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HeterogeneidadeDancasUrbanas-Nascimento-2020

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES 
DEPARTAMENTO DE ARTES 
CURSO DE LICENCIATURA EM DANÇA 
 
 
 
LUAN SALES DO NASCIMENTO 
 
 
 
A HETEROGENEIDADE DAS DANÇAS URBANAS: 
ferramentas corporais diferenciadas 
 
 
 
 
 
 
NATAL- RN 
 NOVEMBRO/2020 
 
 
LUAN SALES DO NASCIMENTO 
 
 
 
 
A HETEROGENEIDADE DAS DANÇAS URBANAS: 
ferramentas corporais diferenciadas 
 
 
 
 
Trabalho apresentado ao curso de Licenciatura em 
Dança do Departamento de Artes da Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte, como requisito 
para a obtenção do Grau de Licenciado em Dança. 
 
 
Orientação: Prof. Dr. Marcos Bragato. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL – RN 
NOVEMBRO/2020 
 
 
A HETEROGENEIDADE DAS DANÇAS URBANAS: 
ferramentas corporais diferenciadas 
 
NASCIMENTO, Luan Sales do. A HETEROGENEIDADE DAS DANÇAS 
URBANAS: ferramentas corporais diferenciadas. Artigo (Trabalho de Conclusão 
de Curso II – Curso de Licenciatura em Dança - CLD, Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte, Natal-RN, 2020). 
 
Defesa de Trabalho de Conclusão de Curso apresentado em 20/11/2020 
 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
 
____________________________________________________________ 
Prof. Dr. MARCOS BRAGATO 
LICENCIATURA EM DANÇA / UFRN 
ORIENTADOR 
 
 
 
 
____________________________________________________________ 
Prof. Dr. THIAGO CHELLAPPA 
INSTITUTO HUMANITAS / UFRN 
EXAMINADOR INTERNO 
 
 
 
 
____________________________________________________________ 
 
Prof. Dr. THIAGO MANCHINI DE CAMPOS 
UNIP/SP 
EXAMINADOR EXTERNO 
 
 
 
 
 
Nascimento, Luan Sales do.
 A heterogeneidade das danças urbanas : ferramentas corporais
diferenciadas / Luan Sales do Nascimento. - 2020.
 39 f.: il.
 Monografia (licenciatura) - Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes.
Curso de Licenciatura em Dança, Natal, 2020.
 Orientador: Prof. Dr. Marcos Bragato.
 1. Corpos. 2. Heterogeneidade. 3. Danças urbanas. 4. Layout.
5. Aprendizagem. I. Bragato, Marcos. II. Título.
RN/UF/BS-DEART CDU 793.3
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Departamento de Artes - DEART
Elaborado por Luan Sales do Nascimento - CRB-X
RESUMO 
 
A presente pesquisa visa elucidar sobre as diferenças existentes quando se aborda 
um mesmo tema relacionado à dança na heterogeneidade dos corpos em 
ambientes diferenciados. Depreende-se sobre quais ajustes metodológicos devem 
ser aplicados, para que o rol vocabular afeto às danças urbanas seja mais bem 
apreendido, e aponta as dificuldades ou facilidades de tais ajustes em ambientes 
onde existem os mais variados tipos de corpos e necessidades de se locomover. A 
problemática do estudo se concentra na heterogeneidade dos corpos em ambiente 
escolar e não escolar, a se considerar no ensino das Danças Urbanas sem a perda 
da meta de determinado padrão vocabular afeto, a quaisquer, das subdivisões das 
danças urbanas. E talvez, com esse foco, entender como o ensino da dança pode 
ser melhor realizado através do entendimento de que tipos de corpos formam e são 
formados nas respectivas subdivisões das Danças Urbanas. Para tal entendimento, 
faz-se um mapeamento corporal de modo a resultar em um layout corporal em cada 
estilo dentro das danças urbanas. 
 
PALAVRAS-CHAVE: Corpos. Heterogeneidade. Danças Urbanas. Layout. 
Aprendizagem. 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
The current researche aims to elucidate the existing differences when approaching 
the same theme related to dance in the heterogeneity of bodies in different 
environments. It drift´s apart of what methodological adjustments should be applied, 
so that the vocabulary list related to urban dances is better understood, and points 
out the difficulties or facilities of such adjustments in environments where there are 
the most varied types of bodies and needs to get around. The problematic of the 
study focuses on the heterogeneity of bodies in a school and non-school, 
environment to be considered in relation to the teaching of Urban Dances without 
losing the goal of a certain vocabulary pattern, affecting any, of the subdivisions of 
urban dances. And perhaps, with this focus, to understand how dance teaching can 
best be accomplished through the understanding of what types of bodies form and 
are formed in the respective subdivisions of Urban Dances. For this understanding, a 
body mapping is done in order to result in a body layout in each style within urban 
dances. 
 
KEYWORDS: Bodies. Heterogeneity. Urban Dances. Layout. Learning. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1. INTRODUÇÃO: um olhar para a heterogeneidade das danças urbanas 3 
2. UM PANORAMA: a nomeação e o uso 6 
3. FERRAMENTAS DIFERENCIADAS: uma solução 19 
3.1. Layout Corporal 20 
4. A SINGULARIDADE NAS SUBDIVISÕES DAS DANÇAS URBANAS 25 
4.1 Aspectos da Singularidade 26 
5. A HETEROGENEIDADE COMO FERRAMENTA DE ENSINO 28 
5.1. Ajustar-se às Subdivisões: observar a heterogeneidade dos corpos 28 
5.2 As Danças Urbanas como Ajustes Pedagógicos 30 
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 32 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 33 
3 
1. INTRODUÇÃO: um olhar para a heterogeneidade das danças urbanas 
As danças urbanas se aproximam de modos diferentes a públicos diferentes. 
Como o ensino delas pode trabalhar a diversidade de corpos dentro de uma sala de 
aula? Essa pergunta pode se constituir em objetivo específico em cenários 
diferenciados os quais as danças urbanas ainda carregam traços marcadamente 
pulverizadores entre o senso comum; em sua difusão para o entretenimento, 
terapêutico ou para o ensino escolar e não escolar. 
Dentro das danças urbanas, um mesmo corpo pode se desvencilhar das 
técnicas, particularidades articulares ou musculares de um estilo para o outro, ainda 
mais da energia e trejeitos que é particular de cada um? Sempre fica uma marca 
que não se consegue esconder. Dessa forma, podemos olhar para os praticantes e 
entender o quão difícil pode ser um aprendizado de determinado estilo, mas em 
outro ser mais fluido devido às particularidades corporais trabalhadas e exigidas. 
Este estudo analisa quais as contribuições que as Danças Urbanas podem 
proporcionar nos corpos que as pratiquem no que tange o entendimento da 
aceitação da heterogeneidade dos corpos, dos quais produz as Danças Urbanas e 
por elas é produzido. De quantas formas podemos olhar um mesmo objeto? No 
ensino da dança, corpos diversos exigem perspectivas diferenciadas porque o que 
se pode vislumbrar é do terreno da heterogeneidade; e tal terreno requer 
diversidade de estratégias. Essa diversidade pode ajudar no entendimento de como 
se comportam e tendem a ser em ambientes diferentes de aprendizagem. 
E, também, podemos observar um tipo de dança, com seu vocabulário de 
passos e gestos, e se ater a diversas abordagens sobre um determinado 
procedimento. Isso pode ser atestado na diversidade de metodologias dedicadas ao 
ensino de um tipo de dança para que, uma diversidade de corpos, seja contemplada 
com o mesmo conhecimento sem perda vocabular de um para outro, pelas diversas 
diferenças que encontramos na vasta variedade de alunos. 
A pergunta a fazer quando não se encontra na literatura dedicada ao tema é: 
Quais estratégias pedagógicas devem ser ajustadas em acordo com determinado 
ambiente social apresentado em determinada instituição? Quais ajustes devem ser 
realizados sem a perda do foco do padrão de determinada subdivisão das danças 
4 
urbanas? Como o conteúdo vocabular pode se alterar quando se considera a 
heterogeneidade dos corpos? 
 É uma problemática que se faz muito presente no contexto do aproveitamento 
de corpos que se apresentam diferenciados. Nas danças urbanas, essa temática 
ganha novas particularidadespor possuir diversas camadas de entendimento e 
motivações que por elas transpassam na sua história, dentro dos mais diversos 
estilos existentes nesse gênero. 
Caroline G. M. Valderramas e Dagmar A. C. F. Hunger (2009) defendem que 
os professores de Street Dance, como chamam, ensinem baseados na 
experimentação em aula e na percepção da propriocepção de seus alunos. No 
entanto, antes mesmo de observar a turma, o professor de danças urbanas deve 
observar a heterogeneidade corporal dentro das subdivisões das danças urbanas, o 
que estimula o uso de métodos e vocábulos específicos para o ajuste pedagógico. E 
a heterogeneidade é moldada pela “expressividade individual”, o tipo de ajuste que 
o cérebro realiza a partir de mapas corporais quando introduz o corpo como 
conteúdo mental (DAMÁSIO, 2011). 
Grosso modo, os padrões corporais nos apontam a especificidade de 
determinada prática. Mas nas danças urbanas essas particularidades são ainda 
mais relevantes pela contenção de subdivisões de estilos que carrega e a variação 
da ênfase corporal presente em cada uma delas. Nos diversos modos de dançar, 
pode-se observar o que cada um irá determinar o seu padrão corporal e a maneira 
de dançar. No balé, por exemplo, é possível observar um genérico padrão corporal 
e estético: 
Dentre as características esperadas da bailarina destaca-se a 
verticalidade corporal mantida pela noção do eixo alinhado à coluna 
vertebral e por um corpo magro e leve, forçando uma determinada 
conduta estética (ANJOS; OLIVEIRA; VELARDI, 2015, p.439). 
 Além do corpo magro e linearizado, força e flexibilidade solicitada pelo 
treinamento do que se nomeia como balé, é importante ressaltar a existência de 
padrões diferenciados mesmo em uma prática secular como o balé. No balé, nas 
danças urbanas ou em qualquer outra forma de dança, sugere-se observar o que o 
corpo carrega e nele está contido para se vislumbrar a estratégia de ajustes com 
determinado rol vocabular. 
5 
O que cabe é apontar padrões que existem, e entender como cada corpo 
funciona nas dadas subdivisões das danças urbanas para saber como os padrões 
se misturam, invertem ou mudam completamente de um estilo para o outro dentro 
delas. 
Para tal análise acerca da heterogeneidade dos corpos que compõem as 
danças urbanas, este estudo se concentra em dois aspectos. O primeiro trata do 
conceito do que se cunha como danças urbanas, e do entendimento como esse 
termo surge e se populariza. Considera-se a criação do movimento Hip-hop bem 
como a caracterização subdivisões das danças urbanas, com o intento de mapear 
suas particularidades corporais e elucidar panoramicamente sobre a origem de cada 
um dos estilos. 
Em outro momento, tais particularidades são localizadas dentro das 
subdivisões no que diz respeito a braços e pernas que auxiliam na constituição de 
cada dança. Se há predominância de membros inferiores ou superiores, se há 
movimentos isolados ou globais. Para que, então, possa-se aspirar um melhor 
entendimento quanto aos corpos que fazem as danças urbanas, e como se pode 
ajudar, especialmente iniciantes nas modalidades, a se identificarem enquanto 
sujeito dançante ao ganhar maior ou menor ênfase em alguma parte do corpo a 
depender do estilo escolhido dentro das danças urbanas. 
Inicia-se, portanto, com um panorama sobre a nomeação e o uso dos termos 
relacionados às danças urbanas. Em seguida, busca-se entender o layout corporal 
aplicado às singularidades das subdivisões das danças urbanas, e destacam-se 
seus aspectos particulares. Este estudo é finalizado com o vislumbre da 
heterogeneidade como ferramenta de ensino; observar a heterogeneidade dos 
corpos e pensar que as danças urbanas também permitem ajustes pedagógicos. 
Vale lembrar a existência ainda escassa de estudos na área das chamadas 
street dances como lembra Thiago Negraxa (2015). De acordo com o autor, a 
origem e formação das danças urbanas estiveram assentadas na transmissão oral 
em fenômeno assemelhado com a história das danças populares e sociais, com a 
interrupção de seu registro para, depois, exibir-se nos musicais e videoclipes. 
6 
2. UM PANORAMA: a nomeação e o uso 
O que são as Danças Urbanas? É possível que a depender dos praticantes a 
maneira com que um conteúdo seja ministrado se altere? E se sim, por qual motivo? 
Que mudanças podem acarretar na diferenciação em aprendizes em condições 
sociais e corporais diversas? Na tentativa de responder tais indagações recorremos 
a autores como Rafael R. Cristino (2019); Adriana C. Lopes (2007); Marcelo R. 
Bento (2005); Ana C. Ribeiro e Ricardo Cardoso (2011); Caroline G. M. Valderramas 
e Dagmar A. C. F. Hunger (2007) que podem nos auxiliar na qualificação da 
problemática da heterogeneidade corporal nas danças urbanas e as possibilidades 
de ajustes metodológicos. 
Como primeiro passo, devemos primeiro entender os motivos e causas para 
assim compreender os fenômenos que cercam as danças urbanas. Desse modo, 
para iniciarmos nosso estudo, devemos entender, embora brevemente, o que são 
Danças Urbanas e como elas podem auxiliar no entendimento de métodos de 
ensino a públicos heterogêneos, imersos em contextos os quais os fazem divergir 
quanto ao corpo com que dançam. 
Autores como João B. J. Félix (2006), Caroline G. M. Valderramas e Dagmar 
A. C. F. Hunger (2007) e Vanessa G. dos Santos (2016) afirmam que as danças 
urbanas podem ser divididas em diversos estilos de dança por suas características 
e diferenças musicais principalmente em estilos como o locking, popping, b.boying, 
krump, e o freestyle. 
Percebemos então que ao tratarmos a dança como tipos de estratégias 
vocabulares, os mesmos méritos devemos possuir acerca do entendimento dessas 
danças para que possamos entendê-las e deixar que nos atinjam das mais 
diferentes formas. Então como aferir a movimentação adequada para quaisquer 
tipos de aluno? O professor de dança deve tratar as particularidades das Danças 
Urbanas de modo a aproximar tais particularidades de início distintas. 
Gerar significado e identidade com qualquer estilo que compõem as danças 
urbanas requer ajustes contínuos. Justamente a diversidade formadora das danças 
urbanas se torna um facilitador de possibilidades corporais para os praticantes, seja 
aquele neófito ou aquele que se dedica integralmente à prática das subdivisões. 
Antes de nos debruçarmos sobre elas, faz-se necessário a análise e o recorte de 
7 
alguns termos precursores que moldaram a prática na generalidade, e servem para 
categorizar o entendimento do que se alcunha como danças urbanas. Termos como 
o Hip-hop, Dança de Rua e Street Dance fazem parte das transformações históricas 
desencadeadas no movimento. 
 
❖ HIP-HOP 
Em meados da década de 60-70, surge nos Estados Unidos um movimento 
cultural chamado Hip-Hop. Este movimento traz consigo valores e estética próprios, 
os quais as vozes de quem o compunham eram ouvidas a partir de quatro pilares 
fundamentais desse movimento: o Mestre de Cerimônias conhecido como MC; Disc 
jockey, o DJ; a dança Breaking e o Grafitti como expressão visual. 
Assim como podemos constatar na afirmação de Adriana C. Lopes (2007), o 
Hip-Hop carrega a necessidade de uma transformação simbólica porque traz os 
anseios de um determinado grupo social: “[...] a principal finalidade desse 
movimento é alterar algumas representações que definem a realidade social e os 
sujeitos que dela fazem parte” (Ibid., p.1). 
Nesse movimento, a dança também ocupa sua primazia desde sua origem no 
chamado Breakdance. Em tradução literal, Breakdance é “dança quebrada”. Dessa 
forma, todas as danças surgidas em meio ao movimento Hip-hop recebem essa 
denominação de Breakdance, não pelos artistas que fazem a dança, e sim pelas 
diversas mídias do período como forma de generalizar a pluralidade de estilos 
dentro do movimento. Como afirma Klaylton Fernando Apud Marcelo R. Bento queBreakdance ou Breaking na realidade foi um rótulo criado pela mídia 
na época para generalizar alguns estilos distintos de dança, o 
B.boying, o Popping, o Boogaloo e o Locking, pois, originalmente, a 
dança B.boying era a representação da expressão corporal dentro 
do Hip Hop. Os outros estilos citados foram incorporados nas 
disputas e performances de dança. (Fernando Apud Bento, 2015, 
p.16-17). 
Contra o que é veiculado, entre aqueles que praticam os diversos estilos, 
como o Popping e o Locking, preferem chamar suas danças pelos respectivos 
nomes ao invés de generalizar com o termo Breakdance; nomeação não adequada 
para se referir às danças do Hip-Hop em sua totalidade. 
8 
 
❖ DANÇA DE RUA 
No Brasil na década de 1980, é efetivada uma tradução direta da 
nomenclatura Street Dance, designada a essas variantes da dança dentro do 
movimento Hip-Hop, que não tinham cunho acadêmico, para Dança de Rua. No 
entanto, com certa liberdade ao mesclar ritmos próprios do país em caldeirão 
corporal que se avizinha como típico do lugar. 
A discussão sobre nomenclatura está ainda em voga porque a afirmativa de 
que a dança de rua é a dança que se realiza na rua é recorrente. Vale salientar da 
notoriedade com as grandes festas ao ar livre em Nova York. Mas, também, há 
quem perceba que essas danças não se realizam necessariamente na rua, mas sim 
em boates e casas noturnas, programas de televisão e propagandas. 
Em meados dessa mesma década, o brasileiro Nelson Triunfo “leva a dança, 
do meio mais abastado, ao resto do país. Triunfo devolve o Break à rua, seu lugar 
de origem. Parte para o interior da Bahia, onde se torna estrela, aos quinze anos, de 
seus Bailes Soul”. (VALDERRAMAS; HUNGER, 2007, p.4). De modo a tirar a dança 
dos holofotes midiáticos que foram dados a ela e a recolocar na fala dos artistas 
urbanos. 
De modo geral, o termo “Dança de Rua” é ainda muito utilizado entre nós 
brasileiros, mas face às restrições sociais e discriminação de sua prática e seus 
praticantes quando sobe à cena aparece outra denominação provavelmente mais 
palatável: Danças Urbanas. (Ribeiro; Cardoso, 2011). 
 
❖ DANÇAS URBANAS 
Danças urbanas é um termo tido como mais adequado ao se referir às 
Danças de rua, Street Dance e as danças do Hip-Hop porque traz em sua 
nomenclatura um conceito de dança que é criado e produzido em contexto urbano. 
Também por não se limitar às danças estadunidenses, como a inclusão do Dance 
Hall de origem Jamaicana, por exemplo. Isso provavelmente gera ampla aceitação 
entre os praticantes brasileiros. 
9 
Assim, populariza-se e se projeta a partir dos anos 2002 e 2003 (RIBEIRO; 
CARDOSO, 2011), em parte por retirar à imagem de “marginalização” grudada ao 
termo Dança de Rua, e, também como forma de aglutinar às danças advindas da 
cultura Hip-Hop como também as que são adjacentes em contextos urbanos 
diferenciados. 
Atualmente, o termo é popularmente conhecido no Brasil e no mundo, graças 
à disseminação em mídias sociais como na plataforma Youtube com diversos 
canais que tratam a dança, e são utilizadas em videoclipes, comerciais e shows. 
Com um público diversificado por sua faixa-etária, assim como os corpos e 
maneiras de se expressar com particulares modos e sintaxes coreográficas. 
Tais características diversas das danças urbanas proporcionam o layout 
diferenciado de corpos que eles dançam. Cabe aqui a descrição dos componentes 
das subdivisões das danças urbanas e seus modos de se dar a ver. Identificar e 
explicar apenas os estilos que são unanimidade acerca do pertencimento ou não às 
Danças Urbanas, sem ramificações ou separação de técnicas dentro do próprio 
estilo, podem auxiliar no processo e entendimento de formação corporal, cinestésica 
e muscular do indivíduo. 
 
❏ Passos sociais 
Criados nas famosas Block Parties, os passos sociais1 são compostos de 
movimentos sem sistematização completa. Organizados na diversão e 
movimentação da maioria, sem a necessidade de formalização e de fácil 
compreensão, são geralmente introduzidos pelos MCs, os que comandam os bailes. 
A maior parte dos passos é nomeada com os próprios nomes de quem os inventou, 
como o passo BART SIMPSON, ou por objetos e ações do cotidiano como é o caso 
do RUNNING MAN. 
Isso possibilita uma dança amplamente praticada, sem julgamentos quanto a 
maneira de se realizar porque se tratava de aspectos vinculados ao ritmo e 
espacialidade do que propriamente domínio de uma técnica corporal. 
(VALDERRAMAS; HUNGER, 2007). No Brasil, os passos sociais se popularizaram 
 
1
 Link com os passos sociais mencionados e ainda outros: 
https://www.youtube.com/watch?v=Xk152KP-Nbk. 
10 
com os Bailes Charmes ou Bailes Funk, na cidade do Rio de Janeiro, na década de 
1980, logo depois são modificados em decorrência do encontro com nossa 
ritmicidade e aspectos culturais locais. 
Imagem 01 - Baile na cidade do Rio de Janeiro 
 
Fonte: Alexandre Figueiredo, 2012. 
 
❏ Breakdance 
Consagrada como a dança do Hip-Hop, o Breakdance/Breakdancing/Break 
ou Breaking é uma dança que tem seu início juntamente com o movimento 
cultural/social mais tarde chamado de movimento Hip-Hop. Dançada 
constantemente nos eventos e festas, começa a ser sistematizada em fundamentos 
para categorização da dança. São eles: TOPROCK (a dança em pé); FOOTWORK 
(trabalho com os pés no chão); FREEZES (pausas em uma pose) e POWER 
MOVES (movimentos que exigem força) (DORNELAS, 2017). 
O Breakdance expressa vigor especialmente por seus giros acrobáticos. 
Ganha espaço na cultura pop quando está presente em diversos filmes do gênero 
de dança e em videoclipes musicais. Torna-se referência quando se quer falar sobre 
a dança do Hip-Hop, o que pode acarretar uma imagem distorcida sobre sua 
unicidade e sobre a existência de outras danças da cultura Hip-Hop. 
11 
Imagem 02 - B-boys 
 
Fonte: Desmond Louw / Mobile Media Mob, 2016. 
 
❏ Locking 
Locking é uma das danças que sofre com a generalização apressada ao se 
referir às danças como parte do movimento Hip-Hop com um termo único. Criada 
por Don Campbellock, ressalta a movimentação dos membros superiores e a 
movimentação das articulações e paradas e retomadas súbitas do movimento, com 
paradas constantes na posição “LOCKING”. (EJARA, 2004). 
Entretanto, engana-se quem acredita ser o Locking uma dança voltada 
apenas aos membros superiores. As pernas do Locker (quem a pratica) devem ser 
bem alongadas, capacitadas a golpes rápidos e trocas precisas de pés. O 
travamento súbito dos joelhos promove a sensação de quebra. 
Dessa forma o Locking se torna uma dança rápida, precisa e cheia de vida. É 
necessário que seus praticantes sempre estejam cientes do que está ao seu redor 
para incrementar a sua dança, seja com alguma brincadeira ou se utilizando de 
qualquer objeto que esteja ao seu alcance. 
12 
Imagem 03 - Locker em Batalha de Locking 
 
 
Fonte: Hip hop international, 2020. 
 
❏ Popping 
Se existe alguma dança chamada frequentemente de Break por conta de sua 
divulgação em toda mídia durante seu início, essa dança é o Popping; 
especialmente pelo significado da palavra Break: pausa ou quebra. E para um estilo 
que tem por base a contração e relaxamento muscular, a presença de “quebras” é 
algo recorrente. 
Criada por Sam Salomon ou Boogaloo Sam como se tornou conhecido após 
formar seu grupo de Popping, o Boogie. O Popping se apresenta na precisão do 
controle da contração e relaxamento muscular em coordenação com as batidas da 
música, dos seus graves e ênfases rítmicas. 
Mas o popping está repleto de técnicas subjacentes, como o WAVE, 
TUTTING, ISOLATION e, também, o ROBOT (PIMENTEL, 2020), além do 
acentuado controle muscular. Essas e outras técnicas são tão populares por si só, 
que muita das vezes não se liga ao Popping, de certa forma até gerando dúvidas 
acerca de cada uma dessas ser, separadamente, jáum estilo de dança. 
 
13 
Imagem 04 – Popper 
 
 
Fonte: Pinterest, [21--] 2 
 
❏ House Dance 
A dança House surge juntamente com o desenvolvimento de técnicas de 
discotecagem avançadas nas quais os DJs começaram a mixar seus hits e não 
mais apenas arranhar os discos antigos de vinis. Assim como a invenção e uso de 
Softwares que auxiliavam nas suas criações, o que origina ao que conhecemos hoje 
como música eletrônica. 
Nela, os pés e pernas estão em sincronia com a música e ocorre um balanço 
constante chamado de Jackin, que se realiza de baixo para cima. A dança House 
sofre influência de outras danças consolidadas no âmbito artístico como o 
sapateado americano e a salsa, como afirma David F. Vieira (2018). 
 
 
2
 [21--] se refere ao século XXI. Esta forma foi usada devido à inexistência do ano de publicação da 
imagem, mas tendo-se a certeza em qual século ela se deu. 
14 
Imagem 05 - House Dance 
 
 
Fonte: Centro coreográfico da cidade do Rio de Janeiro, 2018. 
 
❏ Dance Hall 
O Dance Hall tem sua origem nas ruas da Jamaica quando seus praticantes 
levam a energia e mobilidade dos quadris para a dança. Às vezes generalizada 
junto a outros estilos subjacentes e/ou também vindos da Jamaica como o Ragga, 
recebe também o nome de Dança Afro. Diferencia-se por ser uma das primeiras a 
trazer as danças produzidas no país para fora de seu âmbito e ser incorporada no 
que se entende como Danças Urbanas. 
Como outras danças afrodescendentes, aparece juntamente com novo estilo 
musical. O Dance Hall acompanha o Raggamuffin. (SOUZA, 2015). Com ênfase no 
quadril e peitoral, expostos acentuadamente, essa dança ganha espaço no mundo 
com o advento das mídias sociais, e viabiliza o conhecimento e prática das danças 
de matrizes africanas em sua generalidade. Vale notar que sua movimentação 
remete ao trabalho cotidiano para conferir maior significação aos passos, as 
chamadas danças de trabalho. 
 
 
15 
 
Imagem 06 e 07 – Dancehall 
 
 
Fonte: Pinterest, [21--]; Wikidança, 2013. 
 
❏ Vogue 
Antes mesmo de se popularizar com a música Vogue da cantora Madonna, a 
dança Vogue se molda junto ao movimento de liberdade trans e LGBT nos Estados 
Unidos, na metade da década de 1960. Munidos de algumas edições da revista 
Vogue, o que surge como uma brincadeira de imitação das poses das capas nas 
prisões do país durante forte repressão aos homossexuais, ganha espaço em 
boates e clubes gays chamadas Ballrooms (bailes). 
A dança é caracterizada por formas lineares e poses, assim como são as 
capas da Revista Vogue. Como uma forma de expressão da comunidade gay, o 
Vogue se realiza com traços de glamour e frenesi. Ele se divide basicamente em 
três modos: OLD WAY, NEW WAY E VOGUE FEMME (HANDS PERFORMANCE, 
CATWALK, DUCKWALK E FLOOR PERFORMANCE). (SCHIJEN, 2019). 
 
 
 
16 
Imagem 08 - Voguer em poses 
 
 
Fonte: Flávia Pereira, [21--]. 
 
❏ Waacking 
Semelhante à dança Vogue, o Waacking também tem seu início na 
comunidade gay dos Estados Unidos em clubes e eventos específicos para esse 
público como forma de expressão comunitária. Possui características com a 
movimentação do Locking, mas não guarda relação de origem com ela. 
Diferentemente do Vogue, realiza-se sobre a rotação e flexibilidade dos 
punhos, cotovelos e ombros. Com movimentos e transições rápidas, exige 
acentuada precisão em detrimento da forma final, a pose. Suas poses são menos 
singelas, diferentemente do Vogue que simula uma sessão de fotos. 
A noção de performance está presente; talvez por esse motivo podemos 
notar como grande parte das coreografias querem demonstrar poder e 
superioridade; a presença do Waacking é muito utilizada em coreografias femininas 
de K-pop. (GOMES, 2015). 
 
 
17 
Imagem 09 - Movimentos de Waacking 
 
 
Fonte: Pinterest, [21--]. 
 
❏ Krump 
Ser violento, para não ser violento. Essa frase contraditória é uma das 
diversas formas de definição que podemos ter do Krump. Originada de uma dança 
anterior chamada de Clown Dance, seus criadores Lil C e Tight Eyes propõem uma 
postura agressiva e explosiva antes não presenciada nas Danças Urbanas. Ao 
retirar a porção de brincadeira de sua antecessora, o Krump aparece em um cenário 
de lutas e confrontos no qual a agressividade toma conta dos movimentos como 
uma ação de força (SILVA, 2018). 
Usada como canal para a liberação de raiva com movimentos firmes e 
frenéticos, a musculatura se apresenta rígida e socos e chutes são direcionados ao 
ar com extremo controle do fluxo do movimento, para que não seja apenas alguém 
brigando com o ar. “Cara de mau”, alternância dos braços, pisadas fortes no solo, 
são algumas das características dessa dança. 
18 
O Krump (1992) é uma das mais novas danças, e ainda se impõe em 
festivais, eventos, shows, clipes e filmes. 
Imagem 10 - Agressividade no Krump 
 
 
Fonte: Lyricsja.tumblr, 2011. 
 
❏ Twerk 
O conhecido “Funk Gringo”, o Twerk é uma dança de origem completamente 
diferente do Funk brasileiro (ALMEIDA, 2020). A dança se desenvolve em clubes de 
strip nos Estados Unidos e possui sua dinâmica corporal voltada às técnicas e 
movimentos dos glúteos. O estilo ganhou maior visibilidade na década de 2010 ao 
aparecer em vídeos clipes de cantoras como Miley Cyrus, Rihanna e Nicki Minaj. O 
que chega a ocorrer com o próprio movimento Hip-Hop e as danças que o 
constituem. 
Possui proximidade com as músicas do Hip-Hop, e deixa os clubes para 
ganhar as pistas e batalhas de dança quando se mistura a outras danças urbanas. 
O layout apresenta sensualidade e confere ritmicidade com movimentação rés ao 
chão, que são acrobáticos, como é comum em clubes de strip. No Brasil, disputa 
19 
atenção com o Funk brasileiro, mas pouco a pouco cada vez mais as dançarinas 
estão aderindo a movimentos e ao estilo do Twerk. 
 
Imagem 11 - Aula de Twerk 
 
 
Fonte: Stef Streb, 2019. 
 
3. FERRAMENTAS DIFERENCIADAS: uma solução 
Nota-se que as subdivisões existentes dentro das danças urbanas divergem 
quanto às suas origens, no layout de formação corporal e na expressividade que 
cada uma carrega. A compreensão das particularidades das subdivisões existentes 
é fundamental para que seja possível aproveitar a pluralidade existente dos corpos 
diferenciados em uma dada turma de praticantes. 
A heterogeneidade de corpos dos alunos é algo plausível com as danças 
urbanas. É possível nelas encontrar a correspondência da heterogeneidade com os 
modos diferentes de dançar, e se aperfeiçoar em determinados aspectos corporais 
com treino do que seja mais apropriado ao praticante. As diferentes técnicas, que 
20 
conformam os estilos, talvez possam ajudar em maior proximidade com o aluno e, 
também, contribuir na representatividade das particularidades individuais. 
Face à diversidade de procedimentos presente nas danças urbanas, faz-se 
obrigatório a apresentação de questões pertinentes específicas geridas nas 
subdivisões. 
 
3.1. Layout Corporal 
Um primeiro ponto de análise deve partir da busca pelo entendimento do que 
essas subdivisões agregam ou desenvolvem no corpo, e como cada técnica 
trabalha de forma a se diferenciar uma da outra, especialmente nos quesitos 
empenho, flexibilidade, agilidade, potência, e, também, possíveis problemas que 
possam ser gerados face à diversidade. 
 
Os Braços nas Danças Urbanas 
É interessante pensar em como cada parte do corpo se comporta porque os 
braços são membros muito particulares em cada uma da subdivisão das danças 
urbanas. Em algumas delas, os braços passam a ter um papel mais incisivo e isso 
confere uma dada individualidade do praticante. Simultaneamente, temos danças as 
quais o trabalho do braço acompanha o restante do corpo quando confere maior 
ênfase na sustentação do que propriamente estar isolado a desempenhar um papel 
diferente das demais partes. 
Pode-se observar isso em dançascomo o House, Twerk e o Breakdance. 
Nesta, temos um acentuado trabalho muscular bem. É importante que o B-boy 
primeiramente sustente o peso de seu próprio corpo, para então em seguida se 
aventurar nos POWERS MOVES como podemos observar na afirmação do B-boy 
Vouks (apud. Kuschke, 2016): 
[...] Também faço trabalhos específicos pra cuidar do corpo todo, 
especialmente os braços. [...] Muitas flexões e paradas de mão, 
assim você pode se sentir confortável com o seu próprio peso 
corporal e fortifica os músculos do braço e corpo. 
Na fala do B-boy Vouks podemos inferir que, segundo sua visão, o 
Breakdancer que não trabalha a força e explosão em seus braços não consegue 
21 
evoluir na modalidade às categorias mais avançadas e profissionais. Tendo em vista 
que um dos grandes destaques desse estilo ocorre por conta dos braços, dentro dos 
Power moves e freezers. 
Imagem 12- Força no Braço 
 
 
Fonte: © Naim Chidiac/Red Bull Content Pool, 2016. 
 
Na diversidade das danças urbanas encontramos danças que não exigem um 
trabalho de força e potência muscular nos membros superiores, mas estão voltadas 
para um trabalho global de flexibilidade. Uma mobilidade articular acentuada pode 
ser observada em danças como o Waacking, Locking e Vogue. 
 Temos outras que investem nas poses e no glamour dos corpos como o 
Vogue. Ela se utiliza do incomum em posições que parecem desconfortáveis para 
simular as imagens de capa da revista Vogue em seu layout: 
Vogue ou voguing é uma dança moderna altamente estilizada que 
se caracteriza por posições típicas de modelos com movimentos 
corporais definidos por linhas e poses. Inspirado pela revista Vogue, 
o voguing é caracterizado por poses semelhantes a das modelos 
integradas com movimentos angulares e lineares de braços, pernas 
e tronco. [...] O estilo de dança proporciona uma grande queima 
calórica por ser um forte exercício aeróbico, o tônus muscular, 
trabalhando braços e pernas com precisão e agilidade e postura e 
flexibilidade com as poses e formas exigidas (MENINA, 2018, p.1). 
O Waacking, por sua vez, tido como ''primo do Vogue'', utiliza-se dessa 
premissa articular, porém com foco na agilidade ao invés de poses. Tonificar a 
22 
musculatura por meio do trabalho de força e potência pode não ser tão vantajoso 
nesse estilo que busca a flexibilidade e mobilidade articular dos membros 
superiores. 
Imagem 13 – Flexibilidade 
 
 
Fonte: Regnault, 2011. 
 
As Pernas nas Danças Urbanas 
Em contrapartida, há danças dependentes de acentuada movimentação dos 
membros inferiores, quando ocupam papel acentuado em sua generalidade. O 
Breakdance com as seções FOOTWORK e TOP ROCK requer trabalho 
especialmente dedicado às pernas. Outras danças urbanas também dedicam 
atenção especial às pernas em sua movimentação, como é no caso Locking, que 
fornece base importante para o Twerk e se inicia como se desenvolve no Popping 
no passo Boogaloo. 
Esse cenário se adensa com a chegada de um estilo, e esse estilo é a House 
dance. Prioritariamente dançada com os membros inferiores; os membros 
superiores acompanham a movimentação principal. 
House Dance tem influência de muitos elementos de dança, tais 
como: Dança Afro, latinas (principalmente salsa), brasileiras, jazz, 
sapateado, e até mesmo contemporânea. [...] No House Dance há 
uma ênfase nos ritmos e riffs sutis da música, e os pés os segue de 
perto. Esta é uma das principais características que distingue o 
23 
House, da dança que foi feita para disco music antes do House 
music e que é dançado atualmente. (MARIANA, 2010, p.1). 
O House nasce para ser dançado com os membros inferiores, mas, assim 
como outras danças, tem seu complemento no que se faz acima das pernas. Como 
se agita na onda gerada pelo Jacking, por exemplo, através da expressão e 
consonância dos braços para que não haja a perda do fluxo do movimento, a 
resistência muscular prevalecerá para o House Dance. 
 
Imagem 14 - Ênfase nas pernas 
 
 
Fonte: © Dance Centre Myway 2020/mywaydance.com, [21--]. 
 
Mas também temos as danças que se utilizam das pernas como apoio de 
movimento ou como o precursor dele. É o caso do Popping que, baseado na 
contração muscular, exige que o Popper use a musculatura das pernas de forma a 
acompanhar a batida da música, ao flexionar e estender rapidamente as pernas, o 
que fornece a impressão de explosão. E esse estilo acaba 
[...] muitas vezes criando passos que, assim como o robot, remetem 
ao ilusionismo. A técnica foi responsável pelo surgimento de um dos 
movimentos mais famosos do mundo da dança, o back slide, criado 
pelo dançarino Bill Bailey na década de 50 e imortalizado anos mais 
tarde por Michael Jackson com o nome de moonwalk. (PIMENTEL, 
2020, p.2). 
24 
No Popping existe uma diversidade de modos que trabalham isoladamente 
as partes do corpo como técnica Isolation. E com os membros inferiores não é 
diferente; há sempre uma busca pelo efeito ilusionista que desafia a compreensão 
de passos como o Moonwalk, por exemplo. Nele, peso, recuos e avanços se 
conformam no andar para trás e deslizam. Michael Jackson contribui para 
popularizar esse modo de se mover, especialmente a partir da performance da 
música Billie Jean do Álbum Thriller (1983), se transforma em ícone e se torna 
parâmetro na atração de jovens para o mundo da dança. 
Imagem 15 - Michael Jackson realizando o Moonwalk 
 
 
Fonte: tvtropes.org, [21--]. 
 
Através de movimentações como a do ícone Pop acima, é perceptível a maneira 
com que as pernas fazem parte do todo nesta dança. Não de modo a estar em total 
ênfase como se encontra no House Dance, porém sendo tão significativa quanto. 
De toda forma essa maior ou menor utilização das pernas acontece de modo 
natural, muita das vezes para deslocamentos interessantes e de impressionar, 
assim como o Moonwalk. 
25 
4. A SINGULARIDADE NAS SUBDIVISÕES DAS DANÇAS URBANAS 
Faz-se necessária a descrição de cada uma das subdivisões quando conferem a 
singularidade dos corpos a cada uma delas e os efeitos a elas atrelados. Quando 
falamos de danças Urbanas associamos à cultura Hip-Hop, que carrega 
historicamente a tentativa de representação de comunidades urbanas afro-
estadunidenses e latinas junto ao ambiente urbano. É justamente no “caldeirão” da 
cultura Hip Hop que se dá o surgimento e formação do conjunto de particularidades 
inscrito nas subdivisões, nos diferentes modos de se movimentar, vestir e se portar. 
Mas não só do movimento Hip-Hop vivem as danças urbanas. As danças 
precursoras da cultura Hip-Hop como o Breakdance, Locking e Popping apresentam 
o layout de seus criadores e intérpretes: adolescentes e jovens adultos héteros 
masculinos. No entanto, como contraponto a esse layout, surgem duas danças: o 
Vogue e o Waacking. Ancoradas especialmente na maior mobilidade dos quadris e 
nos desenhos mais amplos dos braços. 
Foi aí, nas estruturas do mundo ballroom, que nasceu o voguing — 
um estilo de dança inspirado nas poses que as modelos faziam nas 
páginas da Vogue, e igualmente influenciado pelos hieróglifos do 
Antigo Egito e pelos movimentos de ginástica. Frequentemente, a 
persona adotada pelos voguers era uma paródia codificada da 
feminilidade tradicional, que tanto glorificava como subvertia ideais 
de beleza, sexualidade e classe. Como um ball-goer descreve no 
documentário de Jennie Livingston Paris is Burning, “para nós, os 
balls são o mais perto que alguma vez estaremos de toda aquela 
realidade de fama, fortuna, estrelato e ribalta.” (SCHIJEN, 2019, p.4). 
Nesses Ballroons (bailes), nos quais ocorrem os encontros e festas da 
comunidade gay, na década de 1980, é possível visualizar o novo cenário que se 
molda nas danças urbanas. Nele, os dançarinos podem buscar outra similaridade 
entre a dança e o indivíduo que a pratica. 
O voguing era uma forma dos ball-goers contarem a sua história, 
mas também uma resposta à crise da SIDA3. Também eraalgo 
satírico, divertido e cómico, com os participantes a copiarem as 
poses das modelos da Vogue através de posições paradas ou 
movimentos que replicavam o ato de maquilhar ou arranjar o 
cabelo.(SCHIJEN, 2019, p.4). 
 
 
3
 SIDA (Síndrome de Imunodeficiência Adquirida). Mais informações, disponíveis em: 
https://www.atlasdasaude.pt/publico/content/hiv-e-sida-tudo-sobre-suas-diferencas. nov. 2020. 
 
https://www.vogue.pt/a-divina-trindade-da-feminilidade
https://www.vogue.pt/a-divina-trindade-da-feminilidade
https://www.vogue.pt/voguing-historia-danca
https://www.vogue.pt/voguing-historia-danca
26 
O Waacking também aparece com esse intuito de sátira de episódios na vida 
urbana do período, mas difere do Vogue pela dinamicidade de sua movimentação e 
nas poses típicas da cultura queer: 
Quando nos voltamos para a compreensão da dança e sua 
contextualização histórica e como ela se dá na prática, vemos os 
sujeitos envolvidos em atividade que os colocam em situações de 
exposição de seus gestos rítmicos, assim estando diretamente 
ligado com a exposição que o individuo se coloca perante o que está 
externa a ele, dessa forma podendo estar mais vulnerável a 
percepção social. (GOMES, 2015, p.16). 
Hoje, tais modos de se mover não se restringem ao ambiente gay; a prática 
de ambas as danças se encontra disseminada em “ambiente hétero”, homens e 
mulheres, idosos e crianças. 
 As danças urbanas trazem consigo particularidades e estilos diversos 
justamente por essa heterogeneidade de corpos, e a maneira de se expressar 
corporalmente. Imprime como uma marca de cada uma das subdivisões dela no 
mundo em sua generalidade. Essa marca, particular de cada uma das danças 
urbanas, é o passaporte contra a confusão estabelecida pelo senso comum de 
definição do termo Breakdance como única via quando são diversos os modos de 
se mover e dançar. 
 
4.1 Aspectos da Singularidade 
 Ao falarmos da singularidade das danças urbanas, referimo-nos à maneira de 
se portar e agir mediante as suas subdivisões; o que motiva cada movimento e não 
apenas a reprodução de passos. A generalidade apressada não dá conta do 
entendimento das motivações em cada uma delas, o como se posiciona face à 
singularidade: mais satírico no Waacking, com a consciência muscular precisa no 
Popping, a sensualidade no Twerk ou a “agressividade” no Krump e no Breakdance. 
No entanto, esse traço da “agressividade” está bastante presente nas danças 
urbanas face às raízes do próprio movimento Hip-Hop. Um ambiente de conflitos 
entre gangues e de mortes entre pessoas da mesma comunidade. Para, então, 
descarregar essa rivalidade e agressividade de modo a não ocasionar mais 
impactos negativos, tudo isso é levado para a pista de dança. Nela, pode-se 
27 
demonstrar sua capacidade, defender sua equipe e se sobrepor ao adversário de 
maneira não violenta. 
O Breakdance é o primeiro estilo a ser referendado quando se associa ao 
lugar do escoamento de impulsos “agressivos”. Mas recentemente apareceu outra 
dança que pode ocupar também esse lugar: o Krump serve como uma dança 
apaziguadora. 
A estética do Krump pode ser: forte, feroz, agressiva, violenta, 
assustadora, sarcástica, cômica, etc., de acordo com o personagem 
do krumper; através destas imagens as percepções e sensações se 
afloram na construção de uma session (sequência de dança) 
proposta pelo krumper: Inicia-se com o Start-Off, Krump (técnica), 
Buck (feeling da dança), Get-Off ou Liveness, Hype (presença-
conexãocypher), Concept (história, ideia, mensagem, metáfora). Os 
krumpers tem o dom dançar constantemente nestes paradoxos, 
transformando o agressivo e assustador no belo e extraordinário. 
(SILVA, 2018, p.10). 
Por muitas vezes confundida como uma dança violenta, o Krump se dirige 
para o lado oposto. A tensão e a raiva podem nela existir, porém não dominam a 
ponto de ensejar violência; está dissipada na movimentação dos corpos. 
Cristiane C. Fonseca (2008) destaca que: 
a dança enfatiza movimentos de forma estética, levando o sujeito a 
uma reflexão dele mesmo, como modo de vida e cultura. Propondo 
que dançar é um meio dos indivíduos constituírem sua experiência 
com o mundo através do movimento promovendo resgate de 
sentimentos ocultos e oprimidos, provocando efeitos positivos na 
imagem corporal. (MELO; INGUAGGIATO apud FONSECA, 2017, 
p.13). 
Deve-se ressaltar o aspecto de reordenamento individual, não apenas do 
Krump, possibilitado por todas as subdivisões das danças urbanas. Talvez elas 
sejam capazes de fazer com que o indivíduo conheça mais um pouco sobre si 
próprio. Até conseguir, com o passar do tempo, numa prática consistente na 
subdivisão escolhida, moldar sua postura em relação à maneira que se impõe 
socialmente e na dança. 
As danças urbanas colaboram para reafirmação individual, provavelmente em 
função da gama de estilos, suas subdivisões, as quais carregam um arsenal para o 
repertório corporal. Entender a diversidade pode ser o início de um processo de 
introjeção das nuances presentes nelas, as danças urbanas. 
28 
5. A HETEROGENEIDADE COMO FERRAMENTA DE ENSINO 
Por fim, e não menos importante, partimos para o que se deve compreender 
dessas particularidades em nosso cotidiano enquanto licenciados em dança e 
professor de danças urbanas: o olhar sensível à heterogeneidade dos corpos ao 
mostrarmos essas possibilidades existentes nas danças urbanas para interessados 
e praticantes. 
 
5.1. Ajustar-se às Subdivisões: observar a heterogeneidade dos corpos 
Ao tratarmos de danças urbanas, reiteradamente devemos considerar a 
existência da multiplicidade de corpos com suas habilidades e restrições; e, 
também, como, na posse de determinada subdivisão, o indivíduo interage com a 
pluralidade de procedimentos em dança. E que tais procedimentos são instâncias 
organizadoras da expressão corporal e do entendimento enquanto indivíduos. 
Dessa maneira, esses mesmos corpos devem entender o que querem deixar 
transpassar através deles de modo que sua forma de estar e expressar façam mais 
sentido dentro de algumas das subdivisões das danças urbanas. 
Como abordamos na Introdução, e reiteramos agora, as danças urbanas 
promovem uma singularidade no universo diverso das danças existentes na 
atualidade, sejam destinadas à criação de produtos artísticos em dança seja como 
expressão de determinado agrupamento social: um mesmo corpo tem a opção da 
escolha do aprendizado de determinado procedimento ao invés de outro dada a 
quantidade de modos de dançar em um mesmo lugar, as danças urbanas. Se isso é 
uma solução, também pode ser um problema face às dúvidas de se experimentar 
layouts díspares como o Breakdance e o Vogue. 
O importante a se considerar é a necessidade de que a percepção do 
praticante esteja, não somente apta, mas “aberta” às necessidades dessa 
diversidade, se essa for a escolha. Não adianta o/praticante/artista/intérprete/aluno 
se encontrar em uma “bolha” para a criação de sua persona dentro das danças 
urbanas, mas se faz necessário o acolhimento das instruções básicas e 
fundamentais, e a garantia da disponibilidade face ao desafio imposto pela 
diversidade de se mover/dançar. 
29 
O professor de danças urbanas é o espelho no qual o praticante poderá 
buscar melhor explicação de como opera seu entendimento do pensamento 
corporal, aquilo que diz respeito a si mesmo como a cinestesia e aquilo que 
configura um determinado layout, aquilo que é cinético. 
 Neste caso, é preciso considerar os mecanismos para a facilitação dessa 
tarefa; por exemplo: seja uma energia “invisível” contaminadora de aluno em aluno 
através da “ondinha”, e pelo próprio corpo como acontece com a técnica WAVE, 
criar impulsos elétricos ou então construtos imaginários com o TUTTING, isso tudo 
se tem em uma única dança que é o POPPING. A estratégia de associação 
metafórica a determinado passo facilita aaprendizagem e o conhecimento da ideia 
de cada movimento nos corpos dos alunos. 
Temos, portanto, na associação imagética com gestos e movimentos do 
cotidiano um território que facilita a explicação de um determinado passo, e não 
somente a sua inserção no espaço-temporal, para que possa ecoar no praticante as 
múltiplas camadas para fazê-lo. Assim, proporcionar a aproximação com os modos 
das danças urbanas e o corpo do praticante aceitar o desafio de incorporar o 
vocabulário e desenvolver a sintaxe coreográfica ao experimentar diferentes 
ênfases corporais. Aqui a parceria do que se pode expressar com a sintaxe 
coreográfica e o que pode ser privativo ao corpo do praticante. 
 Estímulos imagéticos são acompanhados por estímulos visuais e sonoros, e 
aqui com ampla repercussão porque elas, as danças urbanas, são desenvolvidas 
especialmente a partir da sonoridade; sonoridades, diga-se face à natureza de sua 
diversidade na ajuda na formação do layout das subdivisões. 
A dança, grosso modo, é uma ferramenta de extrema importância para o 
indivíduo na compreensão individual de seu lugar no mundo. Ela trabalha as 
possíveis associações e interpelações entre corpo e conteúdo mental, e, também, 
colabora na comunicação corporal dos momentos de atrelamento, seja alegre ou 
triste, no prazeroso ou desconfortável. 
No ensino escolar, deve-se ater à capacidade de um corpo se expressar e 
dessa “expressividade” depreender as possibilidades no cenário fulgurante e 
diversificado das danças urbanas. Iluminar a partir dessa “expressividade individual” 
as instruções e normativas seguidas por cada uma das subdivisões. Imagina-se o 
30 
sucesso de determinado padrão vocabular se relevar os aspectos concernentes à 
“expressividade individual” quando carrega restrições e estímulos a serem 
superados. 
Portanto, um determinado padrão vocabular não deve ser esquecido, e sim 
inserido nos sucessivos momentos do processo de aprendizagem. Mas isso deve 
ser exposto depois do primeiro contato com determinada subdivisão, uma primeira 
aproximação com os elementos constituintes das danças urbanas. 
Projeta-se que cada aluno possa demonstrar as capacidades corporais à 
medida do avanço em direção à conformação do layout de determinada dança. A 
tarefa é simultânea à categorização e análise de “pontos fortes” ou “pontos fracos” 
somados pelo praticante, e a partir deles explorar potencialidades e a diminuição 
das dificuldades no desenvolvimento do layout. 
 
5.2 As Danças Urbanas como Ajustes Pedagógicos 
A observação das particularidades corporais é chave quando se quer avançar 
na aprendizagem de determinada subdivisão das danças urbanas. Como alertamos, 
há a considerar a existência da “expressividade individual” especialmente em 
situação do ensino das bases e fundamentos de uma dança. É ela, a 
“expressividade individual”, quem molda os corpos de modo heterogêneo no 
processo que António Damásio chama de mapeamento corporal. 
O neurocientista António Damásio (2011) aborda a relação estabelecida entre 
cérebro e, consequentemente, conteúdo mental, e corpo. Para ele, o cérebro tem a 
capacidade de criar mapas corporais. O cérebro mapeia o corpo de modo integrado 
ao conseguir desenvolver o componente fundamental daquilo que virá a ser o self, 
ao introduzir o corpo como tema central. 
Segundo Damásio (2011), o mapeamento corporal é a chave para elucidar o 
problema da consciência, os sentimentos corporais e as emoções. Isso é realizado 
quando há a transmissão de informações sobre quantidades e qualidades, o efeito 
qualitativo de fundo na composição corporal, na modelagem da “expressividade 
individual”, que compõem as diversas paisagens dos fenómenos corporais. 
31 
Entender assim permite a inclusão do corpo como um tema natural em via de 
mão dupla, aspecto negligenciado pela literatura versada sobre educação; tal 
literatura se centra basicamente pela sociabilidade, no clássico entendimento da 
educação como networking sem considerar as estruturas sustentadoras dessa rede. 
Em cada corpo que se pode observar a exceção, as restrições frente ao 
ordenamento das instruções que geram determinada subdivisão. Observar a 
existência e as consequências da exceção permitem ajustes no ensino das danças 
urbanas. Por isso, deve-se considerar o grau de prontidão afeto a cada corpo 
porque é produto do mapeamento cerebral que se faz do corpo; especialmente, 
entre iniciantes que almejam a ultrapassagem de procedimentos necessários para a 
configuração do layout de determinada dança das danças urbanas. 
 Considerar e detalhar os limites que se apresentam em determinado grupo de 
iniciantes é chave do sucesso do tipo de configuração corporal para uma adequada 
aprendizagem. Um cenário que não se encontra moldado, mas se constrói na rotina 
de ajustes pedagógicos no ensino de determinada subdivisão das danças urbanas. 
Nelas, são diversas as saídas frente à problemática da heterogeneidade corporal e, 
consequentemente, da “expressividade individual”. Uma delas está, reiteramos, na 
observância da diversidade corporal e no modo faseado de apresentar as instruções 
dos passos. 
O entendimento em como os corpos se movem em acordo com a sequência 
de passos de cada uma das subdivisões é fulcral no sucesso da aplicação 
pedagógica. Cada uma delas carrega seus elementos da força e o ponto de 
aplicação, na zona muscular na qual a força atua diretamente. Na posse desse 
entendimento, relevar outros elementos que podem atuar em escala ou 
simultaneamente. Referimos à orientação de uma dada direção, a linha de atuação 
e a intensidade dessa força. 
Deve-se, também, considerar a oportunidade do contato com iniciantes e 
praticantes proporcionado na formação do licenciando em dança no Estágio 
supervisionado obrigatório. Dele, o contato, a proximidade, a chance de se aplicar o 
entendimento da existência da heterogeneidade dos corpos e as possíveis 
estratégias de se apresentar determinada subdivisão. Operar, portanto, como se 
32 
encontrasse em um laboratório de testagem e aplicação das fases necessárias à 
aprendizagem do Popping ou Locking ou outra dança. 
Isso se dá quando se escuta e procura o entendimento das necessidades de 
cada praticante, como se move e se apresenta corporalmente, e o que ele pode 
acrescentar ao planejamento pedagógico; isto é, introduzir uma série de práticas 
moldáveis, saber esvaziar parte do seu conhecimento para que ele somado ao do 
aluno produza um novo cenário frente à “expressividade individual” e a 
heterogeneidade corporal. 
Portanto, é possível entender o estágio como uma ferramenta importante 
para esse entendimento em como funciona em um contexto escolar, e talvez ainda 
mais importante, como a aprendizagem possa ser instigada, potencializada e polida 
de acordo com a faixa-etária, personalidade e contexto social. Aqui, observar a 
realidade circundante é crucial mediante uma arte que tem suas origens nas ruas e 
em diferenciados ambientes sociais. 
E, finalmente, faz-se necessária a lembrança das danças urbanas como 
heterogênea no processo de sua modelagem enquanto modo de olhar e se portar 
no mundo, e, consequentemente, na constituição do layout do Break, Locking, 
Popping, House Dance, Dance Hall, Vogue, Waacking, Krump e Twerk. Tal 
modelagem produz e é produzida por corpos heterogêneos. 
 
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Há quem considere dispensável ou desnecessário o ensino da dança na rede 
escolar. Quem postula tal posicionamento desconhece a quantidade e qualidade da 
informação gerada no conhecimento e na prática de qualquer dança. A dança, 
portanto, é geradora de informação sobre como se pode operar no mundo e produto 
desse mundo. Pode fornecer ao praticante a oportunidade para acessar mais sobre 
si mesmo, entender sua “expressividade”, ação facilitadora do entendimento do 
ambiente no qual se encontra. O estudo anatômico é uma dessaspossibilidades no 
que tange ao entendimento das modificações corporais oferecidas pelas danças 
urbanas, por se apresentar heterogênea e, assim, implicar na existência da 
heterogeneidade de corpos dos quais produz e por elas é produzido. 
33 
Temos, portanto, excelente ferramenta de exploração das capacidades 
corporais e da “expressividade individual” com as subdivisões das danças urbanas, 
para atuar em ambiente escolar e não escolar. 
O presente trabalho se centra na possibilidade que as danças urbanas têm 
ao operar com as diferenças corporais, a ponto de torná-las insignificantes perante à 
“expressividade individual“ e a corporeidade heterogênea que se encontra em toda 
parte; de modo a deixar cada vez mais fluído o contato do indivíduo com a dança, e 
olhar para a heterogeneidade dos corpos e ao mesmo tempo para as subdivisões 
das danças urbanas e dessa maneira possibilitar uma análise mais abrangente do 
entendimento do ensino e aprendizagem da dança. 
Dessa forma, compreendemos melhor a importância que devemos dar aos 
detalhes e trabalhos didáticos, vislumbrar uma compreensão no que se refere a 
entender o aluno e a realidade que o cerca, como também não medir esforços para 
que as dificuldades no aprendizado dos estilos das Danças Urbanas possam ser 
superadas. 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
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dança urbana. saiba mais sobre esse estilo de dança urbana. 2020. Na ponta do Pé. 
Disponível em: https://www.napontadope.com/lembra-o-funk-mas-e-twerk-saiba-
mais-sobre-esse-estilo-de-danca-urbana/. Acesso em: 19 set. 2020. 
 
ANJOS, Kátia Silva Souza dos; OLIVEIRA, Régia Cristina; VELARDI; Marília. A 
construção do corpo ideal no balé clássico: uma investigação fenomenológica. 
Escola de Artes, Ciências e Humanidades, Universidade de São Paulo. in: Revista 
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