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História da América I AULA 3

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História da América I
Aula 3: Os europeus na América: a cruz, a espada e fome
Apresentação
Nesta aula, compreenderemos de que forma a expansão comercial europeia redundou na conquista da América.
Além disso, veremos os interesses que motivaram os europeus, nas lutas pelas conquistas, e os indígenas, nas lutas pelos seus territórios e pelas suas culturas.
Objetivos
Compreender o processo das grandes navegações no contexto de expansão comercial europeia.
Identificar os principais elementos de conflito entre os europeus e os indígenas.
Relacionar a expansão comercial com o processo de conquista dos territórios ameríndios e o processo de trabalho compulsório no continente americano.
Verificar o processo de tomada de decisão dos grandes impérios nativos do continente.
As Grandes Navegações
O século XV foi marcado pela definição de novas rotas marítimas que interligaram de forma mais rápida os continentes.
Os portugueses, através do seu forte investimento e da instituição da Escola de Sagres, conseguiram romper com os limites que a tecnologia os impunha, dobraram o Cabo das Tormentas, renomeado para Boa Esperança, e chegaram à Índia.
A navegação passou a ser a alternativa para o comércio das potências Ibéricas. Voltadas para o Atlântico, Portugal e Espanha buscaram no Oceano os caminhos para alimentar a sua burguesia de produtos exóticos e interessantes do ponto de vista comercial, mas, em uma época que as rotas comerciais, mares e territórios podiam ser controlados por potências militares, descobrir novas rotas e dominar novos territórios era uma necessidade política e econômica.
Com os italianos dominando o mar Mediterrâneo, os portugueses controlando as rotas africanas para as Índias, os espanhóis precisavam encontrar uma alternativa.
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A proposta de Cristóvão Colombo de chegar à Índia rumando a oeste foi inicialmente recebida com desconfiança e rejeição. A Igreja Católica, que tinha grande poder na época, chegou a acusar Colombo de heresia, pois este defendia que era possível circundar a Terra através dos oceanos.
No fim, prevaleceram os interesses econômicos da burguesia espanhola e da própria Coroa. Avaliaram que o custo era pequeno diante do potencial econômico que a definição de uma rota marítima para a Índia poderia gerar.
 Rotas marítimas no período das Grandes Navegações. Disponível em: wikipedia. Acesso em: maio 2019.
Embora, incialmente, acreditasse que estivesse chegado às Índias, Colombo chegou em um novo continente, um território completamente desconhecido dos europeus. Encontrou por estas terras culturas diferentes de todas as que eram de conhecimento na Europa.
E o mais importante: Colombo encontrou ouro sendo utilizado pelas tribos da ilha de Santo Domingo e de Cuba. Além do ouro, encontrou árvores, frutas e outros elementos naturais que interessaram à burguesia espanhola.
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Empresa colonial
A partir das descobertas de Colombo, a Coroa espanhola, junto com a burguesia de Sevilha, de Córdoba e de Madri, estabeleceu a empresa colonial. Constituiu-se um sistema que estimulava a conquista, controlava os recursos e exigia vassalagem absoluta dos colonos para com a Coroa hispânica.
Na base desta estrutura, está um conjunto de leis que os historiadores chamam de Pacto Colonial. Na verdade, eram regras determinadas pelas metrópoles para serem obedecidas pelas colônias. As regras variavam de colônia a colônia, mas em sua base estavam três princípios fundamentais:
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Relações comerciais exclusivas
Proibição de produção de manufaturas na colônia
Proibição de produção de gêneros semelhantes aos da metrópole
Estabelecidos os princípios fundamentais da relação entre colônia e metrópole, a Coroa espanhola estimulou a ação de conquista dos novos territórios. Os habitantes originais das terras que interessavam aos espanhóis viram-se obrigados a se defender dos ataques ou aceitar a submissão ao novo conquistador.
É interessante ressaltar que, embora muitos dos povos e das sociedades que ocupavam o continente conhecessem a relação de conquistar e ser conquistado por outros grupos mais fortes, em nada diminui o caráter violento e torpe da conquista espanhola na América.
Outro aspecto relevante desse processo está relacionado à recém conquista da região de Granada, na própria Espanha.
As técnicas militares utilizadas para expulsar os Mouros bem como os benefícios oferecidos aos comandantes da reconquista foram aplicados com os indígenas no novo mundo.
 Palácio de Alhambra, Granada (Espanha).
A Conquista
De acordo com historiadores como Romano e Todorov, a Conquista é demarcada pelo período entre a chegada de Colombo e meados do século XVI. Esse limite teria sido determinado pelo temor dos espanhóis de que houvesse um despovoamento da América caso as guerras de conquista continuassem. Afinal as áreas conquistadas até a metade daquele século já rendiam aos colonizadores os benefícios almejados.
A fase da conquista se valeu de uma tríade espada, cruz e fome, evocada por Rugiero Romano e Benito Schmidt como fatores explicativos do processo de conquista.
A espada indica a desproporção militar que havia entre conquistadores e conquistados. Armas de fogo, cavalos, armaduras, armas de aço, cães eram alguns dos instrumentos de guerra dos hispânicos. Além disso, as estratégias de guerra dos europeus eram infinitamente mais eficientes do que as das sociedades americanas. Do outro lado, os indígenas contavam com arcos e flechas, tacapes, boleadeiras e setas venenosas, mas também havia o pavor dos cães e cavalos usado pelos espanhóis.
A cruz é um tanto autoexplicativa. A presença de padres junto dos espanhóis, com a missão estrita de catequizar as tribos e sociedades, facilitava de várias formas o processo de conquista. Ao catequizar, criava-se um conflito cultural entre a tradição e a nova fé e isso fragilizava os povos que viviam o impasse entre respeitar os desígnios de Deus e aceitar a dominação ou combater os invasores com seu Deus cheios de culpas e limites.
A fome por sua vez não era apenas a falta de alimentos para o corpo, mas também alimentos para a alma. Era a fome de utilizar a terra de acordo com a sua cultura, de cultuar seus deuses, de respeitar a natureza sua principal fornecedora de alimentos. Era a fome também de alimentos, porque a exigência do trabalho compulsório nas haciendas limitava o tempo para produção de alimentos para subsistência dos ameríndios.
O trabalho da conquista foi estimulado pela distribuição de títulos que geravam altos lucros aos aventureiros que se dispunham a desbravar as terras ocupadas por sociedades. Esses títulos variavam de acordo com o seu nível de organização e a capacidade de lutar.
Os desbravadores recebiam o título de adelantados. Um título de outorga de poder, comum nas guerras de reconquista da Península Ibérica, este benefício dava ao conquistador o direito de administrar as riquezas das terras por ele conquistada, inclusive dava a ele controle sobre a mão de obra.
Saiba mais
A tríade espada, cruz e fome é muito bem explorada por Pablo Neruda em seu poema “Ode à Araucária Araucana”.
Para ler o poema, acesse: https://www.neruda.uchile.cl/obra/­obranuevasodas2.html. Acesso em: maio 2019.
Fases da Conquista
Segundo Schmidt, o período denominado de conquista pode ser dividido em três partes:
1
Exploração das Antilhas
2
Conquista do México (Confederação Asteca)
3
Conquista da região andina (Império Inca)
Primeira fase
O grande interesse dos conquistadores na primeira fase da conquista era o ouro de aluvião que ocorria nos rios das ilhas antilhanas. Sua grande vantagem era, sem dúvida, contar com uma grande força de trabalho oriunda das tribos conquistadas pelo poder da espada e da fé.
No entanto, a produção aurífera com bateias nas beiras dos rios aos poucos foi se tornando desvantajosa. Além disso, as doenças trazidas pelos conquistadores e as guerras ainda empreendidas foram eliminando o potencial de mão de obra que aquela região oferecia.
Essa situaçãopassou a gerar inúmeros problemas potenciais para a própria empresa colonial.
Para tentar resolver o problema de mão de obra, a Coroa espanhola estabeleceu o sistema de encomiendas, no qual um espanhol recebia o título de encomendero e administrava a utilização da força de trabalho indígena nas haciendas (unidades produtivas da colônia espanhola).
Esse sistema era baseado na lógica do pagamento de tributos com a força de trabalho.
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 Encomendero. Fonte: Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Kings­borough.jpg. Acesso em: maio 2019.
Cada indígena era obrigado a trabalhar para os espanhóis durante quatro meses no ano e, ao encomendero, cabia determinar quem trabalharia e em qual unidade produtiva.
Esse sistema gerou uma lógica extremamente corrupta e nociva, pois o encomendero cobrava dos fazendeiros para destinar um número maior de índios e cobrava dos chefes tribais para não requisitar nenhum dos seus indígenas.
Isso redundou na exploração exacerbada dos indígenas, que se ocupavam por mais de quatro meses, em condições similares ao tratamento dado aos escr avos no Brasil.
Alguns colonizadores, como o Bispo Bartolomeu de Las Casas, passaram a criticar veementemente o sistema de encomienda.
As críticas de Las Casas foram contundentes. Sua pregação em defesa dos indígenas, demonstrando que o próprio sistema corria o risco de falir se não houvesse medidas para estancar a morte de indígenas (que, pelo cálculos de Romano chegou entre 1/2 e 2/3 da população indígena), acabou surtindo efeito
Em 1542, foram criadas as Leyes Nuevas, dando limites a exploração da mão de obra indígena e ao processo de conquista.
Segunda fase
A conquista do México com a vitória de Cortés sobre os Astecas foi um momento crucial para o estabelecimento da colônia espanhola.
A grande Confederação Asteca tinha muita força econômica e militar no território mexicano, vencê-los era crucial para aprofundar o processo de domínio sobre o continente.
Esta vitória não foi fácil e demandou muita cautela e estratégia do seu comandante. Cortés buscou conhecer os Astecas, saber sobre sua cultura, seus inimigos, suas táticas e estratégias. A partir deste conhecimento, conseguiu submeter Montezuma II ao seu comendo, mas as vaidades e os interesses dos conquistadores fez com que o governador de Cuba tentasse derrubar Cortés.
Cortés deixou Tenochtitlán para combater Pánfilo de Narvaéz, que saiu vitorioso, mas quando retornou à capital Asteca viu a desordem estabelecida. Alvarado, homem que Cortés havia deixado no comando, tentou submeter os astecas à força e estes mataram Montezuma II, a quem não reconheciam mais como líder, e expulsaram os espanhóis.
Cortéz se refugiou em Cuba, aliou-se a inimigos dos Astecas e retornou a Tenochtitlán para derrotar definitivamente o poderio Asteca. Ele sabiamente utilizou os próprios indígenas para combater aquele poder e depois governou a região recebendo o título de governador da Nova Espanha.
Terceira fase
O outro grande Império sucumbiu na terceira fase da conquista, quando os espanhóis passaram a ter interesse na parte ao sul do istmo do Panamá.
A partir de 1524, a Coroa espanhola financiou diversas expedições à região andina. O objetivo era prospectar novas fontes de riqueza a serem exploradas.
Uma dessas expedições, a mais importante, foi liderada por Pizarro, Luque e Almagro, que tinham respectivamente as funções de diretiva militar, logística e financiamento da missão.
A tríade se aproveitou da crise vivida pelo Império Inca com a morte de Huayna Cápac, o inca. Como as regras sucessórias não eram definidas, os dois herdeiros, Huáscar e Atahualpa, passaram a lutar pelo direito de assumir o trono. Os espanhóis se aliaram a Huáscar que foi morto, depois sequestraram e mataram Atahualpa.
Pizarro, então, avançou com suas tropas até Cuzco e dominou aos poucos todo o império Inca.
 Selo retratando Francisco Pizarro.
 Execução do imperador Atahuallpa, por Pizarro.
Esta foi a mais importante vitória do período da conquista, pois, com o domínio do império Inca, veio junto a maior jazida de prata já descoberta no mundo. A prata foi explorada pelos espanhóis por mais de 300 anos e, até hoje, há exploração de prata nessa região.
Sistema de exploração da mão de obra
A fim de aproveitar o imenso potencial de mão de obra existente e evitar o despovoamento das terras coloniais por um modelo de exploração do trabalho aviltante e dizimador, a Coroa espanhola criou o sistema da encomienda (já visto anteriormente).
Esse sistema só resultou em algo positivo para o modelo colonial, porque veio combinado com a estrutura da corveia.
Desse modo, o encomendero era, na verdade, um beneficiário do sistema de tributos característico da Idade Média. No entanto, no Novo Mundo, esses tributos receberam o nome de cuatequil, na região anteriormente dominada pelos Astecas, e mita, nas áreas dominadas pelos Incas.
Nomes de tributos originários dessas regiões, a mita e cuatequil foram desvirtuados pelos espanhóis para atender aos seus interesses. Antes da chegada dos espanhóis, eram tributos de cunho eminentemente religioso e só eram cobrados na entressafra. No entanto, com os espanhóis não havia conotação religiosa.
Atividade Objetiva
1. A partir das descobertas de Colombo, a Coroa espanhola estabeleceu a empresa colonial, um sistema que estimulava a conquista de novos territórios.
Os princípios fundamentais da relação entre colônia e metrópole eram definidos pelo chamado Pacto Colonial.
A respeito do Pacto Colonial, é correto afirmar que:
a) a produção de manufaturas garantia um mercado consumidor para a colônia.
b) a colônia era proibida de produzir gêneros semelhantes aos da metrópole.
c) a produção colonial se concentrava em produtos agrícolas ou manufaturados.
d) a colônia só poderia estabelecer relações comercias com a metrópole e com os países aliados.
2. O período da Conquista espanhola vai desde a chegada de Colombo no continente americano até meados do século XVI.
De acordo com Schmidt, esse período pode ser dividido em três fases.
Relacione os eventos listados a seguir à fase correspondente do período da Conquista.
a) Conquista do México
b) Derrota do Império Inca
c) Exploração das Antilhas
d) Conquista da região andina
e) Derrota da Confederação Asteca
f) Produção aurífera (ouro de aluvião)
g) Descoberta da maior jazida de prata

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