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Educação Vocal: Técnicas e Práticas Vocais História do Canto, Educação Vocal e Ciências da voz Prof. Esp. Camila Zaponi História e evolução do canto e dos conhecimentos técnicos-vocais • No início do conhecimento, o homem explicou os eventos à sua volta como sobrenaturais, mágicos, religiosos, e, assim como a arte, ciência, poesia, a voz também era vista da mesma forma. AULA CONCEITUAL 03 Educação Vocal: Técnicas e Práticas Vocais DO INÍCIO A ERA ROMANA • Os egípcios acreditavam em pulmões com poderes mágicos, mas não tinham noção de sua relação com a voz. • Na antiga Babilônia (2000 a.C.) acreditavam que demônios eram os responsáveis pelas doenças, o demônio Namtary era o responsável por problemas na garganta. • Na Grécia Antiga os filósofos surgiram com suas observações, buscando utilizar o pensamento para entender o mundo. AULA CONCEITUAL 03 Educação Vocal: Técnicas e Práticas Vocais • No século V a.C. , Hipócrates descrevia qualidades e defeitos na voz, como rouquidão, aspereza, etc., faringe e laringe eram sinônimos e ele especulou sobre o possível papel dos pulmões na voz, lábios e língua estariam envolvidos na articulação. • No século III a.C. Aristóteles foi além, percebendo que vogais e consoantes eram produzidas de forma diferente e imaginou que a voz fosse produzida na traqueia e na laringe pelo impacto do ar. AULA CONCEITUAL 03 Educação Vocal: Técnicas e Práticas Vocais • Em Roma, no século II d.C., Caelius Aurelianos inclui um capitulo sobre rouquidão e os efeitos dos abusos vocais em seu livro médico. Mas o maior interessado em doenças da laringe foi Claudius Galeno (131 d.C.-220 d.C.), considerado o criador da laringologia (estudo da laringe). Foi o primeiro a descrever a laringe com 3 cartilagens, alguns pares de músculos, e comparou o instrumento a uma flauta, chamando a de principalissimum organum vocis. AULA CONCEITUAL 03 Educação Vocal: Técnicas e Práticas Vocais AULA CONCEITUAL 03 Educação Vocal: Técnicas e Práticas Vocais IDADE MÉDIA • No Oriente Médio, Rhazes foi um dos maiores doutores muçulmanos do século IX. Ele recomendava exercícios respiratórios e treinos vocais nas escalas musicais como terapia. • Outros grandes médicos da região se destacaram nos estudos da ciência vocal: Haly Abass, que descreveu a dupla função de respiração e fonação da laringe; Avicenna, o Persa, mais famoso médico árabe. Seu livro era referência mais de 500 anos depois de sua morte; AULA CONCEITUAL 03 Educação Vocal: Técnicas e Práticas Vocais IDADE MÉDIA • Na Europa Ocidental, a notação musical já havia se desenvolvido mais no final da Idade Média, possibilitando aos compositores desenvolver melodias mais elaboradas e inovações em suas escritas, exigindo cada vez mais dos cantores. Os maiores registros da época são de obras sacras, mas algumas canções populares sobreviveram graças ao uso desses temas como base para composições para a Igreja. AULA CONCEITUAL 03 Educação Vocal: Técnicas e Práticas Vocais PERÍODO RENASCENTISTA • Leonardo Da Vinci (1452-1519), dissecou mais de 30 cadáveres em hospitais e lançou novos conhecimentos sobre anatomia, fisiologia e patologia do corpo e, o que nos interessa aqui, da voz humana. • A renascença foi a época de ouro do canto coral, arranjos elaborados e ricos em polifonias e contrapontos são cantados até hoje. AULA CONCEITUAL 03 Educação Vocal: Técnicas e Práticas Vocais PERÍODO RENASCENTISTA • Lodovico Zacconi (1555-1627) notava diferença entre a voce di petto (voz de peito) e a voce di testa (voz de cabeça), recomendando aos seus cantores que preferissem o uso da voz de peito à de cabeça, que considerava “chata” e “irritante”, e muitos outros maestros e compositores partilhavam a mesma opinião, criticando a voce finta (voz fingida, falsete). • As denominações voz de peito e voz de cabeça vinham de sensações vibratórias que os cantores tinham quando entoavam o som de determinadas maneiras. AULA CONCEITUAL 03 Educação Vocal: Técnicas e Práticas Vocais NOS AVANÇOS CIENTÍFICOS • Hieronymus Fabricius ab Acquapendente (1537-1619) declarou que o que produzia o som eram as pregas vocais e o espaço entre elas. • Giovanni Batista Morgagni (1682-1771) foi de extrema importância para o conhecimento da laringe. • Denis Dodart (1634-1707) comparou a voz a um trompete, afirmando que os tons eram definidos pela tensão dos lábios e suas estruturas internas. AULA CONCEITUAL 03 Educação Vocal: Técnicas e Práticas Vocais PERÍODO BARROCO • Em 1600 temos a primeira ópera encontrada, Eurídice, de Jacopo Peri, membro da Camerata Fiorentina, um grupo de estudiosos nas artes e ciências em Florença, Itália, que teorizou o que seria o recitativo, inspirados pelas ideias dos antigos gregos. • A partir do século XVII, com o chamado bel canto das óperas italianas de Rossini, Bellini e Donizetti, o canto solo e virtuoso foi mais desenvolvido. • Diversos tratados sobre técnica vocal foram escritos para este estilo, que atingiu seu auge no século XIX. • Nesta época, ciência e arte tentaram andar lado a lado em busca do “canto belo”, e as técnicas para conseguir cantar o que era proposto se desenvolviam. Óperas começaram a ser escritas pensando em determinado cantor, com suas vozes e características específicas. AULA CONCEITUAL 03 Educação Vocal: Técnicas e Práticas Vocais • Em 1723 foi editado o tratado escrito por Pierfrancesco Tosi, cantor, professor de canto e compositor. Tosi era castrato (cantores que eram castrados quando jovens, antes da muda vocal, para preservarem a voz aguda) e escreveu para outros castrati (plural de castrato). E nele defendia o treino de ambos os registros e a união entre eles, creditando à falta deste treino a perda de “beleza vocal”. • Em 1741, Antoine Ferrein (1693-1769) comparou as pregas vocais com cordas de violinos, as rotulando como “cordas vocais” (nome usado, erroneamente, ainda hoje). Ele observou que as notas variam de acordo com as vibrações dessas cordas. AULA CONCEITUAL 03 Educação Vocal: Técnicas e Práticas Vocais PERÍODO CLÁSSICO E ROMÂNTICO • Em 1816, Ludwig Mende (1779-1832) observou pela primeira vez a laringe de uma pessoa viva – uma tentativa de suicídio com pescoço cortado. • Em 1835, Carl Lehfeldt disse que o falsete vinha de vibrações restritas às bordas das "cordas vocais". • Com a teoria mioelástica, Johannes Müller (1801-1858) confirmou que a voz é produzida pela corrente de ar que vem dos pulmões acionando, de forma passiva, a vibração das pregas vocais. • Em 1814, Liskovius diz que o movimento das pregas vocais é horizontal, e não vertical como se pensava. AULA CONCEITUAL 03 Educação Vocal: Técnicas e Práticas Vocais • Foi em 1829 que Manuel Garcia II, com 24 anos, após ter de se aposentar dos palcos por abuso vocal, começou a lecionar canto. Anos depois ele teve a ideia de refletir a luz do Sol em sua laringe para poder observá-la com um espelho, e em 1855 apresentou seu laringoscópio, começava a evolução tecnológica no estudo da voz. Garcia foi renomado professor de canto e acumulou fama e fortuna. AULA CONCEITUAL 03 Educação Vocal: Técnicas e Práticas Vocais SÉCULO XX • O grande avanço tecnológico no século XX, surgiram uma série de teorias sobre a fisiologia (funcionamento) da voz. • Na teoria neurocranáxica (1950, Husson) as pregas vocais são ativas e desassociadas do mecanismo de intensidade (pressão subglótica, ou pressão de ar vinda dos pulmões). De acordo com a prega vocal descrita por Goerttler, elas permaneciam fechadas e eram abertas pelos músculos tireovocal e arivocal, teoria que não foi comprovada. Para Husson a classificação vocal (tenor, baixo, soprano, contralto, etc.) de um cantor depende da capacidade do nervo recorrente entrar em ação. Quanto mais vezes o nervo consegue ativar o músculo mais aguda a voz do cantor. A técnica vocal seria, então, baseada na capacidade de concentração do cantor, dando pouca importância à respiração ou controle muscular. AULA CONCEITUAL 03 Educação Vocal: Técnicas e Práticas Vocais• As teorias mucondulatórias (1962, Parelló) e mioelástica completada (1963, Van den Berg e Vallancien) notaram a importância da mucosa da laringe na fonação. A vibração da prega vocal é, na verdade, ondulação na mucosa que recobre as pregas vocais. • Em 1960, Cornut e Lafon, desenvolveram a teoria impulsional, onde 3 elementos influenciam no funcionamento laríngeo: força no fechamento glótico (fechamento das pregas vocais), pressão subglótica (pressão do ar vindo dos pulmões) e força de atração das pregas vocais pela redução da pressão da passagem de ar (efeito Bernouilli). Para eles, as pregas não vibram como cordas de violino, mas alternando oclusões (fechamentos) e aberturas. AULA CONCEITUAL 03 Educação Vocal: Técnicas e Práticas Vocais • Hirano, em 1970, considerou a existência de 3 registros vocais, o registro basal (fry), o modal, subdividido em peito, cabeça e médio (uma combinação dos outros dois) e registro leve (falsete). • Em 1974, Hirano apresenta modelo analisando a influência da estrutura da prega vocal na produção do som, distinguindo o músculo e a mucosa (camada maleável que recobre o músculo vocal e vibra com a passagem do ar) e fazendo um elaborado estudo, referência desde então. • No mesmo ano, o cientista Harry Hollien denominou os registros pulso (fry), modal e elevado (falsete), mas sem excluir a possível existência de outros registros, como o registro flauta (ou assobio, ou whistle). AULA CONCEITUAL 03 Educação Vocal: Técnicas e Práticas Vocais HOJE • Desde então, cientistas como Ingo Titze (Alemanha) e Johan Sundberg (Suécia), vem publicando estudos cada vez mais elaborados mostrando a relação entre o funcionamento de músculos laríngeos e dos registros vocais, que independem do trato vocal, ressonância, ou qualquer outro fator. • A ciência comprova algumas teorias e desmente mitos, como o que dizia que os seios da face (cavidades ocas dentro do crânio) serviam para amplificar o som. • A tecnologia cada vez mais avançada, com medições acústicas computadorizadas, ressonâncias magnéticas, câmeras de velocidade ultra rápida ou exames menos invasivos utilizando eletrodos, facilita o estudo e o conhecimento da voz.