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Espiritualidade e Saúde

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Ana Júlia Marques Oliveira – 5º período 
Espiritualidade e Saúde 
Integração Ensino-Serviço-Comunidade V 
CONCEITOS GERAIS 
Diferenças entre Religião X Religiosidade X 
Espiritualidade 
Religião: Sistema organizado de crenças, práticas e 
simbolismos que catalisam a aproximação da pessoa com 
o sagrado. 
Religiosidade: O modo como um indivíduo acredita, 
segue e pratica uma religião, perfazendo o aspecto da 
vivência pessoal. Pode ser: 
- Organizacional ou extrínseca: participação na 
igreja, templo religioso ou grupos. 
- Não organizacional ou intrínseca: prece ou 
oração, leituras, meditação, ouvir músicas ou ver 
programas de televisão. 
Espiritualidade: Dimensão que aborda o aspecto 
existencial, destacando-se algumas definições: 
- Busca pessoal para entender questões relacionadas 
ao fim da vida, ao seu sentido, as relações com o 
sagrado ou transcendente, que pode ou não levar 
ao desenvolvimento de práticas religiosas ou 
formação de comunidades religiosas. 
- Aspecto dinâmico e intrínseco da humanidade, 
por meio do qual se busca e expressa o significado, 
o propósito e a transcendência. 
Também é o modo da pessoa expressar a conexão 
com o momento, com si próprio, com os outros, 
com a natureza e com o que é significativo ou 
sagrado. 
- Dimensão em que obtemos significado, conexão, 
conforto e paz para as nossas vidas. 
Esse significado pode ser buscado não apenas na 
religião, como se pensa mais comumente, mas 
também na música, na arte, na natureza ou mesmo 
em valores e princípios pessoais e científicos. 
ENFRENTAMENTO OU COPING RELIGIOSO-
ESPIRITUAL 
✓ Coping é o modo como a pessoa lida com o 
estresse, ou seja, são as estratégias cognitivo-
comportamentais utilizadas pela pessoa para 
manejar situações estressantes. 
Quando essa estratégia enfoca a religiosidade ou a 
espiritualidade, recebe o nome de coping religioso-
espiritual (CRE). 
O CRE pode ser: 
✓ Positivo: Quando a estratégia traz benefício à saúde 
e ao bem-estar da pessoa, devendo ser encorajado 
pelo profissional. 
Por exemplo: estímulo da fé, preces, perdão, 
contemplação, meditação e leitura de materiais 
espirituais. 
✓ Negativo: Quando a estratégia traz sofrimento ou 
“dor espiritual”, o profissional tem o papel de dar 
suporte para a ressignificação ou o 
reenquadramento dos conflitos que levam a pessoa a 
adotar essa perspectiva. 
Por exemplo: sentimento de ser abandonado por 
Deus por não se curar; relacionar o adoecimento ao 
sentimento de punição divina (como um câncer) ou 
manter-se em uma relação promotora de sofrimento 
devido a valores religiosos (como ao sofrer violência 
doméstica). 
Os conceitos de CRE são de forte aplicabilidade clínica 
por médicos de família e comunidade, pois permitem 
uma inclusão ampla das percepções religiosas e não 
religiosas que compõem a dimensão espiritual da pessoa, 
contribuindo para a abordagem integral. 
Dar ênfase ao conceito de espiritualidade, em vez de 
religiosidade, pode ajudar a temática a tornar-se mais 
acessível para profissionais e pacientes, uma vez que a 
espiritualidade é uma dimensão intrínseca ao ser 
humano, ao passo que o domínio religioso pode ou não 
ser significativo para a pessoa abordada. 
Nesse sentido, a abordagem da espiritualidade parece vir 
ao encontro da visão integral e singular que se busca 
na atenção primária à saúde (APS). 
COMO ABORDAR A ESPIRITUALIDADE NA CLÍNICA 
Sob a ótica do método clínico centrado na pessoa 
(MCCP), as crenças e os valores espirituais 
interferem diretamente na experiência com a doença, 
trazendo impacto sobre o desfecho clínico de modo 
positivo (p.ex., “adoecimento pode ser oportunidade de 
demonstrar a fé”) ou negativo (p. ex., “perda de fé com 
Ana Júlia Marques Oliveira – 5º período 
base no sentimento de abandono por Deus”), conforme a 
estratégia de coping (enfrentamento) utilizada pela 
pessoa. 
Desse modo, a abordagem da espiritualidade consiste 
em ferramenta do médico de família e comunidade para 
trabalhar o significado das vivências, as estratégias 
de coping, ou enfrentamento, o desenvolvimento da 
resiliência e o reenquadramento de situações 
disfuncionais vivenciadas. 
Independente de tantas evidências no campo da 
Religiosidade/Espiritualidade na saúde, muitos 
profissionais ainda têm dificuldade em inserir essa 
temática na prática clínica. 
 
O autoconhecimento sobre as emoções advindas da 
prática clínica, a necessidade de tomada de consciência 
do médico no exercício profissional, a sua postura de 
atenção plena e a sua vivência espiritual intrínseca 
podem ter impacto sobre a forma como o profissional 
maneja demandas espirituais trazidas pelo paciente, 
bem como sobre sua disponibilidade para fomentá-las e 
abordá-las. 
O médico necessita manter uma prática reflexiva 
sobre si mesmo e seus valores pessoais, de modo a 
respeitar as necessidades e as crenças das pessoas, sem 
impor seu ponto de vista. 
INSTRUMENTOS PARA OBTENÇÃO DA HISTÓRIA 
OU ANAMNESE ESPIRITUAL 
 
 
 
ESPIRITUALIDADE E MCCP 
 
Ana Júlia Marques Oliveira – 5º período 
 
 
QUANDO REFERENCIAR? 
✓ Quando há questões conflituosas específicas do 
campo do pensamento filosófico ou dogmático 
da religião. 
✓ Quando surgem necessidades religiosas 
específicas, como preces ou rituais (p. ex., unção 
de um enfermo), é mais apropriado consultar um 
profissional treinado em cuidado espiritual, como 
um líder religioso ou um capelão. 
✓ O suporte da equipe multiprofissional também é 
componente dessa rede de atenção, por exemplo, 
quando há envolvimento de saúde mental, 
necessidade de adaptação física para a prática 
religiosa ou necessidade de mobilização da rede de 
suporte social. 
REFERÊNCIAS PARA ESTUDO 
GUSSO, Gustavo; LOPES, José M.C. DIAS, Lêda C. 
(Orgs.). Tratado de Medicina de Família e 
Comunidade: Princípios, Formação e Prática. 2 ed. 
Porto Alegre: ARTMED, 2019. Cap. 95.