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Mecanismos Microbianos de Patogenicidade APRESENTAÇÃO Nesta Unidade de Aprendizagem, você verá alguns fatores determinantes na viabilidade celular microbiana. Essa viabilidade proporciona uma melhor adaptação ao hospedeiro e, por consequência, contribui para a patogenicidade-capacidade de causar doenças. Para poder causar doenças, os micro-organismos devem, primeiramente, ter acesso ao hospedeiro e nele permanecer; essa segunda etapa é conseguida por meios bem específicos de aderência ao tecido e fuga dos processos imunes do hospedeiro. Verá, também, que nem todos os micro-organismos causam doença pelo dano direto aos tecidos do hospedeiro, pois alguns danos podem ocorrer em virtude do acúmulo de excretas microbianas. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar as principais portas de entrada dos micro-organismos no hospedeiro.• Listar os mecanismos de evasão das defesas do hospedeiro.• Especificar os danos causados às células do hospedeiro.• DESAFIO Os micro-organismos possuem a habilidade de se agrupar em grandes quantidades, aderir a superfícies e compartilhar os nutrientes disponíveis. Essas comunidades, constituídas por grandes quantidades de micróbios e seus produtos extracelulares que se aderem a superfícies vivas ou inanimadas, são chamadas de biofilmes. Os biofilmes ganham grande relevância, uma vez que constituem uma forma de resistência microbiana, tornando, assim, uma fonte resistente de contaminação, de modo a muitas vezes não responder ao tratamento de remoção, como alteração de pH, radiação ultravioleta, variação da pressão osmótica e também contra agentes antimicrobianos. Com isso, vamos ao desafio! Liste algumas estratégias no combate à formação de biofilmes. INFOGRÁFICO São vários os fatores determinantes para o sucesso na implantação de um micro- organismo até a indução de dano ao hospedeiro. Veja quais as etapas necessárias para o sucesso da invasão microbiana! CONTEÚDO DO LIVRO Os micro-organismos utilizam estruturas especializadas ou deficiências do hospedeiro para infectá-lo, causando danos no seus tecidos e células, porém nem todos os micro-organismos causam doenças diretas, pois algumas anomalias surgem do possivel acúmulo de secreções microbianas. Aprofunde seus conhecimentos no capítulo Mecanismos Microbianos de Patogenicidade, da obra Microbiologia. Boa leitura. MICROBIOLOGIA Omar Julio Sosa Mecanismos microbianos de patogenicidade Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar as principais portas de entrada dos microrganismos no hospedeiro. Listar os mecanismos de evasão das defesas do hospedeiro. Especificar os danos causados às células do hospedeiro. Introdução Existe uma grande variedade de microrganismos, e a interação entre eles e os hospedeiros pode ser neutral, benéfica ou patogênica. Neste último caso, os microrganismos utilizam estruturas especializadas ou deficiências do hospedeiro para infectá-lo, causando danos no seus tecidos e células. A enorme diversidade microbiana e a complexa interação com os componentes de nosso corpo trazem consigo um grande desafio quando falamos de diagnósticos e tratamentos médicos. É, portanto, fundamental entender a biologia do patógeno e seu ciclo dentro do hospedeiro para obter um diagnóstico específico e poder selecionar fármacos que atuem com máxima eficácia e que causem mínimos efeitos colaterais. Neste capítulo, você vai identificar as portas de entrada mais comuns dos microrganismos, conhecendo os mecanismos de defesa do hospe- deiro e os danos causados pelos agentes patogênicos. Princípios da patogenicidade Nosso corpo é formado por bilhões de células e, entre elas, temos diferentes tipos, como neurônios, células musculares, epiteliais e do sangue. Além delas, em nosso corpo, existe uma grande quantidade de células exógenas, represen- tada por microrganismos como fungos e bactérias. Existe, assim, um equilíbrio entre os componentes, e a presença dos microrganismos é fundamental para o bom funcionamento de alguns tecidos e órgãos (MADIGAN et al., 2016). Em ocasiões, esse equilíbrio é quebrado, e agentes denominados patógenos conseguem infectar o corpo, causando lesões. Esses microrganismos podem utilizar estruturas especializadas, toxinas e enzimas para invadir ao hospedeiro e, muitas vezes, aproveitam momentos de baixa imunidade do indivíduo para atacar (são os chamados patógenos oportunistas) (MADIGAN et al., 2016; LEVINSON, 2016). Durante os últimos anos, houve um aumento na incidência de aspergilose invasiva, principalmente devido à aplicação de drogas imunosupressoras para o tratamento de lúpus eritematoso sistêmico e endocardite. Considerando a importância clínica desse patógeno oportunista, é imprescindível um correto diagnóstico e tratamento para a sobrevida do paciente. Macedo et al. (2009) descreveram o caso de uma mulher de 34 anos, diagnosticada com lúpus eritomatoso sistêmico e tratada com glucocorticoides durante dois anos. Após 4 meses, a paciente apresentou dores abdominais, febre e falhas renais. Foram realizadas diálises peritoneais e a paciente desenvolveu peritonite fúngica sugestiva. A presença de Aspergillus fumigatus foi confirmada por examinação de fluído abdominal fresco e observação microscópica. O tratamento com terapia antifúngica sistêmica e a remoção do cateter de diálise foram esenciais para a erradicação da infeção. Fonte: Macedo (2009, documento on-line). Mecanismos microbianos de patogenicidade2 A patogênese pode ser generalizada em uma série de estágios, como ex- posição, adesão, invasão, infecção, dano tecidual e doença (Figura 1). Fi gu ra 1 . P at og ên es e m ic ro bi an a. Fo nt e: M ad ig an e t a l. (2 01 6, p . 7 14 ). 3Mecanismos microbianos de patogenicidade O primeiro passo da patogênese é determinado pela exposição aos micror- ganismos. Podemos diferenciar quatro portas de entrada importantes: pele, trato gastrintestinal, trato genital e trato respiratório (LEVINSON, 2016). No Quadro 1, você confere alguns exemplos de agentes patógenos e suas principais vias de ingresso para causar doenças. Porta de entrada Patógeno Tipo de microrganismo Doença Trato respiratório Streptococcus pneumoniae B Pneumonia Neisseria meningitidis B Meningite Haemophilus influenzae B Meningite Mycobacterium tuberculosis B Tuberculose Vírus influenza V Gripe Rinovírus V Resfriado comum Vírus Epstein-Barr V Mononucleose infecciosa Coccidioides immitis F Coccidioidomicose Histoplasma capsulatum F Histoplasmose Trato gas- trintestinal Shigella dysenteriae B Disenteria Salmonella typhi B Febre tifoide Vibrio cholerae B Cólera Vírus da hepatite A V Hepatite infecciosa Poliovírus V Poliomelite Trichinella spiralis H Triquinose Quadro 1. Portas de entrada de patógenos comuns (Continua) Mecanismos microbianos de patogenicidade4 Uma forma de quantificar a patogenicidade é utilizando o conceito de “vi- rulência”, que é o número de microrganismos necessários para provocar uma doença. Também é utilizado o termo “dose letal de 50%” (LD50) para indicar o número de microrganismos necessários para matar metade dos hospedeiros, enquanto “dose infecciosa de 50%” (DI50) corresponde ao úmero necessário para provocar a doença em metade dos hospedeiros infectados. Cabe destacar que, quanto menor o LD50, maior a virulência do microrganismo (LEVINSON, 2016). Fonte: Adaptado de Levinson (2016). Porta de entrada Patógeno Tipo de microrganismo Doença Pele Clostridium tetani B Tétano Rickettsia rickettsii B Febre maculosa das Montanhas Rochosas Vírus da raiva V Raiva Trichophyton rubrum F Tinea pedis (pé de atleta) Plasmodium vivax P Malária Trato genital Neisseria gonorrhoeae B Gonorreia Treponema pallidum B Sífilis Chlamydia trachomatis B Uretrite Papilomavírus humano V Verrugasgenitais Candida albicans F Vaginite B: bactéria; V: vírus; F: fungo; P: protozoário; H: helminto. Quadro 1. Portas de entrada de patógenos comuns (Continuação) 5Mecanismos microbianos de patogenicidade Penetração dos agentes patógenos A adesão dos microrganismos às células do hospedeiro geralmente envolve interações específi cas. Alguns fatores de adesão são macromoléculas que não estão covalentemente ligadas aos patógenos e revestem a superfície da bactéria (glicocálix). Um exemplo de glicocálix é a cápsula de Bacillus anthracis (cau- sadora do antraz), formada por ácido D-glutâmico (MADIGAN et al., 2016). Além da participação das cápsulas na adesão celular, também podem contribuir à evasão dos mecanismos de defesa do hospedeiro. Assim, por exemplo, a cápsula de Neisseria meningitidis e de Streptococcus pneumoniae evita que os fagócitos se liguem à bactéria. Outro tipo de fator antifagocitário são as proteínas de parede celular de algumas bactérias, como a proteína A de Staphylococcus aureus, que se liga À IgG, evitando a ativação do complemento (LEVINSON, 2016). No Quadro 2, são apresentados exemplos de diferentes fatores de aderência utilizados por patógenos microbianos, entre eles: cápsulas, proteínas de aderência, ácido lipotei- coico e fímbrias (pili). O ácido lipoteicoico associado com fímbrias e proteínas F e M é utilizado por Streptococcus pyogenes (responsável por febres reumáticas e infecções na garganta) para se ligar ao hospedeiro. A proteína M participa também na resistência à fagocitose pelos neutrófilos (MADIGAN et al., 2016). Fator Exemplo Cápsula/ camada limosa Escherichia coli patogênica — a cápsula promove a aderência à borda em escova das microvilosidades intestinais Streptococcus mutans — a camada limosa de dextrana promove a ligação às superfícies dentárias Proteína de aderência Streptococcus pyogenes — a proteína M na célula liga-se a receptores da mucosa respiratória Neisseria gonorrhoeae — a proteína Opa na célula liga-se aos receptores CD66 do epitélio Ácido lipoteicoico Streptococcus pyogenes — o ácido lipoteicoico facilita a ligação ao receptor da mucosa respiratória (em conjunto com a proteína M) Quadro 2. Fatores de aderência de patógenos microbianos (Continua) Mecanismos microbianos de patogenicidade6 A invasão ao hospedeiro não seria possível sem a participação de enzimas produzidas pelos patógenos. Entre elas, temos coagulase, colagenase, hialuro- nidase, protease de IgA e leucocidinas. A coagulase favorece a formação de um coágulo de fibrina que isola ao patógeno e oferece proteção da fagocitose (um bom exemplo é Staphylococcus aureus). As enzimas hialuronidase e colage- nase permitem a invasão do tecido subcutâneo ao degradar ácido hialurônico e colágeno, respectivamente, e foram associadas à formação de celulite causada pela bactéria Streptococcus pyogenes. As proteases de imunoglobulina A podem degradar IgA, favorecendo a adesão com as membranas mucosas. Por sua parte, as leucocidinas ajudam no combate a macrófagos e neutrófilos (LEVINSON, 2016). Alguns microrganismos são capazes de sobreviver dentro da célula hos- pedeira e são denominados patógenos intracelulares. Dentro das bactérias mais representativas desse grupo, temos Brucella, Listeria e Mycobacterium e, em relação aos fungos, um exemplo conhecido é Histoplasma. O fato de permanecer dentro da célula hospedeira favorece sua proteção contra meca- nismos de defesa extracelulares, como neutrófilos e anticorpos. Para poder sobreviver intracelularmente, esses patógenos possuem vários mecanismos de defesa, como (LEVINSON, 2016): Fonte: Adaptado de Madigan et al. (2016). Fator Exemplo Fímbrias (pili) Neisseria gonorrhoeae — os pili facilitam a ligação ao epitélio Espécies de Salmonella — fímbrias tipo I facilitam a ligação ao epitélio do intestino delgado Escherichia coli patogência — antígenos de fatores de colonização (CFAs) facilitam a ligação ao epitélio do intestino delgado Quadro 2. Fatores de aderência de patógenos microbianos (Continuação) 7Mecanismos microbianos de patogenicidade impedir a fusão do fagossomo com o lisossomo, evitando enzimas de degradação; inibir a acidificação do fagossomo, diminuindo a eficâcia de enzimas degradativas; fugir do fagossomo para o citoplasma. Para invadir o hospedeiro, as bactérias utilizam estruturas proteicas denominadas “invasinas”, que interagem específicamente com receptores celulares da família das integrinas. Depois de entrar na célula, as bactérias podem ficar no citoplasma ou dentro de vacuólos (como fagossomos). Outra alternativa é migrar para células vizinhas por meio da formação de túneis de actina. Dessa forma, patógenos como Listeria monocytoge- nes conseguem invadir células vizinhas, evitando mecanismos de defesa (LEVINSON, 2016). Outro exemplo de mecanismos de evasão é o apresentado pelas proteínas de membrana externa de Yersinia (“Yops”), que inibem a produção de citocinas por macrófagos e dificultam a fagocitose por neutrófilos e macrófagos. Um dos mecanismos que utilizam é a clivagem de proteínas necessárias para a produção do fator de necrose tumoral (TNF), inibindo a ativação das defesas (LEVINSON, 2016). Danos às células do hospedeiro As bactérias podem causar doenças por meio de dois mecanismos: produ- ção de toxinas e invasão e infl amação. As toxinas podem ser divididas em exotoxinas, quando são liberadas pela bactéria, e endotoxinas, não liberadas e geralmente formadas por lipopolissacarídeos da parede celular (LEVIN- SON, 2016). No Quadro 3, são comparadas as propriedades principais das exotoxinas e endotoxinas. Mecanismos microbianos de patogenicidade8 Fonte: Adaptado de Levinson (2016). Comparação das propriedades Propriedades Exotoxina Endotoxina Fonte Certas espécies de bactérias gram-positivas e gram-negativas Parede celular de bacté- rias gram-negativas Secretada pela célula Sim Não Química Polipetídeo Lipopolissacarídeo Localização dos genes Plasmídeo ou bacteriófago Cromossomo bacteriano Toxicidade Alta (dose letal da ordem de 1 μg) Baixa (dose letal da ordem de centenas de microgramas) Efeitos clínicos Inúmeros efeitos Febre, choque Modo de ação Inúmeras maneiras Inclui TNF e interleucina 1 Antigeni- cidade Induz altos títulos de anticorpos, denomi- nados antitoxinas Pouco antigênica Vacinas Toxoides utilizados como vacinas Ausência de formação de toxoi- des e nenhuma vacina disponível Estabilidade térmica Rapidamente destruídas a 60°C (exceto pela ente- rotoxina estafilocócica) Estável a 100°C por 1 hora Doenças típicas Tétano, botu- lismo e difteria Meningococemia, septicemia por bacilos gram-negativos Quadro 3. Exotoxinas e endotoxinas 9Mecanismos microbianos de patogenicidade Exotoxinas Como mencionado anteriormente, as exotoxinas são polipeptídeos tóxicos liberados pelo agente patógeno e que atuam em locais afastados do sítio de infecção. Considerando o mecanismo de ação, podem ser classifi cadas em citotoxinas, toxinas AB e em superantígenos (MADIGAN et al., 2016). As citotoxinas são proteínas secretadas que destroem a membrana plas- mática, causando a morte da célula hospedeira. Um exemplo comum são as hemolisinas, que conseguem lisar células vermelhas do sangue, causando hemólise. Outra toxina desse grupo é a α-toxina de estafilococos (Figura 3), que causa a morte de eritrócitos e células nucleadas. Ela é liberada como monômeros, que se organizam em sete subunidades formando oligômeros na membrana citoplasmática do hospedeiro. O poro formado permite a liberação do conteúdo celular, levando à sua morte (MADIGAN et al., 2016). Figura 2. α-toxina de estafilococos. Fonte: Madigan et al. (2016, p. 721). As toxinas AB são formadas por dois componentes. A subunidade B faz contato com um receptor no hospedeiro e facilita o ingresso da subunidade A por meio da membrana citoplasmática, levando à lise celular. Um exemplo desse grupo é a toxinadiftérica, sintetizada por Corynebacterium diphtheriae. Nesse caso, o componente B se liga ao fator de crescimento epidermal de ligação a Mecanismos microbianos de patogenicidade10 heparina, e o componente A atravessa a membrana citoplasmática do hospe- deiro. A subunidade A produz uma modificação ao fator de crescimento (EF-2), bloqueando a síntese proteica. Curiosamente, a toxina diftérica é codificada pelo gene viral tox do bacteriófago lisogênico β. Por consiguiente, somente as bactérias C. diphtheriae infectadas são patogênicas (MADIGAN et al., 2016). Outro exemplo de toxinas AB são as geradas pelas bactérias Clostridium botulinum e C. tetani. As toxinas tetânica e botulínica utilizam diferentes mecanismos para inibir a liberação de neurotransmisores relacionados ao controle muscular. Existem sete variantes da toxina botulínica, e a mais conhe- cida se liga a outras proteínas, formando um complexo ativo. Esse complexo vai inibir a liberação de acetilcolina a partir das membranas pré-sinápticas de neurônios motores. O resultado é a morte por asfíxia devido à inibição da contração muscular (Figura 3) (MADIGAN et al., 2016). Figura 3. Mecanismo de ação da toxina botulínica de C. botulinum. Fonte: Madigan et al. (2016, p. 722). Os superantígenos são um grupo de toxinas que estimulam uma forte resposta imunológica, provocando inflamações e danos teciduais. Um exemplo é o superantígeno TSST produzido por S. aureus. O TSST se une a proteínas do MHC (complexo principal de histocompatibilidade) de tipo II, presente em macrófagos. O complexo resultante interage com células T auxiliares, favo- recendo a liberação de elevadas concentrações de interleucinas e provocando choque tóxico (MADIGAN et al., 2016; LEVINSON, 2016). 11Mecanismos microbianos de patogenicidade Endotoxinas As endotoxinas são lipopolisacárideos estruturais da membrana externa, presentes em muitas bactérias gram-negativas. As endotoxinas produzem sintomas de febre e choque e, em comparação com exotoxinas, sua toxicidade é menor (MADIGAN et al., 2016; LEVINSON, 2016). Cabe lembrar que, em humanos e outros vertebrados, os agentes patógenos são combatidos pelo sistema imune (inato e adquirido). A imunidade inata é formada por: barreiras físico-químicas, como epitélios e substâncias antimicrobianas; macrófagos e neutrófilos, que realizam fagocitose, e células natural killers, também chamadas de assassinas naturais; citocinas, proteínas sintetizadas por alguns tipos celulares que influen- ciam componentes da imunidade inata; sistema complemento, formado por uma série de reações enzimáticas que são geradas por proteínas plasmáticas. Já a imunidade adquirida é formada pelas células T e B, é mais específica e está relacionada à formação de anticorpos (imunoglobulinas) (SPOLIDORIO; DUQUE, 2013). As endotoxinas causam manifestações clínicas por três mecanismos prin- cipais (Figura 4) (LEVINSON, 2016): ativação de macrófagos, que favorece a produção de interleucina 1 (IL-1) (associada com febre), óxido nítrico (febre e hipotensão) e TNF (hipotensão); ativação do complemento e produção de C3a e C5a (relacionado com hipotensão, edema e quimiotaxia de neutrófilos); ativação do fator tecidual, componente da cascata de coagulação (as- sociado com coagulação intravascular disseminada). Mecanismos microbianos de patogenicidade12 Figura 4. Manifestações clínicas das endotoxinas. Fonte: Levinson (2016, p. 45). Inflamação A infl amação causada por bactérias pode ser de dois tipos: piogênica e granulo- matosa. A primeira é formada principalmente por neutrófi los e causa a formação de pus. Exemplos de infl amação piogênica são as produzidas pelas bactérias S. pneumoniae, S. pyogenes e S. aureus. Já a infl amação granulomatosa é for- mada maioritariamente por células T e macrófagos. Um exemplo desse tipo de infl amação é o causado por Mycobacterium tuberculosis (LEVINSON, 2016). Terapia antimicrobiana Aproveitando o conhecimento que temos sobre as diferenças metabólicas e estruturais entre as células do patógeno e as humanas, foram elaboradas terapias com toxicidade seletiva (que não causam danos às células humanas). No Quadro 4, podemos observar diferentes mecanismos de ação de alguns fármacos antibacterianos e antifúngicos que estão baseados nas particulari- dades da parede celular (por exemplo, a penicilina inibindo ligações cruzadas entre peptideoglicanos), membrana celular (polimixina alterando a função da membrana), ribossomos (eritromicina atuando na subunidade ribossomal 50S) e ácidos nucleicos (rifampina inibindo a síntese de mRNA) (LEVINSON, 2016). 13Mecanismos microbianos de patogenicidade Fonte: Adaptado de Levinson (2016). Mecanismo de ação Fármacos Inibição da síntese de parede celular 1. (a) Atividade antibacteriana ocorre pela inibição das liga- ções cruzadas (transpeptidação) entre os peptideoglicanos. (b) Inibição de outras etapas da síntese dos peptideoglicanos. 2. Inibição da atividade antifún- gica da síntese de β-glicano Penicilinas, cefalosporinas, imipe- nem, aztreonam, vancomicina Cicloserina, bacitracina Caspofungina Inibição da síntese proteica Ação sobre a subunidade ribossomal 50S Ação sobre a subunidade ribossomal 30S Cloranfenol, eritromicina, clindamicina, linezolide Tetraciclinas e aminoglicosídeos Inibição da síntese de ácido nucleico Inibição da síntese de nucleotídeos Inibição da síntese de DNA Inibição da síntese de mRNA Sulfonamidas, trimetoprima Quinolonas (por exemplo, ciprofloxacina) Rifampina Alteração da função da membrana celular Atividade antibacteriana Atividade antifúngica Polimixina, daptomicina Anfotericina B, nistatina, terbinafina, azoicos (por exemplo, itraconazol) Outros mecanismos de ação 1. Atividade antibacteriana 2. Atividade antifúngica Isoniazida, metronidazol, etambutol, pirazinamida Griseofulvina, pentamidina Quadro 4. Mecanismo de ação de terapias antimicrobianas Mecanismos microbianos de patogenicidade14 LEVINSON, W. Microbiologia médica e imunologia. 13. ed. Porto Alegre: McGrawHill Education, 2016. MACEDO, D. P. C et al. Aspergilose invasiva associada ao lúpus eritematoso sistêmico e a complicação cardíaca pós-operatória. Brazilian Journal of Microbiology, v. 40, n. 1, 2009. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1517- 83822009000100031&lng=en&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 10 dez. 2019. MADIGAN, M. T. et al. Microbiologia de Brock. 14. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. SPOLIDORIO, D.; DUQUE, C. Microbiologia e imunologia geral e odontologia. Porto Alegre: Grupo A, 2013. v. 2. Os links para sites da Web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 15Mecanismos microbianos de patogenicidade DICA DO PROFESSOR Acompanhe, agora, um breve relato sobre os mecanismos microbianos de patogenicidade. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Qual das seguintes opções não é uma porta de entrada para patógenos? A) Membranas mucosas do trato respiratório B) Membranas do trato gastrintestinal C) Pele D) Cabelos E) Via parenteral 2) Uma bactéria encapsulada pode ser virulenta porque sua cápsula: A) Resiste a fagocitose B) É uma endotoxina C) Destrói os tecidos do hospedeiro D) Interfere com os processos fisiológicos E) Não tem efeito, pois muitos patógenos não possuem cápsulas, de forma que a cápsula não contribui para a virulência 3) A parede celular de certas bactérias contém substâncias químicas que contribuem para a virulência. Assinale a alternativa que não representa um mecanismo de parede celular. A) Proteína M B) FímbriaC) Proteínas externas -OPA D) Ácido micólico E) Nenhuma das alternativas 4) Os micro-organismos possuem a habilidade de se agrupar em grandes quantidades, aderir a superfi ́cies e compartilhar os nutrientes disponíveis. Essas comunidades, constituídas por grandes quantidades de micróbios e seus produtos extracelulares, que se aderem a superfícies vivas ou inanimadas, são chamadas de biofilmes. Assinale a alternativa que não representa um biofilme. A) Placa dentária B) Algas nas paredes de piscinas C) Escuma que eventualmente se acumula em portas de chuveiros ou azulejos D) Colonização de cateteres venosos E) Bactéria única invadindo tecido 5) Como se chamam as substâncias secretadas que são produzidas no interior de algumas bactérias, como parte de seu crescimento e metabolismo? A) Endotoxinas B) Toxinas A-B C) Toxemia D) Exotoxinas E) Enterotoxina estafilocócica NA PRÁTICA Um dos tópicos mais relevantes quando falamos em patologias causadas por micro- organismos nos diz respeito à forma de contágio do hospedeiro. A forma como o hospedeiro entra em contato com o patógeno é chamada de PORTA DE ENTRADA, e vários fatores interferem no sucesso do estabelecimento do micro-organismo e processo patogênico. Durante o curso de uma infecção, os organismos patogênicos se reproduzem e necessitam de novos hospedeiros; as vias pelas quais os agentes patogênicos são disseminados são chamadas de PORTAS DE SAÍDA. Geralmente, o micro-organismo utiliza a mesma porta para entrada e saída, sendo os tratos gastrintestinal e respiratório as portas de saídas mais comuns. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Biofilmes bacterianos patogênicos: aspectos gerais, importância clínica e estratégias de combate. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! As bases farmacológicas da terapêutica de Goodman & Gilman - Capitulo 52: Princípios gerais da terapia antimicrobiana Microbiologia de Brock - Capitulo 23: Interações dos microrganismos com o homem