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EDUCAÇÃO INFANTIL – CONTEÚDOS, TENDÊNCIAS E METODOLOGIAS AULA 5 Profª Janice Mendes 2 CONVERSA INICIAL Olá, aluno. Seja bem-vindo a mais uma aula sobre Educação Infantil, conteúdos, tendências e metodologias. Nessa aula, você vai conhecer sobre a importância do brincar para a formação social da criança, assim como a brincadeira como elemento que constitui o processo de aprendizagem, desenvolvimento e linguagem. Saber como a prática docente influencia no processo de aprendizagem é fundamental para todo educador. Portanto, você vai compreender como a ludicidade, as brincadeiras como jogo simbólico e as atividades pedagógicas por meio do brincar estão diretamente ligadas ao processo de ensinar. Acompanhe! TEMA 1 – O BRINCAR E A FORMAÇÃO SOCIAL DA CRIANÇA As práticas pedagógicas da etapa da Educação Básica são construídas por meio das ações e interações com seus pares e com os adultos, das brincadeiras, da mediação e das experiências nas quais as crianças constroem e apropriam seus conhecimentos. Todos esses elementos favorecem e possibilitam a aprendizagem, desenvolvimento e socialização. Você sabe a importância da interação da criança durante as brincadeiras? O brincar representa o cotidiano da infância, e traz consigo a imaginação, a representatividade da realidade, além de muitas aprendizagens e potenciais para o desenvolvimento integral das crianças. Brincar desenvolve a identidade e a autonomia da criança; por isso, é uma das atividades fundamentais dessa fase da infância. Quando a criança interage e brinca com seus colegas e também com os adultos, ela está desenvolvendo e demonstrando afetos, resolução das frustrações, gerenciando conflitos e a controlando suas emoções. É por meio da brincadeira que a criança expressa seus sentimentos, conhece a si e ao outro e explora o ambiente no qual está inserida. Segundo a BNCC (2017), é na etapa da educação infantil que a criança amplia seu conhecimento de mundo: A Educação Infantil precisa promover experiências nas quais as crianças possam fazer observações, manipular objetos, investigar e explorar seu entorno, levantar hipóteses e consultar fontes de informação para buscar respostas às suas curiosidades e indagações. 3 Assim, a instituição escolar está criando oportunidades para que as crianças ampliem seus conhecimentos do mundo físico e sociocultural e possam utilizá-los em seu cotidiano. (BNCC, 2017) Vergnhanini (2011) afirma que, ao brincar, a criança amplia seu vocabulário, nomeia objetos, utiliza e adapta expressões do dia a dia, dialoga com outras crianças e interage com os brinquedos, estabelecendo assim relações entre as brincadeiras simbólicas (jogos de faz de conta) e outras formas de linguagem. Outras situações que promovem o desenvolvimento da criança por meio da brincadeira são as situações conflituosas e os desafios que surgem nestes momentos, como dividir brinquedos, estabelecer papéis em uma brincadeira, construir um novo brinquedo, entre outros fatores que solicitam da criança a capacidade de mediar a situação. O que promove o desenvolvimento e a aprendizagem 1.1 A função social do brinquedo no desenvolvimento infantil A origem do brincar é explicada através da relação entre a cultura e o indivíduo. O desenvolvimento e aparecimento do jogo estão ligados às transformações dos instrumentos, atividades e relações de trabalho. Os objetos lúdicos têm uma modificação histórica e exigem capacidades múltiplas cada vez mais refinadas. Muitos teóricos e estudiosos da educação partem do pressuposto de que o homem está diretamente ligado à sua cultura e condições sociais que afetam sua vida. Completando esse conceito, é possível compreender que a atividade com brinquedos e os jogos também consideram o contexto cultural e social das crianças. Para Winnicott (1982), o brincar ultrapassa o sentimento de externalizar a realidade, ou o que a criança está sentindo, pois é no brincar que a criança adquire experiência para as situações reais do dia a dia. Para Leontiev (1978), o brinquedo surge a partir de dois processos: necessidade da criança e aumento da consciência em relação ao mundo. Com isso, a criança passa a perceber o mundo adulto e a relação entre eles desperta a necessidade de realização e apropriação do mundo e dos objetos adultos. Assim, é possível entender que desenvolvimento infantil ocorre e sobre influências do brincar e das relações com os outros. Para Rocha (2000), o 4 brinquedo se constitui o mais alto nível do desenvolvimento infantil, pois a criança se desenvolve, essencialmente, por meio da atividade do brinquedo. Sobre as experiências adquiridas por meio do brinquedo e da brincadeira, Winnicott (1982): A criança adquire experiência brincando. A brincadeira é uma parcela importante da sua vida. As experiências tanto externas como internas podem ser férteis para o adulto, mas para a criança essa riqueza encontra-se principalmente na brincadeira e na fantasia. Tal como as personalidades dos adultos se desenvolvem através de suas experiências da vida, assim as das crianças evoluem por intermédio de suas próprias brincadeiras e das invenções de brincadeiras feitas por outras crianças e por adultos. (Winnicott, 1982, p. 163) Agora que você compreendeu sobre a importância do brincar, chegou a hora de entender o conceito de jogo e brinquedo! Acompanhe! O jogo é um elemento fundamental no desenvolvimento psíquico da criança, assumindo um papel central na hominização. Essa atividade foi investigada por Vygotsky, Leontiev e Elkonin de uma maneira sistematizada. Para Vygotsky, o brinquedo está relacionado ao desenvolvimento das funções psicológicas superiores e sobre o papel da linguagem no mesmo, investigando o que motiva a ação da criança no brinquedo (Camargo et al., 2021). Elkonin (1998), apoiado em Vygotsky, busca entender através de um olhar antropológico que permite observar diferentes culturas e sociedades, explicitando a relação das mudanças sociais com a mudança nas atividades lúdicas. Já Leontiev (1988) analisa os brinquedos e os jogos como potenciais influenciadores no desenvolvimento e nas modificações do psiquismo humano, além de entender as ações e operações humanas sobre ele. Você sabia que os primeiros objetos lúdicos foram construídos como réplicas de instrumentos e ferramentas de trabalho? O que diferenciava do objeto real era o tamanho e a finalidade do uso desse objeto. Com essa apresentação histórica, é possível perceber que, ao longo da história, a criança aprendia a repetir, no cotidiano, as práticas vivenciadas pelos adultos. Mas, ao longo do tempo, os brinquedos foram criando diferentes formas, havendo distanciamento entre os objetos lúdicos e os de trabalho. Os objetos lúdicos se tornam cada vez mais atrativos, dinâmicos, criativos e simbólicos, gerando as condições para o aparecimento do jogo e das brincadeiras de faz de conta. 5 Camargo (et al., 2021) apresenta três categorias para a atividade lúdica: o objeto, a ação e a mediação social, cada uma delas com suas influências: A ação da criança no objeto está relacionada com a cultura na qual está inserida. A presença do outro na relação da criança com o brinquedo é fundamental, já que esta apresenta o objeto à criança, disponibilizando-o e agindo com a criança. (Camargo et al., 2021, p. 1) A linguagem é outro fator importante na atividade das crianças com o brinquedo, pois, ao manipular o objeto, há também da apropriação dos modos de ação sobre ele formados, fixados e socialmente transmitidos, principalmente através da palavra. Quando se pensa no desenvolvimento da criança a partir do objeto brinquedo, deve-se pensar nas atividades que geram a significado aos objetos e às ações sobre ele. Sendo assim, é possível entender que a atividade prática e utilitáriado objeto está relacionada às propriedades do objeto e suas funções. Já a atividade com significação dos objetos está relacionada com a natureza social do objeto e sua utilização. Para Elkonin (1998), os objetos satisfazem as necessidades da criança, num mundo de representações e signos. Ele analisa o aparecimento da atividade lúdica relacionado aos aspectos biológicos: maturidade visual, controle das mãos, coordenação entre as ações. É por meio da atividade lúdica que a criança se apropria do seu próprio mundo e mundo real, para a construção do sujeito histórico. Na atividade lúdica, a criança é capaz de se tornar aquilo que, no mundo real, ela não é, agir com objetos aos quais ela ainda não tem acesso e interagir de acordo com padrões fora dos que lhe são determinados. É nesse processo que a criança tem os primeiros contatos com a cultura, incorporando-a e criando sua própria cultura. Leontiev (1978) considera a atividade lúdica como a principal atividade da criança, sendo considerada não a atividade quantitativa, mas aquela com a qual ocorrem mudanças mais importantes no desenvolvimento, e por meio da qual ocorrem as transições em direção a um nível mais elevado de desenvolvimento e a novos tipos de atividade. Com isso, é possível entender que o brinquedo e a brincadeira tem grande relevância no desenvolvimento infantil devido a sua função social, pois é na relação com o brinquedo, dos órgãos dos sentidos, a função sensorial, a função motora e a emocional que a criança explora e aprende de forma concreta sobre 6 o mundo exterior, além de desenvolver as funções intelectuais, o brinquedo cria oportunidades para a criança elaborar e vivenciar situações emocionais e conflitos sentidos no dia a dia. TEMA 2 – O BRINCAR E A FETICHIZAÇÃO DA PRODUÇÃO CULTURAL PARA A CRIANÇA Segundo a BNCC (2017), as brincadeiras e interações são eixos estruturantes do currículo de Educação Infantil. Por isso, o espaço formal de educação tem o papel de garantir a vivência lúdica em seu interior, incentivando a produção cultural das crianças. Mas vale a pena destacar que a brincadeira é resultado da motivação e interesse da criança. Leontiev (1978) afirma que a motivação da criança frente à atividade lúdica é fator fundamental para o seu desenvolvimento. Independentemente do resultado, é o processo é que motiva a criança a brincar. No entanto, a criança não tem consciência dos fatores que a motivaram a brincar, mas o desenvolvimento psicológico que é proporcionado pelo momento da brincadeira ocorre sem a intencionalidade da criança. Brougère (1997) explica com clareza sobre as relações desenvolvidas a partir da brincadeira. A criança está inserida, desde o seu nascimento, num contexto social e seus comportamentos estão impregnados por uma imersão inevitável. Não existe na criança uma brincadeira natural. A brincadeira é um processo de relações interindividuais, portanto de cultura. É preciso partir dos elementos que ela vai encontrar em seu ambiente imediato, em parte estruturado por seu meio, para se adaptar as suas capacidades. A brincadeira pressupõe uma aprendizagem social. Aprende-se a brincar. A brincadeira não é inata, pelo menos nas formas que ela adquire junto ao homem. (Brougère, 1997) Com base na afirmação de Brougère (1997), as brincadeiras apresentam inúmeras possibilidades educativas, pois, por meio da mediação dos adultos ou pela própria relação entre pares, a brincadeira constrói a diversidade de valores, crença, formas de composição e criação; consequentemente, a brincadeira passa a ser uma prática educativa e de produção de culturas. Mas qual é de fato a relação entre as brincadeiras e a produção de culturas, quando há essa interação entre as crianças? As crianças produzem diversas formas de relações sociais, extrapolando a vida cotidiana. Além disso, Brougère (1997) analisa a relação cultura e 7 brincadeira da seguinte forma: a brincadeira assimila e/ou destrói qualquer distância de culturas. Fantin (2000) destaca que a base do tripé “dimensões psicológicas, cognitivas, sociais e culturais” é a brincadeira. Ou seja, a brincadeira é o elemento da cultura, que está diretamente ligado ao desenvolvimento infantil, a linguagem e forma de expressão. Dessa forma, a brincadeira permite às crianças instaurarem diversas formas de comunicação entre pares e/ou com os adultos, tanto no plano verbal quanto no não verbal. É neste sentido que podemos dizer que as rotinas do brincar elaboram formas de apropriação e construção da cultura, de uma cultura compartilhada entre grupos que estabelecem qualquer tipo de comunicação. Essa apropriação e construção se dá por meio de múltiplas interações e por isso é necessário que prestemos atenção nas formas de comunicação das crianças, ou mesmo, nas suas formas de produções culturais expressas e significadas pelo coletivo de crianças. (Fantin, 2000) Considerando os apontamentos da BNCC (2017, p. 42), no Campo de Experiência, “O eu, o outro e o nós”, “é na interação com os pares e com adultos que as crianças vão constituindo um modo próprio de agir, sentir e pensar e vão descobrindo que existem outros modos de vida, pessoas diferentes, com outros pontos de vista”. Suas primeiras experiências sociais ocorrem no meio familiar, na instituição escolar, nos espaços em que vivem e na coletividade, e é com essas relações que a criança constrói percepções e questionamentos sobre si e sobre os outros, diferenciando-se e, simultaneamente, identificando-se como seres individuais e sociais. BNCC (2017, p. 42) Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais. (BNCC, 2017) É na brincadeira que a criança participa das relações sociais, desenvolve os cuidados pessoais e constroi sua autonomia e senso de autocuidado, de reciprocidade e de interdependência com o meio. Com isso, é fundamental que, na Educação Infantil, o corpo docente ofereça oportunidades para que as crianças entrem em contato com outros grupos sociais e culturais, outros modos de vida, diferentes atitudes, técnicas e rituais de cuidados pessoais e do grupo, costumes, celebrações e narrativas (BNCC, 2017). 8 Assim, poderão ampliar o modo de perceber a si mesmas e ao outro, compreender e valorizar a sua identidade e a do outro, reconhecer as diferenças que nos constituem como seres humanos e respeitar os outros. TEMA 3 – A DIMENSÃO PEDAGÓGICA DA BRINCADEIRA Já vimos que a brincadeira é um universo simbólico, criado pela criança e seus pares, em que são eles que reconstroem e representam sua realidade, suas fantasias e suam cultura, além de aprender a dividir objetos, compartilhar regras, criança tem liberdade para agir, e estabelecer inúmeras relações com seus pares e juntos fazem descobertas e adquirem novos conhecimentos. Portanto, é possível considerar a brincadeira como eixo fundamental da dimensão pedagógica! Mas é possível relacionar o currículo da educação infantil à brincadeira? A resposta é sim, pois é possível ensinar e desenvolver muitos conteúdos e conceitos podem ser ensinados por meio da brincadeira e da ludicidade. As atividades com jogos ou brinquedos ao estarem relacionada aos objetivos didático-pedagógicos, promovem o desenvolvimento integral do educando. A brincadeira é um instrumento mediador no processo didático- pedagógico, e se torna uma importante ferramenta para o desenvolvimento cognitivo, motor, afetivo, psicológico e social da criança em formação. A dimensão pedagógica da brincadeira destaca a criação de espaços e tempos permitindo a realização de jogos, brincadeiras, instituindoestratégias e a evolução integral da criança. Veja o que diz Macedo (2003) e Kishimoto (2003) sobre o papel da escola no contexto da brincadeira: A escola pode e deve ser um lugar de brincadeiras e jogos (livres ou dirigidos), de atividades que significativas para a criança, que estimulem seu pensamento e sua criatividade. (Macedo, 2003) A escola tem uma natureza própria distinta do jogo e do trabalho. Entretanto, ao incorporar algumas características tanto do trabalho como do jogo, a escola cria a modalidade do jogo educativo, destinada a estimular a moralidade, o interesse, a descoberta, e a reflexão. (Kishimoto, 2003) Por isso, as escolas de educação infantil devem ter espaços e recursos que promovam condições para as crianças brincarem de forma livre e dirigida, para docentes mediarem condições lúdicas aos educandos. 9 Você sabe a diferença entre brincadeira livre e dirigida? E qual sua relação na dimensão pedagógica? • Livre: em que a criança se expressa e desenvolve sua criatividade, o professor não interfere, apenas observa e, nesse brincar espontâneo, podemos diagnosticar as ações da criança; • Dirigida: a criança tem uma meta a alcançar, estabelecida pelo professor, o professor é o orientador, mediador e deve ser parceiro nesse processo. Mas qual o papel do professor no momento da brincadeira? Cabe ao professor observar e analisar individualmente os avanços e necessidades de cada criança, além de analisar sua própria prática, e se necessário reorganizar sua proposta de trabalho pedagógico, implementando novas estratégias que contemplem efetiva evolução e desenvolvimento da criança. TEMA 4 – A PRÁTICA DOCENTE E A LUDICIDADE DAS INFÂNCIAS É comum confundir o conceito de brincar com ludicidade. A palavra ludicidade vai além do significado de brincar. Afinal, neste brincar, estão incluídos os jogos, brinquedos, imaginações, criações, objetos representativos e divertimentos livres e dirigidos. É preciso considerar que a conduta da criança no contexto da ludicidade é ampla e relativa, pois o comportamento de quem joga difere do comportamento de quem brinca e quem se diverte. Por sua vez, a função educativa da ludicidade favorece a aprendizagem do indivíduo, seu saber, seu conhecimento e sua compreensão de mundo. Wadsworth (1984, p. 44) cita em seus estudos a análise realizada por Piaget sobre o jogo lúdico: o jogo lúdico é formado por um conjunto linguístico que funciona dentro de um contexto social, possui um sistema de regras e se constitui de um objeto simbólico que designa também um fenômeno. Portanto, permite ao educando a identificação de um sistema de regras que permite uma estrutura sequencial que especifica a sua moralidade. Dessa forma, entende-se que a ação lúdica favorece situações educativas, cooperativa e interacional, pois, quando a criança está participando de uma jogada, ela está cumprindo as regras pré-estabelecidas do jogo e, ao mesmo tempo, ampliando o conhecimento sobre ações de cooperação, 10 interação e convivência em grupo. Knaut (2012, p. 24) aponta sobre a ação lúdica e sua relação com as situações educativas: Ao pensar na criança, reflete-se no brincar. No entanto, quando se trata de brincar na Educação Infantil, principalmente com bebês, a sistematização e o planejamento se tornam um tanto quanto “desajustados”. Para que a proposta seja encaminhada de forma a considerar a brincadeira e o jogo como recursos do processo de ensino e aprendizagem, é importante lembrar que, o que importa é o processo, e não o resultado. (Knaut, 2012, p. 24) Para Knaut (2012), a criança começa a brincar desde o momento em que está no berço, pois, ao mexer seus pés, estes podem se tornar um brinquedo; e a mesma coisa acontece quando a criança descobre as mãos, e depois o todo o corpo. Nessa mesma fase, em que o bebê que está no berço começa a conhecer o corpo, a criança começa a agir sobre os objetos, e passa a fase de novas descobertas com intuito exploratório. De acordo com Knaut (2012), o professor deve deixar um espaço delimitado na sala, de forma que este fique livre para que as crianças possam se movimentar. Em seguida, deve disponibilizar nesse espaço vários materiais, como um dado gigante colorido, uma bola grande, uma caixa de papelão (do tamanho de uma caixa de sapato), um cesto, um livro, um bambolê e um cone. Os materiais devem ficar espalhados dentro do espaço delimitado. Então, o professor deve chamar as crianças e mediar a exploração dos diferentes objetos por elas. Na BNCC (2017), a ludicidade da ênfase direitos das crianças, sendo um deles o brincar, pois: O brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais. A BNCC (2017) também traz os campos de experiências, sendo que um deles é corpo, gestos e movimentos: [...] com o corpo (por meio dos sentidos, gestos, movimentos impulsivos ou intencionais, coordenados ou espontâneos), as crianças, desde cedo, exploram o mundo, o espaço e os objetos do seu entorno, estabelecem relações, expressam-se, brincam e produzem conhecimentos sobre si, sobre o outro, sobre o universo social e cultural, tornando-se, progressivamente, conscientes dessa corporeidade. Por meio das diferentes linguagens, como a música, a 11 dança, o teatro, as brincadeiras de faz de conta, elas se comunicam e se expressam no entrelaçamento entre corpo, emoção e linguagem. Por meio da brincadeira e da mediação dos adultos, a crianças conhece as funções de seu corpo e reconhecem as sensações emitidas por ele. A partir dos seus gestos e movimentos, elas identificam seus limites; ao mesmo tempo, superam-nos e potencialidades suas habilidades, ou seja, a criança passa a ter consciência sobre o que é seguro e o que pode ser perigoso. É na etapa da Educação Infantil que o conhecimento sobre o corpo ganha centralidade no conhecimento e desenvolvimento das crianças; afinal, é o seu corpo que está participando ativamente das práticas lúdicas e pedagógicas, do cuidado físico. Assim, a criança está desenvolvendo a emancipação e a liberdade. É por isso que a escola deve oportunizar atividades lúdicas, promovendo a exploração e a vivência um amplo repertório de movimentos, gestos, olhares, sons e mímicas com o corpo, para descobrir variados modos de ocupação e uso do espaço com o corpo (como sentar com apoio, rastejar, engatinhar, escorregar, caminhar apoiando-se em berços, mesas e cordas, saltar, escalar, equilibrar-se, correr, dar cambalhotas, alongar-se etc.) (Freitas; Becker, 2020). TEMA 5 – AS BRINCADEIRAS COMO JOGO SIMBÓLICO E AS ATIVIDADES PEDAGÓGICAS POR MEIO DO BRINCAR A origem do jogo, para Vygotsky (1987), considera três processos: satisfação imediata das necessidades, necessidades não satisfeitas e transformações operadas na memória. São essas transformações que permitem à criança registrar e conservar novas experiências. Esses três processos geram um conflito na criança, que necessariamente sente vontade de mudar seu comportamento e ampliar suas possibilidades de conhecimento e domínio sobre o objeto ou sobre o contexto. Mas o que difere o jogo simbólico dos outros tipos de brincadeira? O jogo simbólico é a relação entre o mundo real, em que a criança está inserida, e o mundo imaginário, que ela fantasia, e se permite aproximar, viver e enfrentar alguns medos e limitações de forma diferente e criativa. Sobre a função simbólica do jogo, Piaget (1975) destaca que, a partir do segundo ano de vida da criança, por meio de símbolos, da imaginação e da 12 reprodução da vida cotidiana, representar com a imitação, com imagem mental,com o jogo simbólico, com a linguagem e com o desenho. É nesse período que a inteligência será constituída por um pensamento a ser representado por meio da linguagem (signos coletivos) e símbolos individuais (imitação diferida, imagem mental e jogo simbólico). Piaget (1996) explica que ocorre uma assimilação deformante nesse processo do jogo simbólico. Conforme suas palavras: Considerada sob esse ângulo social, essa assimilação deformante consiste em uma espécie de egocentrismo do pensamento tal que este, ainda insubmisso às normas da reciprocidade intelectual e da lógica, busca mais a satisfação do que a verdade e transforma o real em função da afetividade própria. (Piaget, 1996) Piaget (2002) explica que “entre essas duas formas de pensamentos, encontra-se a grande maioria dos atos da criança, a qual oscila entre estas duas direções opostas”. No início do estágio pré-operatório, predomina a forma de pensamento egocêntrico, que é representado sob uma forma mais pura por meio do jogo, a que Piaget (2002) chamou de jogo simbólico. É no estágio pré-operatório que o jogo simbólico ou jogo de imaginação e imitação se manifesta como um pensamento único da criança, quase um pensamento egocêntrico. Para Piaget (1959), esse pensamento é a “absorção do eu nas coisas e no grupo social, absorção tal que o sujeito imagina conhecer as coisas e as pessoas por elas mesmas”. Delval (1998), baseado nas ideias de Piaget, acrescenta que, com o jogo simbólico, a criança se torna capaz de transformar as situações vividas no seu cotidiano, situações estas que são controladas pelos adultos, que estão a sua volta, por meio de normas e regras muito rígidas, as quais, muitas delas, ela não consegue compreender. Diante disso, é fato que a escola e o corpo docente devem apresentar possibilidades que o jogo simbólico proporciona como um meio para expressar seus desejos e conflitos para poder adaptar-se a esse mundo. NA PRÁTICA No decorrer deste tema, discutimos a respeito da importância do lúdico na educação infantil, suas fantasias e sua cultura, além de aprender a dividir objetos, compartilhar regras, criança tem liberdade para agir e estabelecer 13 inúmeras relações com seus pares e juntos fazem descobertas e adquirem novos conhecimentos. Mas será que atualmente as crianças estão estabelecendo relações com seus pares e fazendo descobertas? Afinal, vivemos em uma época em que as crianças passam os dias em frente às televisões, aos computadores, tablets, celulares e jogos eletrônicos. Construa um catálogo, que possam consultar mais tarde, contendo brincadeiras e jogos infantis tradicionais ou modernos, que propiciam o desenvolvimento e a aprendizagem para crianças de 0 a 5 anos, pois, para conhecer as crianças e desenvolver um bom trabalho com elas, é essencial conhecer suas brincadeiras. Destaque as brincadeiras e jogos em que o coletivo e a convivência em grupo são valorizados em detrimento do individualismo e da competição. FINALIZANDO Chegamos ao final de mais uma etapa de estudo. Parabéns por chegar até aqui! Nessa caminhada, você aprendeu a respeito da dimensão lúdica no processo de desenvolvimento das crianças, o processo de brincar, a função social, o papel do professor e o como a cultura midiática interfere no desenvolvimento e na aquisição do conhecimento infantil. Ficou evidente a importância do lúdico para a infância, assim como a importância de se ofertar a possibilidade de viver e conviver, de trocar experiências e formar hipóteses a respeito das relações que cada uma estabelece no sentido em que é pelo brincar que a criança se constitui, compreende-se e compreende o mundo. Então, vamos brincar! 14 REFERÊNCIAS BRASIL. Base Nacional Comum Curricular, 2017. Disponível em: <http://www.basenacionalcomum.mec.gov.br/>. Acesso em: 4 ago. 2021. _____. 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