corpo e alma ao outro. • mas não só o seu corpo e alma mas a sua sujeição ao outro. • este outro que assumiu o poder submetendo-se não só tinha o poder mas tornou-se uma autoridade para o sujeito. • então o poder tornou-se autoridade e sujeição. • esta autoridade degenerou em poder absoluto sobre o contro- le de toda a integridade do homem. Agora vamos percorrer a segunda parte, degenerar o poder na tirania, isto é, quando a autoridade se torna poder absoluto, esse poder não só desenvolve a sujeição, mas também a resistência a ela, isto é, Foucault afirma que em toda relação de poder é gerada resistência para o poder, uma maneira de lutar contra esse poder absoluto, o homem sujeito começará a desenvolver uma forma de resistência, isso foi mos- trado através da história. Tanto a autoridade que exerce o poder quanto o sujeito que bus- ca várias formas de resistência a esse poder de submissão pode ser visto claramente no ambiente educacional. Vamos desenvolver um pouco essa relação de autoridade e poder na educação. A pedagogia, um dos pilares básicos dos chamados métodos tradicionais de educação, que consiste em organização de classe baseada no poder ou dominância do educa- dor, por causa do papel que desempenha no contexto escolar. A partir da definição, você pode ver a relação de autoridade, poder e submissão, essa tríade que desenvolvemos na seção anterior. Na educação, as relações de autoridade eram claramente mostradas na 23 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S chamada educação tradicional. As relações de poder dentro da educação são mostradas na au- toridade que o professor exercita sobre os alunos, o professor é o mode- lo, o exemplo a seguir, tem poder absoluto e autoridade máxima, o aluno obedece ao que o professor lhe impôs. O estudante é como uma pedra, matéria-prima pela qual o professor é responsável pela formação. Assim, a educação não era mais do que a mera transmissão de conhecimento, baseada em memorização, punição física, obediência e submissão. As relações de poder aparecem então implícitas na educação porque, em última análise, elas pertencem à sociedade, são um elemento de estruturas, uma parte substancial de sua organização. Isso significa que toda a estrutura educacional está organizada em relações de poder, a autoridade é a espinha dorsal de sua estrutura, fora e dentro da sala de aula, fora e dentro da instituição, fora e dentro do Ministério da Educação, ou seja, a autoridade do professor começa e termina nas salas de aula, porque fora delas ele também está sujeito a uma autoridade maior. Logo, a educação tradicional é um claro sinal de autoridade, de poder exercido sobre os outros e da resistência que demonstram sobre os que detêm o poder. Por exemplo: uma característica desta educação tradicional é o centrismo de ensino: A função de ensino induzida pelo ensino individual é definida pelo direito e dever de quem sabe tudo e pode fazer tudo, educar e educar aqueles que nada sabem nem po- dem. A escola precisa redimensionar o seu pensar, reformulando suas ações pela compreensão do que a comunidade escolar (entendida aqui os alunos, pais, professores, equipe pedagógica, direção, funcionários) espera dela enquanto função social. A escola deve ser um lugar de trabalho, de ensino, de aprendizagem. Um lu- gar em que a convivência permita estar continuamente se superando, porque a escola é o espaço privilegiado para pensar. Ele que sempre acreditou na capacidade criadora dos homens e mulheres, e pensando assim é que apre- senta a escola como instância da sociedade. Não é a educação que forma a sociedade de uma determinada maneira, senão que esta, tendo-se formado a si mesma de uma certa forma, estabelece a educação que está de acordo com os valores que guiam essa sociedade. Reconhece-se a presençado oprimido e do opressor, ao que convida-nos a essa libertação, inicialmente pela libertação do opressor que reside em cada um, para então conseguir- mos pela marcha popular libertar todos os homens (FOUCAULT, 2001, p. 51). Neste tipo de educação, a autoridade máxima é o professor, aquele que tem a autoridade e, portanto, o poder sobre o aluno, que é entregue pelos pais à escola, porque o aluno é considerado alguém que não sabe, não pode fazer alguma coisa, então eles levam para aquele 24 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S que tem todo o conhecimento e tem que ensiná-lo, transmitir o conhe- cimento com a metodologia tradicional, caracterizada por: memorismo, obediência, passividade, castigo físico, etc., é assim que o professor assume, não apenas o corpo, mas também o ser do aluno. Como mencionamos anteriormente "onde há poder há resistên- cia ao poder", isto é, que a liberdade é gerada onde há poder e contra o poder sobre um, a liberdade nada mais é do que querer recuperar o que estava no começo, mesmo poder. Quando a autoridade se torna absoluta e começa a se expressar de uma maneira mais brutal e exagerada, é onde se percebe que se perdeu o poder de dominação sobre si mesmo e é aí que começa o desejo de liberdade, o desejo de recuperá-la. Então, podemos afirmar que a liberdade está necessariamente ligada e vinculada à autoridade. Isto é, não pode haver liberdade onde não exista - ou exista – autoridade, ou melhor, opressão ou poder sobre si mesmo. Foi então necessário lutar pela liberdade, a luta para recupe- rar o poder autônomo: As lutas pela liberdade foram realizadas para o oprimido, para aqueles que procuram novas liberdades em oposição aos que tinham privilégios para de- fender. Como uma classe lutou por sua própria libertação da dominação alie- nígena, acreditava que fosse para a liberdade humana como tal e, portanto, poderia invocar um ideal e expressar essa aspiração à liberdade que está enraizada em todos os oprimidos (FOUCAULT, 2001, p. 55). No processo histórico, o homem foi forçado a realizar lutas, re- beliões, revoluções, etc, a fim de recuperar a sua liberdade, assim como o poder absoluto nasceu nesse mesmo, desenvolvimento, em si, um po- der de resistência contra a autoridade absoluta. Foucault afirma que a disciplina militar não é mais um meio simples para impedir o saque, a deserção ou a desobediência das tropas, tornou-se uma técnica básica para o exército existir, não como uma tropa de indivíduos, mas como uma unidade que obtém desta unidade um aumento de forças, a disciplina aumenta a capacidade de cada um, coordena essas habilidades, acelera movimentos, multiplica o poder de fogo, amplia as frentes de ataque sem diminuir seu vigor, aumenta a capacidade de resistência, etc. A disciplina do workshop, embora continue sendo uma forma de impor regulamentações e autoridades, para evitar roubo ou dissi- pação, tende a aumentar habilidades, velocidades, retornos e, portan- to, lucros, sempre moraliza os comportamentos, mas termina cada vez mais os comportamentos e faz com que os corpos entrem em uma má- quina e as forças em uma economia. Quando Foucault fala de disciplina refere-se ao poder com au- toridade, aquele poder que o sujeito tem dado ao outro para formar, 25 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S educar, orientar no caso da educação. Essa autoridade tem poder abso- luto sobre o assunto, exercido por meio da disciplina. Mas, como o autor menciona, a disciplina - o poder da autoridade - não apenas a oprime, a governa, mas desenvolve as várias formas de resistência em relação a ela, desenvolve as capacidades e o desejo de liberdade, quanto mais sangrento é o poder absoluto, será preciso mais habilidade para desen- volver habilidades para poder lidar com o poder absoluto. No nível educacional, essa resistência ao poder absoluto pode ser observada, com mais clareza, no professor, que era quem sabia tudo e que podia, na educação tradicional, ser cada vez mais criticado, questionado e, portanto, procurando mudar esse tipo de educação, o estudante começou a lutar e resistir a esse poder, assim como nos vá- rios aspectos a liberdade de um homem foi alcançada, afirma: Os princípios do liberalismo econômico, da democracia política, da autono- mia religiosa e do individualismo em vida pessoal, expressava o desejo de liberdade e, ao mesmo tempo, parecia aproximar a humanidade de sua plena realização. Uma a uma as correntes foram quebradas. O homem começou não só a buscar, mas a conquistar sua liberdade, isso também aconteceu no campo da educação, levando-o a propor novas formas de educação, viu uma mudança no ensino, dando frutos ao que é conhecida como educação libertária (FOUCAULT, 2001, p. 57). Nessa nova pedagogia, o aluno é motivado, levado a inquirir, levado ao diálogo e deixado mesmo em liberdade para aprender ou não, ou, mais precisamente, para aprender, de preferência, o que capta seu interesse. Passa de um estágio em que o estudante era um agente passivo, submisso, um mero receptor de conhecimento, para um agente ativo - daí a educação ativa - onde o estudante agora exerce poder, au- tonomia, desempenha um papel. Agora os educadores estão no mesmo plano e as decisões, as orientações, não caem do Olimpo da cadeira, mas emergem da vontade do grupo. Em seguida, passou-se de um poder autoritário para um "de- mocrático" onde o aluno é levado em conta para a sua formação, é o centro de educação que se desloca de aprendizagem mecânica analí- tica, onde o professor despojado de sua autoridade é um "facilitador", o aluno não estuda lições porque "investiga" e "experimenta" por sua própria necessidade e vontade. Logo, nos dá a entender que o professor, depois de perder o poder, a autoridade absoluta, torna-se um mediador, não é mais um agente que impõe, mas olhando para aprender sobre as necessidades dos alunos para guiá-los em seu interesse, em seu desejo de saber o que eles chamam sua atenção. Assim, nasce a chamada educação 26 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S ativa. Mas, na chamada educação ativa, onde o centro do processo de ensino-aprendizagem, foi o aluno, onde está o poder? Quem oferece resistência e para quem? Não há autoridade? Claro, se houver um, e é centrado no aluno, ou seja, o poder absoluto e a autoridade são transferidos do professor para o aluno, ago- ra tudo parte das necessidades e o que o aluno quer aprender, é essa necessidade e desejos que direcionam o desenvolvimento das sessões de aprendizagem nas salas de aula. A partir da teoria do poder de Foucault, onde há poder há uma resistência ao poder, podemos estabelecer que, em todo relacionamen- to - de duas ou mais pessoas - existe uma luta pelo poder e a sujeição do outro a nós, isto é, entre amigos, numa reunião, numa conversa, num casal, etc., desde as relações mais espontâneas até as relações mais sistemáticas e organizacionais, sempre busque possuir o poder, seja a autoridade e, portanto, a submissão de outros. Também podemos dizer que a liberdade só poderia nascer lá onde há uma submissão ou repressão dos desejos e vontade pessoal, pelo simples fato de querer liberdade é precisamente porque eles não possuem e estão sob a subjugação de uma autoridade que detém po- der. Para terminar, vamos dizer que, tanto na escola tradicional como na nova escola, existe o poder, a autoridade e a sujeição de uns para os outros, do professor para o aluno no primeiro e o aluno para o professor no segundo. Deste modo, a luta por poder e autoridade sempre estará presente nas relações educacionais. 27 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S QUESTÕES DE CONCURSOS QUESTÃO 1 Ano: 2012 Banca:CEPERJ Órgão: DEGASE Prova: CEPERJ - 2012 - DEGASE - Psicólogo A arte de punir, segundo Foucault, põe em funcionamento cinco operações bem distintas. No regime do poder disciplinar, a puni- ção visa ao seguinte fator: A) repressão B) normalização C) engajamento D) coerção E) expiação QUESTÃO 2 Ano: 2012 Banca: Quadrix Órgão: CFP Prova: Quadrix - 2012 - CFP - Psicologia Social Na perspectiva dos estudos de Michel Foucault, analise as frases a seguir. I. A lógica discursiva que define a obsessão das sociedades con- temporâneas pela juventude está ligada a uma concepção de se- xualidade que faz referência à beleza e à atividade sexual. II. Ainda hoje, em nossa sociedade, podemos observar a articula- ção da medicina, da demografia e da pedagogia na administração da conduta sexual da população. III. A partir do século 18, os dispositivos de saber e poder deixam de incidir sobre o sexo da criança, permitindo a expressão livre de seus comportamentos. IV. O dispositivo da "sexualidade" tem sua origem na separação do sexo do dispositivo da aliança que articulava as obrigações religio- sas ou legais do casamento com a transmissão da propriedade e dos laços de sangue, constituindo o sistema social. Pode-se afirmar que: A) apenas I, II e IV estão corretas. B) todas estão corretas. C)apenas I e II estão corretas. D)apenas I e IV estão corretas. E) todas estão incorretas. QUESTÃO 3 Ano: 2013 Banca: FCC Órgão: TRT - 5ª Região (BA) Prova: FCC - 2013 - TRT - 5ª Região (BA) - Analista Judiciário - Psicologia 28 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S A abordagem do conhecimento-poder, baseada na obra de Michel Foucault, A) avalia a capacidade das pessoas agirem sobre o ambiente, conside- rando que os comportamentos não são determinados pelo grupo. B) busca compreender como os sistemas de gestão de pessoas nas- cem e, passam do discurso para a prática. C)indica a importância de examinar as práticas de gestão de pessoas, para ver como elas estruturam as relações sociais na organização. D)analisa como a gestão de pessoas pode ser vista como um discurso criado para sustentar os interesses de uma rede de pessoas. E) considera a gestão de pessoas como um elemento que auxilia as pessoas a se organizarem, utilizando a prática corporativa. QUESTÃO 4 Ano: 2014 Banca: FUNCAB Órgão: SEDS-TO Prova: FUNCAB - 2014 - SEDS-TO - Analista Socioeducador - Psicologia Foucault destaca que a vigilância é a principal engrenagem do po- der disciplinar e contribui para: A) estudar os sujeitos a ele submetidos. B) especificar a disciplina, circunscrevendo-a às instituições fechadas C) produzir efeitos descontínuos, limitados aos muros institucionais D) automatizar e desindividualizar o poder. QUESTÃO 5 Ano: 2014 Banca: FGV Órgão: DPE-RJ Prova: FGV - 2014 - DPE-RJ - Técnico Superior Especializado - Psicologia No conhecido livro “Vigiar e Punir”, Foucault reflete sobre a técni- ca do exame, que consistiria em uma tecnologia A) do poder soberano que invisibiliza, desterritorializa e militariza. B) do poder disciplinar que visibiliza, individualiza e normaliza. C) do poder disciplinar que singulariza, invisibiliza e pune. D) do poder fluido que controla, medicaliza e incita. E) do poder soberano que normaliza, cerimonializa e pune. QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE Enquanto a infância e a pedagogia são dois eventos simultâneos na gênese histórica, o amadurecimento científico do conhecimento peda- gógico está vinculado a uma complexidade do conceito de infância na noção de aluno. Nesse sentido, qual o objetivo que se deseja atingir com a prática da educação infantil? 29 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S TREINO INÉDITO Assunto: Pedagogia escolar Sobre o objetivo precípuo da pedagogia, assinale a alternativa correta a. Cabe à pedagogia articular o conhecimento prévio e as experiências práticas na construção do conhecimento novo, dando voz aos sujeitos envolvidos com o problema e permitindo ao pesquisador uma posição de compartilhamento que eu chamaria de diferenciada. b. Cabe à pedagogia desarticular o conhecimento prévio e as expe- riências práticas na construção do conhecimento novo, dando voz aos sujeitos envolvidos com o problema e permitindo ao pesquisador uma posição de compartilhamento que eu chamaria de diferenciada. c. Cabe à pedagogia desprogramar o conhecimento prévio e as expe- riências práticas na construção do conhecimento novo, dando voz aos sujeitos envolvidos com o problema e permitindo ao pesquisador uma posição de compartilhamento que eu chamaria de diferenciada. d. Cabe à pedagogia onerar o conhecimento prévio e as experiências práticas na construção do conhecimento novo, dando voz aos sujeitos envolvidos com o problema e permitindo ao pesquisador uma posição de compartilhamento que eu chamaria de diferenciada. e. NDA. NA MÍDIA MICHEL FOUCAULT, UM CRÍTICO DA INSTITUIÇÃO ESCOLAR Por meio de uma análise histórica inovadora, o filósofo francês viu na educação moderna atitudes de vigilância e adestramento do corpo e da mente. Além disso, vem inspirando uma grande variedade de pesquisas sobre educação em diversos países. "Foi Foucault quem pela primeira vez mostrou que, antes de reproduzir, a escola moderna produziu, e conti- nua produzindo, um determinado tipo de sociedade". Fonte: Márcia Ferrari Data: 01/10/2008 Leia na íntegra em: https://novaescola.org.br/conteudo/1522/michel- -foucault-um-critico-da-instituicao-escolar NA PRÁTICA A PEDAGOGIA E A EDUCAÇÃO INFANTIL A investigação que deu origem a esta reflexão encontrou elementos teó- ricos que, fundamentados em bases empíricas e teorizações prévias, permitiram propor a possibilidade de desenvolver uma autêntica Peda- gogia da Educação Infantil, a qual a autora prefere denominar Pedago- gia da Infância. Seu objeto seria as próprias crianças, seus processos 30 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S de constituição como seres humanos em diferentes contextos sociais, sua cultura, suas capacidades intelectuais, criativas, estéticas, expres- sivas e emocionais. Essa pedagogia transcenderia os conhecimentos didáticos resultantes de uma ação pedagógica escolar geral e dos pro- cessos de ensino-aprendizagem que não são apropriados para analisar os espaços pedagógicos nãoescolares, tão freqüentes na atenção dos meninos e meninas de 0 a 6 anos. Fonte: Eloisa Acires Candal Rocha Data: 2001 Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi- d=S1413-24782001000100004&lng=en&nrm=iso. PARA SABER MAIS Filme sobre o assunto: A voz do coração Peça de teatro: Anjos de caramelada Acesse o link: https://youtu.be/ImxuI-n2740 31 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S A DOCÊNCIA E SUAS AÇÕES PEDAGÓGICAS Ser professor se afeta, retroalimenta e ressignifica a partir das mudanças no contexto e influências sociais. As mudanças que atual- mente exigem que os professores enfrentem novas demandas a cada dia, que nascem de uma orientação clara para os resultados e que co- locam em um cenário difícil o trabalho do professor. Supõe-se que, a partir da lógica do comprometimento, é possí- vel construir espaços favoráveis de envolvimento e impacto no desenho da política com a profissão, o ensino, os alunos e a instituição escolar. Sob os pontos feitos, o texto é dividido em quatro seções que colocam a necessidade de considerar os aspectos que permitem conce- ber o professor como uma parte indispensável do processo de mudan- AÇÃO PEDAGÓGICA ENTRE DOCENTES, CRIANÇAS E COMUNIDADE P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S 31 32 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G RU P O P R O M IN A S ça, não pensando como destinatário e executor, mas como uma parte fundamental do conjunto de ações que irá determinar novas direções no trabalho educacional. Assim, uma primeira seção refere-se às principais característi- cas do contexto educacional atual e à necessidade de pensar em formas alternativas de situar o problema. A segunda seção refe-se ao compro- misso de ensino como uma maneira possível de pensar os processos de mudança e seu impacto sobre a identidade docente, percebendo o senti- do de urgência e de propósito que constituem os processos catalisadores de mudança. Em seguida, numa terceira secção, assume-se a neces- sidade de considerar a dimensão subjetiva, que reconhece o empenho educativo como central para a necessidade de mudança, perguntando-se como tal consideração poderia ser acomodada em construções futuras de política educacional que concebeu, numa perspectiva ampla, o que significa ser professor, profissionalismo e desenvolvimento profissional. Finalmente, em uma quarta seção, há caminhos que nos per- mitem capturar efetivamente essas possibilidades. A partir da década de 90, com o advento da democracia, a maioria dos países latino-ame- ricanos testemunhou grandes transformações nas formas de entender e repensar o sistema escolar, seus objetivos e metas. As claras prerroga- tivas das instituições internacionais mobilizaram mudanças e reformas na maioria de nossos países. Orientações que, por vezes, desconsideram as particularida- des do sistema nacional de ensino e, portanto, ressaltam a noção de profissionalismo, situação que afeta diretamente tanto a instituição es- colar que deixa de ser uma instituição servindo projetos culturais com- partilhados, a ser constituída numa organização orientada a produzir e ensinar competências úteis para os indivíduos e gerar títulos que certifi- quem tais competências, assim como o professor que nela trabalha, que passa de ator principal a ator passivo e sujeito a alterações externas. Essa tensão está marcando a experiência atual dos professores, interpelados pelos novos mapas que prometem as políticas de incentivo, desempenho, padrões, entre outros. A ênfase atual exorta um efetivismo crescente do "fazer" e do "produzir", oferecendo formas de identidade que se afastam das formas como o professor entende, define e age. No surgimento desse paradigma enigmático, a instituição esco- lar é obrigada a responder às expectativas e demandas por resultados. Da mesma forma, o professor é obrigado a responder "eficientemente", não necessariamente considerando o que isso significa em seus con- textos de desempenho, nem o que isso implica na figura do professor. A existência de uma política de cima para baixo enfatiza os pro- cessos de individuação da escola e coloca em questão o significado dela, 33 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S afetando diretamente os modos de agir dos professores. Nesse contexto, os professores são diretamente abordados, sua principal força de traba- lho, como responsáveis não mais por práticas pedagógicas e de formação específicas, mas pelo desenvolvimento econômico e social dos países. Essa tensão expõe os professores a constantes processos de ne- gociação entre a adoção irrefletida da política de mudança, que exige o "fa- zer" do professor, e a prática pedagógica que valoriza o "ser" do professor como sujeito de julgamento, comprometido e socialmente localizado. Dessa forma, na experiência de dar conta dos resultados, os ato- res sociais e, em particular, os professores expostos a políticas externas de apoio, podem desenvolver aceitação recíproca ou jogos de submissão estratégica que geralmente envolvem altos custos como mecanismos es- truturantes para ambas as partes e que podem até encorajar os mesmos atores sociais a construírem práticas que façam a política fracassar. Nesse sentido, a articulação de políticas que leve à melhorias na qualidade não pode depender exclusivamente da expertise dos operadores políticos, do desenho exemplar, dos recursos ou da magnitude da propos- ta. Fazendo a ponte entre a formulação de políticas e sua materialização em concreto, mesmo em contextos de espaços, a mudança vai depender muito das estratégias e alianças que definem modos estabelecidos para agir, por parte de atores sociais, que emana diretamente de um olhar que assume não só o profissionalismo do professor, mas também o conjunto de componentes que compõem a essência de ser professor. Isto é, o sucesso ou o fracasso dependerão, em grande parte, do reconhecimento do professor como um ator a mais nas transações simbólicas entre os atores, sob a suposição de que a concepção de uma política destinada a melhorar o sistema de ensino como um todo deve ter uma atenção direta não apenas à maneira concreta pela qual as coisas são feitas, mas às ações e relacionamentos em situações específicas, como também ao modo de envolvimento e definição dos professores, particularmente em tempos de mudança. Como alternativa, propõe-se repensar a política educacional, tornando visível a subjetividade dos atores, espaço em que o profis- sionalismo e a identidade profissional são nutridos organicamente para marcar diferenças em seus contextos de atuação. Daí a importância de pensar sobre as reformas educacionais a partir do que significa a responsabilidade de elevar o padrão de qualidade, projetar políticas e implementá-las, que não pode eludir o que significa ser um professor ou sua participação na elaboração de processos de reforma. Ao enfatizar as formas de agir e relacionar, a prática educacio- nal adequada não apenas reflete as dimensões subjetivas do trabalho do professor, mas também especifica as diferentes áreas de ação dos 34 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S professores. Estes espaços têm a ver, entre outras coisas, com disposi- ções que são geradas na relação estabelecida pelo professor com seus alunos, na força de identificação com o ensino, com a instituição em que ele trabalha e com as oportunidades de desenvolvimento profissional. Figura 4 – Relação professor x aluno Fonte: Elaborado pela autora (2019) Estas áreas podem ser lidas em três dimensões: institucionais, pessoais e profissionais, que abrange uma abordagem recente chama- da "Compromisso do Professor", e que emerge na discussão acadêmica como um poderoso articulador da identidade profissional, a essência do ensino, observando que "futuros professores deverãom ter não apenas bons resultados e excelentes habilidades interpessoais, mas também um profundo compromisso pessoal de ensinar e trabalhar nas escolas. Nesse sentido, o compromisso de ensino foi identificado como um dos fatores mais críticos para o sucesso futuro da educação e das escolas. Fazer um compromisso a partir dessa perspectiva é central para entender como professores definem e re-definem a sua identidade profissional, como enfrentam tanto a reforma e as demandas diárias em diferentes contextos e situações sociais complexas. A lógica de compromisso aqui apresentada dá sentido a uma concepção do que é entendido pelo profissionalismo, entendido em um sentido amplo que inclui aspectos do ensino como profissão, ou seja, um projeto pedagógico vinculado a aspectos éticos e epistemológicos e que afetam não apenas a prática, mas também a identidade pessoal e coletiva do professor. A partir desta perspectiva, a nossa reflexão nos leva a uma ex- pressão de compromisso, juntamente com o estabelecimento de laços com a identidade do professor, que está associada simultaneamente ao trabalho dos professores, que se tornaria uma forma renovada de conceituar o seu desenvolvimento profissional. 35 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S Especificar o compromissode construto e sua relação com o profissionalismo é importante para alcançar uma visão abrangente do desenvolvimento profissional em um cenário de mudança educacional. "Comprometimento" é um termo usado com frequência pelos professo- res para descrever a si mesmo ou entre colegas e para se referir à sua identidade profissional. Comumente, esse conceito é usado por eles para caracterizar atributos desejáveis em um professor. No entanto, apesar do uso diário, é uma construção polisémi- ca usadaindistintamente para se referir à forma como os professores executam, ou seja, os professores que realizam um "bom trabalho de ensino". O tipo de envolvimento com uma tarefa, como sinônimo de pro- fessores "dedicados", como um sentimento de pertencer em referência a um certo ethos profissional, ou como forma de se comportar que defi- ne profissionalismo docente em termos de paixão pelo ensino. O compromisso é geralmente considerado como um atributo desejável associado a um sentimento de profissionalismo definido como um vínculo psicológico que tem implicações tanto na atitude e no com- portamento das pessoas. A fim de esclarecer o termo, o compromisso é a qualidade que distingue aqueles que são percebidos como "autênticos mestres" da- queles que têm o seu principal interesse em ocupações fora da escola. Assim, a partir dessa perspectiva, permite-se diferenciar os professores que "se doam" daqueles que não demonstram preocupação com seus alunos. Esta dimensão também é validada pelos próprios alunos, que identificam a base de um bom professor de educação que se preocu- pam com eles e compartilham sua prática com verdadeira preocupação para aqueles que são confiados a eles, enquanto bem-estar e a orienta- ção geral realização acadêmica. As particularidades de compromisso são evidentes em profes- sores que acreditam firmemente que eles podem fazer a diferença na aprendizagem e resultados de seus alunos para o que são, o que eles sabem e como eles ensinam, também os professores comprometidos têm a certeza de que tanto eles - a sua identidade - como o seu traba- lho - conhecimento pedagógico, disciplinar e profissional -, estratégias de ensino que utilizam, bem como suas crenças, atitudes e valores, terão um impacto significativo sobre os alunos e instituições em que trabalham. Assim descrito, o compromisso é uma dimensão descritível que pode ser intencional no processo de formação de professores e ser aprendida na interação com os outros e em um determinado contexto, que faz referência direta ao caráter localizado. Portanto, não pode ser considerado como luxo, adorno, pos- se ou competência de poucos professores, pois é essencial para um 36 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S bom ensino e, por conseguinte, por desconfortável que pareça, está no centro do que é. Se assumirmos o comprometimento do professor como o nível de adesão e identificação a determinados aspectos do seu trabalho, é possível afirmar que existem várias áreas que podem ser objeto de comprometimento de um professor e que podem, com base em prioridades ou demandas, mudar ao longo da carreira docente e nos diferentes contextos de atuação. Assim, o compromisso de ensino envolve muitas facetas que incluem diversos objetivos relacionados ao trabalho, entre eles: a orga- nização, a ocupação, os pares, entre outros. Chaves (2007) identifica três dimensões do compromisso de ensino, dependendo do objeto de interesse do professor e dos espaços em que ele está disposto a fazer um maior investimento de tempo e energia: compromisso com a orga- nização, compromisso com a profissão docente e compromisso com a aprendizagem dos alunos, independentemente de suas dificuldades acadêmicas ou origem social. Logo, o comprometimento dos professores é geralmente ex- presso em três dimensões: comprometimento com a escola, compro- misso com o ensino e comprometimento com os alunos. Podemos dizer que, para abordar de forma abrangente o compromisso, o ensino deve lidar com a complexa articulação das relações que o professor estabele- ce com os estudantes, a carreira e a escola, o que distingue dimensões em que é expresso este compromisso e que colocam um forte compo- nente relacional no centro dele. Deste modo, sua construção e consolidação dependem das re- lações com, por e por outros, aquelas que se solidificam em e através de um contexto particular e senso de propósito. O compromisso abran- ge, define e configura o ser do professor além do papel de transmissor daquele produzido pelos outros, pois antes ele especifica a essência de ser professor. Desta forma, o compromisso tem um eixo que responde ao que o professor é, tanto individual quanto coletivamente, ou seja, ele aparece como um catalisador para a identidade profissional do professor. A gravitação do compromisso não tem apenas a ver com o próprio construto, mas também com a importância que ele tem na con- formação do profissionalismo docente. O compromisso fornece elemen- tos para o professor na articulação de uma descrição coerente sobre si mesmo, em sintonia com as estruturas sociais em que ele atua e as formas de agir que ele adota. Isso coloca uma ênfase especial na construção da identidade profissional como um componente essencial do profissionalismo docen- te, que é moldado pelo compromisso, como uma característica particu- lar na definição de cada professor. 37 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S A maneira como os professores formam sua identidade pro- fissional é influenciada e é baseada na existência e interação com os "outros" 10, espaço apropriado para a construção identitária, uma vez que tal interação exige acentuadas semelhanças e diferenças segundo os referentes externos em que você pode discernir como se sente em relação a si mesmo, ou ponderar sua própria autoavaliação e conhe- cimento, mas, ao mesmo tempo, perguntar sobre como seus alunos, colegas e gerentes percebem isso. Em suma, são os outros significativos e/ou próximos que no dia-a-dia instruem o professor com argumentos e histórias que lhes per- mitem construir uma narrativa sobre quem são, este último aspecto é a base para fazer ajustes relevantes e efetivos à sua prática. A interação simbólica com outras pessoas, abordada por Larra- ín (2005), refere-se a uma dupla entrada diante da narrativa identitária. Por um lado, a identificação como força unificadora que se baseia no papel dos modelos de referência que o professor possui e nos quais se busca a similaridade, processo que está, além disso, saturado de com- ponentes vinculados ao compromisso como eixo de identificação com a profissão docente. A partir dos processos de identificação, o compro- misso atua como um imã poderoso que favorece o vínculo com o ensino na construção da identidade profissional. Por outro lado, os processos de identificação reúnem elementos de diferenciação biográfica ou pessoal que destacam o trabalho docente no centro de identidade, que define e molda quem é e como é ser professor. No jogo entre a identificação e a identização de identidades an- teriores e nichos culturais e sociais que estão interligados, tanto determi- nam possíveis maneiras de ser, e que dão à profissão um discurso que legitima e valida a tarefa de ensino baseada em competências, valores e desafios que possuem um caráter particular e exclusivo e que permitem o domínio (autopercepção) e o reconhecimento (social / oficial). No reconhecimento social/oficial que Galaz discute, o compro- misso do professor refere-se a um certo ethos profissional, ou forma de se comportar, que define o seu profissionalismo baseado na "paixão pelo ensino", entendido como um forte efeito positivo, satisfação, experiência de fluxo, vitalidade e controle na escolha de iniciar e parar a atividade. Diante das múltiplas narrativas e/ou representações que o pro-fessor pode ter construído em sua interação com os outros, a questão do "ser do professor" é articulada e convocada pelo compromisso como eixo central que oferece a ele a possibilidade de ser um e muitos ao mesmo tempo, e para proteger uma "identidade" que dá permanência e estabilidade ao seu "modo de ser professor". Foi com base no compromisso enquanto professor como eixo de 38 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S identidade que a força pedagógica dos professores depende em grande parte do fascínio e encantamento para o que fazem por compromisso de seus atributos desejáveis que estão associados ao reforço do caráter da profissão através de uma "maneira de ser compartilhada" sem descurar a complexidade, sofisticação e multidimensionalidade do construto. Então, é possível pensar no desenho das políticas de desen- volvimento profissional? Resolver esta questão é fundamental, já que as políticas ainda estão tentando responder o desenho de uma ação compartilhada e intencional, que o resultado de decisões e interações que definem o curso de ação num conjunto de atores que lidam com um problema de interesse. Figura 5 – Políticas da educação Fonte: Elaborado pela autora (2019) Temos exemplificado a atual demanda por políticas educacio- nais que promovem a construção do estado avaliativo, globalizado e perseguido, comparando os resultados inter-países, sendo preso ou co- lonizado pela lógica comercial comum para os governos conservadores e da esquerda neoliberal. Este cenário pode dar lugar a um compromisso que envolve a ligação à prática de ensino com base nos requisitos externos que deter- minam uma prática com base na obtenção de resultados, que transbor- da identidade e resulta em um excesso de identificação com o ensino, permitindo a ação pedagógica ser valorizada acima de outros interes- ses, rejeitando a participação e começar a experimentar conflito entre ensino e outras atividades e interesses. A presença exclusiva de compromissos determinantes exter- nos levanta um olhar de desconfiança a respeito da forma como está estruturada, construída e proposta atualmente a política de educação em si mesmo em torno de uma reforma baseada em padrões, para- digma que promove sistemas de garantia centralizados de qualidade educacional e que a definem da conquista da aprendizagem do aluno. Essa visão exige um sistema estruturado de acordo com disci- plinas valorizadas como centrais e mensuráveis, privilegiando a respon- sabilidade pelos resultados e a prestação de contas. Esses elementos combinam um cenário no qual a questão de como o professor ressig- nifica as referidas prerrogativas e requisitos externos é essencial para 39 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S definir o tipo de compromisso a ser assumido. Sem ignorar a necessidade de regular o sistema educacional e definir políticas para orientar os requisitos básicos, a saída antes que esta tensão não envolve cotas e ignorar os padrões de desempenho e perfis de graduação que regem o trabalho de ensino, mas sim e mais repensar como estes são ajustados, acomodados e configurados de acordo com o ser do professor, o que possibilitaria uma apropriação igualmente comprometida e harmoniosa da política educacional, tanto no seu desenho como na sua implementação. Neste contexto adverso, a capacidade do professor para res- ponder de forma construtiva às características de seu trabalho, que estão atualmente tensões inerentes, torna-se uma ferramenta essencial que fortalece e permanece comprometida, uma vez que implica que o pro- fessor desenvolve o seu trabalho, porque ele escolhe fazê-lo, e não em termos de pressões e exigências externas, nem com base em resultados, aprovação social, reconhecimento, realização de aprendizagem ou qual- quer outro elemento que impulsione externamente o trabalho que ele faz, mas sim porque o trabalho é importante e significativo para ele. Nesse sentido, o trabalho deixa de ser apenas uma atividade e influencia a configuração da identidade, tornando-se parte importante do autoconceito. O expresso pode ser lido individualmente e coletivamente. A relevância do compromisso professor que lê e interpreta de seu impacto sobre os requisitos externos de identidade e profissionalismo, é gestado na força do professor, necessário dedicar-se livremente e volun- tariamente, tendo o compromisso um lugar importante na identidade, sem danificar, o que lhe permite influenciar flexibilidade e abertura na política. Esta leitura coloca a figura do professor como uma decisão/dis- posição profissional, de permanente autonomia, que se afasta tanto for- mas rígidas da escravidão como uma arbitrariedade que ignora as regras. Senso de propósito que diz respeito a uma forma particular de se relacionar com cada uma das dimensões que envolve o compromis- so de professores: ensino, estudantes, escola e profissão, e mesmo se não é o centro, é possível afirmar que reside no eixo dessas dimensões entendidas como unidades interiores que dão oportunidade para o pro- fessor para atuar como uma decisão pessoal, transformando a prática docente em ações coordenadas para além da obrigação. É, portanto, a participação na construção de um senso de pro- pósito, onde o professor concorda e envolve o trabalho feito diariamen- te. O que faz sentido de propósito é, por um lado, acentuam o olhar não só a partir de um nível pessoal, o trabalho docente, e em segundo lugar, para enfatizar que o professor, como uma pessoa, é a essência para que a educação em si tem lugar, dimensão agora reconhecida e am- 40 P R Á TI C A S E T E O R IA S D A E D U C A Ç Ã O IN FA N TI L - G R U P O P R O M IN A S plamente investigada em vários contextos de formação de professores. Cada vez mais, ambos os pesquisadores e educadores reconhecem: uma boa formação não pode ser reduzida, boa formação técnica vem da identidade e integridade do professor. Reconhecer o compromisso do professor levanta questões a enfatizar a importância da integração entre duas dimensões: pessoal e profissional, o que os professores "são" e o que "fazem" a serviço de uma prática de qualidade? Essa integração permite a adoção de uma perspectiva diferente, que chamamos "de dentro", a fim de compreen- der e analisar os sentidos e valores associados ao trabalho educativo que empreender e desenvolver-se professores num contexto de desem- penho complexo composto por múltiplos atores (do estado, represen- tantes políticos nacionais, regionais e locais comunidade educativa e nacional, etc.) e uma variedade de interesses e demandas. O conceito de padrão refere-se ao que o professor deve saber e ser capaz de fazer para ser considerado competente em um determi- nado campo. Os padrões indicam "o quê", referindo-se a um conjunto de aspectos ou dimensões que não deve observar no desempenho, e em paralelo dimensões de quanto "que permitem pesar a distância ou proximidade na tarefa de ensino do que é avaliado como desejável. Independentemente da discussão sobre os benefícios, ou não, dos relatos que definem uma política educacional baseada em padrões, pouco se sabe sobre os efeitos que a inclusão de normas, padrões ou modelos tem sobre a educação. Evidências sugerem que é improvável que a criação de pa- drões influencie significativamente a prática docente, antes, o que é ne- cessário é conjugar um equilíbrio complexo e delicado entre prescrição e desenvolvimento entre autonomia e heteronomia, entre regulação e apoio que a política sozinha não conhece. O curso normal de uma política orientada para os padrões leva a uma reforma baseada em testes padronizados, o que exacerba as ten- sões mencionadas acima, pois conduz e aperfeiçoa um sistema no qual um teste, em vez dos padrões, comunica expectativas e práticas. No atu- al sistema nacional de garantia de