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EthosPoliticoCapas-Cunha-2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES 
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL 
 
 
 
 
ETHOS POLÍTICO NAS CAPAS DO JORNAL AGORA RN: 
UMA ANÁLISE DA IMAGEM DE ROGÉRIO MARINHO 
 
 
 
 
 
Águida Maria da Silva Cunha 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL 
2018 
 
ÁGUIDA MARIA DA SILVA CUNHA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ETHOS POLÍTICO NAS CAPAS DO JORNAL AGORA RN: 
UMA ANÁLISE DA IMAGEM DE ROGÉRIO MARINHO 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso apresentado à 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
– UFRN, como exigência parcial para a 
obtenção do diploma de graduação em 
Comunicação Social (Jornalismo). 
 
Orientador: Prof. Dr. Adriano Medeiros Costa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL 
2018 
 
 
 
 
 
 
FOLHA DE APROVAÇÃO 
 
 
 
Ethos Político nas capas do jornal Agora RN: uma análise da imagem de 
Rogério Marinho 
 
 
Águida Maria da Silva Cunha 
 
Trabalho de conclusão de curso apresentado à Universidade Federal do Rio Grande 
do Norte – UFRN, como exigência parcial para a obtenção do diploma de graduação 
em Comunicação Social (habilitação em Jornalismo). 
 
 
Data da Aprovação: 05/12/2018 
 
 
BANCA EXAMINADORA: 
 
 
 Professor Dr. Adriano Medeiros Costa (Orientador) 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN 
 
 
Professora Dr.ª Michelle Ferret Badiali (Membro) 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN 
 
 
Professor Ms. Fernando da Silva Cordeiro (Membro externo) 
Universidade Federal Rural do Semi-árido – UFERSA 
 
 
 
 
 
 
NATAL / 2018 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico esse trabalho a Deus por todas as 
bênçãos com que Ele tem me presenteado 
diariamente. A Nossa Senhora de Lourdes, por 
sua poderosíssima intercessão e por nunca deixar 
sua filha desamparada. E a Santa Terezinha do 
Menino Jesus, por ouvir minhas preces e por se 
mostrar poderosa na simplicidade de uma rosa. 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço a Deus, primeiramente, por ser o condutor de minha vida, por 
me dar forças para seguir quando eu quero parar e por sempre se mostrar 
presente nas pequenas coisas. Pelos inúmeros aprendizados durante a 
caminhada e durante um ano tão difícil e cheio de adversidades. Obrigada, 
Senhor, porque mesmo diante de minha pequenez, Tu não desistisses de mim. 
Agradeço também a Nossa Senhora, por ser essa mãe tão generosa que 
nunca desempara seus filhos e os entende e estende sua mão sempre que 
necessário. 
À minha família, que mesmo sem compreender exatamente o meu 
caminhar, me apoiou e deu forças durante toda essa caminhada. Obrigada por 
ser meu sustento, minha base, a família que eu não trocaria por nenhuma outra 
e pelas inúmeras diferenças que nos torna únicos. Um agradecimento em 
especial a minha avó, Expedita, não há nada a dizer que possa expressar 
melhor minha gratidão que um “eu te amo”. Quero agradecer especialmente a 
minha mãe Márcia, por me dar a luz e acreditar sempre em mim; ao meu pai 
Sandro e a sua esposa Mariana, sinto suas vibrações mesmo tão longe; ao 
meu avô, Antonio, por ser um grande homem; a Elizangela, pelo amor; a 
Ednalva, por estar sempre pronta a ajudar; a Fátima, por estender a mãe 
quando preciso. 
Ao meu orientador, que me ajudou em diversas situações durante toda a 
graduação, e que agora eu tenho a honra de ter sua orientação em um trabalho 
tão importante para mim como esse. Obrigada por todas as palavras de 
incentivo e por ser sempre tão compreensivo com seus alunos. Você é um 
docente e tanto. 
As minhas amigas (sim, amigas, no feminino, pois uma mulher forte 
sempre está cercada de outras mulheres fortes) que estiveram comigo durante 
todo este ano e que extrapolaram os limites do amor fraternal, muito obrigada! 
A Bruna, por todos os anos de amizade; a Vitória, por ser mais que amiga, mas 
uma irmã de vida; a Suzana, presente de Nossa Senhora em minha vida; a 
Alana, minha amiga querida que topa qualquer parada; a Alynne, a amizade 
mais inesperada do ano, mas que me rendeu bons aprendizados; a Marília, 
outra amizade inesperada, que foi meu incentivo para seguir adiante com a 
 
monografia. Agradeço a todas essas mulheres que marcaram minha vida de 
alguma forma, muito obrigada por tudo. Eu amo vocês. 
Aos meus amigos de graduação, por todo o incentivo e todas as risadas 
compartilhadas, sentirei muita falta de vocês. Um abraço especial a Alencar, a 
Danilo e a Pedro. Quero agradecer também a Denis, por ter sido luz durante 
todos os anos da graduação e por ter cumprido com louvor seu papel em 
minha vida. Muito obrigada, por tudo. Você é grandioso, nunca se esqueça do 
seu valor. 
A todos os que acreditaram em mim, muito obrigada! Eu estou me 
tornando jornalista e vocês fazem parte dessa história. 
 
RESUMO 
 
A presente pesquisa se propôs a analisar o ethos político do deputado federal 
Rogério Marinho representado nas capas do jornal Agora RN. Como 
metodologia, a pesquisa utilizou o conceito de ethos político para Patrick 
Charaudeau. As capas analisadas foram publicadas no período de 24 de abril a 
15 de setembro. Para a análise, foi realizada uma contextualização política que 
buscou verificar quais as relações entre o cenário político e a representação de 
Rogério Marinho. Além disso, foram apresentados os conceitos de opinião 
pública, quais suas implicações para o debate político e como a mídia 
desempenha seu papel de mediadora dessa relação. Verificou-se também 
como age o jornalismo político e quais as consequências de sua atuação no 
processo político. Por fim, foram discutidas quais as instâncias do discurso 
político e seus lugares de fabricação, para Charaudeau. 
 
Palavras-chave: Jornalismo Político, Opinião Pública, Ethos Político, Discurso 
Político. 
 
ABSTRACT 
 
 
The present research aimed to analyze the political ethos of federal deputy 
Rogério Marinho represented on the covers of the newspaper Agora RN. As a 
methodology, the research used the concept of political ethos for Patrick 
Charaudeau. The analyzed covers were published from April 24 to September 
15. For the analysis, a political contextualization was carried out that sought to 
verify the relationships between the political scenario and the representation of 
Rogério Marinho. In addition, the concepts of public opinion were presented, 
their implications for the political debate and how the media plays its role as 
mediator of this relationship. It was also verified how political journalism acts 
and what are the consequences of its performance in the political process. 
Finally, the instances of political discourse and their places of fabrication were 
discussed for Charaudeau. 
 
 
Keywords: Political Journalism, Public opinion, Political Ethos, Political 
speech. 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 12 
2 IMPRENSA E OPINIÃO PÚBLICA ............................................................ 14 
2.1 Opinião Pública: conceituação ............................................................ 14 
2.2 Democracia e opinião pública ............................................................. 16 
2.3 Mídia e opinião pública ........................................................................ 17 
3 JORNALISMO E POLÍTICA ....................................................................... 22 
3.1 Cenário de Representação Política (CR-P) ......................................... 25 
4 DISCURSO POLÍTICO .............................................................................. 30 
4.1 Setores da ação social ........................................................................ 33 
4.2 Discurso político: lugares de fabricação .............................................. 34 
5 ETHOS POLÍTICO .....................................................................................36 
5.1 Ethé de credibilidade ........................................................................... 37 
5.1.1 Ethos de sério ..................................................................... 38 
5.1.2 Ethos de virtude .................................................................. 38 
5.1.3 Ethos de competência ......................................................... 39 
5.2 Ethé de identificação ........................................................................... 39 
5.2.1 Ethos de potência ................................................................ 39 
5.2.2 Ethos de caráter .................................................................. 40 
5.2.3 Ethos de inteligência ........................................................... 40 
5.2.4 Ethos de humanidade.......................................................... 40 
5.2.5 Ethos de chefe .................................................................... 41 
5.2.6 Ethos de solidariedade ........................................................ 41 
6 METODOLOGIA ........................................................................................ 42 
6.1 A importância da capa para o jornal impresso .................................... 42 
6.2 Jornal Agora RN: o impresso no caminho inverso dos grandes veículos 
de comunicação ............................................................................................ 45 
7 RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................... 47 
7.1 Rogério Marinho: construção do ethos político ................................... 49 
7.1.1 Jornal Agora RN, edição 42, dia 24 de abril de 2017 .......... 49 
7.1.2 Jornal Agora RN, edição 79, dia 16 de junho de 2017 ........ 50 
7.1.3 Jornal Agora RN, edição 103, dia 20 de julho de 2017 ....... 51 
 
7.1.4 Jornal Agora RN, edição 132, dia 30 de agosto de 2017 .... 53 
7.1.5 Jornal Agora RN, edição 143, dia 15 de setembro de 2017 55 
7.2 O jornalismo político e sua interferência no debate político ................ 56 
7.3 Consequências da formação do ethos político para Rogério Marinho 58 
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 60 
9 REFERÊNCIAS ......................................................................................... 62 
 
 
12 
 
INTRODUÇÃO 
Diante dos avanços tecnológicos nas transmissões e nas formas de se 
“fazer” jornalismo, os veículos de comunicação tradicionais ou de massa 
(impresso, rádio e TV) sofreram com a dissolução de seu público (audiência) e 
tiveram de buscar estratégias para chamar a atenção dos seus 
leitores/ouvintes/espectadores. Com o advento da internet, as informações 
circulam quase que instantaneamente ao momento em que o fato acontece, 
com isso, o conteúdo jornalístico principalmente o produzido pelos jornais 
impressos se tornou cada vez menos atrativo, devido ao tempo de produção do 
jornal. 
Considerando que os veículos de comunicação de massa tiveram que 
reinventar suas estratégias para despertar o interesse do seu público, nos 
jornais impressos se destaca a utilização da primeira página (ou capa) como 
parte da estratégia, visando criar uma identidade do veículo, por meio da 
distribuição dos elementos gráficos, e chamando a atenção do leitor para seu 
conteúdo. Por meio das capas dos jornais também é possível visualizar como o 
veículo de comunicação se posiciona sobre determinados temas. 
Pode-se afirmar, seguramente, que essas mudanças não ocorreram 
apenas com os jornais de circulação nacional, mas também em jornais locais 
que dependem diretamente dos assinantes e principalmente do número de 
patrocinadores para manter suas atividades em execução. Assim, é perceptível 
que os jornais locais adotaram as mesmas estratégias para conseguir espaço e 
público no mercado de notícias locais, à vista disso, apresenta-se aqui o objeto 
deste trabalho, o jornal impresso Agora RN. 
O veículo de comunicação Agora RN, curiosamente, fez o caminho 
oposto da maioria dos jornais impressos, ele surgiu primeiro como um portal de 
notícias online e, atualmente, existe também na versão impressa. O periódico 
possui tiragem diária de 10.000 exemplares e alcança um número considerável 
de pessoas, principalmente pelo fato de ser distribuído gratuitamente pela 
cidade do Natal. No presente, existem apenas dois jornais impressos em 
circulação na cidade, Tribuna do Norte e Agora RN. 
O jornal Agora RN foi escolhido para esta pesquisa por trazer elementos 
em suas primeiras páginas que, associados ao contexto local e o cenário 
 
13 
 
nacional da política no Brasil, ajudam a compreender o momento político da 
época em que as edições foram impressas e também como os jornais utilizam 
estratégias discursivas a fim de influenciar a opinião pública. Além disso, foi 
observado a frequente representação da figura do deputado Rogério Marinho 
nas capas deste jornal. Diante disso, surgiram alguns questionamentos: como 
o Jornal Agora RN apresenta o personagem do deputado Rogério Marinho em 
suas capas? Em que medida isso reflete o momento político? Qual o ethos 
político construído pelo deputado em suas “falas” nas capas? Existe alguma 
tentativa, por parte do Agora RN, de moldar a opinião pública a favor ou contra 
o político? Quais são as estratégias utilizadas? 
Para responder tais questionamentos, recorremos à obra Discurso 
Político, de Patrick Charaudeau, mais especificamente ao conceito de ethos 
político para analisar as capas em que Rogério Marinho é representado. Além 
disso, faremos um breve passeio sobre o conceito de opinião pública e como a 
mídia se relaciona com essa “instituição” em uma sociedade democrática. 
Discorreremos também sobre o Jornalismo Político e o Discurso Político, 
segundo Charaudeau. 
 
 
14 
 
1 IMPRENSA E OPINIÃO PÚBLICA 
1.1 Opinião Pública: conceituação 
A democracia é um regime em que os governantes eleitos pelo povo 
governam de acordo com a opinião pública (AZAMBUJA, 2008, p.294). Esta é 
usada pelo governo como justificativa para tomadas de decisões, a fim de uma 
constante aprovação por parte da sociedade. Como afirma Sena (2007, p.270), 
a opinião pública é “quase uma força abstracta que nenhuma constituição 
prevê de forma institucionalizada, mas cuja expressão constitui o fundamento 
implícito de todas as democracias”. 
Para tratar sobre o tema é necessário refletir, ainda que 
superficialmente, sobre seu conceito. A definição de opinião pública é 
complexa, por se tratar de um fenômeno social em que todos parecem ter certa 
noção, entretanto esbarra na dificuldade de uma formulação sólida. De acordo 
com Azambuja (2008, p.295), entende-se que a opinião 
consiste em julgar verdadeiro um fato ou uma afirmação, mas 
admitindo que talvez estejamos enganados. É uma convicção mais 
ou menos profunda, que nos leva a afirmar uma coisa e a proceder 
de um certo modo; mas é uma convicção que não tem infalibilidade, a 
certeza de uma verdade cientifica. 
 
Já o conceito de público, de acordo com dicionários, se trata daquilo que 
é de todos, não é particular, e que se refere ao povo em geral. Logo, a opinião 
pública seria o julgamento desenvolvido a respeito de algum fato, sendo essa 
convicção compartilhada pela maioria da população de uma nação. Para 
complementar, destaca-se a contribuição de Gabriel Tarde para o conceito, 
citado por Azambuja (2008, p. 295), “é um grupo momentâneo e mais ou 
menos lógico de julgamentos que, respondendo a problemas propostos, em 
dado momento, é partilhado por numerosas pessoas do mesmo país, do 
mesmo tempo, da mesma sociedade”. 
É fato que a opinião pública não é compartilhada por todas as pessoas 
de uma sociedade, mas por uma maioria, pois, considerando a individualidade 
de cada um, seria impossível que todos compartilhassem da mesma visão para 
variados assuntos. Assim, surge a questão: seria então a opinião da maioriaa 
opinião pública? Não. De acordo com Azambuja (2008, p.297), a opinião da 
maioria só será opinião pública, quando a minoria se submete a ela sem o uso 
 
15 
 
da força. Para isso, é conveniente existir um acordo entre minoria e maioria 
sobre a legitimidade da última em impor seu modo de pensar à sociedade. Mas 
se a opinião da maioria é caracterizada como um crime aos olhos da minoria, 
uma situação intolerável, digna de ser repelida pelo uso da força, então, para 
Azambuja, já não se pode considerar a opinião da maioria como opinião 
pública. 
Diversos autores tentaram definir o que seria opinião pública, porém, 
como reconhecido por Steinberg, citado por Sena (2007, p.271), “opinião 
pública não é facilmente susceptível de definição científica. É um subproduto 
de processos educacionais bem como do crescimento dos meios de 
comunicação de massa”. 
Novelli (1999, p.103), em sua tese “Imagens Cruzadas: Opinião Pública 
e Congresso Nacional”, esquematiza quatro pontos que dificultam a 
conceituação da opinião pública segundo Figueiredo e Ceverllini (1995). 
Resumidamente, são eles: (1) os fenômenos da opinião pública podem 
pertencer a diversas áreas do conhecimento, como Sociologia, Comunicação, 
Ciência Política, entre outros; (2) a expressão “opinião pública” faz parte de um 
conjunto de conceitos considerado clássicos para algumas ciências, como 
Ciência Política; (3) a amplitude da ideia sobre opinião pública faz com que 
qualquer conceituação se torne limitada; e (4) a grande vinculação da opinião 
pública às pesquisas de opinião não colabora para conceituar um fenômeno 
que é anterior a ascensão das pesquisas de opinião. 
Apesar de toda a dificuldade em se definir opinião pública, será adotado, 
para este trabalho, o conceito cunhado por Figueiredo e Ceverllini (1995): 
todo fenômeno que, tendo origem em um processo de discussão 
coletiva e que se refira a um tema de relevância pública (ainda que 
não diga respeito a toda a sociedade), esteja sendo expresso 
publicamente, seja por sujeitos individuais em situações diversas, 
seja em manifestações coletivas (FIGUEIREDO; CERVERLLINI 1995, 
p.116). 
Para todos os efeitos, diante da falta de consenso entre os autores sobre 
o conceito de opinião pública, e a necessidade de prosseguirmos o trabalho, 
cremos que os conceitos aqui refletidos são suficientes para finalizar a 
explanação sobre a ideia de opinião pública. 
 
16 
 
1.2 Democracia e opinião pública 
Retomando a associação da Democracia ao conceito de opinião pública, 
temos por Democracia, também denominada de governo popular ou governo 
de opinião (AZAMBUJA, 2008, p.294), um regime político em que predomina a 
liberdade de imprensa, o respeito aos direitos civis e constitucionais, liberdade 
de organização e expressão do pensamento político, eleições livres, entre 
outras características. A partir do século XX, a opinião pública, tal como vista 
no tópico anterior, ganha expressividade na forma de governar dos políticos 
eleitos, uma vez que eles buscam na opinião pública uma fonte de legitimação 
política (NOVELLI, 1999, p.101). 
Compreendido, inicialmente, o elo de união entre a opinião pública e a 
democracia, podemos afirmar, de acordo com Amaral (2000, p.197), que “tem-
se, consensualmente, como pré-requisito da democracia representativa, a 
existência de uma opinião pública autônoma servida por meios de 
comunicação de massas antes de tudo livres, isentos, ou plurideológicos ou 
não-uniformes, ou não-unilaterais”. Essa é a condição ideal para existir uma 
opinião pública, pois “só existe opinião pública, se houver informação, acesso 
aos mais diversos assuntos que porventura interessam aos cidadãos” (SENA, 
2007, p.295). 
Por outro lado, Azambuja (2008, p.298) afirma que 
 
Para que haja opinião pública e, portanto, para que exista 
democracia, é necessária uma certa homogeneidade social, e o 
ambiente mais favorável é a nação. Esta supõe uma comunidade 
espiritual entre seus membros, uma unidade moral e política sobre a 
qual as divergências de opinião são como ondas que somente agitam 
a superfície. Quando o povo está subdividido em facções inimigas e 
irreconciliáveis, que pensam de modo diverso sobre as linhas 
fundamentais e os problemas essenciais do Estado, e não estão 
dispostas a se respeitarem mutuamente, não se pode formar uma 
opinião pública. Assim, também, quando os indivíduos e os grupos se 
desinteressam absolutamente dos problemas coletivos, quando cada 
um cuida exclusivamente dos próprios interesses e ignora e descura 
do interesse geral, não há opinião pública, nem haverá democracia. 
 
Podemos concluir que para existir opinião pública em regime 
democrático deverá simultaneamente haver o interesse da população sobre os 
problemas essenciais do Estado; o acesso à informação de forma livre e isenta 
 
17 
 
para o conhecimento desses problemas; e certa homogeneidade social para a 
obtenção de uma unidade moral e política na sociedade. 
1.3 Mídia e opinião pública 
Os estudos contemporâneos sobre o fenômeno da Opinião Pública não 
desconsideram a influência da mídia sobre a primeira. Aliás, como citado no 
tópico anterior, é por meio da mídia que o cidadão de uma sociedade 
democrática adquire conhecimento sobre os assuntos pautados pela opinião 
pública. Entretanto, a mediação realizada entre os meios de comunicação e a 
sociedade se apresenta um tanto quanto problemática, uma vez que não há 
como controlar a influência dessa mediação sobre a informação e a recepção 
da mensagem em cada indivíduo. 
Além disso, não se pode falar em acesso a informação neutra para a 
formação de uma opinião própria. Acerca da questão da neutralidade da 
informação e dos meios de comunicação, Sena (2007, p.273) afirma que 
os media não são simples veículos neutros da informação 
transmitida, pois fazem um exigente trabalho de enquadramento 
temático das questões que divulgam ao público, mas nem sempre 
informam atribuindo a mesma importância aos factos que as fontes 
enfatizam, sobretudo as mais próximas das elites políticas ou mesmo 
segundo os critérios de interesse e exigência públicos. 
Através dos interesses midiáticos, os acontecimentos angariam posição 
de destaque no meio social e se tornam pertinentes de obter interpretação e 
espaço dentro da opinião pública. O reconhecimento da mídia sobre um fato e 
a sua publicitação permite que haja, além de espaço, uma formação da opinião 
pública sobre ele. 
Todavia, não se pode creditar somente à imprensa a formação da 
opinião pública, de acordo com Sena (2007, p.293), as investigações 
realizadas pelos estudiosos sobre o tema demonstraram efeitos pouco 
significativos. A relação entre as questões sociais tratadas pela mídia e “o 
grau/ordem de importância atribuída pelo público-receptor dessas mensagens 
mediáticas, foi um dos grandes estudos que fez catapultar a ideia de que os 
media estabeleciam uma agenda temática e com isso influenciavam a opinião 
pública” (SENA, 2007, p.293). Ou seja, é a partir da agenda midiática que se 
pode verificar a influência da mídia sobre a opinião pública. Segundo a autora, 
 
18 
 
a agenda midiática está subdividida em três tipos: a agenda da mídia (agenda 
setting), a agenda das políticas públicas que é a dos atores políticos e a 
agenda dos interesses dos cidadãos ou da opinião pública. 
Para fins didáticos nos deteremos apenas sobre o conceito de agenda 
setting, visto que não será necessário, para os objetivos desse trabalho, 
entender o que é a agenda das políticas públicas; o conceito de opinião pública 
já foi citado nos tópicos anteriores. 
A teoria do agendamento ou agenda setting, bastante debatida entre os 
estudiosos da Comunicação, defende que “os consumidores de notícias 
tendem a considerar mais importantes os assuntos que são veiculados na 
imprensa, sugerindo que os meios de comunicação agendam nossas 
conversas” (PENA, 2015, p.142). Para essa teoria,a mídia não persuade o 
consumidor, mas influencia na formação e maneira como as pessoas 
apreendem as informações e seu conhecimento sobre o mundo. Posto que 
muitas pessoas têm a mídia como única fonte de informação sobre 
acontecimentos do mundo, são os veículos de comunicação que criam as 
imagens desses acontecimentos na mente delas, constituindo, assim, a ligação 
das pessoas com a realidade. 
A agenda setting propõe entender qual o impacto acumulativo da 
exposição desses consumidores a essa representação produzida pela mídia 
sobre a realidade. Os estudos baseados nessa teoria mencionam a confluência 
entre a agenda midiática e a agenda da opinião pública. “Entretanto, seus 
objetivos não são verificar mudanças de voto ou de atitude, mas sim a 
influência da mídia na opinião dos cidadãos sobre que assuntos devem ser 
prioritariamente abordados pelos políticos” (PENA, 2015, p.144). Isso quer 
dizer que, a relevância de um assunto na pauta da agenda pública cresce na 
medida em que aumenta a cobertura da mídia sobre o mesmo tema. 
Dessa forma, podemos concluir que a influência da mídia sobre a 
opinião pública não se dá diretamente, como na teoria da agulha hipodérmica, 
mas gradativa e acumulativamente, sendo a exposição frequente e cotidiana 
aos assuntos pautados nos veículos de comunicação determinante para o seu 
agendamento na pauta da opinião pública. 
 
19 
 
A ação da mídia nessa representação da realidade social forma a cultura 
e age sobre ela. No livro Teoria do Jornalismo, Felipe Pena (2015, p.145) cita 
três características básicas dessa ação segundo Neumann. A primeira é a 
acumulação, que discorre sobre a capacidade da mídia para criar e manter a 
relevância de um tema; o segundo é a consonância, em que as semelhanças 
nos processos produtivos de informação são mais significativas que as 
diferenças; e a terceira fala sobre a onipresença, que trata do consentimento 
do público em a mídia estar em todos os lugares, reconhecendo também a sua 
influência. 
As características identificadas por Neumann se relacionam com o 
descrito por Marilena Chauí em sua obra “Simulacro e Poder: uma análise da 
mídia”. Na obra, Chauí disserta sobre o fenômeno contemporâneo da 
personalização da opinião pública e da espetacularização do real. Chauí, 
citando Cristopher Lash, indica que os mass media não atribuem mais 
relevância as categorias de verdade e falsidade, mas as categorias de 
credibilidade, plausibilidade e confiabilidade. A autora descreve que “os fatos 
cederam lugar a declarações de ‘personalidades autorizadas’, que não 
transmitem informações, mas preferências, as quais se convertem 
imediatamente em propaganda” (CHAUÍ, 2006, p. 8). 
É necessário entender como o apoio para a credibilidade e 
confiabilidade é criado, pois existe uma substituição da informação pelas 
preferências das chamadas “personalidades”. De acordo com Chauí, o apelo à 
intimidade, à personalidade e à vida privada são fatores que possuem um 
caráter de controle da ordem social, e explica 
As relações interpessoais, as relações intersubjetivas e as relações 
grupais aparecem com a função de ocultar ou de dissimular as 
relações sociais enquanto sociais e as relações políticas enquanto 
políticas, uma vez que a marca das relações sociais e políticas é 
serem determinadas pelas instituições sociais e políticas, ou seja, 
são relações mediatas, diferentemente das relações pessoais, que 
são imediatas, isto é, definidas pelo relacionamento direto entre 
pessoas, e por isso mesmo nelas os sentimentos, as emoções, as 
preferências e os gostos têm papel decisivo. As relações sociais e 
políticas, que são mediações referentes a interesses e a direitos 
regulados pelas instituições, pela divisão social das classes e pela 
separação entre o social e o poder político, perdem sua 
especificidade e passam a operar sob a aparência da vida privada, 
portanto referidas a preferências, sentimentos, emoções, gostos, 
agrado e aversão (CHAUÍ, 2006, p.9). 
 
20 
 
A personalização da informação defendida por Marilena Chauí tem 
relação com a primeira característica descrita por Neumann, da acumulação, 
pois, nesses casos, a mídia tem a capacidade de criar o interesse sobre temas 
da vida privada, focando em sentimentos e emoções para ocultar questões 
políticas. Há, ainda, relação com a característica da onipresença, sendo 
permitido que a mídia esteja presente em todos os lugares, inclusive na vida 
privada. 
De acordo com Chauí, a consequência dessa personalização se reflete 
diretamente sobre a opinião pública, “em lugar da opinião pública, tem-se a 
manifestação pública de sentimentos” (CHAUÍ, 2006, p.10). No texto, ela faz 
menção as “sondagens de opinião” e relata que esse tipo de pesquisa não 
busca a expressão racional de interesses, direitos ou opiniões, mas as 
respostas não-formuladas e não refletidas criticamente, baseadas apenas nos 
sentimentos, nos gostos, nas predileções de cada persona. 
Com isso, podemos perceber três modificações ocorridas com a ideia e 
a prática da opinião pública, Chauí os intitula de deslocamentos. O primeiro é a 
“substituição da idéia de uso público da razão para exprimir interesses e 
direitos de um indivíduo, um grupo ou uma classe social pela idéia de 
expressão em público de sentimentos, emoções, gostos e preferências 
individuais” (CHAUÍ, 2006, p. 12). O segundo se trata da substituição do 
direito das pessoas de opinar individual e coletivamente, sendo essas 
opiniões expressadas por personalidades ou “formadores de opinião”, como 
intelectuais, artistas e jornalistas. O terceiro fala sobre a formação e mudança 
na forma de ocupação do espaço da opinião pública pelos grandes oligopólios 
de comunicação a nível internacional, que se constituíram sobre a mudança 
na relação dos meios de comunicação com o advento da internet e as 
tecnologias digitais. 
Chauí acredita que esses três deslocamentos concomitante a 
concentração do poder econômico midiático, a nível global, foi responsável 
por modificações no jornalismo e na sua rotina de trabalho. Esses 
conglomerados concentram os meios de comunicação tradicionais e digitais 
(impresso, rádio, TV e internet) e possuem uma relação econômica com o 
jornalismo, considerando o custo-benefício. Com os meios digitais, o fazer 
 
21 
 
jornalístico se tornou mais ágil, levando o jornalista a procurar meios de 
apuração rápidos. A consequência desse novo hábito de produção é um 
jornalismo inexato, apoiado em pesquisas sem profundidade (devido ao 
pouco tempo de produção) e em personalidades que ancorem as falas das 
matérias jornalísticas. “Rápido, barato, inexato, partidarista, mescla de 
informações aleatoriamente obtidas e pouco confiáveis, não-investigativo, 
opinativo ou assertivo, detentor da credibilidade e da plausibilidade, o 
jornalismo se tornou protagonista da destruição da opinião pública” (CHAUÍ, 
2006, p.14). 
 
22 
 
2 JORNALISMO E POLÍTICA 
Como visto no capítulo anterior, a representação apresentada à 
população de uma sociedade democrática se dá por meio dos veículos de 
comunicação. Vimos também que para validar suas atitudes, muitos 
governantes recorrem à opinião pública. Sendo assim, é necessário reconhecer 
o papel fundamental da mídia na mediação entre os interesses políticos e os da 
sociedade. Segundo Lima (2004, p.176), a mídia tem se transformado em 
“palco e objeto privilegiado das disputas pelo poder político na 
contemporaneidade”, isso é resultado da onipresença dos meios de 
comunicação, consentida pela maioria da população, proporcionando ao 
jornalismo o feito de ser a praça social onde os fatos políticos são veiculados e 
onde a notícia aparece como equivalente a realidade (BARRETO, 2006, p.12). 
Outra questão relevante para discutir a relação entre jornalismo e 
política, é considerar a centralidade da mídia na sociedade, conforme Miguel 
(2002), é necessário “o reconhecimento de quea mídia é um fator central da 
vida política contemporânea”. Amplamente discutida por Lima (2004), a noção 
de centralidade, segundo ele, está sendo aplicada nas ciências sociais 
igualmente para pessoas, instituições e ideias-valores. 
Para considerar a centralidade da mídia em uma sociedade é necessário 
existir um sistema nacional de telecomunicações (impresso, internet, rádio e 
televisão) consolidado. De acordo com Lima (2004), a maioria das sociedades 
contemporâneas estão centradas na mídia; ela possibilita a construção de 
conhecimento público acerca das tomadas de decisões por parte dos seus 
membros nas diferentes esferas da atividade humana. Em decorrência disso, 
Lima destaca que 
o papel mais importante que a mídia desempenha decorre do poder 
de longo prazo que ela tem na construção da realidade através da 
representação que faz dos diferentes aspectos da vida humana (...) e, 
em particular, da política e dos políticos. É através da mídia – em sua 
centralidade – que a política é construída simbolicamente, adquire um 
significado (p.51). 
Segundo Novelli (1999), cada vez mais a comunicação age como ator e 
instituição política. “O jornalismo surge como campo interpretativo da 
atualidade e loccus especial do confronto político” (p.123). Com base nisso e 
na citação de Lima (2004) destacada acima, podemos afirmar que o jornalismo 
 
23 
 
político ao tentar reconstruir, diariamente, a realidade dos acontecimentos do 
cenário político, sejam esses relacionados a medidas ou a pessoas públicas, 
se torna o campo interpretativo e local onde se realiza o confronto político 
perante a sociedade. 
Relacionados à centralidade da política nas sociedades democráticas, 
principalmente em relação à situação brasileira, estão alguns pressupostos 
defendidos por Lima. Um deles considera que a mídia está substituindo os 
partidos políticos nas suas funções mais tradicionais. A primeira substituição 
acontece quando a mídia passa a exercer a função de mediadora entre 
candidatos e eleitores na corrida eleitoral. Lima acrescenta que outras funções 
dos partidos políticos foram absorvidas pela mídia, como 
(a) definir a agenda dos temas relevantes para a discussão na esfera 
pública, (b) gerar e transmitir informações políticas, (c) fiscalizar a 
ação das administrações públicas, (d) exercer a crítica das políticas 
públicas, (e) canalizar as demandas da população junto ao governo 
(LIMA, 2004, p.191). 
Atribui-se também a mídia uma crescente “personalização” da política, 
dando preferência a cobertura jornalística dos candidatos e não dos partidos. 
Destarte, a política, o processo político e as disputas políticas estariam sendo 
representadas por pessoas (políticos) e não por propostas políticas alternativas 
(partidos) (LIMA, 2004, p.52). 
Considerando que o contato feito entre representantes e representados 
em uma democracia é mediado pela mídia, essa mesma mídia influencia o 
agendamento da opinião pública e também substitui os partidos políticos em 
algumas de suas funções perante a sociedade, é perceptível certa adaptação 
por parte dos políticos a prática jornalística. Weber (2004, p. 266) acredita que 
“todos os sujeitos políticos cobiçam a aprovação pública, tornando-se 
dependentes de outras visibilidades não específicas do campo político”. Por 
consequência, os políticos estão sempre buscando construir uma boa imagem 
junto aos veículos de comunicação e, para isso, eles utilizam diversas 
estratégias a fim de tentar controlar as impressões da audiência (ALVERNE; 
MARQUES, 2013). 
As estratégias as quais Alverne e Marques se referem, foram descritas 
por Weber (2004), a autora afirma que a “imagem pública é uma estratégia de 
‘visibilidade de resultados’”, e completa que para concretizar essa visibilidade 
 
24 
 
(...) cada instituição e cada sujeito político mantém um sistema 
estratégico, administrado por especialistas, com objetivo de 
conquistar e produzir opiniões públicas e privadas, apoio, adesões, 
participação direta e indireta; geração de votos; aquisição de objetos 
e idéias; ocupação de espaços informativos e relações com as 
mídias. Para tanto, são construídas estruturas de produção em série 
de informações, propaganda eventos, discursos e produtos da 
simbologia da política, assim como planejados os modos de 
relacionamento com as mídias e de aferição de opiniões. (WEBER, 
2004, p.267). 
De acordo com Weber (2004), a constituição da imagem pública é 
mantida como “fator vital à visibilidade e reconhecimento de instituições e 
‘sujeitos da política’ (partidos, governos, políticos, ideologias, governantes)” 
(p.260). A discussão sobre a imagem pública é indispensável, uma vez que é 
inerente ao exercício da política e concerne à coisa pública (p.262). Weber 
também se refere a imagem pública da política quanto dispositivo acionado 
pelos 
pactos e disputas de poder, entre sujeitos, instituições e mídias, é o 
fator axial de funcionamento da comunicação contemporânea, entre 
organizações, indivíduos e sociedades que necessitam de visibilidade 
favorável nos planos pessoal, institucionais, político e mercadológico 
(Weber, 2004, p.261-262). 
Essas disputas de poder são abordadas por Alverne e Marques (2013) 
quando afirmam que a Comunicação e a Política guardam certa autonomia e 
influência um sobre o outro. Suas relações se mostram complexas e envolvem 
negociações, tensões e barganhas. Barreto (2006, p.14) corrobora com esse 
pensamento no sentido de acreditar que o relacionamento entre jornalismo e 
política é historicamente polêmico e intercomplementar, está envolto em 
circunstâncias de pressões e contrapressões de bastidores “bem como nos 
interesses econômicos das empresas jornalísticas, ao mesmo tempo em que o 
imperativo de informar bem é socialmente cobrado”. 
O interesse econômico também é um fator relevante no jornalismo 
político, como afirma Barreto (2006, p.13), “toda essa teia que se estabelece 
entre jornal/jornalismo e poder agrega interesses de parte a parte, além de 
preocupações mercadológicas, já que a notícia é um produto”. A 
monopolização dos veículos de comunicação reflete essas preocupações 
mercadológicas, uma vez que, em um sistema capitalista, o jornalismo 
depende diretamente da quantidade de anunciantes. Sobre isso, Miguel (2002) 
explica que a monopolização do mercado de comunicação implica em uma 
 
25 
 
uniformização dos produtos jornalísticos, principalmente pelo fato de que os 
grandes órgãos de mídia compartilham da mesma “visão de mundo”, isso 
“inclui em especial o compromisso com a ordem capitalista” (p.164). Sobre a 
concentração midiática, Marilena Chauí expõe que 
(...)os meios de comunicação tradicionais (jornal, rádio, cinema, 
televisão) sempre foram propriedade privada de indivíduos e grupos, 
não podendo deixar de exprimir seus interesses particulares ou 
privados, ainda que isso sempre tenha imposto problemas e 
limitações à liberdade de expressão (...). Hoje, porém, os dez ou doze 
conglomerados de alcance global controlam não só os meios 
tradicionais, mas também os novos meios eletrônicos e digitais (...) 
(CHAUÍ, 2006, p.13). 
Em complemento a Chauí, Miguel (2002) expressa que a convergência 
tecnológica foi a responsável pelo agrupamento de indústrias de informação e 
entretenimento, de aparelhos eletrônicos e da telefonia em 
megaconglomerados, que também possuem participação em outros ramos de 
produção. “As empresas de mídia são em grande parte dependentes de outras 
grandes firmas capitalistas, suas anunciantes” (p.164), essa afirmação sintetiza 
onde queremos chegar ao falar dos interesses mercadológicos sobre a relação 
jornalismo e política. Com isso, recorremos a Miguel, mais uma vez, ao alegar 
que “num ambiente de acerbo conflito de interesses, é inimaginável que os 
meios de comunicação sejam os porta-vozes imparciais do debate político” 
(p.161). 
2.1 Cenário de Representação Política (CR-P) 
Para melhor compreendermoscomo se organiza a relação jornalismo e 
política, discorreremos acerca do conceito de Cenário de Representação 
Política (CR-P) e suas hipóteses. 
Estudado por Venício A. de Lima (2004), o Cenário de Representação 
Política está situado dentro de uma tradição mais ampla dos estudos nas 
ciências humanas. Para isso, o autor se refere aos conceitos de imaginário 
social1 e da cultura política2, antes de recorrer ao conceito gramsciano de 
 
1 Segundo Baczko (1985, p.299-314, passim, apud, LIMA, 2004, p.179): “Os 
imaginários sociais constituem [...] pontos de referência no vasto sistema simbólico que 
qualquer coletividade produz e através do qual [...] ela se percebe, divide e elabora os seus 
próprios objetivos. [...] O imaginário social é uma peça efetiva e eficaz do dispositivo de 
controle da vida coletiva e, em especial, do exercício da autoridade e do poder. [...] A influência 
 
26 
 
hegemonia3. Entre esses conceitos, Lima toma a hegemonia como referência 
teórica básica para situar o Cenário de Representação Política (CR-P). 
Faz-se necessário analisar a expressão Cenário de Representação 
Política para melhor compreendê-la. Dessa forma, temos a palavra “cenário” 
que, para o autor, significa espaço onde ocorre algum fato, por consequência é 
possível afirmar que a hegemonia se decompõe em diversos cenários 
específicos que incorporam todas as suas características. Os cenários “se 
constituem e se realizam no espaço em que o sentido da vida e das coisas é 
construído, isto é, no espaço das representações” (LIMA, 2004, p. 182). 
As representações, de acordo com Lima, podem se “referir apenas à 
existência de uma realidade externa aos meios pelos quais ela (realidade) é 
 
dos imaginários sociais sobre as mentalidades depende em larga medida da difusão destes e, 
por conseguinte, dos meios que asseguram tal difusão. Para garantir a dominação simbólica é 
de importância capital o controle destes meios, que correspondem a outros tantos instrumentos 
de persuasão, pressão e inculcação de valores e crenças. [...] os mass media fabricam e 
emitem, para além das informações centradas na atualidade, [...] os imaginários sociais: as 
representações globais da vida social, dos seus agentes, instâncias e autoridades [...]". 
2 Almond (1990, p.143-44, apud, LIMA, 2004, p.179-80) define a teoria da cultura 
política nos seguintes quatro pontos: “(1) Ela consiste em um conjunto de orientações 
subjetivas relativamente à política numa população nacional ou um subconjunto de uma 
população nacional. (2) Ela tem componentes cognitivos, afetivos e avaliativos: ela inclui 
conhecimento e crenças a respeito da realidade política, sentimentos com relação à política e 
adesão a valores políticos. (3) O conteúdo da cultura política é o resultado da socialização 
infantil, da educação, da exposição à mídia e de experiências adultas com a estrutura e o 
desempenho social, econômico e do governo. (4) A cultura política afeta a estrutura e o 
desempenho político e governamental; os constrange, mas certamente não os determina. As 
setas causais entre cultura e desempenho e estrutura apontam nos dois sentidos”. 
3 Hegemonia, para Williams (1979, p.113 e 115-16, passim, apud, LIMA, 2004, p.180-
81), “é todo um conjunto de práticas e expectativas sobre a totalidade da vida: nosso senso e 
alocação de energia, nossa percepção de nós mesmos e nosso mundo. É um sistema vivido - 
constituído e constituidor de significados e valores que, ao serem experimentados como 
práticas, parecem confirmar-se reciprocamente. (...) Em outras palavras, Hegemonia é no seu 
sentido mais forte uma 'cultura', mas uma cultura que tem também de ser considerada como o 
domínio e a subordinação vividos de determinadas classes. Uma Hegemonia vivida é sempre 
um processo. (...) É um complexo realizado de experiências, relações e atividades, com 
pressões e limites específicos e mutáveis. (....) Além disso, ela não existe apenas 
passivamente como forma de dominação. A Hegemonia tem que ser continuamente renovada, 
recriada, defendida e modificada. Também é continuamente resistida, limitada, alterada e 
desafiada por pressões que não são as suas próprias pressões. Temos então de acrescentar 
ao conceito de Hegemonia o conceito de contra-hegemonia e de Hegemonia alternativa que 
são elementos reais e persistentes da prática". 
“É importante assinalar, todavia, que a definição de Williams, ao destacar a dimensão 
simbólica, não abarca características da hegemonia como a liderança intelectual e moral da(s) 
classe(s) hegemônica(s); o consenso como forma de dominação política mais eficaz do que a 
coerção; e a articulação hegemônica como resultado de alianças entre classes e/ou frações de 
classe. Essa última característica é que possibilita à hegemonia constituir-se naquilo que 
Gramsci chamou de "equilíbrio instável" e que lhe dá uma certa estabilidade ou inércia relativa, 
diferentemente dos CR-PS que, apesar de se constituírem como partes do hegemônico, sendo 
predominantemente simbólicos, são, portanto, menos duradouros” (LIMA, 2004, p.181). 
 
27 
 
representada (teoria mimética)” ou podem se referir não só a realidade 
refletida, mas também “à constituição desta mesma realidade”. Assim, para o 
autor, “representação significa não só representar a realidade, mas também 
constituí-la”. Desse modo, temos que o CR-P é 
é o espaço específico de representação da política nas ‘democracias 
representativas’ contemporâneas, constituído e constituidor, lugar e 
objeto da articulação hegemônica total, construído em processos de 
longo prazo, na mídia e pela mídia, sobretudo na e pela televisão 
(LIMA, 2004, p.182). 
O CR-P se diferencia do conceito de hegemonia ao enfatizar o “papel 
central da mídia na construção do hegemônico” (LIMA, 2004, p.186). O autor 
ressalta o caráter da mídia em ser “constituidor da” e “constituído pela” 
realidade e completa 
as ‘representações’ que a mídia faz da ‘realidade’ (media 
representations) passam a constituir a própria realidade. Aqui está o 
fundamento para a hipótese de que o CR-P, construído na e pela 
mídia, define e delimita o próprio espaço da realidade política no 
mundo contemporâneo. 
O conceito de CR-P, definido por Lima, se constitui em três 
pressupostos que formam a base para seu entendimento, são eles: (1) a 
existência de uma sociedade centrada na mídia; (2) o exercício de uma 
hegemonia; e (3) a existência da televisão como meio dominante. 
O primeiro pressuposto retoma a centralidade da mídia nas sociedades 
contemporâneas já abordada anteriormente, todavia é preciso aliar esse 
pressuposto ao conceito de hegemonia. Lima (2004) reflete que os meios de 
comunicação eletrônicos transformaram a mídia no “‘aparelho privado de 
hegemonia’ mais eficaz na articulação hegemônica (...), na capacidade de 
construir/definir os limites do hegemônico (da realidade) dentro dos quais 
ocorre a disputa política” (p.191). O CR-P atribui a mídia, principalmente a 
televisão, “um papel central na tarefa contemporânea de ‘cimentar e unificar’ o 
bloco social hegemônico” (p.192). 
O segundo pressuposto está relacionado ao exercício da hegemonia e 
implica uma “sociedade ‘ocidentalizada’, com alto grau de socialização política; 
o Estado amplia-se, constituindo-se de uma sociedade política (aparelho 
coercitivo) e de uma sociedade civil” (p.193). O exercício da hegemonia 
também implica não ser possível ser “dominante antes de ser dirigente, isto é, 
 
28 
 
sem que se detenha o consentimento da maioria da população”, a partir disso, 
a “conquista do consenso hegemônico passa a ser o problema político central”. 
Esse pressuposto acarreta também em uma permanente possibilidade de que 
“classes ou frações de classe protagonizem disputas internas (intra-
hegemônicas) e/ou externas (contra-hegemônicas) pela direção e pelo 
consenso”. O terceiro pressuposto não será abordado, uma vez que, não é 
necessário para o entendimento do conceito nem para osobjetivos deste 
trabalho. 
Isto posto, podemos abordar as duas hipóteses defendidas por Lima que 
se referem ao conceito de CP-R. Mas antes será necessário explicar os 
conceitos de traços permanentes e constelações simbólicas. O primeiro 
conceito se refere aos elementos que estão presentes na mídia, mas que são 
anteriores a ela, como os que formam o nosso imaginário social e a nossa 
cultura política. Esses elementos são estruturais e constituem “os traços 
permanentes (residuais, persistentes) de nossa formação cultural” (LIMA, 2004, 
p.196). Já as constelações simbólicas são elementos transitórios que “evocam 
traços culturais profundamente arraigados na tradição de nosso imaginário 
social e de nossa cultura política” (p.197). As constelações assumem uma 
“posição temporária de dominância dentro do CR-P sem que se altere a 
correlação de forças básica que constitui a sustentação material da hegemonia 
na sociedade civil”. 
Apresentados os conceitos de traços permanentes e constelações 
simbólicas, podemos observar as duas hipóteses apresentadas por Lima 
(2004) que se referem ao CR-P. 
PRIMEIRA HIPÓTESE: O CR-P dominante, embora não prescreva os 
conteúdos da prática política, demarca os limites dentro dos quais as 
idéias e os conflitos políticos se desenrolam e são resolvidos, 
podendo neutralizar, modificar ou incorporar iniciativas opostas ou 
alternativas; SEGUNDA HIPÓTESE Um candidato em eleições 
nacionais e majoritárias dificilmente vencerá as eleições se não 
ajustar sua imagem pública ao CR-P dominante. A alternativa é a 
construção de um CR-P contra-hegemônico ou alternativo (p.198). 
Sobre as duas hipóteses, Lima aponta que a correta “identificação de 
constelações simbólicas (elementos transitórios) eventualmente dominantes na 
representação política em uma conjuntura nacional e/ou internacional” é 
decisivo para a compreensão do CR-P em períodos não eleitorais. 
 
29 
 
Já para os períodos eleitorais, Lima faz algumas considerações: (1) “As 
eleições majoritárias nacionais fazem com que os partidos tentem utilizar em 
seu benefício (...) os símbolos e as tradições culturais nacionais para que 
sejam identificados como mais próximos do CR-P dominante” (p.199); (2) “A 
disputa pela presidência (...) sempre envolve a tentativa de manipulação de 
símbolos nacionais (...). O CP-R será mais adequado a eleições presidenciais 
em regimes presidencialistas” onde a figura de principal líder do executivo está 
ligada a uma só pessoa (p.200); (3) Os candidatos em disputa eleitoral 
representam interesses em conflitos na “competição intra-hegemônica entre 
classes e/ou frações de classe do bloco histórico no poder” ou entre “classes 
e/ou frações de classe do bloco histórico que defendem a manutenção da 
hegemonia dominante” e “classes e/ou frações de classe que buscam (na luta 
contra-hegemônica) uma nova articulação hegemônica (ou alternativa)”; (4) A 
competição citada no tópico anterior se torna "mais facilmente identificável se 
houver polarização de candidatos nas sociedades com sistemas partidários 
historicamente frágeis (como é o caso brasileiro) ou em decadência” (p.201); 
(5) Deve-se considerar o impacto desestabilizador ou de reforço que a 
conjuntura nacional e/ou internacional pode provocar na relação do CR-P 
dominante com o processo eleitoral, isso ocorre sempre que a conjuntura for 
capaz de trazer à tona “elementos ‘permanentes’ preexistentes no imaginário e 
na cultura política”. 
Assim, a análise dos efeitos do jornalismo político e suas implicações 
sobre a opinião pública vai além do agendamento de pautas, mas também 
influencia na popularidade de candidatos e políticos, no resultados de eleições 
e plebiscitos. Além de ser peça primordial da promoção de pessoas públicas no 
âmbito da sociedade. 
 
30 
 
3 DISCURSO POLÍTICO 
Na obra “Discurso Político”, Patrick Charaudeau (2017) situa aquilo que 
ele chama de “palavra política” na convergência das relações entre linguagem, 
ação, poder e verdade. O autor acredita que a palavra política “se inscreve em 
uma prática social, circula em certo espaço público e tem qualquer coisa que 
ver com as relações de poder que aí se instauram” (p.16). O campo político 
possui relações de força em que, de acordo com Charaudeau, é possível 
determinar quando são tratadas concomitantemente e em interação “as 
questões da ação política, de sua finalidade e de sua organização; as 
instâncias que são partes interessadas nessa ação; os valores em nome dos 
quais é realizada essa ação”. 
A palavra política é uma prática social pois é formada pela linguagem e 
ação, ambas possuem uma relação de autonomia uma para com a outra, mas 
também de interdependência recíproca e não simétrica. 
Toda linguagem emana de um sujeito que apenas pode definir-se em 
relação ao outro, segundo um princípio de alteridade (sem a 
existência do outro, não há consciência de si). Nessa relação, o 
sujeito não cessa de trazer o outro para si, segundo um princípio de 
influência, para que o outro pense, diga ou aja segundo a intenção 
daquele. Entretanto, se esse outro puder ter seu próprio projeto de 
influência, os dois serão levados a gerenciar sua relação segundo um 
princípio de regulação. Princípios de alteridade, de influência e de 
regulação são fundadores do ato de linguagem que o inscrevem em 
um quadro de ação, em uma praxiologia do agir sobre o outro (p.16). 
Diante disso, Charaudeau afirma que todo ato de linguagem “está ligado 
à ação mediante relações de força que os sujeitos mantêm entre si” (p.17), 
essas relações constroem o vínculo social. 
A ação política determina, idealmente, a vida social pois visa a organizar 
a sociedade para a obtenção do bem comum, mas permite que a comunidade 
tome decisões coletivas (CHARAUDEAU, 2017). É preciso que os indivíduos 
que compõem a comunidade entendam-se para a elaboração de um projeto 
comum, decorrente de um objetivo para alcançar o bem comum. A elaboração 
desse projeto pressupõe a existência de um espaço de discussão, onde serão 
elaborados, além do projeto, os meios escolhidos que serão utilizados para tal 
fim. Em seguida, é necessário que um compromisso de ação seja firmado por 
um representante do coletivo e que ele utilize os meios já discutidos por 
aqueles que estão sendo representados. Uma vez como representante do 
 
31 
 
coletivo, este será “obrigado a prestar contas de seus atos perante a 
coletividade, que deve prever mecanismos de controle dos atos praticados por 
seus representantes” (p.18). Posto isto, Charaudeau completa que 
Daí resulta uma organização política que compreende um espaço de 
discussão dos objetivos a definir (tanto nos partidos, sindicatos e 
outros grupos associativos quanto nas mídias), um modo de acesso à 
representação do poder (eleições) e modalidades de controle (...). Vê-
se que a linguagem não está ausente do desenrolar da ação política, 
já que esse espaço depende de um espaço de discussão. 
Depois dessa explanação sobre a ação política, Charaudeau expõe as 
instâncias implicadas na ação, subdividindo-as em duas: instância política e 
instância cidadã. A primeira “é delegada e assume a realização da ação 
política”, já a segunda “está na origem da escolha dos representantes do 
poder”. A instância política, segundo o autor, encontra-se em contradição, pois 
ela chegou ao poder por uma vontade cidadã, mas 
esta, não estando encarregada dos negócios de Estado, não conhece 
as regras de seu funcionamento e ignora as condições de realização 
da ação política. A instância política, que é de decisão, deve, 
portanto, agir em função do possível, sendo que a instância cidadã a 
elegeu para realizar o desejável (p.19). 
Para o autor, citando Habermas, a instância política está entre dois 
processos opostos: “a produção comunicativa de um poder legítimo [...] e a 
constituição dessa legitimação pelo sistema político, com a qual o poder 
administrativo estabeleceuma relação reflexiva” (1990 apud CHARAUDEAU, 
2017, p.19). O poder administrativo remete às regras da ação política, isso 
implica as “relações de dominação, pois se trata de organizar a ação social, de 
regulá-las por leis e sanções e de evitar ou repelir tudo que poderia se opor a 
essa vontade de agir” (p.22). Já o poder comunicativo busca a dominação 
legítima, “porque é o povo seu iniciador e depositário” (p.22), a dominação 
legítima “se encontra permanentemente ameaçada por uma sanção física 
(golpe de Estado), institucional (derrubada do governo) ou simbólica 
(descrédito)” (p.19). Com base no exposto por acima, concluímos que “ao 
espaço de discussão que determina os valores responda um espaço de 
persuasão no qual a instância política, jogando com argumentos da razão e da 
paixão, tenta fazer a instância cidadã aderir à sua ação”. 
Os valores determinados pelo espaço de discussão citados por 
Charaudeau são, basicamente, as ideias que defendemos no espaço de 
 
32 
 
discussão. As relações entre os indivíduos de uma sociedade determinam um 
conjunto de valores que “desempenham o papel de princípio de decisão e cujo 
domínio seria coletivo” (p.20). A propriedade coletiva do conjunto de valores 
“cria entidades abstratas (Estado, República, Nação) que garantem os direitos 
e deveres dos indivíduos”, esses valores se “agrupam sob a figura de um 
terceiro, de um outro, como uma ideia em que todos são, ao mesmo tempo, 
responsáveis e desapossados”. 
Assim, acrescenta Charaudeau que é “pela existência dos espaços de 
discussão e de persuasão, lugares de construção dos valores dos quais 
dependem a ação, que o campo político é (...) o ‘governo da palavra’, mas 
apenas para uma parte”. Conforme o autor, 
O governo da palavra não é tudo na política, mas a política não pode 
agir sem a palavra: a palavra intervém no espaço de discussão para 
que sejam definidos o ideal dos fins e os meios da ação política; a 
palavra intervém no espaço de ação para que sejam organizadas e 
coordenadas a distribuição das tarefas e a promulgação das leis, 
regras e decisões de todas as ordens; a palavra intervém no espaço 
de persuasão para que a instância política possa convencer a 
instância cidadã dos fundamentos de seu programa e das decisões 
que ela toma ao gerir os conflitos de opinião em seu proveito (p.21). 
Diante dessa afirmação, Charaudeau afirma que “o espaço político é 
fragmentado em diversos espaços de discussão, de persuasão, de decisão que 
ora se recortam, ora se confundem, ora se opõem” (p.23). 
Com isso, passaremos a concepção de poder político que, segundo o 
autor, resulta do diálogo de dois componentes da atividade humana: “o do 
debate de ideias no vasto campo do espaço público, lugar onde se trocam 
opiniões” (p.22) e o “do fazer político no campo mais restrito do espaço político, 
onde se tomam decisões e se constituem atos”. Os dois campos se definem e 
se legitimam reciprocamente, pois exigem processos de regulação que se 
desenvolvem em um jogo de dominação; nessa relação existe uma mistura de 
linguagem e ação, em que a linguagem domina o debate de ideias e a ação 
domina o fazer político. Para ficar mais claro a relação entre os dois campos, 
Charaudeau explana que 
O primeiro é o lugar de uma luta discursiva na qual muitos golpes são 
permitidos (manipulação, proselitismo, ameaças/promessas etc.), 
estando em jogo a conquista de uma legitimidade por meio da 
construção de opiniões; o segundo é o lugar onde se exerce o poder 
de agir entre uma instância política que se diz soberana e uma 
instância cidadã, sendo o desafio o exercício de uma autoridade 
mediante uma dominação feita de regulamentação e de sanção. Vê-
 
33 
 
se, uma vez mais, não apenas como a linguagem se funde à ação, 
mas também como a palavra política é cheia de armadilhas. (...) A 
palavra política deve se debater entre uma verdade do dizer e uma 
verdade do fazer, uma verdade da ação que se manifesta por meio 
de uma palavra de decisão e uma verdade da discussão que se 
manifesta mediante uma palavra de persuasão (ordem da razão) e/ou 
de sedução (ordem da paixão). 
3.1 Setores da ação social 
A política nasceu com o objetivo de organizar a vida dos indivíduos em 
sociedade, para isso exerce várias atividades de regulamentação social, como: 
regular as relações de força, para manter ou pacificar situações de conflitos; 
legislar, decretando dispositivos que orientem o comportamento dos indivíduos 
para garantir o bem comum; e distribuir e repartir tarefas, instituindo um 
sistema de delegação e de representação, mais ou menos hierarquizado, para 
definir os papéis e as responsabilidades em sociedade (CHARAUDEAU, 2017, 
p.27). 
Os três modos de regulação demonstram como a política é “um espaço 
de ação que depende dos espaços de discussão e de persuasão que, para 
serem válidos, devem ser divididos em domínios, pois toda sociedade tem 
necessidade de reconhecer e classificar as trocas realizadas” (p.27). Para a 
organização desses espaços, é necessário, de acordo com Charaudeau, a 
estruturação de setores de ação social, “lugares de organização globalizante 
das relações de força que mantêm, entre elas, relações estreitas. Podem ser 
determinados quatro principais: o jurídico, o econômico, o midiático, o político” 
(p.28). 
Cada setor tem sua responsabilidade perante a sociedade, segundo o 
autor, o desafio do setor jurídico é regulamentar os conflitos sociais; o desafio 
do setor econômico é regular o mercado; o desafio do setor midiático é 
regulamentar a circulação da informação; e o setor político (e aqui a noção 
enfocada em um sentido restrito) tem como desafio estabelecer regras para a 
governança, distribuindo tarefas e responsabilidades mediante a instauração 
das instâncias legislativas e executivas. “Esses quatro setores, sempre 
mantendo sua finalidade específica, interagem uns com os outros e às vezes 
encontram-se mesmo em relação de interdependência”. Apesar da interação, 
 
34 
 
cada setor age e é estruturado segundo um dispositivo próprio, por isso é 
possível distingui-lo, “assim, estamos autorizados a autonomizar o campo do 
político e a descrever seu dispositivo de funcionamento, porém, sem perder de 
vista que os outros campos estão estritamente ligados a ele” (p.30). 
3.2 Discurso político: lugares de fabricação 
Para Charaudeau, todo e qualquer enunciado pode ter um sentido 
político; a situação de comunicação em que o discurso se encontra é que 
determina se ele é político ou não. “Não é o conteúdo do discurso que assim o 
faz, mas é a situação que o politiza” (p.40). Esse mesmo discurso político é 
fabricado e produz sentido conforme os modos de interação e a identidade dos 
participantes desse processo. Assim, o autor distingue três lugares de 
fabricação para o discurso político: a elaboração de um sistema de 
pensamento; o ato comunicativo; e o discurso político como comentário. 
O lugar do discurso político como sistema de pensamento é “resultado 
de uma atividade discursiva que procura fundar um ideal político em função de 
certos princípios que devem servir de referência para a construção das 
opiniões e posicionamentos” (p.40). Já o lugar de fabricação como ato de 
comunicação se refere “aos atores que participam da cena de comunicação 
política (...) Aqui, o discurso político dedica-se a construir imagens de atores e 
a estratégias de persuasão e de sedução, empregando diversos procedimentos 
retóricos”. O discurso político como comentário “não está necessariamente 
voltado para um fim político”. Esse tipo de lugar de fabricação de discurso tem 
mais a ver com a expressão da opinião de um sujeito do que com a 
necessidade de engajamento político. É muito utilizado pelos jornalistas que 
comentam atualidades políticas, sem se engajar diretamente com algum 
posicionamento. Posto isto, Charaudeau afirma que “estes diferentes lugares 
de fabricação do discurso político nãoestão evidentemente separados uns dos 
outros” (p.42). 
Logo, conforme o autor, “falar agora de ‘discurso político’ é tentar definir 
uma forma de organização da linguagem em seu uso e em seus efeitos 
psicológicos e sociais, no interior de determinado campo de práticas” (p.32). 
 
35 
 
Para ficar mais claro, Charaudeau cita Claude Lefort para explicar que o 
fenômeno político é “resultante de várias componentes” (p.45), são elas: os 
fatos políticos (decisões provenientes de autoridades); os fatos sociais (as 
formas como se organizam e se estruturam as relações sociais); os fatos 
jurídicos (como as leis regem o comportamento dos indivíduos em sua vida 
privada e em sociedade); e os fatos morais e psíquicos. A análise do discurso 
prevê que esses componentes deixam traços discursivos. Porém, aquela deve 
ir além de analisar somente as ideias encontradas nos discursos, pois, 
segundo Charaudeau, 
Talvez seja mesmo necessário deixar de crer que são as ideias que 
governam o mundo e precisar que apenas valem pela maneira como 
são transmitidas de uns para outros, pela maneira como circulam 
entre os grupos e como influenciam uns e outros, ganhando em 
contrapartida sua consistência. A política é um campo de batalha em 
que se trava uma guerra simbólica para estabelecer relações de 
dominação ou pactos de convenção. Consequentemente, o discurso 
das ideias se constrói mediante o discurso do poder, o primeiro 
pertencendo a uma problemática de verdade (dizer o Verdadeiro) e o 
segundo a uma do verossímil (dizer ao mesmo tempo o Verdade, o 
Falso e o Possível) (p.46). 
Contudo, na presente pesquisa nos limitaremos a definir discurso 
político, para Patrick Charaudeau, apenas com o exposto acima. Não nos 
aprofundaremos sobre a discussão da questão da Análise do Discurso, pois a 
não se faz necessário para alcançar os objetivos desse trabalho. 
 
36 
 
4 ETHOS POLÍTICO 
O conceito de ethos data da Antiguidade, Aristóteles, em sua obra 
Retórica, já propunha dividir os meios retóricos que exerciam influência sobre o 
auditório em três categorias: o logos, o ethos e o pathos. O primeiro 
corresponde ao domínio da razão e torna possível convencer usando 
argumentos que parecem razoáveis. Os dois últimos pertencem ao domínio da 
emoção, sendo possível sensibilizar e emocionar; a diferença entre os dois 
conceitos é que o ethos é voltado para o orador, para a imagem de si, e o 
segundo é voltado para o auditório. 
Segundo Charaudeau, o ethos se relaciona com a imagem daquele que 
fala, não sendo ela uma propriedade exclusiva do locutor, mas, antes disso, é a 
imagem que o interlocutor atribui ao locutor a partir do que ele diz. “O ethos 
relaciona-se ao cruzamento de olhares: olhar do outro sobre aquele que fala, 
olhar daquele que fala sobre a maneira como ele pensa que o outro o vê” 
(p.115). 
A partir disso, o autor reflete sobre a identidade do sujeito falante, essa 
identidade se apoia em dois componentes, o primeiro é a identidade social do 
locutor, que “dá direito à palavra e que funda sua legitimidade de ser 
comunicante em função do estatuto e do papel que lhe são atribuídos pela 
situação de comunicação”; o segundo componente é a construção da figura do 
que enuncia, “uma identidade discursiva de enunciador que se atém aos papeis 
que ele se atribui em seu ato de comunicação que se impõe a ele e das 
estratégias que ele escolhe seguir”. O sujeito, assim, constrói uma dupla 
identidade baseada naquela que é atribuída psicológica e socialmente e na que 
ele constrói para si. Ele não tem “outra realidade além da permitida pelas 
representações que circulam em dado grupo social e que são configurados 
como ‘imaginários sociodiscursivos’” (p.117). 
O ethos é passível de interpretação, pois não é totalmente voluntário, 
sendo assim, aquilo que o destinatário percebe pode não coincidir com a 
intenção original do locutor, construindo um ethos não desejado, fenômeno que 
acontece frequentemente na comunicação política. 
 
37 
 
Segundo Charaudeau, não se pode dizer que existem marcas 
específicas do ethos, devido aos diversos tipos de comportamentos do sujeito e 
ao conteúdo de suas propostas. E completa 
Não se pode separar o ethos das ideias, pois a maneira de 
apresentá-las tem o poder de construir imagens. (...) Separar as 
ideias do ethos é sempre um álibi que impede de ver que, em política, 
aquelas não valem senão pelo sujeito que as divulga, as exprime e as 
aplica. É preciso que este seja, ao mesmo tempo, crível e suporte de 
identificação à sua pessoa. (p.118). 
Tendo como base o exposto acima, o autor agrupa as figuras identitárias 
do discurso político em duas grandes categorias de ethos, o de credibilidade e 
o de identificação. Para ficar mais fácil a compreensão, está representado os 
dois ethé e suas subdivisões na figura abaixo. 
 
Figura 1 – Ethé de credibilidade e de identificação no discurso político e suas subdivisões. 
(Fonte: CHARAUDEAU, 2017, p. 119-166) 
A seguir, iremos nos aprofundar sobre os ethé caracterizados por Patrick 
Charaudeau (2017). 
4.1 Ethé de credibilidade 
A credibilidade é o resultado da construção de uma identidade discursiva 
pelo sujeito falante a fim de que o outro o julgue como digno de crédito. Para 
 
38 
 
ser assim ser considerado, se tratando de um sujeito político, este deve 
satisfazer três condições, são elas: condição de sinceridade ou transparência – 
se o que ele diz corresponde ao que ele pensa; condição de performance – se 
existem meios de o político pôr em prática o que fala ou promete; e condição 
de eficácia – se o que ele diz e aplica é seguido de efeito (CHARAUDEAU, 
2017). Logo, o ethé de credibilidade é “uma interação entre identidade social e 
identidade discursiva, entre o que o sujeito quer parecer e o que ele é em seu 
ser psicológico e social” (p.137). Dessa forma, “para responder a essas 
condições, o político procura construir para si o ethos de sério, de virtuoso e de 
competente” (p.120). 
4.1.1 Ethos de sério 
O ethos de sério é construído com a ajuda de diversos índices: corporais 
e mímicos; comportamentais; verbais; e que demonstram energia e capacidade 
de trabalho. Esse ethos se constrói igualmente com a ajuda de declarações do 
político a respeito de si mesmo e sobre as ideias que o guiam. Existe um limite 
para que essa imagem de sério não seja percebida de maneira negativa, o que 
Charaudeau chama de limite da austeridade. Para o autor, não é necessário 
que o indivíduo sério se passe por excessivamente austero ou que a seriedade 
seja “interpretada como uma marca de distância, (...) de pessoa altiva, fria e 
despretensiosa” (p.121). 
4.1.2 Ethos de virtude 
O ethos de virtude exige que o político demonstre sinceridade, 
fidelidade, honestidade pessoal (essa imagem, em especial, remete à retidão e 
à sinceridade, tanto na vida pública quanto na vida privada) e lealdade com 
seus adversários. Essa imagem é resultado de uma construção temporal da 
vida daquele que se propõe a parecer/ser virtuoso. O ethos de virtude é 
importante ao político pois se supõe que ele, como representante do povo é 
quem dá o exemplo aos cidadãos. 
Como afirma Charaudeau, o ethos de virtude “(...) é uma resposta a 
expectativas fantasiosas da instância cidadã, na medida em que esta, ao 
delegar um poder, procura fazer-se representar por um homem ou por uma 
mulher que seja modelo de retidão e de honradez, ao menos, em uma visão 
 
39 
 
nobre da política” (p.124). Assim, devem ser reforçados nessa imagem a 
qualidade de ser transparente, ser direto e não se valer de métodos para 
ludibriar os cidadãos. 
4.1.3 Ethos de competência 
O ethos de "competência" exige de seu possuidor, ao mesmo tempo, 
saber e habilidade. Espera-se que ele domine profundamente a área na qual 
exerce sua atividade e também deve provar possuir “os meios, o poder e a 
experiência necessários para realizar completamente seus objetivos,obtendo 
resultados positivos” (p.124). Deve também demonstrar que conhece o modo 
de funcionamento da vida política e saber agir de maneira eficiente. O autor 
explica que “é pela visão do conjunto do percurso de um político que se pode 
julgar seu grau de competência”, dessa forma são evidenciadas por esse 
ethos as características de seu percurso como herança, estudos, funções 
exercidas e experiência adquirida. 
4.2 Ethé de identificação 
As imagens desse ethé são obtidas por meio do afeto social, “o 
cidadão, mediante um processo de identificação irracional, funda sua 
identidade na do político” (p.137). Elas são “destinadas a tocar o maior 
número de indivíduos”, desta maneira, percebendo a heterogeneidade de 
uma sociedade, os políticos se sentem “à vontade” para jogar com valores 
opostos para conquistar essa massa heterogênea. Deste modo, o político 
mostra-se, ao mesmo tempo, “tradicional, mas também moderno; sincero, 
mas igualmente sagaz; poderoso, mas simultaneamente modesto”. É possível 
destacar, dentre as imagens mais recorrentes que esse ethé apresenta, o 
ethos de: potência; caráter; inteligência; humanidade; chefe; e solidariedade. 
4.2.1 Ethos de potência 
O ethos de potência nos remete a uma “força da natureza” (p.138), ele 
pode demonstrar uma figura de virilidade, mas também que o político é capaz 
de exercer uma violência verbal (insultos, ameaças ou bravatas) em relação a 
adversários políticos (CHARAUDEAU, 2017, p.139). Outras figuras mais 
 
40 
 
“brandas” também representam o ethos de potência, como a determinação de 
agir (ser um homem de palavra e de ação) e a proatividade. Esse imaginário 
sempre leva em consideração o contexto social, e o que é considerado bom 
ou ruim para aquela sociedade. 
4.2.2 Ethos de caráter 
O ethos de caráter não pode ser confundido com o de potência. Apesar 
de também se tratar de força, o ethos de caráter se relaciona com a “força do 
espírito”. Esse imaginário é marcado pela vituperação, provocação, polêmica 
e advertência, mas ao mesmo tempo pelo controle de si, pela coragem, pelo 
orgulho, pela firmeza e pela moderação. Todas essas figuras podem acarretar 
em um aumento de popularidade, mas também na perda de prestígio, caso 
elas sejam “usadas” da forma incorreta. 
4.2.3 Ethos de inteligência 
Esse ethos é utilizado para “provocar a admiração e o respeito dos 
indivíduos por aquele que demonstra tê-lo e assim os faz aderir a ele” (p.145). 
A inteligência para o sujeito político é percebida pelo cidadão não só em 
função da maneira como “ele age e fala durante os acontecimentos políticos”, 
mas também em como se comporta na sua vida privada. Para o político é 
interessante demonstrar a coerência entre sua origem social, sua formação 
(aqui podem ser incluídos os títulos universitários e passagens por grandes 
universidades) e seus comportamentos atuais. Mas o político deve, além 
disso, demonstrar certa “malícia” e, conforme o autor, “saber jogar com o ser 
e o parecer: saber dissimular certas intenções, fazer crer que se têm certos 
objetivos para melhor atingir seus fins” (p.146). 
4.2.4 Ethos de humanidade 
De extrema importância para o político, o ethos de humanidade é 
mensurado pela capacidade de “demonstrar sentimentos, compaixão com 
aqueles que sofrem, mas o é também pela capacidade de confessar suas 
fraquezas, de mostrar quais são seus gostos, até os mais íntimos” (p.148). 
Esse ethos é difícil de manipular porque na política é preciso estar com os 
 
41 
 
sentimentos sob controle, mas “para ser um homem público, não é preciso ser 
menos homem”. 
4.2.5 Ethos de chefe 
“Mais que os precedentes, o ethos de “chefe” se direciona para o 
cidadão” (p.153), afirma Charaudeau. Essa imagem é construída para que o 
outro “adira, siga, identifique-se a este ser que supostamente é representado 
por um outro si-mesmo idealizado”. Tomando a relação de reciprocidade entre 
instância política e instância cidadã, o ethos de chefe “orienta mais 
diretamente o espelho ora para o sujeito político, ora para o sujeito cidadão” 
(p.154), por isso algumas são ambivalentes. Essa imagem destaca a relação 
de dependência do político e do cidadão, sendo manifestada por meio de 
figuras de guia (supremo, pastor e profeta), de soberano e de comandante. 
4.2.6 Ethos de solidariedade 
O político deve demonstrar ser uma pessoa que não só está atento às 
necessidades dos outros, mas que compartilha dessas necessidades e se 
torna responsável por elas. A solidariedade não é sinônimo de compaixão. A 
solidariedade distingue-se por ser igualitária e recíproca, uma vontade de 
querer estar junto do grupo; já a compaixão se trata de se emocionar com o 
sofrimento alheio, mesmo não fazendo parte dele. 
Para o político, ser solidário é mostrar que as opiniões (ou as 
decisões) dos membros de seu grupo são partilhadas e defendidas 
por ele. (...) Para que se manifeste essa solidariedade, é preciso, 
portanto, uma ideia, circunstâncias (sobretudo quando o grupo está 
ameaçado) que desencadeiem esse movimento identitário. Todo 
movimento de solidariedade passa por um processo de identificação 
de um grupo por meio de um ideia, um valor. (p.164) 
 
42 
 
5 METODOLOGIA 
Os conceitos abordados nos capítulos anteriores formam a base para a 
análise do objeto de estudo desse trabalho. Para cumprir os objetivos dessa 
pesquisa, utilizaremos o conceito de ethos político, segundo o linguista Patrick 
Charaudeau, para analisar a representação do deputado federal Rogério 
Marinho nas capas do jornal impresso Agora RN. A pesquisa será realizada 
utilizando cinco capas do impresso citado em que são recorrentes a figura do 
deputado. Para tal, serão analisadas as capas das edições: n.º 42 (24/4/2017); 
n.º 79 (16/6/2017); n.º 103 (20/7/2017); n.º 132 (30/8/2017); e n.º143 
(15/9/2017). A escolha das capas é justificada por apresentar a figura do 
deputado, com reproduções, em forma de discurso direto, das declarações do 
próprio deputado, e que se associam diretamente a fatos acontecidos no 
cenário político brasileiro da época. 
Faremos, ainda, um paralelo com o conceito de opinião pública aqui 
visto4, a fim de verificar como o veículo de comunicação age em seu papel de 
mediador do debate político e se existe intenção por parte do jornal de agendar 
determinados debates em torno da imagem do deputado federal. Pois, segundo 
Lima (2004), a mídia absorveu funções que anteriormente eram delegadas aos 
partidos políticos; elas são, como já citadas, 
(a) definir a agenda dos temas relevantes para a discussão na esfera 
pública, (b) gerar e transmitir informações políticas, (c) fiscalizar a 
ação das administrações públicas, (d) exercer a crítica das políticas 
públicas, (e) canalizar as demandas da população junto ao governo 
(p.191). 
Por fim, analisaremos quais os resultados da construção das imagens 
para o deputado federal, se a formação do seu ethos político foi positiva ou 
negativa, tendo por base o já disposto5 sobre o tema. 
5.1 A importância da capa para o jornal impresso 
Nos últimos anos, a apresentação visual dos jornais impressos se 
modificou significativamente. Com a chegada das mídias audiovisuais, os 
 
4 Ver capítulo 2. 
5 Ver capítulo 6. 
 
43 
 
meios impressos tiveram que adaptar seu conteúdo a ascensão dessas novas 
mídias, sobretudo da televisão. Segundo Carvalho (2008, p.223), os jornais 
“passaram a utilizar uma profusão de imagens, cores e títulos chamativos, num 
espaço que outrora era monocromático e uniformemente ocupado por blocos 
de texto, na tentativa de atrair e estimular o interesse dos seus leitores”. 
A adaptação realizada pelos jornais tem por objetivo transformar o jornal 
impresso em um produto mais atraente para o seu leitor, uma vez que o 
número de tiragens dos jornais impressos no Brasil caiu aproximadamente 
41%6 entre dezembro de 2014 e o mesmo período de 2017. Dessa forma, para 
construir uma identidade

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