Prévia do material em texto
AULA 3 - OS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E A ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA NA FEDERAÇÃO BRASILEIRA • Estudar os princípios que regem a Administração Pública. • A organização administrativa do Estado brasileiro. • O regime dos atos administrativos. CONTEXTUALIZANDO A APRENDIZAGEM Prezado(a) Aluno(a), seja muito bem-vindo(a) à nossa terceira Aula de Auditoria Pública. Anteriormente, compreendemos os princípios e as regras que regem a Administração Direta e Indireta, nas três esferas de Governo, com foco na estrutura organizacional e funcional dos Órgãos e das Entidades Estatais. Conhecemos também o regime de direito público que normatiza a atuação dos órgãos, agentes e entidades da Administração Pública e seus Poderes. Nesta Aula, estudaremos os princípios jurídicos que norteiam todos os atos da Administração Pública; e, como são aplicados. Analisaremos toda a estrutura da Administração Pública, Direta e Indireta, da União, dos Estados e dos Municípios; seus Órgãos, Agentes Públicos e Entidades componentes. Esta Aula é de suma importância, para que, você, Aluno(a) compreenda o funcionamento da Administração Pública Brasileira e suas Normas estruturantes. Bons estudos! Mapa mental panorâmico Para contextualizar e ajudá-lo(a) a obter uma visão panorâmica dos conteúdos que você estudará na Aula 3, bem como entender a inter- relação entre eles, é importante que se atente para o Mapa Mental, apresentado a seguir: OS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E A ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA NA FEDERAÇÃO BRASILEIRA 1 PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 1.1 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 1.2 PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE 1.3 PRINCÍPIO DA MORALIDADE 1.4 PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE 1.5 PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA 2 ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DO ESTADO BRASILEIRO 2.1 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, EM SENTIDO OBJETIVO E SUBJETIVO 2.2 DESCENTRALIZAÇÃO POLÍTICA 2.3 ADMINISTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA 2.4 ÓRGÃOS PÚBLICOS, AGENTES PÚBLICOS E SUAS COMPETÊNCIAS 3 ATOS ADMINISTRATIVOS 3.1 CONCEITO DE ATO ADMINISTRATIVO 3.2 REQUISITOS DOS ATOS ADMINISTRATIVOS 3.3 ATOS ADMINISTRATIVOS VINCULADOS E DISCRICIONÁRIOS E SEU CONTROLE OS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E A ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA NA FEDERAÇÃO BRASILEIRA 1 PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Como vimos, na Aula anterior, o Regime Jurídico-administrativo pode ser definido como o conjunto de Normas de Direito Público que, por um lado, condicionam a manifestação de vontade dos Órgãos e dos Agentes da Administração Pública a determinadas limitações; e, por outro lado, confere a eles prerrogativas e poderes especiais, no exercício de suas funções. Muitas dessas Normas de Direito Público se expressam nos Princípios Fundamentais da Administração Pública Brasileira, disciplinados na Constituição Federal (Art. 37). A eles somam-se outros Princípios, expressos ou implícitos, na Constituição e na Legislação, que rege a Administração Pública; os quais devem ser observados, na aplicação das Normas Legais às atividades administrativas das três Esferas de Governo da Federação. Esses Princípios correspondem a verdadeiras Normas estruturantes do Sistema Jurídico-administrativo Brasileiro; condicionando a conduta dos Agentes Públicos à sua observância. A violação de qualquer um dos Princípios da Administração, assim como de suas Regras, pode invalidar Atos, Contratos ou quaisquer Instrumentos Administrativos. Essa invalidação pode ser efetuada, pelo próprio controle interno dos Órgãos da Administração Pública; exercendo a denominada Autotutela, como veremos, no Tópico, referente aos Atos Administrativos; como também, pelo controle externo, exercido pelo Poder Judiciário ou pelos Tribunais de Contas. Os Princípios Constitucionais da Administração, em conformidade com o texto do Art. 37, caput, da Constituição Federal, são: Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência. Esses Princípios são aplicáveis aos três Poderes e à Administração Pública Direta e Indireta das quatro Unidades da Federação (União, Estados, DF e Municípios). Sempre que os Órgãos do Poder Executivo, Legislativo ou Judiciário desempenhem funções administrativas, seus Atos estarão sujeitos ao influxo dos Princípios da Administração e ao Regime Jurídico de Direito Público. Além desses, expressos na Constituição, outros Princípios, expressos ou derivados do Sistema Constitucional, foram sendo reconhecidos pelos Tribunais e pela Legislação, ao longo dos anos. A Lei n. 9.784/99 (Lei do Processo Administrativo Federal), de fundamental importância para a Gestão Pública moderna, elenca como Princípios da Administração Federal os da Legalidade, Finalidade, Motivação, Razoabilidade, Proporcionalidade, Moralidade, Ampla Defesa, Contraditório, Segurança Jurídica, Interesse Público e Eficiência. Embora seja uma Lei da esfera federal, aplicável somente à União, muitos Estados e Municípios têm reproduzido suas disposições, em Leis locais. Nesta Aula, estudaremos cada um dos Princípios, expressos na Constituição Federal; mas, também, faremos menção aos demais, no decorrer das próximas Aulas; principalmente, quando estudarmos o controle externo e o interno da Administração Pública. 1.1 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE O Princípio da Legalidade está previsto na Constituição Federal, não somente, no seu Art. 37; mas, também, nos Arts. 5º, II e XXXV, e 84, IV. O Princípio da Legalidade é de fundamental importância, na Administração Pública; dele decorrem outros Princípios, como os da Finalidade, da Razoabilidade e da Proporcionalidade; essencial ao Estado de Direito e constitui alicerce basilar ao Regime Jurídico Administrativo. De acordo com o Princípio da Legalidade, é permitida a atuação do Agente Público ou dos Órgãos e das Entidades Administrativas, apenas, se houver permissão, por Norma Legal; não se admitindo qualquer atuação, que não contenha prévia e expressa autorização legal da conduta do Gestor Público. Ao Particular é permitido fazer tudo quanto não estiver proibido em Lei; ao passo que o Administrador, somente, atua, se houver autorização ou determinação legal. Portanto, toda atuação administrativa vincula-se a tal Princípio; sendo ilegal o ato, praticado sem Lei anterior, que o preveja ou autorize, de modo expresso ou implícito. Também, assim, será se a desobediência for em relação a Regulamento, ou, Regimento, ou, qualquer outro Ato Normativo. Do Princípio da Legalidade decorre a proibição para a Administração Pública declarar, conceder, restringir direitos; ou, impor obrigações aos Particulares, por mera manifestação unilateral de vontade de Agentes ou (Ato Administrativo), sem que haja fundamento, para essa atuação, em Lei ou Ato Normativo. Muitos Autores modernos têm preferido falar em Princípio da Juridicidade, ao invés de Legalidade; posto que a Administração está obrigada à observância, não apenas, do disposto nas Leis; mas, também, aos Princípios e às Regras Constitucionais, que regem a Gestão Pública; como também, aos próprios Atos Normativos, expedidos para executar o disposto, genericamente, nas Leis; tais como, Decretos do Poder Executivo, Instruções Normativas e Resoluções de Órgãos e Entidades da Administração, Ordens de Serviço e Portarias do Poder Público, em geral; etc. Entretanto, tais Atos, sempre, têm por limite a Lei e sua finalidade; não podendo violar seus parâmetros; e, muito menos, impor obrigações aos cidadãos, criar direitos ou limitá-los, sem suporte em Lei, em sentido estrito, votada pelo Poder Legislativo e sancionada pelo Executivo. A Administração Pública, somente, poderá agir, em conformidade com a Lei; nunca extrapolando os seus limites. A Legalidade, também, envolve a Razoabilidade, a motivação dos Atos Administrativos e a finalidade de interesse público. Atos, contendo decisões desproporcionais ao interesse tutelado, ou, sem motivação legal e fática; ou, que não atendam à finalidade de interesse público podem ser anulados, pela própria Administração Pública, ou, pelo Poder Judiciário.A Legalidade decorre do próprio Estado de Direito, que submeteu o exercício da autoridade do Estado à Lei, por ele próprio editada. Ela visa a proteção dos direitos dos cidadãos contra atos arbitrários do Estado; não previstos em Lei. Lei, votada pelos representantes do povo, no Poder Legislativo e executada pelo Poder Executivo, como vimos, nas Aulas 1 e 2. O que deve ficar bem claro, neste Tópico, é que, somente, pode-se conceber como legal e legítima a atividade administrativa, que seja realizada, em conformidade com os parâmetros, já instituídos pela Lei, de forma, mais ou menos, rígida. Por isso, administrar é função subjacente à de legislar; ou seja, a função administrativa se vincula aos limites, traçados pela função legislativa. A observância da Legalidade não exclui a atuação discricionária do Gestor Público, pois, em muitos casos, a Lei deixa ao Administrador margem de decisão sobre a conveniência e a oportunidade para praticar determinados Atos; sempre, tendo por finalidade atender, da melhor forma, ao interesse público. Como a Lei não pode prever todos os casos e situações, com que a Administração Pública se deparará, no dia a dia, notadamente, com a complexidade da vida social contemporânea, a própria Lei, em muitas matérias, confere poderes discricionários ao Administrador, a fim de atender ao interesse coletivo; como vimos, na Aula 2, ao estudar o Poder Discricionário. Todavia, esse poder de decisão deve se pautar, pela finalidade legal e pelos limites do poder do Gestor; não podendo este agir, além de sua competência (abuso de poder); ou, motivado por interesses pessoais (desvio de finalidade). Se houver excessos ilegais, o Ato Discricionário pode e deve ser anulado, pela própria Administração ou pelo Poder Judiciário. Concluindo, a Lei, em sentido amplo, como vimos, condiciona todos os Atos estatais, seja determinando que a Administração Pública tome uma providência ou pratique um ato (atuação, vinculada aos estritos termos da Lei); seja autorizando a Administração a agir com a finalidade de atender ao interesse público (atuação discricionária). 1.2 PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE O Princípio da Impessoalidade, referido na Constituição Federal (Art. 37, caput), nada mais é que o nome diferente para o Princípio da Finalidade; o qual impõe ao Administrador Público, que só pratique o ato, para o seu fim legal. E, o fim legal é, unicamente, aquele que, previsto na Norma Jurídica, indica, expressa ou implicitamente, como objetivo do ato, de forma impessoal. O Agente Público não pode praticar um (Ato) Administrativo, movido por interesse particular, de qualquer espécie. Esse Princípio, também, deve ser entendido, como vedação à promoção pessoal de Autoridades ou Servidores Públicos, sobre as suas realizações administrativas (CF, Art. 37, § 1º). E, a finalidade terá, sempre, um objetivo certo e inafastável de qualquer Ato Administrativo: o interesse público. 1.3 PRINCÍPIO DA MORALIDADE É importante destacar que, no mundo contemporâneo, a própria evolução do conceito de Estado e com a ampliação das tarefas estatais, o Poder Executivo passou a ter maior protagonismo, nas decisões políticas, que o Legislativo; a Lei, votada pelo Legislativo, deixou de expressar a vontade geral, para ser vontade de maiorias parlamentares; em geral, conduzidas pelo Executivo, em coalizões de governo. Assim, o Executivo passou a ter ampla função normativa, como autor de Projetos de Lei; como legislador, por delegação (Leis Delegadas); como legislador direto (por exemplo, ao editar Medidas Provisórias); como emissor de Decretos, Resoluções, Portarias e Circulares, que afetam direitos dos cidadãos; mas, sempre, nos limites da Lei. A Moralidade Administrativa constitui, hoje, pressuposto de validade de todo Ato da Administração Pública (CF, Art. 37, caput). Não se trata da moral comum; mas, sim, de uma moral jurídica, entendida como o conjunto de regras de conduta, tiradas da disciplina interior da Administração. Significa dizer que a moral, que se relaciona ao Princípio da Moralidade Administrativa é jurídica; e, não subjetiva, própria de cada pessoa; mas, ligada a outros Princípios da própria Administração e aos Princípios Gerais de Direito. O Princípio da Moralidade deve ser observado, não só, pelos Agentes Públicos; como também, pelos Particulares, que se relacionam com a Administração Pública. A imoralidade administrativa pode configurar o ato de improbidade administrativa; e, não apenas, o ato imoral; desde que, do ato, resulte enriquecimento ilícito do Agente Público ou de Terceiro - Particular ou Pessoa Jurídica -; dano ao Erário e ao Patrimônio Público; ou, quando o ato representar violação a outros Princípios da Administração. As sanções, para o Agente Público ímprobo, estão previstas, na Lei n. 8.429/92, a Lei de Improbidade Administrativa; sendo que, as disposições dessa Lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não sendo um Agente Público, induza ou concorra para a prática do Ato de Improbidade; ou, dele se beneficie, sob qualquer forma, direta ou indireta. O dever de probidade está, constitucionalmente, integrado à conduta do Administrador Público, como elemento necessário à legitimidade de seus atos. As sanções para o Agente Público ou ao Particular ímprobo, previstas na Lei, são: • perda dos bens ou valores, acrescidos, ilicitamente, ao Patrimônio; • ressarcimento integral do dano, quando houver; • perda da função pública; • e, suspensão dos direitos políticos, em prazos variáveis; cabendo ao Juiz a fixação e a gradação das penas, previstas na Lei de Improbidade, conforme a extensão do dano causado; assim como, o proveito patrimonial, obtido pelo Agente. Além das sanções da Lei de Improbidade, o Agente Público e o Particular ímprobos podem responder, criminalmente, por sua conduta. 1.4 PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE Publicidade é a divulgação oficial do ato, para conhecimento público e início de seus efeitos externos. Daí, por que as Leis, Atos e Contratos Administrativos, somente, produzem consequências jurídicas externas, depois de publicados; o que confere validade, perante aos Órgãos, que os emitem; e, perante às Partes e aos Terceiros; gerando vinculações e obrigações. A publicação, que produz efeitos jurídicos, é a do Órgão Oficial da Administração; e, não a divulgação, pela Imprensa particular, pela Televisão, ou, pelo Rádio; ainda que, em horário oficial. Por Órgão Oficial entendem-se, não só, o Diário Oficial das Entidades Públicas; como, também, os Jornais, contratados para essas publicações oficiais. Vale, ainda, como publicação oficial a afixação dos Atos e das Leis Municipais, na sede da Prefeitura ou da Câmara, onde não houver Órgão Oficial, em conformidade com o disposto, na Lei Orgânica do Município. O Princípio da Publicidade dos Atos e Contratos Administrativos, além de assegurar seus efeitos externos, visa a propiciar o seu conhecimento e controle, pelos interessados diretos; e, pelo povo, em geral; por meio das ações judiciais - Mandado de Segurança (Art. 5º, LXIX, CF); Direito de Petição (Art. 5º, XXXIV, "a", CF); Ação Popular (Art. 5º, LXXIII, CF); Habeas Data (Art. 5º, LXXII, CF); Suspensão dos Direitos Políticos, por improbidade administrativa (Art. 37, § 4º, CF); - e, para tanto, a mesma Constituição impõe o fornecimento de Certidões de Atos da Administração, requeridas por qualquer pessoa, para defesa de direitos ou esclarecimentos de situações (Art. 5º, XXXIV, b, CF); os quais devem ser indicados, no requerimento. 1.5 PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA O dever de eficiência é o que se impõe a todo Agente Público de realizar suas atribuições, com presteza, perfeição e rendimento funcional. É o mais moderno Princípio da Administração Pública; que, já não se contenta em ser desempenhado, apenas, com legalidade; exigindo resultados positivos para o Serviço Público; e, satisfatório atendimento das necessidades da Comunidade e de seus Membros. A Eficiência Funcional é, pois, considerada,em sentido amplo, abrangendo, não só, a produtividade do exercente do cargo ou da função; como também, a adequação técnica aos fins visados, pela Administração; para o qual se avaliam os resultados; confrontam- se os desempenhos e se aperfeiçoa o Pessoal, por meio de seleção e treinamento. Assim, a verificação da Eficiência tem aspecto quantitativo e qualitativo; e, visa a verificar o rendimento efetivo dos Servidores Públicos, o custo-benefício operacional da Máquina Administrativa e a sua utilidade, para os Administrados e para a Administração. Tal controle desenvolve-se, portanto, na tríplice linha; isto é, a jurídica, a econômica e a técnica. Assim, o Princípio da Eficiência (ou, Dever de Eficiência) = “Dever da Boa Administração”, o qual exige: Figura 1 – Princípios da Eficiência Fonte: Elaborado pelo NEAD. Sobre os Princípios da Administração Pública, em ALEXANDRE, Ricardo; DE DEUS, João. Direito Administrativo. 4ª. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018, Capítulo 4, p. 176-203. Com base neste capítulo do livro, veremos com mais detalhes sobre os princípios Constitucionais da Administração Pública, quais sejam: Princípio da legalidade; Princípio da impessoalidade; Princípio da moralidade; Princípio da publicidade e Princípio da eficiência. Assim sendo, a realização de licitações e concursos públicos, nas contratações em geral, no exercício da função administrativa, todos os Poderes de todas as esferas da federação devem obedecer aos princípios citados anteriormente. 2 ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DO ESTADO BRASILEIRO 2.1 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, EM SENTIDO OBJETIVO E SUBJETIVO Como vimos, nas Aulas 1 e 2, a Administração Pública é aparelho Organizacional do Estado, voltada para o atendimento das necessidades coletivas, no exercício de sua função administrativa. A Administração Pública pode ser estudada, em dois sentidos: Sentido Subjetivo ou Orgânico Consiste no conjunto de Órgãos, Entidades e Agentes, que tenham a atribuição de executar a função administrativa. Nesse sentido, leva-se em conta os Sujeitos da Administração Pública, que formam um conjunto orgânico de Pessoas Físicas e Jurídicas, incumbidas em exercer a função administrativa. Sentido Objetivo ou Funcional Consiste na própria atividade administrativa, exercida pelos Órgãos e Entes Estatais. Nesse sentido, toma-se em consideração a função administrativa, propriamente, dita. Em apertada síntese, podemos dizer que Administração Pública, em sentido subjetivo, é o conjunto de Sujeitos Estatais (Órgãos, Agentes e Entidades), criados para a consecução dos objetivos do Estado e do Governo. Em sentido objetivo, é o conjunto das funções estatais, por meio das quais o Estado presta serviços públicos, em geral; e, atua, no campo social, para atingir seus fins legais. Numa visão global, podemos dizer que a Administração Pública é todo o Aparelhamento Orgânico do Estado, cuja finalidade é a execução de Atos e Serviços, que visam à satisfação das necessidades coletivas. A Administração não pratica Atos de Governo; e, sim, Atos de Gestão ou de Execução, com maior ou menor, autonomia funcional; segundo a competência, atribuída, legalmente, a seus Órgãos e Agentes Públicos. 2.2 DESCENTRALIZAÇÃO POLÍTICA A Descentralização Política tem relação com a divisão de competências políticas; com soberania ou autonomia, para legislar e para ditar seus propósitos e seu governo. A repartição de competências, no Brasil, adota tal modelo; havendo a Descentralização Política, com a Federação; e, o reconhecimento das autonomias de Estados-Membros, Municípios e Distrito Federal (Art. 1º da CF). A Descentralização Política é concretizada, pela não subordinação daqueles à União; reservando-lhes a Constituição competências próprias. Difere, portanto, da Descentralização Administrativa. Nos Estados unitários, há concentração de competências, em uma só Pessoa Política (como ocorria, no Período Imperial); podendo ocorrer eventual desconcentração e descentralização, meramente, administrativas; mas, por opção da única Pessoa Política. É do Poder Central, que decorre a atribuição de competências locais ou regionais. Na Federação, porém, a atribuição de competências não é uma opção do Legislador; mas, do Constituinte. O Brasil, que adota a Federação, como forma de Estado, reconhece como Entes, componentes dela, a União, os Estados-Membros, o Distrito Federal e os Municípios. 2.3 ADMINISTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA A Administração Direta corresponde à atuação direta, pelo próprio Estado, por seus Entes Estatais: União, Estados-Membros, Municípios e Distrito Federal. Somente, a União tem soberania; as demais Pessoas Políticas (Estados, DF e Municípios) têm autonomia política, administrativa e financeira. A Administração Indireta ou Descentralizada é integrada por Pessoas Jurídicas de Direito Público ou Privado, criadas ou instituídas, a partir de Lei específica: Autarquias, Fundações, Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista; como também, Associações e Consórcios Públicos. Há, ainda, as chamadas Entidades Privadas, que concorrem com o Estado, para a realização de atividades de interesse social. São as chamadas Paraestatais ou Entes de Cooperação: Serviços Sociais Autônomos, Entidades de Apoio, Organizações Sociais e Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público. As Paraestatais não integram a Administração Indireta; são instituídas, por vontade da Iniciativa Privada; e, atuam em comunhão com a Administração, ou, com ela, estabelecem alguma espécie de vínculo jurídico (decorrente de Autorização Legislativa, de Contrato ou Termo de Parceria). Dá-se o nome de Centralizada a atividade, exercida, diretamente, pela Entidade Estatal; desconcentrada, sempre que a competência para o exercício da atividade é repartida, dividida ou espalhada, por diversos Órgãos (Ministérios, Secretarias e outros Órgãos despersonalizados), que integram a mesma Pessoa Jurídica; e, Descentralizada, quando a atividade administrativa é deferida a outras Entidades, dotadas de personalidade jurídica; seja por outorga (Lei); seja, por delegação (Contrato ou Ato). Da desconcentração resulta a criação dos Órgãos Públicos, que é inerente à hierarquia administrativa. A função, atribuída para a Entidade Estatal, é repartida (desconcentrada), internamente, entre seus Órgãos; estabelecendo-se subordinação interna (lembre-se do poder hierárquico, estudado, na Aula anterior). Da descentralização, resulta a atribuição da função para outras Entidades ou Pessoas Jurídicas ou Físicas; sendo informada, pelo princípio da especialização, quando tange à formação da Administração Indireta. As Pessoas Jurídicas, instituídas pela vontade do Poder Público (Administração Indireta), possuem características próprias, distintas das Pessoas Jurídicas, criadas por Particulares. Dentre elas, estão: a) A criação, somente, pode decorrer de Lei (CF, Art. 37, XIX). A Lei cria ou autoriza a criação. b) A sua finalidade não será lucrativa. c) Não se extinguem, pela própria vontade (princípio do paralelismo das formas); mas, apenas, por força de Lei (não lhes incidem, exclusivamente, as Normas próprias do Direito Privado). d) Sujeitam-se, sempre, a controle interno (próprio da hierarquia); e, podem ficar sujeitas, nos limites da Lei, à fiscalização ou à tutela, realizadas pela própria Entidade a que se vinculam (ou, que as tenham criado). e) Sujeitam-se a controle externo, exercido pelo Legislativo, com o apoio do Tribunal de Contas, e, pelo Judiciário; além da fiscalização, desempenhada pelo Ministério Público. f) Permanecem adstritas à finalidade, para a qual foram instituídas (princípio da especialidade). É, também, da descentralização administrativa, que decorre a atribuição da execução de Serviços Públicos a Particulares (Pessoas Físicas ou Jurídicas), como se passa, no Regime das Concessões e Permissões de Serviços Públicos. Pode-se, dessa forma, adotar a seguinte designação para a Organização Administrativa Brasileira:Administração Direta Conjunto de Órgãos, criados na estrutura de cada uma das Pessoas Políticas, para o exercício das funções administrativas e outras atípicas. Assim, corresponde aos Órgãos, que integram a estrutura da União, dos Estados-Membros, do Distrito Federal e dos Municípios (atuação direta, ou, desconcentrada, do Poder Público). Administração Indireta Conjunto de Entidades, dotadas de personalidade jurídica própria; e, criadas para o exercício de funções específicas, como as Autarquias, Agências, Fundações, Entidades Empresariais (Sociedades de Economia Mista e Empresas Públicas e suas Subsidiárias). Os Consórcios Públicos, constituídos sob a forma de Associações Públicas, são, também, integrantes da Administração Indireta (Lei n. 11.107/2005). Paraestatais Entes de Cooperação: Entidades, criadas pelo Setor Privado, com personalidade jurídica de direito privado; mas, que mantêm vínculo jurídico, com as Pessoas Políticas, como os Serviços Sociais Autônomos, as Organizações Sociais, as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, dentre outros. O vínculo pode ser resultante de Lei (como, no caso dos Serviços Sociais Autônomos - ex.: SESC, SESI, SENAI); de Contrato de Gestão (como, para as Organizações Sociais); ou, de Parceria (como, no caso das Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público). Admite-se a constituição de Entidades da Administração Indireta, por qualquer dos Poderes do Estado, ainda que, primariamente, a ocorrência seja típica do Poder Executivo. Por isso, nada impede que o Legislativo constitua Entidade Autárquica ou Fundacional; podendo, também, fazê-lo o Judiciário; mas, desde que observada a regra do Art. 37, XIX, da Constituição Federal; ou seja, por meio de Lei, que crie ou autorize a criação das Entidades Administrativas. — Administração Direta: Chefia do Poder (por exemplo, a Presidência da República e o Governador de Estado) e seus Órgãos Auxiliares (por exemplo, os Ministérios e as Secretarias), seus Órgãos de Assessoramento (por exemplo, Procuradorias Jurídicas) e de Consulta. As funções próprias da Pessoa Política (União, Estados e Municípios) são desconcentradas ou repartidas, internamente, entre os Órgãos, mencionados. — Administração Indireta: Autarquias, Agências, Fundações Públicas, Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista; todas dotadas de personalidade jurídica própria, criadas por Lei; ou, a partir de Autorização Legislativa; e, resultantes de descentralização administrativa. Ex.: Na Administração Federal: IBAMA (Autarquia); ANEEL (Agência Reguladora dos Serviços de Energia Elétrica); Fundação Nacional de Saúde (Fundação); Caixa Econômica Federal (Empresa Pública); Banco do Brasil (Sociedade de Economia Mista). — Paraestatais — Entes de Cooperação: Serviços Sociais Autônomos, Organizações Sociais, Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, etc. Pessoas Jurídicas de Direito Privado, criadas sem fins lucrativos; e, para o desempenho de funções, socialmente, relevantes; e, que estabelecem, cada qual a seu modo, vínculo jurídico com a Administração Pública; passando a desfrutar de prerrogativas incomuns para as demais Pessoas Jurídicas de Direito Privado. 2.4 ÓRGÃOS PÚBLICOS, AGENTES PÚBLICOS E SUAS COMPETÊNCIAS Órgãos Públicos são centros de competência, instituídos para o desempenho de funções estatais, por meio de seus Agentes, cuja atuação é imputada à Pessoa Jurídica, a que pertencem. São unidades de ação, com atribuições específicas, na Organização Estatal. Cada Órgão, como centro de competência governamental, ou, administrativa, tem, necessariamente, Funções, Cargos e Agentes; mas, é distinto desses elementos, que podem ser modificados, substituídos ou retirados, sem supressão da unidade orgânica. Isso Todas as funções administrativas, exercidas, direta ou indiretamente, pelo Estado, acham-se submetidas aos Princípios e Regras Jurídicas, que informam o Regime Jurídico- administrativo. Por isso, essas áreas estão interligadas. São Princípios, as Normas Jurídicas, que conferem sentido lógico ao Sistema; são vetores, que orientam a interpretação e a aplicação das Normas de determinado Sistema; enquanto as Regras possuem conteúdo certo, determinado e preciso. explica por que a alteração de Funções, ou, a vacância dos Cargos, ou, a mudança de seus titulares não acarreta a extinção do Órgão. A divisão da competência entre Órgãos da mesma Pessoa Jurídica (uma Autarquia, por exemplo), decorre da desconcentração administrativa; como vimos, no Tópico anterior. Os Órgãos integram a estrutura do Estado e das demais Pessoas Jurídicas Estatais, como partes desses corpos vivos; dotados de vontade e capazes de exercer direitos e contrair obrigações, para a consecução de seus fins institucionais. Por isso mesmo, os Órgãos não têm personalidade jurídica, nem vontade própria; que são atributos do corpo e não das partes, mas na área de suas atribuições e nos limites de sua competência funcional, expressam a vontade da Entidade, a que pertencem; e, vinculam-na, por seus Atos, manifestados, por meio de seus Agentes (Pessoas Físicas). Embora despersonalizados, os Órgãos mantêm relações funcionais entre si e com Terceiros, das quais resultam efeitos jurídicos, internos e externos; na forma legal ou regulamentar. Quando o Agente Público atua além da competência do Órgão, em que esteja lotado, surge a sua responsabilidade pessoal, perante a Entidade; como também, quando esta desconsidera direitos do titular do Órgão, pode ser compelida, judicialmente, a respeitá-los. É necessário distinguir a atuação funcional do Agente, sempre, imputável à Administração, da atuação pessoal do Agente, além da sua competência funcional ou contra a Administração, na defesa de direitos individuais de Servidor Público: Aquela deflui de relações orgânicas; esta resulta de relações de serviço. Agentes Públicos são todas as Pessoas Físicas, incumbidas, definitiva ou transitoriamente, do exercício de alguma função estatal. Os Agentes, normalmente, desempenham funções do Órgão; distribuídas entre os Cargos de que são titulares; mas, excepcionalmente, podem exercer Funções sem Cargo. A regra é a atribuição de Funções múltiplas e genéricas ao Órgão, as quais são repartidas, especificamente, entre os Cargos; ou, individualmente, entre os Agentes de Função sem Cargo. Em qualquer hipótese, porém, o Cargo ou a Função pertence ao Estado; e, não ao Agente, que o(a) exerce; razão pela qual o Estado pode suprimir ou alterar Cargos e Funções, sem nenhuma ofensa aos direitos de seus titulares; como podem desaparecer os titulares, sem extinção dos Cargos e das Funções. Os Cargos são, apenas, os lugares, criados no Órgão, para serem providos por Agentes, que exercerão as suas funções, na forma legal. O Cargo é lotado no Órgão; e, o Agente é investido no Cargo. Por aí, pode-se ver que o Cargo integra o Órgão; ao passo que o Agente, como ser humano, unicamente, titulariza o Cargo, para servir ao Órgão. Órgão, Função e Cargo são criações abstratas da Lei. O Agente Público é a pessoa humana, que pratica os atos de sua competência; manifestando a vontade do Órgão, que representa. As Funções são os encargos, atribuídos aos Órgãos, Cargos e Agentes; delimitando suas competências. O Órgão, normalmente, recebe a função genérica, repassa-a aos seus Cargos e a Funções específicas; ou, transfere-as, diretamente, a Agentes sem Cargo; com a necessária parcela de poder público, para o seu exercício. Toda Função é atribuída e delimitada, por Norma Legal. 3 ATOS ADMINISTRATIVOS 3.1 CONCEITO DE ATO ADMINISTRATIVO Atos administrativos são atos unilaterais do Estado, ou de quem o represente por delegação, que têm por fim imediato atender a um interesse público concreto, produzindo efeitos jurídicos imediatos, visando criar, restringir, declarar ou extinguir direitos e obrigações, sujeitos ao controle de legalidade pela própria Administração Pública ou pelo Poder Judiciário (DI PIETRO, 2017, p.237). O regimesob o qual tais atos são manifestados é o regime de direito público ou regime jurídico-administrativo, o qual confere prerrogativas especiais para a Administração Pública e ao mesmo tempo estabelece limitações, principalmente quanto à legalidade da conduta estatal, o que já foi estudado na Aula 2 e no início desta Aula. Os atos administrativos são praticados no âmbito dos três Poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário quando seus órgãos exercem a função administrativa, ou seja, quando expedem atos que visam executar suas atividades administrativas. Mas os órgãos e entidades estatais do Poder Executivo são a principal fonte de atos administrativos, já que a função administrativa é típica do Poder Executivo. O Legislativo e o Judiciário quando expedem atos administrativos estão, portanto, desempenhando função administrativa atípica. Assim, quando a Administração Pública manifesta sua vontade, ela o faz mediante a prática de atos administrativos. Exemplos: a punição de um servidor por ato infracional disciplinar, apreensão pela Vigilância Sanitária de mercadorias impróprias ao consumo humano, expedição de licenciamento ambiental, imposição de multa por excesso de velocidade, ato de admissão de um servidor Todo ato administrativo é de nível inferior à Lei, motivo pelo qual deve ser editado respeitando os limites legais, e sempre deve ter por objetivo um interesse público, jamais um interesse pessoal do agente público que o pratica. público, decreto de desapropriação de um imóvel particular, instauração de um procedimento de licitação etc. 3.2 REQUISITOS DOS ATOS ADMINISTRATIVOS Justamente por estarem submetidos à lei, não podendo contrariá-las, é que os atos administrativos somente podem existir e ter validade se forem expedidos pelos agentes públicos observando certos requisitos ou elementos. São cinco os requisitos dos atos administrativos: Competência É o conjunto de atribuições legais de pessoas jurídicas, órgãos e agentes públicos, conforme o estabelecido em lei. A cada órgão administrativo são atribuídas determinadas funções, as quais são desempenhadas por seus agentes públicos, pessoas físicas, que exercem essas funções conforme sua competência. Exemplo: o Secretário da Fazenda Estadual de Minas Gerais não pode exercer as competências da Secretaria de Meio Ambiente. Cada órgão tem sua atribuição específica, conferida por lei. Observação: algumas competências de um agente público podem ser delegadas a outro de igual ou inferior hierarquia ou a outro órgão distinto; outras não, depende da lei em cada caso. As competências exclusivas de determinada autoridade ou órgão não podem ser delegadas. Finalidade É o resultado que se busca alcançar com o ato. A finalidade de cada ato decorre de lei e sempre deve ser um objetivo de interesse público, sob pena de ser anulado o ato por desvio de finalidade. A finalidade é objetivo último a ser atingido pela Administração Pública. Forma A forma é o revestimento material do ato; o procedimento é o conjunto de operações exigidas para sua perfeição, conforme a legislação estabelece. Por exemplo: na admissão de um servidor público, o decreto de nomeação do Chefe do Executivo publicado no Diário Oficial é a forma exigida para a perfeição e validade do ato; para uma concorrência, há um procedimento que se inicia com o edital de licitação e se finda com a adjudicação da obra ou do serviço pela empresa vencedora, e há um ato adjudicatório que se concretiza, afinal, pela forma estabelecida em lei. Motivo Motivo ou causa do ato administrativo é a situação de direito e de fato que determina ou autoriza sua prática por determinado agente público. Pode estar expresso em lei, sem margem de escolha pelo administrador, no caso dos atos vinculados, ou a lei pode deixar ao administrador margem de liberdade para avaliar se determinado motivo ou fato justifica a prática do ato naquele momento, conforme critérios de conveniência e oportunidade para a Administração, no caso dos atos discricionários, sempre nos limites balizados pela lei. O motivo, portanto, serve de fundamento para justificar a prática do ato. Objeto O objeto é o próprio conteúdo do ato, é aquilo que constitui a decisão ou declaração da Administração expressa no ato administrativo. Exemplo: o objeto da aplicação da penalidade disciplinar de suspensão de um servidor público é a própria suspensão; o motivo é a prática da infração disciplinar e a finalidade é coibir condutas ilegais dos servidores públicos em geral e do servidor punido em especial. 3.3 ATOS ADMINISTRATIVOS VINCULADOS E DISCRICIONÁRIOS E SEU CONTROLE Dependendo de como os requisitos do ato administrativo vem expresso em lei, de forma mais ou menos restritiva quanto à margem de liberdade do administrador, podemos classificar os atos administrativos em vinculados e discricionários. a) Atos vinculados - são aqueles em que a liberdade de atuação do gestor público é rigorosamente restrita ao que determina a lei fixadora de sua competência, sendo que todos os requisitos do ato acima mencionados encontram-se detalhadamente estipulados no texto legal e devem ser observados rigorosamente, sem margem de liberdade para o gestor, sob pena de nulidade do ato. O único comportamento possível para o administrador ao praticar o ato é aquele estabelecido em lei, sem qualquer apreciação subjetiva. Ex.: Licença gestante à servidora pública que tem direito. Nos atos vinculados, todos os requisitos do ato vêm definidos na lei. Por este motivo, o controle de legalidade dos atos vinculados pelo Poder Judiciário é bastante amplo, uma vez que envolve a apreciação judicial de todos os seus requisitos, o que não ocorre com os atos discricionários, como veremos a seguir. b) Atos discricionários - são aqueles que a Administração Pública pratica com margem de escolha quanto ao conteúdo do ato em vista de determinado motivo de fato e de direito e considerando a oportunidade do momento para sua prática, sempre nos limites de sua competência e de acordo com a finalidade legal do ato. Enquanto nos atos vinculados a autoridade administrativa está plenamente vinculada a observar todos os requisitos do ato já delineados em lei, nos atos discricionários, o administrador público dispõe de certa margem de liberdade, dentro dos limites da lei, quanto à escolha dos requisitos motivo (conveniência e oportunidade) e objeto (conteúdo) do ato, realizando valoração subjetiva para praticar o ato. Vale ressaltar que os requisitos: competência, finalidade e forma do ato, terão sempre natureza vinculada em qualquer tipo de ato administrativo, pois os atos administrativos somente podem ser praticados por agente competente, segundo a forma prevista em lei e sempre visando atender a uma finalidade de interesse público. Desta forma, os requisitos motivo e objeto do ato administrativo nos chamados atos discricionários formam o núcleo do que costuma ser denominado mérito administrativo, que, resumidamente, podemos definir como o poder autorizado em lei para que o administrador público faça um juízo subjetivo de valor sobre os motivos ensejadores do ato e a escolha do objeto do ato, bem como quanto à conveniência e oportunidade do ato. Nesse sentido, é preciso assinalar que o Poder Judiciário somente pode fazer o controle de legalidade dos atos discricionários, jamais o controle de mérito. Como vimos nas duas primeiras Aulas, existe uma divisão funcional de poderes, sendo que ao Executivo foi conferida a competência para executar a lei e administrar, e ao Judiciário foi conferida a competência para julgar os conflitos e aplicar a lei aos casos litigiosos, entre partes num processo. Não faria sentido um juiz, voltado à atividade judicial, muitas vezes distante da realidade administrativa, substituir o administrador na tomada de decisões inerentes à própria função administrativa, as quais exigem, muitas vezes, escolhas pertinentes aos motivos dos atos e ao seu objeto, a fim de melhor atender à finalidade específica da leie ao interesse público em geral. Se o juiz substituísse o administrador nesta função, ocorreria clara violação da divisão de funções entre esses dois Poderes. Uma vez provocado por quem tenha interesse, o que o Judiciário pode e deve fazer é verificar se a conduta do administrador, ao decidir sobre os motivos e o objeto dos atos discricionários, observou os limites da lei, especialmente, se os requisitos vinculados do ato foram respeitados pelo administrador, ou seja, se os atos discricionários observaram a competência legal, a finalidade legal específica do ato e a forma exigida em lei, em conformidade também com os princípios constitucionais da Administração Pública, já estudados. Enfim, o Judiciário somente pode fazer o controle da legalidade dos atos discricionários; não pode apreciar o mérito da decisão do administrador quando se tratar de atos cuja apreciação dos requisitos motivo e objeto dependa de critérios administrativos de conveniência e oportunidade da Administração; caso contrário, o juiz estaria invadindo competência reservada ao gestor público. Após esta Aula, você entendeu que a Administração Pública é o conjunto de atribuições funcionais de determinado Órgão, Entidade ou Agente Público que são delimitadas por Lei? Conseguiu ver sobre a organização administrativa do Estado brasileiro? Como também o regime dos atos administrativos? Caso você consiga responder a essas questões, parabéns! Você atingiu os objetivos específicos da Aula 3! Caso tenha dificuldades para respondê-las, não se preocupe! Aproveite para reler o conteúdo das Aulas, acessar o Ambiente Virtual e interagir com seus Colegas, Tutor(a) e Professor(a). Você não está sozinho(a) nessa caminhada! Conte conosco! Esta margem de liberdade se justifica diante da complexidade dos problemas enfrentados pela Administração Pública moderna, que em determinadas situações exige poder de decisão do gestor no caso concreto para resolvê-lo, desde que observados os princípios constitucionais que regem a Administração, como vimos nesta Aula, e o disposto em lei que regula a competência do agente público. Chegou o momento de complementar seu conhecimento. Vá até seu Ambiente Virtual de Aprendizagem e acesse esta aula para assistir a Video Aula RECAPITULANDO Do conteúdo dessa Aula, vimos que os Princípios da Administração Pública, expressos na Constituição Federal, constituem verdadeiras Normas, estruturantes do Sistema Jurídico-administrativo Brasileiro; condicionando a conduta dos Agentes Públicos à sua observância. A violação de qualquer dos Princípios da Administração, assim como, de suas Regras, pode invalidar Atos, Contratos ou quaisquer Instrumentos Administrativos. Essa invalidação pode ser efetuada, pelo próprio controle interno dos Órgãos da Administração Pública; exercendo a denominada Autotutela; como veremos, no Tópico referente aos Atos Administrativos; como também, pelo controle externo, exercido pelo Poder Judiciário, ou, pelos Tribunais de Contas. Foi analisado o conteúdo normativo de cada um desses Princípios: Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência. Estudamos a estrutura fundamental da Administração, direta e indireta, dos três níveis de Governo da Federação: União, Estados/Distrito Federal e Municípios; e, os Entes Administrativos, criados por cada unidade da Federação: Autarquias, Fundações e Empresas Públicas. Compreendemos, ainda, o que é Órgão e o que é Agente Público e suas competências. Na próxima Aula, veremos como compreender as normas de auditoria governamental, para poder utilizar seus métodos e procedimentos de trabalho. Espero por você! Até lá!!! REFERÊNCIAS ALEXANDRE, Ricardo; DE DEUS, João. Direito Administrativo. Cap. 4, p. 176-203. 4.ª ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018. DI PIETRO. Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 30.ª edição. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2017.