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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE programa de pós-graduação em arquitetura e urbanismo A RELAÇÃO ENTRE PROJETISTAS E CONSULTORES NO PROCESSO PROJETUAL DE EDIFÍCIOS, VISANDO O BAIXO IMPACTO AMBIENTAL E O ATENDIMENTO DE METAS DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA NO CONTEXTO BRASILEIRO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO Área de concentração: Projeto, Morfologia e Conforto no Ambiente Construído Linha de pesquisa: Projeto de arquitetura Nível: Doutorado A RELAÇÃO ENTRE PROJETISTAS E CONSULTORES NO PROCESSO PROJETUAL DE EDIFÍCIOS, VISANDO O BAIXO IMPACTO AMBIENTAL E O ATENDIMENTO DE METAS DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA NO CONTEXTO BRASILEIRO Discente: Clara Ovídio de Medeiros Rodrigues Orientadora: Dra. Maísa Dutra Veloso Co-orientador: PhD. Aldomar Pedrini NATAL-RN 2020 CLARA OVÍDIO DE MEDEIROS RODRIGUES A RELAÇÃO ENTRE PROJETISTAS E CONSULTORES NO PROCESSO PROJETUAL DE EDIFÍCIOS, VISANDO O BAIXO IMPACTO AMBIENTAL E O ATENDIMENTO METAS DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA NO CONTEXTO BRASILEIRO Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como parte das exigências para defesa da tese do curso de Doutorado em Arquitetura e Urbanismo. Orientadora: Dra. Maísa Dutra Veloso Co-orientador: PhD. Aldomar Pedrini NATAL-RN 2020 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco - DARQ - -CT Rodrigues, Clara Ovidio de Medeiros. A relação entre projetistas e consultores no processo projetual de edifícios, visando o baixo impacto ambiental e o atendimento de metais de eficiência energética no contexto brasileiro / Clara Ovidio de Medeiros Rodrigues. - Natal, RN, 2020. 373f.: il. Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Tecnologia. Departamento de Arquitetura e Urbanismo. Orientadora: Maísa Dutra Veloso. Coorientador: Aldomar Pedrini. 1. Arquitetura - Processo projetual - Tese. 2. Metas de desempenho ambiental - Tese. 3. Processo colaborativo - Tese. 4. Visão sistêmica - Tese. I. Veloso, Maísa Dutra. II. Pedrini, Aldomar. III. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. IV. Título. RN/UF/BSE15 CDU 72 Elaborado por Ericka Luana Gomes da Costa Cortez - CRB-15/344 A Marcelo Tinoco (In Memoriam) por ter sido o primeiro arquiteto a acreditar na minha pesquisa e por ter, naquele domingo, depois de assistir o The Voice Kids com Liz, ter partilhado comigo 40min do último fim de semana de sua vida. Nesse dia, falamos sobre pesquisa na área projeto. Mais uma vez, me alegrei, sonhei em iniciar esta investigação e contei os segundos para a primeira orientação com ele, que nunca aconteceria. Às vezes penso que Marcelo se alegraria em ver essa caminhada concluída. AGRADECIMENTOS Aos meus orientadores Maísa e Aldomar, por chacoalharem a mim e às minhas ideias, pelas perguntas que colocaram meu pensamento em movimento, por me apoiarem ao longo de um caminho tão difícil e desafiador. À CAPES, pelos dois meses de bolsa e pela ajuda de custo para levantamento de dados em Florianópolis. À UFERSA, pelo afastamento que permitiu minha dedicação total e exclusiva ao desenvolvimento desta pesquisa nos últimos dois anos do doutorado. Um ato de resistência que reafirma a importância da ciência em um país se afunda dia a dia na era lamacenta pós- verdade. A todos os arquitetos e consultores que me receberam para as entrevistas, confiaram seus processos e documentos a mim e aos que responderam o questionário. Sem vocês esta discussão não existiria. A Deus e sua equipe de santos, em especial, Nossa Senhora dos Caminhos, Nossa Senhora da Persistência e São Jorge, que alegremente me reabríam as portas a cada entrave no percurso. À minha família, por sempre estar ao meu lado. Minha mãe, pelas rezas que me fizeram voltar a ter fé e que prontamente colocou sua tão frágil saúde ao realizar minha mudança, junto a meu pai, para que eu pudesse me dedicar a esta tese. Ao meu pai, por suas marmitas reconfortantes e essenciais no final desta caminhada, pela disponibilidade em me substituir inúmeras vezes em demandas burocráticas presenciais e, também, por carregar meus móveis, apesar dos seus sessenta e alguns anos, só para que eu pudesse ter mais tempo para analisar os dados e escrever. À minha irmã, que se dispôs a revisar meus textos, discutir e organizar as ideias, me ajudando a simplificar a linguagem de apresentação de um conteúdo por vezes tão técnico e especializado. Ao meu companheiro, por todos os cafés da manhã que me permitiram dormir preciosos minutos extras e cafés da tarde, que me encorajaram a seguir escrevendo até altas horas da noite, pelas discussões Marxistas, sempre uma abertura de horizontes, e por me companheirar em todos os momentos. Às minhas tias Ilza e Graça, por sempre compartilharem os momentos de alegria em família e me incentivarem a sonhar e a seguir meus sonhos. À minha família mais recente, Marize e Renato, que me presentearam com horas de trabalho nesta tese, assumindo meu lugar nas idas à feira, cuidando da minha casa e também ajudando na mudança. Aos professores do PPGAU-UFRN, que compartilharam seus conhecimentos comigo, me ajudando a trilhar meu próprio caminho de pesquisa. A Nicolau, por estar sempre disponível enquanto esteve na função de secretário, a Seu Mário, pelo cuidado e atenção com a limpeza do nosso ambiente de trabalho, pela companhia durante o almoço e por diminuir a solidão que é trabalhar durante as férias. À Cláudia, que há muitos anos me acolheu na Universidade de Brasília e me apresentou ao universo do conforto, objeto de sucessivos anos de pesquisas, e a Marcelo (in memoriam), por me receber e orientar na área de projeto até seu último dia de trabalho. Aos membros do LabCon – UFRN, de agora e de antes, que me acompanham desde a graduação, discutindo e aprofundando os princípios do conforto, aprendendo junto, fazendo junto e desenvolvendo conhecimentos que se mostrariam valiosos, como a circulação de ar e controle da luz solar, que voltam à evidência durante a pandemia que irrompeu inesperadamente, como irrompem as catástrofes. Em especial, a Ju e Vivi, por dividirem comigo os dias, as angústias e por lerem e criticarem com carinho meu texto. E aos queridos voluntários Ana Letícia, Ítalo e Laryssa, que enfrentaram ao meu lado a jornada em busca do desenvolvimento da ciência, mesmo num momento em que o país enfrenta ataques duros e sincronizados: corte de verbas, incluindo as bolsas para os alunos da graduação, desmonte e descredibilização do conhecimento científico. Estar junto aos voluntários me fez pensar: a ciência brasileira existirá apesar de tudo. Aos colegas que dividiram a estrada comigo durante um ano, em especial, Bárbara e Monique, grandes amigas que, enquanto íamos para Pau dos Ferros e de lá voltávamos, ouviram meus dilemas e dúvidas com atenção, retornando com excelentes sugestões para esta pesquisa. Também agradeço a Jeú por essa capa e pelas vezes que dirigiu na interminável, tortuosa e esburacada estrada que nos liga a Pau dos Ferros, só para que Monique e eu pudéssemos dormir ou discutir nossas teses. Aos queridos alunos, que me fizeram compreender a revolução que são as políticas de interiorização do ensino superior e me ajudaram a ressignificar, dessa forma, a experiência da estrada. A AndréLuiz, professor de estatística da UFERSA, que me salvou ajudando a formular a base estatística do meu questionário. A Lorena e Wenya, respectivamente, pela revisão ortográfica e estilística e de formatação da tese. A Karen que me ajudou a deixar os gráficos IDEF-0 mais palatáveis. A Tibério, por compartilhar muitos finais de tarde comigo, facilitando a meditação que foi essencial para que essa jornada pudesse se completar. À Dra. Liege e Javu que, junto com Tibério e meus santos protetores, garantiram minha chegada até aqui com sanidade mental. Como é sabido, uma das maiores incidências de transtornos mentais do país, tais como depressão e ansiedade, está nos programas de pós-graduação. Às amigas Suzana e Fernanda pelas ajudas com a tradução de textos e leitura carinhosa deste material, marcando gentilmente o que parecia muito tecnicista ou o que não estava bem explicado, para que eu pudesse reformular. Também por se preocuparem com meu estado de espírito, por torcerem por mim e compartilharem os momentos de descontração. A todos os amigos que torceram e não me deixaram desistir. Em especial, Sophia e Daniel que, estando aqui ao lado, estiveram também muito próximos, compartilhando comida, risadas e a indignação com o mundo injusto e excludente em que vivemos. A Pepeto, Amanda, Carolzinha, Rafa, Paulinha, Elisa, Limão, Sara e Carol por me emprestarem um pouco de alegria e força. À Ponta Negra, por estar sempre na minha janela, mostrando que a relação entre homem e natureza mediada pelas relações capitalistas só pode se dar de forma predatória, lembrando-me, assim, da urgência e do sentido de pesquisas como esta, que pensam novas formas para uma das indústrias mais poluentes do mundo, junto à do petróleo e da moda: a da construção civil. Renovando-me o ânimo e o fôlego para mais um dia de trabalho. Mitos e sonhos vêm do mesmo lugar. [...] E o único mito de que valerá a pena cogitar, no futuro imediato é o que fala do planeta, não da cidade, não deste ou daquele povo, mas do planeta e de todas as pessoas que estão nele. Esta é a minha ideia fundamental do mito que está por vir. Quando a Terra é avistada da Lua, não são visíveis, nela, as divisões em nações ou Estados. Isso pode ser, de fato, o símbolo da mitologia futura. Essa nação que iremos celebrar, essas são as pessoas às quais nos uniremos (CAMPBELL, 1990, p.33) RESUMO Esta tese se dedica ao processo projetual de edifícios que visam o atendimento de metas de desempenho ambiental, permeando as áreas de projeto de arquitetura e tecnologia da construção com ênfase no desempenho ambiental. A obrigatoriedade do atendimento dessas metas vem se popularizando nos países que adotaram estratégias de redução de impacto ambiental, influenciando os processos projetuais de várias formas, sobretudo demandando interação entre arquitetos e consultores de desempenho ambiental. Esses últimos compreendem os profissionais especialistas em desempenho ambiental (térmico, energético e/ou luminoso), que podem ser oriundos de diversas áreas conhecimento e que, no âmbito desta pesquisa, auxiliam projetistas na tomada de decisão. No entanto, há alguns descompassos na relação entre esses profissionais. O consultor precisa repassar informações ao projetista durante as fases iniciais do projeto, quando o impacto no desempenho é maior, embora aquele profissional só consiga avaliar o projeto com dados pormenorizados, normalmente, obtidos ao fim do processo projetual. Além disso, não está claro como os fluxos dessas informações se adequam ao processo e como é feita a tomada de decisões pelos projetistas, diante dos diversos requisitos que lhes são impostos. Assim sendo, a questão de pesquisa é “No atendimento de metas de eficiência energética em projetos que visam o baixo impacto ambiental, que tipo de condução do processo projetual facilitaria a relação entre projetistas e consultores, sem desconsiderar as demais variáveis que incidem sobre as decisões projetuais?” A hipótese é que a condução do processo projetual que visa o atendimento de metas de desempenho ambiental seria facilitada se, desde suas fases iniciais: (I) houvesse uma intensa colaboração entre projetistas e consultores e (II) a tomada de decisões fosse fundamentada na adoção de uma visão sistêmica de todo o processo. O objetivo desta tese é analisar como a atuação conjunta do projetista e do consultor pode facilitar os processos projetuais arquitetônicos com vistas ao atendimento de metas de desempenho ambiental, como definidas no âmbito deste estudo. Os procedimentos metodológicos se iniciaram com a revisão de literatura que permitiu identificar três proposições teóricas: a consideração de questões de EE desde as primeiras fases do processo, a existência de colaboração entre os membros da equipe durante o processo de projeto e a existência de características relacionadas ao sistema, à interação e à organização da visão sistêmica, as quais tiveram sua pertinência verificada na pesquisa empírica. A etapa empírica foi composta por quatro abordagens analíticas: a primeira focou na caracterização das formas de interação e diálogo entre projetistas e consultores atuantes no Brasil, sob o ponto de vista dos últimos, por meio da análise de dois questionários. As três abordagens seguintes buscaram uma maior aproximação do ponto de vista do arquiteto e foram compostas por estudos de casos múltiplos, principal método empírico da pesquisa, que se adequa ao caráter inovador do objeto de estudo da tese. O primeiro estudo de caso se aproxima de um caso controlado em que a interação entre consultor e projetista se iniciou na fase de estudo preliminar, com uso intensivo de ferramentas de simulação de desempenho ambiental. O segundo é um estudo de caso na escala de um bairro, já concluído, inserido na prática projetual e com a interação entre projetistas e consultores desde a programação arquitetônica. O terceiro estudo de caso se dedica à escala intermediária, igualmente já finalizado, em que a consultoria começou apenas na fase de anteprojeto, sendo também relativo à prática projetual. Para os casos, os dados da pesquisa foram extraídos de documentos e entrevistas com os arquitetos (projetistas), consultores e empreendedores, e avaliados seguindo a análise de conteúdo, para dar lastro a uma análise descritiva/exploratória e à outra baseada em proposições teóricas. Assim, foi possível caracterizar o projeto, identificar as tomadas de decisão com impacto no atendimento de metas de Eficiência Energética (EE), os principais problemas e potencialidades, bem como a pertinência das proposições testadas. Os resultados indicam que, para os consultores respondentes dos questionários, a maior parte dos projetos é desenvolvida em equipes multidisciplinares, com mais ocorrências de processos tradicionais ou com divisão de tarefas. No entanto, eles também identificam a integração de projetos e o início das consultorias nas primeiras fases do projeto como fatores potencializadores da interação. Foi possível perceber que os formatos dos processos nos dois primeiros estudos de caso promoveram a interação, sendo a charrete aplicada no segundo estudo, uma facilitadora do desenvolvimento da colaboração e da visão sistêmica, as quais auxiliaram no atendimento das metas de desempenho desde as primeiras fases do processo projetual. Assim, a principal contribuição desta tese foi identificar e demonstrar que a colaboração pode facilitar o processo de projeto para atendimento de metas ambientais, a depender da complexidade do problema e da proficiência do projetista sobre as metas a serem atendidas. Palavras-chave: Processo projetual; Metas de desempenho ambiental; Processo colaborativo; Visão sistêmica. ABSTRACT This thesis is dedicated to the design process of buildings that aim to meet environmental performance goals, permeating the fields of architecture design and buildingtechnology with an emphasis on environmental performance. The mandatory compliance with these goals has become popular in countries that adopted environmental impact reduction strategies, influencing design processes in various ways, especially requiring interaction between architects and environmental performance consultants. The latter comprise professionals specialized in environmental performance (thermal, energetic and/or luminous), who can come from different fields of knowledge, and who, within this research scope, assist designers in decision making. However, there are some mismatches in the relationship between these professionals. The consultant needs to give information to the designer during the initial phases of the project, when the impact on performance is higher, although that professional can only evaluate the project with detailed data, usually obtained at the end of the design process. However, it is not clear how the flows of this information fit to the process and how designers make decisions, in face of requirements that are imposed to them. Therefore, the research question is “ In attending energy efficiency goals during design process which aim low environmental impact, what kind of conduction of the design process would facilitate the relationship between designers and consultants, without disregarding the other variables that affect design decisions?” The hypothesis is conducting the design process that aims environmental performance goals would be facilitated if, from its initial stages: (I) there was an intense collaboration between designers and consultants and (II) decision-making was based on the adoption of a systemic view of the entire process. The objective of this thesis is to identify and analyze how the joint work of the designer and the consultant can facilitate architectural design processes that aim to meeting environmental performance goals, as defined in the scope of this study. The methodological procedures started with a literature review that allows the identification of three theoretical proposal: the consideration of EE issues from the first phases of the design process, the existence of collaboration between team members during the design process and the existence of characteristics related to the system, interaction and organization of the systemic view; which had their pertinence verified in the empirical research. An empirical stage was composed by four approaches, the first focuses on the characterization of the forms of interaction and the dialogue between the designer and the consultant, acting in Brazil, from the point of view of the latter, through the analysis of two questionnaires. The following three approaches sought a closer approach to the architect's point of view and were composed of multiple case studies, the main empirical method of the research, which is adapted to the innovative character of the object of study of the thesis. The first case study is close to a controlled case and the interaction between consultant and designer started in the in the schematic design phase, with intensive use of building performance simulation tools. The second is a case study on a neighborhood scale, already completed, it is about designed into the wild and the interaction between designer and consultant since the programming phase. The third case study is dedicated to an intermediate scale, again already completed, where the consultancy started only in the preliminary design phase, and is also related to the design into the wild. For cases, the research data was collected from documents and interviews with architects, team consultants and entrepreneurs, and evaluated following content analyses was used to support a descriptive/exploratory analysis and other based on theoretical propositions. Thus, it was possible to characterize the project, identify the decision making with an impact on meeting Energy Efficiency (EE) goals, the main problems and potentialities, as well as the relevance of the tested proposals. The collection of information about the processes occurred mainly through the analysis of documents and interviews with architects, team consultants and entrepreneurs. The results show that the consultants who answered the questionnaires indicate that most of the projects are developed in multidisciplinary teams, with more occurrences of traditional processes or with division of tasks. However, they also identify the integration of projects and the beginning of consultancies in the first phases of the project as factors that enhance interaction. It was also possible to perceive that the formats of the processes in the first two case studies promoted interaction, with the charrete, applied in the second study, a facilitator of the development of collaboration and the systemic vision, which helped in meeting the performance goals since the first phases of the design process. The main contribution of this thesis was to identify and demonstrate that collaboration can facilitate the design process to meet environmental goals, depending on the complexity of the problem and the proficiency of the designer on the goals to be met. Key words: Design Process; Environmental performance goals; Collaborative Design Process; Systemic Approach. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Número de ocupações na cadeia produtiva da construção, por segmento de atividade, no Brasil de 2007 a 2018 ......................................................................................... 31 Figura 2 - ENCEs emitidas no Brasil por estado e por tipo ....................................................... 33 Figura 3 - Esquema geral do método ....................................................................................... 34 Figura 4 – Representação do processo projetual mostrando os estágios em que as decisões que influenciam o desempenho térmico do edifício são tomadas .......................................... 57 Figura 5 – Eficiência energética no processo projetual. ........................................................... 61 Figura 6 - Diagramas simplificados de modelos observados na prática de projeto: acoplado (a) e acoplamento fraco (b) ...................................................................................................... 65 Figura 7 - Modelo ideal de colaboração ao longo do tempo ................................................... 68 Figura 8 - Exemplo de árvore de nós ........................................................................................ 82 Figura 9 - Representação das informações mapeadas no IDEF-0 no nível 0 ........................... 82 Figura 10 - Diagrama DICA proposto por Dutra (2010) ............................................................ 84 Figura 11 - Esquema sobre natureza da colaboração .............................................................. 87 Figura 12 - Diagrama processos colaborativos com atendimento de metas ........................... 88 Figura 13 - Tempo de experiência ............................................................................................ 99 Figura 14 - Formação profissional ............................................................................................ 99 Figura 15 - Atuação por estado .............................................................................................. 101 Figura 16 - Tipo de meta de desempenho atendida pelas consultorias ................................ 102 Figura 17 - Ferramentas utilizadas para realização da consultoria ........................................ 102 Figura 18 - Etapa de projeto em que a consultoria se inicia .................................................. 103 Figura 19 - Consultorias realizadas com interação em equipe multidisciplinar .................... 103 Figura 20 - Intensidade de interação dos consultores com os especialistas da equipe multidisciplinar .......................................................................................................................104 Figura 21 - Interação direta entre consultor e arquitetos responsáveis ................................ 105 Figura 22 - Modo de discussão durante o projeto ................................................................. 105 Figura 23 - Conteúdo das discussões realizadas .................................................................... 106 Figura 24 - Principais dificuldades identificadas na realização da consultoria ...................... 107 Figura 25 - Temas dos questionamentos realizados pelos integrantes da equipe de projeto ................................................................................................................................................ 109 Figura 26 - Contatos para realização de consultoria .............................................................. 111 Figura 27 - Ocorrência das causas para não contratação ou não finalização do serviço de consultoria .............................................................................................................................. 112 Figura 28 - Intensidade com a qual as expectativas dos consultores são incorporadas no processo .................................................................................................................................. 113 Figura 29 - Ocorrência das características dos processos de projeto nas consultorias ......... 114 Figura 30 - Ocorrência da participação dos consultores na definição da visão do projeto ... 114 Figura 31 - Ocorrência das características do compartilhamento de informações nas consultorias ............................................................................................................................ 115 Figura 32 - Ocorrência das ações realizadas durante a consultoria ....................................... 116 Figura 33 - Ocorrência das ações realizadas durante as discussões sobre a solução projetual ................................................................................................................................................ 117 Figura 34 - Temas das sugestões para melhoria do processo de consultoria ........................ 119 Figura 35 - Temas para o sucesso da consultoria ................................................................... 121 Figura 36 - Ocorrência de características da consultoria em casos com dificuldades e de sucesso .................................................................................................................................... 122 Figura 37 – Estratégias analíticas gerais utilizadas no estudo de caso do Empreendimento 1 ................................................................................................................................................ 130 Figura 38 - Operacionalização da análise das informações do processo do Empreendimento 1 ................................................................................................................................................ 134 Figura 39 – Exemplo de entrevista codificada utilizando o programa QDA-Miner ............... 140 Figura 40 - Diagrama DICA – M .............................................................................................. 141 Figura 41 - Modelo de IDEF-0 utilizado na pesquisa .............................................................. 143 Figura 42 - Árvore de nós do IDEF-0 apresentado na análise do Empreendimento 1 ........... 144 Figura 43 – Modelo de esquema utilizado para apresentar os problemas, suas causas e suas consequencias. ....................................................................................................................... 144 Figura 44 – Modelo de esquema utilizado para apresentar as potencialidades, os dilemas projetuais, as estratégias e as ferramentas. .......................................................................... 145 Figura 45 - Empreendimento 1 ............................................................................................... 146 Figura 46 - Localização do Empreendimento 1: Brasil (a), Rio Grande do Norte (b), Parnamirim (c) e terreno destacado com um polígono e unidade atual da escola destacada com um oval (d). ..................................................................................................................... 147 Figura 47 - Conceitos abordados na concepção projetual, segundo as arquitetas. .............. 148 Figura 48 - Restrições do Empreendimento 1: papel do ator versus tipo de restrição indicada por ele. .................................................................................................................................... 149 Figura 49 - IDEF-0, nível 1 do Empreendimento 1. ................................................................. 150 Figura 50 - Matriz de conceitos, com destaque para os aspectos relacionados com a sustentabilidade. .................................................................................................................... 152 Figura 51 - Propostas para solução dos problemas: ginásio e estacionamento e educação infantil no mesmo terreno (a e b) e divisão do programa em dois terrenos (c). ................... 152 Figura 52 - IDEF-0, nível 2, detalhamento do processo A-3, Empreendimento 1. ................. 154 Figura 53 – Volumetria do estudo preliminar da escola de educação infantil ...................... 155 Figura 54 - Análise de sombreamento da Sala 7, janela J7: máscara de sombra da janela conforme projeto (A); janela simulada (B); perspectiva do projeto com destaque para a abertura analisada (C). ........................................................................................................... 156 Figura 55 - Inserção de marquise com 0,80m de profundidade ............................................ 156 Figura 56 - Inserção de beiral com 2,00m de profundidade a 0,80m da parte superior da janela ...................................................................................................................................... 156 Figura 57 - Inserção de protetores solares horizontais externos com 0,10m de profundidade (10 elementos) ........................................................................................................................ 156 Figura 58 - Inserção de protetores solares horizontais externos com 0,20m de profundidade (5 elementos) .......................................................................................................................... 157 Figura 59 - Inserção de prateleira de luz com 0,80m de profundidade e 0,30cm abaixo da verga ....................................................................................................................................... 157 Figura 60 - Soluções que não funcionaram ............................................................................ 157 Figura 61 - Exemplos de janelas recomendadas .................................................................... 158 Figura 62 - Princípios arquitetônicos para otimização da iluminação natural ....................... 159 Figura 63 - Recomendação de sombreamento de acordo com: a orientação (A) e as copas vegetais favoráveis para otimização térmica e luminosa de ambientes voltados para Norte em Natal/RN ........................................................................................................................... 159 Figura 64 - Edifício da escola após consultoria para fase de estudo preliminar: planta baixa do térreo (A); planta baixa do pavimento superior (B); corredor do térreo, com destaque para sombreamento com vegetação e elementos arquitetônicos (C e D); sala de aula, com destaque para a configuração das janelas (E); e solário, com destaque para o sombreamento (F). ........................................................................................................................................... 163 Figura 65 - DiagramaDICA – M do estudo preliminar do Empreendimento 1 ...................... 166 Figura 66 - IDEF-0, nível 3, detalhamento do nó A-34, Empreendimento 1. ......................... 169 Figura 67 - IDEF-0, nível 2, detalhamento do processo A-4, Empreendimento 1. ................. 170 Figura 68 - IDEF-0, nível 3, detalhamento do processo A-42, Empreendimento 1. ............... 171 Figura 69 - Balanceamento entre transdisciplinaridade x especialização ............................. 174 Figura 70 – Captura da tela do Trello do Empreendimento 1 ................................................ 176 Figura 71 - Trecho do vídeo enviado pelas consultoras às arquitetas ................................... 177 Figura 72 - Problemas identificados na relação entre os membros da equipe ..................... 182 Figura 73 - Potencialidades da colaboração diante dos dilemas projetuais .......................... 184 Figura 74 - Operacionalização da análise das informações do processo do Empreendimento 2 ................................................................................................................................................ 191 Figura 75 - Árvore de nós do processo de projeto do estudo de caso ................................... 193 Figura 76 - Localização do Empreendimento 2: Brasil (a), Santa Catarina (b), Palhoça (c) e bairro projetado (destaque poligonal) e universidade âncora (destaque oval) (d) e quadras 1 e 2 e espaço público focos da análise (e). .............................................................................. 195 Figura 77 – Implantação da quadra 1: esquema com indicação dos blocos (A) e imagem aérea (B). ........................................................................................................................................... 196 Figura 78 - Vista da quadra 1, a partir da cobertura da quadra 2. ......................................... 196 Figura 79 - Edifício Residencial, quadra 2. .............................................................................. 197 Figura 80 - Edifício comercial, quadra 2. ................................................................................ 197 Figura 81 – Rua de duplex, quadra 2. ..................................................................................... 197 Figura 82 - Vista frontal duplex, quadra 2. ............................................................................. 197 Figura 83 - IDEF-0, com foco nas metas do estudo de caso. ................................................. 199 Figura 84 - Proposta fruto da primeira etapa ......................................................................... 200 Figura 85 - IDEF-0, Nível 1, do estudo de caso. ...................................................................... 201 Figura 86 - IDEF-0, nível 2 do estudo de caso. ........................................................................ 203 Figura 87 - IDEF-0, nível 3 do estudo de caso. ........................................................................ 204 Figura 88 – Grupo de trabalho com arquitetos e consultores de sustentabilidade e eficiência energética ............................................................................................................................... 205 Figura 89 - IDEF-0, nível 4 do estudo e caso. .......................................................................... 206 Figura 90 – Maquete física da área trabalhada pelo Novo Urbanismo ................................. 207 Figura 91 – Recomendações de uso para o pavimento térreo .............................................. 208 Figura 92 – IDEF-0, nível 4, detalhamento do nó A-331, exemplo de charrete específica com tema de edifício verde/sustentabilidade. .............................................................................. 209 Figura 93 - Vista de topo do conjunto das quadras propostas no estudo preliminar ........... 210 Figura 94 - Anteprojeto em desenvolvimento da quadra 1: plantas baixas (a); e volumetria (b). ........................................................................................................................................... 211 Figura 95 - Anteprojeto em desenvolvimento da quadra 2: plantas baixas (a); e volumetria (b). ........................................................................................................................................... 211 Figura 96- IDEF-0, nível 3, detalhamento do nó A-34. ........................................................... 212 Figura 97 - Pátio interno (A) com visuais abertas para o passeio (B) ..................................... 214 Figura 98 - IDEF-0, nível 3, do estudo de caso, detalhamento do nó A-361. ......................... 215 Figura 99 - Prédios da quadra 1 .............................................................................................. 216 Figura 100 - IDEF-0, Nível 3, detalhamento do nó A- 35. ....................................................... 221 Figura 101 - Área de espera para células fotovoltaicas na cobertura da quadra 2 ............... 222 Figura 102- IDEF-0 do estudo de caso, nível 4, detalhamento do nó A-352. ......................... 223 Figura 103 – Espaços projetados na charrete de cidade para pessoas: praça (A e B), área comercial (C) e rua (D). ........................................................................................................... 224 Figura 104 - IDEF-0, nível 3 do estudo de caso, detalhamento do nó A-37. .......................... 226 Figura 105 - Rua integrada com elementos de sombreamento: equipamentos (A) galerias e vegetação (B). ......................................................................................................................... 226 Figura 106 - IDEF-0, nível 4, estudo de caso, detalhamento do nó A-315. ............................ 229 Figura 107 - Fotografias das charretes veiculadas para divulgação do empreendimento .... 230 Figura 108 - IDEF-0 nível 3, detalhamento do nó A-33. ......................................................... 232 Figura 109 - Aprendizado com equipes do exterior ............................................................... 241 Figura 110 – Quadro-síntese dos problemas identificados no estudo de caso ..................... 245 Figura 111- Requisitos para balancear os conhecimentos básico e específico no atendimento de metas ambientais .............................................................................................................. 247 Figura 112 – Quadro-síntese de potencialidades do estudo de caso .................................... 250 Figura 113 - Operacionalização da análise das informações do processo do Empreendimento 3 .............................................................................................................................................. 256 Figura 114 - Árvore de nós do processo de projeto do Empreendimento 3.......................... 258 Figura 115 – Empreendimento 3 construído .......................................................................... 259 Figura 116 - Localização do Empreendimento 3: Natal (A) e terreno destacado com um polígono (B). ........................................................................................................................... 259 Figura 117 - Tipos de apartamento: em planta baixa (A); em corte (B). ................................ 260 Figura 118 - Renderizações internas dos apartamentos do empreendimento 3 .................. 261 Figura 119 - IDEF-0, nível 1, Empreendimento 3. ................................................................... 262 Figura 120 - IDEF-0, nível 2, detalhamento nó A-2, Empreendimento 3. .............................. 263 Figura 121 – Croquis do consultor com resumo das orientações para o arquiteto ............... 264 Figura 122 - IDEF-0, nível 2, detalhamento nó A-3, Empreendimento 3. .............................. 265Figura 123 - Volumetria do Empreendimento 3 no início da interação com a consultoria ... 266 Figura 124 - IDEF-0, nível 2, detalhamento nó A-4, caso 3. ................................................... 267 Figura 125 - IDEF-0, nível 2, detalhamento nó A-6, caso 3. ................................................... 269 Figura 126 - Etiquetas emitidas para o Empreendimento 3: Unidade Habitacional Autônoma (A) e Edificação Multifamiliar (B). ........................................................................................... 270 Figura 127 - Potencialidades do Empreendimento 3 ............................................................. 271 Figura 128 – Esquema-síntese dos procedimentos das discussões ....................................... 274 Figura 129 - Base utilizada para sistematizar a colaboração para os casos ........................... 276 Figura 130 - Tomada de decisões para EE nas fases de projeto ............................................ 277 Figura 131 - Colaboração por fase do processo projetual para o Empreendimento 1 .......... 279 Figura 132 - Colaboração por fase do processo projetual para o Empreendimento 2 .......... 280 Figura 133 - Colaboração por fase do processo projetual para o Empreendimento 3 .......... 281 Figura 134 - Pátio interno das quadras .................................................................................. 364 Figura 135- Estudo de esquinas e visuais ............................................................................... 364 Figura 136 - Diretrizes para tipologias das fachadas .............................................................. 365 Figura 137 - Estudo dos gabaritos dos edifícios ..................................................................... 365 Figura 138 – Estudo preliminar do conjunto de quadras propostas para o empreendimento ................................................................................................................................................ 373 Figura 139 - Perspectiva do pedestre no conjunto proposto ................................................. 373 LISTA DE TABELA Tabela 1 - Número de ocupações na cadeia produtiva da construção por segmento de atividade e região, no 3º trimestre de 2018 ............................................................................ 32 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Variáveis que influenciam o desempenho ambiental do edifício na fase de pré- projeto ...................................................................................................................................... 59 Quadro 2 - Variáveis que influenciam o desempenho ambiental do edifício na fase de esboço .................................................................................................................................................. 59 Quadro 3 - Variáveis que influenciam o desempenho ambiental do edifício na fase de anteprojeto ............................................................................................................................... 60 Quadro 4 - Variáveis que influenciam o desempenho ambiental do edifício na fase de detalhamento ........................................................................................................................... 60 Quadro 5 - Síntese das características dos processos colaborativos ....................................... 66 Quadro 6 – Diferenças entre a abordagem teórica e a prática de colaboração em processos de projeto ................................................................................................................................. 77 Quadro 7 - Detalhamento das questões que constituem o questionário da primeira etapa .. 92 Quadro 8 – Detalhamento das questões que constituem o questionário da segunda etapa . 95 Quadro 9 – Identificação e classificação, pelos consultores, dos temas relacionados com as barreiras. ................................................................................................................................. 108 Quadro 10 - Correspondência dos temas das dificuldades e potencialidades do processo .. 124 Quadro 11 - Detalhamento da proposição teórica de considerar as questões de EE desde as primeiras fases do processo ................................................................................................... 131 Quadro 12 – Detalhamento das proposições teóricas de colaboração entre os membros da equipe ..................................................................................................................................... 131 Quadro 13 - Detalhamento da proposição teórica de características relacionadas à visão sistêmica ................................................................................................................................. 132 Quadro 14 - Aprofundamento das proposições teóricas ....................................................... 133 Quadro 15 - Guia de questões apresentadas às arquitetas ................................................... 136 Quadro 16 - Questões elaboradas para guiar a codificação para a abordagem descritiva ... 138 Quadro 17 - Questões que guiaram a codificação na abordagem baseada em proposição teórica ..................................................................................................................................... 139 Quadro 18 – Sistematização das informações que entram e saem por análise de desempenho realizada ........................................................................................................... 160 Quadro 19 - Barreiras do processo de projeto colaborativo com interação entre arquitetos e consultores, relacionando a literatura às quatro abordagens propostas no estudo. ............ 283 Quadro 20 - Potencialidades do processo de projeto colaborativo com interação entre arquitetos e consultores, relacionando a literatura às quatro abordagens propostas no estudo ..................................................................................................................................... 286 Quadro 21 - Quadras propostas por escritório na fase inicial do anteprojeto ...................... 366 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas ACDA – Arquiteta Consultora de desempenho ambiental do Empreendimento 2 ACEE1 – Arquiteto Consultor de Eficiência Energética 1 do Empreendimento 3 ACEE1 – Arquiteto Consultor de Eficiência Energética 2 do Empreendimento 3 ACL – Arquiteta Consultora de desempenho Luminoso do Empreendimento 1 ACT – Arquiteta Consultora de desempenho Temoenergético do Empreendimento 1 AIA – American Institute of Architects ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica APE - Arquiteto Projetista e Empreendedor do Empreendimento 3 APG – Arquiteta Projetista Gerente do Empreendimento 1 APP – Arquiteta Projetista Principal do Empreendimento 1 APQ1 – Arquiteto Projetista da Quadra 1 do Empreendimento 2 APQ2 – Arquiteto Projetista da Quadra 2 do Empreendimento 2 AQUA-HQE – Alta Qualidade Ambiental – Haute Qualité Environmentale AsBEA - Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura BIM – Building Information Modeling BPS – Building Performance Simulation Celesc – Centrais Elétricas de Santa Catarina S.A. CFD – Computational Fluid Dynamics Deconcic-Fiesp - Departamento da Industria da Construção da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo Diagrama DICA - Diagrams of Representation for Courses of Action in the Design Process Diagrama DICA-M – Diagrams of Representation for Courses of Action in the Design Process - Multidisciplinar ECS – Engenheiro Consultor de Sustentabilidade do Empreendimento 2 ECL – Engenheiro Consultor de desempenho Luminoso do Empreendimento 2 EDST - Environmental Design Support Tools EE – Eficiência Energética EEMP – Engenheiro Empreendedor ENCE – Etiqueta Nacionalde Conservação de Energia ETE - Estação de Tratamento de Esgoto IBPSA-Brasil - International Building Performance Simulation Association - Brasil. IDEF- Integration DEFined Methods. IDEFØ – Integrated DEFinition Methods, nível zero INMETRO - Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial. IPD – Integrated Project Delivery LabCon – Laboboratório de Conforto Ambiental Labeee- Laboratório de Eficiência Energética em Edificações LATECAE - Laboratório de Tecnologias em Conforto Ambiental e Eficiência Energética nZEB - nearly Zero Energy Buildings ONU - Organização das Nações Unidas PBE – Edifica - Programa Brasileiro de Etiquetagem de Edificações PCH's - Pequena Central Hidrelétrica PV - Painel Fotovoltaico R3e – Rede de Eficiência Energética de Edifícios RAC – Regulamento de Acompanhamento da Certificação RCB - Relação Custo Benefício. RIBA – Royal Institute of British Architecture. RTQ-C – Regulamento Técnico da Qualidade do Nível de Eficiência Energética de Edifícios Comerciais, de Serviços e Públicos RTQ-R – Regulamento Técnico para a Qualidade do Nível de Eficiência Energética de Edificações Residenciais SAE - Sistema de água e esgoto UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais UFPA - Universidade Federal do Pará UFPel – Universidade Federal de Pelotas UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina UFV – Universidade Federal de Viçosa USGBC - United States Green Building Council. ZEB – Zero Energy Building SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 25 2 REVISÃO DE LITERATURA ....................................................................................... 38 2.1 RELAÇÃO ENTRE PROJETISTA E CONSULTOR .................................................................. 41 2.1.1 Processo projetual .......................................................................................... 45 2.1.2 Metas de eficiência energética ....................................................................... 49 2.2 PROCESSO COLETIVO DE EQUIPE MULTIDISCIPLINAR ........................................................ 62 2.2.1 Caracterização do processo colaborativo ....................................................... 64 2.2.2 Formatos e técnicas para colaboração ........................................................... 69 2.2.3 Visão sistêmica do processo projetual ........................................................... 72 2.3 ANÁLISE QUALITATIVA DE PROCESSOS PROJETUAIS ......................................................... 75 2.3.1 Quanto ao ambiente de coleta dos dados ..................................................... 75 2.3.2 Quanto aos procedimentos de análise ........................................................... 78 2.3.3 Quanto à representação do processo ............................................................ 80 2.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE A REVISÃO DE LITERATURA ........................................................ 86 3 PONTO DE VISTA DOS CONSULTORES DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA SOBRE O PROCESSO DE CONSULTORIA ....................................................................................................... 90 3.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ........................................................................... 90 3.1.1 Questionário 1 ................................................................................................ 91 3.1.2 Questionário 2 ................................................................................................ 94 3.1.3 Análises ........................................................................................................... 97 3.2 RESULTADOS ....................................................................................................... 97 3.2.1 Questionário 1 ................................................................................................ 98 3.2.1 Questionário 2 .............................................................................................. 110 3.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS QUESTIONÁRIOS ................................................................ 123 4 ESTUDO DE CASO EM PARNAMIRIM/RN ................................................................ 128 4.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .......................................................................... 128 4.1.1 Critérios de seleção do caso ......................................................................... 129 4.1.2 Estratégias analíticas gerais do estudo de caso............................................ 129 4.1.3 Técnicas analíticas específicas ...................................................................... 133 4.1.4 Operacionalização da análise das informações do processo de projeto ..... 133 4.2 RESULTADOS DA ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES DO EMPREENDIMENTO 1 .............................. 145 4.2.1 Caracterização do projeto do Empreendimento 1 ....................................... 146 4.2.2 Tomada de decisão com impacto no atendimento de metas de EE ............ 149 4.2.3 Consideração das questões de EE desde as primeiras fases do processo ... 168 4.2.4 Colaboração entre os membros da equipe .................................................. 170 4.2.5 Características relacionadas à visão sistêmica ............................................. 172 4.2.6 Problemas e potencialidades do processo ................................................... 182 4.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESTUDO DE CASO DO EMPREENDIMENTO 1 ................................. 185 5 ESTUDO DE CASO EM PALHOÇA / SC ..................................................................... 189 5.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .......................................................................... 190 5.1.1 Critérios de seleção do caso ......................................................................... 190 5.1.2 Operacionalização da análise das informações do processo de projeto do Empreendimento 2 ............................................................................................................ 191 5.2 RESULTADOS DA ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES DO EMPREENDIMENTO 2 .............................. 194 5.2.1 Caracterização do projeto do Empreendimento 2 ....................................... 194 5.2.2 Tomada de decisões com impacto no atendimento de metas de EE .......... 200 5.2.3 Consideração das questões de EE desde as primeiras fases do processo ... 227 5.2.4 Colaboração entre os membros da equipe .................................................. 228 5.2.5 Características relacionadas com a visão sistêmica ..................................... 234 5.2.6 Problemas e potencialidades do processo ................................................... 244 5.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESTUDO DE CASO DO EMPREENDIMENTO 2 ................................ 251 6 ESTUDO DE CASO EM NATAL/RN ........................................................................... 254 6.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .......................................................................... 254 6.1.1 Critérios de seleção do caso ......................................................................... 255 6.1.2 Estratégia analítica geral ............................................................................... 255 6.1.3 Operacionalização das análises das informações do processo .................... 256 6.2 RESULTADOS DA ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES DO EMPREENDIMENTO 3 .............................. 258 6.2.1 Caracterização do projeto do Empreendimento 3 ....................................... 258 6.2.2 Tomada de decisões com impacto no atendimento de metas de EE .......... 262 6.2.3 Problemas e Potencialidades do processo ................................................... 270 6.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESTUDODE CASO DO EMPREENDIMENTO 3 ................................ 272 7 DISCUSSÕES DOS RESULTADOS ............................................................................. 274 7.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .......................................................................... 274 7.2 EFICIÊNCIA ENERGÉTICA NAS PRIMEIRAS FASES ............................................................. 276 7.3 COLABORAÇÃO NOS CASOS ESTUDADOS ..................................................................... 278 7.4 CARACTERÍSTICAS RELACIONADAS À VISÃO SISTÊMICA .................................................... 281 7.5 PROBLEMAS E POTENCIALIDADES NA INTERAÇÃO PROJETISTA X CONSULTOR ......................... 283 7.6 CONSIDERAÇÕES SOBRE O CRUZAMENTO DAS ABORDAGENS ............................................ 287 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 288 8.1 CONTRIBUIÇÃO DA PESQUISA E DISCUSSÃO DA HIPÓTESE ................................................. 288 8.2 A INFLUÊNCIA DA ORGANIZAÇÃO DA EQUIPE PARA O ATENDIMENTO DE METAS DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA .................................................................................................................. 294 8.3 A ABORDAGEM DO PROJETO CONSIDERANDO METAS DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA ................... 296 8.4 ASPECTOS RELACIONADOS COM OS MÉTODOS E PROCEDIMENTOS DE CAMPO UTILIZADOS ........ 298 8.4.1 Limitações da pesquisa ................................................................................. 299 8.5 PERSPECTIVAS PARA TRABALHOS FUTUROS.................................................................. 301 REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 303 GLOSSÁRIO................................................................................................................ 319 APÊNDICE A - Questionário 1 ..................................................................................... 322 APÊNDICE B – Questionário 2 .................................................................................... 327 APÊNDICE C - Entrevista com o(a) ARQUITETO(A) da equipe para análise do processo de projeto ...................................................................................................................... 338 APÊNDICE D - Entrevista com o(a) CONSULTOR(A) da equipe para análise do processo de projeto ...................................................................................................................... 344 APÊNDICE E – Entrevista com o EMPREENDEDOR para análise do processo de projeto350 ANEXO I – PARECER DE APROVAÇÃO DA PESQUISA NO COMITÊ DE ÉTICA .................. 356 ANEXO II – MODELO DE TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) ASSINADO PELOS PARTICIPANTES .............................................................................. 360 ANEXO III – CÁLCULO DA MARGEM DE ERRO E DO NÍVEL DE CONFIANÇA PARA A AMOSTRA DOS QUESTIONÁRIOS ................................................................................................ 363 ANEXO III – Imagens do processo de projeto do estudo de caso em Palhoça/SC ......... 364 25 1 INTRODUÇÃO O processo projetual de edifícios para o atendimento de metas de eficiência energética vem, nos últimos anos, ganhado espaço no cenário brasileiro. A demanda por construções de baixo impacto ambiental tem se consolidado por meio do estabelecimento de metas de eficiência energética em normativas, etiquetas e certificações, sejam elas de caráter voluntário ou compulsório. Embora haja arquitetos capacitados para projetar e avaliar seus próprios projetos – assunto amplamente discutido por Maciel (MACIEL, 2007; MACIEL; FORD; LAMBERTS, 2007), muitas vezes os procedimentos de atendimento de metas de eficiência energética requerem, durante os processos projetuais, a interação entre projetistas e consultores de desempenho ambiental. Este último profissional é um especialista em desempenho térmico, energético e/ou luminoso, oriundo de diversos campos profissionais e que, no âmbito desta pesquisa, pode auxiliar os projetistas na tomada de decisão. O intercâmbio entre aqueles profissionais é o foco principal desta tese. Os principais problemas do processo projetual para atendimento de metas de eficiência energética estão relacionados com a introdução de novos procedimentos na prática projetual, os ajustes no modo de organizar e trabalhar em equipe e a demanda por formação complementar ou mesmo com a expertise do arquiteto sobre esses temas, uma vez que o atendimento de metas dessa natureza ainda é uma novidade. O surgimento e a obrigatoriedade dessas regulamentações estão atrelados à necessidade de definir critérios mensuráveis para limitar os impactos causados pela indústria da construção. Essas medidas estão respaldadas pelo entendimento que, no campo das edificações, a arquitetura pode ter o papel de reduzir ou até deter o impacto causado pelo consumo desenfreado1 (SYKES, 2013). A construção de edifícios, por exemplo, é a principal fonte emissora de CO2 e a responsável por 25% da energia consumida no mundo (LEVINE et al, 2007 apud GONÇALVES; BODE, 2015). Usualmente, as metas são estipuladas em normas, etiquetas e selos de desempenho, como visto na Etiqueta PBE-Edifica, obrigatória para edifícios públicos federais brasileiros desde 2014 (BRASIL, 2014). Em geral, as metas são expressas por valores 1 Mesmo com um “mercado verde”, a produção não pode ser completamente entregue à regulamentação mercantil, já que a lógica concorrencial do capital estimula a produção de bens inúteis e gera superprodução e desperdício (BENSAÏDE, 2017). 26 quantitativos (BRASIL, 2010; 2012), no entanto, os arquitetos raramente possuem a formação com o aprofundamento necessário para a quantificação desses valores, que muitas vezes demandam o uso de ferramentas de simulação2 (AL-SAADANI; BLEIL DE SOUZA, 2016; SHI et al., 2016). Esses profissionais estão mais habituados a trabalhar de maneira qualitativa (AL-SAADANI; BLEIL DE SOUZA, 2018), ponderando a importância de cada parâmetro de projeto, de acordo com o contexto (MAHFUZ, 1995; LAWSON, 2011). A maneira tradicional de projetar predominantemente individual e focada em princípios baseados em função, forma e espaço, não considera o atendimento de critérios quantitativos de eficiência energética (AL-SAADANI; BLEIL DE SOUZA, 2016; SHI et al., 2016). Os próprios arquitetos foram os pioneiros na abordagem científica do desempenho ambiental da edificação, que passou a ser pesquisada significativamente na segunda metade do século XX, com destaque para a arquitetura passiva ou bioclimática (OLGYAY; OLGYAY, 1957; OLGYAY, 1963; GIVONI, 1969; KOENIGSBERGER, 1974; SZOKOLAY, 1980; YEANG, 1996). A produção científica se caracterizava por guias e recomendações de integração de procedimentos no processo projetual, de caráter qualitativo, como princípios e regras simplificadas, e de caráter quantitativo, como modelos matemáticos simplificados e gráficos. Com a crise do petróleo, na década de 1970, e a introdução do computador na pesquisa científica (MENDES; LAMBERTS; NETO, 2001), aumentaram as pesquisas e suas especificidades na área, agregando cada vez mais físicos e engenheiros. Foram desenvolvidos complexos programas de simulação computacional (CRAWLEY et al., 2001), como o DOE-2, BLAST, e ESP-r, assim como simplificados (Archipak e ARQUITROP), que contribuíram para que a simulação do desempenho energético se tornasse disponível para computadores pessoais (PC) e acessível a projetistas, teoricamente (PEDRINI, 2003). O desempenho passou a ser quantificável, apesar da complexidade de uso e das muitas limitações e incertezas dos resultados. A forma mais recorrente de considerar esses critériosquantitativos é por meio da interação com experts, a exemplo da interação dialética, onde o consultor de desempenho ambiental sugere melhorias ao projetista. No entanto, há uma disparidade nos tempos de 2 As ferramentas de simulação permitem antever o comportamento termoenergético e luminoso de uma edificação, em termos de fluxo de calor, temperatura e o consumo de energia, entre outros (WILDE, 2004). As características da edificação são modeladas em um programa de computador que calcula o seu comportamento, utilizando-se de algoritmos que reproduzem os processos físicos complexos (AUGENBROE, 2003; WILDE, 2004; HENSEN; LAMBERTS, 2011). 27 avaliação e possibilidade de incorporar os resultados no processo projetual. O consultor só consegue avaliar o projeto com informações detalhadas, normalmente, após o término do processo projetual (HENSEN; LAMBERTS, 2011). O projetista, por sua vez, se beneficia ao avaliar o projeto desde as fases iniciais (HOBBS et al., 2003), uma vez que as primeiras decisões projetuais são as de maior peso no desempenho do edifício (BURBERRY, 1983; PEDRINI, 2003; HENSEN; LAMBERTS, 2011). Além disso, caso haja necessidade de modificações do projeto, estas devem ser inseridas ainda no início do mesmo. Atualmente, a complexidade do processo de projeto de edificações com o atendimento de metas de desempenho energético é influenciada por diversos aspectos, que começam com o problema de projeto a ser resolvido, permeiam a experiência e o conhecimento dos profissionais envolvidos no processo (MACIEL, 2007; TURRIN et al., 2016) e a compreensão do papel do usuário que ocupará o edifício como crucial para a melhoria do desempenho e a redução do consumo de energia (HONG et al., 2015; SORGATO, 2015). Pode variar de um projeto de pequena escala, onde o arquiteto pode atingir a meta por meio do atendimento de prescrições, até complexos de edificações de usos variados, com sistemas prediais de alta tecnologia, envolvimento de profissionais de diversas áreas, usuários e atendimento de meta por meio de simulações computacionais. Um projeto que envolve múltiplos atores com especialidades distintas demanda mais organização por parte dos envolvidos. As atividades de gerenciamento e de quantificação de metas podem ser consideradas como novos procedimentos que precisam ser incorporados às dinâmicas projetuais, embora não esteja claro como o fluxo dessas informações se adequa aos processos. Logo, a análise do registro da organização das equipes e da sua interação pode ser referência para uma melhor compreensão de como se dá esse processo para atendimento de metas de eficiência energética, possibilitando reflexões e contribuições para sua organização. Assim, a pesquisa apresenta como questão: No atendimento de metas de eficiência energética em projetos que visam o baixo impacto ambiental, que tipo de condução do processo projetual facilitaria a relação entre projetistas e consultores, sem desconsiderar as demais variáveis que incidem sobre as decisões projetuais? A hipótese é que a condução do processo projetual que visa o atendimento de metas de desempenho ambiental seria facilitada se, desde suas fases iniciais: (I) houvesse uma intensa colaboração entre projetistas e consultores de desempenho ambiental e (II) a 28 tomada de decisões fosse fundamentada na adoção de uma visão sistêmica de todo o processo. A hipótese está embasada nas abordagens e na teoria que pautam práticas colaborativas e sistêmicas como adequadas para tratar fenômenos complexos, a exemplo do projeto arquitetônico. As abordagens teóricas a serem aprofundadas no decorrer dessa tese são: a da complexidade (MORIN, 1992), o Design Thinking (ROWE, 1991; CROSS, 2011; LAWSON, 2011), da reflexão-na-ação (SCHÖN, 2000) e a Arquiteturologia (BOUDON et al., 2000). A pesquisa se justifica pela necessidade: de aprofundar o entendimento das especificidades do processo de projeto colaborativo para o atendimento de metas de desempenho de eficiência energética; de identificar suas potencialidades e limitações; e de proporcionar análises críticas e contribuições sobre a organização do processo e dos diversos atores envolvidos (KLEINSMANN, 2006; SEBASTIAN, 2007). As práticas projetuais que visam o atendimento de metas de desempenho termoenergético ainda são incipientes no Brasil. Não obstante, o atendimento das metas tende a aumentar, tendo em vista a publicação da Instrução Normativa 02 de 2014 (BRASIL, 2014), a qual torna obrigatória a etiquetagem de edifícios públicos financiados com verbas federais. A extensão da obrigatoriedade estava prevista para 2019 com os edifícios comerciais e 2024 para edifícios residenciais (MME, 2010). Estima-se que essa nova realidade traga ao país a necessidade de verificação do atendimento das metas postas por esses regulamentos ainda nas primeiras fases projetuais, momento em que as possibilidades de incorporar modificações ao projeto são maiores e as primeiras decisões projetuais têm maior impacto no desempenho do edifício (BURBERRY, 1983; PEDRINI, 2003; HENSEN; LAMBERTS, 2011). A produção científica que envolve o atendimento de metas de desempenho termoenergético e luminoso foca nos métodos de modelagem e simulação desenvolvidos por engenheiros e físicos, enquanto que, de forma geral, a perspectiva do arquiteto é ignorada, apesar de sua notória importância na tomada de decisões. Poucos artigos focam na integração das técnicas de atendimento de metas no processo projetual, ou na percepção das técnicas de avaliação do desempenho do projeto pelos arquitetos (SHI et al., 2016), ou no reconhecimento de que essas técnicas devem se adaptar ao processo projetual, e não o contrário (MORBITZER, 2003). Enfim, as relações arquitetos/consultores de desempenho 29 ambiental precisam ser mais bem compreendidas e facilitadas por procedimentos e técnicas mais amigáveis, que considerem simultaneamente o ponto de vista do projetista e os inúmeros fatores que interferem na tomada de decisão, para além da necessidade de um bom desempenho do edifício. Apesar da importância do usuário no desempenho do edifício construído, não é objetivo dessa pesquisa o enfoque nesse ator por compreender que existe um grande número de fatores que influenciam o processo de projeto de atendimento de metas de desempenho ambiental e que é necessário estabelecer recortes para o aprofundamento das discussões. Assim, espera-se contribuir3 para superação da lacuna que engloba o ponto de vista do projetista no atendimento de metas de desempenho ambiental, buscando oportunidades para melhorar os processos nesse contexto no Brasil e para embasar futuramente a ampliação dessas discussões, considerando a intensa participação dos usuários nesses tipos de processos. Nessa perspectiva, o objetivo geral é analisar como a atuação conjunta do projetista e consultor pode facilitar os processos projetuais arquitetônicos que visam o atendimento de metas de desempenho ambiental como definidas no âmbito dessa tese. Como objetivos específicos tem-se: Caracterizar o ponto de vista do consultor de desempenho ambiental sobre as formas de interação e diálogo com os projetistas nos processos projetuais que visam atendimento de metas de eficiência energética; Identificar características, barreiras e potencialidades de processos projetuais que visam o atendimento de metas de eficiência energética, considerando o ponto de vista do arquiteto; Verificar de que maneira a abordagem do projeto é influenciada pelas metas de eficiência energética em projetos que visam o baixo impacto ambiental. 3 Uma importante contribuição da investigação se dá junto à linha de pesquisa “Projeto de Arquitetura”, uma vez que se propõe a focar na investigação crítica de processos e estratégiasprojetuais com rebatimento na concepção de edificações ambientalmente adequadas, colaborando com o escopo trabalhado pelo Grupo de Pesquisa PROJETAR. A pesquisa também se articula com as demais desenvolvidas pelo LabCon – UFRN que valorizam a divulgação da Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE) e sua incorporação no processo projetual, a exemplo das pesquisas “Rede de Eficiência Energética em Edificações” e “Integração de programas de computação de projeto arquitetônico a programas de simulação de desempenho térmico, energético e luminoso por meio do Grasshopper”, as quais a autora integrou e integra, respectivamente. 30 Para atender aos objetivos propostos, focou-se no contexto brasileiro nas duas últimas décadas. Mais especificamente, a pesquisa se insere no recorte temporal delimitado entre os anos de 2006 e 2019. Esse intervalo foi definido com base no período de desenvolvimento das políticas de eficiência energética de edificações no país e nos estudos de caso identificados para a pesquisa. O Brasil começa a se preocupar de maneira mais sistemática com a eficiência energética após a crise do abastecimento nacional de energia de 2001. O primeiro passo foi a Lei nº 10.295 de 2001 (BRASIL, 2001), que "dispõe sobre a Política Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia e dá outras providências". Os projetos pioneiros preocupados com a eficiência energética do edifício iniciam seu desenvolvimento por volta de 2004, a exemplo da extensão do Centro de Pesquisas da Petrobrás CENPES II, projeto do escritório de Siegbert Zanettini e parceiros (FIGUEIREDO; SILVA, 2012). Em 2009, houve um novo impulso para a produção de edifícios eficientes a partir da publicação da Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE) para edifícios comerciais, de serviço e públicos (BRASIL, 2009) e, em 2012, para edifícios residenciais (BRASIL, 2012). A última ação governamental significativa para a eficiência energética na área da construção civil foi a publicação da Instrução Normativa 02/2014 (BRASIL, 2014), que estipula como compulsória a etiquetagem de edifícios públicos com área a partir de 500m² e financiados com verbas federais. Os casos identificados com potencial de contribuição para a pesquisa e estudo direto foram três. O primeiro deles tem seu processo iniciado em 2016 e durou até 2019. O segundo caso teve seu processo de projeto iniciado em 2006, motivo pelo qual o início do recorte se dá especificamente nesse ano, se estendendo até 2013. Já o terceiro caso teve seu processo iniciado em 2015, com projeto concluído em 2016 e a construção finalizada em 2019, ano em que o recorte se encerra. O período definido para o recorte é marcado por dois intervalos de tempo com características distintas. Inicialmente, há um período de crescimento da cadeia produtiva da construção civil no país, que se estende até 2013 (Figura 1) – é nesse intervalo em que o segundo caso se enquadra. Entre os anos de 2014 e 2018 é possível visualizar a retração da indústria da construção civil, caracterizada por redução na oferta de empregos, diminuindo 21,6% (Figura 1) (FIESP, 2019) – o primeiro e o terceiro casos estão inseridos nesse período. 31 Figura 1 - Número de ocupações na cadeia produtiva da construção, por segmento de atividade, no Brasil de 2007 a 2018 Fonte: Deconcic-Fiesp (2019) O recorte temporal é composto por 13 anos, um período não muito extenso, porém caracterizado por mudanças nas tecnologias disponíveis para a construção de baixo impacto ambiental. Nesse período, essas tecnologias evoluíram, se diversificaram e se tornaram mais acessíveis. Entende-se que a diversidade do período quanto a essas mudanças não prejudica as análises, pois o foco do trabalho não é a solução tecnológica utilizada pelas equipes, mas o processo de projeto em si. O recorte geográfico da pesquisa abarca o território brasileiro. Compreende-se que as diferenças entre as regiões são significativas, sejam de cunho cultural, técnico e/ou econômico, a exemplo dos dados da pesquisa do Deconcic-Fiesp (FIESP, 2019), que demonstram que a região Sudeste condensa 44% das obras do país, detendo 47,1% das vagas de emprego, seguida pelo Nordeste com 21,7% das vagas, Sul com 16,4%, Centro- Oeste com 8,1% e Norte com 6,7% (Tabela 1). Apesar dessas diferenças, considerou-se, na definição do recorte, que as políticas de eficiência energética são definidas em nível nacional (MME, 2010) e impactam em todas as regiões. Assim, a pesquisa não tem o propósito de trazer um resultado que venha a ser representativo para todo o país, nem sequer para cada uma das regiões, contudo, detém, sim, o intuito de explorar, em diferentes regiões do Brasil, 32 aspetos do processo projetual que visa o atendimento de metas de eficiência energética em contextos de redução do impacto ambiental, notadamente quanto à relação entre os agentes envolvidos. Tabela 1 - Número de ocupações na cadeia produtiva da construção por segmento de atividade e região, no 3º trimestre de 2018 Fonte: Deconcic-Fiesp, 2019 O recorte temático é o processo de projeto para atendimento de metas em contexto de baixo impacto ambiental. Essas metas podem ser expressas em diversas escalas, de maneira mais específica nas metas de eficiência energética, a exemplo da Etiqueta PBE- Edifica, ou em escalas maiores no atendimento da redução de emissões de CO², como no Programa Clima Positivo, capitaneado pela Fundação Clinton. Dessa forma, cada um dos capítulos da pesquisa empírica foca na meta ambiental em uma dessas escalas. No capítulo 3, quando a abordagem focou nos consultores reconhecidos e capacitados pela R3E, a meta 33 voltou-se para a eficiência energética. Esse recorte também é justificado porque a R3E atuou em todas as regiões do país e porque se observa a emissão das ENCEs para edificações, também em todas as regiões do país (Figura 2). Nos estudos de caso múltiplos, todos buscaram o atendimento a ENCE, no entanto, a meta analisada se adaptou às já definidas em cada processo. No Empreendimento 1, as metas foram além da ENCE nível A para edifícios comerciais, e também se buscou o funcionamento das salas de aula com ventilação e iluminação natural durante a maior parte do tempo de ocupação. No Empreendimento 2, procurou-se a ENCE nível A para as unidades habitacionais (UHs) e o multifamiliar na esfera do edifício e a redução das emissões de CO² na esfera do bairro, conforme delineado pelo Programa Clima Positivo. Já no Empreendimento 3, a meta focou na eficiência energética, com atendimento do nível A para o edifício multifamiliar. Figura 2 - ENCEs emitidas no Brasil por estado e por tipo Fonte: INMETRO (2020) Nota: elaborado pela autora 34 A pesquisa foi desenvolvida utilizando-se de multimétodos e apresentou cunho predominante qualitativo, ainda que quantitativos tenham sido utilizados para fundamentar parte das análises. Cada capítulo da tese apresenta detalhadamente os procedimentos metodológicos realizados para a coleta e análise dos dados, referentes a cada fase da pesquisa. Aqui, apresentam-se os objetivos e procedimentos gerais de cada fase e como elas se relacionam. Inicialmente, realizou-se uma revisão bibliográfica (Figura 3) que permitiu a identificação de três proposições teóricas a serem verificadas na incursão empírica. A pesquisa empírica foi organizada em quatro abordagens analíticas. Figura 3 - Esquema geral do método Fonte: elaboração da autora (2020) A primeira abordagem apoiou-se na aplicação de questionários (Apêndices A e B) a dois grupos de consultores de desempenho ambiental (consultores reconhecidos e consultores capacitados pela Rede de Eficiência Energética – R3E). O objetivo é caracterizar, do ponto de vista do consultor de desempenho ambiental, as formas de interação e diálogo entre projetistas e consultores nos processos projetuais que