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NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 1 Tema desta edição: Aconselhamento e Cuidados Pastorais • Jesus – Nosso Modelo para o Ministério | George Wood | p.03 • O Aconselhamento Cristão Cristocêntrico | Richard Dobbins | p.08 • O Conselheiro Cristão Competente | Donald Lichi | p.15 • Uma Abordagem de Aconselhamento Pastoral para Aqueles com Dores e Doenças Crônicas | Doug Wiegand | p.19 • Abordagem Convencional, Complementar e Alternativa para Cura | Christina Powel | p.24 • Girolamo Savonarola – O Profeta de Florença | William Farley | p.29 • Os Pecados da Maldição Hereditária | W. Nunnally | p.32 www.enrichmentjournal.ag.org N o v e m b ro /2 0 1 0 2 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010 É um prazer poder levar até você a 4ª edição da revista Recursos Espirituais, originalmente publicada pelas Assembleias de Deus dos EUA, em inglês, sob o título Enrichment Journal. Após trabalho cuidadoso da equipe editorial, este número expõe em nosso idioma artigos simplesmente imperdíveis. Num momento em que vivenciamos na mídia uma discussão acirrada sobre inúmeros assuntos polêmicos, abarcando as mais diferentes áreas da vida, os autores trazem luz às necessidades dos pastores, dos professores de seminários e dos demais obreiros da Igreja que ministram ao povo de Deus, disponibilizando pesquisas relevantes e atuais, fortemente baseadas nas Sagradas Escrituras. De igual modo, os estudantes de Teologia também são contemplados com uma rica coleção de material que dará um suporte consistente à sua incansável e necessária busca pelo conhecimento sadio da Palavra de Deus. Em 30 anos envolvido com o meio teológico, pude presenciar a publicação de inúmeros artigos que dizendo-se cristãos, na verdade, traziam sorrateiramente ideologias totalmente contrárias à Agora você pode acessar online Recursos Espirituais em 14 idiomas. Visite o website do Enrichment Journal e tecle na opção desejada. Você será direcionado para um dos treze idiomas que selecionar: português, tcheco, espanhol, francês, alemão, russo, ucraniano, romeno, húngaro, croata, tâmil, bengalês, malaio ou hindi. Você terá oportunidade para ler os periódicos online ou pode ainda transferir os arquivos, para sua conveniência. As informações para contato encontram-se no site: www.enrichmentjournal.ag.org Equipe Editorial / Versão em Português Tradução: Nadja Matta e Bruno Ferrari Revisão de textos: Martha Jalkauskas e Rejane Eagleton Diagramação: ©MMDesign Revisão: Neide Carvalho Coordenação Geral: Márcio Matta Entre em contato conosco para obter informações adicionais ou fazer perguntas através do e-mail enrichmentjournal@lifepublishers.org Life Publishers International © Copyright Life Publishers 2010 Publicado por Life Publishers, Springfield, Missouri (EUA) Todos os direitos reservados. sã doutrina, promovendo desta forma prejuízos irreparáveis na vida de muitos crentes. Assim, devido a necessidade de critérios rígidos para a escolha de uma boa literatura cristã, esta publicação se apresenta como um subsídio valioso para dirimir questionamentos e dúvidas que surgem no dia-a-dia de nossa caminhada cristã. Os pontos de vista apresentados em cada artigo, embora do contexto assembleiano norte- americano, levam o leitor a construir suas ideias a partir de princípios bíblicos e experiências pessoais que o incentivam à inspiração para sua própria jornada espiritual. Tenho convicção de que os artigos das áreas ministerial, aconselhamento pastoral, ética mé- dica, história e teologia, além de serem agradável à leitura, serão uma verdadeira bênção para você. Aprecie sem moderação! márciomatta editor | versão em português Editorial 2 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010 NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 3 — Nosso Modelo para o Ministério Por GEORGE O. WOOD Três elementos essenciais do modelo de Jesus para o ministério servem de exemplo de cuidado pastoral para nós. Jesus NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 3 4 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010 L ivros e seminários de lide- rança dominam a leitura pas- toral, e isso é bom. A máxi- ma de que uma organização ou igreja não cresce mais que seu líder é verdadeira. Mas liderança e ministé- rio são a mesma coisa? Creio que não. Ministério inclui muito mais. Quando procuro um exemplo ou protótipo para o ministério, primeiro olho para Jesus. Como era Seu ministé- rio? Que tipo de ministro era Ele? Se Ele é o Supremo Pastor e eu, um subal- terno, que tipo de pastor ou ministro devo ser? Se devo andar em Seus pas- sos, quais foram eles? Deixe-me extrair de Seu ministério um breve momento que encapsula a preocupação pastoral de Jesus. Não pre- tendo que esse perícope represente a verdade total sobre Jesus como nosso modelo para o ministério, mas encontro nele três pontos essenciais que nos ser- vem como exemplo. O caso que examinaremos é o da mulher com fluxo de sangue, relatado em Marcos 5:21-34. Tempo Toda pessoa engajada em ministério é ocupada. Todos os dias nossa agenda está cheia desde a manhã até à noite: oração, estudo, compromissos, telefone- mas, reuniões – e interrupções. À medida que a igreja que eu pastoreava crescia, descobri que pode- ria delegar cada vez mais. Isso permitiu que me tornasse mais focado em meus dons e áreas de interesse. Gastava a mai- or parte do tempo administrando minha própria agenda. Minha lista de tarefas estava sempre cheia e o calendário re- pleto. Eu permitia algumas interrup- ções de grandes emergências e de pes- soas que realmente precisavam falar co- migo, mas, caso contrário, era dono do meu próprio tempo. Esse exemplo é um bom sinal de liderança eficiente e eficaz – delegar responsabilidade e autoridade, e se con- centrar nos pontos fortes. É o exemplo de Êxodo 18 quando Jetro disse a Moisés que bons líderes não tentam fa- zer tudo, ou a instrução de Efésios 4:11, 12 de que liderança ministerial implica em ser o treinador de uma equipe em vez de ser a estrela. Deixei o pastorado e fui para lide- rança distrital como superintendente ad- junto. Das cerca de 30 pessoas que fazi- am parte de minha equipe de suporte da igreja, agora eram apenas eu e meu secretário. Trouxe meu modelo pasto- ral para essa nova função e chegava em meu escritório todos os dias com minha lista de coisas para fazer. Mas o telefone tocava continuamente. Muitas pessoas me procuravam. Fiquei frustrado. Eles estavam to- 4 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010 NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 5 mando o tempo da minha agenda. Não conseguia terminar as coisas que havia estabelecido. Comecei a me aborrecer com as interrupções. O que mudou a minha vida foi um devocional dado por um amigo, T. Ray Rachels (superint. distrital). Ele fala que o ministério de Jesus fluía das interrup- ções. Isso chamou minha atenção. Nenhum dos milagres de Jesus es- tava na lista de coisas para fazer. Ele não se levantava pela manhã e dizia: “Bom, hoje preciso curar 10 leprosos, 2 cegos, curar um paralítico e libertar várias pes- soas possessas.” O mesmo era verdadeiro quanto aos Seus ensina- mentos. Sim, Ele fez um discurso siste- mático no Sermão do Monte, nas parábo- las do Reino e no ser- mão do Monte das Oliveiras (Mt 5-7, 13, 24, 25), porém obser- ve uma amostra do que ensinou como resultado das respostas às interrupções. Um expert da Lei O testou quando dis- se: “Quem é o meu próximo?” e assim re- cebemos a parábola do Bom Samaritano (Lc 10). Os fariseus e os mestres da Lei murmuraram contra Ele quando aco- lheu os pecadores e Ele respondeu com estórias da Ovelha Perdida, da Moeda Perdida e do Filho Pródigo (Lc 15). Teríamos perdido o discipulado de Mateus e de Zaqueu se Jesus não tives- se interrompido Seus compromissos. Não teríamos o ensinamento sobre o novo nascimento se Jesus não tivesse passado algum tempo com Nicodemos (Jo 3), ou então o ensinamento sobre adoração se tivesse ignorado a mulher samaritana (Jo 4).O melhor exemplo de Jesus tirando um momento e respondendo às inter- rupções veio quando a mulher com flu- xo de sangue abordou-O a caminho da casa de Jairo. Marcos observa que a filha de Jairo tinha 12 anos e a mulher sofria, ha 12 anos, de uma hemorragia. O pedido de Jairo foi uma interrup- ção na agenda de Jesus. O Senhor che- gou do outro lado do lago e uma grande multidão veio recepcioná-lO. Lideran- ça exige que demos prioridade à multi- dão, mas o ministério ordena prioridade ao necessitado. Então Jesus afastou-se da multidão e acompanhou Jairo. No caminho houve uma interrupção à interrupção. A mulher passou pela multidão e tocou na barra de Suas ves- tes. Ele poderia ter continuado, mas não o fez. Por quê? Porque ministério se faz com pesso- as – uma de cada vez. A missão de Jesus incluía momentos não planejados quan- do respondia às necessidades dos indi- víduos. Um homem idoso caminhava pela praia logo de manhã recolhendo estre- las do mar e as jogava novamente no oceano. Ele sabia que, se não fossem devolvidas à água, o sol as secaria e mor- reriam. Um jovem passou e disse: “Ei, se- nhor! O que está fazendo? Existem mi- lhões de estrelas do mar na praia. O que você está fazendo não faz a mínima di- ferença.” O homem respondeu, en- quanto jogava na água mais uma estrela do mar: “Faz diferença para esta aqui.” Um amigo missionário me contou que estava sentado no escritório de Jim Cymbala em um domingo de manhã antes do Natal. Pastor da Igreja Brooklyn Tabernacle, Jim ministra para milhares de pessoas em múltiplos cultos todo domingo. Entre um culto e outro uma jovem mãe negra com seus quatro fi- lhos entrou no escritório de Jim. Estava sem dinheiro e chorava porque seus fi- lhos não teriam nada de Natal. Jim dis- se: “Carol e eu iremos ao seu apartamen- to na noite de Natal e levaremos um peru para o jantar. Jantaremos com vocês e haverá presentes para seus filhos.” Meu amigo missionário disse que chorou enquanto observava a conversa. Imagine que o pastor de uma das maio- res igrejas dos EUA teria tempo para al- guém que não poderia fazer nada por ele! A liderança diz: “Passe tempo com pessoas influentes, pois elas podem dar- lhe algo em troca”. O ministério diz: “Aju- de pessoas que não podem fazer nada por você”. Jesus doou Seu tempo para outras pessoas. Por que é importante notarmos algo tão óbvio? Porque, às vezes, ficamos tão ocupados no ministério que esquece- mos que o ministério se faz com pes- soas. Você não está no ministério para construir prédios para a igreja (mesmo que isso seja necessário), ou para ocu- par uma posição, ou para se consumir com assuntos ou causas que te afastam de sua responsabilidade mais importan- te que é ministrar às pessoas. Recebo longas cartas de pessoas que passam o tempo tentando endirei- tar procedimentos ou opinião de outras pessoas. Uma pessoa regularmente me envia 24 páginas datilografadas em es- paço simples, argumentando porque a versão da Bíblia que usa é a única inspi- rada. Quando leio essas críticas severas me pergunto o que aconteceria se esses santos saíssem de seus computadores, ou deixassem a caneta de lado, e fos- O melhor exemplo de Jesus tirandoum momento e respondendo às interrupções veio quando a mulher com fluxo de sangue abordou-O a caminho da casa de Jairo. Jesus: Nosso Exemplo para o Ministério 6 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010 sem ganhar almas para o Senhor Jesus. Toque Jesus permitiu que as pessoas chegas- sem até Ele. Sejamos sinceros: nossos modelos de ministério são os conside- rados ministérios de sucesso. Existe uma tendência recente de pastores importan- tes contratarem guarda-costas. O minis- tro entra no culto na hora da sua partici- pação e deixa a igreja pela porta lateral quando termina. Jesus passou tempo com o indi- víduo. Seu ministério exigiu algo dele. O texto diz: “Jesus, reconhecendo imedia- tamente que dele saíra poder.” (Mc 5:30). William Barclay explica: “Essa passa- gem nos diz algo sobre Jesus; fala sobre o custo da cura. Toda vez que Jesus curou al- guém, algo foi exigido dEle. Aqui está uma re- gra universal da vida: nunca produziremos nada de grande a não ser que estejamos pre- parados para investir algo de nossa vida ou de nossa própria alma... Nenhum pregador que já tenha pregado um verdadeiro sermão des- ceu do púlpito sem um sentimento de que foi esvaziado de algo. Se pretendermos ajudar as pessoas, devemos estar prontos para gas- tar um pouco de nós mesmos. ... A grandeza de Jesus foi que Ele estava preparado para pagar o preço para ajudar aos outros e esse preço foi sua própria vida. Só seguimos em seus passos quando estamos preparados a empregar não apenas de nossas posses, mas de nossa alma e nossa força.” Uma criança da igreja que eu pas- toreava perdeu a mãe. Sua adolescên- cia foi turbulenta e eventualmente ele cometeu um crime que resultou em sua prisão por 17 anos. Esse homem conhe- ceu a Jesus e agora é uma testemunha fiel na prisão. Escrevi para o pastor na cidade onde a prisão está localizada pe- dindo que fosse lhe fazer uma visita. Ele nunca foi. A tia da minha esposa sofreu um AVC. Por causa de sua saúde já não ia à igreja há alguns anos. (Quantas pessoas são esquecidas porque não podem mais contribuir?) Sua família contatou um pastor e perguntou se ele poderia lhe fazer uma visita. Ele nunca foi. Final- mente, a família encontrou um pastor presbiteriano que o fez. Um amigo me disse que seu irmão foi à igreja em um domingo quando sua família veio visitá-lo. O irmão já era ido- so, mas naquele dia entregou sua vida ao Senhor. Meu amigo, também pas- tor, ligou para o pastor daquela igreja e perguntou se ele poderia fazer o discipulado do novo convertido. Nada aconteceu. O pastor disse que estava muito ocupado, quando meu amigo conversou com ele. Descobri que aquela igreja possuía 50 membros. Quantas vezes os pastores deixam de ligar para pessoas que precisam de ajuda, não respondem cartas ou e-mails, e não retornam os telefonemas? Que o Espírito nos mova contra a letargia e a indiferença. Devemos estar dispostos a tocar na vida das pessoas, por Jesus e em nome dEle. Transformação Adoro o título que William Barclay deu a esta passagem sobre a mulher com o fluxo de sangue. Chamou-a de “A Últi- ma Esperança de uma Sofredora.” Certa- mente, Jesus era a última esperança pa- ra essa mulher, assim como para a filha de Jairo. Note o humor sutil no relato da mu- lher passando pela multidão para tocar a barra das vestes de Jesus. De acordo com a lei de Moisés, essa mulher era considerada impura pelo flu- xo de sangue (Lv 15). Na maioria das vezes no AT, quando uma pessoa con- taminada tocasse em algo, significava que transferia a contaminação para aquilo que era puro ou inocente. Por exemplo, um leproso que tocasse um não leproso tornava a pessoa saudável impura. Uma pessoa ritualmente pura não poderia tocar em mulher após o parto, nem em algum gentio, nem mesmo em um vaso que tivesse sido tocado por um gentio, em certos animais ou em cadá- ver. Um indivíduo que tenha sido con- taminado pelo toque de alguma coisa ou alguém impuro teria que passar por Jesus: Nosso Exemplo para o Ministério 6 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010 NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 7 Devemos estar dispostos a tocar na vidadas pessoas, por Jesus e em nome dEle. GEORGE O. WOOD Doutor em Teologia Prática Presidente da Convenção Geral das Assembleias de Deus dos EUA. Springfield, Missouri (EUA) um procedimento longo e detalhado de purificação. Jesus ficou contaminado no mesmo instante em que a mulher com o fluxo de sangue tocou Suas vestes e também contaminou a Si mesmo quando tocou a mão da menina morta (Mc 5:41). Evidentemente, a mulher pensou que poderia tocar nas vestes de Jesus, ser curada e então misturar-se à multi- dão sem ser notada. No entanto, Jesus parou e perguntou: “Quem me tocou nas vestes?”(Mc 5:30). Os discípulos acharam a pergunta ab- surda, pois muitas pessoas empurravam- se ao Seu redor. Mas a mulher sabia o que tinha acontecido e por esta razão o texto diz que “atemorizada e tremendo, cônscia do que nela se operara, veio, pros- trou-se diante dele e declarou-lhe toda a verdade.” (Mc 5:33). Por que estaria atemorizada? Ela sa- bia que havia ritualmente contaminado um homem santo. Se Jesus fosse um fariseu, Ele a teria insultado: “Como ou- sas me tocar? Você me contaminou. Saia de perto de mim!” Sob a Lei, se o impuro tocasse o puro, então o puro se tornava impuro. Mas com Jesus, se o contaminado tocasse o puro, então o puro descontaminaria o contaminado. Existe uma força inversa entre a Lei o serão. Se formos confiantes que o Se- nhor pode e realmente liberta das dro- gas, do álcool e outros tipos de depen- dências, então elas serão libertas de to- das essas doenças da alma e do espírito. Se orarmos pelos doentes com fé, os do- entes serão então curados. Se desper- tarmos o dom do Espírito que está em nós, pessoas serão então batizadas no Es- pírito e permanecerão fervorosas no Se- nhor. Se demonstrarmos e ensinarmos o discipulado, mais pessoas se tornarão discípulos de Jesus. Se testemunharmos aos perdidos, nossas ovelhas também o farão. Se tivermos uma mente missio- nária, nosso povo também a terá. Você não pode dar aos outros aquilo que não possui, mas aquilo que tem. Quando meu filho se tornou pastor, eu lhe disse: “Pastorear não é como ci- ência quântica (mas também não é fá- cil). As duas coisas mais importantes são: ame a Jesus e ame as pessoas.” Amamos as pessoas quando passa- mos algum tempo com elas, individual- mente. O Senhor nos usa para tocar a vida das pessoas e para sermos agentes que trazem transformação pelo poder do Espírito Santo. Com certeza, nunca devemos parar de aprender tudo o que podemos sobre liderança eficaz, mas não nos esqueça- mos de que liderança é apenas um as- pecto do ministério. Nosso modelo de ministério deve sempre ser Jesus. Ele passa tempo com as pessoas. Ele toca em suas vidas. Ele transforma. e o Evangelho. Em vez da impureza da mulher ter contaminado Jesus, a santi- dade dEle a purificou. Jesus faz o mes- mo com nosso pecado: nos torna justos em vez de nós o tornarmos pecador. O ministério traz transformação. Tra- zemos as boas novas de que Jesus é o Salvador, que batiza com o Espírito San- to e nos cura. Jesus nos disse para impor as mãos sobre os doentes. Este é um sinal físico da saúde que nEle se encon- tra, passando para o doente, fazendo com que entre a saúde em vez de reinar a morte. Pastores que têm o maior efeito nas pessoas transmitem a vida de Jesus no poder do Espírito Santo através de seus exemplos e ensinamentos. Vários anos atrás, eu reclamava ao Se- nhor que, quando impunha as mãos nas pessoas em uma fila de oração, elas não caíam. Ah, de vez em quando, até acon- tecia, mas era raro. Senti que o Senhor me disse: “George, é muito mais fácil cair do que ficar de pé. Você está aju- dando pessoas a ficarem de pé, portan- to, não pense que precisa imitar outros com os quais trabalho de maneira dife- rente.” Nossa tarefa é realizar uma longa transferência de nosso próprio caminhar com Deus na vida das pessoas para quem ministramos. Se amarmos a Je- sus, provavelmente irão também amá- lo. Se demonstrarmos uma atitude cor- reta, também a mostrarão. Se formos cheios do Espírito Santo, elas também Jesus: Nosso Exemplo para o Ministério 8 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010 O Aconselhamento Cristão CRISTOCÊNTRICO Qualquer esforço sério para fazer com que o aconselhamento seja verdadeiramente cristão envolverá um olhar cuidadoso na maneira como Cristo desempenhou Seu ministério de aconselhamento. O Papel do Espírito Santo no Aconselhamento Pastoral Por RICHARD D. DOBBINS 8 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010 NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 9 N os dias de hoje, poderí- amos descrever mais precisamente o que se passa sob a rubrica de aconselhamento cristão como um aconselhamento feito por psicólogos cristãos e conselheiros profissional- mente treinados. Geralmente são pro- fissionais bem formados com excelen- tes técnicas de aconselhamento e ex- periência muito rica. Frequentemente aconselham em igrejas ou em lugares relacionados a elas. É assim, infelizmen- te, que algumas pessoas definem o aconselhamento cristão. Em muitos casos, porém, existe um hiato enorme entre a fé cristã e a prática do aconselhamento. Podem ser cristãos devotos e excelentes conselheiros, mas há pouco em seu aconselhamento que seja caracterizado como cristão, pois se- pararam seu aconselhamento de sua fé pessoal. O que está faltando nesses ca- sos é a integração í ntima desses dois aspectos em suas práticas. Como Obter a Integração de Fé e Aconselhamento? Primeiramente, para fazer com que o aconselhamento seja verdadeiramente cristão devemos unir nossa fé e nosso aconselhamento em nossas mentes. Isso começa com o reconhecimento de que Cristo é o único grande Conselheiro. Ele se torna nosso modelo. Não apenas o fazemos Senhor de nossas vidas, mas também Senhor de nossa formação clí- nica e da nossa prática em aconselha- mento. Olhamos para Ele como nosso supervisor clínico que supervisiona tudo o que ouvimos e dizemos no consultó- rio ou escritório. Independentemente da orientação teórica de nosso treinamento (dinâmi- ca, cognitiva, comportamental, objeto terapia, eclética, etc.) precisamos colo- car tudo o que aprendemos sobre acon- selhamento a partir de nossos estudos, treinamento e experiência, nas mãos de Cristo. Em seguida, podemos confiar nele para nos ajudar a aplicar nossas ha- bilidades, da forma como Ele deseja, enquanto ministramos aos que procu- ram nossa ajuda. Em cada sessão devemos fazer um esforço consciente para vermos as pes- soas através dos olhos do Senhor e entendê-las através do coração e da mente dEle. Isso nos ajudará a melhor servir a Deus e às pessoas. Quando assumimos esta postura es- piritual, Cristo nos capacita a sermos um canal eficaz que liga o coração e a men- te da pessoa aconselhada com o coração e a mente de Deus. Quando somos bem sucedidos nesta tarefa, os recursos ili- mitados de Sua sabedoria, poder e gra- ça incrementam sobrenaturalmente nosso treinamento e experiência no pro- cesso de aconselhamento, levando-o a outro patamar. Num ambiente espiri- tualmente enriquecido, o poder de Deus desfaz a escravidão dos aconse- lhados, cura suas mágoas e providencia a orientação que precisam para resolver outras dificuldades na vida. Sem um esforço consciente de nos- sa parte para invocar esta dimensão di- vina no processo de aconselhamento, limitamos a ajuda que podemos ofere- cer aos aconselhados às habilidades pro- fissionais que tenham sido desenvolvi- das pelos nossos estudos, nosso treina- mento e nossa experiência. Como po- dem observar, Deus desafia cada um de nós a descobrir caminhos para consci- entemente reconhecermos o envolvi- mento de Cristo em nosso relaciona- mento com as pessoas aconselhadas. No meu trabalho de aconselha- mento, lembro-me, no início de cada sessão, de que Cristo está ali comigo e com a pessoa que irei aconselhar. Ele conhece as pessoas da maneira que pre- ciso conhecê-las. Sabe como motivá-las a usar sua dor como o caminho de pe- dras que poderá conduzi-las de onde estão para onde Deus sabe que pode- rão estar. Em cada sessão procuro me consci- entizar da minha necessidade da cons- ciência espiritual que permitirá que o Senhor compartilhe informações comi- go. Esse é o meu objetivo. Também ter- mino toda sessão orando e pedindo para que Deus me ajude a servir a pessoa, ou o casal, da maneira que Ele quer que Num ambiente espiritualmenteenriquecido, o poder de Deus desfaz a escravidão dos aconselhados, cura suas mágoas e providencia a orientação que precisam para resolver outrasdificuldades na vida. Tornando o Aconselhamento Cristão Cristocêntrico: O Papel do Espírito Santo no Aconselhamento Pastoral 10 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010 eu os sirva. Peço para que me ajude a ser para eles o que Ele quer que eu seja. Isso me mantém ciente das mi- nhas limitações e também me lembra que dependo do Senhor para dire- ção. Tal oração também centraliza a atenção da pessoa em Jesus como sua fonte primária de ajuda. Isso diminui a tendência da pessoa aconselhada de cri- ar uma dependência nociva de mim e a encoraja a construir uma dependên- cia saudável de Jesus. Qualquer esforço sério para fazer com que o aconselhamento seja ver- dadeiramente cristão também envol- verá um olhar cuidadoso na maneira como Cristo realizou seu ministério de aconselhamento. Como Foi que Cristo Abordou o Aconselhamento? Os Evangelhos indicam claramente que compaixão foi a característica do- minante do ministério de aconselha- mento de Cristo. Pelo menos quatorze vezes no NT os escritores usaram al- guma forma da palavra compaixão para descrever a interação de Cristo com as pessoas. O que é compaixão? É a capacida- de de se colocar, o máximo possível, no lugar de outra pessoa. Conselheiros compassivos são com- preensivos com as pessoas que acon- selham e sensíveis às suas necessida- des. Em sua mente, invertem os pa- péis com os aconselhados. Usam as in- formações que coletaram sobre eles e imaginam como deveria ser estar no lugar deles, naquela situação. A compaixão de Cristo é clara em seu diálogo com a mulher que estava junto ao poço (Jo 4) e a mulher pega em adultério (Jo 8). Jesus não concordou com os múlti- plos casamentos da primeira mulher e nem aprovou o relacionamento com o Tornando o Aconselhamento Cristão Cristocêntrico: O Papel do Espírito Santo no Aconselhamento Pastoral 10 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010 NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 11 homem com quem vivia. Também não aprovou o adultério da mulher em João 8. Contudo foi sensível e compreensi- vo em sua abordagem a essas mulhe- res. Jesus geralmente condenava a jus- tiça própria dos fariseus. Estes não es- tavam entre suas pessoas favoritas. Po- rém, quando Nicodemos solicitou sua ajuda (Jo 3), Jesus tratou-o com com- paixão, mesmo sendo Nicodemos um fariseu. Outra característica proeminente do aconselhamento de Cristo é o que cha- mo de confronto amoroso. Por exem- plo, mesmo que os múltiplos casamen- tos e o relacionamento atual da mulher fossem assuntos delicados, Jesus con- frontou-a, pedindo-lhe que chamasse seu marido. Reconheceu também o estado pe- caminoso da mulher pega em adulté- rio, ordenando que fosse e que não pe- casse mais. Jesus lembrou Nicodemos da diferença entre o nascimento natu- ral e o espiritual, confrontando-o com o fato da necessidade de nascer de novo. Jesus sempre encontrou uma ma- neira de confrontar amorosamente as pessoas com a verdade. Nunca foi rude ou insensível com aqueles que eram honestos o bastante para confessar os pecados e admitir a necessidade de aju- da. Não permitia, no entanto, que evi- tassem os assuntos que os trouxeram a Ele. Tanto compaixão como confronto amoroso são necessários para ajudar as pessoas a encarar as circunstâncias e os relacionamentos difíceis da vida. Conselheiros cristãos precisam con- tinuamente pedir ao Senhor que am- plie essa graça na vida deles. Isso é de fundamental importância. Qual o Envolvimento do Espírito Santo no Aconselhamento? Em João 14:26 Jesus disse: "mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lem- brar de tudo o que vos tenho dito." O Espírito Santo é um professor. Não apenas trará à memória os ensinamentos de Cristo, como também coisas que precisamos lembrar sobre nossos aconselhados. O Espírito Santo pegará as coisas que aprendemos nas ciências sociais e nos ensinará a traduzi-las para termos uma percepção espiritual mais ampla. Mais especificamente, se tivermos ou- vidos para ouvir o que diz o Espírito, Ele nos ensinará como levar, a um pa- tamar mais alto, tudo que aprendemos sobre desenvolvimento humano, do- enças mentais, diagnósticos e técnicas de aconselhamento. Assim como o Espírito Santo age na mente do conselheiro, age também na mente do aconselhado. Em João 16:8 Jesus diz, "Quando ele vier, con- vencerá o mundo do pecado, da justi- ça e do juízo:" À medida que confron- tar compassivamente e amorosamen- te a pessoa com as circunstâncias que a fizeram procurar ajuda, você poderá contar com o Espírito Santo para criar níveis desconfortáveis de tensão den- tro da pessoa para que ela se motive a fazer as mudanças que Jesus quer que ela faça para encontrar a cura e liberta- ção que precisa. Ao mesmo tempo, você pode con- tar com o Espírito Santo para lhe dar força interior necessária para tolerar ní- veis crescentes de estresse criados pe- las tentativas conflitantes do aconselha- do para escapar de sua dor espiritual e emocional, mas ao mesmo tempo lidar com elas. Sem a capacidade de lidar com seus próprios níveis crescentes de ansiedade, a sua necessidade de con- forto pode levá-lo a evitar áreas na vida da pessoa aconselhada que precisem ser mais bem investigadas. Neste pon- to os limites de seu nível de conforto interferem no nível crescente de estresse necessário para provocar mu- danças na pessoa. Permitir que o Espí- rito Santo o ajude a desenvolver tole- rância aos níveis crescentes de tensão quando enfrentar momentos difíceis de aconselhamento, o tornará mais eficaz em acelerar as mudanças redentoras que Cristo quer trazer aos seus aconse- lhados. Lembre-se, até que a dor de per- manecer na mesma situação doa mais que a dor da mudança, as pessoas pre- ferirão permanecer como estão. Níveis intoleráveis de dor são essenciais para mover as pessoas de onde estão para onde Deus quer que estejam. Desen- volver um nível de tolerância maior para conflitos e estresse do que o do acon- Assim como o Espírito Santo agena mente do conselheiro, age também na mente do aconselhado. Tornando o Aconselhamento Cristão Cristocêntrico: O Papel do Espírito Santo no Aconselhamento Pastoral 12 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010 selhado lhe capacitará a ajudá-lo com compaixão através dos períodos difíceis da vida que o fizeram procurar ajuda. É bom saber que, durante momentos desconfortáveis do aconselhamento, as pessoas podem lidar mais facilmente com situações desagradáveis de certeza do que com as de incerteza. Um acon- selhamento bem sucedido conduz a pessoa da incerteza para a certeza. Dons Espirituais no Proces- so de Aconselhamento Os dons do Espírito Santo também são recursos valiosos para o conselheiro, par- ticularmente para aqueles que são pentecostais ou carismáticos. Em 1 Coríntios 12:7-12, o apóstolo Paulo de- fine três conjuntos de dons espirituais. Os dons da mente incluem a palavra da sabedoria, palavra da ciência e o dom de discernir espíritos. Três dos dons são verbais: variedade de línguas, interpre- tação de línguas e profecia. Finalmen- te, existem os dons de poder: fé, opera- ção de milagres e dons de curar. Todos estes enriquecem sobrenaturalmente o aconselhamento. Os capítulos 12-14 da primeira carta aos Coríntios tratam do uso ordenado desses dons na adoração pública e na vida privada do crente. Uma compre- ensão bíblica de como esses dons fun- cionam no relacionamento de aconse- lhamento pode nos capacitar a ser con- selheiros mais eficazes. Discernimento de Espíritos Os dons da mente podem aumentar grandemente o processo diagnóstico. Um clínico treinado desenvolve habili- dades em suas percepções visual, audi- tiva e tátil quando diagnostica os pro- blemas de uma pessoa. Quando o dom de discernimento de espíritos se torna parte deste processo, a capacidade diagnóstica é levada a um patamar su- perior. A abordagem secular ao aconselha-mento vê a atividade mental atual de uma pessoa como um desenvolvimen- to natural da interação entre sua história pessoal, as circunstâncias atuais da vida e os processos neuroquímicos do cére- bro. Não existe reconhecimento de ne- nhum impacto espiritual ou sobrenatu- ral neste processo. Apesar de os conselheiros cristãos reconhecerem o papel importante des- ses elementos naturais na atividade mental de uma pessoa, acreditamos que é principalmente o espírito da pessoa que dirige o processo mental. O ato de pensar é sempre uma guerra espiritual. Em 1 Coríntios 6:19 e 20, Paulo dei- xa claro que o propósito do corpo é ma- nifestar a presença de Deus na terra. Em Romanos capítulos 6 e 7, porém, Paulo reconhece o papel poderoso do pecado tentando fazer com que nosso corpo sirva ao mal. Em Romanos 6:16, ele declara o dilema humano: “Não sabeis que daquele a quem vos ofereceis como servos para obediência, desse mesmo a quem obedeceis sois servos, seja do pecado para a morte ou da obediência para a justiça?” Ao mesmo tempo em que vida eter- na estimula a mente a entreter desejos, fantasias e ideias que resultariam em expressão de vida divina, o pecado esti- mula a mente a entreter desejos, fanta- sias e ideias que resultariam em expres- são do mal. A vontade humana se en- contra no meio desta batalha. A vontade determina a expressão da mente ou do espírito à medida que es- colhas são transmitidas através do cére- bro para serem expressas no corpo. Ob- servando as atitudes e o comportamen- to expressados através do corpo de uma pessoa, pode-se determinar a influên- cia espiritual que está ganhando na ba- talha pela vontade dela. O dom de discernir espíritos é uma ferramenta valiosa para o conselheiro cristão para ajudar a entender o status atual da batalha espiritual do aconselha- do. O clínico não deixa de lado suas ha- bilidades neste processo; ao contrário, o Espírito Santo os amplia. Palavra de Conhecimento Clínicos excelentes se tornam experts em unir os pontos da história de uma pessoa para ter o retrato do presente dela, porém, uma palavra de conheci- mento, vinda do Espírito Santo, a res- O dom de discernir espíritos é umaferramenta valiosa para o conselheiro cristão para ajudar a entender o status atual da batalha espiritual do aconselhado. Tornando o Aconselhamento Cristão Cristocêntrico: O Papel do Espírito Santo no Aconselhamento Pastoral NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 13 peito da pessoa, amplia essas habilida- des. Tal palavra geralmente encontra seu caminho na mente do conselheiro sob a forma de palpite ou intuição. É por isso que o conselheiro precisa ter cuidado ao determinar como e quan- do introduz tal palavra à pessoa. O con- selheiro nunca deve impor essa palavra de conhecimento. Apresentá-la como sugestão dá ao aconselhado a oportuni- dade de aceitá-la ou rejeitá-la. Palavra de Sabedoria Qualquer um que aconselha outras pes- soas sabe que existem momentos críti- cos na terapia. Como conselheiro, ad- quire-se sabedoria natural para adminis- trar estas situações. O conselheiro cris- tão, contudo, não é limitado à sabedoria natural que vem da experiência. Tiago nos lembra que a sabedoria de Deus está disponível para aqueles que se humilham suficientemente para pedi-la. “Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser- lhe-á concedida.” (Tg 1:5). Entretanto, existe uma palavra es- pecial de sabedoria que o Espírito San- to pode nos dar nos momentos de aconselhamento, quando precisamos de sua direção. Ela altera o que normal- mente iríamos dizer ou fazer. Em retrospecto, reconhecemos facilmente sua origem divina pelo impacto de cura que sua implementação tem na pessoa aconselhada. Línguas, Interpretação e Profecia Esses dons verbais colocam à disposi- ção do conselheiro um nível de fluência além de sua habilidade natural. Isso é RICHARD D. DOBBINS, Ph.D. Fundador do EMERGE e atualmente diretor do Richard D. Dobbins Institute of Ministry, em Naples, Flórida (EUA), fundado por ele em 2007. Visite seu website: www.drdobbins.com especialmente útil para disciplinar e di- rigir o diálogo entre o conselheiro e o aconselhado. O dom de falar em línguas em parti- cular também proporciona ao conselhei- ro pentecostal ou carismático um meio maravilhoso para se analisar após cada sessão. Durante este tempo ele pode li- berar ao Senhor a tensão e o estresse de sessões anteriores que seriam difíceis de articular. Pode também usar esse dom pessoal para interceder por seus acon- selhados segundo a vontade de Deus (Rm 8:26,27). Fé, Operação de Milagres e Dons de Cura Segundo Hebreus 11:1, “...a fé é a certe- za de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem.” Para que os conse- lheiros sejam eficazes, é necessário que sejam pessoas de fé. Até mesmo conse- lheiros seculares precisam ser capazes de inspirar esperança nas pessoas. Note o relacionamento entre fé e esperança. A fé vem da esperança. Uma das prioridades no início do processo de aconselhamento é estimular a esperan- ça nas pessoas. Esperança inspirada pelo Espírito Santo pode fazer nascer o dom de fé que permite tanto ao conselheiro quanto ao aconselhado acreditarem que a recuperação esperada se tornará reali- dade. Em raras ocasiões existe um resulta- do inesperado divino que vai além da fé e esperança – o milagre. Lembro-me de ter recebido, alguns anos atrás, uma família missionária das Ilhas Salomão. Certo dia, já bem tarde da noite, quatro cidadãos bêbados invadiram a casa e aterrorizaram a família, de todas as ma- neiras imagináveis, até ao amanhecer. Em três dias já estavam no Emerge. O que não sabiam é que, um ano antes desta tragédia, Deus havia trazido uma psiquiatra pediátrica cristã da Albânia comunista para estar naquele local, na- quela hora, para ajudar os filhos daque- le casal. O governo comunista não só ha- via pago as despesas de viagem da fa- mília dessa psiquiatra, como também os custos com seu treinamento cristão. Os filhos daqueles missionários responde- ram bem à terapia. Hoje ambos servem ao Senhor. Coisas como esta não acontecem fre- quentemente. Por isso as chamamos de milagres. Além disso, o Espírito Santo distri- bui dons de cura para nossos aconselha- dos. Embora tenhamos, como conse- lheiros cristãos, uma parte no processo de trazer cura às pessoas, devemos re- conhecer que o dom da cura concedida aos nossos aconselhados vem do Espí- rito Santo – e não de nós. O aconselhamento cristocêntrico re- quer mais que cristãos devotos bem trei- nados nos campos de aconselhamento profissional. É a infusão da presença de Cristo e do Espírito Santo no processo de aconselhamento que faz um aconse- lhamento cristocêntrico. Tornando o Aconselhamento Cristão Cristocêntrico: O Papel do Espírito Santo no Aconselhamento Pastoral 14 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 201014 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010 NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 15 O fato de que os pastores gas- tam um bom tempo acon- selhando é comprovado. Apesar de um número cres- cente de sistemas de saúde mental (psi- cólogos cristãos, conselheiros, especia- listas em relações humanas, personnal coach", etc.), a maioria das pessoas ainda vêem em seu pastor a primeira opção para um aconselhamento e cuidado da alma. A razão para isso é fácil de se en- tender. O acesso natural dos pastores à vida das pessoas através das pregações, nascimento de filhos, desenvolvimen- to infantil, adolescência, formatura, noi- vado, casamento, novo casamento, cri- ses, cerimônias, visitas hospitalares, morte e serviços fúnebres fazem do pas- tor a primeira opção óbvia em tempos difíceis. O pastor está em posição única para oferecer cuidados abrangentes da alma porque ele está atento semanalmente (senão diariamente) ao membro. Dife- rentemente da maioria dos terapeutas, o pastor alimentao rebanho com comi- da espiritual e cuida para que o mesmo esteja protegido das astutas ameaças espirituais. De diversas maneiras o pastor-pro- fessor cuida do rebanho a longo prazo, geralmente do seu nascimento à morte. Como fundador do ministério EMER- GE, o Dr. Richard D. Dobbins afirma: “O pastor está em uma posição única para influenciar a horrível imagem negativa que uma pessoa tem de Deus, as ideias distorcidas, os hábitos destrutivos e lembranças dolorosas do passado”. De um modo geral as pessoas confi- am a seus pastores o cuidado de suas almas. Os problemas apresentados ao pastor não são diferentes dos apresen- tados a um conselheiro profissional. Pre- paração pré-nupcial, problemas matri- moniais, relacionamento pai e filho, an- siedade, culpa, depressão, vocação, pro- blemas sexuais, vícios (incluindo porno- grafia) e questões de fé estão no topo da lista das principais preocupações. Enquanto que igrejas maiores têm mais pastores preparados e disponíveis para prestar este tipo de serviço, em sua maioria, o pastor típico da Assembleia de Deus oferece aconselhamento den- tre suas muitas responsabilidades. Mas como o pastor fornece conselhos cris- tãos eficazes? O Que É Aconselhamento Cristão Competente? Não demora muito para as pessoas des- cobrirem que após a sua conversão elas continuam lutando contra os maus há- bitos de antes da conversão. Infelizmen- te, problemas pós-conversão geralmen- te levam os fiéis a duvidarem da sua sal- vação. Um cristão ainda carrega influênci- as de seu histórico familiar, experiênci- as de família e uma vida de escolhas. Muito de sua história está enraizada na estrutura de seus hábitos. Todos têm, afinal de contas, uma história que inclui o bem, o mau e o feio. Tragédias e depressão são situações que levam os membros da igreja a questio- narem o amor e o cuidado de Deus. Com frequência procuram o pastor em busca de reafirmação, resgate e recupe- ração. O aconselhamento cristão compe- tente exige que passemos além do sim- ples gerenciamento de pecados ou mu- dança de comportamento. O aconselha- mento cristão competente deve ofere- cer uma direção e meios para que se ini- cie um programa de desenvolvimento Competente O Conselheiro Cristão Quais são as competências e qualidades essenciais de um conselheiro pastoral eficaz? Por DONALD A. LICHI 16 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010 espiritual intencional e consciente onde o amor de Cristo venha antes de qual- quer coisa. O efeito será o tipo de for- mação espiritual no aconselhado ao lon- go do tempo onde se desenvolve cará- ter, mente e hábitos santos com- patíveis com a vida de Cristo. Em suma, Deus abençoou a igreja com diversos minis- térios (apóstolos, profetas, evangelistas e pastores-mestres) com o propósito de completar e aperfeiçoar os santos, para o trabalho do ministério. Concordo com o Dr. Gary Collins, pioneiro e líder na área de saúde men- tal cristã, que oferece a seguinte defini- ção de aconselhamento cristão: “A tenta- tiva de definir ou descrever o aconselhamento cristão tende a enfatizar a pessoa que acon- selha, as técnicas ou habilidades que são pra- ticadas e as metas a serem alcançadas com o aconselhamento. A partir dessa perspectiva o conselheiro cristão é: • Um servo de Jesus Cristo profunda- mente comprometido, guiado pelo e cheio do Espírito Santo. • Aquele que usa seus dons, habilida- des, treinamento, conhecimento e ideias da- dos por Deus. • Aquele que ajuda os outros a alcan- çarem inteireza pessoal, competência nos re- lacionamentos interpessoais, estabilidade mental e maturidade espiritual.” Gerard Egan afirma: “Conselheiros são eficazes na medida em que seus clientes, atra- vés da interação conselheiro-cliente, estão em melhor condição de gerenciar suas situações problemáticas e/ou desenvolver suas ferra- mentas e oportunidades ociosas de maneira mais eficaz.” O aconselhamento cristão compe- tente auxilia no diagnostico de proble- mas, determinando expectativas, defi- nindo pontos fortes e desenvolvendo es- tratégias de tratamento que permitem o aconselhado a melhor atingir seu po- tencial no Reino. Abordaremos esses as- pectos mais detalhadamente abaixo. O Propósito do Aconselhamento Cristão Para que propósito Deus presenteou a igreja com o pastor (do qual aconselhar é uma função principal)? A resposta está em Efésios 4:12 onde encontramos a fra- se “... para o aperfeiçoamento dos santos.” Aqui é usado o termo katartismon que não é encontrado em nenhum outro lu- gar do NT, apesar de verbos similares serem encontrados em outros versos (Mt 4:21, “consertando alguma coisa”; Hebreus 11:3, “trazendo o universo no iní- cio à sua forma e ordem desejada.”; e Gálatas 6:1, “restaurar a vida espiritual de uma pessoa que caiu”). Lembre-se que, a missão evange- lística da igreja á apresentar Cristo aos perdidos enquanto a que missão pasto- ral (a qual inclui o aconselhamento) aju- da os crentes a alcançar o seu potencial no Reino. A boa nova é que Cristo pode salvar o pecador e transformá-lo a ima- gem de Cristo. O Espírito de Deus tra- balha para transformar a pessoa por in- teiro. Ele cura o corpo, a mente, as emo- ções, os relacionamentos e a nossa ca- minhada com Jesus Cristo. Encorajar o aconselhado a colocar sua confiança em Cristo é um privilegio maravilhoso e res- ponsabilidade do pastor. Idealmente, a pessoa que procura ajuda pastoral amadurece e adquire uma condição de aptidão para o exercício das suas funções no Corpo de Cristo. Em outras palavras, a cura de uma pessoa nunca favorece somente a ele. Mais do que isso, Deus traz cura para a vida de uma pessoa para o bem de outros tam- bém. O Planejamento e o Processo do Aconselhamento Cristão Competente Para muitos pastores, a ideia de aconse- lhar tem um certo glamour. Afinal de contas, as pessoas procuram sua sabe- doria e direção para as complexas ques- tões da vida. No livro BUILDING YOUR CHURCH THROUGH COUNSEL AND CARE (CONSTRUINDO SUA IGREJA ATRAVÉS DE ACONSELHAMENTO E CUIDADO), Randy Alcorn escreve que, “Para quem vê de lon- ge, aconselhar é muito bonito – parece miste- rioso, estimulante e desafiador. Mas de perto se vê as imperfeições.” Sendo o aconse- lhamento difícil, cansativo e algumas vezes frustrante, é fácil perder o senso de glamour. ... Eu considerava o aconselhamento como apenas uma das fases do ministério pastoral. Agora eu sei que isso pode facilmente sobrepor não O Espírito de Deus trabalha para transformar a pessoa por inteiro. O Conselheiro Cristão Competente NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 17 somente seu ministério como também sua vida inteira. É como o camelo pro- verbial que enfia o nariz na tenda e, uma vez dado esta liberdade, continua enfi- ando os ombros e as patas dianteiras, empurrando até que não haja mais es- paço na tenda. Eu aconselho pastores a não gastar mais do que 4 a 6 horas por semana em sua tarefa de aconselhamento. Também sugiro que limitem a duração de acon- selhamento individual para 3 a 5 ses- sões. Se o problema não estiver basica- mente resolvido neste período, pode ser a hora de encaminhar. Não subestime os efeitos de seus ser- mões no aconselhado para tratar de suas dúvidas corriqueiras. Lembre-se, acon- selhamento individual pode consumir o seu tempo. O aconselhamento é so- mente uma dentre várias responsabili- dades que você tem. Para manter as expectativas realis- tas, escreva um documento com alguns princípios básicos que você usará no aconselhamento. Uma vez explicadas as expectativas, o pastor deve estruturar a relação do aconselhamento. Aqui está uma breve amostra da estrutura que eu costumo utilizar no inicio de uma relação de aconselhamento: O processo de aconselhamento con- siste em três partes: a sua parte, a minha parte e as coisas nas quais iremos traba- lhar juntos. • A sua parte é discutir aberta e honestamente as suas preocupações. • A minha parte é ouvir e tentarentender. É por isso que faço pergun- tas e anotações durante a sessão de aconselhamento. • A terceira parte é uma respon- sabilidade compartilhada e inclui sigilo, tomada de decisão e aprendizado. Sigi- lo significa que eu não irei compartilha- rei com outras pessoas as coisas que con- versamos na terapia. (Nota: as exceções a esta regra incluem: risco de suicídio, homicídio e abuso ou maus tratos infan- tis.) Trabalharemos diligentemente jun- tos para tomar decisões, mas a respon- sabilidade pelas decisões é sua. Final- mente, é meu desejo que você aprenda uma série de coisas nas sessões de aconselhamento que poderá aplicar em outras áreas de sua vida. Após estabelecer a estrutura, uma boa maneira de iniciar o processo de aconselhamento é perguntar: “Porque você está aqui?”; “Como posso serví- lo?”; “O que lhe trouxe aqui?” Eu per- mito o aconselhado a dar uma breve ex- plicação de suas preocupações. Em se- guida, uso uma abordagem focada na solução e peço ao aconselhado para ima- ginar qual seria o resultado se ele pu- desse solucionar o problema. Curiosa- mente, as pessoas geralmente não pen- sam em soluções ou situações preferi- das quando focam somente seu proble- ma. Em seguida vem o planejamento das metas. Eu oriento o aconselhado a de- senvolver metas claras e gerenciáveis que levem a solução do problema e to- mada de decisão. Juntamente com o es- tabelecimento das metas, trabalho com o aconselhado para restaurar intencio- nalmente uma saúde equilibrada do corpo, mente, emoções, relacionamen- tos e especialmente em sua caminhada pessoal com Jesus Cristo. Portanto, é comum que no início de cada sessão subsequente eu faça perguntas sobre estas cinco dimensões: física (alimenta- ção, sono, exercício e descanso), inte- lectual (pensamentos, anotações em for- ma de diário, obsessões, leitura), emo- cional (humor, energia), social (relacio- namentos mais importantes, vida no tra- balho, vida em casa e amizades) e espi- ritual (vida devocional, oração, leitura O Conselheiro Cristão Competente NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 17 18 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010 bíblica, disciplinas espirituais). Tam- bém trabalho com o aconselhado para desenvolver metas mensuráveis em cada um desses cinco aspectos. Lembre o aconselhado que a força de vontade é uma parte essencial do aconselhamento, mas é insuficiente para lidar com hábitos de pecado que estão enraizados. A vontade humana nunca pode suprir o que a graça de Deus pode. Viver e andar nos caminhos de Deus, da graça disciplinada, produz em nós uma disposição a agir e fazer a Sua von- tade (Fp 2:13). Ao final de cada sessão, dê uma li- ção para casa. Isso demonstra que você espera que ele assu- ma responsabilidade no processo de acon- selhamento. A lição de casa é um voto de confiança de que ele pode fazer mudanças saudáveis em sua vida com a ajuda de Deus. Saúde equilibrada, ao longo do tem- po, reverte muitas das consequências dos hábitos não saudáveis e constrói uma estrutura de hábitos bíblicos na vida do aconselhado. A sessão de aconselhamento termi- na com uma oração que pede ao Espíri- to Santo de Deus que lembre, auxilie, conforte, convença e desafie o aconse- lhado. A oração também proporciona a oportunidade de resumir os pontos im- portantes da sessão de aconselhamento. A Dor do Aconselhamento Cristão Competente O aconselhamento cristão competente é arriscado. Algumas vezes é doloroso. O desapontamento principal que os pas- tores enfrentam é quando as pessoas começam a fazer algum progresso e de- pois começam a falhar, voltam atrás ou simplesmente rejeitam o trabalho que foi feito. O apóstolo Paulo sentiu algo similar após dedicar sua vida e coração às igre- jas dos Gálatas e descobrir que eles ha- viam rejeitado a verdade simples da sal- vação pela fé em Cristo Jesus. Ele so- freu ao testemunhar membros da igreja retroceder e voltar para os “rudimentos fracos e pobres.” de suas vidas passadas (Gl 4:8,9). Ele comparou sua dor com “dores de parto até Cristo ser formado em você.” (Gl 4:19). Talvez você tenha sen- tido o mesmo, tendo doado seu coração no aconselhamento de alguém em sua congregação e em seguida vê-lo rejeitar a sabedoria divina e retroceder a sua for- ma de vida antiga. Descanse, certo da verdade da palavra de Deus e de Seus caminhos. Continue encorajando, rogando, avi- sando, admoestando e expondo ao acon- selhado as previsíveis consequências de suas escolhas. Deixe-o avisado de que se continu- ar alimentando o “velho eu”, isso o le- vará a uma quebra de relacionamento com Deus e terá outras consequências negativas (ver Gl 5:16ss). Por outro lado, se o aconselhado sabiamente se subme- ter a palavra de Deus e caminhar com o Espírito Santo, sua vida irá produzir o fruto do Espírito (Gl 5:22ss). Avaliando o Aconselhamento Cristão Competente Para avaliar um aconselhamento Cris- tão competente o pastor precisa verifi- DONALD A. LICHI, Ph.D. Psicólogo e vice-presidente do Emerge Ministries, Inc., em Akron, Ohio (EUA). car se o aconselhado alcançou os resul- tados esperados. É importante verificar o que você esperava. O que funcionou e o que não funcionou? O aconselhado progrediu na obtenção de seus objeti- vos? Você percebe os efeitos de uma vida transformada e o desenvolvimen- to de novos e bons hábitos? Você per- cebe o fruto do Espírito na vida do acon- selhado (Gl 5:16-26)? Você vê o acon- selhado tomando decisões que negam o antigo “eu” e reforçam o novo? Ele evita a imoralidade, o egocentrismo e os vícios? Ele desenvolve afeição pelos outros, prazer em viver e serenidade? Existe o desejo de perseverar nas as coi- sas de Deus? Existe compaixão em seu co- ração? Resumindo, o aconselhado ama as coisas que Deus ama e rejeita as coisas que Deus rejeita? Ele se entristece com as coisas que entristecem o Espírito Santo? Por causa da sua dependência no Santo Espírito, o pastor deve esperar progresso sobrenatural em situações di- fíceis no aconselhamento. O aconselhamento Cristão compe- tente depende do Espírito Santo para dar poder, conforto e discernimento. O pastor é um canal importante através do qual o Espírito Santo ministra efetiva- mente às antigas feridas do aconselha- do, provê capacitação para as lutas da vida atual e oferece esperança para um futuro glorioso. A vontade humana nunca pode suprir o que a graça de Deus pode. O Conselheiro Cristão Competente NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 19 D e todas as necessidades trazidas ao pastor, poucas são tão complexas e difíceis de li dar quanto aquelas de doenças e dores crônicas. Doença crônica e dor crônica (DC/DC) tem um impacto tremendo na qua- lidade de vida de um indivíduo. Só de saber que provavelmente terão que viver a vida toda (salvo um milagre de cura) lidando com a des- truição da doença ou da dor é um fardo enor- me de se carregar. Portanto, a cosmovisão da- queles com DC/DC, até mesmo a do crente cheio do Espírito Santo, é bastante diferente daquela de uma pessoa saudável. Aqueles com DC/DC pertencem a uma população sui- generis que os coloca à parte da maioria das outras pessoas. As duas pragas – DC/DC – existem em proporções epidêmicas nos Estados Unidos. De acordo com os Centers for Disease Control (Centro de Controle de Doenças) e o National Center for Chronic Disease Prevention and Health Promotion (Centro de Prevenção de Doenças Crônicas e Promoção da Saúde), o número de indivíduos que sofrem com doen- ças crônicas varia entre 54 milhões (1 em cada 5 americanos) e 90 milhões (1 em cada 3 ame- ricanos). A doença crônica é definida como qualquer incapacidade física, psiquiátrica ou cognitiva que interfira significantemente no dia-a-dia do indivíduo. Portanto, doença crô- nica engloba um grande número de doenças, incluindo: doenças cardíacas, diabetes, esclerose múltipla, distrofia muscular, mal de Parkinson, cegueira, lesões cerebraistraumá- ticas, malformações congênitas e um grande número de doenças mentais. De acordo com a American Chronic Pain Association (Associação Americana para Dor Crônica), aproximadamente 50 milhões de americanos vivem com dor crônica. A dor crô- nica é definida como desconforto físico contí- nuo suficientemente severo para interferir nas atividades normais da vida de um indivíduo. Pode incluir: lesões da coluna, artrite reuma- tóide, neuropatia, câncer, distúrbios gastro-in- testinais e enxaqueca. Dois terços desses 50 milhões convivem com dor crônica há mais de 5 anos. Uma vez que nossa percepção de tempo é relativa, imagine a “eternidade” que 5 anos de dor podem parecer. Uma Abordagem de Aconselhamento Pastoral para Aqueles com Dores e Doenças Crônicas Os Grandes Desafios do Cuidado Pastoral / DOUG WIEGAND A dor crônica aumenta o tormento daqueles que convivem com doença crônica. DOUG WIEGAND, Ph.D. Conselheiro profissional em Pittsburgh, Pennsylvania (EUA). 20 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010 Muitos que sofrem de DC/DC têm receio de discutir seus problemas com qualquer pes- soa. O medo de não ser compreendido, a ver- gonha e sentimentos de fracasso são as razões mais comuns para não procurarem ajuda. Po- rém, um pastor compassivo, disposto a lidar com os problemas esmagadores encarados por alguém que sofre de DC/DC, tem uma opor- tunidade única de ministrar esperança ao de- sesperado. A dor crônica aumenta o tormento daque- les que convivem com doença crônica. Inde- pendentemente de ser moderada ou mesmo agonizante, a dor constante pode desgastar até o cristão mais fiel. A citação a seguir, de um de meus clien- tes, demonstra o quão difícil é conviver com neuropatia crônica: “Às vezes, acho que não vou aguentar. Dia após dia a dor me desgasta. Está sem- pre lá. Me dilacera. Alguns dias são piores que ou- tros, mas está sempre lá. Às vezes, é uma dor monó- tona latejante, como uma dor de dente. Aí, digo a mim mesmo: Não está tão ruim. Você aguenta. Mas a qualquer momento aquela dor piora sem aviso pré- vio e sinto uma pontada, como uma navalha afiada, me cortar. Eu tento não gritar, mas às vezes suspiro surpreso e agarro minha perna. A expressão de tris- teza da minha esposa é pior que a dor.” (TRUCK DOWN BUT NOT DESTROYED!: A CHRISTIAN RESPONSE TO CHRONIC ILLNESS AND PAIN.) Baseado nas estatísticas da citação acima, as chances são grandes de que você seja cha- mado para cuidar de um indivíduo com DC/ DC. A doença crônica dessa pessoa pode ter limitado severamente sua mobilidade. Talvez a dor crônica tenha tirado a capacidade para trabalhar. Quando você enfrentar problemas difíceis ao ajudar um membro da igreja com DC/DC, certamente precisará da sabedoria do Espírito Santo para ser eficaz. É difícil para aqueles que são relativamente saudáveis entenderem as experiências de vida daqueles que sofrem de DC/DC. Existe um padrão de atitudes, crenças e comportamentos comuns aos doentes crôni- cos ou aos que sofrem de dor crônica. A com- preensão desses temas ajudará o pastor a es- tar mais bem preparado para o aconselha- mento. A angústia de tentar suportar a dor inces- sante é prejudicial ao ser humano. Dividi a personalidade humana em três dimensões fundamentais que são negativamente impac- tadas por DC/DC: espiritual, relacional e emo- cional. A Dimensão Espiritual A dimensão espiritual contém os esforços e desejos sobrenaturais da alma humana. Aque- les com DC/DC frequentemente têm mui- tas dúvidas sobre a natureza ou até a realida- de de Deus. É vital, portanto, que logo no início de um processo de aconselhamento, o pastor, respeitosamente, procure uma opor- tunidade para conversar sobre crenças espiri- tuais e seu relacionamento com Jesus. À medida que progredir o aconselha- mento, o pastor terá preparado o cenário para apresentar o plano de salvação ou então forta- lecer a fé do crente. É somente quando se permite que Jesus carregue o fardo, que uma pessoa poderá en- contrar força para suportar a dor ou o sofrimen- to constante. Por que? O pastor conselheiro provavelmente terá que lidar com os por quês. Especificamente, “Por que eu preciso sofrer com essa dor e doen- ça?” Existem muitos outros por quês que se- rão feitos: “Por que eu não sou curado?”“Por que um Deus de amor permite dor e sofri- Uma Abordagem de Aconselhamento Pastoral para Aqueles com Dores e Doenças Crônicas Muitos que sofrem de DC/DC têm receio de discutir seus problemas com qualquer pessoa. NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 21 mento?” Essas questões estão entre as mais importantes em todo o cristianismo. Falo de- talhada-mente sobre elas em meu livro, STRUCK DOWN BUT NOT DESTROYED!: A CHRISTIAN RESPONSE TO CHRONIC ILLNESS AND PAIN (ABATIDOS, PORÉM NÃO DESTRUÍDOS: UMA RESPOSTA CRISTÃ À DOR E À DOENÇA CRÔNI- CA). A seguir estão três explicações bíblicas do por quê das DC/DC estarem presentes no mundo: 1. Vivemos em um mundo contami- nado pelo pecado. O paraíso terreno perfeito que Deus criou (o Jardim do Éden) foi perdi- do. Paulo explica que “por um só homem (Adão) entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram.” (Rm 5:12). Todas as pessoas no mundo (com intensidades diferen- tes) lidam com doença, dor, envelhecimento e morte por causa do pecado original de Adão e Eva. 2. Ter DC/DC não é uma indicação da punição de Deus por causa de seu pecado individual. Como afirma Paulo na carta à Igreja em Roma, “pois todos pecaram e carecem da gló- ria de Deus.” (Rm 3:23). Se DC/DC fosse pu- nição por pecado individual, então todos teri- am a mesma oportunidade de serem acome- tidos dessas enfermidades. A Bíblia descreve circunstâncias em que o pecado de uma pessoa levou à sua do- ença. Mas é essencial que essa possibilidade seja considerada apenas após muita oração e confirmação do Espírito Santo. Amigos de Jó podem causar um grande estrago em indiví- duos com DC/DC que já se encontram isola- dos. 3. Deus pode permitir que soframos para trazer benefícios e crescimento espiritu- ais. De acordo com o salmista, “Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos.” (Sl 119:71). É muito comum pro- curarmos o Senhor com sinceridade e fé ape- nas quando sofremos com um problema e não temos outra saída. Quando se aconselha aqueles com DC/ DC, é importante enfatizar que Jesus enten- de a sua dor e se compadece do seu sofrimen- to. Ele conheceu toda sorte de sofrimento fí- sico, emocional e espiritual. O profeta Isaías O Que Fazer: 1.Estabelecer um relacionamen- to atencioso. 2. Ouvir. Ouvir. Ouvir. 3. Perguntar sobre a dor e a do- ença. 4. Aprender sobre a doença. 5.Encorajá-los a se aconselha- rem com você ou com outra pessoa. 6. Confiar no Espírito Santo para guiá-lo. 7. Estar alerta para qualquer si- nal de depressão ou pensa- mento suicida. 8. Orar regularmente com eles. 9. Ser flexível e paciente. 10. Estar ciente das necessida- des do cônjuge e filhos. Uma Abordagem de Aconselhamento Pastoral para Aqueles com Dores e Doenças Crônicas O Que Fazer e o Que Não Fazer Quando Aconselhando Pessoas com Doenças Crônicas e Dor O Que Não Fazer: 1. Ficar com medo da pessoa. 2. Oferecer chavões superficiais. 3. Ser paternalista. 4. Ficar frustrado e se afastar. 5. Perder o senso de humor. 6. Presumir que conhece o pla- no de Deus para o futuro do so- fredor. 7. Orar somente pela cura. Deve- -se orar também para que te- nham forças para perseverar. 8. Esquecer que você pode con- sultar outros profissionais. 9. Esquecer o isolamento daque- les com DC/DC. 10. Esquecer que Deus está com você enquanto você aconse- lha. DOUG WIEGAND, Ph.D. Conselheiro profissional em Pittsburgh, Pennsylvania (EUA) 22 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010 descreveu Jesus como “homem de dores e que sabe o que é padecer.” (Is 53:3). Apesar dos sen- timentos de alienação e solidão quetem a pes- soa com DC/DC, existe conforto no conheci- mento de que Jesus “tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si.” (Is 53:4). Jesus está juntamente com a vítima de DC/DC durante toda sua jornada para ame- nizar o sofrimento. Sentimentos de incapacidade e baixa auto-estima Quando uma pessoa com DC/DC tenta se ajustar à vida com grandes limitações, é típico que sua auto-estima sofra. Vivemos em uma sociedade que dá alto valor ao sucesso e às realizações. Nosso senso de valor é geralmen- te vinculado ao nosso trabalho ou aos nossos bens. Pessoas que se encontram limitadas a uma cadeira de rodas ou que necessitam de um cão guia, não possuem mais a mesma ca- pacidade de produzir ou competir com uma pessoa saudável. Portanto, não fazem mais par- te do grupo. É importante que o pastor conselheiro lem- bre a pessoa com DC/DC de que existe um sistema de valores falso neste mundo. As pes- soas precisam ser encorajadas ao aprenderem que seu valor para Deus é incondicional e não baseado em sua capacidade de produzir. Os cristãos precisam ser fortalecidos pelo conhecimento de que nosso valor intrínseco é baseado em dois fatores. Primeiro, “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem.” (Gn 1:27). Segundo, “O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus.” (Rm 8:16). Cada cristão é uma parte única e essencial do corpo de Cristo, independentemente de suas limitações. A doença ou a dor não diminui a impor- tância do papel que representamos no plano de Deus. A Dimensão Relacional Afastamento Existe uma forte tendência para aqueles com DC/DC de se afastar de amigos, vizinhos, co- legas de trabalho, membros da igreja e famí- lia. Também se afastam das atividades nas quais estavam regularmente envolvidos, in- cluindo a igreja. Os pastores precisam ter cui- dado para não se ofenderem ou reagirem exageradamente às suas ausências. Embora se isolem como mecanismo de proteção, isso apenas piora seus sentimentos de alienação e solidão. O afastamento de uma pessoa com fre- quência provoca danos severos ao relaciona- mento com o cônjuge. De acordo com uma pesquisa recente da National Health Inter- view, a taxa de divórcio para casamentos onde um dos parceiros tenha DC/DC é maior que 75%. Assim, o cônjuge é também uma vítima de DC/DC. O pastor que aconselha casais com DC/DC precisa considerar a necessidade de aconselhamento conjugal e familiar (depen- dendo da idade dos filhos) juntamente com as sessões individuais. Hipersensibilidade Uma pessoa com DC/DC é hipersensível a qualquer indício de desaprovação ou condes- cendência. Por exemplo, poucas palavras irão afastá-los tão rapidamente quanto: “Sei exa- tamente o que você está passando.” Mesmo dita pelo pastor mais amável, essa frase pene- tra como uma facada na pessoa com DC/DC. O que foi dito com intenção de ser uma pala- vra de conforto e empatia acaba sendo recebi- do como um chavão superficial. Para uma pes- O conselheiro pastoral terá que lidar com os “por quês” Uma Abordagem de Aconselhamento Pastoral para Aqueles com Dores e Doenças Crônicas NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 23 soa sensível demais que sofre de DC/DC, serve apenas para afastá-la ainda mais das pes- soas normais. Porém, o pastor conselheiro com maturidade espiritual pode agir com a com- paixão de Jesus. Ele pode ser a ponte que religa o isolamento causado pela pessoa hi- persensível. O pastor pode demonstrar o amor e a aceitação de Deus. O salmista Davi se ale- grou no amor eterno de Deus pelos Seus fi- lhos nessas palavras: “Pois a tua misericórdia se eleva até aos céus, e a tua fidelidade, até às nu- vens.” (Sl 57:10). A Dimensão Emocional Depressão e Ansiedade Em quase todos os casos de DC/DC, a vida emocional da pessoa é negativamente afeta- da. Com o passar do tempo, ela perde pro- gressivamente a capacidade de lidar com o estresse. Estima-se que 25% daqueles com DC/DC tem os critérios clínicos para depres- são crônica (distimia). A maioria das pessoas com depressão também sofrem de alguma for- ma de ansiedade. Juntas, essas doenças rou- bam dessas pessoas recursos espirituais, ener- gia emocional e foco intelectual necessários para combater sua dor e doença. Pessoas com depressão crônica (distimia) passam pela vida em câmera lenta. Suas rea- ções emocionais estão comprometidas e uma nuvem de pessimismo paira sobre suas cabe- ças. Até mesmo as atividades mais básicas pa- recem estar além de sua capacidade. Nada traz alegria e elas se sentem sem esperança. Agora acrescente os sintomas de ansieda- de à distimia. Ansiedade faz com que as pes- soas se sintam nervosas e não se sintam à von- tade. Preocupam-se com tudo. Suas mentes correm de um pensamento negativo para ou- tro. Podem até sofrer um ataque de ansieda- Quando se aconselha aqueles com DC/DC, é importante enfatizar que Jesus entende a sua dor e se compadece do seu sofrimento. de causando taquicardia e tremores de mãos, consequência da adrenalina que corre pelas suas veias. Para combater a depressão e a ansiedade, o pastor deve ajudar essas pessoas a compre- enderem que a depressão e ansiedade são re- ações comuns aos problemas de saúde pelos quais estão passando. O pastor deve lembrá- las de que Deus é sua força e esperança sem- pre presentes em tempos de angústia. O salmista escreveu, “Bendito seja o Senhor que, dia a dia, leva o nosso fardo!” (Sl 68:19). Transtorno de Ajustamento Essa categoria de sintomas se refere à confu- são e inatividade que inundam aqueles que sofrem de DC/DC. Sentindo-se esmagadas em dúvida, congelam e não fazem nada. Os que sofrem tornam-se passivos e incapazes de ajudar na própria recuperação. Tipicamente, o transtorno de ajustamen- to ocorre durante o estágio inicial da doença ou da lesão, logo que se vêem obrigadas a encarar suas limitações e mudanças no modo de vida. É importante que o pastor contate o membro de sua congregação assim que sou- ber da doença ou do acidente. Nesse estágio inicial, um alicerce poderá ser estabelecido, o qual ajudará a acelerar o processo de ajuste à condição. Quando o transtorno de ajustamen- to torna-se um estilo de vida de longo prazo é muito mais difícil ajudá-los. Conclusão Está claro que os problemas relacionados à DC/DC são numerosos e complexos. Apesar das dificuldades, se o Espírito Santo o capaci- tou com a habilidade e a compaixão de acon- selhar, eu o desafio aqui a alcançar os que estão isolados e que sofrem de DC/DC. Uma Abordagem de Aconselhamento Pastoral para Aqueles com Dores e Doenças Crônicas 24 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010 U ma boa saúde é um presente precioso de Deus. Quando al- guma doença ou ferimento ameaça nossa saúde, rapida- mente procuramos restabelecê-la. No mundo da medicina, existem várias abordagens para cura: medicina convencio- nal, complementar, e alternativa. Pastores podem se beneficiar com pesqui- sas de várias abordagens para cura e suas pos- síveis implicações espirituais quando procu- rarem manter sua própria saúde enquanto su- prem as necessidades dos membros da igreja que precisam de cura. Medicina Convencional: Pontos fortes e fracos A forma dominante de medicina praticada nos Estados Unidos e em outras nações ociden- tais é chamada de medicina convencional. Aqueles que são licenciados para praticar a me- dicina convencional são médicos, enfermeiras registradas, e outros profissionais da área de saúde como, terapeutas, nutricionistas, e psi- cólogos. Outro nome para medicina convencional é medicina alopática, criada por Dr. Samuel Hahnemann no século XVIII. O termo alopatia é derivado do grego allo que significa outro e é baseado na teoria de que sintomas devem ser tratados por substâncias que suprimem sinto- mas. Hahnemann então fundou homeo- patia, um sistema de medicina alternativa ba- seado na teoria de que semelhante cura se- melhante. O foco no tratamento de sintomas eo diag- nóstico preciso de sua causa é um dos maiores pontos fortes da medicina convencional. Os testes de diagnósticos usados na medi- cina convencional – raios X, tomografia computadorizada, EEC, ECG, e vários outros testes sanguíneos – podem revelar a presença de uma doença antes mesmo que o paciente comece a apresentar sintomas. Estes testes de diagnósticos podem salvar vidas. A medicina convencional também têm de- senvolvido armas poderosas contra doenças in- fecciosas, como, antibióticos e vacinas. Exce- lentes ferramentas para ajudar a recuperação de uma vítima de acidentes também se inclu- em em medicina convencional – técnicas para fixação óssea, prevenção de hemorragias, e ci- rurgia plástica que recupera a aparência física de uma pessoa. Ainda, a abordagem que faz da medicina Ministério&Ética Médica / CHRISTINA M. H. POWEL Abordagem Convencional, Complementar e Alternativa para Cura Medicina convencional tende se focar mais em curar doenças do que em manter a saúde. CHRISTINA M.H. POWEL, Ph.D., ministra norte-americana ordenada e cientista de pesquisas médicas, prega em igrejas e conferências em todos os EUA. Ela é pesquisadora na Escola de Medicina de Harvard e no Hospital Geral de Massachussets, assim como fundadora do Life Impact Ministries. NOVEMBRO 2010 | Recursos Espirituais • 25 convencional um sucesso no tratamento de doenças baseadas em patógenos, desequilíbrio químico e lesão aguda pode ser um ponto fra- co no tratamento de muitas doenças crônicas como artrite, fibromialgia, e mal de Alzheimer. Em geral, a medicina convencional foca- se mais em curar doenças e menos em man- ter a saúde. As principais ferramentas desse tipo de medicina são drogas, cirurgias, e radia- ção. Medicina convencional tende a se focar em partes individuais que não estão funcio- nando ao contrário de focar a pessoa como um todo. Em contraste, medicina alternativa se foca mais em previnir doenças e manter a saúde através de mudanças de hábitos, como a die- ta, exercícios, e o uso de suplementos nutri- cionais. Medicina Alternativa: Capacidade e Cautela Medicina alternativa é uma abordagem para a cura usada no lugar de medicina conven- cional. A medicina complementar, por outro lado, é usada juntamente com a medicina conven- cional. Por exemplo, se uma dieta especial é usada no tratamento de câncer no lugar de uma cirurgia recomendada por um médico convencional, a dieta pode servir como uma terapia alternativa. Porém, se uma dieta espe- cial foi usada para combater colesterol alto em um paciente com doença de coração, além da cirurgia de revascularização, a dieta pode vir a ser como uma terapia complementar. Uma vez que a mesma terapia pode servir tanto como complementar ou alternativa, as outras terapias fora da medicina convencional são geralmente agrupadas sob o termo terapi- as MCA (medicina complementar e alterna- tiva). A National Center for Complementary and Alternative Medicine, do National Institute of Health, classifica terapias MCA em 5 ca- tegorias: a) Sistema médico alternativo b) Intervenção corpo/mente c) Terapias com bases biológicas d) Métodos baseados em manipulação corporal e) Terapias de energia. Os sistemas médicos alternativos são sis- temas completos de teoria e prática que se desenvolveram independentemente da me- dicina convencional. Homeopatia e naturo- patia são dois sistemas médicos que se desen- volveram nas culturas ocidentais, enquanto a medicina tradicional chinesa e Ayurveda são exemplos de sistemas médicos desenvolvidos nas culturas não ocidentais. Ambos sistemas são baseados em crenças religiosas orientais. A teoria por trás da medicina chinesa é ba- seada na filosofia Taoísta e no dualismo yin yang. Yin representa o princípio frio, lento ou passivo, enquanto o yang representa o princí- pio quente, agitado ou ativo. A saúde tem resultados quando o corpo possui as forças de yin e yang balanceadas. A doença acontece devido ao desequilíbrio in- terno de yin e yang que levam à um bloqueio do fluxo da energia vital (qi ou chi) pelas vias do corpo conhecidas como meridianos. Atra- vés do uso da acupuntura, preparações com ervas, e massagem, o praticante da medicina tradicional chinesa tenta restaurar o equilíbrio entre yin e yang. Ayurveda significa conhecimento da vida em Sânscrito. Os princípios da Ayurveda destinam- se a capacitar uma pessoa a se encarregar de sua própria vida e cura. A teoria por trás de Ayurveda é baseadas na Vedas, ou escrituras Hindus. Assim como a medicina tradicional chinesa, Ayurveda reconhece energias básicas. Nesta abordagem para a cura, existem 3 energias básicas que devem estar equilibra- das: a) Vata (vento) b) Pitta (fogo) c) Kapha (barro ou terra). Através do uso de ervas, nutrição, proces- so de limpeza, massagem de acupressura, e Uma Abordagem de Aconselhamento Pastoral para Aqueles com Dores e Doenças Crônicas Os sistemas médicos alternativos são sistemas completos de teoria e prática que se desenvolveram independente- mente da medicina convencional. 26 • Recursos Espirituais | NOVEMBRO 2010 yoga, o praticante da Ayurveda tenta restaurar o equilíbrio entre as três energias da pessoa. Os pontos fortes do sistema médico alter- nativo é a integração da mente, corpo, e espí- rito que é geralmente deficiente na medicina convencional. Para os cristãos, porém, a ligação entre es- sas abordagens da medicina e antiga religião oriental é motivo de cautela. As teorias de ener- gia da vida por trás desses sistemas não possu- em base científica ou bíblica. Alguns médicos que rejeitam as teorias Taoístas de acupuntura, têm desenvolvido teorias fisiológicas que podem justificar o uso limitado da acupuntura como analgésico. Em alguns casos, o motivo da preocupação espiri- tual é minimizado. A segunda categoria de teoria MCA é in- tervenção corpo/mente, onde uma variedade de técnicas é usada para realçar a capacidade da mente afetar o corpo. Algumas técnicas nessa categoria são consideradas parte de uma terapia convencional, como grupo de suporte a pacientes. Outras técnicas são também con- sideradas alternativas, incluindo meditação, oração, biofeedback, terapias baseadas em arte, música e dança. Resultados de pesquisas relacionados com interação corpo-mente incluem estudos que revelam a importância de interações sociais, relacionamentos saudáveis, e o compareci- mento nos cultos em manter uma saúde am- bos mental e física. Esses resultados compõem um material excelente para ilustrações durante as pregações. Por outro lado, outras terapias nesta categoria derivam de pensamentos de Nova Era, por isso deve-se ter cautela. A terceira categoria de terapias MCA é a terapia com bases biológicas. Estas terapias utilizam substâncias encontradas na nature- za, como produtos à base de ervas, suplemen- tos minerais e vitamínicos, e antioxidantes de- rivados de frutas e vegetais. Ervas são a forma mais antiga de cuidados com a saúde e são a base de muitas drogas usadas frequentemente na medicina conven- cional. Na verdade, aproximadamente 25% de prescrições médicas dispensadas nos EUA contém pelo menos um ingrediente derivado de material sintetizado para imitar um com- posto de planta natural. Portanto, medicamentos à base de ervas podem ser eficazes no tratamento de várias doenças. Além disso, algumas ervas, assim como drogas usadas na medicina convencio- nal, podem causar efeitos colaterais e toxici- dade em altas doses. A pureza e a dosagem são pontos impor- tantes relacionados à medicamentos à base de ervas. Ervas podem conter uma mistura com- plexa de ingredientes ativos. As drogas derivadas de ervas são prepara- ções puras do componente ativo mais impor- tante de uma determinada planta. Portanto, é mais fácil estabelecer corretamente a dose (am- bos segura e eficaz) de um componente puri- ficado de uma erva do que a dose correta da própria erva. Além disso, alguns componen-