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INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO 
FELIPE PATRÍCIO VIGNOLI 
 
 
 
 
 
 
MODELO DE AVALIAÇÃO PARA PROJETOS DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA 
EM COMUNIDADES DE BAIXA RENDA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2013
 
 
 
 
Felipe Patrício Vignoli 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MODELO DE AVALIAÇÃO PARA PROJETOS DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA 
EM COMUNIDADES DE BAIXA RENDA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa 
de Pós-Graduação em Administração, Instituto 
COPPEAD de Administração, Universidade Federal 
do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos 
necessários à obtenção do título de Mestre em 
Administração. 
 
 
 
 
Orientador: Prof. Celso Funcia Lemme 
 
Coorientador: Prof. Vicente Ferreira 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2013 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
V686m Vignoli, Felipe Patrício. 
 
Modelo de avaliação para projetos de distribuição de energia em 
comunidades de baixa renda / Felipe Patrício Vignoli. -- Rio de Janeiro : 
2013. 
 
91 f.: il.; 31 cm. 
 
Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade Federal do Rio 
de Janeiro - UFRJ, Instituto COPPEAD de Administração, 2013. 
 
Orientador: Celso Funcia Lemme. 
Coorientador: Vicente Ferreira. 
 
1. Finanças. 2. Sustentabilidade. 3. Administração – Teses. I. Lemme, 
Celso Funcia. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto 
COPPEAD de Administração. III. Título. 
CDD 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Aos professores do COPPEAD por nos conduzir a patamares de exigência 
superiores e por todo o conhecimento e vivência transmitidos. Em especial ao 
orientador Celso Lemme, por sua dedicação semanal ao trabalho conduzido e por 
seu nobre papel em lutar pela aproximação de dois temas tão distantes entre si nas 
empresas: finanças e sustentabilidade. 
Agradeço ao coorientador Vicente Ferreira por trazer sempre a objetividade e novos 
pontos de vista nas discussões, elementos altamente necessários para uma boa 
avaliação financeira. 
À Clarissa Lins e ao Israel Klabin que me acompanharam com entusiasmo e 
permitiram uma rica sinergia entre o mundo acadêmico e empresarial, contribuindo 
para algo tão importante em nosso país quanto a aproximação desses dois atores. 
Aos meus pais que, mesmo receosos pela decisão de deixar o mercado de trabalho 
para dedicar-me aos estudos, me deram todo apoio e segurança para seguir em 
frente. 
Aos meus avós, Lourdes e Armando Patrício, com quem convivi nesses anos de 
mestrado, que puderam me dar vários exemplos de convivência parcimoniosa 
mesmo nas adversidades. Por sua compreensão quanto aos meus momentos de 
reclusão para estudos e por todos os recursos despendidos para o sucesso dessa 
jornada, sou eternamente grato a eles. 
 
 
 
 
LISTA DE GRÁFICOS 
 
Gráfico 1 – Valor presente líquido do projeto nas comunidades Chapéu Mangueira e 
Babilônia em função da taxa de desconto utilizada, considerando a visão do 
projeto..................................................................................................................76 
Gráfico 2 – Valor presente líquido do projeto nas comunidades Chapéu Mangueira e 
Babilônia em função da taxa de desconto utilizada, considerando a visão 
empresarial. ........................................................................................................ 77 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
Figura 1 - Subdivisão das Perdas Globais em uma concessionária de distribuição. A 
sigla PNT refere-se às Perdas Não Técnicas, que são subdivididas em dois 
grupos, PNT1 e PNT2..................................................................................... 25 
 
Figura 2 - Perdas do tipo PNT2 e suas causas principais ......................................... 26 
 
Figura 3 - Regime de Regulação por Incentivos. Cenário de inflação nula e fator X 
igual a 0. Os ganhos de eficiência são incorporados pela concessionária entre 
as revisões tarifárias (T1 e T2). ...................................................................... 33 
 
Figura 4 - Esquema do método proposto para este estudo ...................................... 38 
 
Figura 5 – Localização da Comunidade Chapéu Mangueira e Babilônia, no bairro do 
Leme, Rio de Janeiro. A área menor circulada à direita refere-se ao Chapéu 
Mangueira. ...................................................................................................... 47 
 
 
 
 
LISTA DE QUADROS 
 
Quadro 1 - Subgupos para a tarifa convencional ...................................................... 30 
 
Quadro 2 – Relatórios consultados para levantamento de iniciativas das empresas 
para redução de perdas e inadimplência, assim como os indicadores 
mencionados para acompanhamento de tais práticas. ................................... 40 
 
Quadro 3 – Empresas que passaram pelos filtros de acessibilidade. ....................... 43 
 
Quadro 4 - Temas e subtemas relacionados aos projetos e programas em 
comunidades de baixa renda. ......................................................................... 57 
 
Quadro 5 – Proposta de indicadores para monitorar a reação dos stakeholders ...... 61 
 
Quadro 6 – Indicadores de interesse dos acionistas e conexões com as linhas de 
avaliação financeira típica ............................................................................... 67 
 
Quadro 7 – Proposta para tratamento a ser dado à receita bruta da distribuidora .... 68 
 
Quadro 8 – Custos operacionais e demais despesas ............................................... 69 
 
Quadro 9 – Resultado financeiro, imposto de renda e contribuição social ................ 70 
 
Quadro 10 – Fluxo de caixa livre do projeto e para os sócios ................................... 71 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
 
Tabela 1 - Lista das empresas citadas na Metodologia de Tratamento Regulatório 
para Perdas Não Técnicas de Energia Elétrica com índice de complexidade 
socioeconômica acima de 0,10 ....................................................................... 42 
 
Tabela 2 - Indicadores encontrados que se propõem a monitorar cada classe de 
iniciativa definida. ........................................................................................... 50 
 
Tabela 3 - Indicadores encontrados para cada nível de associação com o 
desempenho financeiro e sua relação com as classificações de iniciativas 
definidas. Amostra de 279 indicadores. .......................................................... 51 
 
Tabela 4 - Quantidade de indicadores relacionados a fatores internos e externos. 
Visão segundo o nível de associação com o desempenho financeiro e a 
classificação da iniciativa. ............................................................................... 52 
 
Tabela 5 - Quantidade de indicadores relacionados a fatores internos e externos. 
Visões segundo o nível de associação com o desempenho financeiro e as 
partes interessam. .......................................................................................... 53 
 
Tabela 6 - Quantidade de indicadores e sua relação com a origem dos recursos. 
Visões segundo o nível de associação com o desempenho financeiro e a 
classificação da iniciativa. ............................................................................... 56 
 
 
 
LISTA DE SIGLAS 
 
 
ADR American Depositary Receipt 
ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica 
BCS Business Case for Sustainability 
CCC Conta de Consumo de Combustível 
CDE Conta de Desenvolvimento Energético 
COFINS 
CSLL 
DMR 
EBTIDA 
Contribuição Para o Financiamento da Seguridade Social 
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido 
Diferença Mensal de Receita 
Earnings before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization 
EVO 
FBDS 
FCLE 
FCO 
GEE 
Efficiency Valuation Organization 
Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável 
Fluxo de Caixa Livre da Empresa 
Fluxo de Caixa Operacional 
Gases de Efeito Estufa 
GRIIASC 
Global Report Initiative 
Índice ANELL de Satisfação do Consumidor 
ICMS 
ISQP 
Imposto Sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços 
Índice de Satisfação da Qualidade Percebida 
IP 
IPP 
IR 
IRPJ 
Iluminação Pública 
Instituto Pereira Passos 
Imposto de Renda 
Imposto de Renda Pessoa Jurídica 
ISE Índice de Sustentabilidade Empresarial 
MCSE 
NCG 
NIS 
Manual de Contabilidade do Setor Elétrico 
Necessidade de Capital de Giro 
Número de Inscrição Social 
ONG 
PEE 
Organização Não Governamental 
Programa de Eficiência Energética 
P&D Pesquisa e Desenvolvimento 
PIS Programa de Integração Social 
PNT Perdas Não Técnicas 
 
 
PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente 
Proinfa Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica 
RCB Relação Custo Benefício 
RGR 
ROI 
SMS 
SRE 
SRD 
TIR 
Reserva Global de Reversão 
Return On Investment 
Short Message Service 
Superintendência de Regulação Econômica 
Superintendência de Regulação dos Serviços de Distribuição 
Taxa Interna de Retorno 
TSEE Tarifa Social de Energia Elétrica 
UNEP 
UNEP FI 
UPA 
United Nations Environment Programme 
United Nations Environment Programme - Finance Initiative 
Unidade de Pronto Atendimento 
USAID 
VPL 
WACC 
 
United States Agency – International Development 
Valor Presente Líquido 
Weighted Average Cost of Capital 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
VIGNOLI, Felipe. Modelo de avaliação para projetos do setor elétrico em 
comunidades de baixa renda. Orientador: Celso Funcia Lemme. Coorientador: 
Vicente Ferreira. Rio de Janeiro. COPPEAD/UFRJ; 2013. Dissertação (Mestrado em 
Administração). 
 
Este trabalho apresenta um modelo de avaliação para projetos conduzidos por 
distribuidoras de energia elétrica em comunidades de baixa renda, considerando 
fatores financeiros e não financeiros. Estes projetos procuram adequar o consumo 
dos clientes que vivem nessas comunidades à sua capacidade de pagamento. 
Critérios foram utilizados para selecionar distribuidoras brasileiras de energia elétrica 
e estudar ações e iniciativas conduzidas por elas. Utilizando o estudo realizado 
Epstein e Roy (2001), os indicadores utilizados para monitorar essas ações e 
iniciativas foram associados a diversos stakeholders envolvidos, tais como: empresa, 
acionistas, investidores, governo, agente regulador, comunidade e sociedade. Além 
desses indicadores encontrados no estudo das distribuidoras, outros indicadores 
relevantes foram sugeridos, utilizando-se o esquema proposto por Delai e Takahashi 
(2008). Os indicadores associados aos acionistas e investidores foram utilizados 
para construir o modelo de avaliação financeira, no qual foi utilizado o fluxo de caixa 
descontado. Por fim, o modelo e os indicadores propostos foram testados em um 
caso real, avaliando projetos realizados nas comunidades Chapéu Mangueira e 
Babilônia, localizadas na cidade do Rio de Janeiro. A base de informação coletada 
foi referente ao período de 2009 a 2011, e foram realizadas projeções de 2012 a 
2020. Os resultados mostram que é possível chegar a indicadores financeiros e não 
financeiros por meio de informações primárias e segundarias e, com isso, tirar 
conclusões da atratividade do projeto e monitorar indicadores de interesse dos 
stakeholders. No entanto, o estudo demonstrou que a qualidade das informações e o 
nível de associação dos indicadores com o desempenho financeiro da empresa é de 
grande importância para melhor controle gerencial das empresas e para a 
construção de um modelo de negócios consistente. 
Palavras chave: Setor elétrico. Base da pirâmide. Modelo de negócio. Avaliação 
financeira. Desempenho financeiro. Indicadores. 
 
 
ABSTRACT 
 
 
 
VIGNOLI, Felipe. Modelo de avaliação para projetos do setor elétrico em 
comunidades de baixa renda. Orientador: Celso Funcia Lemme. Coorientador: 
Vicente Ferreira. Rio de Janeiro. COPPEAD/UFRJ; 2013. Dissertação (Mestrado em 
Administração). 
 
This work aims to build a template to evaluate projects conducted by Brazilian 
electric energy distributors in low income areas, taking in account financial and non 
financial issues. These projects seek the proper fit among the energy consumption 
and the payment capacity of clients that live at these areas. A method was developed 
to select some Brazilian companies from the electric energy sector and then to study 
their initiatives regarding efficient energy use. Supported by the method developed 
by Epstein and Roy (2001), key indicators were used to monitor these initiatives 
associated to the interest of different stakeholders, such as: the company itself, 
investors, shareholders, government, regulatory agencies, community and society. 
Some others indicators were suggested using Delai and Takahashi’s (2008) 
framework. Some of these key indicators, regarding investors and shareholders’ 
interests, were used to assemble the financial valuation template and, at the end, the 
discounted cash flow procedure was applied. Finally, the template and the suggested 
key indicators were tested on a real business case, which was implemented in 
Chapéu Mangueira and Babilônia, two famous slums situated in Rio de Janeiro, 
Brazil. The information basis collected had data from 2009 to 2011 and the finance 
projections took into account the years among 2012 and 2020. The results indicate 
that financial and non financial key indicators could be used to evaluate project 
feasibility. Therefore, information quality and associated level with finance 
performance of the key indicators are essential for managerial control and for a 
robust business case development. 
Key-words: Energy sector. Bottom of the pyramid. Business case. Financial 
valuation. Financial performance. Key indicators. 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................... 13 
1.1 CONTEXTO E HISTÓRICO ....................................................................... 13 
1.2 CONCEITO DE PERDAS E INADIMPLÊNCIA NO SETOR ELÉTRICO .... 15 
1.3 O PROBLEMA ............................................................................................ 16 
1.4 OBJETIVOS DA PESQUISA ...................................................................... 17 
1.5 RELEVÂNCIA E DELIMITAÇÃO ................................................................ 17 
 
2. REVISÃO DA LITERATURA ..................................................................... 20 
2.1 DESEMPENHO SOCIOAMBIENTAL E FINANCEIRO ............................... 20 
2.2 DESCRIÇÃO DO SETOR ELÉTRICO ........................................................ 24 
2.2.2 A tarifa de energia .................................................................................... 27 
2.2.2.1 Encargos e tributos da Parcela A ............................................................... 28 
2.2.2.2 Definição do valor da tarifa de energia ....................................................... 30 
2.2.3 Experiência das empresas ....................................................................... 34 
2.2.4 Medição e verificação de projetos de eficiência energética ................. 34 
2.2.4.1 IPMVP ........................................................................................................ 35 
2.2.4.2 Relação Custo Benefício ............................................................................ 36 
2.2.4.3 Custos evitados .......................................................................................... 37 
 
3. MÉTODO .................................................................................................... 38 
3.1 FONTE DE DADOS PARA O MODELO FINANCEIRO .............................. 39 
3.2 FERRAMENTAS UTILIZADAS ................................................................... 41 
3.3 ESTUDO DAS INICIATIVAS DAS EMPRESAS ......................................... 413.3.1 Seleção das empresas do setor elétrico ................................................ 41 
3.3.2 Relação das iniciativas ............................................................................ 43 
3.3.3 Identificação de indicadores ................................................................... 44 
3.3.3.1 Quanto ao nível de associação com o desempenho financeiro .................. 44 
3.3.3.2 Quanto aos fatores (interno ou externo) ..................................................... 44 
3.3.3.3 Quanto aos interesses dos stakeholders .................................................... 44 
3.3.3.4 Quanto à origem dos recursos ................................................................... 44 
 
 
3.3.3.5 Tratamento dado aos indicadores que não foram listados em informação 
pública ........................................................................................................ 45 
3.4 MODELO DE AVALIAÇÃO ......................................................................... 46 
3.5 TESTE DO MODELO EM UM CASO REAL ............................................... 46 
 
4. RESULTADOS ........................................................................................... 48 
4.1 IDENTIFICAÇÃO DAS INICIATIVAS E DOS INDICADORES .................... 48 
4.2 ANÁLISE DOS INDICADORES .................................................................. 50 
4.2.1 Nível de associação com o desempenho financeiro ............................. 50 
4.2.2 Fatores (interno ou externo) dos indicadores ....................................... 52 
4.2.3 Indicadores associados aos stakeholders ............................................. 53 
4.2.4 Origem dos recursos associados às iniciativas .................................... 55 
4.2.5 Proposta de indicadores .......................................................................... 56 
4.2.5.1 Dimensão social .......................................................................................... 57 
4.2.5.2 Dimensão Ambiental ................................................................................... 59 
4.2.5.3 Dimensão Econômica ................................................................................. 59 
4.3 UTILIZAÇÃO DOS INDICADORES PARA MONITORAR A REAÇÃO DOS 
STAKEHOLDERS ...................................................................................... 60 
4.3.1 Acionistas e investidores ........................................................................ 61 
4.3.2 Clientes...................................................................................................... 62 
4.3.3 Sociedade e comunidade ......................................................................... 62 
4.3.4 Governo e órgão regulador ..................................................................... 63 
4.3.5 Parceiros empresariais e ONGs .............................................................. 64 
4.4 APLICABILIDADE DOS INDICADORES PROPOSTOS PARA AVALIAR A 
REAÇÃO DOS STAKEHOLDERS NOS PROJETOS DAS COMUNIDADES 
CHAPÉU-MANGUEIRA E BABILÔNIA ...................................................... 64 
4.5 PROPOSTA DE UM MODELO DE AVALIAÇÃO FINANCEIRA ................. 66 
4.5.1 Receita ....................................................................................................... 67 
4.5.2 Custos operacionais (OPEX) e despesas ............................................... 68 
4.5.3 Considerações sobre resultado financeiro e impostos ........................ 70 
4.5.4 Fluxo de caixa operacional, investimentos e o fluxo de caixa livre do 
projeto ....................................................................................................... 70 
4.5.5 Avaliação final do modelo de negócio.................................................... 71 
 
 
4.6 APLICAÇÃO DO MODELO DE AVALIAÇÃO FINANCEIRA NAS 
COMUNIDADES CHAPÉU-MANGUEIRA E BABILÔNIA ........................... 72 
4.6.1 Premissas adotadas ................................................................................. 73 
4.6.2 Resultados finais do projeto ................................................................... 75 
 
5. CONCLUSÕES .......................................................................................... 78 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................81 
ANEXO.......................................................................................................................86 
APÊNDICES...............................................................................................................87
13 
 
1. INTRODUÇÃO 
1.1 CONTEXTO E HISTÓRICO 
Hart e Prahalad (2002) alertam que as corporações do mundo ocidental 
esgotaram seus mercados e devem partir em busca de novas oportunidades em 
outras camadas da população. Segundo os autores, haveria uma oportunidade de 
obter lucros com clientes na população de baixa renda e ainda ajudá-los no 
desenvolvimento socioeconômico. 
Segundo Prahalad (2005), o olhar para esses mercados deveria ser 
diferenciado. Para serem efetivas, as soluções devem ser inovadoras, tornando-se 
parte integrante do setor privado. A maior barreira é conseguir desvincular-se de 
antigas crenças. Por exemplo, acredita-se que não há dinheiro na base da pirâmide 
e que a população carente não reconhece marca e qualidade. Além disso, faz-se 
necessário convencer as empresas a desenvolverem soluções para mercados com 
os quais não possuem familiaridade e convencer a população de baixa renda a 
abandonar sua dependência do Estado. Para o autor, o modelo deve criar 
capacidade de consumo, aumentar o acesso e disponibilidade do produto ou serviço 
para essa população, criar novos bens e serviços e manter a dignidade das 
pessoas. A confiança entre a empresa e a comunidade carente é um pré-requisito 
básico para o bom funcionamento deste novo modelo (PRAHALAD, 2005). 
No entanto, Karnani (2007) alerta que o modelo de negócio proposto por Hart 
e Prahalad (2002) é uma ilusão: o mercado potencial na base da pirâmide estaria 
superestimado pelos autores, seria difícil de ser explorado em larga escala e 
apresentaria um elevado custo de servir. As pessoas que vivem nessa camada da 
população estariam mais preocupadas com o consumo básico, como alimentação e 
abrigo. Segundo o autor, a solução para o desenvolvimento socioeconômico estaria 
em tratar as comunidades de baixa renda como produtores e aumentar a sua 
capacidade de pagamento. Karnani (2007) coloca em evidência a importância do 
governo em prover educação, saúde pública, água potável e infraestrutura básica à 
população e cita o fracasso governamental neste papel. 
Como proposto por Porter e Kramer (2011), o progresso da empresa deve ser 
compartilhado com o desenvolvimento econômico e social, por meio de uma nova 
concepção de mercado, redefinição da cadeia de valor e criação de novas parcerias 
com agentes externos. Portanto, o modelo de negócio não conta apenas com 
14 
 
empresa e governo: diversos atores são impactados ou têm participação para o 
sucesso dos projetos, como, por exemplo, órgão regulador, líderes comunitários, 
ONGs e a própria comunidade. 
No setor de energia elétrica, a discussão do modelo de negócios para atender 
à população de baixa renda é de particular interesse. O fornecimento de energia 
elétrica é um dos serviços essenciais reconhecidos pela legislação brasileira, como 
estabelecido pela Lei 7783, artigo 10, inciso I de 28 de junho de 1989. Por ser papel 
do Estado garantir esse serviço, políticas públicas devem ser estabelecidas para 
assegurar o equilíbrio financeiro das distribuidoras de energia. Por conta das 
particularidades regulatórias do setor elétrico, o modelo de negócios para o 
fornecimento de energia elétrica à população de baixo poder aquisitivo encontra 
pontos em comum na visão dos autores supracitados: a comunidade de baixa renda 
deveser vista como um cliente rentável, suportando, ao mesmo tempo, a 
capacidade de pagamento e desenvolvimento econômico local. 
Apesar do fornecimento de energia elétrica ser um dos serviços essenciais 
com maior cobertura à população, o índice de perdas e inadimplência registrado em 
2004 foi de 16,85% (CRUZ; RAMOS, 2010). As perdas podem ocorrer por 
dissipação física nas linhas de transmissão, ou por furtos e fraudes realizados pelos 
clientes. O elevado índice de inadimplência é motivado principalmente pelo baixo 
nível de renda e pela violência constatada em determinadas regiões (CRUZ; 
RAMOS, 2010). Outros estudos mostram que o preço da tarifa, o percentual de 
consumo residencial e a posse de ar condicionado também são determinantes para 
esse índice (ARAÚJO, 2006). 
A inadimplência apresentou níveis críticos após o inicio das privatizações, em 
1994: a tarifa residencial no Brasil tornou-se uma das mais altas do mundo. Por 
causa disso, a quantidade de contas não pagas começou a crescer drasticamente. 
No apagão em 2001, por exemplo, a taxa de inadimplência era 3,5 vezes maior do 
que as taxas registradas em 1994 segundo a United States Agency International 
Development – USAID (2005). 
Se por um lado é de interesse do governo brasileiro que todos os cidadãos 
tenham acesso à energia elétrica segura e de qualidade, por outro, é do interesse 
das empresas que haja equilíbrio financeiro na distribuição de energia. Para que isso 
se torne uma realidade em comunidades de baixa renda, é necessário atuar na 
regularização do serviço e na adequação do consumo familiar à sua renda. Nesse 
15 
 
contexto, há uma forte articulação entre as distribuidoras, governo, órgão regulador, 
ONGs e a comunidade local. 
Uma grande contribuição do governo federal é a concessão de desconto na 
conta de energia elétrica às pessoas que participam de programas sociais 
cadastradas no Número de Inscrição Social (NIS). Esse programa de descontos 
recebe o nome de Tarifa Social. Nessa modalidade, há descontos para famílias que 
tenham uma renda máxima de meio salário mínimo por pessoa e consumo inferior a 
220 kWh ou que necessitem utilizar aparelhos elétricos como parte de tratamento 
médico. Há desconto entre 65% e 10%, dependendo do consumo mensal da família, 
como pode ser verificado na Resolução 414/2010 da Agência Nacional de Energia 
Elétrica (ANEEL). 
As empresas, por sua vez, realizam diversas ações no combate ao furto de 
energia e à inadimplência. Entre essas ações, há as inspeções regulares, corte de 
fornecimento, cobrança judicial e extrajudicial e parcelamento de dívidas. Além 
dessas ações, elas realizam ainda investimentos em novas tecnologias e programas 
sociais ligados à promoção do uso eficiente da energia elétrica: educação, 
comunicação, relacionamento com a comunidade, substituição de equipamentos e 
reformas em instalações elétricas domiciliares antigas. 
Diversas ações de sucesso vêm sendo realizadas no Brasil. Como exemplo, 
pode-se citar o caso do projeto piloto realizado em Paraisópolis, uma comunidade na 
cidade de São Paulo, pela Eletropaulo, onde ações educacionais e a substituição de 
equipamentos eletrônicos reduziram o índice de perdas e inadimplência. Na Bahia, a 
Neoenergia conseguiu reduzir significativamente o índice de inadimplência por meio 
do Programa Agente Coelba, onde pessoas ligadas à comunidade eram contratadas 
para melhorar a qualidade do relacionamento da distribuidora com a população local 
(USAID, 2009). No Rio de Janeiro, a Light conseguiu bons resultados com o 
programa Comunidade Eficiente, após a ocupação de favelas com Unidades de 
Polícia Pacificadoras (UPPs). Na cidade vizinha, Niterói, a Ampla investiu em 
tecnologia antifurto e leitura remota de medidores, além de atividades educacionais 
para combater as perdas (USAID, 2005). 
1.2 CONCEITO DE PERDAS E INADIMPLÊNCIA NO SETOR ELÉTRICO 
São dois os tipos de perdas na distribuição de energia elétrica: as perdas 
técnicas e as perdas não técnicas, estas últimas, chamadas também de perdas 
16 
 
comerciais. A perda técnica de energia é o montante de energia elétrica dissipada 
entre o suprimento e consumo final: grande parte da perda técnica ocorre na 
transmissão de energia. É mais difícil de ser controlada, pois é decorrente de leis 
físicas. A perda comercial refere-se ao furto de energia, quando o cliente realiza uma 
ligação clandestina. As perdas comerciais podem ser medidas pela diferença entre 
as perdas totais e as perdas técnicas. 
O índice de inadimplência é expresso como a razão, em termos percentuais, 
entre o total de contas não pagas até o último dia do mês de referência, incluindo 
tributos, e o total de contas faturadas no mesmo mês (ARAÚJO,2006). 
No setor elétrico brasileiro, as perdas comerciais e a inadimplência costumam 
ser referenciadas em conjunto. Como apontado por Araújo (2006), quando é 
detectado que um cliente está furtando energia elétrica, antes deste cliente ser 
desligado da rede, ele tem seu fornecimento restabelecido legalmente, mas tem de 
pagar o devido histórico de energia furtada além de uma multa. Caso o cliente não 
possa ou se recuse a pagar, ele entra na categoria de inadimplente. Nessa situação, 
sua energia é cortada e o cliente, caso volte a realizar o furto de energia para 
satisfazer suas necessidades, torna-se novamente um problema de perda comercial. 
Neste trabalho, o termo “perdas” refere-se às perdas comerciais, exceto 
quando explicitado o contrário. 
1.3 O PROBLEMA 
As perdas e inadimplência em comunidades de baixa renda estão longe de 
uma solução no Brasil e as distribuidoras continuam expostas a essa questão em 
maior ou menor grau (USAID, 2005). Como em qualquer outro tipo de investimento 
financeiro, o resultado das ações realizadas para mitigar o problema deve ser 
medido para que estas se justifiquem e possam ser replicadas em outros projetos. 
No entanto, relacionar o desempenho de questões socioambientais com 
desempenho financeiro tem sido um grande desafio para as empresas. Para tal, 
propomos um sistema de suporte aos executivos que dê respaldo à tomada de 
decisões e alocação de recursos (EPSTEIN; ROY, 2003). 
Os programas realizados pelas empresas de distribuição de energia têm 
diversas frentes de ações e pouco se sabe até que ponto seus indicadores são 
mensurados e levados em consideração na avaliação do desempenho financeiro da 
empresa. Essa avaliação é importante para justificar os investimentos nas 
17 
 
comunidades de baixa renda e incentivar outras distribuidoras a adaptar o modelo 
de negócio para sua realidade. Adicionalmente, quantificar os benefícios sociais 
relacionados a essas ações poderia fortalecer a parceria com os atores envolvidos. 
1.4 OBJETIVOS DA PESQUISA 
O presente trabalho sugeriu um modelo de avaliação financeira para projetos 
das distribuidoras de energia que atuam em comunidades de baixa renda. O estudo 
de tais projetos auxiliou a exposição do modelo de negócio empregado atualmente 
pelas empresas do setor elétrico nestas comunidades. A avaliação comportou as 
práticas exercidas e seus respectivos resultados financeiros para a verificação de 
sua atratividade. 
Além do impacto financeiro para a empresa, as práticas realizadas causam 
outros efeitos para as demais partes envolvidas nessas iniciativas, seja direta ou 
indiretamente. Portanto, foi proposto mecanismos de monitoramento sobre esses 
outros efeitos. 
 A proposta atende à realidade de distribuidoras brasileiras de energia elétrica 
que queiram um modelo de avaliação financeira e de reação das demais partes 
interessadas, conhecidos como stakeholders. Isto justificou a importância do estudo 
das empresas do setor para conhecer as diferentes práticas realizadas e identificar 
os parâmetros que são ou deveriam ser quantificados. 
1.5 RELEVÂNCIA E DELIMITAÇÃO 
Segundo o Instituto Acende Brasil (2007) as perdas e a inadimplênciano 
setor elétrico brasileiro chegam a causar um prejuízo anual de R$ 6 bilhões. Tal 
questão reflete-se em perdas financeiras para as concessionárias de energia, com 
importantes reflexos sobre o valor da tarifa de energia e a eficiência econômica do 
país. 
Parte da verba destinada pelas empresas para tratar das perdas e 
inadimplência é realizada por decisão gerencial, utilizando recursos próprios. Outra 
parte é realizada por determinação regulatória, tendo origem e volume definidos por 
lei: no mínimo, 0,5% da receita operacional líquida deve ser aplicado em ações que 
objetivem o combate ao desperdício de energia elétrica e 0,5% em pesquisa e 
desenvolvimento, como indica a Lei 9.991, de 24 de julho de 2000 com alterações 
dadas pela Lei 11.465, de 28 de março de 2007. Para as concessionárias e 
18 
 
permissionárias cuja energia vendida seja inferior a 1.000 GWh por ano, o 
percentual mínimo poderá variar de 0,5% para até 1%. Por isso, é importante ter 
uma ferramenta adequada para avaliar a atratividade dos investimentos e destinar 
os recursos a projetos que atendam aos interesses regulatórios e que sejam, 
sobretudo, rentáveis. 
Estudos do setor elétrico brasileiro apresenta os determinantes relacionados 
às perdas e inadimplência (CALILI, 2005; ARAÚJO, 2006; USAID, 2009; CRUZ; 
RAMOS, 2010) ou apresentam as práticas para o combate às perdas e 
inadimplência sob um ponto de vista puramente qualitativo (CUNHA; MELLO, 2011). 
No entanto, há poucas tentativas de se mensurar os resultados e desempenho 
financeiro dessas práticas. Em alguns trabalhos, há avaliação do desempenho 
financeiro de projetos pilotos (USAID, 2009), mas atendem apenas às necessidades 
específicas de uma região. Um bom exemplo de avaliação financeira para os 
investimentos realizados pelo setor elétrico em comunidades de baixa renda é 
apresentado por Penin (2008), mas o autor não centraliza o estudo em comunidades 
de baixa renda, nem propõem uma avaliação que leve em conta aspectos não 
financeiros. 
Realizar uma proposta de avaliação financeira que possa ser referência para 
distribuidoras que atuam em comunidades de baixa renda é, portanto, uma 
contribuição às distribuidoras de energia elétrica, ao governo e à sociedade 
brasileira. 
O problema retratado neste estudo apresenta apenas questões referentes à 
realidade brasileira. Essa delimitação justifica-se por causa das diferentes questões 
regulatórias e também devido às particularidades de cada país. Na África, por 
exemplo, as ações de maior sucesso estão ligadas à modalidade de cobrança da 
conta de energia, que pode ser realizada por um formato pré-pago: o cliente paga 
por uma determinada quantia de energia elétrica e regula seu consumo para não 
ultrapassá-la, sistema semelhante ao que ocorre na telefonia pré-paga (USAID, 
2004). Até o momento, essa modalidade não é contemplada pela ANEEL. 
Apesar de a discussão sobre esse tema receber destaque desde 1994, este 
trabalho contemplará as informações secundárias das distribuidoras referentes 
apenas ao último ano de publicação de relatórios de sustentabilidade de cada 
empresa, para que se possa acompanhar as recentes alterações regulatórias que 
modificaram o cenário para as distribuidoras. Uma dessas alterações foi decorrente 
19 
 
das novas regras estabelecidas pela Resolução Normativa ANEEL no 414/10, que 
implicam em restrições de cobrança referente aos débitos existentes dos clientes 
das distribuidoras de energia, recuperação de perdas e aumento de custos para 
combatê-las, o que interfere nas práticas de controle da inadimplência. Outra 
alteração relevante, ainda em 2010, foram as mudanças nas regras de aplicação da 
tarifa social de energia elétrica para os consumidores de baixa renda, decorrentes 
dos critérios fixados pela Lei no 12.212, de 2010. Esta lei retirou o benefício da tarifa 
social das pessoas que não estivessem cadastradas nos programas sociais do 
governo por meio do NIS. Essa alteração exigiu um grande esforço das 
distribuidoras para recadastrar seus clientes em programas de baixa renda. No 
entanto, apenas os relatórios de sustentabilidade referentes a 2011, não divulgados 
por todas empresas antes da conclusão deste estudo, terão informações sobre o 
impacto dessas alterações nas iniciativas das distribuidoras. 
20 
 
 
2. REVISÃO DA LITERATURA 
Este capítulo está estruturado em duas partes: a primeira discorre sobre a 
relação entre o desempenho socioambiental e financeiro das empresas. A segunda 
parte expõe as características do setor elétrico no Brasil, bem como as 
particularidades do problema de fornecimento de energia em comunidades de baixa 
renda. 
2.1 DESEMPENHO SOCIOAMBIENTAL E FINANCEIRO 
Segundo Friedman (1962), os gastos corporativos em causas sociais são uma 
violação da responsabilidade dos gestores com seus investidores, uma vez que 
esses gastos não representariam um retorno financeiro. Esta visão é questionada 
por Freeman (apud HUMPHREY et al., 2012, p. 1), que acredita que os 
investimentos devam atender a outros grupos de interesse. Outros autores 
defendem que investimentos sociais não necessariamente estão relacionados a 
maiores custos, burocracia e nem mesmo trariam menores retornos financeiros 
(SALZMANN et al., 2005; LINS; WAJNBERG, 2007) 
Esse confronto tem sido palco de discussão de autores que buscam evidenciar 
a correlação, positiva ou negativa, entre investimentos sociais e desempenho 
financeiro. Humphrey et al. (2012) revisaram estudos que encontram conexão 
positiva, negativa ou neutra entre o desempenho financeiro e desempenho social. 
No estudo, os autores evidenciam que não há relação entre desempenho financeiro, 
custo de capital e risco do negócio associado às práticas sociais de uma empresa. 
Segundo os autores, essa conclusão é uma boa noticia, pois se por um lado as 
praticas socioambientais não trazem melhor performance financeira que uma 
empresa convencional, por outro lado, não causam qualquer tipo de prejuízo. Deste 
modo, os gestores poderiam realizar seus investimentos sociais sem a preocupação 
de estar violando sua responsabilidade com os acionistas. Os autores sugerem que 
os investidores deveriam utilizar a avaliação das práticas de responsabilidade social 
de modo complementar à avaliação financeira. 
Segundo Statman (2006), estudos como os de Humphrey et al. (2012), que 
não encontram relação entre desempenho financeiro e desempenho socioambiental, 
são um reflexo do mercado que não precifica práticas de responsabilidade 
21 
 
socioambiental. Deste modo, investidores que compram ações de empresas 
socialmente responsáveis encontram número significativo de investidores 
convencionais prontos para vender tais ações, fazendo com que o preço das ações 
não suba. Faz-se necessário, portanto, o uso de ferramentas complementares que 
auxiliem a precificação das ações incluindo a visão socioambiental. Na literatura, a 
conexão de valor entre desempenho socioambiental e financeiro é denominada BCS 
- Business Case for Sustainability (EPSTEIN; ROY, 2003; SALZMANN et al., 2005a; 
SALZMANN, et al., 2005b; STATMAN, 2006). 
Há um grande desafio para se incorporar a sustentabilidade às empresas 
devido à dificuldade em se mensurar o valor das práticas socioambientais (EPSTEIN 
;ROY, 2003; SALZMANN et al., 2005a; SALZMANN et al., 2005b). Para tentar 
vencer esse entrave, Salzmann et al. (2005b) apresentam um conjunto de 
recomendações de ferramentas para auxiliar a implementação de um business case 
e, ainda, ferramentas financeiras para realizar sua avaliação. 
Em linha semelhante, outros autores sugerem meios de aprimorar a gestão, 
incorporando aspectos socioambientais no seu processo de tomada de decisão. 
Delai e Takahashi (2008) apresentam um modelo de referência para 
acompanhamento de indicadores relacionados à sustentabilidade, para que 
questões socioambientais, além das econômico-financeiras, sejamutilizadas na 
gestão das empresas. Para a construção do modelo, os autores utilizaram oito 
iniciativas mundialmente conhecidas: (i) Global Reporting Initiative (GRI), (ii) 
Métricas de Sustentabilidade do IChemE, (iii) Índice Dow Jones de Sustentabilidade, 
(iv) Índice Triple Bottom Line, (v) Indicadores de Desenvolvimento Sustentável da 
Organização das Nações Unidas,(vi) Barômetro de Sustentabilidade, (vii) 
Dashboard de Sustentabilidade e (viii) Indicadores Ethos de Responsabilidade 
Social Empresarial. O modelo apresentado integra a dimensão social, ambiental e 
econômica, estando alinhado com o conceito do Triple Bottom Line proposto por 
Jonh Elkington (ELKINGTON; JAMES, 1997). O modelo separa cada dimensão em 
temas e subtemas, detalhando de forma clara o que cada um deles se propõe a 
mensurar. 
Epstein e Roy (2003) identificaram o mesmo problema relacionado à conexão 
de valor entre ações socioambientais e o desempenho financeiro: os gestores que 
se propõem a realizar projetos relacionados à agenda da sustentabilidade precisam 
entender de que forma os investimentos socioambientais têm impacto no negócio, 
22 
 
na sociedade e no meio ambiente. Os autores propuseram um sistema de suporte 
aos executivos para considerar aspectos socioambientais na tomada de decisão e 
alocação de recursos. Segundo os autores, um business case deve identificar os 
índices e indicadores socioambientais e evidenciar como eles afetam a rentabilidade 
de longo prazo das empresas. É sugerido, para isso, a classificação dessas 
informações em quatro diferentes níveis: 
a) Nível 1: informação descritiva, não relacionada ao desempenho financeiro da 
empresa. Exemplo: Programa para doação de geladeiras; 
b) Nível 2: informação quantitativa, associada à mensuração física, mas não 
relacionada ao desempenho financeiro. Exemplo: Número de geladeiras 
doadas; 
c) Nível 3: informação traduzida em valor monetário, parcialmente ligado ao 
desempenho financeiro, mas não associa ganhos ou perdas marginais sobre a 
receita ou ao desempenho financeiro. Exemplo: Investimento para doação de 
geladeiras; 
d) Nível 4: informação dos benefícios do projeto traduzida em valor monetário, 
integralmente relacionada ao desempenho financeiro da empresa. A 
informação deverá trazer o impacto marginal sobre a receita ou desempenho 
financeiro. Exemplo: Impacto na receita devido à doação de geladeiras. 
Quanto mais próximos do desempenho financeiro estiverem os indicadores, maiores 
as chances de se realizar um business case. 
Em trabalhos anteriores, os autores (EPSTEIN;ROY, 2001) propuseram ainda 
um esquema no qual os indicadores deveriam ser monitorados para serem 
relacionados ao desempenho financeiro da empresa de longo prazo, pois apenas 
por meio do monitoramento da reação dos stakeholders é possível traduzir com 
precisão as ações socioambientais em custos e benefícios resultantes. Em outro 
estudo (EPSTEIN;ROY, 2003) os autores sugerem, quatro etapas para se 
implementar a sustentabilidade nas empresas: (i) identificar os stakeholders, (ii) 
mapear o modelo de desempenho corporativo, (iii) desenvolver projetos, sistemas e 
estruturas e, por fim, (iv) elaborar as métricas e coletar dados. 
O relatório da United Nations Environment Programme – Financial Institutions 
(UNEP FI) de 2006 afirma que fatores internos e externos estão relacionados às 
ações das empresas e deveriam ser monitorados com dados qualitativos e 
23 
 
quantitativos. Fatores internos são aqueles decorrentes da atividade dentro dos 
limites físicos da empresa como, por exemplo, a eficiência no consumo da água e de 
energia elétrica. Fatores externos estão ligados às consequências decorrentes das 
atividades da empresa, manifestando-se fora dos limites físicos da empresa. 
Emissões atmosféricas, segurança fora do trabalho, contaminação de efluentes e 
até mesmo inovação de processos são alguns exemplos de fatores externos. Os 
indicadores de desempenho impactados seriam a receita, a redução dos custos 
operacionais e o custo de capital. O relatório de 2010 da mesma instituição propõe 
o alinhamento de discurso entre as empresas e instituições financeiras, apontando 
temas materiais e dados quantitativos e qualitativos que devem ser considerados no 
diálogo com cada grupo (UNEP FI, 2010). 
Para identificar a influência do desempenho socioambiental no desempenho 
financeiro, o efeito em estudo deve ser isolado de outras variáveis do negócio e 
expresso em termos monetários (YACHNIN & ASSOCIATES, 2006). Depois de 
realizar esse isolamento, métricas quantitativas devem ser estabelecidas e 
incorporadas às ferramentas de avaliação financeira tradicionais. Assim, seria 
possível evidenciar o desempenho financeiro em função de fatores socioambientais. 
Dentre as ferramentas de avaliação financeira mais conhecidas no mercado, estão a 
análise de Fluxo de Caixa Descontado, Valor Econômico Agregado, Análise por 
Múltiplos e Opções Reais. 
As ferramentas existentes para avaliar o impacto das práticas socioambientais 
foram alvo de estudo de Ness et al. (2007), no qual é criada uma categorização para 
as mesmas. São apresentadas três categorias de ferramentas que auxiliam a 
avaliação das práticas socioambientais. Na primeira categoria são discutidas 
ferramentas de análise retrospectiva, que são os índices e indicadores. Na segunda 
categoria, ferramentas retrospectivas e prospectivas são utilizadas para analisar, por 
exemplo, os custos ao longo do ciclo de vida dos produtos, fluxo de materiais e 
análise da energia consumida pelos produtos e serviços. Por fim, a terceira categoria 
apresenta ferramentas puramente prospectivas para analisar, por exemplo, os 
riscos, a relação de custo-benefício, a modelagem conceitual do negócio. Esta 
última categoria apresenta ainda um conjunto de ferramentas para analisar os 
possíveis impactos no meio ambiente e na estratégia da empresa. 
Métodos de valoração são necessários para auxiliar a precificação de bens e 
serviços que não possuem propriedade definida e, por isso, não têm valor definido 
24 
 
pelos mecanismos de mercado tradicionais. Como exemplo de métodos, pode-se 
citar o custo de viagem, que é a precificação de bens naturais por meio de quanto os 
indivíduos gastam para visitar o local; a avaliação contingente, que se trata de uma 
pesquisa para avaliar quanto as pessoas estariam dispostas a pagar para 
preservação de determinado recurso natural; e o método de preços hedônicos, que 
analisa a influência do preço de um bem de acordo com as características de seus 
arredores. Esses métodos complementam as ferramentas das três categorias 
citadas no estudo de Ness et al. (2007). 
As ferramentas que servem ao business case também são alvo de críticas. 
Salzmann et al. (2005b) apontam que elas são aplicadas em casos muito 
específicos ou muito abrangentes, não servindo como um modelo para o mercado. 
Outro motivo é a dificuldade técnica: são trabalhosas demais e exigem dos gestores 
um conhecimento adicional, por não trabalhar com ferramentas de avaliação 
comumente conhecidas pelos gestores. 
2.2 DESCRIÇÃO DO SETOR ELÉTRICO 
As concessionárias de energia elétrica são responsáveis pela distribuição de 
energia elétrica de forma universal em suas áreas de concessão. Dentre as 
diferentes regiões que devem ser atendidas, aquelas com comunidades de baixa 
renda são as que geram a maior quantidade de perdas e inadimplência (CRUZ; 
RAMOS, 2010). Dado que o setor elétrico brasileiro é regulado, ou seja, não segue 
as leis de livre mercado onde o preço é determinado por oferta e demanda, deve-se 
ter entendimento da complexidade do setor para a correta avaliação das ações de 
combate às perdas e inadimplência. 
2.2.1 Rede de distribuição de energia e perdas no setor elétrico 
No Brasil, a geração, transmissão e distribuição de energia elétrica são 
realizadas por meio de uma complexa rede interligada, projetadapara atender toda 
a população, em qualquer região e a qualquer momento: os agentes geradores têm 
de coordenar de forma precisa a oferta e a demanda estimada. Essa tarefa não é 
simples, pois a energia elétrica não pode ser armazenada em larga escala e de 
modo econômico. A quantidade e a qualidade de energia são dadas pelas 
condições globais de demanda que envolve um conjunto de consumidores, mais os 
serviços de transmissão e distribuição. Em outras palavras, as ações de cada 
25 
 
agente, seja da geração, transmissão ou distribuição, têm efeito imediato sobre os 
outros. (PINTO; BOMTEMPO; IOOTTY, 2007). 
Para que o sistema esteja em equilíbrio estático, a demanda de energia deve 
ser igual ou menor à oferta de energia menos as perdas. Portanto, para atender às 
necessidades de demanda por energia elétrica de um país em crescimento, deve-se 
realizar novos investimentos em geração ou atuar na redução de perdas técnicas e 
não técnicas. 
Penin (2008) apresentou um esquema simples para visualizar a configuração 
das perdas no setor elétrico, que pode ser acompanhado pela Figura 1. 
Figura 1 - Subdivisão das Perdas Globais em uma concessionária de distribuição. 
Perdas 
Globais
Perdas Técnicas
Perdas Não Técnicas PNT 1PNT 2
Furto Fraudes e 
anomalias
Medidores IP Sem 
medição
Outros
 
Fonte: Penin (2008) 
As Perdas Globais, aquelas que ocorrem em todo sistema elétrico, desde a 
geração até o seu consumo final, são separadas em perdas técnicas e não técnicas, 
como tratado no Capítulo 1. As perdas não técnicas possuem causas distintas. O 
autor separou essas motivações em dois grupos principais: Perdas Não Técnicas do 
Tipo 1 (PNT1) e Perdas Não Técnicas do Tipo 2 (PNT2). 
O grupo PNT1 abrange as perdas não técnicas relacionadas aos furtos e 
fraudes. O combate a esse tipo de perda é realizado por meio da prevenção e 
execução de inspeções para detectar a fraude ou consumo irregular, respeitando os 
aspectos regulatórios e jurídicos inerentes ao setor elétrico brasileiro. Como 
medidas de prevenção ao furto e fraude de energia, empresas realizam 
investimentos em leitura remota, que possibilita o corte e religamento do 
26 
 
fornecimento de energia à distância, além do controle do consumo e investimentos 
em programas de eficiência energética, com o objetivo de adequar o consumo do 
cliente à sua capacidade de pagamento. 
O grupo PNT2 engloba os erros decorrentes dos medidores de energia, 
iluminação pública (IP) e não aferição. A perda não técnica decorrente dos 
medidores pode ocorrer devido à deterioração de equipamentos na rede ao longo do 
tempo ou do modo de ligação clandestina. Nessas ligações, a bitola utilizada 
costuma ser inferior à recomendada, ocasionando também perdas técnicas. A 
iluminação pública, de forma geral, não utiliza medidores e o consumo faturado é 
uma estimativa da curva de carga conhecida. O erro decorrente desta modalidade 
não costuma ser alto, mas pode haver diferenças devido às lâmpadas queimadas e 
lâmpadas acesas durante o dia. Em outros casos não é possível realizar a aferição, 
por não haver o medidor. Este é o caso de quiosques e bancas, onde a instalação 
de mecanismos de medição é muitas vezes tecnicamente complexa (PENIN, 2008). 
Nesses casos, uma estimativa deve ser realizada, podendo haver erros a mais ou a 
menos entre o consumo real e o faturamento efetivado. 
Outros motivos para as perdas do grupo PNT2 estão relacionados à gestão 
da empresa. Como exemplos, tem-se: erros técnicos de medição, equipamentos 
inadequados ou inexistentes, clientes cadastrados e não cobrados, procedimentos 
inadequados para recuperação de receitas, falha no cadastro dos clientes, erros de 
leitura e lançamento, falta de auditoria nos processos de consumo irregular e baixa 
capacitação do pessoal de campo (PENIN, 2008). A Figura 2 mostra um esquema 
de perdas do tipo PNT2 e suas causas. 
A perda fio é outro grupo de perdas comerciais, além do grupo PNT1 e PNT2. 
Este é um conceito utilizado para identificar a parcela de perdas técnicas originadas 
das perdas comerciais, além das perdas técnicas originadas do consumo regular. A 
parcela das perdas fio decorrentes das perdas comerciais são introduzidas por 
ligações fora de especificação técnica e uso de materiais inapropriados que acabam 
por ocasionar fugas de corrente elétrica. 
27 
 
Figura 2 - Perdas do tipo PNT2 e suas causas principais 
PNT Tipo 2
Iluminação
pública
Medidores Sem 
medição
Gestão da 
empresa
Estimativa da 
curva de carga
Lâmpadas 
queimadas
Lâmpadas 
acessas durante 
o dia
Deterioração
Ligação 
Clandestina
Complexidade 
da ligação
Estimativa do 
consumo
Estimativa 
amostral
Erro técnico de 
medição
Equipamento 
inadequado
Falha no 
cadastro do 
cliente
Erro de leitura
Erro em 
recuperação de 
receita
Falha em 
auditoria
 
Fonte: Adaptado de Penin (2008) 
 
2.2.2 A tarifa de energia 
A tarifa de fornecimento de energia elétrica paga pelo consumidor é, 
idealmente, aquela que seja suficiente para garantir o fornecimento de energia com 
qualidade, assegurar a remuneração adequada dos agentes de geração, 
transmissão e distribuição, além de cobrir tributos e encargos embutidos na tarifa. 
Além disso, deve remunerar os investimentos necessários para expandir a 
capacidade energética do país. 
A tarifa é composta por duas parcelas. A parcela da tarifa que não depende 
da gestão ou da vontade da distribuidora, portanto, não gerenciável, é conhecida 
como Parcela A, composta pelo preço de compra de energia, transporte e encargos 
setoriais. A parcela relacionada aos custos operacionais, remuneração do 
investimento e depreciação é denominada Parcela B, representando os custos 
gerenciáveis da distribuidora. A Parcela B é composta pelas despesas de operação 
e manutenção, despesas de capital. Esta última ainda pode ser subdividida em base 
de remuneração e quota de reintegração dos ativos. 
28 
 
A quota de reintegração regulatória é um mecanismo regulatório que 
remunera a depreciação e amortização dos investimentos realizados, visando 
recompor os ativos afetos à prestação do serviço, ao longo de sua vida útil (ANEEL, 
2012a). 
A base de remuneração é uma compensação que está embutida na tarifa por 
meio do cálculo do custo de capital ponderado (Weighted Average Cost of Capital - 
WACC) das distribuidoras, que é realizado pela ANEEL. Portanto, o valor do capital 
a ser remunerado, conhecido como base de remuneração dos ativos, é obtido por 
meio do cálculo da taxa apropriada que poderá reverter à empresa seus 
investimentos em geração, transmissão e distribuição. O método de cálculo para a 
base de remuneração dos ativos está presente na Nota Técnica nº 95/2011 da 
ANEEL (2011a). Em última análise, o preço da tarifa de energia elétrica é ajustado 
para cobrir os investimentos realizados. 
2.2.2.1 Encargos e tributos da Parcela A 
Os encargos setoriais e tributos que compõem a Parcela A chegam a 
representar 45% da composição da tarifa. Os outros 55% são destinados aos 
fornecedores de energia (INSTITUTO ACENDE BRASIL, 2010). A lista de encargos 
que compõem a tarifa é extensa e muitas vezes há sobreposição na destinação dos 
recursos. Os encargos mais relevantes são: 
a) Conta de Consumo de Combustível (CCC): Destinado às termoelétricas de 
combustíveis fósseis em Sistemas Isolados; 
b) Reserva Global de Reversão (RGR): Recurso destinado a indenizar ativos 
vinculados à concessão e fomentar a expansão do setor elétrico; 
c) Conta de Desenvolvimento Energético (CDE): Destinado a subsidiar a 
universalização do serviço, o desenvolvimento energético, a geração a partir 
de fontes eólicas, PCHs, biomassa, gás natural e carvão mineral nacional; 
d) Proinfa: Investimentos em geradores de fontes eólicas, PCH e biomassa; 
e) P&D: Investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento e Eficiência Energética 
e custeio da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE). 40% dos recursossão destinados à União, 40% para projetos de P&D das empresas e 20% 
para o Ministério de Minas e Energia (MME). 
29 
 
Parte dos recursos da CDE é destinada à cobertura do valor descontado pelo 
programa da tarifa social. A Resolução Normativa no 472/2012 da ANEEL (ANEEL, 
2012b) disciplina que as distribuidoras devem calcular a Diferença Mensal de 
Receita (DMR) dos faturamentos das unidades de consumidores classificados como 
baixa renda, sendo esta a diferença entre o faturamento sem desconto e o 
faturamento com os descontos aplicados. O custeio da DMR é distinto para cada 
distribuidora: a ANEEL as classifica em três grupos - Grupo A, Grupo B e Grupo C - 
podendo custear integralmente a DMR com recursos da CDE ou apenas ao que 
exceder uma parcela determinada de sua receita. Cerca de 80% dos recursos da 
CDE são aplicados na universalização do serviço de energia elétrica e na subvenção 
da tarifa de consumidores de baixa renda (INSTITUTO ACENDE BRASIL, 2010). 
Parte dos recursos estabelecidos pela Lei nº. 9.991/2000 fica em contas 
contábeis específicas nas empresas do setor, definidas pelo Manual de 
Contabilidade do Setor Elétrico (MCSE) e instituídas pela Resolução Normativa 
444/2001. Essa parte fica sob a regulamentação da ANEEL e destina-se a 
programas e projetos de eficiência energética e P&D das empresas distribuidoras. 
Estas devem comprovar os investimentos por meio da execução dos projetos. Cabe 
à ANEEL reconhecer os valores investidos em cada projeto e aprová-los. 
Além dos encargos, incidem sobre a Parcela A tributos federais, estaduais e 
municipais de pagamentos compulsórios devidos ao Governo. Os tributos federais 
são o Programa de Integração Social (PIS) e Contribuição para o Financiamento da 
Seguridade Social (COFINS), voltados a atender programas sociais do Governo 
Federal. Juntos representam 9,25% sobre o total da conta de energia. O tributo 
estadual, com grande peso na conta de energia, é o Imposto sobre a Circulação de 
Mercadorias e Serviços (ICMS). O valor deste imposto varia de acordo com o código 
tributário de cada estado. A Contribuição para Custeio do Serviço de Iluminação 
Pública (CIP) é um imposto municipal, a quem cabe a responsabilidade pelos 
serviços de projeto, implantação, expansão, operação e manutenção das instalações 
de iluminação pública. 
O cálculo das tarifas está definido em nota técnica da Superintendência de 
Regulação Econômica (SRD) e da Superintendência de Regulação dos Serviços de 
Distribuição (SRD). A composição das tarifas de uso de energia segue a Resolução 
Normativa no 166/2005. Há diversos subgrupos da tarifa de energia convencional, 
30 
 
conforme apresentado no Quadro 1. Cada empresa distribuidora de energia tem o 
valor homologado pela ANEEL para cada um desses subgrupos. 
Quadro 1 - Subgupos para a tarifa convencional 
TARIFA CONVENCIONAL 
SUBGRUPO 
A3a (30 kV a 44 kV) 
A4 (2,3 kV a 25 kV) 
AS (SUBTERRÂNEO) 
B1-RESIDENCIAL: 
B1-RESIDENCIAL BAIXA RENDA: 
Consumo mensal inferior ou igual a 30 kWh 
Consumo mensal superior a 30 kWh e inferior ou 
igual a 100 kWh 
Consumo mensal superior a 100 kWh e inferior ou 
igual a 220 kWh 
Consumo mensal superior a 220 kWh 
B2-RURAL 
B2-COOPERATIVA DE ELETRIFICAÇÃO RURAL 
B2-SERVIÇO PÚBLICO DE IRRIGAÇÃO 
B3-DEMAIS CLASSES 
B4-ILUMINAÇÃO PÚBLICA: 
B4a - Rede de Distribuição 
B4b - Bulbo da Lâmpada 
 
Fonte: Adaptado de resoluções homologatórias da ANEEL. 
2.2.2.2 Definição do valor da tarifa de energia 
Para a classe residencial, a ANEEL determina o preço da tarifa no momento 
da assinatura do Contrato de Concessão de cada distribuidora, sendo estabelecido 
por meio do princípio de equilíbrio econômico e financeiro dos agentes envolvidos. O 
preço é ajustado ao longo do tempo por meio de três mecanismos de alteração: 
a) Revisão tarifária: realizada em média a cada quatro anos, quando os custos 
da distribuidora são revistos. O Brasil teve seu primeiro ciclo de revisão 
tarifária entre os anos de 2003 e 2005 e o segundo ocorreu entre 2007 e 
2010. O terceiro, iniciado em 2011, ainda está vigente. A revisão permite um 
reposicionamento da tarifa após completa análise dos custos e remuneração 
dos investimentos prudentes, definindo um novo patamar de tarifa e 
31 
 
adequando-a à estrutura da empresa e ao mercado (ANEEL, 2008a) . O 
terceiro ciclo tarifário não foi concluído ainda para todas as empresas; 
b) Reajuste tarifário: realizado no ano em que não há revisão, com o objetivo de 
zelar pelo equilíbrio econômico-financeiro da concessão. Uma fórmula 
prevista no contrato de concessão ajusta os preços, considerando os novos 
custos não gerenciáveis da Parcela A, como novos valores de encargos, da 
compra de energia e da transmissão, e correção dos custos constantes da 
Parcela B, por meio da correção pelo IGP-M. A Parcela B depende também 
do ajuste de um índice, conhecido como fator X, fixado na revisão tarifária: 
sua função é repartir com o consumidor os ganhos de produtividade da 
concessionária, decorrentes do crescimento do número de unidades 
consumidoras e do aumento do consumo do mercado existente; 
c) Revisão extraordinária: aplicada quando alguma causa especial desequilibra 
o contrato de concessão. 
Os três mecanismos visam permitir que a tarifa de energia seja justa aos 
consumidores, cubra os custos do serviço com nível de qualidade estabelecido pela 
ANEEL, remunere os investimentos reconhecidos como prudentes, estimule o 
aumento de eficiência e da qualidade dos serviços e garanta o atendimento 
universal. 
 Para o caso específico das perdas de energia elétrica, há um limite máximo 
que a empresa fica autorizada a repassar à tarifa. A meta, ou trajetória, é definida na 
revisão tarifária e seguida nos reajustes tarifários subsequentes. Caso a empresa 
consiga resultados melhores do que a meta estabelecida pela ANEEL, ela será 
beneficiada por aumento de receita verificada até a próxima revisão tarifária, quando 
um novo patamar será estabelecido. Caso contrário, por estarem abaixo da meta 
estabelecida pela ANEEL, as perdas não são cobertas de acordo com o equilíbrio 
financeiro necessário, ou seja, valor não é incorporado à tarifa e a empresa perde 
margem operacional. Essa margem é conhecida como Earnings before Interest, 
Taxes, Depreciation and Amortization (EBTIDA). 
 Parte dos custos referentes à inadimplência pode também ser repassada ao 
consumidor na revisão tarifária, mas apenas dentro de um determinado limite: 0,50% 
da receita bruta referente ao ano anterior, sendo utilizada uma escala regressiva ano 
após ano, até chegar ao valor de 0,20% da receita bruta. Deste modo, a ANEEL 
32 
 
mantém a trajetória regulatória com vistas a evitar que os consumidores regulares 
paguem pelos inadimplentes (ARAÚJO, 2006) e estabelece incentivos para que as 
concessionárias aprimorem sua gestão sobre o tema. 
 Por fim, é importante notar que no cálculo do fator X a ANEEL confia nas 
informações repassadas pelas concessionárias, mas pune com severidade os casos 
em que as informações se revelam propositalmente falsas: cria-se, assim, uma 
situação de assimetria de informações entre o regulador e a distribuidora. O fator X 
seria nulo caso o consumo de energia elétrica fosse estagnado. No entanto, no caso 
em que, com os mesmos ativos, a distribuidora passasse a vender mais energia pelo 
aumento do consumo de seus clientes, resultante do aumento de compra de 
eletrodomésticos, por exemplo, esta estaria aumentando a sua receita, porém, 
desequilibrando o sistema. O fator X ajusta essa tendência, incorporando à tarifa os 
investimentos necessários na geração de energia, restabelecendo o equilíbrio 
financeiro da empresa e distribuindo com o público os ganhos de produtividade. 
Essa situação é ilustrada por Jerson Kelman: 
... durante a revisão tarifária, a perspectiva de um aumento de mercado puxa o fator X paracima e, inversamente, a perspectiva de vigoroso fluxo de investimentos puxa o fator X para 
baixo. Como o EBTIDA de uma distribuidora será tanto maior nos anos entre revisões quanto 
menor for X, é natural que as distribuidoras apresentassem à ANEEL, durante as discussões 
que antecedem as revisões, visões pessimistas sobre o crescimento de mercado e otimistas 
quanto aos planos de investimento (KELMAN, 2009, p. 159) 
Neste ponto, deve estar claro ao leitor que as distribuidoras do setor de 
energia elétrica, por operarem em concessões reguladas, não aferem ganhos 
marginais por meio do aumento de seu mercado consumidor, mas por ganho de 
eficiência operacional, justificando a relevância em reduzir as perdas e 
inadimplência. Como apontado por Araújo (2006), o Regime de Regulamentação de 
Incentivos busca fazer com que, nas revisões tarifárias, o consumidor seja 
beneficiado pelos ganhos de eficiência da concessionária. Além disso, a base de 
remuneração do capital é ajustada para que a tarifa permaneça constante em 
termos reais. No entanto, entre as revisões tarifárias, a concessionária se apropria 
de ganhos de eficiência empresarial como estabelecido pelo art. 14 da Lei no 9.427 
de 26 de dezembro de 1996. A Figura 3 ilustra o ganho de produtividade incorporado 
entre as empresas entre as revisões tarifárias para um cenário de inflação nula e 
fator X igual a 0. 
33 
 
Figura 3 - Regime de Regulação por Incentivos. Cenário de inflação nula e fator X igual a 0. Os 
ganhos de eficiência são incorporados pela concessionária entre as revisões tarifárias (T1 e T2). 
 
Fonte: ANEEL, 2003 
O atual regime de regulação é caracterizado pela Regulação por Incentivos: 
as regras são estabelecidas de forma a estimular as distribuidoras de energia a 
reduzir as perdas e inadimplência e a redistribuir para a sociedade parte dos ganhos 
de eficiência obtidos pelas mesmas. 
A correta medida das metas estabelecida pela ANEEL, no que tange às 
perdas comerciais de energia, deve considerar as particularidades socioeconômicas 
de cada região, que fogem do controle das empresas, e evitar que aspectos 
relacionados à ineficiência gerencial sejam repassados ao preço da tarifa do 
consumidor. 
 No segundo ciclo de revisão tarifária, ficou estabelecido que a meta de cada 
empresa levasse em consideração o desempenho das demais, ou seja, utilizou-se o 
método de benchmarking na fixação do referencial teórico. Ainda assim, aspectos 
particulares de cada região de concessão foram levados em consideração. Para 
isso, um modelo econométrico foi realizado, objetivando identificar os fatores 
próprios de cada área de concessão que explicam o nível de perdas. Esse modelo 
forma um índice de complexidade socioeconômico, que está disponível a cada 
revisão tarifária pela ANEEL. Deste modo, uma empresa que atua em uma área 
pouco complexa deve, no mínimo, atingir o patamar de perdas não técnicas de uma 
área de maior complexidade. 
34 
 
 O Brasil encontra-se no terceiro ciclo de revisão tarifária, porém ainda 
não concluído para todas as distribuidoras de energia elétrica. A premissa básica 
que diferencia esse ciclo dos demais é a pressuposição de que as empresas têm 
forte capacidade de gestão sobre as perdas de energia, em especial as perdas não 
técnicas. Há uma grande diversidade de ações entre as empresas e a maior causa 
de tal heterogeneidade é a diferença no estágio de avanço em relação às perdas 
não técnicas (ANEEL, 2011b). 
2.2.3 Experiência das empresas 
As empresas distribuidoras de energia realizam ações de prevenção e 
mitigação do furto de energia. Penin (2008) apresenta em seus estudos diversos 
exemplos de empresas que realizam ações de diferentes naturezas, tais como: 
a) Campanhas educativas: exposição em mídias sobre os aspectos ilegais do 
roubo de energia e impactos na sociedade; 
b) Renovação das ligações da rede elétrica: instalação de equipamentos que 
dificultem fraudes nos medidores e ligações diretas; 
c) Medição remota: equipamentos de medição que permitem o tráfego de dados 
pela rede. Com isso, é possível evitar que o consumidor tenha contato com o 
medidor da concessionária; 
d) Ações sociais e educativas: informação e educação nas comunidades menos 
favorecidas para disseminar o consumo consciente de energia e perigos 
relacionados ao furto da energia; 
e) Relacionamento com o cliente: contratos com agentes comunitários para 
estreitar o contato da empresa e a população local. 
 
2.2.4 Medição e verificação de projetos de eficiência energética 
As empresas do setor utilizam os métodos de medição e verificação exigidos 
pelo Manual para Elaboração do Programa de Eficiência Energética (2008), 
desenvolvido pela ANEEL. Deste modo, é possível que as distribuidoras e a ANEEL 
possam comparar os resultados dos projetos e programas por meio da utilização de 
uma ferramenta comum. São três os métodos mais utilizados, sendo que cada um 
tem propósitos específicos. 
35 
 
2.2.4.1 IPMVP 
 O International Performance Measurement and Verification Protocol (IPMVP) 
é um guia que descreve as melhores práticas em medição e verificação por meio do 
uso de dados operacionais de um processo e ilustra boas práticas para a realização 
de relatórios de economia alcançada por projetos de eficiência (EFFICIENCY 
VALUATION ORGANIZATION, 2010). O protocolo é destinado a projetos de uso 
eficiente de energia elétrica ou consumo de água. Não é, no entanto, um padrão. 
Seu objetivo é traçar as linhas gerais de como realizar o melhor relato de tais 
projetos, comparando uma linha base da série histórica anterior à implementação 
dos projetos em questão com os resultados alcançados posteriormente. Há uma 
grande preocupação em balancear precisão e custo para obter dados. Há quatro 
sugestões distintas: 
a) Opção A: a economia de energia elétrica ou do uso de água é dada por um 
processo específico. Para isso, adotam-se parâmetros relacionados ao 
consumo de água ou energia elétrica que meçam o efeito isolado do todo. 
Parâmetros que não possam ser medidos podem ser estimados por meio de 
dados históricos, especificações do fabricante ou avaliação de engenharia. O 
custo para obtenção de tais parâmetros e estimativas é menor do que nas 
outras Opções, sendo esta a menos dispendiosa das quatro; 
b) Opção B: assim como na Opção A, a medição é de um processo isolado, mas 
utilizam-se todos os parâmetros associados ao consumo de energia elétrica 
ou consumo de água. No entanto, não são realizadas estimativas. Por isso a 
complexidade para medir e verificar processos por essa opção é maior, assim 
como os custos associados; 
c) Opção C: diferentemente das opções A e B, a proposta é medir o consumo de 
energia ou água não de um processo isolado, mas de toda uma dependência, 
seja um setor ou mesmo uma unidade fabril. Como a mensuração é realizada 
de forma global, como uma soma de todas as ações de eficiência, deve-se 
relatar ainda as outras variáveis que possam influir no resultado final, como 
por exemplo, a temperatura ambiente, o volume de produção ou o modo de 
operação; 
d) Opção D: neste método, ao invés de mensuração de um processo real, são 
utilizados softwares computacionais para se realizar a simulação de um 
36 
 
processo. A simulação deve ser calibrada para que se possa refletir de modo 
aproximado o parâmetro medido do processo real; 
A iniciativa do IPMVP foi idealizada pela Efficiency Valuation Organization 
(EVO), uma organização internacional sem fins lucrativos, dedicada a elaborar 
ferramentas para quantificar resultados de programas de eficiência energética. 
 
2.2.4.2 Relação Custo Benefício 
O método utilizado para verificar o benefício de um projeto de eficiência 
energética sob a ótica da sociedade é o índice de Relação Custo Benefício (RCB). 
Este índice é utilizado pela ANEEL para avaliar a eficácia dos projetos submetidos 
como investimento em programa de eficiência energética.Equação 1 
 Os custos anualizados representam os custos diretos, composto por custos 
com equipamentos e mão de obra, e indiretos, que contemplam os custos de 
administração, acompanhamento e avaliação. A análise temporal é dada pela vida 
útil dos equipamentos. O benefício anualizado está relacionado à quantidade 
monetária evitada na ótica da sociedade, ou seja, quanto que a população deixará 
de despender por meio da redução do consumo de energia elétrica no período de 
um ano. Os benefícios são a soma dos valores, em unidades monetárias, da 
redução de demanda de energia na ponta e energia economizada. Os 
procedimentos de cálculo estão descritos no próprio Manual para Elaboração do 
Programa de Eficiência Energética (ANEEL, 2008b). 
 Para os projetos em eficiência energética nos quais o índice RCB não pode 
ser aplicado, outros parâmetros de medição e verificação são utilizados. Esses 
projetos poderão ser avaliados por meio de técnicas que meçam, por exemplo, a 
duração dos benefícios, impactos sociais, contribuição para mudança de hábito e 
para transformação de mercado, benefícios para o meio ambiente, geração de 
informações úteis para planejamento e gestão, quantidade de pessoas beneficiadas 
e envolvimento escolar. 
 
 
37 
 
2.2.4.3 Custos evitados 
Um conceito bastante utilizado em projetos de eficiência energética é o de 
custos evitados. Esses custos podem estar relacionados tanto ao custo evitado da 
energia economizada, ocasionado pela redução das despesas operacionais, como 
ao custo da demanda evitada na ponta, gerado, por exemplo, pelo adiantamento de 
investimentos na expansão do sistema elétrico. 
Na ótica empresarial, o custo evitado com energia economizada é o valor, em 
unidades monetárias, que a distribuidora deixou de gastar na compra de energia. 
Por sua vez, o custo da demanda evitada é o valor, em unidades monetárias, dos 
investimentos que serão postergados para o aumento de capacidade da rede. 
Esses dois indicadores são utilizados para se calcular o índice RCB, baseado, 
contudo, na ótica social. Ou seja, são considerados os custos que a população deixa 
de gastar na economia de energia e no alívio da conta tarifária relacionada à 
necessidade de capital investido. 
Os procedimentos de cálculo também estão definidos no Manual para 
Elaboração do Programa em Eficiência Energética realizado pela ANEEL (2008), 
havendo distinção para sistemas de baixa, média e alta tensão. 
38 
 
 
3. MÉTODO 
Para a construção do modelo de avaliação foram utilizadas informações 
secundárias, ou seja, informações obtidas através de divulgações públicas, como 
relatórios de sustentabilidade e páginas eletrônicas das empresas. Estes dados 
estão descritos no item 3.1. Os critérios para seleção das empresas serão tratados 
no item 3.3.1. Logo após, foi realizado um estudo das iniciativas que as empresas 
selecionadas realizam em comunidades de baixa renda para redução das perdas e 
inadimplência. Este estudo das iniciativas está descrito no item 3.3.2. À essas 
iniciativas associamos os indicadores informados pelas empresas para monitorar 
desempenho, procedimento está detalhado no item 3.3.3. 
Com base desses indicadores e do conhecimento da regulação do setor de 
distribuição de energia elétrica, foi construído um modelo de avaliação, que está 
descrito no item 3.4 e contempla fatores financeiros e não financeiros. 
Por fim, este modelo foi testado em um caso real, contanto com informações 
primárias, ou seja, utilizadas para gestão de uma empresa e não publicadas. O 
resultado desse processo buscou identificar a viabilidade da utilização do modelo 
por empresas de distribuição de energia elétrica. A Figura 4 ilustra o método 
adotado para que seja atingido o objetivo deste estudo. 
Figura 4 - Esquema do método proposto para este estudo 
 
 
Dados Secundários Dados Primários 
 
39 
 
 
3.1 FONTE DE DADOS PARA O MODELO FINANCEIRO 
Este estudo foi separado em duas partes principais. A primeira parte utilizou 
dados secundários, utilizando informações obtidas em páginas eletrônicas e 
concentrou-se em informações disponíveis em canais de relacionamento com 
investidores. Quando a informação da página eletrônica estava disponível em 
alguma forma de documentação, como por exemplo, relatório anual ou formulário de 
referência, esta era salva e arquivada para consulta. 
O item 3.3.1 evidencia os critérios de seleção dessas empresas. De posse do 
universo de empresas a serem estudadas, foi realizada uma relação das iniciativas 
conduzidas por essas empresas em comunidades de baixa renda, relacionando-se 
todos os indicadores associados a essas iniciativas. Para as empresas listadas que 
possuem mais de uma distribuidora, a pesquisa se restringiu ao relatório e página 
eletrônica da holding. Não houve objetivo de comparar a qualidade das informações 
divulgadas pelas empresas. Ao invés disso, buscou-se estudar as práticas do setor 
para entender o modelo de negócios aplicado e de que forma os indicadores 
levantados poderiam ser incorporados à avaliação financeira e da reação dos 
stakeholders. Os anos de divulgação dos relatórios variaram entre as empresas, 
mas a consulta se ateve às informações mais recentes disponibilizadas por elas. O 
Quadro 2 expõe os anos e divulgações específicas dos relatórios consultados. 
Para melhor entendimento das regras do setor, realizou-se um amplo estudo 
de resoluções, notas técnicas e manuais elaborados pela ANEEL, além da 
legislação específica do setor. Foram consultados ainda especialistas da ANEEL 
para melhor compreensão de alguns aspectos regulatórios: Ivan Camargo foi 
Superintendente de Regulação dos Serviços de Distribuição da ANEEL em 2011, 
atual reitor da Universidade de Brasília; Hugo Lamin é Assessor da 
Superintendência de Regulação dos Serviços de Distribuição. 
 
40 
 
 
Quadro 2 – Relatórios consultados para levantamento de iniciativas das empresas para redução de 
perdas e inadimplência, assim como os indicadores mencionados para acompanhamento de tais 
práticas. 
 
Relatório 
Divulgação Específica 
2010 2011 
CEMIG 
Relatório de 
Sustentabilidade 
 
COELBA 
Relatório de 
Sustentabilidade 
 
 
COELCE 
Relatório de 
Sustentabilidade 
 
 
COPEL 
Relatório Anual de 
Gestão e 
Sustentabilidade 
 
 
CPFL Relatório Anual 
 
EDP Relatório Anual 
 
ELETROBRÁS 
Relatório de 
Sustentabilidade 
 
 
ELETROPAULO 
Relatório de 
Sustentabilidade 
USAID (2008) 
LIGHT 
Relatório de 
Sustentabilidade 
Revista de Eficiência Energética da Light 
(2010 e 2011) e Revista Comunidade 
Eficiente VI 
 
A segunda parte desta pesquisa, que utilizou dados primários para testar o 
modelo, foi possível por meio de uma parceria com a Fundação Brasileira para o 
Desenvolvimento Sustentável (FDBS), que possibilitou o acesso à empresa 
distribuidora de energia elétrica do Rio de Janeiro e outros municípios do Estado 
(Light Serviços de Eletricidade S.A. – Light SESA). Nesta etapa da pesquisa foram 
realizadas entrevistas não estruturadas com alguns gestores da empresa. Dentre 
estes colaboradores da empresa, vale destacar a contribuição do Paulo Maurício 
Senra, Gerente de Estratégia e Sustentabilidade, Regiane de Abreu, Assessora de 
Estratégia e Sustentabilidade, Victor Souza, Assessor Financeiro, e Fernanda 
Mayrink, Gerente de Atendimento às Comunidades. Por sugestão dos gestores da 
empresa, o modelo foi testado para avaliar projetos e programas realizados no 
Morro do Chapéu Mangueira e Babilônia, comunidades ocupadas por uma Unidade 
de Polícia Pacificadora (UPP). 
 
41 
 
3.2 FERRAMENTAS UTILIZADAS 
Das ferramentas abordadas na revisão de literatura, serão utilizadas: 
a) Listagem dos indicadores ou índices utilizados pelas empresas e 
classificação quanto à sua relação com o desempenho financeiro das 
empresas, como proposto por Epstein e Roy (2003); 
b) Classificação das

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