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As grandes mentiras sobre o catolicismo

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Prévia do material em texto

Copyright	©	Alexandre	Varela	e	Viviane	Varela,	2016
Copyright	©	Editora	Planeta	do	Brasil,	2016
Todos	os	direitos	reservados.
Preparação	de	textos:	Elisa	Nogueira
Diagramação:	Abreu’s	System
Revisão:	Maria	Aiko	Nishijima	e	Lizete	M.	Machado
Capa:	Sérgio	Campante
Imagem	de	capa:	dade72	/	Shutterstock
Ilustrações	de	miolo:	Ricardo	Almeida
Adaptação	para	eBook:	Hondana
Todas	as	citações	bíblicas	foram	extraídas	da	Bíblia	de	Jerusalém,
5a	edição	revisada	e	ampliada,	publicada	pela	Editora	Paulus	em	2008.
CIP-BRASIL.	CATALOGAÇÃO	NA	PUBLICAÇÃO
SINDICATO	NACIONAL	DOS	EDITORES	DE	LIVROS,	RJ
V419g
Varela,	Alexandre
As	 grandes	 mentiras	 sobre	 a	 igreja	 católica:	 desvende	 os	 mitos	 sobre	 o
catolicismo	/	Alexandre	Varela,	Viviane	Varela.	–	1.	ed.	–	São	Paulo	:	Planeta,
2016.
ISBN	978-85-422-0841-2
1.	Catolicismo.	2.	Igreja	Católica.	I.	Varela,	Viviane.	II.	Título.
16-36225
CDD:	282.09
CDU:	282
2016
Todos	os	direitos	desta	edição	reservados	à
EDITORA	PLANETA	DO	BRASIL	LTDA.
Rua	Padre	João	Manuel,	100,	21o	andar
http://www.hondana.com.br
Edifício	Horsa	II	–	Cerqueira	César
01411-000	–	São	Paulo	–	SP
www.planetadelivros.com.br
atendimento@editoraplaneta.com.br
http://www.planetadelivros.com.br
mailto:atendimento@editoraplaneta.com.br
Talvez	não	haja	nos	Estados	Unidos	uma
centena	 de	 pessoas	 que	 odeiem	 a	 Igreja
Católica;	mas	há	milhões	de	pessoas	que
odeiam	aquilo	que	erroneamente	supõem
ser	a	Igreja	Católica.
Venerável	Fulton	Sheen
Agradecimentos
Agradecemos	 e	 dedicamos	 este	 livro	 a	Deus	 e	 à	 Virgem	Maria,
que	conduziram	nosso	trabalho	no	site	O	Catequista	 ao	patamar
em	que	se	encontra	hoje.
Às	 nossas	 famílias,	 que	 nos	 apoiaram	 neste	 caminho	 e
compreenderam	 as	 horas	 e	 horas	 investidas	 em	 estudar	 e
escrever	sobre	a	beleza	da	Igreja	Católica.
Aos	 nossos	 colaboradores,	 padre	 Álvaro	 Inácio	 e	 padre
Anderson	 Alves,	 que	 trabalharam	 na	 revisão	 dos	 textos,	 e	 ao
nosso	 compadre	 e	 designer	 Ricardo	 Almeida,	 que	 gentilmente
ilustrou	este	 livro	e	que	colabora	conosco	desde	o	primeiro	dia
do	site.
Agradecemos	também	a	todos	os	bispos	e	padres	que	nos	dão
apoio	 nesta	 caminhada	 e	 aos	 nossos	 leitores	 que	 ajudaram	 na
missão	de	O	Catequista	 de	 se	 espalhar	 pelo	 Brasil	 e	mostrar	 de
um	jeito	diferente	a	nossa	Igreja	de	sempre!
Sumário
Apresentação
Prefácio
Que	livro	é	esse?
Sobre	Deus
O	mundo	seria	melhor	sem	as	religiões?
Religião	é	invenção	de	Deus	ou	dos	homens?
Por	que	existe	o	sofrimento?
Por	que	nascem	pessoas	deficientes?
Por	que	Deus	era	tão	duro	no	Antigo	Testamento?
Por	que	o	Deus	do	Antigo	Testamento	é	tão	diferente	de
Cristo?
Sobre	Jesus
Jesus	é	Deus	ou	só	mais	um	guru?
Jesus	era	mesmo	o	Messias?
Jesus	é	só	paz	e	amor?
Jesus	casou	com	Maria	Madalena?
Sobre	a	Bíblia
A	Bíblia	é	confiável?
Como	a	Bíblia	foi	compilada?
Por	que	a	Bíblia	protestante	é	diferente?
O	livro	do	Gênesis	copia	mitos	antigos?
Por	que	não	seguimos	as	leis	dos	judeus?
A	Igreja	medieval	impedia	a	leitura	da	Bíblia?
Sobre	a	Tradição
Por	que	os	católicos	não	seguem	apenas	a	Bíblia?
Como	era	a	Igreja	primitiva?
A	Igreja	sempre	foi	chamada	de	Igreja	Católica?
As	igrejas	cristãs	não	defendem	a	mesma	fé?
Sobre	o	magistério	da	Igreja
O	papa	não	é	como	qualquer	outro	homem?
Por	que	chamamos	o	líder	da	Igreja	de	“papa”?
Por	que	os	católicos	se	ajoelham	diante	do	papa?
Qual	é	o	fundamento	da	autoridade	dos	bispos	católicos?
Por	que	os	católicos	obedecem	ao	clero?
O	que	é	dogma?
Sobre	Maria
O	que	é	Imaculada	Conceição	e	Assunção?
Maria	era	pura	mesmo?
Jesus	tinha	irmãos?
Os	católicos	adoram	Maria?
Sobre	a	devoção	aos	santos
O	que	são	os	santos?
Como	é	o	processo	de	reconhecimento	dos	santos?
Se	Jesus	é	o	único	mediador,	por	que	se	reza	aos	santos?
Santos	falecidos	podem	interceder?
Como	os	santos	ouvem	nossas	orações?
Para	que	servem	as	relíquias	dos	santos?
Os	católicos	adoram	imagens?
Orar	aos	santos	é	o	mesmo	que	invocar	espíritos?
Sobre	o	Céu,	o	Inferno	e	o	Purgatório
Só	os	católicos	vão	para	o	céu?
Por	que	a	Igreja	não	crê	em	reencarnação?
O	Inferno	realmente	existe?
Sobre	a	Inquisição
A	Inquisição	matou	milhares	de	pessoas?
A	Igreja	promoveu	uma	caça	às	bruxas?
A	Igreja	é	culpada	pela	morte	de	Joana	d’Arc?
Sobre	a	ciência
A	fé	é	inimiga	da	razão?
A	Igreja	é	inimiga	da	ciência?
A	Igreja	medieval	escondia	o	conhecimento?
A	Igreja	atrasou	o	avanço	da	medicina?
A	Igreja	negava	que	a	Terra	é	esférica?
A	Igreja	nega	a	Teoria	do	Big	Bang?
Darwin	provou	que	Deus	não	existe?
A	Igreja	é	contra	a	pesquisa	com	células-tronco?
O	que	aconteceu	com	Galileu	Galilei?
O	que	aconteceu	com	Giordano	Bruno?
Sobre	nazismo	e	racismo
A	Igreja	apoiou	o	nazismo?
A	Igreja	apoiou	a	escravidão?
A	Igreja	destruiu	a	cultura	indígena?
Sobre	machismo
Por	que	a	Igreja	diz	que	as	mulheres	devem	ser
submissas?
São	Paulo	era	machista?
A	Igreja	não	valoriza	as	mulheres?
Como	as	mulheres	são	vistas	nos	países	não	cristãos?
Por	que	mulheres	não	podem	ser	padres?
E	agora?	O	que	fazer	com	tudo	isso?
Referências	bibliográficas
Apresentação
DOM	FILIPPO	SANTORO
(Arcebispo	Metropolitano	de	Taranto,	Itália)
Treta.	 Os	 jovens	 são	 pródigos	 em	 inventar	 nomes	 novos	 e
engraçados	para	questões	antigas	e	fundamentais.
Quem	 sabe	 não	 seria	 uma	 coisa	 boa	 se,	 com	 seus	 amigos
sacerdotes	 ou	 com	as	pessoas	maduras,	mais	 adultas,	 vocês
se	 empenhassem	 em	 esclarecer	 as	 palavras	 e	 as	 frases	 que
são	ditas,	usadas	por	Deus?	Por	exemplo,	vocês	 farão	muito
barulho,	 uma	 barulheira	 cada	 vez	 que	 tentarem	 inventar
respostas	 para	 suas	 exigências;	 na	 verdade,	 descobrirão	 que
essas	respostas	vêm	exclusivamente	quando	a	pessoa	repousa
a	cabeça	nos	ombros	de	Cristo.	(Dom	Luigi	Giussani)
Essas	são	palavras	ditas	por	Dom	Luigi	Giussani,	fundador	do
Movimento	Comunhão	e	Libertação,	a	jovens	colegiais	em	2003.
[1]	Os	termos	podem	ter	mudado,	mas	o	barulho	é	o	mesmo.	No
fundo,	há	um	grande	desejo	de	conhecer	a	Verdade,	de	entender
qual	é	o	caminho	que	dá	sentido	a	toda	a	vida.	Mas,	ao	mesmo
tempo,	 são	 tantas	 informações,	 tantas	 distrações,	 tantas
ideologias,	 que	 é	 muito	 fácil	 se	 perder	 e	 acabar	 agarrado	 à
última	grande	“revelação”	espalhada	pelas	redes	sociais.
Conheci	 Alexandre	 e	 Viviane	 quando	 eles	 ainda	 estavam	 na
casa	 dos	 vinte	 anos.	 Eles	 já	 haviam	 começado	 a	 se	 dedicar	 à
catequese	de	 jovens	e	adultos	como	gesto	de	caridade	proposto
pelo	 Movimento	 Comunhão	 e	 Libertação	 e	 deparavam	 com
pessoas	 que	 não	 precisavam	 ser	 simplesmente	 catequizadas,
mas	 sim	 reapresentadas	 à	 Igreja	 e	 ao	 que	 ela	 realmente	 é.	 Era
necessário	despojá-las	das	“verdades”	trazidas	da	televisão,	do
professor	marxista,	dos	jornais	e	dos	livros	sensacionalistas.
Era	preciso	 desfazer	 a	 confusão,	 “desarmar	 as	 tretas”,	 para
que	 aquelas	 pessoas	 se	 dispusessem	 a	 ouvir	 a	 Boa	 Nova,	 o
anúncio	 que	 mudaria	 sua	 vida.	 “A	 fé	 é	 um	 problema	 de
conhecimento”,	disse	também	Dom	Giussani;	assim,	era	preciso
enfrentar	 e	 diluir	 os	 preconceitos	 que	 turvavam	 a	 visão	 e
impediam	que	se	reconhecesse	a	beleza	da	presença	de	Cristo	e
da	Sua	Igreja.
O	 trabalho	 cresceu	 e	 —	 assim	 quis	 o	 Senhor	 —	 saiu	 do
ambiente	 paroquial	 para	 alcançar	 centenas	 de	 milhares	 de
pessoas	por	meio	da	internet	e	do	rádio.
Agora	 essa	 dupla	 de	 catequistas	 traz	 neste	 livro	 parte	 da
experiência	vivida	nesses	mais	de	quinze	anos	de	catequese,	que
fizeram	 do	 site	 O	 Catequista	 uma	 leitura	 obrigatória	 para	 os
católicos	 que	 desejam	 entender	 a	 verdade	 por	 trás	 de	 todo	 o
barulho,	de	toda	a	confusão,	de	todas	as	tretas!
Prefácio
CARDEAL	 DOM	 ORANI	 JOÃO	 TEMPESTA,	 ORDEM	 DE
CISTER
(Arcebispo	Metropolitano	de	São	Sebastião	do	Rio
de	Janeiro)
A	 importância	 de	 conhecer	 a	 doutrina	 sempre	 foi	 uma	 das
preocupações	 da	 Igreja,	 desde	 os	 seus	 primórdios.	 O	 próprio
Jesus	Cristo	nos	deixou	o	mandato	de	ensinar	a	todas	as	nações
(Mt	28,	19).Começando	pelo	primeiro	anúncio	do	querigma	até	a
sistematização	dos	artigos	da	fé,	muitos	se	empenharam	em	nos
legar	 a	 reta	 doutrina,	 esclarecendo	 seus	 contemporâneos	 e	 até
entregando	a	vida	em	defesa	das	verdades	que	professamos.
Esse	 conhecimento	 tornou-se	 essencial	 para	 um	 verdadeiro
encontro	com	Cristo.	É	necessário	entender	o	que	a	doutrina	fala
para	 a	 nossa	 vida,	 sabendo	 também	 refutar	 os	 erros,	 as	 falsas
interpretações	 e	 até	 as	 calúnias	 que	 foram	 sendo	 forjadas	 ao
longo	 da	 história	 e	 que,	 em	 nosso	 tempo,	 aparecem
frequentemente	 como	 uma	 sutil,	 porém	 não	 menos	 grave,
perseguição.
É	essa	a	missão	que	Alexandre	e	Viviane	abraçaram	no	site	O
Catequista	e	neste	livro:	fazer	o	leitor	entender	de	maneira	rápida
e	 simples	 qual	 é	 a	 verdade	 por	 trás	 da	 confusão	 e	 da
desinformação	que	se	propaga	sobre	o	Catolicismo	desde	muito
tempo	e	que	hoje	se	renova	e	chega	a	nós	através	da	internet,	da
imprensa,	 de	 professores	 mal	 informados	 e	 de	 livros
tendenciosos.
Os	leitores	acostumados	à	internet	e	a	um	novo	jeito	de	falar
encontrarão,	 nos	 textos	 a	 seguir,	 a	 mesma	 doutrina	 que	 é
comunicada	há	dois	mil	anos,	porém	em	um	formato	totalmente
renovado,	 capaz	 de	 levar	 jovens	 e	 adultos	 a	 entenderem	mais
sobre	a	Igreja	e	sua	história.
Além	 dos	 esclarecimentos	 que	 este	 livro	 oferece,	 o
testemunho	dos	seus	autores	no	diálogo	com	o	mundo	atual	os
insere	 na	 tradição	 apologética,	 ao	 mesmo	 tempo	 que	 vivem	 a
autêntica	experiência	de	Igreja	“em	saída”[1]	do	nosso	tempo.
Que	livro	é	esse?
Oi,	povo	católico!
Nossos	 leitores	pediram,	a	Editora	Planeta	acreditou	e	 toma
aí	o	primeiro	livro	do	site	O	Catequista!	Uhuuuul!!!
Se	 você	 ainda	 não	 nos	 conhece,	 dê	 uma	 passadinha	 em
ocatequista.com.br.	Somos	um	site	católico	que	tem	o	desejo	de
mostrar	 a	 beleza	 da	 Igreja	 Católica	 com	 a	 leveza	 de	 uma
conversa	 informal	entre	amigos.	Não	é	à	toa	que	nosso	estilo	é
chamado	de	Catequese	de	Boteco.	E	como	em	qualquer	boteco,	o
papo	é	informal	e,	sempre	que	possível,	cheio	de	boas	risadas.
Mas	não	se	engane!	Podemos	usar	um	método	diferente,	mas,
por	trás	de	toda	a	informalidade,	você	encontrará	uma	catequese
absolutamente	fiel	ao	papa	e	à	doutrina	da	Igreja.
Agora	que	você	nos	conhece	um	pouquinho,	junte-se	àqueles
que	 já	 fazem	parte	dessa	grande	onda	católica	e	descubra,	com
muito	humor,	como	refutar	as	acusações	mais	comuns	à	 Igreja
Católica.	 Neste	 livro,	 você	 encontrará	mais	 de	 sessenta	 artigos
que	 explicam	de	 forma	 simples,	 didática	 e	 direta	 questões	 que
muitas	 vezes	 nos	 pegam	 desprevenidos,	 as	 famosas	 tretas
anticatólicas!
http://ocatequista.com.br
Quantas	 vezes	 não	 ficamos	 calados	 ou	 fomos	 obrigados	 a
concordar	 a	 contragosto	 que	 a	 Igreja	 agiu	 de	modo	 terrível	 na
Idade	Média,	que	atrapalhou	enormemente	a	ciência,	que	matou
milhares	de	 inocentes	durante	 a	 Inquisição,	 que	 é	machista	 ou
tantas	 outras	 coisas?	 Pois	 esses	 questionamentos	 têm
explicação,	e	muitas	vezes	a	realidade	se	revela	completamente
diferente	das	histórias	que	ouvimos	nas	escolas	e	na	mídia.
Ao	 longo	 deste	 livro,	 vamos	 caçar	 e	 desarmar	 todas	 essas
tretas,	sempre	com	o	jeitinho	que	caracteriza	O	Catequista.
E,	 pra	 não	 deixar	 dúvidas,	 sempre	 matamos	 a	 cobra	 e
mostramos	o	sabre	de	luz	(ou	espada	Jedi,	se	você	não	for	nerd),
então	 você	 encontrará	 aqui	 muitas	 referências	 e	 sugestões	 de
leitura	para	poder	se	aprofundar	mais	em	cada	um	dos	assuntos
apresentados.
Agora	chega	de	blá-blá-blá	e	vamos	ao	trabalho.	Esperamos
que	você	curta	esse	jeito	novo	de	mostrar	a	Igreja	de	sempre.
Embarque	na	aventura	dos	Caçadores	de	Treta!
Sobre	Deus
O	MUNDO	SERIA	MELHOR	SEM	AS	RELIGIÕES?
Muita	gente	mata,	humilha,	oprime	e	segrega	outros	por	causa
da	religião	que	professa.	Logo,	pode-se	concluir	que	as	religiões
são	 uma	 coisa	 ruim,	 certo?	 Se	 concordarmos	 com	 essa
afirmação,	 teremos	 de	 dizer,	 seguindo	 a	 mesma	 linha	 de
raciocínio,	que	se	apaixonar	é	ruim,	afinal	tantas	pessoas	brigam
por	 causa	 de	 uma	 mulher	 ou	 de	 um	 homem	 (lembremos	 da
Guerra	de	Troia,	motivada	pelo	 rapto	da	bela	Helena).	Quantas
amizades	desfeitas,	quantos	crimes	passionais!
Tenhamos	 cuidado	 com	 os	 raciocínios	 fáceis.	 A	 verdade	 é
simples,	 mas	 chegar	 a	 ela	 não	 é	 moleza:	 requer	 prudência,
humildade,	 curiosidade,	 honestidade	 intelectual	 e,	 acima	 de
tudo,	a	graça	do	Espírito	Santo.
Muitas	pessoas	desejam	viver	no	mundo	imaginado	por	John
Lennon	 em	 sua	 canção	 “Imagine”,	 especialmente	 no	 que	 diz
respeito	a	estes	versos:
Imagine	there’s	no	countries
It	isn’t	hard	to	do
Nothing	to	kill	or	die	for
And	no	religion	too[1]
Na	 letra	 dessa	 música,	 John	 Lennon	 acusa	 as	 religiões	 de
promoverem	uma	divisão	entre	os	povos	e	sugere	que	o	mundo
seria	 mais	 pacífico	 e	 unido	 com	 a	 extinção	 das	 religiões.	 O
grande	desejo	é	que	não	haja	diferenças	nem,	logo,	motivos	para
desavenças	e	guerras.
É	claro	que	o	desejo	de	paz	universal	é	muito	bonito,	porém
Lennon	errou	feio	ao	imaginar	que	poderíamos	caminhar	rumo	à
perfeita	 paz	 (ou	 ao	 bem	absoluto)	 confiando	 simplesmente	 em
nós	 mesmos	 e	 em	 nossas	 boas	 intenções.	 A	 Bíblia	 relata	 que
assim	surgiu	o	pecado	original:	os	homens	acharam	que	poderiam
ser	autossuficientes,	ou	seja,	que	poderiam	se	virar	muito	bem
sem	Deus.	E	temos	aí	o	resultado…
Somos	 incapazes	 de	 alcançarmos	 por	 nós	 mesmos	 a
felicidade,	 por	mais	 que	 nos	 empenhemos.	 Veja,	 Lennon	 lutou
pela	paz	com	suas	belas	canções	e	protestos,	os	famosos	bed-ins
ao	 lado	 da	 Yoko	 Ono,	mas,	 cá	 pra	 nós,	 o	 resultado	 prático	 foi
nulo!	Acaso	alguém	vai	deixar	de	promover	a	guerra	porque	dois
cabeludos	estão	cantando	baladinhas	numa	cama	de	um	hotel	de
luxo?!
É	muito	 fácil	discursar	e	sonhar	com	o	bem	(“It’s	easy	 if	you
try”[2]),	mas	 realizar	 o	 bem	dia	 após	 dia	 não	 é	moleza!	 É	 uma
tremenda	 falta	 de	 realismo	 crer	 que,	 contando	 só	 com	a	nossa
força	de	vontade,	podemos	nos	aperfeiçoar	a	ponto	de	alcançar	a
ausência	de	falhas.	São	Paulo	é	uma	grande	referência	para	nós
nesse	ponto,	pois	tinha	autocrítica	suficiente	para	saber	que	não
era	capaz	de	ser	bom	sem	o	auxílio	divino:
[…]	Pois	o	querer	o	bem	está	ao	meu	alcance,	não	porém	o
praticá-lo.	 Com	 efeito,	 não	 faço	 o	 bem	 que	 quero,	 mas
pratico	 o	 mal	 que	 não	 quero.	 […]	 Verifico,	 pois,	 esta	 lei:
quando	quero	fazer	o	bem,	é	o	mal	que	se	me	apresenta.	[…]
Infeliz	 de	 mim!	 Quem	 me	 libertará	 deste	 corpo	 de	 morte?
Graças	 sejam	 dadas	 a	 Deus,	 por	 Jesus	 Cristo	 Senhor	 nosso!
(Rom	7,	18-19;	21;	24-25)
E	assim,	com	o	tempo,	São	Paulo	chegou	a	um	nível	heroico
de	caridade	e	santidade.	Não	sonhando,	mas	crendo	em	Deus	e
trabalhando.	 Algumas	 religiões	 são	mesmo	 um	 atraso	 de	 vida,
em	 especial	 aquelas	 cuja	 doutrina	 incita	 a	 violência,	 porém	 é
injusto	 e	 infame	 enfiar	 a	 Igreja	 Católica	 nesse	 balaio.	 Basta
comparar	 as	 nações	 influenciadas	 pelo	 cristianismo	 com	 as
demais	para	notar	 a	 imensa	diferença	na	 evolução	dos	direitos
humanos,	da	ciência	e	da	moral.
RELIGIÃO	É	INVENÇÃO	DE	DEUS	OU	DOS	HOMENS?
Existem	 algumas	 frases	 feitas	 para	 atacar	 a	 validade	 das
religiões	 e	 a	 necessidade	 de	 sua	 existência.	 Vamos	 dar	 uma
olhada	nas	mais	comuns:
“Deus	não	criou	a	igreja	nem	a	religião.	São	criações
humanas…”
De	que	Deus	estamos	falando?	Nós,	cristãos,	cremos	que	Deus	se
fez	 Homem	 na	 pessoa	 de	 Jesus	 Cristo.	 Os	 profetas	 que
anunciaram	a	Sua	vinda	e	Ele	mesmo	disseram	que	se	edificaria
uma	 igreja	 (Mt	 16,	 18)	 por	 meio	 da	 qual	 Ele	 levaria	 a	 ação
salvadora	às	pessoas	de	todos	os	tempos.
Em	 parte,	 é	 correto	 afirmar	 que	 algumas	 religiões	 e	 igrejas
são	 criações	 humanas,	 porém	 essa	 afirmação	 não	 cabe	 no
cristianismo.	As	religiões,	em	geral,	são	fruto	da	meditação	e	da
imaginação	presentes	em	todas	as	 culturas,	 revelando	o	anseio
do	homem	de	religar-se	ao	Absoluto,a	Deus,	mas	o	fato	de	que
Jesus,	Deus	que	se	fez	Homem,	veio	habitar	entre	nós	não	brotou
da	imaginação	humana:	é	um	acontecimento	histórico.	Portanto,
o	cristianismo	é	uma	verdade	revelada	pelo	próprio	Deus.
“Deus	apenas	criou	o	bem	e	o	caminho	correto…”
Perfeito!	Mas	 o	 que	 é	 o	 bem?	Qual	 é	 o	 caminho	 certo?	Muitas
vezes,	as	pessoas	se	sentem	perdidas	e	fazem	o	mal	convictas	de
estarem	 praticando	 o	 bem.	 E	 uma	multidão	 segue	 pela	 via	 do
erro,	crente	que	está	indo	pelo	lado	certo.	Mas	qual	é	o	caminho
correto?
Tenho	uma	amiga,	 por	 exemplo,	 que	 optou	pelo	 aborto.	 Ela
achava	 que	 esse	 era	 o	 caminho	 correto.	 Antes	 de	 realizar	 o
“serviço”,	porém,	o	aborteiro	solicitou	uma	ultrassonografia.	Foi
então	 que	 minha	 amiga	 viu	 aquelas	 perninhas	 e	 aqueles
bracinhos	 se	 mexendo…	 Caramba,	 era	 mesmo	 um	 bebê!	 E	 ela
desistiu	 de	 matar	 sua	 filha.	 Mas	 havia	 estado	 a	 um	 triz	 de
cometer	essa	atrocidade.	Infelizmente,	nem	todas	voltam	atrás.
Muitas	mulheres	optam	pela	via	do	erro,	acreditando	que	estão
fazendo	o	melhor.
Todos	nós	sabemos	que	não	é	fácil	reconhecer	e	seguir	o	bem.
Muitas	vezes	confundimos	o	mal	com	o	bem	e	não	sabemos	qual
é	 o	 caminho	 correto,	 a	 não	 ser	 que	Deus	 o	 aponte	 de	maneira
clara	 e	 inequívoca.	 Para	 nos	 ajudar	 nisso,	 Deus	 se	 fez	 nosso
companheiro,	um	homem	de	carne	e	osso.	Jesus	disse:	“Eu	sou	o
Caminho,	a	Verdade	e	a	Vida”	(Jo	14,	6).	E	assim	tudo	ficou	mais
simples!	 Basta	 olhar	 para	 esse	 homem,	 ouvir	 Suas	 palavras,
permanecer	com	Ele.
E	essa	companhia	de	Deus	permaneceu	ao	 longo	da	história
na	 forma	 da	 Igreja.	 O	 Senhor	 escolheu	 alguns	 homens,	 os
apóstolos,	e	deu-lhes	a	missão	de	anunciar	a	Sua	mensagem	a
todos	os	povos.	A	 Igreja	Católica	Apostólica	Romana	que	existe
hoje	 é	 a	 continuidade	da	missão	dos	apóstolos,	de	modo	que	o
Evangelho	ilumine	todas	as	gerações.	Por	meio	dela,	o	amor	de
Jesus	 nos	 alcança	 hoje	 da	 mesma	 forma	 como	 alcançou	 os
discípulos	há	dois	mil	anos.
Sem	 uma	 religião,	 estamos	 seguindo	 e	 adorando	 a	 nós
mesmos.	Essa	é	a	corrente	de	pensamento	que	está	em	voga	no
momento.	Idolatramos	a	nossa	tosca	capacidade	de	decidir	o	que
é	melhor	para	a	nossa	vida,	sem	precisar	de	profetas,	revelações
ou	 ensinamentos.	 “Somos	 muito	 espertos!	 Podemos	 chegar	 à
verdade	sozinhos	e	não	precisamos	ser	doutrinados!”
“Deus	nos	deu	o	livre-arbítrio	para	decidirmos	sobre	o	rumo	de
nossa	vida.”
Sim,	 é	 claro.	 E	 Ele	 também	 nos	 enviou	 o	 Seu	 Filho	 para	 nos
ensinar	a	usar	bem	o	nosso	livre-arbítrio	e	a	decidir	pelo	bem	e
rejeitar	o	mal.	Afinal,	quem	insiste	em	abusar	da	sua	 liberdade
jamais	alcançará	a	paz	interior.	E	muito	menos	poderá	contribuir
para	a	paz	no	mundo.
Temos	 liberdade	 para	 escolher,	 e	 Deus	 nos	 convida	 a	 optar
pelo	caminho	certo:	seguir	a	Jesus	por	meio	da	Sua	Igreja!
POR	QUE	EXISTE	O	SOFRIMENTO?
“Muitas	 crianças	 foram	 abandonadas	 por	 seus	 pais.	 Muitas
foram	 vítimas	 de	 coisas	 terríveis,	 como	 drogas	 e	 prostituição.
Por	 que	Deus	permite	 que	 essas	 coisas	 aconteçam?”	Essa	 foi	 a
pergunta	que	Glyzelle	Palomar,	uma	menina	de	doze	 anos,	 fez
ao	Papa	Francisco	durante	um	encontro	do	pontífice	com	jovens
filipinos	 em	 Manila.	 Comovido,	 o	 papa	 observou:	 “Ela	 fez	 a
única	 pergunta	 que	 não	 tem	 resposta”.[3]	 E	 não	 lhe	 vieram	 as
palavras.	Teve	de	responder	com	lágrimas.
A	 origem	 do	 mal	 foi	 revelada	 nas	 Escrituras:	 o	 primeiro
casal,	 abusando	 da	 sua	 liberdade,	 cometeu	 o	 pecado	 original	 e
abriu	as	portas	do	mundo	para	o	mal,	para	o	sofrimento	e	para	a
morte.	Porém,	a	razão	de	um	sofrimento	específico	é	sempre	um
mistério	(e	a	doutrina	do	carma	é	ilógica,	como	você	poderá	ver
mais	 para	 a	 frente).	 Por	 isso,	 o	 papa	 disse	 à	 menina:	 “[…]	 o
núcleo	da	tua	pergunta	quase	não	tem	resposta.	Somente	quando
formos	capazes	de	chorar	sobre	as	coisas	que	vós	vivestes	é	que
poderemos	compreender	qualquer	coisa	e	dar	alguma	resposta”.
Sim,	 Papa	 Francisco!	 Quando	 temos	 piedade	 do	 próximo,
damos	 o	 primeiro	 passo	 para	 nos	 colocarmos	 adequadamente
diante	 do	 problema	 do	 sofrimento.	 É	 a	 compaixão,	 ou	 seja,	 a
capacidade	de	se	colocar	no	lugar	do	outro	e	se	condoer	do	seu
sofrimento.	E	Cristo	compreendeu	tão	bem	os	dramas	humanos
que,	muitas	vezes,	comoveu-se	até	a	alma	e	chorou	diante	deles.
Portanto,	 o	 segundo	 passo	 é	 contemplar	 o	 fato	 de	 que	 Deus
chora	 conosco.	 Um	 Deus	 que	 se	 compadece	 de	 nossos
sofrimentos!	Um	Deus	que	se	aflige	e	chora	por	nós!	O	Catecismo
da	Igreja[4]	diz	que	a	razão	pela	qual	Deus	permite	que	Satanás
continue	 a	 agir	 no	 mundo,	 tema	 central	 do	 livro	 de	 Jó,	 é	 um
mistério.	Mas	nós	sabemos	o	essencial:	Deus	nos	ama	e	trabalha
para	o	nosso	bem.
O	terceiro	passo	diante	do	sofrimento	é	deixar-se	amar	por
Deus.	 Não	 é	 fácil,	 porque	 muitas	 vezes	 insistimos	 em	 nos
concentrar	 no	 sofrimento.	 Revoltadas	 e	 blasfemando	 contra
Deus,	 chamando-o	 de	 injusto	 e	 tirano,	 as	 pessoas	 deixam	 de
fazer	o	mais	importante:	olhar	para	a	cruz.	Nela	está	a	beleza	e	a
null
“loucura”	de	um	Deus	que	compartilhou	o	sofrimento	humano
até	o	extremo	da	humilhação	e	da	dor.
Quando	 Cristo	 diz	 “Meu	 Deus,	 meu	 Deus,	 por	 que	 me
abandonaste?”,[5]	 ele	 se	 identifica	 profundamente	 com	 os
questionamentos	 aflitos	 de	 todo	 inocente	 que	 sofre,	 mas,	 ao
mesmo	 tempo	 que	 pergunta,	 Cristo	 responde	 da	 forma	 mais
satisfatória	 possível,	 com	 Sua	 entrega	 de	 amor.	 E	 esse	 amor	 é
mais	 forte	do	que	o	 sofrimento.[6]	Também	o	Salmo	21,	que	se
inicia	 com	 o	 grito	 de	 um	 homem	 aflito,	 termina	 com	 uma
mensagem	de	sólida	esperança	no	Deus	que	socorre	o	Seu	povo.
Jesus,	 Deus	 feito	 homem,	 tendo	 entregado	 o	 espírito	 nas
mãos	do	Pai,	levantou-se	do	túmulo	no	terceiro	dia.	Ele	venceu	o
mal	e	a	morte!	Com	Seu	corpo,	Ele	nos	comunica	a	Sua	doutrina,
ensinando-nos	que	já	não	sofremos	sozinhos	nem	sofremos	em
vão.	Sim,	estamos	em	meio	à	guerra	contra	o	mal	e	penamos	por
isso,	mas	a	vitória	é	certa,	pois	Cristo	está	vivo	e	impera.	No	fim
dos	 tempos,	 Cristo	 virá	 não	 mais	 como	 um	 humilde	 servidor,
mas	 sim	 como	 imperador	 e	 juiz.	 E	 então	 veremos	 que	 já	 não
haverá	 lugar	 para	 a	 maldade	 na	 Terra	 e	 “Ele	 enxugará	 toda
lágrima	dos	seus	olhos”	(Apo	21,	4).
Há	um	episódio	da	série	de	super-heróis	X-Men	em	que	um
monge	 mutante	 dialoga	 com	 Wolverine,	 um	 típico	 ateu,	 que,
revoltado	 com	 injustiças	 e	maldades,	 renega	 a	possibilidade	da
existência	 de	 um	 Deus	 bondoso.	 Porém,	 o	 testemunho	 de	 um
religioso	cristão	o	leva	a	ver	as	coisas	com	outros	olhos.	“Nossa
habilidade	 de	 entender	 os	 propósitos	 de	Deus	 é	 limitada,	mas
nos	consolamos	com	o	fato	de	que	Seu	amor	é	 infinito”,	diz	o
monge	mutante.[7]
A	 conversão	 de	Wolverine	 lembra	 um	 episódio	 que	 o	 padre
Luigi	 Giussani	 narrou	 em	 seu	 livro	 O	 senso	 religioso,	 contando
que	 um	 jovem,	 na	 confissão,	 disse-lhe	 que	 para	 ele	 o	 ideal
humano	era	 representado	por	Capâneo,	personagem	citado	por
Dante	em	A	divina	comédia.	Capâneo	é	acorrentado	pelos	deuses,
mas	 eles	 não	 podem	 impedi-lo	 de	 blasfemar.	 Giussani,	 então,
lhe	perguntou:	“Mas	não	é	ainda	maior	amar	o	infinito?”[8]
A	pergunta	da	jovem	Glyzelle	também	foi	feita	por	Bento	XVI
em	 sua	 visita	 ao	 campo	 de	 concentração	 de	 Auschwitz,	 em
2006,	 onde	mais	 de	 um	milhão	 de	 judeus	 foram	 exterminados
pelos	nazistas.
“Num	lugar	como	esse	faltam	palavras.	No	fundo,	pode	permanecer
apenas	urn	silêncio	aterrorizado,	urn	silêncio	que	é	urn	grito	interior	a
Deus:	Senhor,	por	que	silenciaste?	Por	que	toleraste	tudo	isso?”
Bento	XVI
Em	 sua	 genial	 reflexão,	 o	 papa	 disse	 que	 os	 homens	 que
pretendem	 agir	 como	 juízes	 de	 Deus	 apenas	 contribuem	 ainda
mais	para	a	destruição	do	humano.	A	postura	mais	justa	é	aquela
do	 homem	 que	 eleva	 um	 grito	 humilde	 e	 insistente	 para	 que
Deus	 quebre	 o	 silêncio	 e	 se	manifeste,	 “Pois	 todo	 o	 quepede,
recebe;	o	que	busca,	acha;	e	ao	que	bate,	se	abrirá”	(Lc	11,	 10).
Em	seu	discurso,	o	papa	disse:
Quantas	 perguntas	 surgem	neste	 lugar!	 Sobressaem	 sempre
as	 perguntas	 “Onde	 estava	 Deus	 naqueles	 dias?”,	 “Por	 que
Ele	 silenciou?”,	 “Como	 pôde	 tolerar	 este	 excesso	 de
destruição,	 este	 triunfo	 do	 mal?”	 […]	 Nós	 não	 podemos
perscrutar	 o	 segredo	 de	 Deus.	 Vemos	 apenas	 fragmentos	 e
enganamo-nos	 se	 pretendemos	 eleger-nos	 juízes	 de	Deus	 e
da	 história.	 Não	 defenderemos,	 nesse	 caso,	 o	 homem,	 mas
contribuiremos	 apenas	 para	 a	 sua	 destruição.	 Não,	 em
definitivo:	devemos	elevar	um	grito	humilde,	mas	insistente
a	Deus:	Desperta!	Não	te	esqueças	da	tua	criatura,	o	homem!
E	 o	 nosso	 grito	 a	Deus	 deve	 ao	mesmo	 tempo	 ser	 um	grito
que	 penetre	 o	 nosso	 próprio	 coração,	 para	 que	 desperte	 em
nós	a	presença	escondida	de	Deus	[…]	(Bento	XVI)[9]
Mais	 tarde,	 enquanto	 Bento	 XVI	 rezava	 diante	 do	memorial
das	vítimas	de	Auschwitz,	de	forma	suave,	poética	e	gentil,	o	Pai
de	Bondade	quebrou	Seu	silêncio	e	enviou	um	sinal:	em	meio	a
tanta	 feiura,	 por	 trás	 daquele	 cenário	 todo	 cinza	 e	 tão	 triste,
surgiu	um	belíssimo	arco-íris.[10]
Sim,	Deus	se	manifesta	de	forma	poderosa	na	vida	de	quem	O
invoca.	Não	é	à	toa	que	a	esperança,	mesmo	em	meio	ao	caos,	é
um	dos	traços	mais	fascinantes	da	humanidade.
POR	QUE	NASCEM	PESSOAS	DEFICIENTES?
Stevie	Wonder	ficou	cego	quando	ainda	era	bebê.	Você	acha	que
ele	é	mais	“sofrido”	ou	tem	menos	possibilidade	de	ser	feliz	do
que	uma	pessoa	que	enxerga?
•
•
•
Ao	ver	uma	pessoa	deficiente,	muitos	se	perguntam	por	que
alguns	nascem	deficientes	e	outros	nascem	“perfeitos”.	 Ainda
que	a	maioria	das	pessoas	não	 tenha	coragem	de	assumir	 isso,
no	 fundo	 dessa	 pergunta	 está	 a	 crença	 de	 que	 uma	 pessoa
deficiente	 tem	menos	potencial	 para	 se	 realizar,	 para	 ser	 feliz,
do	que	uma	pessoa	“normal”.	Será?
Para	 compreendermos	 essa	 questão,	 é	 necessário,
primeiramente,	nos	darmos	conta	de	um	problema	anterior:	por
causa	do	pecado	original,	nossa	alma	e	nosso	corpo	não	estão	de
acordo	com	o	plano	de	Deus	ao	criar	os	homens.	Tudo	tende	a	se
corromper,	tudo	está	fora	do	lugar,	tudo	decai.	Feridos	por	essa
mancha,	 todos	 nós	 nascemos	 com	 deficiências	 e	 limitações,
sejam	 elas	 de	 ordem	 física,	 psicológica,	 emocional,	 econômica
ou	outra.
Se	entendermos	isso,	veremos	que	o	leque	de	perguntas	deve
ser	ampliado:
Por	que	alguns	filhos	são	gerados	por	pais	que	se	amam	e
se	respeitam	enquanto	outros	são	recebidos	neste	mundo
por	um	casal	em	crise	e	amargurado?
Por	que	alguns	filhos	nascem	em	um	lar	onde	há	fartura
enquanto	outros	nascem	em	uma	família	miserável?
Por	que	alguns	filhos	nascem	amados	pelo	pai	e	pela	mãe
enquanto	 outros	 nascem	 rejeitados	 por	 um	 deles	 ou	 por
ambos?
Uma	 deficiência	 física	 ou	 intelectual	 de	 um	 recém-nascido
nos	 abala	 de	 modo	 especial	 porque	 torna	 evidente	 aos	 nossos
olhos	algumas	das	dificuldades	que	aquela	criança	terá	na	vida,
mas	 uma	 criança	 “normal”	 também	 nasce	 com	 uma	 série	 de
deficiências	 que	não	 chama	 tanto	 a	nossa	 atenção	por	não	 ser
tão	 explícita.	 São	 limitações	 internas	 ou	 relativas	 ao	 ambiente
social	e	familiar,	porém	não	menos	dramáticas.
Vamos	 partir	 de	 um	 exemplo	 concreto:	 Marilyn	 Monroe,
ícone	pop	e	uma	das	maiores	estrelas	do	cinema,	 tinha	beleza,
sensualidade,	talento,	glamour	e	sucesso,	mas	o	que	pouca	gente
sabe	 é	 que	 ela	 sofria	 as	 consequências	 de	 suas	 graves
deficiências	familiares.	Ela	jamais	conheceu	o	pai	e	sua	mãe	foi
internada	em	um	hospício	quando	ela	ainda	era	muito	pequena.
Apesar	de	 ter	pais	vivos,	a	menina	era,	na	prática,	uma	órfã,	e
passou	 boa	 parte	 da	 infância	 em	 casas	 de	 parentes	 e	 em
orfanatos.	 Foi	 abusada	 sexualmente	 por	 vários	 anos	 de	 sua
infância.	Então,	apesar	de	ser	fisicamente	“perfeita”,	ela	nasceu
emocionalmente	mutilada,	 sem	 o	 amor	 e	 a	 presença	 do	 pai	 e,
logo	depois,	sem	os	cuidados	da	mãe.	Quem	poderá	dizer	que	o
“fardo”	do	seu	desamparo	—	que	a	expôs	a	sabe-se	lá	quantas
dores	e	humilhações	ao	longo	de	toda	a	sua	vida	—	é	menor	do
que	o	de	uma	criança	que	nasce	com	alguma	deficiência	física	ou
intelectual?	 Quem	 poderá	 vislumbrar	 e	 medir	 a	 grandeza	 dos
obstáculos	que	se	apresentam	diante	de	cada	pessoa	assim	que
ela	nasce?
Os	 deficientes	 físicos	 ou	 intelectuais	 precisam	 que	 a
sociedade	 olhe	 para	 suas	 limitações	 de	 forma	 objetiva	 e	 sem
pieguice:	 eles	 têm	 necessidade	 de	 atendimento	 médico
especializado,	cultura,	educação,	lazer	e	acessibilidade	nas	ruas,
nos	meios	de	transporte,	no	comércio	etc.	Mas…	ter	pena?	Como
diziam	 meus	 sábios	 amiguinhos	 do	 jardim	 de	 infância,	 quem
tem	pena	é	galinha!
Assim,	 não	 é	 realista	 ver	 o	 deficiente	 físico	 ou	 intelectual
como	 um	 coitado	 que	 sofre	 mais	 do	 que	 os	 outros.	 Filhos	 de
Adão	 e	 Eva,	 coitados	 somos	 todos	 nós,	 que	 já	 nascemos
destinados	a	morrer.	Cada	indivíduo	carrega	as	suas	mazelas,	as
suas	frustrações,	os	seus	traumas…	e	cada	um	sabe	onde	o	seu
calo	aperta.
A	 ideia	de	que	deficientes	físicos	ou	 intelectuais	são	pessoas
potencialmente	infelizes	resulta,	muitas	vezes,	no	preconceito	e
na	segregação	dessas	pessoas	dentro	da	sociedade.	Em	um	nível
mais	crítico	de	rejeição,	muitos	chegam	até	mesmo	a	pensar	que
seria	melhor	que	pessoas	deficientes	nem	chegassem	a	nascer.	E
isso	 explica	por	que	mais	de	noventa	por	 cento	dos	 fetos	 com
diagnóstico	 de	 síndrome	 de	 Down	 são	 abortados	 na	 Europa	 e
nos	Estados	Unidos.
Assim	 como	 todos	nós	 somos	“coitados”,	 do	ponto	de	 vista
das	 nossas	 chagas	 de	 diversas	 naturezas,	 também	 todos	 nós
somos	 imensamente	abençoados.	Temos	motivos	de	sobra	para
ter	esperanças	e	sorrir!	Há	dois	mil	anos,	Deus	se	encarnou	no
ventre	de	uma	Virgem	e	se	fez	menino.	Ele	se	dignou	a	descer	de
Sua	 glória	 nos	 Céus,	 vir	 até	 nós,	 olhar	 nos	 nossos	 olhos	 e
ensinar-nos	o	caminho	para	a	verdadeira	vida.	Ele	nos	amou	a
ponto	de	se	entregar	por	nós.
Então,	seja	como	cadeirantes	ou	“andantes”,	pobres	ou	ricos,
tendo	 sido	 crianças	 amadas	 ou	 negligenciadas,	 podemos
caminhar	 com	 Jesus	 e	 nos	 tornar	 pessoas	 melhores	 com	 o
null
tempo,	 buscando	 amar	 como	 Ele	 amou,	 gozar	 do	 “cêntuplo”
ainda	nesta	vida	e,	no	fim,	partilhar	de	sua	eterna	vitória.	Somos
muito	mais	do	que	infelizes	filhos	de	Eva:	somos	filhos	da	doce	e
poderosa	Virgem	Maria!
POR	QUE	DEUS	ERA	TÃO	DURO	NO	ANTIGO
TESTAMENTO?
O	Deus	do	Antigo	Testamento	gostava	de	castigar?
Dilúvio,	grandes	pragas,	anjos	exterminadores,	cidades	 inteiras
destruídas,	 apedrejamentos…	 Ao	 considerar	 certas	 passagens
sangrentas	do	Antigo	Testamento,	muita	gente	tem	a	impressão
de	estar	vendo	um	filme	do	Tarantino.	E	o	que	não	falta	é	cristão
achando	 que	 o	 Deus	 do	 Antigo	 Testamento	 era	 cruel	 e	 rígido
demais	e	que	somente	mostrou	a	Sua	face	de	amor	e	de	bondade
no	Novo	Testamento.
Entretanto,	essa	impressão	pode	ser	desfeita	se	observarmos
o	 Antigo	 Testamento	 na	 sua	 globalidade.	 Basta	 um	 pouco	 de
atenção	 para	 perceber	 a	 afeição	 e	 a	 doçura	 de	Deus	 em	 toda	 a
null
Bíblia	e	a	sua	profunda	dor	diante	da	maldade	dos	homens.	Deus
não	sente	nenhum	prazer	em	punir	seus	filhos,	e,	quando	envia
sofrimentos,	seu	objetivo	é	a	conversão	ou	a	necessidade	urgente
de	 cessar	 o	 mal.	 Podemos	 ver	 isso	 em	 Ezequiel,	 que	 diz
“Porventura	tenho	eu	prazer	na	morte	do	ímpio?	—	oráculo	do
Senhor	 Iahweh.	—	 Por-ventura	 não	 alcançará	 ele	 a	 vida	 se	 se
converter	 de	 seus	 maus	 caminhos?”	 (Ez	 18,	 23)	 e	 em	 Oseias,
quando	 diz	 “Meu	 povo	 está	 obstinado	 em	 sua	 apostasia.
Chamam-no	do	alto,	mas	ninguém	se	levanta!	[…]	Meu	coração
se	contorce	dentro	de	mim,	minhas	entranhas	comovem-se.	Não
executarei	o	ardor	de	minha	ira,	não	tornarei	a	destruir	Efraim,
porque	eu	sou	Deus	e	não	um	homem,	eu	sou	santo	no	meio	de
ti,	não	retornarei	com	furor”	(Os	11,	7-9).
E	 quando	 o	 povo,	 ao	 passarpor	 um	 mau	 momento,
murmurou	 contra	Deus,	 Ele	 rebateu	 que	 a	 desgraça	 dos	maus,
antes	de	ser	fruto	da	ira	divina,	é	a	consequência	natural	de	suas
más	ações	(Ez	18,	25-26).
O	Deus	do	Antigo	Testamento	não	tinha	misericórdia?
É	uma	enorme	calúnia	dizer	que	o	Deus	do	Antigo	Testamento
era	 implacável.	 Dar	 mais	 colher	 de	 chá	 do	 que	 Ele	 dava,
impossível!	 Por	 diver-sas	 vezes,	 Ele	 perdoou	 pessoas	 e
populações	 inteiras	 que	 estavam	 destinadas	 à	 destruição	 por
causa	de	seus	pecados.
Quando	 Moisés	 ainda	 estava	 no	 alto	 do	 Monte	 Sinai,
recebendo	 as	 tábuas	 da	 Lei,	 por	 exemplo,	 o	 Senhor	 viu	 que	 o
null
povo	estava	adorando	o	bezerro	de	ouro.	Então,	resolveu	destruir
a	todos	e	poupar	somente	a	Moisés	e	sua	tribo.	Moisés,	porém,
convenceu-O	a	perdoá-los,	“Iahweh,	então,	desistiu	do	castigo
com	 o	 qual	 havia	 ameaçado	 o	 povo”	 (Ex	 32,	 14).	 Em	 outro
exemplo,	o	profeta	Jonas	profetizou	que	a	cidade	de	Nínive	seria
em	pouco	 tempo	aniquilada,	mas,	vendo	como	os	ninivitas	“se
converteram	de	seu	caminho	perverso,	e	Deus	arrependeu-se	do
mal	que	ameaçara	fazer-lhes	e	não	fez”	(Jn	3,	10).
Outra	ocasião,	em	que	Deus	decide	passar	o	rodo	nas	cidades
de	 Sodoma	 e	 Gomorra,	 é	 bastante	 interessante.	 Ao	 saber	 dos
planos	 do	 Senhor,	 Abraão,	 respeitosamente,	 questionou	 a
razoabilidade	daquela	ação:
“Talvez	 haja	 cinquenta	 justos	 na	 cidade.	 Destruirás	 e	 não
perdoarás	 à	 cidade	pelos	 cinquenta	 justos	 que	 estão	 em	 seu
seio?	Longe	de	ti	fazeres	tal	coisa:	fazer	morrer	o	justo	com	o
pecador,	 de	modo	 que	 o	 justo	 seja	 tratado	 como	 o	 pecador!
Longe	de	ti!	Não	fará	justiça	o	juiz	de	toda	a	terra?”	Iahweh
respondeu:	“Se	eu	encontrar	em	Sodoma	cinquenta	justos	na
cidade,	perdoarei	toda	a	cidade	por	causa	deles”.	(Gn	18,	24-
26)
E	o	diálogo	prosseguiu.	Abraão	foi	diminuindo	cada	vez	mais
o	 número	 de	 possíveis	 justos	 (“Talvez	 só	 existam	 quarenta?”
“Talvez	se	encontrem	vinte?”).	Por	fim,	Abraão	replicou:	“‘Que
meu	 Senhor	 não	 se	 irrite	 e	 falarei	 uma	 última	 vez:	 talvez	 se
encontrem	dez.	E	ele	respondeu:	‘Não	destruirei,	por	causa	dos
dez’”	(Gn	18,	32).
O	problema	é	que	o	total	de	gente	que	prestava	em	Sodoma	e
Gomorra	não	chegava	à	soma	dos	dedos	das	mãos.	E	aí	não	teve
jeito…	 Deus	 mandou	 fogo	 na	 cidade.	 O	 que	 muitos	 não
conseguem	 ver	 é	 que	 este	 foi,	 efetivamente,	 um	 ato	 de
misericórdia,	 pois	 numerosos	 viajantes	 incautos	 passavam	 por
aquela	 cidade	 e	 eram	 simplesmente	 estuprados,	 sem	 dó.	 Fazia
parte	 da	 “cultura	 local”.	 Destruindo	 aquela	 cidade,	 Deus
impediu	 que	 mais	 crianças	 crescessem	 naquele	 meio
abominável,	aprendendo	a	repetir	os	mesmos	erros,	e	que	outros
estrangeiros	fossem	violentados.
Outra	coisa	importante	é	que	Deus	nunca	entrega	uma	pessoa
ou	 um	 povo	 à	 desgraça	 sem	 antes	 ter	 avisado	 —	 e	 avisado
muuuuito	—,	na	esperança	de	que	se	arrependa	e	se	emende:
Iahweh,	 Deus	 de	 seus	 pais,	 enviou-lhes	 sem	 cessar
mensageiros,	 pois	 queria	 poupar	 seu	 povo	 e	 sua	 Habitação.
Mas	eles	zombavam	dos	enviados	de	Deus,	desprezavam	suas
palavras,	 caçoavam	 dos	 profetas,	 até	 que	 a	 ira	 de	 Iahweh
contra	o	seu	povo	chegou	a	 tal	ponto	que	 já	não	havia	mais
remédio.	(II	Cr	36,	15-16)
Os	apedrejamentos	previstos	na	Lei	Mosaica
Tá,	e	o	festival	de	apedrejamentos	ordenados	por	Moisés?	Bem,
tente	se	 transportar	para	aquela	época.	O	povo	recém-saído	do
Egito	tinha	alguns	hábitos	nada	legais,	como	sacrificar	crianças
para	 agradar	 aos	 deuses,	 fazer	 suruba	 como	 ritual	 de	 culto,
matar	por	qualquer	motivo	pessoas	de	sua	própria	tribo,	torturar
escravos,	 transar	 com	 as	 próprias	 filhas	 ou	 irmãs…	 Tem	mais
coisa,	mas	acho	que	já	deu	pra	sentir	o	drama,	não	deu?	Era	esse
pessoal	que	Moisés	precisava	colocar	na	linha.
A	 coisa	 estava	 tão	 feia	 que	 era	 preciso	 um	 “choque	 de
ordem”.	 O	 povo	 estava	 no	 meio	 do	 deserto,	 não	 havia	 como
estabelecer	prisões	para	deter	os	infratores	(só	havia	tendas)	e	a
autoridade	de	Moisés	 era	 vez	por	 outra	 contestada.	A	moral	 se
resumia	 a	 “cada	 um	 por	 si	 e	 deuses	 por	 todos”.	 Nesse	 cenário
punk,	a	punição	por	apedrejamento	foi	a	solução	encontrada	para
consolidar	 o	 respeito	 às	 normas	 mais	 básicas	 da	 dignidade
humana.	Era	isso	ou	o	caos.
Na	ocasião	da	 vinda	de	 Jesus,	 o	povo	 já	 estava	devidamente
“catequizado”	em	relação	à	Lei	de	Deus	e	não	havia	mais	razão
para	aplicar	o	 apedrejamento	dos	 infratores.	O	povo	 já	não	era
mais	 criança	 e	Deus	 agora	 o	 tratava	 como	 adulto.	 A	 pedagogia
divina	estava	numa	nova	etapa,	em	que	o	desafio	era	outro.	Com
as	 leis	 consolidadas	 na	 cultura	 do	 povo,	 faltava	 agora	 fazê-las
vibrar	nos	corações	por	meio	de	uma	adesão	livre	e	amorosa.
Podemos	 notar	 que,	 diante	 da	 mulher	 adúltera	 que	 seria
apedrejada,	 Jesus	 em	 nenhum	 momento	 criticou	 Moisés.	 Ele
simplesmente	superou	a	sua	 lei,	 levando-a	à	perfeição:	“Quem
dentre	vós	estiver	sem	pecado,	seja	o	primeiro	a	lhe	atirar	uma
pedra”	(Jo	8,	7).
Um	Deus	capaz	de	amar	assim…
Por	 falar	em	adultério,	era	 isso	que	o	povo	de	 Israel	 fazia	 toda
vez	que	cultuava	outros	deuses.	Deus	se	comparava	a	um	marido
traído	que	continuamente	perdoa	a	sua	esposa	prostituída.
Eu	 a	 castigarei	 pelos	 dias	 do	 baais,	 aos	 quais	 queimava
incenso.	Enfeitava-se	com	seu	anel	e	seu	colar	e	corria	atrás
de	 seus	 amantes,	 mas	 de	 mim	 ela	 se	 esquecia!	 Oráculo	 de
Iahweh.	Por	isso,	eis	que,	eu	mesmo,	a	seduzirei,	conduzi-la-
ei	 ao	 deserto	 e	 falar-lhe-ei	 ao	 coração.	 […]	 Acontecerá,
naquele	dia	—	oráculo	de	Iahweh	—	que	me	chamarás	“Meu
marido”,	e	não	mais	me	chamarás	“Meu	Baal”.[11]	 […]	Eu	 te
desposarei	 a	mim	 para	 sempre,	 eu	 te	 desposarei	 a	mim	 na
justiça	e	no	direito,	no	amor	e	na	ternura.	(Os	2,	15-21)
Depois	 de	 conhecer	 essas	 palavras,	 como	 ainda	 podemos
pensar	que	o	coração	do	Deus	de	Israel	era	duro?
POR	QUE	O	DEUS	DO	ANTIGO	TESTAMENTO	É	TÃO
DIFERENTE	DE	CRISTO?
Embora	 saibamos	 que	Deus	 sempre	 amou	muito	 os	 homens,	 é
fato	que	ele	parecia	mais	duro	no	Antigo	Testamento.	Então,	 é
comum	 nos	 perguntarmos	 como	 se	 deu	 essa	 mudança	 dos
castigos	dos	tempos	de	Abraão	e	Moisés	para	o	amor	dos	tempos
de	 Cristo	 e	 da	 Igreja.	 A	 verdade	 é	 que	 essa	 mudança,	 embora
pareça	 abrupta,	 faz	 parte	 de	 um	 processo	 pedagógico
absolutamente	genial.
Pra	 começar,	 o	 amor	 sempre	 esteve	 lá,	 o	 que	 mudou	 foi	 a
forma.	 Isso	 tem	 a	 ver	 com	 o	 amadurecimento	 da	 nossa
capacidade	 de	 compreender	 e	 aceitar	 as	 sucessivas	 revelações.
Em	 outras	 palavras,	 Deus	 nos	 ama	 tanto	 que	 se	 revelou	 aos
poucos,	 de	 forma	que	 pudéssemos	 aceitar	 e	 compreender	mais
facilmente.
Imagine-se	 dentro	 da	 mentalidade	 e	 do	 conhecimento	 do
povo	hebreu	na	época	da	escravidão	no	Egito,	quando	os	judeus
viviam	 em	 uma	 barbárie	 quase	 completa.	 Imagine	 agora	 como
seria	 receber	o	Espírito	Santo	e	 fundar	a	 Igreja	nesse	contexto.
Impossível,	 não	 é?	 Claro…	 Nosso	 povo	 precisava	 passar	 pelas
mesmas	etapas	que	qualquer	pessoa	vivencia	no	seu	caminho	de
amadurecimento.
Infância	espiritual
O	 Antigo	 Testamento	mostra	 a	 infância	 do	 povo	 de	 Deus,	 sua
fase	da	imaturidade.	Repare	que	o	Senhor	sempre	se	comunicava
concretamente,	 isto	 é,	 por	meio	 de	encontros	humanos.	Nessa
fase,	 os	 encontros	 eram	 intermediados	pelos	profetas,	 que	não
tinham	 lá	muito	 tino	pra	guiar	um	povo	como	aquele	e	que	 só
conseguiam	fazer	 isso	porque	eram	diretamente	 inspirados	por
Deus	 para	 transmitir	 a	 verdade	 aos	 homens.	 Eles	 não	 ficavam
adivinhando	 o	 futuro	 como	 normalmente	 se	 diz	—	 até	 faziam
isso,	mas	esse	não	era	o	objetivo	da	sua	missão.	Sua	função	era
educar	 o	 povo	 por	 meio	 de	 instruções	 claras,	 sem	 muitas
explicações,	 com	 ameaças	 de	 punições	 para	 os	 rebeldes,
exatamente	como	fazemos	com	crianças.
Quando	uma	 criança	 teima	 em	enfiar	 o	 dedo	na	 tomada,	 os
pais	não	perdem	tempo	explicando	a	ela	sobreo	funcionamento
de	 uma	 corrente	 elétrica.	 Eles	 apenas	 proíbem	 esse
comportamento	e	impõem	um	castigo	em	caso	de	desobediência.
Isso	 acontece	 porque	 é	 necessário	 livrar	 a	 criança	 do	 perigo
imediato,	 mesmo	 que	 ela	 ainda	 não	 tenha	 a	 capacidade	 de
compreender	o	motivo.	Da	mesma	forma,	Deus	queria	o	melhor
para	o	seu	povo	e	cuidava	inclusive	de	sua	saúde	física.	Eles	não
tinham	 conhecimento	 suficiente,	 por	 exemplo,	 para	 entender
sobre	o	perigo	de	vírus,	bactérias	e	micróbios	em	geral.	Por	isso
praticar	princípios	básicos	de	higiene,	como	lavar	as	mãos	antes
das	refeições,	era	impossível!	Então,	ou	era	na	base	da	imposição
ou	não	era…
Adolescência	espiritual
E	chegamos	à	adolescência.	Por	que	somos	tão	chatos	nessa	fase
da	 vida?	 O	 padre	 Luigi	 Giussani	 diz	 que	 levamos	 uma	mochila
nas	 costas	 desde	 que	 nascemos,	 e	 que	 nossos	 pais	 colocam
várias	 coisas	 dentro	 dela,	 acreditando	 que	 serão	 úteis	 para	 a
nossa	 vida.	Mas,	 na	 adolescência,	 não	 queremos	mais	 carregar
tanto	 peso	 sem	 entender	 por	 quê.	 Então,	 tiramos	 tudo	 e
testamos	cada	coisa	pra	saber	se	queremos	mesmo	continuar	a
carregá-las.	E	fazemos	isso	com	a	experiência![12]
O	 que	 um	 jovem	 mais	 diz	 é	 “Eu	 quero	 fazer	 sozinho!”,
“Prefiro	quebrar	a	cara	por	mim	mesmo!”	ou	“Me	deixa	viver	a
minha	vida!”,	mas	diz	isso	porque	precisa	experimentar	e	seguir
adiante.	Precisa	entender	com	sua	própria	razão	e	emoção.
Vendo	 o	 avanço	 do	 povo	 hebreu,	 que	 se	 torna	 mais
disciplinado	 e	 esperançoso,	 preparado	 pelos	 profetas	 para	 a
vinda	do	Messias,	 fica	 evidente	a	nova	estratégia	de	Deus	para
educar	 a	 humanidade.	 Quando	 João	 e	 André	 abordaram	 Jesus,
querendo	 saber	 quem	 Ele	 era,	 a	 resposta	 de	 Cristo	 não	 foi
nenhuma	descrição	de	si	mesmo…	Não	houve	nem	mesmo	uma
breve	explicação.	Ele	disse	simplesmente:	“Vinde	e	vede”	(Jo	1,
39).
Com	Jesus,	o	povo	de	Deus	pôde	aprender	por	meio	da	própria
experiência,	 mas,	 a	 exemplo	 dos	 profetas,	 Cristo	 também
preparou	 o	 povo	 para	 a	 fase	 seguinte.	 Ele	 anunciou	 que	 iria
embora,	mas	enviaria	o	Espírito	Santo.	É	o	início	da	fase	adulta
do	povo	de	Deus.
Maturidade	espiritual
Os	adultos	sabem	o	que	fazer,	mas	não	esquecem	a	sua	origem	e
retornam	a	ela	à	procura	de	apoio	sempre	que	necessário.	Cristo,
antes	 de	 subir	 aos	 Céus	 ressuscitado,	 funda	 a	 sua	 Igreja	 sobre
Pedro	e	estabelece	com	o	grupo	dos	apóstolos	a	forma	definitiva
do	 encontro	 com	 Ele.	 Agora	 nós	 andamos	 com	 as	 nossas
próprias	 pernas,	 mas	 com	 ajuda	 do	 Alto	 e	 guiados	 pelos
legítimos	sucessores	dos	apóstolos.
Novamente,	 chegamos	 a	 Deus	 por	 meio	 de	 encontros
humanos,	mas,	desta	vez,	a	ligação	não	é	por	intermédio	de	um
profeta	ou	de	Jesus	Cristo	em	pessoa:	agora	Deus	se	faz	presente
por	 meio	 de	 Seu	 próprio	 povo!	 Mesmo	 com	 todas	 as	 nossas
fragilidades,	 somos	 o	 rosto	 de	 Cristo	 no	 mundo,	 e	 isso	 só	 é
possível	porque	somos	investidos	pela	força	da	última	revelação
da	 Santíssima	 Trindade,	 o	 Espírito	 Santo.	 Essa	 é	 a	 Igreja
Católica!
E	 chegamos	 até	 aqui.	 Fomos	 capazes	 de	 alcançar	 a
compreensão	 que	 temos	 hoje	 graças	 ao	 genial	 caminho
pedagógico	montado	 por	 Deus	 para	 nos	 trazer	 até	 este	 ponto.
Depois	 da	 fase	 adulta,	 vem	 a	morte	 e	 a	 passagem	 para	 a	 vida
eterna.	Se	você	pensar	bem,	a	profecia	sobre	a	segunda	vinda	de
Cristo	é	a	preparação	para	essa	próxima	etapa.
Sobre	Jesus
JESUS	É	DEUS	OU	SÓ	MAIS	UM	GURU?
Boa	parte	das	pessoas	ao	nosso	redor	não	reconhece	o	Nazareno
como	 aquilo	 que	 Ele	 revelou	 ser:	 Filho	 de	 Deus	 e	 Deus	 Ele
mesmo.	 Há	 uma	multidão	 de	 pessoas	 que	 admiram	 Jesus,	 que
simpatizam	com	seus	ensinamentos,	que	o	consideram	um	fofo,
enfim,	mas	que	não	o	aceitam	como	Deus.
Essas	 pessoas	 não	 se	 dão	 conta	 de	 que	 é	 simplesmente
impossível	considerarmos	que	Jesus	foi	um	homem	respeitável,
digno	 de	 ser	 ouvido,	 se	 não	 crermos	 que	 Ele	 é	Deus.	Não,	 não
estamos	exagerando,	e	vamos	mostrar	por	quê.
Muitos	 dizem	 que	 não	 veem	 Jesus	 como	 Deus,	 mas	 que	 o
admiram	como	um	exemplo	de	humildade.	Sim,	é	verdade,	Jesus
era	 extremamente	 humilde.	 Porém,	 se	 tiver	 um	 mínimo	 de
coerência	 intelectual,	 uma	 pessoa	 que	 não	 o	 reconhece	 como
Deus	 é	 obrigada	 a	 tê-lo	 como	 um	 louco	 ou	 como	 um	 homem
arrogante.	 Afinal,	 não	 dá	 pra	 levar	 a	 sério	 um	 cara	 que,	 não
sendo	Deus,	diz	este	tipo	de	coisa:	“Eu	sou	o	Caminho,	a	Verdade
e	 a	Vida.	Ninguém	vem	ao	Pai	 a	 não	 ser	 por	mim”	 (Jo	 14,	 6),
“Filipe	lhe	diz:	‘Senhor,	mostra-nos	o	Pai	e	isso	nos	basta!’	Diz-
lhe	Jesus:	‘Há	tanto	tempo	estou	convosco	e	tu	não	me	conheces,
Filipe?	Quem	me	vê,	 vê	o	Pai.	 Como	podes	dizer	Mostra-nos	o
Pai?’”	 (Jo	 14,	8-9),	“Vós	me	chamais	Mestre	e	Senhor	e	dizeis
bem,	porque	eu	o	sou”	 (Jo	 13,	 13)	 e	“Eu	 sou	a	 videira	 e	 vós	os
ramos.	Aquele	que	permanece	em	mim	e	eu	nele	produz	muito
fruto;	porque,	sem	mim,	nada	podeis	fazer”	(Jo	15,	5).
Imagine	 encontrar	 na	 rua	 um	homem	 que,	 não	 sendo	Deus
em	 pessoa	—	 ou	 ao	menos	 o	 Chuck	 Norris	—,	 lhe	 diga	 essas
coisas.	 Aposto	 que	 você	 teria	 de	 fazer	 um	 grande	 esforço	 para
segurar	o	riso	(é	o	efeito	Inri	Cristo,	saca?	Nem	ele	mais	se	leva	a
sério!).	 Agora,	 repare	 que	 Jesus	 aceitava	 na	 boa	 que	 seus
discípulos	 o	 cultuassem	 como	 Deus.	 Isso	 fica	 claro	 diante	 de
Tomé:	 “Respondeu-lhe	 Tomé:	Meu	 Senhor	 e	meu	 Deus!	 Jesus
lhe	 disse:	 Porque	 viste,	 creste.	 Felizes	 os	 que	 não	 viram	 e
creram!”	(Jo	20,	28-29).
Quando	ainda	era	bebê,	Jesus	recebeu	a	adoração	dos	três	reis
magos:	 “Ao	 entrar	 na	 casa,	 viram	 o	 menino	 com	 Maria,	 sua
mãe,	 e,	 prostrando-se,	 o	 homenagearam”	 (Mt	 2,	 11).	 E	 veja
como	 era	 grande	 a	 Sua	 pretensão:	 Ele	 afirmava	 ser	 capaz	 de
fazer	 coisas	 que	 só	 um	 Deus	 poderia	 fazer,	 como	 purificar	 as
pessoas	de	seus	pecados	e	dar-lhes	a	vida	eterna.	Vemos	isso	no
Evangelho	 de	 Lucas	 —	 “Por	 essa	 razão,	 eu	 lhe	 digo,	 seus
numerosos	pecados	lhe	serão	perdoados,	porque	ela	demonstrou
muito	amor.	[…]	Em	seguida,	disse	à	mulher:	‘Teus	pecados	são
perdoados’.	Logo	os	convivas	começaram	a	refletir:	‘Quem	é	este
que	até	perdoa	os	pecados?’”	(Lc	7,	47-49)	—	e	no	Evangelho	de
João	—	“Quem	come	a	minha	carne	e	bebe	o	meu	sangue	tem	a
vida	eterna,	e	eu	o	ressuscitarei	no	último	dia”	(Jo	6,	54)	e	“As
minhas	ovelhas	escutam	a	minha	voz,	eu	as	conheço	e	elas	me
seguem;	eu	lhes	dou	a	vida	eterna”	(Jo	10,	27-28).
Ora,	se	um	homem	que	fala	e	age	dessa	forma	não	é	mesmo
Deus,	então	não	passa	de	uma	 figura	patética.	E,	por	mais	que
tenha	 falado	“coisas	bonitas”	e	 tenha	“pregado	o	amor”,	 seria
uma	mera	caricatura	de	guru.	Repito:	Jesus	se	considerava	digno
de	ser	adorado	como	Deus.	A-DO-RA-DO!	E	fazia	questão	de	ser
amado	 acima	 de	 todas	 as	 coisas;	 menos	 do	 que	 isso,	 Ele	 não
aceitava:	“Aquele	que	ama	pai	ou	mãe	mais	do	que	a	mim	não	é
digno	 de	mim.	 E	 aquele	 que	 ama	 filho	 ou	 filha	mais	 do	 que	 a
mim	não	é	digno	de	mim”	(Mt	10,	37).
Sobre	esse	assunto,	C.	S.	Lewis	(autor	de	As	crônicas	de	Nárnia)
escreveu:
Estou	tentando	 impedir	que	alguém	repita	a	rematada	tolice
dita	por	muitos	a	seu	respeito:	“Estou	disposto	a	aceitar	Jesus
como	 um	 grande	 mestre	 da	 moral,	 mas	 não	 aceito	 a	 sua
afirmação	de	ser	Deus”.	Essa	é	a	única	coisa	que	não	devemos
dizer.	Um	homem	que	 fosse	somente	um	homem	e	dissesse
as	 coisas	 que	 Jesus	 disse	 não	 seria	 um	 grande	 mestre	 da
moral.	 Seria	um	 lunático	—	no	mesmo	grau	de	 alguém	que
pretendesse	 ser	 um	 ovo	 cozido	 —	 ou	 então	 o	 diabo	 em
pessoa.	Faça	a	sua	escolha.	Ou	esse	homem	era,	e	é,	o	Filho	de
Deus,	ou	não	passa	de	um	 louco	ou	coisa	pior.	 […]	Mas	que
ninguém	venha,	com	paternal	condescendência,	dizer	que	ele
não	 passava	 de	 um	 grande	 mestre	 humano.	 Ele	 não	 nos
deixou	essa	opção,	e	não	quis	deixá-la.[1]
Diante	de	tudo	o	que	disse	e	fez,	Jesus	não	deixa	a	opção	de
acharmos	 que	 Ele	 é	 simplesmente	 um	 sujeitobacana,	 um
“espírito	iluminado”	ou	algo	assim.	Ou	Deus	ou	nada.	A	quem	é
dada	a	graça	imensa	de	reconhecer	a	Sua	divindade	não	é	mais
possível	relativizar	a	Sua	Palavra:	“Isso	aqui	que	Jesus	falou	me
agrada,	eu	sigo,	ok.	Ah,	não,	nessa	outra	passagem	Ele	foi	muito
radical,	isso	eu	não	vou	levar	em	conta…”	Deus	falou,	tá	falado,
mano!
JESUS	ERA	MESMO	O	MESSIAS?
No	século	I,	muitos	judeus	reconheceram	Jesus	como	o	Messias
prometido	nas	Escrituras.	Tanto	é	que	São	Paulo	era	o	apóstolo
dos	gentios	(cristãos	não	judeus)	enquanto	São	Pedro	pastoreava
os	 cristãos	 judeus.	 Mas	 também	 é	 verdade	 que	 uma	 grande
parcela	 dos	 israelitas	 rejeitou	 Jesus,	 dizendo	 que	 Ele	 não
cumpriu	 as	 profecias	 messiânicas.	 Mas	 será	 que	 Jesus	 não	 se
encaixa	mesmo	no	 perfil	 do	Messias	 traçado	 pelos	 profetas	 da
Torá?	Certamente	que	se	encaixa!
Nós	 sabemos	 que	 os	 hebreus	 deixaram	a	 vida	 de	 escravidão
no	Egito,	atravessaram	o	deserto	e,	décadas	depois,	por	meio	de
campanhas	militares,	 conseguiram	 conquistar	 os	 territórios	 da
Terra	 Prometida.	 A	 libertação	 do	 povo	 não	 foi	 somente	 física,
mas	sobretudo	espiritual,	porém	a	libertação	perfeita	e	definitiva
só	viria	com	o	Messias.
O	 problema	 é	 que	 o	 povo	 imaginava	 muito	 mais	 uma
libertação	 política	 do	 que	 espiritual.	 Os	 judeus	 sabiam	 que	 o
Messias	 seria	 descendente	 de	 Davi,	 que	 foi	 um	 rei	 guerreiro.
Então,	 era	 natural	 que	 o	 imaginassem	 como	 um	 Rambo	 com
sangue	nos	zoio.	Tal	expectativa	cresceu	especialmente	na	época
que	antecedeu	a	vinda	de	Jesus,	quando	o	território	de	Israel	era
dominado	 pelo	 Império	 Romano.	 Nesse	 momento,	 os	 judeus
esperavam	 que	 o	 Messias	 viesse	 e	 liderasse	 uma	 revolta,
chutando	os	lacaios	de	César	pra	bem	longe.
Inicialmente,	uma	multidão	de	judeus	achou	que	Jesus	era	O
cara.	 Depois	 que	 O	 viram	 multiplicar	 os	 pães	 e	 os	 peixes,
quiseram	aclamá-lo	como	rei,	mas,	em	vez	de	 ficar	 lisonjeado,
Ele	deu	o	toco	em	geral:	“Em	verdade,	em	verdade	vos	digo:	vós
me	 procurais,	 não	 porque	 vistes	 sinais,	 mas	 porque	 comestes
dos	 pães	 e	 vos	 saciastes.	 Trabalhai,	 não	 pelo	 alimento	 que	 se
perde,	 mas	 pelo	 alimento	 que	 permanece	 até	 a	 vida	 eterna,
alimento	 que	 o	 Filho	 do	Homem	 vos	 dará,	 pois	 Deus,	 o	 Pai,	 o
marcou	com	seu	selo”	(Jo	6,	26-27).
Para	 completar,	 Jesus	 veio	 com	 a	 estranha	 história	 de	 que
teriam	 de	 comer	 da	 Sua	 carne	 e	 beber	 do	 Seu	 sangue.	 Depois
dessa,	 quem	 dois	minutos	 antes	 estava	 gritando	 “É	 o	 rei!	 É	 o
rei!”	passou	a	fazer	cara	de	nojinho	e	a	considerá-lo	tantã.
Sim,	Jesus	é	rei.	Mas	Seu	reino	não	é	deste	mundo:	“Se	meu
reino	 fosse	 deste	mundo,	meus	 súditos	 teriam	 combatido	 para
que	 eu	 não	 fosse	 entregue	 aos	 judeus.	 Mas	 meu	 reino	 não	 é
daqui”	(Jo	18,	36).	Em	Jerusalém,	Cristo	entrou	pelos	portões	da
cidade	em	meio	a	uma	multidão	em	delírio,	que	O	louvava	como
o	 Enviado	 de	 Deus.	 Porém,	 Ele	 bem	 sabia	 que	 quase	 todos
aqueles,	quando	o	vissem	preso	e	espancado,	perderiam	a	fé.
A	 decepção	 do	 povo	 foi	 grande.	 Jesus	 não	 era	 o	 líder
triunfante	 que	 eles	 almejavam,	 era	 só	 um	 pobre	 crucificado.	 E
rapidamente	Seus	milagres	e	Suas	palavras,	que	haviam	rasgado
o	 coração	 de	 todos	 e	 dado	 sentido	 à	 vida,	 foram	 esquecidos.
Assim	aconteceu	para	que	se	cumprisse	a	profecia	de	Isaías:
Ele	desprezado	e	abandonado	pelos	homens,	homem	sujeito	à
dor,	 familiarizado	 com	o	 sofrimento,	 como	 pessoa	 de	 quem
todos	 escondem	o	 rosto;	 desprezado,	 não	 fazíamos	nenhum
caso	 dele.	 E,	 no	 entanto,	 eram	 nossos	 sofrimentos	 que	 ele
levava	 sobre	 si,	 nossas	 dores	 que	 ele	 carregava.	 Mas	 nós	 o
tínhamos	 como	 vítima	 do	 castigo,	 ferido	 por	 Deus	 e
humilhado.	 Mas	 ele	 foi	 trespassado	 por	 causa	 das	 nossas
transgressões,	esmagado	por	causa	das	nossas	iniquidades.	O
castigo	que	havia	de	trazer-nos	a	paz,	caiu	sobre	ele,	sim,	por
suas	 feridas	 fomos	 curados.	 […]	 Eis	 por	 que	 lhe	 darei	 um
quinhão	 entre	 as	 multidões;	 com	 os	 fortes	 repartirá	 os
despojos,	 visto	 que	 entregou	 a	 si	 mesmo	 à	 morte	 e	 foi
contado	entre	os	criminosos,	mas	na	verdade	levou	sobre	si	o
pecado	de	muitos	e	pelos	criminosos	 fez	 intercessão.	 (Is	53,
3-5;	12)
Alguns	 judeus	 alegam	 que	 esse	 capítulo	 do	 livro	 do	 profeta
Isaías	não	se	refere	a	Jesus,	mas	sim	ao	povo	de	Israel.	Mas	está
claro	que	não	se	trata	do	povo,	mas	sim	de	alguém	que	morreu
para	 salvar	 este	 povo.	 Está	 aqui	 a	 prova:	 “Após	 detenção	 e
julgamento,	 foi	 preso.	 Dentre	 os	 contemporâneos,	 quem	 se
preocupou	com	o	fato	de	ter	sido	cortado	da	terra	dos	vivos,	de
ter	sido	ferido	pela	transgressão	do	seu	povo”	(Is	53,	8).
É	 interessante	 notar	 que	 Jesus	 não	 foi	 o	 único	 profeta
desprezado	e	morto	em	 Israel.	 Isaías,	por	 exemplo,	 foi	 serrado
ao	 meio	 enquanto	 Jeremias	 foi	 hostilizado	 pelo	 povo	 e
perseguido	até	pelos	seus	parentes[2]	e	o	profeta	Zacarias,	filho
de	Joiada,	morreu	apedrejado	no	pátio	do	templo.
Vamos	analisar	agora,	uma	a	uma,	as	principais	contestações
de	 alguns	 judeus	 à	 crença	 de	 que	 Jesus	 é	 o	Messias	 e	 veremos
que	nenhuma	delas	se	sustenta.
“O	Messias	construirá	o	terceiro	templo	sagrado”
Muitos	 judeus	 alegam	 que	 o	 verdadeiro	 Messias	 construirá
novamente	o	templo	de	Jerusalém.	Enquanto	isso	não	acontece,
eles	 seguem	 rezando	 diante	 das	 ruínas	 do	 Muro	 das
Lamentações.	 Sobre	 isso,	 vejamos	 o	 que	 diz	 o	 livro	 do	 profeta
Ezequiel:	 “Estabelecê-los-ei	 e	 os	 multiplicarei,	 e	 porei	 o	 meu
santuário	no	meio	deles	para	sempre.	A	minha	Habitação	estará
no	meio	deles:	eu	serei	o	seu	Deus	e	eles	serão	o	meu	povo”	(Ez
37,	26-27).
O	 povo,	 naturalmente,	 tende	 a	 imaginar	 um	 novo	 templo
feito	 com	 paredes	 de	 tijolo.	 Entretanto,	 o	 Senhor	 veio	 habitar
entre	 nós.	 Ele	 é	 o	 Emanuel	 (Deus	 conosco).	 O	 santuário	 da
profecia	 é	 Ele	 mesmo,	 o	 ungido,	 Aquele	 que	 carrega	 em	 si	 o
Espírito	 Santo	 em	 plenitude.	 Veja	 que	 Jesus	 se	 referiu	 a	 si
mesmo	 como	 um	 templo:	 “‘Destruí	 este	 santuário,	 e	 em	 três
dias	eu	o	levantarei.’	Disseram-lhe,	então,	os	judeus:	‘Quarenta
e	seis	anos	foram	precisos	para	se	construir	este	santuário,	e	tu
o	 levantarás	 em	 três	 dias?’	 Ele,	 porém,	 falava	 do	 santuário	 de
seu	corpo”	(Jo	2,	19-21).
Portanto,	 Jesus	 cumpriu	 a	 profecia	 de	 Ezequiel,	 porque	 Ele
mesmo	 é	 o	 santuário	 de	 Deus	 que	 permanecerá	 entre	 o	 povo
para	sempre.
“O	Messias	levará	todos	os	judeus	de	volta	a	Israel”
Aqui,	ocorre	outra	interpretação	materialista	das	Escrituras.	A	fé
judaica	é	algo	muito	mais	espiritual	do	que	material,	mas	nem
todos	 conseguem	 enxergar	 isso.	 Quando	 Deus	 diz	 que	 reunirá
todos	 os	 filhos	 de	 Israel,	 fazendo-os	 vir	 de	 todas	 as	 partes	 do
mundo	(Is	43,	5-6	e	Is	11,	12),	está	falando	de	algo	muito	mais
especial	 e	 profundo	 do	 que	 a	mera	 reunião	 de	 pessoas	 em	um
território	físico	nacionalista.
Estar	junto	de	Deus	é	algo	que	ultrapassa	qualquer	fronteira.
Jesus,	 de	 fato,	 cumpre	 essa	 profecia	 ao	 reconciliar	 com	 o	 Pai
todos	os	que	Nele	creem.	Ele	reúne	todos	os	filhos	dispersos	de
Deus	na	comunhão	da	Igreja.
“O	Messias	introduzirá	uma	era	de	paz	mundial”
“Uma	 nação	 não	 levantará	 a	 espada	 contra	 a	 outra,	 nem	 se
aprenderá	mais	a	fazer	guerra”,	disse	Isaías	(Is	2,	4).	Miqueias
também	 fez	 uma	 profecia	 de	 paz:	 “Ele	 julgará	 entre	 povos
numerosos	e	será	o	árbitro	de	nações	poderosas.	Eles	forjarão	de
suas	 espadas	 arados,	 e	 de	 suas	 lanças,	 podadeiras.	 Uma	 nação
não	 levantará	a	espada	contra	outra	nação	e	não	se	prepararão
mais	para	a	guerra”	(Miq	4,	3).
Ora,	essas	são	profecias	sobre	o	fim	dos	tempos,	e	não	sobre
a	 vinda	do	Messias.	 A	 paz	 virá	 após	 a	 grande	 batalha	 contra	 o
mal	descrita	no	Apocalipse.	É	só	ler	esses	capítulos	de	Isaías	e	de
Miqueias	 desde	 o	 início,	 nos	 quais	 fica	 claro	 que	 as	 profecias
falam	dos	últimos	dias.
“O	Messias	curará	todosos	cegos	e	surdos”
No	 livro	 do	 profeta	 Isaías	 (Is	 42),	 o	 Senhor	 diz	 que	 o	Messias
abrirá	 os	 olhos	 dos	 cegos	 e	 libertará	 os	 presos	 e	 os	 que	 vivem
nas	 trevas.	 Mais	 uma	 vez,	 a	 Escritura	 fala	 de	 questões
espirituais,	e	não	meramente	materiais,	pois	a	cegueira	que	será
curada	é	a	da	alma,	e	não	somente	a	dos	olhos.
Deus	diz	claramente	que	o	cego	e	o	surdo	aos	quais	se	refere
não	são	outros	que	não	o	povo	de	Israel,	seu	servo,	que	mesmo
vendo	 muitas	 coisas,	 nada	 percebeu,	 e	 mesmo	 abrindo	 os
ouvidos,	nada	escutou	(Is	42,	19-20).	Além	da	cegueira	espiritual
de	muitos,	 Jesus	também	curou	pessoas	que	não	enxergavam	e
não	ouviam	e	apresentou	essas	obras	como	sinais	aos	discípulos
de	João	Batista	que	estavam	à	espera	do	Messias	(Lc	7,	19-22).
“Com	a	vinda	do	Messias,	todos	crerão	no	Deus	de	Israel”
Essa	 afirmação	 dos	 judeus	 se	 baseia	 em	 Zacarias	 (Zc	 14,	 9).
Segundo	 eles,	 se	 Jesus	 fosse	mesmo	o	Messias,	 a	Terra	 inteira
creria	Nele,	e	não	foi	isso	que	aconteceu.	Ok…	Só	que	dizer	que
essa	 profecia	 de	 Zacarias	 se	 refere	 especificamente	 à	 vinda	 do
Messias	é	forçar	a	barra.
Como	 podem	 dizer	 que	 a	 vinda	 do	Messias	 acabará	 com	 as
guerras	(Is	2,	4)	e,	ao	mesmo	tempo,	levará	a	uma	grande	guerra
de	 Javé	 contra	 todas	 as	nações	 que	 perseguiram	 Israel?	Não	 tá
meio	 furado,	 isso?	 Veja	 que	 o	 citado	 capítulo	 de	 Zacarias
promete	bomba	pra	todo	lado:
Reunirei	todas	as	nações	contra	Jerusalém	para	o	combate;	a
cidade	 será	 tomada,	 as	 casas	 serão	 saqueadas,	 as	mulheres
violentadas;	 a	 metade	 da	 cidade	 sairá	 para	 o	 exílio,	 mas	 o
resto	 do	 povo	 não	 será	 eliminado	 da	 cidade.	 Então	 Iahweh
sairá	e	combaterá	essas	nações,	como	quando	combate	no	dia
da	batalha.	(Zac	14,	2-3)
Então…	 se	 a	 vinda	 do	 Messias	 trará	 a	 paz	 mundial,	 como
explicam	esse	pega	pra	capar	descrito	em	Zacarias?
“Deus	não	pode	assumir	uma	forma	física”
Nós,	católicos,	cremos	que	Jesus	Cristo	é	verdadeiramente	Deus
e	verdadeiramente	Homem.	Porém,	os	judeus	dizem	que	Deus	é
incorpóreo	e,	sendo	assim,	não	pode	nascer	nem	pode	morrer.
Como	assim?	Agora	nós,	reles	seres	humanos,	é	que	diremos
o	 que	 o	 Deus	 Onipotente	 pode	 ou	 não	 fazer?	 Tem	 lógica	 isso?
Certamente	Deus	é	puro	espírito,	mas	 se	Ele	decidisse	 se	 fazer
homem	—	como	de	fato	se	fez	em	Jesus	—,	o	que	O	impediria?
Lembremos	 que	 Ele	 assumiu	 a	 forma	 de	 um	 homem	 e	 lutou
contra	Jacó,	que	afirmou	ter	visto	Deus	“face	a	face”	(Gn	32,	31).
Detalhe:	 não	 há	 qualquer	 linha	 nas	 Escrituras	 que
fundamente	 a	 teoria	de	que	o	Messias	 jamais	 seria	Deus	 e	não
teria	 poderes	 sobrenaturais.	 Na	 verdade,	 a	 Torá	 afirma	 o
contrário!	Em	uma	de	 suas	 visões,	 o	profeta	Daniel	 descreve	o
Messias	com	atributos	divinos	e	humanos:
Eu	 continuava	 contemplando,	 nas	 minhas	 visões	 noturnas,
quando	notei,	vindo	sobre	as	nuvens	do	céu,	um	como	Filho
de	Homem.	Ele	adiantou-se	até	o	Ancião	e	foi	 introduzido	à
sua	presença.	A	ele	foi	outorgado	o	poder,	a	honra	e	o	reino,	e
todos	 os	 povos,	 nações	 e	 línguas	 o	 serviram.	 Seu	 império	 é
império	 eterno	 que	 jamais	 passará,	 e	 seu	 reino	 jamais	 será
destruído.	(Dn	7,	13-14)
Atributos	 divinos:	 “sobre	 as	 nuvens	 do	 céu”,	 “adiantou-se
até	 o	 Ancião”,	 “poder,	 a	 honra	 e	 o	 reino”	 e	 “todos	 os	 povos,
nações	 e	 línguas	 o	 serviram”,	 lembrando-nos	 de	 que	 devemos
servir,	 no	 sentido	 de	 adorar,	 só	 a	 Deus.	 Atributos	 humanos:
apesar	 de	 ser	 de	 natureza	 divina,	 Ele	 tem	 forma	 humana	 e	 é
como	“um	Filho	de	Homem”.
Além	do	mais,	Isaías	também	profetizou	que	o	Messias	seria
humano	—	“um	menino”	—	e	divino	—	“porque	 um	menino
nos	 nasceu,	 um	 filho	 nos	 foi	 dado;	 ele	 recebeu	 o	 poder	 sobre
seus	 ombros,	 e	 lhe	 foi	 dado	 este	 nome:	 Conselheiro-
maravilhoso,	 Deus-forte,	 Pai-para-sempre,	 Príncipe-da-paz”
(Is	9,	5).
“A	Santíssima	Trindade	contradiz	a	teologia	judaica”
Muitos	 judeus	argumentam	que	a	Santíssima	Trindade	“quebra
Deus	 em	 três”.	 Nada	 a	 ver!	 Os	 católicos	 também	 creem
firmemente	 que	 Deus	 é	 um	 só	 e	 afirmam	 que	 “as	 pessoas
divinas	não	dividem	entre	Si	a	divindade	única:	cada	uma	delas	é
Deus	por	inteiro”.[3]
Em	 Gn	 18,	 está	 dito	 que	 o	 Senhor	 (um)	 apareceu	 a	 Abraão
junto	ao	carvalho	de	Mambré.	E,	ao	levantar	os	olhos,	Abraão	viu
três	homens.	Taí:	são	três	pessoas	e	um	só	Senhor.
“Jesus	contradiz	a	Torá”
De	todas	as	acusações	que	fazem	a	Jesus,	essa	é	a	mais	injusta.
Ele,	sendo	Filho	de	Deus,	jamais	poderia	contradizer	as	palavras
de	 Seu	 Pai.	Ele	 veio	 para	 levar	 a	 lei	 à	 plenitude:	 “Não	 penseis
que	vim	revogar	a	Lei	ou	os	Profetas.	Não	vim	revogá-los,	mas
dar-lhes	pleno	cumprimento”	(Mt	5,	17).
Os	acusadores	buscam	apoio	nas	curas	que	Jesus	realizou	em
um	 sábado,	 o	 que	 seria	 pecado.	 Sinceramente…	 Ele	 deveria
deixar	de	fazer	o	bem	ao	cego	e	ao	homem	com	a	mão	atrofiada?
Será	 mesmo	 que	 é	 isso	 que	 Deus	 quis	 dizer	 quando	 mandou
guardar	 o	 sábado?	 O	 próprio	 Jesus	 se	 defende	 da	 acusação	 de
violar	o	sábado,	como	aparece	no	Evangelho	de	Mateus	12,	1-13.
“Jesus	não	pertencia	à	Tribo	de	Judá”
O	Deus	de	Israel	prometeu	que	o	Messias	pertenceria	à	linhagem
da	 tribo	 de	 Judá	 e	 seria	 descendente	 dos	 reis	 Davi	 e	 Salomão.
Certos	 judeus	 dizem	 que	 Jesus,	 não	 tendo	 pai	 humano,	 jamais
poderia	ser	dessa	tribo.
De	 fato,	 a	 linhagem	 dos	 hebreus	 se	 estabelecia	 conforme	 a
tribo	de	seu	pai,	e	não	da	mãe	(Nm	1,	2).	Porém,	apesar	de	Jesus
não	 ser	 filho	 de	 sangue	 de	 São	 José,	 Ele	 o	 era	 pela	 lei.	 Assim,
pertencia	 legitimamente	à	 tribo	de	 Judá	e	era	da	 linhagem	real
de	Salomão,	cumprindo	as	Escrituras.
Porém,	Jesus	não	teria,	por	meio	de	São	José,	direito	ao	trono
de	Davi.	Afinal,	São	 José	era	descendente	de	Salomão	por	meio
do	 rei	 Conias,	 sob	 o	 qual	 recaiu	 uma	maldição,	 pois	 o	 Senhor
determinou	 que	 seus	 descendentes	 jamais	 reinariam	 em	 Israel
(Jr	 22,	 30).	 O	 Messias,	 então,	 jamais	 poderia	 ter	 o	 sangue	 de
Conias.	 E	 aqui	 se	 resolve	 o	 problema:	 de	 fato,	 Jesus	 herdou	 a
linhagem	real	de	Salomão	somente	pela	 lei,	e	não	pelo	sangue.
Ao	 mesmo	 tempo,	 herdou	 a	 linhagem	 sanguínea	 de	 Davi	 por
meio	de	sua	mãe,	Maria.
Eis	 que	 estão	 cumpridas	 as	 Escrituras!	 Jesus	 é	 membro	 da
tribo	de	Judá	e	descendente	de	Salomão	pela	lei	e	é	filho	de	Davi
pelo	sangue.	É,	amigos…	Tem	jeito	não:	JESUS	É	O	MESSIAS.
JESUS	É	SÓ	PAZ	E	AMOR?
Não	 tem	 nada	 mais	 irritante	 do	 que	 ouvir	 que	 não	 temos	 o
direito	 de	 nos	 irritar	 em	hipótese	 alguma	pelo	 simples	 fato	 de
sermos	 cristãos.	 Eis	 alguns	 dos	 pontos	 básicos	 do	 manual	 de
etiqueta	 da	Madame	Lili	 Carola:	 nunca	 levantar	 a	 voz,	 proferir
apenas	palavras	doces	e	jamais	demonstrar	revolta	em	relação	às
atitudes	 alheias.	 Cá	 pra	 nós,	 isso	 tá	 mais	 pra	 ideologia	 paz	 e
amor	de	hippie-maconheiro	do	que	pra	cristianismo.
Muitas	pessoas,	 é	 verdade,	 têm	um	temperamento	 irascível,
são	com	frequência	arrogantes	no	trato	com	os	demais	ou	vivem
de	 mau	 humor.	 Certamente,	 isso	 não	 é	 nada	 bom.	 Mas	 nem
sempre	 a	 irritação	 é	 uma	 coisa	 censurável:	 se	 o	 motivo	 for
justo,	esse	sentimento	pode	ser	uma	expressão	de	virtude.
Basta	 olhar	 para	 o	 exemplo	 de	 Jesus,	 que,	 em	 diversas
passagens	 do	 Evangelho,	 parece	 estar	 cuspindo	 marimbondos.
Sente	só	o	jeito	meigo	com	o	qual	Ele	se	dirigia	aos	fariseus	e	aos
escribas:	 “Ai	 de	 vós,	 escribas	 e	 fariseus,	 hipócritas,	 que
percorreis	o	mar	e	a	terra	para	fazer	um	prosélito,	mas,	quando
conseguis	conquistá-lo,	vós	o	tornais	duas	vezes	mais	digno	da
geena	 do	 que	 vós”	 (Mt	 23,	 15),	 “Sois	 semelhantes	 a	 sepulcros
caiados,	 que	 por	 fora	 parecem	 belos,	 mas	 por	 dentro	 estão
cheios	 de	 ossos	 de	 mortos	 e	 de	 toda	 podridão”	 (Mt	 23,	 27)	 e
“Serpentes!	 Raça	 de	 víboras!	 Como	 haveis	 de	 escapar	 ao
julgamento	da	geena?”	(Mt	23,	33).
Pegou	pesado,	hein,	Mestre…
Há	também	o	famoso	episódioda	expulsão	dos	vendilhões	do
templo.	Em	vez	de	tentar	convencer	o	pessoal	a	respeitar	o	lugar
sagrado,	 usando	 para	 isso	 diálogo	 e	 gentileza,	 Jesus
simplesmente	varreu	todo	mundo	dali	na	base	da	chibatada	(Jo
2,	14-16).	Outra	passagem	muito	ilustrativa	é	aquela	em	que	os
discípulos	não	conseguem	curar	um	menino	que	sofria	de	uma
grave	 enfermidade,	 provavelmente	 epilepsia.	 O	 pai,	 então,
recorre	a	Jesus,	que	se	mostra	frustrado	com	a	falta	de	fé	de	seus
discípulos	e	os	censura	duramente	diante	de	 todos:	“Ó	geração
incrédula!	 Até	 quando	 estarei	 convosco?	 Até	 quando	 vos
suportarei?	Trazei-o	a	mim!”	(Mc	9,	17-19).
Por	 que	 Jesus	 não	 os	 corrigiu	 de	 forma	 mais	 cortês?	 Bem,
delicadeza	 era	 uma	 coisa	 bastante	 secundária	 diante	 do
sofrimento	 de	 uma	 criança.	 O	 Senhor	 tinha	 uma	 preocupação
muito	urgente	de	 libertar	 e	 aliviar	 a	dor	daquelas	pessoas.	Sua
irritação	traduzia	o	grande	zelo	que	Ele	nutria	pela	felicidade	de
cada	 ser	 humano,	 e	 ele	 cobrava	 energicamente	 que	 Seus
discípulos	(aqueles	que	dariam	continuidade	ao	Seu	apostolado)
tivessem	a	mesma	postura.	Além	do	mais,	depois	de	tudo	o	que
eles	 tinham	 visto	 e	 ouvido,	 o	 Mestre	 esperava	 uma	 fé	 mais
sólida.
Porém,	 não	 podemos	 ser	 levianos	 e	 imaginar	 que	 Jesus
tratava	todos	os	pecadores	na	base	da	chicotada.	Na	maior	parte
do	 tempo,	 Ele	 era	muito	manso	 e	 amável:	 sentava-se	 à	mesa
para	 comer	 com	 prostitutas	 e	 todo	 tipo	 de	 gente	 de	má	 fama,
frequentava	a	casa	de	publicanos	e,	na	cruz,	prometeu	levar	um
ladrão	para	o	Paraíso.	Assim,	transformou	o	coração	e	a	vida	de
muitos	com	a	Sua	doçura.
O	 Senhor	 parecia	 ter,	 entretanto,	 pouca	 tolerância	 com	 a
hipocrisia,	com	o	desrespeito	às	coisas	sagradas	e	com	a	falta	de
fé	por	parte	daqueles	que	deveriam	ser	os	primeiros	a	 crer	 (os
discípulos).	Por	isso,	em	primeiro	lugar,	devemos	detestar	essas
coisas	em	nós	e	pedir	que	Ele	nos	converta	a	cada	dia,	mas	não
precisamos	 ser	 frescos	 a	 ponto	 de	nos	 cobrarmos	 serenidade	 e
simpatia	em	tempo	integral.	Ninguém	tem	sangue	de	barata.
Com	todo	o	respeito	ao	Profeta	Gentileza	(figuraça	que	andou
pelas	 ruas	do	Rio	de	 Janeiro	 entre	 as	décadas	de	 1970	 e	 1990),
gentileza	 gera	 gentileza,	 sim,	mas	 às	 vezes	 uma	 chicotada	 cai
muito	bem.
JESUS	CASOU	COM	MARIA	MADALENA?
Aposto	que	você	tem	algum	amigo	maria	vai	com	a	mídia	que	já
lhe	 alfinetou	 com	 a	 notícia	 de	 que	 teriam	 descoberto	 um
manuscrito	de	 1.500	anos	e	que	esta	era	a	comprovação	de	que
Jesus	foi	casado	com	Maria	Madalena.
O	 amigo	 maria	 vai	 com	 a	 mídia	 é	 assim:	 acredita
automaticamente	 em	 tudo	 o	 que	 lê	 em	 sites	 de	 notícias,
especialmente	 quando	 se	 trata	 de	 conteúdos	 que	 atacam	 o
cristianismo.	 Agora,	 essas	 criaturas	 estão	 batendo	 pino?
Primeiro	 juram	 que	 Jesus	 nunca	 existiu	 (porque	 um	 escritor
americano	disse	isso),	e,	depois,	de	um	dia	pro	outro,	mudam	de
ideia	 e	 dizem	 que	 Jesus	 existiu,	 sim,	 e	 casou	 com	 Maria
Madalena,	 e	 fazem	 isso	 só	 porque	 ouviram	 falar	 sobre	 um	 tal
manuscrito	 apócrifo.	 Essa	 gente	 precisa	 se	 decidir!	 Ou	 bem
dizem	 que	 Jesus	 não	 existiu	 ou	 bem	 dizem	 que	 Ele	 existiu	 e
casou.	Porque	ficar	pulando	entre	duas	teses	contraditórias	não
dá!
Em	primeiro	 lugar,	 essa	polêmica	 é	pra	 lá	de	 requentada.	O
manuscrito	 em	 questão,	 chamado	 Ecclesiastical	 History	 of
Zacharias	 Rheto,	 é	 conhecido	 há	 mais	 de	 duzentos	 anos	 e	 foi
analisado	 por	 vários	 estudiosos	 que	 o	 descartaram	 como
insignificante.	A	“novidade”	é	que	dois	estudiosos	lançaram,	em
2015,	um	livro	intitulado	The	Lost	Gospel	 [O	evangelho	perdido],
com	 uma	 nova	 interpretação	 do	 manuscrito,	 dizendo	 —	 na
verdade,	inventando	—	que	o	texto	traz	revelações	bombásticas
sobre	a	vida	privada	de	Jesus.
Em	 segundo	 lugar,	 poucas	 pessoas	 se	 dão	 conta	 de	 que	 se
trata	de	um	“evangelho	pirata”	produzido	quinhentos	anos	—
quinhentos	anos!!!	—	 após	 a	morte	 de	 Jesus!	 Isso	me	 lembra
tipo…	uma	revista	de	fofocas	do	século	IV!
Em	terceiro	lugar,	note	o	desespero	da	dupla	de	autores	desse
livro:	 o	 tal	 manuscrito	 fala	 que	 um	 cara	 chamado	 JOSÉ	 casou
com	uma	mulher	chamada	ASENETH	e	que	eles	 tiveram	filhos.
Tá,	e	onde	entram	Jesus	e	Madalena?	EM	LUGAR	NENHUM!	Os
autores	simplesmente	 inventaram	uma	teoria	de	que	os	nomes
José	e	Aseneth	são	códigos	para	se	referir	de	modo	velado	a	Jesus
e	Madalena.
Em	 quarto	 lugar,	 um	 dos	 autores	 do	 livro,	 Jacobovici,	 é
famoso	 por	 suas	 pesquisas	 pagadoras	 de	 mico!	 Ele	 também
produziu	um	documentário	sobre	a	 tumba	de	Talpiot,	 tentando
provar	que	Jesus	não	ressuscitou	e	teve	filhos,	esposa,	irmãos…
O	 vexame	 foi	 tremendo!	 Dezessete	 arqueólogos	 renomados
desceram	 a	 lenha	 no	 documentário,	 entre	 eles	 Joe	 Zias,	 que
classificou	 o	 filme	 como	 “cientificamente	 desonesto”.	 O
arqueólogo	americano	William	Dever	disse	que	se	tratava	de	um
“golpe	de	publicidade”.[4]
Em	seguida,	 Jacobovici	produziu	outro	documentário,	para	o
History	 Channel,	 em	 que	 garantia	 ter	 encontrado	 os	 pregos
usados	 na	 crucificação	 de	 Jesus.	 E	 levou	 mais	 um	 toco	 da
comunidade	 arqueológica!	 A	 Autoridade	 de	 Antiguidades	 de
Israel	disse	que	a	coisa	mais	comum	é	encontrar	pregos	naquela
região	 e	 que	 as	 afirmações	 de	 Jacobovici	 não	 possuem
embasamento	em	pesquisa.[5]
E	que	ninguém	venha	citar	o	livro	O	código	Da	Vinci	pra	 falar
sobre	esse	assunto!	É	muito	mico	usar	uma	obra	de	ficção	como
fonte	para	estudo	histórico![6]
Sobre	a	Bíblia
A	BÍBLIA	É	CONFIÁVEL
Todos	nós	já	ouvimos	alguém	dizer	que	a	Bíblia	não	é	confiável,
pois	teria	sido	adulterada	ao	longo	dos	séculos.	À	primeira	vista,
apresenta-se	diante	de	nós	um	cenário	altamente	desfavorável	à
confiabilidade	dos	textos	bíblicos,	pois	os	manuscritos	originais
foram	perdidos	e	é	provável	que	nem	existam	mais.	Os	livros	do
Antigo	Testamento	começaram	a	ser	escritos	há	cerca	de	3.400
anos,	 e	 os	 livros	 do	Novo	Testamento	 foram	 escritos	 há	 quase
dois	 mil	 anos.	 Ao	 longo	 de	 todos	 esses	 séculos,	 os	 livros	 que
compõem	a	Bíblia	foram	repetidamente	copiados,	e	nem	sempre
os	copistas	fizeram	um	bom	trabalho.
Diante	disso,	você	pode	estar	pensando	que	não	dá	pra	pedir
que	 um	 cristão	 confie	 na	 Bíblia…	 mas	 acalme-se	 e	 não	 seja
apressado	 em	 seu	 julgamento!	 O	 texto	 bíblico	 é	 altamente
confiável.
Saindo	 um	 pouco	 do	 campo	 das	 discussões-clichê	 e
estudando	 a	 questão	 mais	 a	 fundo,	 qualquer	 ateu	 de	 mente
aberta	 verá	 que	 as	 evidências	 arqueológicas	 e	 históricas	 e
críticas	textuais	tendem	a	confirmar	a	autenticidade	dos	textos
bíblicos.
Vamos	 analisar	 primeiro	 o	 Antigo	 Testamento	 e,	 depois,	 o
Novo	Testamento.
Evidências	sobre	a	autenticidade	do	Antigo	Testamento
Em	1947,	um	grupo	de	pastores	de	cabras	encontrou	por	acaso,
em	 uma	 caverna	 em	 Qumram,	 na	 Cisjordânia,	 às	 margens	 do
Mar	 Morto,	 centenas	 de	 manuscritos.	 Foi	 uma	 descoberta
bombástica!	Esse	conjunto	é	simplesmente	a	versão	mais	antiga
que	conhecemos	do	Antigo	Testamento,	escrito	entre	os	séculos
III	a.C.	e	70	d.C.
Entre	 os	 manuscritos,	 havia	 pergaminhos	 e	 fragmentos	 de
textos	 de	 diversos	 livros	 do	 Antigo	 Testamento,	 porém	 a	 peça
mais	 impressionante	 foi	o	rolo	do	profeta	 Isaías,	que	contém	o
livro	 completo	 em	 aramaico.	 Quando	 os	 especialistas
compararam	os	manuscritos	do	Mar	Morto	com	os	textos	atuais
da	Bíblia,	puderam	verificar	que,	por	mais	de	mil	anos	(!!!),	os
copistas	 reproduziram	 esses	 textos	 fielmente,	 sem	 qualquer
alteração	de	sentido.
O	 texto	 do	 Antigo	 Testamento	 que	 temos	 em	 mãos
atualmente	é,	portanto,	praticamente	igual	 ao	 conteúdo	desses
pergaminhos.	É	claro	que	a	descoberta,	considerada	por	muitos
como	 a	mais	 importante	 do	 século	 XX,	 deixou	muitos	 críticos
ferrenhos	da	Bíblia	—	que	diziam	que	seu	texto	estava	bastante
corrompido	—	com	cara	de	pastel.	Fué-fué-fué-fué-fuéeeeeee…
Evidências	sobre	a	autenticidadedo	Novo	Testamento
Os	milhares	de	variantes	entre	os	manuscritos
Há	 mais	 de	 cinco	 mil	 cópias	 antigas	 do	 Novo	 Testamento,
escritas	 em	 grego,	 em	 museus	 e	 monastérios	 na	 Europa	 e	 na
América	 do	 Norte.	 Detalhe:	 nenhuma	 delas	 é	 idêntica	 a	 outra,
pois	sempre	muda	uma	palavrinha	aqui,	outra	ali.
Por	 cerca	 de	 1.500	 anos,	 a	 Bíblia	 foi	 reproduzida
manualmente,	 em	 especial	 por	 meio	 do	 trabalho	 de	 monges
copistas.	 Eram	 necessários	 muitos	 anos	 para	 se	 produzir	 um
exemplar	 e	 quase	 sempre	 havia	 alterações	 (variantes),
intencionais	ou	não,	realizadas	pelo	copista.
Alguns	 estudiosos	 do	 Novo	 Testamento	 afirmam	 que,
comparando	 essas	 cópias	 manuscritas,	 podem-se	 encontrar
entre	 200	 e	 400	 mil	 variantes	 (uooooou!).	 O	 número
impressiona,	mas	a	sua	interpretação	pode	ser	enganosa.	O	fato
é	 que	 quase	 todas	 as	 variantes	 entre	 uma	 cópia	 do	 Novo
Testamento	 e	 outra	 são	 irrelevantes.	 Em	 sua	 grande	 maioria,
são	ligeiras	falhas	de	ortografia	ou	palavras	dispostas	em	ordem
diferente	em	uma	frase.
Tais	 variantes	 não	 afetam	 em	 nada	 a	 doutrina	 cristã,	 mas
isso	 os	 detratores	 da	 Bíblia	 não	 dizem,	 é	 claro!	 Imagine	 o
número	 enorme	 de	 variantes	 gerado	 pelas	 simples	 trocas	 de
“Jesus	 Cristo”	 para	 “Cristo	 Jesus”	 ou	 para	 “Senhor”	 no	 Novo
Testamento…	Acaso	isso	produz	qualquer	impacto	no	sentido	do
texto?
O	parecer	dos	estudiosos
Neste	livro,	a	gente	mata	a	cobra	e	mostra	a	espada	Jedi!	Quando
dizemos	 que	 as	 variantes	 encontradas	 em	 cópias	 antigas	 da
Bíblia	não	têm	qualquer	impacto	na	doutrina,	nós	nos	baseamos
no	 parecer	 de	 especialistas	 em	 crítica	 textual	 mundialmente
reconhecidos.	Uma	explicação	rápida:	crítica	textual	é	o	estudo	e
a	 comparação	 entre	 antigos	 manuscritos	 com	 a	 finalidade	 de
resgatar	a	versão	original	de	um	texto.
Daniel	 B.	Wallace,	 estudioso	 do	Novo	 Testamento,	 observou
que,	 embora	existam	cerca	de	300	mil	variações	de	 texto	entre
essas	 cópias	 do	 Novo	 Testamento,	 a	 grande	 maioria	 das
diferenças	 é	 completamente	 sem	 importância,	 como	 erros	 de
ortografia,	 frases	 invertidas	 ou	 coisas	 similares.[1]	 A	 opinião
desse	sujeito	tem	peso:	ele	é	diretor-executivo	do	Centro	para	o
Estudo	 de	 Manuscritos	 do	 Novo	 Testamento,	 organização	 que
está	 digitalizando	 todos	 os	 manuscritos	 conhecidos	 da	 Bíblia
com	a	finalidade	de	garantir	a	preservação	de	seu	conteúdo.
Vejamos	agora	o	que	disse	Frederic	G.	Kenyon,	ex-diretor	do
Museu	 Britânico	 e	 ex-presidente	 da	 Academia	 Britânica	 e	 da
Escola	 Britânica	 de	 Arqueologia	 (em	 Jerusalém).	 Tendo
pesquisado	papiros	antigos	por	muitos	anos,	ele	garantiu	que	“…
em	nenhum	outro	caso	o	intervalo	de	tempo	entre	a	composição
do	 livro	 e	 a	 data	 dos	manuscritos	mais	 antigos	 é	 tão	 próximo
como	no	caso	do	Novo	Testamento”.[2]	Ainda	segundo	ele,	“não
resta	 nenhuma	 dúvida	 de	 que	 as	 Escrituras	 chegaram	 até	 nós
praticamente	com	o	mesmo	conteúdo	dos	escritos	originais”.[3]
Bruce	 M.	 Metzger	 é	 um	 dos	 estudiosos	 mais	 influentes	 do
Novo	Testamento.	 Foi	 a	 ele	 que	Bart	D.	 Ehrman	dedicou	 o	 seu
best-seller	 O	 que	 Jesus	 disse?	 O	 que	 Jesus	 não	 disse?	 (falaremos
sobre	esse	 livro	mais	adiante),	chamando-o	de	“meu	mentor	e
Pai-Doutor”.	 Em	 uma	 entrevista,	 perguntaram	 a	 Metzger
quantas	 doutrinas	 da	 Igreja	 estão	 em	 risco	 por	 causa	 das
variações	 entre	 os	manuscritos	 do	Novo	Testamento.	 Eis	 a	 sua
resposta:
Não	 sei	 de	 nenhuma	 doutrina	 que	 esteja	 em	 risco.	 […]	 As
variações	mais	significativas	não	solapam	nenhuma	doutrina
da	 Igreja.	 Qualquer	 Bíblia	 que	 se	 preza	 vem	 com	 notas	 que
indicam	as	 variações	de	 texto	mais	 importantes.	Mas,	 como
eu	já	disse,	esses	casos	são	raros.[4]
Outra	grande	autoridade	nesse	assunto	é	F.	F.	Bruce,	teólogo
formado	 pelas	 universidades	 de	 Aberdeen,	 Cambridge	 e	 Viena.
Foi	 professor	 de	 grego	 nas	 universidades	 de	 Edimburgo	 e	 de
Leeds	e	depois	assumiu	o	Departamento	de	História	e	Literatura
Bíblica	 na	 Universidade	 de	 Sheffield.	 Aposentou-se	 em	 1978
como	professor	 de	 crítica	 e	 exegese	 bíblica	na	Universidade	 de
Manchester.	Ele,	que	é	autor	do	clássico	Merece	confiança	o	Novo
Testamento?,	afirmou	que	“no	mundo	não	há	qualquer	corpo	de
literatura	 antiga	 que,	 à	 semelhança	 do	 Novo	 Testamento,
desfrute	uma	tão	grande	riqueza	de	confirmação	textual”.[5]
É	importante	notar	que	os	pesquisadores	da	Bíblia	têm	à	sua
disposição	 fontes	 muito	 privilegiadas.	 Afinal,	 eles	 podem
comparar	 os	 textos	 atuais	 com	 papiros	 produzidos	 em	 datas
muito	 próximas	 às	 dos	 manuscritos	 originais.	 Muitos	 desses
papiros	 são,	 provavelmente,	 cópias	 diretas	 dos	 originais,	 ou
estão	 distantes,	 no	 máximo,	 duas	 gerações.	 Além	 disso,	 os
milhares	 de	 cópias	 do	 Novo	 Testamento,	 em	 diversas	 línguas,
tornam	muito	fácil	identificar	qualquer	alteração	relevante	feita
por	um	copista	descuidado	ou	mal-intencionado.
Porém,	 não	 é	 preciso	 ser	 nenhum	 especialista	 para	 notar	 a
autenticidade	 do	 texto	 do	 Novo	 Testamento,	 pois	 há	 muitas
evidências	 que	 podem	 ser	 verificadas	 por	 qualquer	 cristão	 por
meio	de	um	simples	estudo	bíblico.
Os	católicos	adulteraram	o	conteúdo	do	Novo	Testamento?
Com	 impacto	 comparável	 ao	 de	O	 código	 Da	 Vinci,	 o	 livro	O	que
Jesus	disse?	O	que	 Jesus	não	disse?	Quem	mudou	a	Bíblia	 e	por	quê?
causou	alvoroço	e	virou	best-seller	nos	Estados	Unidos.	O	autor,
Bart	 D.	 Ehrman,	 alcançou	 o	 status	 de	 celebridade	 no	 mercado
editorial	 americano.	 No	 livro,	 ele	 defende	 que	 os	 escribas
fizeram	 alterações	 graves	 na	 Bíblia	 ao	 longo	 dos	 séculos,
especialmente	 com	 a	 intenção	 de	 dar	 suporte	 aos	 dogmas
católicos.	 Por	 isso,	 o	 acesso	 às	 palavras	 originais	 do	 Novo
Testamento	seria	impossível	ao	homem	contemporâneo.
Ehrman	foi	apresentado	no	Brasil	como	“a	maior	autoridade
em	Bíblia	em	todo	o	mundo”.	É	mesmo?	Quem	disse?	A	editora	e
a	 equipe	 de	 marketing	 dele,	 ora	 bolas!	 Bem,	 um	 currículo	 de
peso	 o	 cara	 tem:	 é	 PhD	 em	 teologia	 pela	 Universidade	 de
Princeton	 e	 diretor	 do	 Departamento	 de	 Estudos	 Religiosos	 da
Universidade	da	Carolina	do	Norte.	Mas	está	bem	longe	de	ser	“o
maioral”.
Enfim…	Vamos	analisar	algumas	das	afirmações	equivocadas
desse	livro.
Ehrman	disse	que	a	Bíblia	não	é	infalível,	pois	contém	muitos
erros	 e	 contradições.	 Como	 exemplo,	 cita	 a	 passagem	 em	 que
Jesus	diz	que	Davi	comeu	os	pães	da	proposição	(Mar	2,	25-26)
no	tempo	do	sumo	sacerdote	Abiatar.	Porém,	em	I	Sam	21,	1-6
está	 escrito	 que	 o	 sumo	 sacerdote	 naquela	 ocasião	 era
Aquimelec,	 pai	 de	 Abiatar.	 Essa	 diferença	 oferece	 algum
problema	para	os	cristãos?	Não!	Por	duas	razões:
1)	 Um	 fato	 narrado	 de	 forma	 diferente	 em	 dois	 livros	 da
Bíblia	não	está	necessariamente	errado.	A	maioria	esmagadora
dessas	aparentes	contradições	já	foi	exaustivamente	esclarecida
pelos	 estudiosos,	 mas	 se	 —	 ainda	 —	 não	 se	 alcançou	 uma
solução	satisfatória	para	uma	ou	outra,	isso	não	significa	que	a
questão	 é	 inexplicável.	 Durante	 séculos,	 os	 cientistas	 não
compreenderam	 certos	 fenômenos	 facilmente	 explicáveis	 nos
dias	 de	 hoje,	 mas	 nem	 por	 isso	 desistiram	 de	 pesquisar	 e
alcançar	a	verdade.
Sobre	isso,	Santo	Agostinho	explica:
Se	 estamos	 perplexos	 por	 causa	 de	 qualquer	 aparente
contradição	nas	Escrituras,	não	nos	 é	permitido	dizer	que	o
autor	desse	livro	tenha	errado;	mas	ou	o	manuscrito	utilizado
tinha	 falhas,	 ou	 a	 tradução	 está	 errada,	 ou	 nós	 não
entendemos	o	que	está	escrito.[6]
2)	 Quase	 cem	 por	 cento	 das	 discrepâncias	 detectadas	 na
Bíblia	não	envolvem	nenhum	ponto	da	doutrina,	como	é	o	caso
dessa	 mudança	 do	 nome	 do	 sumo	 sacerdote.	 Em	 geral,	 são
contradições	 relativas	 a	 nomes	 de	 cidades,	 datas	 de
acontecimentos	etc.	Enfim,	detalhes	sem	importância.	Nenhum
ensinamento	necessário	à	salvação	é	afetado	por	esses	pontos	de
dificuldade.