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Empregabilidade nos setores da economia Apresentação O desenvolvimento tecnológico exige mão de obra cada vez mais qualificada, enquanto postos de trabalho com menor qualificação vêm diminuindo seu número. Essa tendência é mundial, sentida principalmente em países com certo desenvolvimento industrial. Outro fator relacionado com o desenvolvimento industrial é o desenvolvimento do setor terciário da economia, alavancado por uma série de fatores, como o crescimento econômico ocasionado pela renda das indústrias e a necessidade de serviços cada vez maior. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar o impacto da tecnologia sobre a mão de obra, a relação entre o desemprego e o crescimento do setor terciário, bem como os processos econômicos e a favelização nos espaços urbanos do Brasil. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar o impacto da tecnologia sobre a mão de obra.• Relacionar o desemprego com o crescimento do setor terciário.• Discutir os processos econômicos e a favelização nos espaços urbanos do Brasil.• Desafio A terceirização de serviços, tanto no setor público quanto no setor privado, é uma tendência mundial, em relação à qual o Brasil ainda se encontra atrasado. O País vem tentando implementar as suas recentes leis sobre a terceirização, principalmente na relação entre as empresas privadas. A Lei n.o 13.429/2017 dispõe sobre a contratação temporária de funcionários e a relação de trabalho na empresa de prestação de serviços a terceiros, legalizando a atividade que era comum no Brasil. Você, como professor de Geografia em uma escola de Ensino Médio, está expondo o conteúdo sobre os setores da economia. Para tanto, você percebe que precisa dar atenção especial ao setor terciário, devido à sua grande participação atual na economia e na ocupação da mão de obra. Assim, considerando a lei da terceirização, argumente juntamente com seus alunos os pontos positivos e negativos da terceirização, principalmente em relação à mão de obra, no Brasil. Infográfico As aglomerações irregulares em áreas periféricas das cidades, chamadas de favelas, se tornaram um problema social no Brasil. Problemas de moradias precárias, ruas sem pavimentação, esgotos a céu aberto e ligações irregulares de luz e água acarretam uma série de problemas públicos, principalmente na área da saúde. Os problemas habitacionais nos locais tidos como favelas são sistemáticos no Brasil. Há ocupação de locais impróprios pelos moradores, em zonas geralmente de risco (inundação, deslizamentos), onde a especulação imobiliária das grandes cidades não atua. No Infográfico, veja algumas características das favelas brasileiras, como elas surgiram, como expandiram seu tamanho e os principais problemas enfrentados nelas. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/7ed83f8f-e854-459d-a177-31ffce8023ff/463e8d96-cdd5-4e0b-9d99-c0e0e56ba0ca.jpg Conteúdo do livro O desenvolvimento tecnológico cresce significativamente em todo o mundo, trazendo benefícios à sociedade por meio de facilidades e de praticidade. Na indústria e na agricultura, o desenvolvimento tecnológico trouxe grandes ganhos em produtividade e, consequentemente, maior crescimento econômico. Contudo, o trabalho humano vem sentindo os reflexos dessa inserção cada vez maior de processos automatizados na indústria e na agricultura. O crescimento econômico do setor terciário brasileiro, dentro da absorção da mão de obra, vem da ociosidade da mão de obra, oriunda de outros setores, como o da agricultura e o da indústria. Além disso, registra-se, juntamente com o crescimento do setor terciário, o crescimento dos empregos informais, principalmente de trabalhadores autônomos sem registro no País nos últimos anos. No capítulo Empregabilidade nos setores da economia, da obra Geografia econômica, estude o impacto da tecnologia sobre a mão de obra, a relação entre o desemprego e o crescimento do setor terciário e, ainda, aprenda sobre os processos econômicos e a favelização nos espaços urbanos do Brasil. Boa leitura. GEOGRAFIA ECONÔMICA Carlos Alberto Löbler Empregabilidade nos setores da economia Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar o impacto da tecnologia na mão de obra. Relacionar o desemprego com o crescimento do setor terciário. Discutir os processos econômicos e a favelização nos espaços urbanos do Brasil. Introdução Os avanços tecnológicos diminuíram as vagas de empregos em todo o mundo, já que a máquina substituiu o homem em muitas funções. Na indústria, por exemplo, a automação dos serviços resultou em agilidade nas linhas de produção e dispensa de mão de obra. Com a consolidação da industrialização no Brasil, o setor terciário ganhou força. Isso acontece, entre outros fatores, graças à mão de obra ociosa dos setores primários e secundários que buscam sustento com um pequeno comércio ou prestação de serviços diversos e às mudanças na legislação, estabelecendo que empresas específicas prestem serviço para outras empresas ou para o setor público. Dessa forma, com o cres- cimento do setor terciário, identificou-se o crescimento de trabalhos informais no País. Neste capítulo, você vai estudar o impacto da tecnologia sobre a mão de obra, a relação entre o desemprego e o crescimento do setor terciário e ainda vai conhecer os processos econômicos e a favelização nos espaços urbanos do Brasil. Impacto da tecnologia na mão de obra A atual fase do capitalismo, monopolista, com grande mobilidade fi nanceira, tem provocado no mundo, incluindo o Brasil, mudanças no mercado de tra- balho. Além do uso de novas tecnologias pelas indústrias em detrimento do trabalho humano, a globalização fi nanceira desencadeia a especulação da mão de obra. As indústrias mais dependentes de mão de obra se instalam em países ou regiões com maior disponibilidade de pessoal, com leis trabalhistas menos rígidas e menores salários, a fi m de otimizar seus lucros (CARVALHO, 2010). Zanella (2006, apud MACEDO et al., 2014) afirma que o capitalismo controla as tecnologias e o capital. A produção industrial foca em aumentar o capital, o que acaba causando a precarização dos trabalhadores, por não valorizar o trabalho e quem o pratica. Fica claro, portanto, que o que causa desemprego é a maneira como o progresso técnico é empregado por quem dispõe de capital, e não exatamente o progresso técnico por si só. No Brasil, de modo a atenuar a precarização e de valorizar o trabalhador, junto com o desenvolvimento tecnológico e econômico, foram criadas as políticas traba- lhistas. O principal marco surgiu no governo do presidente Getúlio Vargas, na década de 1940, com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) editada no ano de 1943, que garantia direitos aos trabalhadores. Já em relação às políticas de desenvolvimento industrial, uma das mais importantes foi a abertura comercial entre 1991 e 1995. Na indústria nacional, a produtividade aumentou em virtude da necessidade de progresso técnico e tecnológico para que a indústria interna pudesse competir com os produtos importados. Contudo, essa abertura aumentou muito as taxas de desemprego no País. O avanço tecnológico causado pela automatização industrial, embora contribua para o desenvolvimento econômico do País, acaba mantendo alto o nível de desemprego, já que o trabalho do homem é substituído pelo da máquina (CACCIAMALI; BEZERRA, 1997, apud MACEDO et al., 2014). Na era industrial, surgiram empregos que demandavam maior esforço físico e incluíam atividades muito repetitivas. Com o avanço da tecnologia, esse tipo de emprego deu lugar à máquina. Nota-se, portanto, que a tecnologia diminui empregos que não exigem qualificação técnica e possibilita empregos que exigem qualificação técnica. Isso pode sercomprovado, principalmente no Brasil, comparando-se os dados de produção industrial, que se elevam a cada ano, e o número de desempregados, que também é crescente. Atualmente, no contexto industrial, há um alto nível de produtividade e um baixo número de empregados (CARVALHO, 2010). Empregabilidade nos setores da economia2 Emprego informal No Brasil, as mudanças econômicas que ocorreram a partir da segunda metade do século XX infl uenciaram sobremaneira o mercado de trabalho. O trabalho foi precarizado, houve redução de salários, a informalidade e a instabilidade aumentaram (KON, 2012). Os empregos temporários também surgiram nessa época. Esses trabalhos geralmente oferecem salários mais baixos, com menos benefícios e segurança, comparados aos empregos tradicionais. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019 a taxa de desemprego no Brasil caiu, compreendendo aproximadamente 11% da população economicamente ativa. No entanto, esse resultado pode ter sido influenciado pelo aumento de trabalhos informais, que corresponde a 41,3% da população ocupada (SILVEIRA; ALVARENGA, 2019). Segundo o IBGE, a população economicamente ativa é composta pela “[…] mão de obra com a qual o setor produtivo pode contar”. Em outras palavras, pessoas que são aptas fisicamente e têm idade para trabalhar, estando elas empregadas ou procu- rando emprego. Na população economicamente ativa estão incluídas a população ocupada e a população desocupada. A primeira engloba pessoas que trabalham por determinado período, recebendo ou não remuneração. Já a segunda compreende pessoas que estão desempregadas, mas têm condições físicas e idade para trabalhar (PENA, documento on-line). A maioria dos trabalhadores informais no Brasil é composta por pessoas empregadas no setor terciário (comércio e serviços), irregulares e sem carteira, como trabalhadores domésticos, trabalhadores e empregadores sem CNPJ. A informalidade é causada também pela baixa qualificação da população. Se- gundo o Tribunal Superior Eleitoral, 68% dos brasileiros possuem escolaridade até o ensino médio incompleto. A população mais qualificada emprega-se preferencialmente nas áreas tecnológicas, deixando as vagas informais para pessoas com menor qualificação (FERREIRA, 2017). 3Empregabilidade nos setores da economia No Brasil, há uma elevada taxa de empregados informais, como os listados a seguir. Ambulantes: vendem mercadorias variadas, desde produtos importados ilegal- mente de outros países a produtos alimentícios caseiros com nenhuma fiscalização. Os ambulantes atuam principalmente em locais de maior movimento populacional, como praias, parques e centros. Motoristas de aplicativos: são considerados trabalhadores informais, apesar da legalização do serviço de transporte de passageiros. No Brasil, os motoristas de aplicativos são responsáveis por uma boa parte da mobilidade urbana nas grandes cidades. Diaristas: são pessoas que prestam serviços em regime diário, que comparecem para o trabalho uma ou duas vezes na semana. No serviço de diarista, os requisitos da continuidade na prestação de serviços e da subordinação não são preenchidos e não se cria vínculo empregatício com o patrão. Dessa forma, essas pessoas não se confundem com o trabalho doméstico previsto em lei. Desemprego e crescimento do setor terciário Na década de 1990, muitos países latino-americanos alteraram estrutural- mente sua economia, inclusive o Brasil. Entre as mudanças, houve abertura do comércio, liberalização fi nanceira, privatizações e mudanças na legislação trabalhista. Essas reformas tinham como objetivo aumentar os postos de trabalho e os empregos nos setores primário e terciário, além de melhorar a renda do trabalhador. No entanto, nada disso se concretizou. No Brasil, aumentou-se os postos de trabalho no setor terciário e diminuiu-se no setor primário. A taxa de ocupação foi reduzida, o desemprego cresceu, e o setor informal predominou (RIBEIRO; JULIANO, 2005). O crescimento do setor terciário é uma tendência mundial, que vem ocor- rendo em países em desenvolvimento ou que tiveram a sua industrialização mais tardia, principalmente do final da década passada (Figura 1). Os países desenvolvidos já haviam registrado o fenômeno do crescimento em períodos anteriores a esse, por possuírem um processo de industrialização anterior. Atualmente, os países desenvolvidos estão vivendo a expansão do chamado setor quaternário, que abrange as atividades intelectuais e tecnológicas, como geração e troca de informação, educação, pesquisa e desenvolvimento. Empregabilidade nos setores da economia4 Figura 1. Variação da distribuição da população economicamente ativa empregada nos diferentes setores da economia brasileira. Fonte: Branco, Mendonça e Lucci (2016, documento on-line). Verifica-se, portanto, que um dos grandes motivos para o desenvolvimento maior do setor terciário foi a industrialização, que consequentemente expandiu determinados segmentos econômicos, como comércio, setor de transporte e telefonia. O segmento do comércio também se beneficiou com o aumento dos grandes aglomerados urbanos, principalmente desenvolvidos após a metade do século passado, em que existiam populações com alta demanda dos mais variados produtos, como alimentação, higiene, saúde, educação e lazer. Terceirização de serviços no Brasil Outra grande mudança que alavancou o crescimento do setor terciário no Brasil foi a terceirização de serviços, tanto de empresas privadas quanto de órgãos públicos. Esse processo se prolonga até hoje e foi iniciado na década de 1970, a partir da revolução industrial brasileira, no período conhecido como o milagre brasileiro, pela necessidade de as empresas fragmentarem seus serviços e, consequentemente, reduzirem o custo de operação. Com a terceirização, funções específicas do setor público ou privado são designadas a outras empresas, como serviços de limpeza, vigilância, secre- tariado e portaria. No Brasil, a terceirização da produção e da prestação de serviços foram importantes na organização da produção e do trabalho e na relação entre empresas, já que possibilitam aumentar o lucro e simplificar a gestão. No entanto, pode haver queda na qualidade dos produtos ou serviços. Em relação ao trabalhador, a terceirização também parece não ser tão positiva no que diz respeito a salários, direitos trabalhistas e estabilidade. 5Empregabilidade nos setores da economia Entre 1980 e 1990, houve muitas mudanças institucionais e estruturais no Brasil. Estabeleceu-se a Constituição de 1988, esgotou-se a substituição de importações e intensificou-se a globalização, que incentivou a abertura econômica ao exterior. Foi necessário, então, agregar baixos custos e qualidade aos produtos para competir com um mercado aberto (DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICAS E ESTUDOS SOCIOECONÔMI- COS — DIEESE, 2007). Com a intensificação da globalização, algumas expressões em inglês acabam rompendo fronteiras. Isso acontece também no contexto da economia, como pode ser visto a seguir. Outsourcing: contratação de uma empresa para realizar determinadas atividades. Com isso, a equipe que antes realizava essas atividades pode ser remanejada (subcontracting). Offshoring: condução de uma empresa em outro país. A produção visa atender ao país de origem. Divide-se em duas variações: nearshoring, que é a transferência de uma empresa para um país próximo (Estados Unidos e Canadá, por exemplo) e o on-site offshoring, em que se contrata mão de obra estrangeira pagando um salário inferior ao do trabalhador nativo. Offshoring-outsourcing ou international outsourcing: contratação de uma em- presa no exterior para atividades que eram de responsabilidade de uma empresa local. Por exemplo, uma indústria automobilística compra a produção de pneus de uma fábrica em outro país, parando de fabricar o produto. Core business: é o produto principal de uma empresa. O crescimentodo setor terciário no Brasil, pelos vários fatores citados acima, colabora com o crescimento do desemprego e da informalidade nas relações de trabalho. Uma vez que o setor é dominado por micro e pequenas empresas, com ou sem registro, ou ainda por vendedores ambulantes, geral- mente empregam pessoas da família ou trabalhadores não formalizados, a fim de cortarem custos ou mesmo fugir da burocracia dos setores governamentais. Portanto, no Brasil, o desemprego estrutural e a precarização do trabalho crescem juntamente com o crescimento do setor terciário, aliados à baixa qualificação e salários baixos. Empregabilidade nos setores da economia6 Processos econômicos e favelização nos espaços urbanos do Brasil A favela pode ser defi nida como assentamento precário em que habitam, principalmente, famílias de baixa renda. Também caracterizam as favelas a ocupação ilegal e intensa do solo, a carência de infraestrutura, a difi culdade no acesso aos serviços e equipamentos sociais e a insalubridade da moradia, em consequência da dimensão e do desconforto ambiental (PEQUENO, 2008). Ao longo da história, percebe-se que o desenvolvimento das favelas está relacionado à urbanização. Surgiram no fim do século XIX, na cidade do Rio de Janeiro, enquanto ainda era capital nacional. Nas décadas de 1960 e 1970, as favelas chegaram a mais cidades, justamente no período em que se registraram as maiores taxas de crescimento econômico do País, em virtude da indústria (LIBÂNIO, 2016). Dessa forma, principalmente na segunda metade do século XX, a população brasileira, que antes era dispersa pelo território e de predomínio rural, começou a migrar em massa para as cidades, com destaque para os grandes centros urbanos. Essa população foi atraída pela concentração de oportunidades de trabalho e serviços nas cidades, uma vez que os investimentos nesse período eram predominantemente urbanos e industriais e havia inovações tecnológicas. O contexto de desenvolvimento econômico estava baseado na industrialização brasileira. Aliada a isso, a mecanização do campo culminou no desemprego de muitos trabalhadores da área rural e contribuiu para que a população buscasse oportunidade nos centros urbanos (LIBÂNIO, 2016; PEQUENO, 2008). O êxodo rural foi um processo, portanto, que se acentuou a partir da segunda metade do século XX, quando o governo brasileiro passa a investir no setor industrial instalado próximo aos centros urbanos. A mídia também teve um importante papel no contexto, por anunciar que nos grandes centros urbanos brasileiros havia um grande crescimento econômico, vendendo a cidade como um lugar de prosperidade com vagas de emprego para todos. A maior parte da população que migrou do campo para a cidade chegou sem muita escolaridade e experiência profissional, dificultando o ingresso no mercado de trabalho. Isso fez com que surgisse, nas grandes cidades, uma parcela da população sem acesso ao emprego regular ou que melhor remunerava o trabalhador. Consequentemente, sem fonte de renda ou com renda limitada, essa população teve que ocupar lugares menos favorecidos das cidades, onde o custo de vida era relativamente menor, como em encosta de morros (Figura 2). 7Empregabilidade nos setores da economia Figura 2. Favela na cidade de Rio de Janeiro na encosta do morro. Fonte: Skreidzeleu/Shutterstock.com. O poder público apresenta deficiência de instrumentos de planejamento e gestão do território. Desse modo, com o crescimento urbano, falha em prover infraestruturas, estruturar o sistema viário, direcionar a expansão da cidade e controlar o uso do solo e a ocupação do território. O planejamento dos gran- des centros foi comprometido pelo surto de urbanização na segunda metade do século XX, pois os planejamentos urbano e regional, em suas diferentes escalas, estavam estagnados (PEQUENO, 2008). Portanto, a ausência de uma política urbana que estabeleça procedimentos para a elaboração de planejamento e uso do solo urbano resulta, de forma generalizada, em uma urbanização marcada pela desordem, pela disparidade socioespacial e socioeconômica. As cidades acabaram ficando à mercê das ações de especuladores imobiliários, salvo algumas exceções, que muitas vezes, atrelados ao Estado, otimizaram retornos de investimentos, promovendo a deterioração de determinados ambientes urbanos, como as favelas (FRANÇA; OLIVEIRA, 2012). A Rocinha, no Rio de Janeiro, é a favela mais populosa do Brasil, com quase 70 mil pessoas. Se fosse uma cidade, seria maior que 92% dos municípios brasileiros. A partir da década de 1940, surgiram as primeiras habitações, depois da divisão de lotes da antiga fazenda Quebra-cangalha, que produzia café. Foi criado incialmente um centro fornecedor de hortaliças para feiras Empregabilidade nos setores da economia8 da zona sul do Rio de Janeiro, daí o nome de Rocinha. Na década de 1950, com a chegada de imigrantes nordestinos, a ocupação ganhou força. Contudo, a criminalidade aumentou exponencialmente ao longo do tempo. Desde de 2012, a comunidade conta com Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), mas confrontos entre bandidos e policiais da UPP são constantes (PRATES, 2013). Atualmente, vivemos um período de grande discussão econômica envol- vendo a geração de emprego, renda, produção e competitividade da indústria interna brasileira. Desenvolver-se economicamente, gerando emprego e renda para a população, é a promessa de todo gestor público e a função social da economia. A competitividade interna e externa do mercado obriga as empresas a privilegiaram sua própria saúde financeira em detrimento da renda e da qualidade de vida do empregado. As favelas brasileiras evidenciam a desestruturação histórica e a falta de renda e oportunidades da maioria dos brasileiros, uma vez que ali reside, na sua maior parte, a população com menor poder aquisitivo. Além disso, é um reflexo da falta de qualificação da maior parte da população brasileira, que recebe baixos salários e, muitas vezes, trabalham na informalidade. BRANCO, A. L.; MENDONÇA, C.; LUCCI, E. A. Geografia para todos: capítulo 7 – sociedade e economia. 2016. Disponível em: http://www.geografiaparatodos.com.br/index. php?pag=capitulo_7_sociedade_e_economia. Acesso em: 21 nov. 2019. CACCIAMALI, M. C.; BEZERRA, L. L. Produtividade e emprego industrial no Brasil. 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A propriedade urbana e o planejamento citadino nos termos do estatuto da cidade. Revista Direito Ambiental e Sociedade, v. 2, n. 1, p. 175-199, 2012. Disponível em: http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/direitoambiental/article/ download/3704/2127. Acesso em: 21 nov. 2019. KON, A. A distribuição do trabalho informal no Brasil em uma perspectiva de gênero. Revista Venezolana de Análisis de Coyuntura, v. 18, n. 1, p. 201-229, jun. 2012. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/364/36424414010.pdf. Acesso em: 21 nov. 2019. LIBÂNIO, C. A. O fim das favelas? Planejamento, participação e remoção de famílias em Belo Horizonte. Cadernos Metrópole, v. 18,n. 37, p. 765-784, set./dez. 2016. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cm/v18n37/2236-9996-cm-18-37-0765.pdf. Acesso em: 21 nov. 2019. MACEDO, C. D. N. et al. Decomposição estrutural da variação do emprego nos setores industriais no Brasil entre os anos de 2000 e 2009: a tecnologia gera desemprego? 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Empregabilidade nos setores da economia10 Os links para sites da Web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 11Empregabilidade nos setores da economia Dica do professor O setor terciário engloba todas as atividades econômicas relacionadas com o comércio e a prestação de serviços. Ele está evolvido em todas as atividades diárias, desde ir ao supermercado, usar serviços de táxi convencional ou por aplicativos, usar o transporte urbano, frequentar o colégio, etc. O setor terciário é o que mais gera emprego e renda na maioria dos países do mundo, e quanto maior o desenvolvimento do país, maior é o setor terciário em seu PIB e maior é o número de pessoas empregadas nele. O setor terciário brasileiro é um dos que mais tem crescido nos últimos anos, mesmo ainda sendo considerado "atrofiado" pelos baixos salários e pela baixa qualificação dos trabalhadores do setor. Influenciado por uma indústria cada vez mais automatizada e um campo mecanizado e tecnológico, o setor obteve grande demanda na área comercial e de serviços, e ainda há a necessidade de absorver a grande a mão de obra liberada por outros setores. Aliado a isso, também há grande aumento de trabalhadores considerados informais nos últimos anos, conforme dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no meio do ano de 2019. Nesta Dica do Professor, estude sobre o setor terciário no Brasil e veja como ele se desenvolveu a partir das últimas décadas do século passado e se tornou o setor que mais emprega no País. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/26612b07eb522bb69863440aa4394a21 Exercícios 1) Em decorrência do aumento da automatização industrial e agrícola, há eliminação de postos de trabalho. O emprego ganhou significância na era industrial, que exigia força humana e grande quantidade de trabalho repetitivo, o qual, com o avanço tecnológico, foi substituído pela máquina. Portanto, de acordo com De Carvalho (2010), a tecnologia destrói empregos "burros" (sem qualificação) e cria trabalhos "inteligentes" (com qualificação). Indique a alternativa que apresenta dados que comprovam que há grande troca de tecnologia por postos de emprego no Brasil: A) Cada vez menor produção industrial e crescente número de desempregados no Brasil. B) Cada vez maior produção industrial e decrescente número de desempregados no Brasil. C) Cada vez menor produção industrial e constante número de desempregados no Brasil. D) Cada vez maior produção industrial e constante número de desempregados no Brasil. E) Cada vez maior produção industrial e crescente número de desempregados no Brasil. 2) As favelas nasceram principalmente com a população que migrou do campo para a cidade. Esses indivíduos chegaram sem muita escolaridade e experiência profissional nos ramos em que havia postos de trabalho abertos pelas indústrias. Sem uma fonte de renda, essa população teve de ocupar lugares menos favorecidos das cidades, onde o custo de vida era relativamente menor. O poder público, por sua vez, com deficiência de instrumentos de planejamento e gestão do território, pouco auxilia para minimizar o processo de ocupação desordenado. Qual seria o papel do poder público nesse processo? A) A provisão de infraestruturas, a estruturação do sistema viário, o direcionamento da expansão da cidade e o controle do uso do solo e da ocupação do território. B) O investimento em indústrias na periferia, a estruturação do sistema viário, o direcionamento da expansão da cidade e o controle do uso do solo e da ocupação do território. C) A provisão de infraestruturas, a estruturação do sistema agrícola fundiário, o direcionamento da expansão da cidade e o controle do uso do solo e da ocupação do território. O investimento em indústrias na periferia, a estruturação do sistema agrícola fundiário, o direcionamento da expansão da cidade e o controle do uso do solo e da ocupação do D) território. E) A provisão de infraestruturas, a estruturação do sistema viário, o direcionamento da expansão da cidade para onde o setor imobiliário indicar e o controle do uso solo e da ocupação do território. 3) Principalmente na segunda metade do século XX, a população brasileira, que antes era dispersa pelo território e predominantemente rural, começou a migrar em massa para as cidades, com destaque para os grandes centros urbanos. Essa população foi atraída principalmente por quais fatores? A) Oportunidades de aperfeiçoamento escolar, investimentos predominantemente na área rural e da indústria e inovações tecnológicas. B) Oportunidades de trabalho e serviços, investimentos predominantemente na área rural e inovações tecnológicas. C) Oportunidades de aperfeiçoamento escolar, investimentos predominantemente urbanos e industriais e inovações tecnológicas. D) Oportunidades de trabalho e serviços, investimentos predominantemente urbanos e industriais e inovações tecnológicas. E) Oportunidades de aperfeiçoamento escolar, investimentos predominantemente na área rural e industrial e crescimento do setor terciário. 4) Nos anos de 1990, a maioria dos países da América Latina, entre eles o Brasil, introduziu um conjunto de reformas estruturais, relativas à sua economia. Essas reformas abrangeram quais aspectos? A) Abertura comercial, liberalização financeira, criação de estatais e, em alguns países, alterações na legislação trabalhista. B) Aberturacomercial, liberalização financeira, privatizações e, em alguns países, alterações na legislação trabalhista. C) Abertura comercial, liberalização financeira, privatizações e, em alguns países, alterações na legislação ambiental. D) Abertura comercial, liberalização financeira, criação de estatais e, em alguns países, alterações na legislação ambiental. E) Abertura comercial, liberalização financeira, privatizações e, em alguns países, alterações na legislação ambiental. 5) No final da década de 1980 e no início da década de 1990, o Brasil passou por uma série de mudanças institucionais e estruturais, que foram: A) a Constituição de 1988, o esgotamento do processo de substituição de importações e a abertura da economia ao exterior. B) a Constituição de 1988, o esgotamento do processo de substituição de importações e o fechamento da economia ao exterior. C) a Constituição de 1988, o esgotamento do processo de importações e o fechamento da economia ao exterior. D) a Constituição de 1988, o esgotamento do processo de importações e a abertura da economia ao exterior. E) a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), o esgotamento do processo de substituição de importações e a abertura da economia ao exterior. Na prática A realidade das favelas é marcada por um cenário de violência na busca pelo controle do tráfico de drogas. Os traficantes fazem da comunidade o seu escudo e também a sua fonte de renda, cobrando por serviços como segurança, água e energia elétrica, criando, assim, um poder paralelo, pela ausência histórica e pelo descontrole do Estado. A atuação do Estado dentro dessas comunidades se dá somente pela presença da polícia, a qual também não é efetiva, visto que há graves denúncias de corrupção praticada por essa instituição. O professor em sala de aula tem o dever de comunicar aos alunos essa realidade, salientando as causas da formação desses aglomerados urbanos e as consequências para a sociedade que vive nesses locais e para a população em geral quanto à sua qualidade de vida. Neste Na Prática, veja a sugestão de uma aula com recursos audiovisuais a fim de trazer a realidade das favelas brasileiras para dentro da sala de aula. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/7c8a5eb1-41e1-459e-9860-8f228c3603dd/1d17c70e-d1aa-40ca-a5b5-e571806a3775.jpg Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Diferencial de salários da mão de obra terceirizada no Brasil Este artigo compara os salários da mão de obra terceirizada no Brasil com os dos trabalhadores contratados diretamente pelas empresas. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Entre latifúndios e favelas: o Brasil urbano no pensamento de Anthony Leeds Neste artigo, é apresentada uma análise da contribuição de Anthony Leeds em trabalhos realizados no Brasil, com destaque para o estudo sobre favelas. Nessa perspectiva, seu trabalho traz uma análise sobre a visão dos moradores das favelas e as respectivas estratégias cotidianas, ao mesmo tempo que discute o fenômeno por ele denominado mito da ruralidade. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Uma análise da mobilidade ocupacional no Brasil segundo o nível tecnológico das ocupações Neste trabalho, foram criados oito estratos distintos que agrupam as ocupações brasileiras atuais segundo seu teor tecnológico por meio do método da atribuição de escores a diversas “características tecnológicas” presentes na descrição das ocupações efetuadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego. http://www.scielo.br/pdf/ee/v47n3/0101-4161-ee-47-03-0587.pdf https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/31371/2/Lima_Entre%20latif%c3%bandios%20e%20favelas.pdf Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. http://www.abep.org.br/publicacoes/index.php/anais/article/view/1888