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85 MICROBIOLOGIA, IMUNOLOGIA E PARASITOLOGIA Unidade II 5 O SISTEMA IMUNOLÓGICO E SEUS CONSTITUINTES 5.1 Conceitos gerais O organismo humano está exposto constantemente a diferentes agentes e ambientes, muitos deles infecciosos. Embora o número de indivíduos expostos aos agentes infecciosos seja alto, apenas uma pequena parcela vai manifestar a doença, uma vez que o hospedeiro tem mecanismos para destruir o agente infeccioso. O sistema imunológico é um conjunto de moléculas e tecidos que, por meio de reações coordenadas, vai conferir resistência às infecções. A resposta imunológica tem como objetivo prevenir e impedir a disseminação de infecções e erradicar processos infecciosos já estabelecidos, além de controlar a microbiota endógena. Para tanto, o sistema imunológico tem mecanismos específicos para lidar com a enorme variedade de antígenos encontrados no ambiente. Alguns termos são muito importantes quando se fala de respostas imunológicas. É muito comum a confusão de alguns termos, como infecção versus inflamação, antígeno versus anticorpos e citocinas versus interleucinas. A seguir definiremos alguns desses termos para que no decorrer da leitura não ocorram confusões, nem a compreensão errada desses conceitos. A inflamação é uma reação do sistema imunológico que ocorre nos tecidos vascularizados. O processo inflamatório envolve tanto a ação dos leucócitos e dos famigerados glóbulos brancos como a de proteínas plasmáticas. A ação desses elementos ocorre em resposta à lesão tecidual ou pelo contato com toxinas. Nesta situação, existe um aumento da permeabilidade capilar que estimula a migração de células de defesa, no caso, os leucócitos, para o local da lesão. Paralelamente ocorre o extravasamento de fluidos para o tecido conjuntivo lesionado. Assim, em um primeiro momento, a resposta inflamatória tem uma função protetora, ao impedir a disseminação do agente estranho, e promove o reparo do tecido lesionado. Nem toda inflamação é acompanhada de infecção, porém todo processo infeccioso, independentemente do agente iniciador, desencadeia uma resposta inflamatória. Observação Inflamação aguda: processo de curta duração, com a remoção do agente inflamatório. Inflamação crônica: longa permanência do agente agressor, e sua remoção total pode não ocorrer. 86 Unidade II 1 3 6 5 4 2 Substâncias químicas como histamina, cininas, prostaglandinas, leucotrienos e citocinas (representadas como pontos azuis) são liberadas pelas células danificadas Inicia‑se a formação de um abscesso (área amarelo‑escuro) 1) 2) 3) Fagócitos das bactérias invasoras Bactéria Neutrófilo Macrófago Diapedese – os fagócitos se comprimem entre as células endoteliais Marginação – os fagócitos aderem‑se ao endotélio Vasodilatação e aumento da permeabilidade vascular Endotélio do vaso sanguíneo Monócito Neutrófilo Bactéria Eritrócito Um coágulo sanguíneo se forma Figura 58 – Esquema demonstrando o mecanismo de resposta inflamatória. No primeiro quadrante à esquerda, vemos o início da resposta inflamatória causada por uma lesão, responsável por liberar os mediadores químicos que vão recrutar as células de defesa (quadrante à esquerda). Em 1, temos a lesão que provoca a liberação de mediadores químicos que recrutam as células de defesa; (2) as células de defesa realizam a diapedese e chegarem ao tecido conjuntivo; (3) por quimiotaxia essas células chegam até o local da lesão para realizar a fagocitose e, consequentemente, a remoção do agente invasor Chamamos de infecção a presença de microrganismos que causam alterações fisiológicas e danos teciduais, além de modificações das proteínas plasmáticas. As infecções endógenas são aquelas causadas por microrganismos pertencentes à microbiota endógena, ao passo que as infecções exógenas são provocadas por microrganismos da flora exógena. São chamados de antígeno aquelas moléculas capazes de desencadear uma resposta imunológica ao se ligarem ao receptor de célula T ou a um anticorpo. Os antígenos que se unem aos anticorpos incluem todas as classes de moléculas, enquanto aqueles capazes de se ligarem aos receptores de célula T são de origem proteica. 87 MICROBIOLOGIA, IMUNOLOGIA E PARASITOLOGIA A parte do antígeno reconhecida pela maioria dos linfócitos recebe o nome de epítopo imunodominante, que são normalmente gerados dentro da célula apresentadora de antígeno – cuja função será discutida mais adiante – e possuem maior probabilidade de ativarem as células T. Sempre que usarmos apenas o termo epítopo, estaremos nos referindo a uma região específica do antígeno macromolecular que se liga ao anticorpo ou será responsável pela ativação das células T. Anticorpos são sinônimos de imunoglobulina (Ig) – glicoproteínas produzidas pelos plasmócitos, que são células derivadas dos linfócitos B. Todo anticorpo se liga a antígenos específicos por meio de regiões de alta afinidade formando o complexo antígeno‑anticorpo. Também são capazes de se ligarem a outras moléculas do sistema imune para aumentar a eficiência da resposta imunológica. Mais adiante, veremos que os anticorpos possuem várias funções efetoras de acordo com o antígeno que ativar à sua produção. Finalmente temos as citocinas, que são moléculas de origem proteica responsáveis por mediar as respostas imunes e inflamatórias. Podem ser produzidas pelos macrófagos, pelas células NK e pelos linfócitos T conforme o tipo de resposta imune desencadeada pelo antígeno. As interleucinas (IL) são um tipo de citocina, porém se diferem das citocinas, uma vez que são produzidas e agem nos leucócitos. Ativação do sistema imunológico Célula produtora de citocina R ec ep to r Célula‑alvo Efeito sistêmico Cascata de sinalização Citocinas Figura 59 –Representação esquemática do mecanismo de ação das citocinas Saiba mais Existem diferentes tipos de citocinas e interleucinas com diversas aplicabilidades. A fim de conhecer e entender melhor como cada uma delas atua, leia: MURRAY, P. R. et al. Microbiologia médica. 7 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. 88 Unidade II 5.2 Órgãos e tecidos linfoides Os órgãos linfoides e tecidos linfáticos são estruturas pertencentes ao sistema linfático. Nesses órgãos e tecidos, são geradas e diferenciadas as células de defesa, além da ocorrência de resposta imunológica. Chamamos de órgãos linfoides primários ou centrais as estruturas responsáveis pela produção e/ou diferenciação de células de defesa. Nesta categoria, enquadramos a medula óssea e o timo. Já os órgãos linfoides secundários ou periféricos são aqueles que atuam tanto no armazenamento de células de defesa como no sítio de ocorrência de resposta imunológica. São exemplos de órgãos linfoides secundários: baço, linfonodos e gânglios linfáticos. A figura a seguir mostra a distribuição dos órgãos linfoides primário e secundário pelo organismo humano. Tonsilas Timo Vaso linfático Intestino grosso Medula óssea vermelha Linfonodo Placas de Peyer Intestino delgado Baço Ducto torácico Coração Figura 60 – Distribuição dos órgãos linfoides primários e secundário pelo organismo humano 89 MICROBIOLOGIA, IMUNOLOGIA E PARASITOLOGIA Após serem geradas nos órgãos linfoides primários, as células de defesa ficam circulando entre os órgãos linfoides secundários, o sangue e a linfa, mas nunca retornam ao órgão linfoide primário. Órgãos linfoides primários Órgãos linfoides secundários Linhagem de Linfócitos B Linfócitos B maduros Recirculação Recirculação Sangue Sangue linfa Linfonodos Fígado Mucosa e tecidos linfoides cutâneos Medula óssea Linhagem de Linfócitos T Linfócitos T maduros Célula‑tronco Timo Figura 61 – Representação esquemática da relação existente entre os órgãos linfoides primários e secundários 5.2.1 Órgãos linfoides centrais A grande função dos órgãos linfoides primários está centrada na produção e na maturação dos linfócitos. As células‑tronco da medula óssea são responsáveis pela geraçãoe proliferação das formas imaturas dos linfócitos B e T, em diferentes estágios da sua maturação, seguida da expressão dos genes para os receptores de antígenos e a seleção daqueles linfócitos que apresentam expressão funcional desses receptores de antígenos. A interleucina 7 (IL‑7) tem um papel crucial nesse processo, pois mantém e expande o número de células progenitoras de linfócitos. A medula óssea é um órgão linfoide primário, responsável pela produção de todos os elementos sanguíneos, incluindo neles as células de defesa da linhagem mieloide e da linhagem linfoide, como é o caso dos linfócitos B e T. A maturação dos linfócitos B ocorre na medula óssea, uma vez que as linhagens progenitoras desses linfócitos se multiplicam gerando um grande número de células pró‑B que, após processo de maturação, será convertida em célula pré‑B. Finalmente, depois da expressão dos receptores, será transformada em célula B imatura. A sua maturação pode ocorrer na própria medula óssea ou, ainda, após essa célula deixar a medula e entrar no baço. Independentemente do seu local de maturação, a célula B madura é capaz de responder à presença de antígenos localizados nos tecidos e nos órgãos linfoides periféricos. 90 Unidade II Proliferação Células pró‑B/T Aumento numérico Expressão do receptor antigênico Células pré‑B/T expressam cadeia parcial do receptor Proliferação das células que expressam a cadeia parcial do receptor Apoptose das células que não expressam essa cadeia do receptor Expressão do receptor antigênico Células B/T imaturas expressam cadeia completa do receptor Apoptose das células que não expressam a cadeia completa Seleção positiva e negativa Seleção positiva • Fraco reconhecimento de autoantígeno Falha na seleção positiva • Não reconhecimento de autoantígeno Seleção negativa • Forte reconhecimento de autoantígeno Figura 62 – Sequência de eventos que levam à seleção positiva ou negativa dos linfócitos B e T Medula óssea Célula pró‑B Linhagem germinativa Genes recombinantes de cadeia pesada Recombinação dos genes de cadeia pesada União das cadeias Célula efetora Célula pró‑B I Célula pró‑B II Célula B imatura Célula B madura Plasmócito Periferia Figura 63 – Estágios de maturação e seleção dos linfócitos B As células progenitoras dos linfócitos T são produzidas na medula óssea, mas precisam migrar para o timo, onde ocorrerá sua diferenciação e maturação. O timo fica situado próximo ao arco aórtico e tem a função de gerar e diferenciar as células T (linfócitos T) a partir de células linfoides provenientes da medula óssea vermelha. As células T geradas no timo passam por um processo de seleção a fim de adquirirem a capacidade de diferenciar o próprio do não próprio, impedindo, assim, que as células de defesa ataquem os constituintes do próprio organismo. 91 MICROBIOLOGIA, IMUNOLOGIA E PARASITOLOGIA Lembrete Em recém‑nascidos, o timo é maior do que em adultos. Isso ocorre porque o timo, após a puberdade, sofre uma involução, ou seja, reduz de tamanho. Essas células progenitoras imaturas são chamadas de células T duplo‑negativas, pois não expressam em sua superfície os marcadores CD4 e CD8. Após o primeiro evento de maturação, são formadas as células pré‑T que, após nova expansão clonal e expressão de novos genes, recebe o nome de célula T duplo‑positivas, já que expressam simultaneamente os receptores CD4 e CD8. Neste ponto, as células estão prontas para serem selecionadas positiva ou negativamente conforme o padrão de reconhecimento do receptor MHC (complexo principal de histocompatibilidade). Aquelas células que não reconhecem nenhum tipo de receptor MHC, ou o reconhecem fortemente, são selecionadas negativamente e morrem por apoptose. Em contrapartida, aquelas células que reconhecem fracamente os receptores MHC de classe I e MHC de classe II são selecionadas positivamente, gerando os linfócitos T CD8+ e T CD4+ maduros, respectivamente. Cé lu la ‑t ro nc o Cé lu la p ré T Seleção positiva Célula epitelial tímica Timócitos CD4+CD8+ Timócitos CD4+CD8– maduro MHC da classe II MHC da classe II Reconhecimento do complexo MHC- peptídio nas células epiteliais do timo com baixa afinidade/avidez Defeito no reconhecimento do complexo MHC-peptídio nas células epiteliais tímicas Reconhecimento do complexo MHC-peptídio nas células tímicas apresentadoras do antígeno com alta avidez Resgate da morte celular programada; conversão em timócito de monopositivo Timócito CD4+CD8+ Timócito CD4+CD8+ CD4 CD4 CD4 CD4 Célula epitelial tímica Célula apresentadora do antígeno no timo Falta de seleção positiva Seleção negativa Cé lu la T d up lo n eg at iv a (C D4 ‑C D8 ‑) Cé lu la T im at ur a du pl a po sit iv a (C D4 +C D8 +) A B C CD8 CD8 CD8 Morte celular por apoptose Morte celular por apoptose Figura 64 – Sequência de eventos necessários para o amadurecimento e a seleção dos linfócitos T. A maturação dos linfócitos T ocorre no timo por um evento de ativação sequencial de genes semelhante ao que ocorre nos linfócitos B. A expressão dos genes para os receptores CD4 e CD8 são essenciais para a formação da célula T madura. A incapacidade de reconhecimento e expressão dos receptores antigênicos leva à morte da célula por apoptose 92 Unidade II 5.2.2 Órgãos linfoides periféricos São chamados de órgãos linfoides periféricos aquelas estruturas cujas respostas imunes são iniciadas e o reconhecimento e a interação do antígeno com as células de defesa – em especial os linfócitos – são otimizadas para estimular a resposta imune adaptativa. Estão incluídos nessa categoria os linfonodos, o baço e o sistema imunológico cutâneo e das mucosas. Os linfonodos são estruturas levemente esféricas, situadas ao longo dos vasos linfáticos distribuídos por todo o corpo. A função dos linfonodos é filtrar a linfa de forma que as células apresentadoras de antígeno possam captar e reconhecer agentes infecciosos e destruí‑los por meio da ação de células de defesa. O baço fica situado próximo ao pâncreas e tem um papel similar ao do linfonodo, porém atua captando e reconhecendo agentes infecciosos presentes no sangue. Tais antígenos serão reconhecidos pelos macrófagos e pelas células dendríticas, destruindo‑os mediante a ação de macrófagos e linfócitos B. Chamamos de tecido linfoide cutâneo e mucoso as massas de tecidos linfoides localizadas sob o epitélio da pele e dos tratos respiratório e gastrointestinal. Os sítios mucosos estão localizados no intestino (placa de Peyer), nos pulmões e nas tonsilas. Nestes sítios ocorrem respostas imunológicas antes que os antígenos penetrem pelo epitélio e atinjam regiões mais profundas do organismo, ou seja, essas regiões funcionam como barreiras de contenção. 6 CÉLULAS QUE PARTICIPAM DA RESPOSTA IMUNE Todas as células que participam da resposta imunológica são geradas na medula óssea por meio de um precursor comum. A maturação e a diferenciação dessas células ocorrem pela ação de mediadores químicos, do tipo citocinas, específicos. Com exceção dos linfócitos T, cuja maturação ocorre no timo, todas as outras células participantes da resposta imunológica são geradas e maturadas na medula óssea. Podemos dividi‑las em três grandes grupos: • células apresentadoras de antígeno: capturam, processam e apresentam o antígeno; • linfócitos: fazem o reconhecimento específico; • células de fagocitose: eliminam os patógenos. A figura a seguir mostra de forma simplificada o processo de maturação dessas células: 93 MICROBIOLOGIA, IMUNOLOGIA E PARASITOLOGIA Célula‑tronco progenitora Mieloide progenitora Linfoide progenitora Linfócito B Linfócito T Célula NK Célula dendrítica Eritrócitos Plaquetas Basófilo Eosinófilo Neutrófilo Monócito Macrófago Célula pluripotente Thymus Figura 65 – Representação esquemática da origem das células de defesa provenientes de célula progenitoraencontrada na medula óssea vermelha Lembrete Por serem pluripotentes, as células da medula óssea têm sido estudadas com o intuito de serem utilizadas no tratamento de doenças degenerativas, como a doença de Parkinson e distrofias musculares. 6.1 Células apresentadoras de antígeno São células encontradas nos sítios mucosos e cutâneos, ou seja, nas portas de entrada dos microrganismos. Funcionam como células apresentadoras de antígeno as células dendríticas e os macrófagos. Em comum, essas células têm a capacidade de fagocitar o antígeno, processá‑lo e expô‑lo aos linfócitos encontrados nos linfonodos e no baço. 94 Unidade II As células dendríticas são mais atuantes na captura e no processamento de antígenos proteicos que usam o epitélio como porta de entrada. Ao fagocitar o antígeno, a célula dendrítica se desloca até os linfonodos e apresenta o produto desse processamento para o linfócito T. 6.2 Linfócitos Embora apresentem morfologia semelhante, são divididos em células B e T conforme o processo de maturação sofrido. Tal processo de diferenciação faz que essas células adquiram receptores específicos para o reconhecimento antigênico tornando‑os, deste modo, as principais células atuantes na resposta imune adaptativa. Um linfócito que nunca entrou em contato com um antígeno é chamado de linfócito virgem. Quando um antígeno se ligar a um receptor de linfócito, essas células de defesa iniciarão a proliferação e se diferenciarão em células efetoras de cada linfócito, que efetivamente destruirão o antígeno e as células de memória, que, por sua vez, serão ativadas em um contato subsequente, assim como o mesmo antígeno que desencadeou o processo inicial. 6.2.1 Linfócito B Os linfócitos B, gerados e maturados na medula óssea, são as únicas células capazes de produzir anticorpos, por isso sempre associamos os linfócitos B com a principal célula envolvida na imunidade humoral. Os antígenos que se ligam aos receptores dos linfócitos B não precisam ser processados pelas células apresentadoras de antígenos. Assim, após a ativação dessa linhagem linfocitária, ou seja, da sua proliferação e diferenciação, ocorre a geração das células efetoras dos linfócitos B, que são os plasmócitos – células responsáveis pela produção e secreção dos anticorpos (estruturas proteicas que vão destruir os antígenos). Além dos plasmócitos, a ativação das células B gera células B de memória. 95 MICROBIOLOGIA, IMUNOLOGIA E PARASITOLOGIA Célula‑tronco Células B Antígeno I II III IV 1 2 3 4 5 Células‑tronco se diferenciam em células B maduras, cada uma carregando imoglobulinas em suas superfícies contra um antígeno específico Célula B III se associa ao seu antígeno específico e prolifera Algumas células B proliferam em células de memória de vida longa, que mais tarde podem ser estimuladas a se tornarem plasmócitos produtores de anticorpos. Outras células B proliferam em plasmócitos de anticorpos Plasmócitos secretam anticorpos na circulação Antígenos na circulação agora fixados aos anticorpos circulantes Sistema cardiovascular Células de memória Plasmócitos Figura 66 – Mecanismo de proliferação e diferenciação do linfócito B resultando na formação de plasmócitos – células produtoras de anticorpos – e células B de memória Observação A procura por anticorpos no sangue é uma forma de identificar se o paciente foi exposto a determinado antígeno, principalmente no caso de procura por antígenos virais. 96 Unidade II 6.2.2 Linfócito T Os linfócitos T estão relacionados à imunidade celular. Seus receptores são aptos a reconhecerem apenas peptídeos antigênicos, portanto são necessários captura e processamento do antígeno pelas células dendríticas antes da ativação dos linfócitos T. Embora a célula precursora do linfócito T seja gerada na medula óssea, a sua maturação ocorre exclusivamente no timo. Durante esse processo, são geradas duas populações de células T: as células T CD4+, também chamadas de T auxiliares, e as células T CD8+, conhecidas como linfócitos T citotóxicos ou CTLs. A população CD4+ é responsável por auxiliar na diferenciação dos linfócitos B em plasmócitos e por recrutar células de fagocitose. Em contrapartida, os CD8+ são aptos a destruir células infectadas por microrganismos. Além disso, após o processo de ativação e diferenciação dos linfócitos T, assim como aconteceu com os linfócitos B, são geradas as células de memória. ‑ Linfócito B Reconhecimento do antígeno Função efetora Linfócito T auxiliar Linfócito T citotóxico (CLT) Célula NK Morte da célula infectada Morte da célula infectada Inflamação Proliferação e diferenciação de Linfócitos B e T Ativação do macrófago Neutralização do MO; fagocitose e ativação do complementoMO Anticorpo Citocinas Antígeno microbiano apresentado pela APC Célula infectada expressando antígeno microbiano Célula‑alvo Figura 67 – Mecanismo de diferenciação de células B e T e as diferentes subpopulações geradas no processo 97 MICROBIOLOGIA, IMUNOLOGIA E PARASITOLOGIA Observação O vírus HIV é considerado imunossupressor justamente por impedir a ativação do linfócito T CD4+. 6.2.3 Células NK Existe ainda uma terceira classe de linfócitos que difere dos linfócitos B e T por não apresentar receptores específicos na superfície da membrana. Essas células, denominadas células Natural Killer (NK), são especializadas em destruir células infectadas do hospedeiro. Porém, a ausência de receptores específicos na sua membrana impede que elas atuem diretamente na resposta imune adquirida junto com os linfócitos B e T, mas são componentes essenciais para a resposta imune inata por eliminar rapidamente células infectadas. Observação O leucograma diferencial é a contagem individual dos leucócitos com o intuito de relacionar uma determinada alteração na quantidade e/ou na forma da célula com uma patologia específica. 6.3 Granulócitos Chamamos de granulócitos um grupo de células geradas na medula óssea e que se caracterizam por apresentarem um citoplasma rico em grânulos enzimáticos capazes de induzir o estresse oxidativo de um patógeno ou, ainda, a sua hidrólise ácida. Essas células também são conhecidas como leucócitos. Os granulócitos são gerados a partir de uma célula mieloide progenitora, também derivada da mesma célula‑tronco que gerou os linfócitos. A seguir serão descritas as características dessas células, que também têm importante papel na resposta imunológica, em especial na resposta imune inata. Neutrófilo Basófilo Eosinófilo Monócito Macrófago Figura 68 – Representação esquemática dos granulócitos provenientes da linhagem mieloide 98 Unidade II Os neutrófilos, também conhecidos como leucócitos polimorfonucleares (PMN), são o tipo mais abundante de leucócitos circulantes. São células com o citoplasma rico em grânulos, contendo lisozima e enzimas oxidantes, que atuam principalmente na defesa contra bactérias e possuem alta capacidade de diapedese, ou seja, atravessam os vasos sanguíneos para chegar até o tecido conjuntivo lesionado, o que mostra seu papel durante a resposta inflamatória. Têm a capacidade de realizar fagocitose e promover a digestão enzimática do patógeno. Selectina Integrina Superfamília das imunoglobulinas Receptor de selectina Receptores de integrina a b c d e f g Moléculas quimioatraentes Quimiocinas Figura 69 – Representação esquemática do processo de diapedese sofrido por um neutrófilo. Em (a‑d) é possível observar a necessidade de moléculas de adesão, que permitirão o rolamento do neutrófilo; em (e) ele se achata, ainda ligado às moléculas de adesão para que possa passar entre as células do endotélio dos vasos (f) e migrar em direção ao tecido conjuntivo responsável pela liberação dos fatores quimiotáticos, que desencadearam o processo (setas azuis) O eosinófilo também possui o citoplasma rico em grânulos, mas, desta vez, o conteúdo é de histamina e heparina. Embora seja capaz desofrer diapedese, esta não é tão rápida quanto a dos neutrófilos. É encontrado em abundância nos infiltrados inflamatórios de reações de hipersensibilidade, o que mostra sua participação nos processos patológicos em doenças alérgicas. Sua principal ação é contra parasitas extracelulares, em especial os helmintos. Saiba mais A fim de entender melhor o papel dos eosinófilos no combate a infecções parasitárias, leia: TORTORA, G. J. et al. Microbiologia. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. Os monócitos são células encontradas na corrente sanguínea e sofrem diferenciação ao realizar a diapedese por serem recrutados para um sítio inflamatório. Ao chegarem ao tecido conjuntivo, os monócitos se diferenciam em macrófagos – células com alto poder de fagocitose e importante papel nas respostas imunes inatas e adquiridas. 99 MICROBIOLOGIA, IMUNOLOGIA E PARASITOLOGIA São responsáveis não apenas pela remoção de bactérias, mas também pela remoção de células velhas. Além disso, são capazes de sintetizar citocinas pró‑inflamatórias e atuar como células apresentadoras de antígeno para o linfócito T. Alguns macrófagos podem sofrer alterações morfológicas e ficar fixos em alguns tecidos do organismo, agindo exclusivamente na sua defesa – são as células da micróglia (tecido nervoso), as células de Kupffer (fígado) e os osteoclastos (tecido ósseo), por exemplo. A) Neutrófilo Monócito B) Figura 70 – (A) Monócito em sangue periférico. (B) Macrófago fagocitando várias Leishimania (setas) Os basófilos e os mastócitos são células morfologicamente e funcionalmente semelhantes, além de ricas em grânulos contendo mediadores inflamatórios. Ademais, possuem na sua superfície receptores de alta afinidade para a região constante dos anticorpos do tipo Imunoglobina E (IgE), o que confere a essas células importante papel como mediadoras da resposta de hipersensibilidade imediata. Quando o IgE se ligar ao receptor encontrado nos mastócitos e/ou basófilos, desencadeará um processo de degranulação, isto é, ocorrerá a liberação de grânulos ricos em aminas vasoativas. A principal diferença entre essas células está na localização. Enquanto os mastócitos se instalam em tecidos adjacentes aos vasos sanguíneos após serem liberados pela medula óssea, os basófilos são células encontradas na circulação, que sofrem diapedese ao serem recrutadas para o tecido onde o patógeno está localizado. Saiba mais Os livros a seguir podem auxiliar a entender melhor o papel de cada uma das células envolvidas na resposta imune: ABBAS, A. K. et al. Imunologia celular e molecular. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. ROITT, I.; RABSON, A. Imunologia básica. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. 100 Unidade II 7 RESPOSTA IMUNE INATA Os agentes infecciosos estão presentes nos ambientes em que vivemos; por isso, é necessário desenvolver uma série de mecanismos que defendam o hospedeiro da ação patogênica desses agentes. A fim de não permitir que tais agentes se instalem no nosso organismo, é preciso impedir que eles entrem no meio interno e invadam os tecidos mais profundos. Esse mecanismo que coíbe a entrada e a instalação desses patógenos no organismo hospedeiro recebe o nome de imunidade inata, cuja característica principal é o fato de ser um mecanismo inespecífico, ou seja, a intensidade da resposta não é afetada pelo contato prévio com o agente. Muito se especulava sobre a verdadeira força da resposta imune inata. Hoje sabemos que apesar de essa ser uma resposta inespecífica, não significa que ela seja fraca. Muito pelo contrário! Essa é uma resposta capaz de controlar as infecções antes que o mecanismo de resposta imune adaptativa se torne atuante. A principal característica da resposta imune inata está na sua capacidade de reconhecer — e responder — as estruturas de antígenos que não estão presentes no hospedeiro humano, mas que são comuns às diversas classes de microrganismos. Como exemplos dessas estruturas, podemos citar a camada de LPS das bactérias Gram‑ e o RNA dupla‑fita dos vírus, que podem ser compartilhados por diferentes microrganismos do mesmo grupo, ou seja, os elementos da resposta imune inata se desenvolveram ao longo do tempo a fim de reconhecerem estruturas antigênicas essenciais à sobrevivência e à patogenicidade do microrganismo. Dessa forma, os elementos da resposta imune inata não são capazes de reagir contra elementos do próprio hospedeiro. Outra característica importante da resposta imune inata é o fato de responder, da mesma maneira, aos encontros subsequentes, isto é, não existe formação de uma memória imunológica, em consequência da rapidez da resposta ao patógeno invasor. 7.1 Elementos e mecanismos de ação Os elementos que compõem a resposta imune inata agem com o objetivo de bloquear a entrada dos patógenos nos tecidos do hospedeiro. Eles atuam como barreiras contra a penetração de microrganismos, células circulantes e fixas nos tecidos conjuntivos e proteínas plasmáticas. A primeira linha de defesa da resposta imune inata é a barreira epitelial, representada pela pele e pelas mucosas respiratória e gastrointestinal. Todas essas estruturas, quando íntegras, serão impermeáveis a grande parte dos patógenos. Além da interferência física para a entrada dos patógenos, as células do epitélio produzem substâncias que interferem quimicamente na penetração do patógeno. Essas substâncias podem atuar como antibióticos naturais que destroem as bactérias, bem como impedir a sua aderência por meio da ação do muco protetor dessas superfícies e da ação de lágrimas e salivas. 101 MICROBIOLOGIA, IMUNOLOGIA E PARASITOLOGIA Barreira física à infecção Morte dos MOs por paptídeos de ação microbicida produzidos localmente Morte dos MOs e células infectadas por linfócitos intraepiteliais Peptide antibiotics Intraepithelial lymphocyte Figura 71 – Estratégia de ação das barreiras epiteliais Porém, existem situações em que microrganismos patogênicos conseguem driblar essas defesas e penetrar no organismo. Neste caso, entra em ação um outro mecanismo de contenção: a fagocitose. Chamamos de fagócitos aquelas células especializadas em realizar a fagocitose. No caso da resposta imune inata, os fagócitos são representados pelos neutrófilos e monócitos circulantes recrutados para o local da infecção. O neutrófilo, também chamado de polimorfonucleado (PMN), é o fagócito mais abundante, embora tenha uma vida relativamente curta na circulação. Seu núcleo é multilobado e seu citoplasma é rico em grânulos contendo enzimas com ação bactericida, como a lisozima, a fosfatase alcalina e a lactoferrina. Na presença de um agente infeccioso, ocorrerá a estimulação da produção e da maturação de neutrófilos na medula óssea em resposta à ação das citocinas. Infecções bacterianas e fúngicas são fortes indutores da proliferação dos neutrófilos. Além dos neutrófilos, atuam na resposta imune inata os monócitos, que se diferenciam em macrófagos ao sofrerem a diapedese e chegarem ao tecido infectado, formando o sistema de fagócitos mononucleados. Duas características distinguem os neutrófilos dos monócitos. A primeira delas é a diferenciação em macrófagos ao chegarem ao tecido conjuntivo. Uma vez no sangue, os monócitos são incapazes de realizar fagocitose – tal capacidade só é adquirida quando essas células chegam ao tecido conjuntivo, enquanto os neutrófilos são capazes de realizar a fagocitose tanto no sangue como no tecido. A segunda característica é em relação ao tempo de vida – os monócitos/macrófagos têm um tempo de vida superior ao dos neutrófilos após sofrerem a diapedese e realizarem a fagocitose. 102 Unidade II Apesar dessas diferenças, o mecanismo de fagocitose é comum aos dois tipos celulares. O primeiro passo é o reconhecimento do antígeno por receptores presentes na superfície das células de fagocitose. Logo depois ocorre a adesão da molécula ao seu receptor seguida de modificações da membrana dos fagócitos que se fecharãoao redor do microrganismo, resultando na formação do fagossomo. Posteriormente os lisossomos migram para próximo do fagossomo, resultando na fusão do fagossomo com um ou mais lisossomos, formando o fagolisossomo. Nessa estrutura, acontece a interação das enzimas lisossomais com as estruturas do microrganismo, resultando na destruição deste por ação das enzimas microbicidas presentes nos lisossomos. 1 1 2 2 3 3 4 4 5 5 6 6 7 7 Quimiotaxia e aderência do micróbio ao fagócito Ingestão do micróbio pelo fagócito Formação de um fagossomo Fusão do fagossomo com um lisossomo para formar um fagolisossomo Digestão enzimática do micróbio ingerido Formação de corpo residual contendo material que não pode ser digerido Liberação (despejo) de material não usado PAMP (peptideoglicano da parede celular) Membrana plasmática Membrana plasmática Micróbio parcialmente digerido Material que não pode ser digerido Micróbio ou outra partícula Fagossomo (vesícula fagocítica) Fagolisossomos Enzimas digestivas Corpo residual Lisossomo Citoplasma Fases da fagocitose Fagócito Detalhes da aderência Pseudópodes TLR Figura 72 – Etapas da fagocitose As células NK também atuam na resposta imune inata a fim de bloquear a ação dos patógenos intracelulares, em especial os vírus, antes que eles iniciem a sua replicação. Elas são capazes de identificar “marcas” que os patógenos deixam na superfície da célula infectada. Tal reconhecimento ativa uma série de eventos, que resulta na liberação de grânulos presentes na célula NK. Esses grânulos, por sua vez, penetram na célula infectada e atuam como fatores citotóxicos, chamados de Fatores de Necrose Tumoral (FNT), ou seja, induzem à apoptose da célula‑alvo, levando à sua morte e à morte do patógeno. 103 MICROBIOLOGIA, IMUNOLOGIA E PARASITOLOGIA HLA = antígeno leucocitário humano; KTR = killer immunoglobulin‑like receptor; NK = natural killer K|R K|R Receptor Receptor Lise Lise Ativador Ativador HLA NK NK Célula-alvo Célula-alvo Figura 73 – Mecanismo de reconhecimento das células NK. A interação do receptor das células NK (KIR) e do MHC de classe II (HLA) da célula‑alvo impede a ocorrência da lise. A ausência do MHC de classe II é um sinal de que a célula foi infectada e, portanto, ativará o mecanismo de liberação do TNF O sistema complemento é um grupo de 20 proteínas plasmáticas que atuam diretamente na imunidade inata. Sua ativação envolve a iniciação de uma cascata enzimática com diferentes elementos moduladores, ocorrendo, assim, uma resposta rápida e amplificada à presença do microrganismo. Esse sistema pode ser ativado de três formas diferentes, mas, após o processo iniciador, a cascata enzimática progride de maneira idêntica nas três situações, resultando na mesma consequência: opsonização e fagocitose do microrganismo ou, ainda, sua lise. A primeira forma de ativação é conhecida como via clássica. Nela, o sistema complemento será ativado quando anticorpos se ligarem ao antígeno ou ao microrganismo desencadeando a cascata. Na segunda forma de ativação, conhecida como via alternativa, as proteínas do sistema complemento interagem com estruturas presentes na superfície do patógeno ativando a cascata enzimática. Finalmente, na via da lecitina, ocorre a ligação de elementos do sistema complemento; no caso, a lectina ligante de manose se une a glicoproteínas da superfície do patógeno. Independentemente da via de ativação, sempre ocorrerá a produção de clivagem do componente do complemento 3 (C3) – C3b, que será depositado na superfície do microrganismo, provocando a opsonização e estimulando a fagocitose por macrófagos. Além disso, o C3b é responsável por desencadear as etapas posteriores que culminam na formação de numerosos peptídeos com uma estrutura polimerizada conhecida como C9, que, por sua vez, deposita‑se na superfície do microrganismo constituindo um complexo de ataque à membrana, que cria poros na membrana do microrganismo e leva à sua lise. 104 Unidade II A figura a seguir representa de forma esquemática a ação do sistema complemento no organismo: Via alternativa MOs Anticorpo C3a: inflamação C5a: inflamação Lise do MO C3b: opsonização e fagocitose C3b é depositado no MO Formação do complexo de ataque à membrana Fases iniciais Fases tardias C3 C3 C3b C3b C3b C3b C3b C5b C5bC5 C5a C9 C3a C3 Lectina ligada à manose Iniciação da ativação do complemento Via da lectina Via clássica Figura 74 – Mecanismo de ativação do sistema complemento Por intermédio da resposta imune inata e do seu papel de primeira barreira de defesa contra as infecções, ocorre a geração de um sinal químico responsável pela ativação dos linfócitos B e T, permitindo o início da resposta imune adaptativa. 8 RESPOSTA IMUNE ADAPTATIVA Ao contrário da imunidade inata, a resposta imune adaptativa, ou adquirida, é capaz de adaptar‑se à presença de microrganismos invasores, gerando respostas específicas para cada patógeno que romper as barreiras da imunidade inata. A fim de que cada antígeno tenha sua resposta específica, a imunidade adaptativa se dá mediante uma série de eventos sequenciais, envolvendo o reconhecimento antigênico, a ativação e diferenciação dos linfócitos, bem como a destruição do antígeno, seguida do declínio da resposta imune e terminando com a formação de uma memória imunológica de longa duração. Para que tais eventos ocorram, é necessária a ação dos linfócitos e dos linfócitos T – responsáveis pelas respostas imunes humoral e celular, respectivamente. 105 MICROBIOLOGIA, IMUNOLOGIA E PARASITOLOGIA A principal característica da reposta imune adaptativa é a sua capacidade de responder a uma variedade de antígenos de forma específica. Tal característica só é possível porque os linfócitos B e T, ao entrarem em contato com o antígeno, iniciam um processo de expansão clonal, ou seja, sofrem mitoses sucessivas ao garantir uma grande diversidade de linfócitos que expressam receptores antigênicos diferentes entre si, formando um grande número de células capazes de combater um número diverso de microrganismos. O processo de expansão clonal – proliferação dos linfócitos ativados pelo antígeno – permite que o sistema imune acompanhe a alta taxa de reprodução apresentada pela maioria dos microrganismos. Porém, existem mecanismos que impedem esses linfócitos de serem ativados pelos autoantígenos – elementos do próprio hospedeiro potencialmente reativos, isto é, antigênicos. A imunidade adaptativa é autolimitada, ou seja, existem mecanismos que reduzem a intensidade da resposta na medida em que o número de antígenos viáveis diminui, sinalizando que a infecção está sendo controlada. Dessa forma, o sistema imunológico entra em um período de descanso para estar apto a responder rapidamente ao mesmo antígeno em um segundo contato. 8.1 Elementos e mecanismos de ação Participam da resposta imune adaptativa os linfócitos B e T, as células apresentadoras de antígeno e as células efetoras recrutadas pelos linfócitos. Como dito anteriormente, os linfócitos B são as únicas células capazes de produzir anticorpos. Certos antígenos possuem a capacidade de ativar diretamente o linfócito B; isso quer dizer que eles não precisam ser previamente processados pelas células apresentadoras de antígenos: são os chamados antígenos T independentes. Ao ligarem‑se fortemente à superfície dos linfócitos B antígeno‑específicos, induzem a expansão clonal e geram grandes quantidades de IgM, além de produzir uma memória imunológica relativamente fraca. A maioria dos antígenos é chamada de T dependente, o que significa que eles são incapazes de estimular diretamente os linfócitos T. Assim, é necessário seu processamento prévio pelas células apresentadoras de antígeno que levam o peptídeo antigênico ligado ao MHC, permitindo a ativação do linfócito T. As células apresentadoras de antígeno ficam concentradas nas interfaces do corpo com o meioexterno, como a pele e os tratos respiratório e gastrointestinal. Quando um microrganismo entrar em contato com o nosso organismo por uma dessas vias, ele será fagocitado pelas células apresentadoras de antígeno e transportado até os linfonodos. Uma vez dentro da célula apresentadora de antígeno, esse microrganismo será processado, ou seja, fragmentado. Um peptídeo será selecionado e associado a moléculas de MHC, que conduzirão esse peptídeo antigênico até a célula T para que a resposta imune adquirida seja iniciada. 106 Unidade II O termo MHC refere‑se ao complexo principal de histocompatibilidade – proteínas localizadas na membrana das células apresentadoras de antígeno, que podem dividir‑se em dois tipos: MHC de classe I e MHC de classe II. Os genes que codificam as proteínas do MHC são altamente polimórficos, ou seja, existem muitos alelos diferentes na população, garantindo que indivíduos respondam de diversas formas à variedade de antígenos presentes no ambiente. Além disso, esses alelos são codominantes, isto é, ambos os alelos, parentes de cada gene, são expressos com a mesma força, assegurando que um grande número de moléculas de MHC pode apresentar peptídeos às células T. Célula TC Célula TH Proteína exógena externa Endocitose Peptídeo Peptídeo Peptídeo Proteína II Classe II A) B)Célula-alvo Célula apresentadora de antígeno Chaperona Retículo endoplasmático Retículo endoplasmáticoProteassoma Proteína interna exógena Clase I TAP β2m Fagolisossomo CD8 TCR TCRCD4 4 3 32 2 1 1 5 4 Figura 75 – Comparação estrutural e funcional das classes I (A) e II do MHC (B) Observação A viabilidade de um transplante é determinada avaliando‑se a compatibilidade entre o MHC do doador e do receptor. Cada MHC apresenta apenas um peptídeo por vez. O MHC de classe II é apto a apresentar proteínas extracelulares ao linfócito T CD4+, enquanto proteínas presentes no citosol (intracelulares), após serem processadas, são apresentadas ao linfócito T CD8+ pelo MHC de classe I. Esse processo de apresentação do antígeno à célula T, graças ao MHC, permite que as células T reconheçam antígenos proteicos associados e selecionem corretamente o tipo de célula T que melhor neutralize o microrganismo que desencadeou o processo. Outra característica da imunidade adquirida é a formação da memória imunológica, ou seja, a capacidade de o sistema imunológico responder mais rapidamente, intensamente e eficazmente às exposições subsequentes de um mesmo antígeno. 107 MICROBIOLOGIA, IMUNOLOGIA E PARASITOLOGIA – Resposta 5 a 10 dias após contato com Ag – Secreção de IgM – Pouca produção de IgG – Menor afinidade dos anticorpos Baixa produção de anticorpos Plasmócitos na medula óssea N ív ei s s ér ic os d e an tic or po s Plasmócitos na medula óssea Dias após contato com antígeno 1ª Exposição ao antígeno 10 0 5 2ª Exposição ao antígeno Proliferação Proliferação LB memória LB memória LB virgem Ag – Resposta rápida (1 a 3 dias após contato) – Secreção de IgG – Mudança de classe de cadeia pesada (IgA, IgE) – Maior afinidade dos anticorpos Resposta primária Resposta secundária Figura 76 – Comparação entre a resposta imune primária e a secundária. Na resposta imune secundária, há um aumento na quantidade de efetores produzidos, bem como uma maior rapidez na produção destes. Tal mecanismo só é possível graças à formação da memória imunológica Observação A vacinação estimula a imunidade adaptativa por meio da introdução de um antígeno modificado. A memória imunológica será formada sem que o indivíduo fique doente. 8.2 Resposta imune celular A resposta imune celular corresponde a um grupo de estratégias desenvolvidas pela imunidade adquirida a fim de eliminar microrganismos intracelulares, como os vírus, algumas bactérias e os protozoários. Para lidar com esses hóspedes indesejáveis, a imunidade celular é mediada pelas células T. Na resposta imune celular, a ativação do linfócito T é precedida do processamento do antígeno pelas células apresentadoras de antígeno, que leva um fragmento antigênico de origem proteica 108 Unidade II associado ao MHC até o receptor do linfócito T virgem. A ativação do linfócito T leva à ativação da expansão clonal de células T antígeno‑específicas seguida da diferenciação dessas células em diferentes populações efetoras. A B Fagócitos MOs fagocitados sobrevivem no interior do fagossomo MOs escapa do processo de digestão celular Célula não fagocítica (ex.: Cél. epitelial) Receptor celular para vírus MOs livre no citoplasma Vírus Figura 77 – Estratégias adotadas durante a reposta imune celular Ao ocorrer a interação, entrará o complexo MHC – antígenos peptídeos com o linfócito T CD4+ e/ou CD8+ virgem. Esses linfócitos serão ativados e, mediante o estímulo de citocinas, haverá a expansão clonal seguida da diferenciação dessas células em efetoras e de memória. As populações CD8+ serão acionadas quando o MHC de classe I apresentar o antígeno peptídeo ao linfócito T CD8+ virgem, enquanto o linfócito T CD4+ virgem será ativado quando o antígeno peptídico for apresentado pelas moléculas do MHC de classe II. As CD8+ também poderão ser ativadas pelas células T auxiliares, que serão subpopulações dos CD4+. 109 MICROBIOLOGIA, IMUNOLOGIA E PARASITOLOGIA Reconhecimento antigênico DiferenciaçãoExpansão clonal Ativação de macrófagos, cél. B e outras células Morte da célula infectada; ativação dos macrófagos Citocinas T–CD4 Virgem T–CD4 memória T–CD8 memória T–CD4 efetor T–CD8 efetor T–CD8 Virgem Órgãos linfóides Tecidos periféricos IL–2RCAA Função efetora Ativação Figura 78 – Mecanismo de ativação das populações CD4 e CD8 atuantes na resposta imune celular As células CD8+ são ativadas por antígenos intracelulares e, após a diferenciação, transformam‑se em CTL (linfócitos T citotóxicos). Essas CTLs liberam mediadores citotóxicos que induzem a morte de células‑alvo e a ativação de macrófagos. Também são geradas células T CD8+ de memória. Já as células CD4+ serão ativadas quando forem estimuladas pelo MHC de classe II e se diferenciarem em subgrupos capazes de secretarem citocinas. O quadro seguinte descreve as principais funções das subpopulações dos linfócitos T CD4+. Uma vez que os linfócitos CD4+ atuam na ativação de outras células de defesa, qualquer situação que impeça a ativação e a diferenciação dessas células leva ao comprometimento da imunidade adquirida. Quadro 7 – Resumo das funções das principais subpopulações de linfócitos T CD4 Th1 • Produzem IFNγ capaz de ativar fagócitos e estimular a produção de anticorpos. Th2 • Produzem IL‑4 e IL‑5 responsáveis pela estimulação da produção de IgE, ativação de eosinófilos. • Atuam na defesa contra helmintos e nas reações de hipersensibilidade. Th17 • Produzem IL‑17 que atuam no combate de infecções bacterianas. • Associada a reações inflamatórias. 110 Unidade II 8.3 Resposta imune humoral Após a sua ativação e proliferação, as células B passam a produzir anticorpos cuja função é neutralizar e eliminar microrganismos extracelulares e toxinas. Quando os anticorpos forem o principal mecanismo responsável pela eliminação do patógeno e das toxinas, diremos que está ocorrendo a imunidade humoral. Os antígenos se unem ao linfócito B por meio de anticorpos do tipo IgM e IgD que ficam ligados à sua membrana. Após a interação do antígeno com esses receptores, ocorrem a expansão clonal e a diferenciação dos linfócitos B em plasmócitos – células responsáveis pela produção e secreção de anticorpos –, ou seja, temos um mecanismo apto a acompanhar a rápida proliferação dos microrganismos. A repetitiva exposição do linfócito B a um mesmo antígeno leva à produção de anticorpos com maior capacidade de ligação ao seu antígeno específico, isto é, no primeiro contato é produzida uma quantidade menor de anticorpos do que nos contatos subsequentes com o mesmo antígeno. Os linfócitos B podemser ativados por antígenos de diferentes naturezas químicas, porém geram uma resposta mais fraca, uma vez que será produzido apenas o anticorpo da classe IgM. No entanto, se a estimulação do linfócito B acontecer por intermédio dos linfócitos T auxiliares, que foram ativados por antígenos proteicos previamente processados pelas células apresentadoras de antígeno, ocorrerá uma potente ativação das células B, sendo produzidas e geradas diferentes classes de anticorpos, além de formada uma forte memória imunológica. A maioria das células B que respondem aos antígenos T independentes é encontrada nas zonas marginais da polpa branca do baço, nos tecidos mucosos e na cavidade peritoneal, enquanto as células B que respondem aos antígenos T dependentes são encontradas não apenas no fígado, mas também em outros órgãos linfoides. Quando entrarem em contato com o antígeno, os linfócitos B virgens iniciarão sua proliferação e gerarão clones específicos para o antígeno que o ativou. Uma série de sinais citoplasmáticos é ativada, e os genes responsáveis pela produção dos anticorpos são acionados e passam a expressar seus produtos proteicos. Os anticorpos gerados vão formar imunocomplexos com os antígenos que levaram à ativação da célula B inicial. Os anticorpos produzidos podem atuar próximo ou não do seu local de produção. Como dito anteriormente, os anticorpos são moléculas proteicas chamadas de imunoglobulinas (Ig). A figura seguinte é uma representação esquemática de um anticorpo e suas regiões funcionais. Duas regiões são especialmente importantes nos anticorpos. A primeira delas é a região Fab, também chamada de região de ligação ao antígeno e, como o próprio nome indica, vai ligar‑se ao antígeno e bloquear sua ação no organismo. A outra é a região Fc, que ativará os mecanismos efetores responsáveis pela eliminação do antígeno. 111 MICROBIOLOGIA, IMUNOLOGIA E PARASITOLOGIA Sítio de ligação ao antígeno Região (haste) Fc Região constante Região da dobradiça Sítios de ligação Anticorpo A Epítopos (determinantes antigênicos) no antígeno Célula bacteriana Antígenos: componentes da parede celular C C ‑S‑S‑ ‑S‑S‑‑S‑ S‑ ‑S‑S‑ Formação do complexo antígeno anticorpo A) B) C) Fagócito Anticorpo B Fab Cadeia pesadaCadeia leve V V V C V C Figura 79 – (A) Representação da estrutura de um anticorpo. A região Fab, também chamada de sítio de ligação ao antígeno, como o próprio nome diz, é responsável pela interação entre o antígeno de qualquer natureza. Já a região Fc, também chamada de região constante, se ligará às células efetoras que vão auxiliar na remoção do antígeno; (B) formação do complexo antígeno‑anticorpo pela interação da região Fab com o antígeno; (C) fagocitose do complexo antígeno‑anticorpo pela interação da região Fc com a célula efetora São funções normalmente atribuídas aos anticorpos: • Neutralização de microrganismos e toxinas: ligação dos anticorpos ao microrganismo neutralizando sua infectividade, ao passo que, ao unir‑se às toxinas microbianas, inibe sua interação com a célula hospedeira. • Opsonização e fagocitose: anticorpos revestem um microrganismo formando um complexo antígeno‑anticorpo. Paralelamente ocorre o recrutamento de células de fagocitose que vão remover esses microrganismos. • Citotoxicidade celular: recrutamento de células NK e outros leucócitos que liberaram grânulos ricos em proteínas capazes de destruir esses alvos opsonizados. • Ativação do sistema complemento: o IgM e algumas classes de IgG ligam‑se à superfície do antígeno, normalmente bacteriano, permitindo a união das proteínas do sistema complemento na região Fc do anticorpo. 112 Unidade II Aglutinação Opsonização Neutralização Citotoxicidade medida por anticorpos Ativação do sistema completo Causa inflamação e lise celular Complemento Bactéria Bactérias Fagócito Reduz o número de unidades infecciosas a serem manejadas A cobertura do antígeno com o anticorpo intensifica a fagocitose Bloqueia a adesão de bactérias e vírus à mucosa Anticorpos fixados à célula‑alvo causam a destruição por macrófagos, eosinófilos e células NK Célula‑alvo grande (parasita) Perforina e enzimas líticas Bloqueia a fixação de toxina Bactéria Toxina Epítopos Eosinófilo Vírus Lise Mecanismo de ação dos anticorpos Figura 80 – Mecanismo de ação dos anticorpos durante a atuação na resposta imune humoral Durante o processo de proliferação e diferenciação dos linfócitos B em plasmócitos, ocorre a formação de quatro classes principais de anticorpos: • IgG (Imunoglobulina G): responsável pela neutralização de toxinas e opsonização, e consequente fagocitose de microrganismos. Também atribuímos ao IgG a função de citotoxicidade celular e de ativação da via clássica do sistema complemento. Finalmente, o IgG será responsável pela imunidade neonatal quando ocorrer a transferência de anticorpos via placenta e intestino. O mais abundante e capaz de gerar memória imunológica mais forte. • IgM (Imunoglobulina M): responsável pela ativação da via clássica do sistema complemento. É a primeira linha de defesa contra bactérias, incapaz de ativar os fagócitos mononucleados e os neutrófilos polimorfonucleares. Atua, principalmente, mediante a ativação do sistema complemento. É a maior de todas as imunoglobulinas. Conhecida como agente citolítico e aglutinador, age com muita eficiência contra os estágios iniciais de uma infecção. Por estar presente no sangue, é a principal responsável pelo combate às bacteremias, por ativar fortemente o sistema complemento. Produzida na presença de antígeno T independente, portanto gera uma memória fraca. • IgA (Imunoglobulina A): responsável pela neutralização de microrganismos via opsonização e de toxinas. Está associada à imunidade das mucosas gastrointestinal e respiratória. Também é 113 MICROBIOLOGIA, IMUNOLOGIA E PARASITOLOGIA encontrada na forma dimérica, conhecida como IgAS (IgA secretória), na lágrima, na saliva e no leite materno (colostro). • IgE (Imunoglobulina E): responsável por induzir a degranulação dos mastócitos em processos de hipersensibilidade. Também está associada à defesa contra helmintos. IgM (monômetro) IgM (pentâmero) IgA (sérica) IgA (secretória) IgG IgE Figura 81 – Estrutura dos anticorpos produzidos durante a ação dos plasmócitos Os anticorpos são estratégias extremamente eficientes contra a maioria dos patógenos, porém os microrganismos podem desenvolver estratégias de neutralização da imunidade humoral. Dentre as principais estratégias, podemos citar o desenvolvimento de apêndices que inibem a fagocitose e a variação antigênica da região que interage com a IgM e a IgD da superfície do linfócito. 8.4 Reações de hipersensibilidade Hipersensibilidade é o termo utilizado para designar uma resposta imune adaptativa benéfica que acontece de forma exagerada ou inapropriada. Por ser uma resposta adaptativa, não se manifesta no primeiro contato com o antígeno, mas nos contatos subsequentes. São descritos quatro tipos de hipersensibilidade: • Hipersensibilidade tipo I (ou hipersensibilidade imediata): resulta da ação da IgE contra um antígeno inócuo, como pólen, poeira e pelos de animais. Existe a liberação de mediadores químicos que desencadeiam uma reação inflamatória aguda com sintomas, como asma e rinite. • Hipersensibilidade tipo II (ou citotóxica dependente de anticorpos): caracteriza‑se pela ligação antígeno‑anticorpo (IgM ou IgG) com fagocitose, ativação de células NK e lise mediada pelo sistema complemento. 114 Unidade II • Hipersensibilidade tipo III: envolve a ação de complexos imunes que não podem ser completamente removidos do organismo. • Hipersensibilidade tipo IV (ou hipersensibilidade tardia – DTH): ocorre quando um antígeno fagocitado não consegue ser eliminado, estimulando a ação de linfócitos T e a liberação de mediadores inflamatórios; também é comum em rejeição a transplantes e dermatite alérgica de contato. Comumentedizemos que as hipersensibilidades do tipo I, II e III são mediadas por anticorpos, enquanto a do tipo IV é mediada pelos linfócitos T e macrófagos. Embora existam quatro tipos de hipersensibilidade, não significa que elas tenham ocorrido sempre isoladamente. Mastócito ou basófilo Membrana basal dos vasos sanguíneos Célula endotelial Célula‑alvo Antígeno AgGrânulo IgE Antígeno A) C) B) D) Histamina e outros mediadores 1 2 3 Imunocomplexos são depositados na parede dos vasos sanguíneos A presença dos imunocomplexos ativa o complemento e atrai células inflamatórias como os neutrófilos Hipersensibilidade do tipo tardio APC ou antígeno tecidual Citólise mediada por linfócitos T CTLs CD8+ Inflamação Lesão tecidual Morte celular e lesão tecidual Linfócito T CD4+ Linfócito T CD8+ Citocinas Tecido normal Complexo antígeno + célula Lise celular Complemento Anticorpo As enzimas liberadas dos neutrófilos causam dano às células endoteliais da membrana basal Neutrófilos Figura 82 – (A) hipersensibilidade tipo I; (B) hipersensibilidade tipo II; (C) hipersensibilidade tipo III e (D) hipersensibilidade tipo IV. O linfócito T está envolvido apenas na hipersensibilidade tipo IV 115 MICROBIOLOGIA, IMUNOLOGIA E PARASITOLOGIA Resumo Vimos nesta unidade que a resposta imunológica tem como objetivo impedir a disseminação de infecções, além de controlar a microbiota endógena. Para tanto, o sistema imunológico tem mecanismos específicos para lidar com a enorme variedade de antígenos encontrados no ambiente, uma vez que as infecções causam alterações fisiológicas e danos teciduais, além de alterações de proteínas plasmáticas que levam à ativação do sistema imunológico. Os órgãos e os tecidos linfoides são responsáveis pela geração e diferenciação de células de defesa, além de serem sítios de ocorrência de resposta imunológica. Os órgãos linfoides primários, ou centrais, são responsáveis pela produção e/ou diferenciação de células de defesa. Nessa categoria, enquadramos a medula óssea e o timo. Já os órgãos linfoides secundários, ou periféricos atuam no armazenamento de células de defesa e agem como sítio de ocorrência de respostas imunológicas. São exemplos de órgãos linfoides secundários o baço, os linfonodos e os gânglios linfáticos. Após serem geradas nos órgãos linfoides primários, as células de defesa ficam circulando entre os órgãos linfoides secundários, o sangue e a linfa, mas nunca retornam ao órgão linfoide primário. A medula óssea vermelha é um tecido conjuntivo rico em células pluripotentes, ou seja, indiferenciadas, que são estimuladas por medidores químicos e, então, diferenciam‑se em linhagem mieloide progenitora e linhagem linfoide progenitora. A partir da linhagem mieloide, são gerados os eritrócitos, as plaquetas, os basófilos, os neutrófilos, os monócitos, os eosinófilos e as células dendríticas. Com exceção dos dois primeiros tipos celulares, todos os outros atuam na defesa imunológica. A linhagem linfoide progenitora gera as células percussoras do linfócito T que, por sua vez, originarão os linfócitos T virgens após um processo de diferenciação no timo. A células da linhagem linfoide que permanecem na medula óssea se diferenciam em linfócitos B e células NK. A resposta imune inata é uma reação natural do organismo à presença de microrganismos ao reconhecer estruturas que são comuns e essenciais à sobrevivência de diferentes microrganismos. Por ser uma resposta rápida e inespecífica, não produz memória imunológica. Os componentes da resposta imune inata estão localizados na interface entre o corpo e o meio interno, uma vez que eles funcionam como uma barreira física para a entrada de microrganismo. A pele e as 116 Unidade II mucosas funcionam formando as barreiras epiteliais para a entrada de microrganismos, enquanto os leucócitos sanguíneos e teciduais atuam como sentinelas no meio extracelular. As células envolvidas na resposta imune inata atuam, na sua maioria, por meio da fagocitose. Os fagócitos (macrófagos) e os polimorfosnucleados (neutrófilos) são as principais células envolvidas na resposta imune e realizam a opsonização e a fagocitose dos patógenos após migrarem por diapedese para o local da infecção. Além das células de fagocitose, atuam na resposta imune inata às células NK, especialmente ativas contra células infectadas por patógenos intracelulares, em especial os vírus. A resposta imune inata também é auxiliada pelo sistema complemento – grupo de enzimas proteolíticas que atua em sistema de cascata estimulando o recrutamento de células de fagocitose e formando um complexo de ataque à membrana (MAC), que abre poros na membrana do patógeno provocando a lise osmótica. Já a resposta imune adaptativa é a defesa elaborada ao combate de agentes infecciosos que escapam da imunidade inata. Sua principal característica é o desenvolvimento de uma memória imunológica, capaz de responder mais rapidamente à presença de um antígeno ao segundo contato. A resposta imune adaptativa é dividida em resposta imune humoral e resposta imune celular. Os linfócitos B são a base da resposta imune humoral. Durante a ativação do linfócito B, existem sinais químicos que induzem sua diferenciação em plasmócito – responsáveis pela produção dos anticorpos. Produzidos pelo linfócito B, os anticorpos são: IgG, IgM, IgA, IgD e IgE. Os linfócitos T são as células efetoras da resposta imune celular, direcionada contra qualquer fator, desde um vírus até uma mutação que transformou uma célula normal em uma célula cancerígena. Após serem ativadas pela seleção clonal, as células T geram dois tipos de células efetoras: linfócito T citotóxico (CLT ou T‑CD8) – reconhece células infectadas por vírus e as mata por lise citotóxica – e linfócito T auxiliar (Cel. T H ou T – CD4) – auxilia a células efetoras da resposta imune humoral e da resposta imune celular, ligando‑se ao antígeno antes da ativação da célula B. Algumas vezes a resposta imune adaptativa reage de maneira exagerada à presença de um antígeno. Chamamos essas reações de hipersensibilidade. Existem quatro tipos de reações: hipersensibilidades I, II e III – mediadas por anticorpos –; e hipersensibilidade tipo IV – mediada pelo linfócito T. 117 MICROBIOLOGIA, IMUNOLOGIA E PARASITOLOGIA Exercícios Questão 1. (Enem 2014) Imunobiológicos: diferentes formas de produção, diferentes aplicações Aplicação do imunobiológico II Vírus, bactérias Aplicação do imunobiológico I A) B) Produção do imunobiológico III Aplicação do imunobiológico III Figura 83 Embora sejam produzidos e utilizados em situações distintas, os imunobiológicos I e II atuam de forma semelhante nos humanos e equinos, pois: A) Conferem imunidade passiva. B) Transferem células de defesa. C) Suprimem a resposta imunológica. D) Estimulam a produção de anticorpos. E) Desencadeiam a produção de antígenos. Resposta correta: alternativa D. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: o imunológico II não corresponde à imunidade passiva da figura, pois a imunização passiva é obtida pela transferência ao indivíduo de anticorpos produzidos por um animal ou outro ser 118 Unidade II humano. Esse tipo de imunidade produz uma rápida e eficiente proteção, que é temporária, durando em média poucas semanas ou meses. B) Alternativa incorreta. Justificativa: transferem antígenos mortos ou enfraquecidos em I e soro em II. C) Alternativa incorreta. Justificativa: ativam a resposta imunológica para a produção de anticorpos em I e II. D) Alternativa correta. Justificativa: o imunobiológico I é utilizado como vacina nos humanos, com antígenos mortos ou enfraquecidos, e tem como objetivo fazer com que o organismo produza anticorpos para a sua defesa, gerando memória imunológica. O imunobiológico II também é utilizado nos cavalos para a produção de anticorpos, e os anticorpos produzidos pelo cavalo são retirados para a produçãodo soro antiofídico (imunobiológicos III). E) Alternativa incorreta. Justificativa: desencadeiam a produção de anticorpos. Questão 2. (Enade, 2008) Os componentes do sistema imune envolvem, além de células, proteínas circulantes, sendo diversos deles utilizados para a identificação de tipos celulares e para a obtenção de informações genéticas. Considerando aspectos gerais da imunologia, é correto afirmar que: A) apenas linfócitos e neutrófilos apresentam antígenos de superfície e, por esse motivo, são células capazes de produzir anticorpos. B) a tipagem sanguínea do sistema ABO envolve reações imunológicas e pode ser utilizada para a obtenção de informações genéticas sobre indivíduos. C) diferentes tipos celulares de um mesmo indivíduo não podem ser diferenciados por marcadores imunológicos, pois os marcadores de superfície dessas células ligam‑se aos mesmos anticorpos. D) a região FV (fração variável) de cada anticorpo presente em um conjunto de anticorpos, obtidos do plasma de um único indivíduo, apresenta a mesma sequência de aminoácidos. E) a reação de fixação do complemento permite a análise de ligação das fitas complementares de DNA dos anticorpos. 119 MICROBIOLOGIA, IMUNOLOGIA E PARASITOLOGIA Resposta correta: alternativa B. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: essa sentença apresenta dois erros. O primeiro está em afirmar que apenas linfócitos e neutrófilos apresentam antígenos de superfície. Por exemplo, as moléculas de histocompatibilidade de classe I são expressas na superfície de todas as células nucleadas (ALVES et al., 2006). Por outro lado, a alternativa afirma que neutrófilos são células capazes de produzir anticorpos, o que corresponde ao segundo erro contido na sentença. Os neutrófilos, assim como os macrófagos, são fagócitos, ou seja, células especializadas em realizar defesa por fagocitose. Ao contrário da defesa por anticorpos, a fagocitose é uma modalidade de defesa inespecífica. B) Alternativa correta. Justificativa: na membrana plasmática das hemácias, existem diversas moléculas de glicolipídios e glicoproteínas chamadas de aglutinogênios ou isoantígenos. A diversidade desses isoantígenos é geneticamente determinada, e é com base na identificação dessas moléculas de isoantígenos que se procede a classificação dos chamados grupos sanguíneos. Já foram identificados 24 grupos sanguíneos, mas os dois principais grupos são o sistema ABO e o sistema Rh. Com relação ao sistema ABO, existem quatro tipos sanguíneos: A, B, AB e O. A definição desses tipos sanguíneos depende de um loco gênico que possui três alelos: I A (ou alelo A), I B (ou alelo B) e i (ou alelo O). Os alelos I A e I B são codominantes e ambos dominam o alelo i. Outro aspecto importante associado ao sistema sanguíneo ABO é a existência de isoanticorpos específicos, também chamados de aglutininas, que combatem isoantígenos estranhos ao organismo. O quadro a seguir apresenta os isoantígenos e os isoanticorpos associados a cada um dos tipos sanguíneos do sistema ABO: Quadro 8 Tipo sanguíneo Isoantígeno(eritrocitário) Isoanticorpo (plasmático) A A Anti‑B B B Anti‑A AB A e B Não possui O Não possui Anti‑A e Anti‑B A tipagem sanguínea do sistema ABO consiste em adicionar isoanticorpos ao sangue da pessoa e observar a ocorrência de reação imunológica específica, visível sob forma de aglutinação. Por exemplo, se houver aglutinação do sangue somente na amostra submetida ao isoanticorpo anti‑B, o sangue da pessoa é do tipo B. 120 Unidade II C) Alternativa incorreta. Justificativa: células de diferentes tecidos de um mesmo indivíduo expressam regiões diferentes do genoma. Por exemplo, uma célula muscular é capaz de sintetizar miosina, mas não sintetiza queratina. O contrário pode ser dito das células epidérmicas. Essa especificidade também ocorre para diversos antígenos (ou marcadores) de superfície celular, como no caso dos isoantígenos eritrocitários que caracterizam o sistema ABO. A diversidade histológica quanto à expressão de marcadores antigênicos é bastante explorada por uma técnica conhecida como imuno‑histoquímica, que consiste em localizar proteínas específicas de certos tecidos por meio da utilização de anticorpos específicos marcados com uma substância colorida. Portanto, ao contrário do que afirma a sentença, diferentes tipos celulares de um mesmo indivíduo podem ser diferenciados por marcadores imunológicos. D) Alternativa incorreta. Justificativa: como o próprio nome diz, a fração variável é a região que muda de um anticorpo para outro. Ao contrário do que afirma a sentença da alternativa, a variação reside justamente na composição de aminoácidos dessa região. As regiões variáveis dos anticorpos são os sítios nos quais vai ocorrer a ligação ao antígeno (figura a seguir). As diferenças nas composições de aminoácidos nessas regiões estão associadas ao ajuste de cada anticorpo ao seu antígeno específico. Sitio de ligação Antigênio Região variável Determinante antigênico Região constante Cadeia leve Cadeia pesada N N C C C C Figura 84 121 MICROBIOLOGIA, IMUNOLOGIA E PARASITOLOGIA E) Alternativa incorreta. Justificativa: o sistema complemento é constituído por cerca de 25 proteínas que atuam em conjunto para “complementar” a ação de anticorpos na destruição de células estranhas ao organismo, como as bactérias. Essas proteínas circulam normalmente no sangue em suas formas inativas e, quando uma delas se torna ativada em função da atividade de determinado anticorpo, tem início uma reação em cascata, na qual se sucede uma sequência de ativações tal qual um efeito dominó. O produto final dessa cascata de ativação é um “cilindro molecular”, que é inserido nas superfícies das células invasoras (parede celular, no caso de bactérias), promovendo rupturas que vão matá‑las. Portanto, a fixação do complemento mencionada na alternativa é uma etapa imunológica importante e não tem a ver com fitas de DNA cuja palavra “complementação” significa união por meio de ligações de hidrogênio ocorridas entre as bases nitrogenadas. Além disso, os anticorpos não são formados de DNA, e sim por moléculas proteicas. 122 FIGURAS E ILUSTRAÇÕES Figura 1 A01FIG01.GIF. Disponível em: http://www.scielo.br/img/revistas/jbpml/v45n2/a01fig01.gif. Acesso em: 13 jul. 2016. Figura 2 TORTORA, G. J. et al. Microbiologia. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. p. 12. Figura 3 JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Biologia celular e molecular. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. p. 21. Figura 4 TORTORA, G. J. et al. Microbiologia. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 201. p. 70. Figura 5 JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Biologia celular e molecular. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005, p. 3. Figura 6 TORTORA, G. J. et al. Microbiologia. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. p. 78‑9. Figura 7 MADIGAN, M. T. et al. Microbiologia de Brock. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. p. 113‑15. Figura 8 MADIGAN, M. T. et al. Microbiologia de Brock. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. p. 87. Figura 9 TORTORA, G. J. et al. Microbiologia. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. p. 81. Figura 10 A) MADIGAN, M. T. et al. Microbiologia de Brock. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. p. 86. 123 B) ENGELKIRK, P. G.; DUBEN‑ENGELKIRK, J. Burton: microbiologia para ciências da saúde. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. p. 33. Figura 11 JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Biologia celular e molecular. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. p. 275. Figura 12 TORTORA, G. J. et al. Microbiologia. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. p. 173. Figura 13 MURRAY, P. R. et al. Microbiologia médica. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. p. 27. Figura 14 TORTORA, G. J. et al. Microbiologia. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. p. 125. Figura 15 MURRAY, P. R. et al. Microbiologia médica. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. p. 28. Figura 16 ENGELKIRK, P. G.; DUBEN‑ENGELKIRK, J. Burton: microbiologiapara ciências da saúde. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. p. 31. Figura 17 ENGELKIRK, P. G.; DUBEN‑ENGELKIRK, J. Burton: microbiologia para ciências da saúde. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. p. 37. Figura 18 ENGELKIRK, P. G.; DUBEN‑ENGELKIRK, J. Burton: microbiologia para ciências da saúde. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. p. 118. Figura 19 TORTORA, G. J. et al. Microbiologia. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. p. 236. 124 Figura 20 TORTORA, G. J. et al. Microbiologia. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. p. 238. Figura 21 MORENO C. M. et al. Mecanismos de resistencia antimicrobiana en patógenos respiratorios. Revista de otorrinolaringología y cirugía de cabeza y cuello, Santiago, v. 69, n. 2, p. 186, ago. 2009. Figura 22 MADIGAN, M. T. et al. Microbiologia de Brock. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. p. 159. Figura 23 MADIGAN, M. T. et al. Microbiologia de Brock. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. p. 169. Figura 24 MADIGAN, M. T. et al. Microbiologia de Brock. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. p. 167. Figura 25 MORAES, R.G. Parasitologia e micologia humana. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. p. 478‑458. Figura 26 TORTORA, G. J. et al. Microbiologia. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. p. 369. Figura 27 TORTORA, G. J. et al. Microbiologia. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. p. 372. Figura 28 TORTORA, G. J. et al. Microbiologia. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. p. 386. Figura 29 AHLQUIS, P. Parallels among positive‑strand RNA viruses, reverse‑transcribing viruses and double‑stranded RNA viruses. Nature Reviews Microbiology, n. 4, p. 371‑82, maio 2006. 125 Figura 30 A) GIARDIA_TROPH_GIEMSA.JPG. Disponível em: http://www.cdc.gov/dpdx/images/giardiasis/Giardia_ troph_giemsa.jpg. Acesso em: 28 jul. 2016. B) S_MANSONI_ADULT_LAMMIE1.JPG. Disponível em: http://www.cdc.gov/dpdx/images/ schistosomiasis/S_mansoni_adult_Lammie1.jpg. Acesso em: 28 jul. 2016. C) CASE292_B.JPG. Disponível em: http://www.cdc.gov/dpdx/images/pthiriasis/Case292_B.jpg. Acesso em: 28 jul. 2016. Figura 31 FERREIRA, M. U. Parasitologia contemporânea. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012, p. 35. Figura 32 GALLERY.HTML#VECTOR. Disponível em: http://www.cdc.gov/dpdx/trypanosomiasisAmerican/gallery. html#vector. Acesso em: 28 jul. 2016. Figura 33 AMERTRYP_LIFECYCLE.GIF. Disponível em: http://www.cdc.gov/parasites/images/chagas/amertryp_ lifecycle.gif. Acesso em: 28 jul. 2016. Figura 34 A) CHAGAS/ROMANA_SIGN.JPG. Disponível em: http://www.cdc.gov/parasites/images/chagas/romana_ sign.jpg. Acesso em: 28 jul. 2016. B) AMTRYP_THIN_GIEMSA.JPG. Disponível em: http://www.cdc.gov/parasites/images/chagas/amtryp_ thin_giemsa.jpg. Acesso em: 28 jul. 2016. C) TCRUZI_TISSUE_HE_ZOOM.JPG. Disponível em: https://www.cdc.gov/dpdx/images/ trypanosomiasisAmerican/Tcruzi_tissue_he_zoom.jpg. Acesso em: 28 jul. 2016. Figura 35 FERREIRA, M. U. Parasitologia contemporânea. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. p. 39. Figura 36 AMEBIASIS_LIFECYCLE.GIF. Disponível em: http://www.cdc.gov/parasites/amebiasis/images/amebiasis_ lifecycle.gif. Acesso em: 28 jul. 2016. 126 Figura 37 A) GIARDIA_CYST_TRIC2.JPG. Disponível em: https://www.cdc.gov/dpdx/images/giardiasis/Giardia_ cyst_tric2.jpg. Acesso em: 28 jul. 2016. B) GIARDIA_TROPH_GIEMSA.JPG. Disponível em: https://www.cdc.gov/dpdx/images/giardiasis/Giardia_ troph_giemsa.jpg. Acesso em: 28 jul. 2016. Figura 38 FERREIRA, M. U. Parasitologia contemporânea. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. p. 65. Figura 39 FERREIRA, M. U. Parasitologia contemporânea. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. p. 10. Figura 40 MALARIA_LIFECYCLE.GIF. Disponível em: http://www.cdc.gov/malaria/images/graphs/life_cycle/ malaria_lifecycle.gif. Acesso em: 28 jul. 2016. Figura 42 A) A_LUMBRICOIDES_ADULT_ORANGECOUNTY.JPG. Disponível em: http://www.cdc.gov/dpdx/images/ ascariasis/A_lumbricoides_adult_OrangeCounty.jpg. Acesso em: 28 jul. 2016. B) ASCARIS_EGG_FERT3_EMBRYO_200X.JPG. Disponível em: https://www.cdc.gov/dpdx/images/ ascariasis/Ascaris_egg_fert3_embryo_200x.jpg. Acesso em: 28 jul. 2016. Figura 43 MURRAY, P. R. et al. Microbiologia médica. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. p. 859. Figura 44 A) A_CANINUM_HEAD.JPG. Disponível em: https://www.cdc.gov/dpdx/images/hookworm/A_caninum_ head.jpg. Acesso em: 28 jul. 2016. B) HOOKWORM_FILARIFORM_B.JPG. Disponível em: https://www.cdc.gov/dpdx/images/hookworm/ Hookworm_filariform_B.jpg. Acesso em: 28 jul. 2016. Figura 45 A) HOOKWORM_LIFECYCLE.GIF. Disponível em: http://www.cdc.gov/parasites/images/hookworm/ hookworm_lifecycle.gif. Acesso em: 28 jul. 2016. 127 (B) HOOKWORM_INTESTINE.JPG. Disponível em: http://www.cdc.gov/parasites/images/hookworm/ hookworm_intestine.jpg. Acesso em: 28 jul. 2016. Figura 46 A) ZOONOTICHOOKWORM/CLM_LIFECYCLE.GIF. Disponível em: http://www.cdc.gov/parasites/images/ zoonotichookworm/clm_lifecycle.gif. Acesso em: 28 jul. 2016. B) CLM.JPG. Disponível em: http://www.cdc.gov/parasites/images/zoonotichookworm/clm.jpg. Acesso em: 28 jul. 2016. Figura 47 TORTORA, G. J. et al. Microbiologia. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. p. 358. Figura 48 TAENIA_LIFECYCLE.GIF. Disponível em: https://www.cdc.gov/dpdx/images/taeniasis/Taenia_LifeCycle.gif. Acesso em: 28 jul. 2016. Figura 49 A) S_MANSONI_ADULT_LAMMIE2.JPG. Disponível em: https://www.cdc.gov/dpdx/images/ schistosomiasis/S_mansoni_adult_Lammie2.jpg. Acesso em: 28 jul. 2016. B) S_MANSONI_EGG_2X21.JPG. Disponível em: https://www.cdc.gov/dpdx/images/schistosomiasis/S_ mansoni_egg_2X21.jpg. Acesso em: 28 jul. 2016. Figura 50 A) FERREIRA, M. U. Parasitologia contemporânea. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. p. 141. B) BIOMPHALARIA1.JPG. Disponível em: https://www.cdc.gov/dpdx/images/schistosomiasis/ Biomphalaria1.jpg. Acesso em: 28 jul. 2016. C) FERREIRA, M. U. Parasitologia contemporânea. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. p. 141. D) CERCARIAL_DERMATITIS.JPG. Disponível em: http://www.cdc.gov/dpdx/images/cercarialDermatitis/ Cercarial_dermatitis.jpg. Acesso em: 28 jul. 2016. Figura 51 FERREIRA, M. U. Parasitologia contemporânea. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. p. 142. 128 Figura 52 TORTORA, G. J. et al. Microbiologia. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. p. 363. Figura 53 FERREIRA, M. U. Parasitologia contemporânea. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. p. 165. Figura 54 M_LIFECYCLE.JPG. Disponível em: http://www.cdc.gov/dengue/images/m_lifecycle.jpg. Acesso em: 28 jul. 2016. Figura 55 A) FERREIRA, M. U. Parasitologia contemporânea. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012, p. 174. B) LICE_LIFECYCLE.GIF. Disponível em: http://www.cdc.gov/dpdx/images/pediculosis/Lice_LifeCycle.gif. Acesso em: 28 jul. 2016. Figura 56 I_SCAPULARIS_DOLAN1.JPG. Disponível em: http://www.cdc.gov/dpdx/images/ticks/I_scapularis_ Dolan1.jpg. Acesso em: 28 jul. 2016. Figura 57 A) SARCOPTES_SCABIEI_BAM1.JPG. Disponível em: http://www.cdc.gov/dpdx/images/scabies/ Sarcoptes_scabiei_BAM1.jpg. Acesso em: 28 jul. 2016. B) FERREIRA, M. U. Parasitologia contemporânea. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. p. 187. Figura 58 TORTORA, G. J. et al. Microbiologia. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. p. 461. Figura 60 TORTORA, G. J. et al. Microbiologia. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. p. 456. Figura 61 ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H. Imunologia básica: funções e distúrbios do sistema imunológico. 3. ed. Rio de Janeiro, Elsevier, 2009. p. 11. 129 Figura 62 ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H. Imunologia básica: funções e distúrbios do sistema imunológico. 3. ed. Rio de Janeiro, Elsevier, 2009. p. 78. Figura 63 MESQUITA JUNIOR, D. et al. Sistema imunitário – parte II: fundamentos da resposta imunológica mediada por linfócitos T e B. Revista Brasileira de Reumatologia, São Paulo, v. 50, n. 5, p. 554, 2010. Figura 64 ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H. Imunologia básica: funções e distúrbios do sistema imunológico. 3. ed.