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A União Europeia (UE) é um bloco formado por 28 países integrados economicamente, com atuação conjunta em diversas ações políticas e livre circulação de mercadorias e pessoas. Apesar da crise financeira, social e política que alguns de seus países-membros enfrentaram, principalmente desde 2008, esse bloco representa uma poderosa força econômica e política no cenário mundial. Países integrantes da UE com economias mais frágeis e que haviam recebido pesados investimentos externos, como Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha, viram-se em sérias dificuldades para honrar seus compromissos financeiros. A instabilidade econômica criada gerou incertezas sobre a permanência de alguns desses países no bloco e sobre a coesão da própria União Europeia. Algumas dessas economias já se recuperaram ou estão em recuperação. Em junho de 2016, o Reino Unido realizou um plebiscito para decidir se continuaria na União Europeia. O episódio ficou conhecido como Brexit, que vem das palavras em inglês Britain (Grã-Bretanha) e exit (saída). Com 52% dos votos, a população britânica optou pela saída da UE. Bandeiras da União Europeia em edifício que abriga a sede da Comissão Europeia (órgão da UE), em Bruxelas, Bélgica (2017). A quantidade de estrelas não se refere ao número de países, e sim aos ideais de unidade, solidariedade e harmonia entre os povos europeus. O formato de círculo significa a unidade do bloco. D U R SU N A YD EM IR /A N A D O LU A G EN C Y/ G ET TY IM A G E C A P Í T U L O União Europeia7 104 – 2o BIMESTRE https://www.youtube.com/watch?v=SNxz3Rs2Qu4 https://mega.nz/file/r0ogybwK#3OwN7dfHXhMltbDzmqtjQKbPE2D1MFytQvgTWjkP99o https://drive.google.com/file/d/1NbpcO1WnUTW0WR8rcKRvc6PBvLuL_XrV/view?usp=sharing capri Realce capri Nota VANTAGENS DA CIDADANIA EUROPEIA: Isso significa que, como europeu, você pode morar, trabalhar, estudar e até se aposentar em um país da Europa. Ser um cidadão europeu também permite a você usufruir de diversos direitos sociais, tais como o acesso à saúde e educação públicas e à previdência social (apoios e aposentadoria, por exemplo), dentre outros. Além disso, um cidadão europeu também tem direito a participar da vida política no país, pode votar nas eleições e pode até se candidatar para alguns cargos. Essa característica, junto com as demais, completa o conceito de efetivo exercício da cidadania. Além de não precisar de vistos de entrada e saída dos países da União Europeia. Sugestão para o estudante: UNIÃO Europeia. Disponível em: <https://europa.eu/european-union/index_pt>. Acesso em: 10 out. 2018. Este site é um grande acervo de dados sobre a União Europeia, em diversos campos, tais como agricultura, energia, cultura e educação, economia, entre outros. A ORIGEM DA UNIÃO EUROPEIA A necessidade de estabilização política e econômica de uma Europa instável e debi- litada após a Segunda Guerra Mundial foi o fator determinante da construção histórica da União Europeia (UE). Em sua origem, esteve a Comunidade do Carvão e do Aço (Ceca), que em 1951 reu- niu seis países europeus: a França, a Alemanha, a Itália e os integrantes do grupo cha- mado Benelux (Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo). Em 1957, com a assinatura do Tratado de Roma, a Ceca passou a denominar-se Comunidade Econômica Europeia (CEE) e previa a livre circulação de mercadorias, capitais, serviços e pessoas entre os países -membros. O objetivo era, posteriormente, transformar a CEE em um espaço de livre-comércio, com tarifas de importação unificadas. A evolução do bloco econômico Em 1973, incorporaram-se à Comu- nidade Econômica Europeia (CEE) o Reino Unido, a Irlanda e a Dinamarca; em 1981, a Grécia; e, em 1986, Espa- nha e Portugal. Nesse último ano, foi assinado o Ato Único Europeu, que assentou as bases de uma futura uni- dade política dos países do bloco. Em 1992, com o Tratado de Maas- tricht, a CEE passou a se chamar União Europeia e fixaram-se os critérios para a adoção da futura moeda única pelos países-membros. Três anos depois, ingressaram no bloco a Áustria, a Sué- cia e a Finlândia. A Noruega chegou a negociar seu ingresso, mas preferiu não participar do bloco. Em 1999, sur- giu o euro, moeda comum de doze dos quinze países-membros da UE; Dinamarca, Suécia e Reino Unido não o adotaram. Assinatura do Tratado de Maastricht, em Maastricht, nos Países Baixos, em 1992. © E U R O PE A N U N IO N , 2 01 3 105Capítulo 7 – União Europeia 105 Material Digital Audiovisual • Vídeo: A União Europeia 2o BIMESTRE – 105 https://europa.eu/european-union/index_pt https://www.youtube.com/watch?v=muKXVKOBl1E FRANÇA PAÍSES BAIXOS BÉLGICA ITÁLIA ALEMANHA OCEANO ATLÂNTICO 0° ÁFRICA ÁSIA ÁSIA MAR NEGRO MAR CÁSPIO MAR MEDITERRÂNEO MAR DO NORTE 45°N LUXEMBURGO SUÉCIA FINLÂNDIA DINAMARCA REINO UNIDO* IRLANDA ESPANHA PORTUGAL ÁUSTRIA GRÉCIA ESTÔNIA LETÔNIA LITUÂNIA POLÔNIA ESLOVÁQUIA REP. TCHECA HUNGRIA ESLOVÊNIA CROÁCIA ROMÊNIA BULGÁRIA M A R B Á LT IC O M ER ID IA N O D E G R EE N W IC H CÍRCULO POLAR ÁRTICO lhas Baleares Córsega Sardenha Sicília Creta CHIPRE 1958 1973 1981 1986 1995 2004 2007 2013 Ano de adesão MALTA Rodes Ilhas Shetland Ilhas Faroe (DIN) * Após um plebiscito realizado em 2016, o Reino Unido optou por sua saída da União Europeia. A saída efetiva deve ser confirmada em 2019. EVOLUÇÃO DA UNIÃO EUROPEIA (1958-2017) A possível entrada da Turquia na União Europeia Caso já pertencesse à UE, a Turquia seria o único país do bloco de maioria muçulmana e com território majoritariamente localizado na Ásia. Uma das principais dificuldades para a entrada da Turquia na UE é o fato de ocupar a parte norte da ilha de Chipre, membro do bloco desde 2004. Outros empecilhos são: • o regime turco não ga- rante suficiente proteção aos direitos humanos; • exceto a parte europeia e a do litoral do mar Egeu, todo o restante do terri- tório turco apresenta ín- dices econômicos e so- ciais muito baixos. Elaborado com base em dados obtidos em: UNIÃO EUROPEIA. Os 28 Estados- -Membros da UE. Disponível em: <https:// europa.eu/ european- union/about- eu/countries_ pt#mapa>. Acesso em: 24 abr. 2018. Mais doze países Em 2004, a UE incorporou dez novos países do leste e do sul da Europa: Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, República Tcheca, Eslováquia, Eslovênia, Hungria, Malta e Chipre. Bulgária e Romênia ingressaram formalmente no bloco em 2007 (ver o mapa desta página). Os países candidatos a ingressar na UE até o início de 2018 eram Turquia, Macedô- nia, Albânia, Sérvia e Montenegro. Em referendo realizado em janeiro de 2012, a população croata aprovou, com 66% dos votos favoráveis, a entrada da ex-república iugoslava na UE. A integração da Croácia ocorreu em 1o de julho de 2013. Ainda em 2004, foi redigido um texto que deveria ser a Constituição da UE. Porém, a reprovação nos referendos sobre a Constituição realizados na França e nos Países Bai- xos em 2005 deixou em suspenso sua aplicação. Para ingressar no bloco, os candidatos precisam atender a três condições básicas: ter uma economia desenvolvida, manter um regime político democrático que respeite os direitos humanos e aceitar a legislação da UE. NE LO SE S N NO SO 420 km 106 106 – 2o BIMESTRE https://europa.eu/european-union/about-eu/countries_pt#mapa https://europa.eu/european-union/about-eu/countries_pt#mapa https://europa.eu/european-union/about-eu/countries_pt#mapa https://europa.eu/european-union/about-eu/countries_pt#mapa https://europa.eu/european-union/about-eu/countries_pt#mapa https://europa.eu/european-union/about-eu/countries_pt#mapa https://www.youtube.com/watch?v=hq8WH3wXp5I UNIAO EI.JROPEIA ARABIA SÁUDITA - FoNTE: Ouid [/onde, 2008 Paris, França Uniã0EuÍopéia,2009 Bruxeas, Bélqca ìn :w : País membro da U. E. PaÍs candidato a integrar a UE País da U. E. que adota o Euro (moeda) ì Croácia - pode integrar a U. E.ì em 2010 : lVacedônia - pode integrar a U. E : entre 2010 e 2015 Ì TurquÌa - pode integrar a U. E. r em 2015 126 Bandeira da Unrào Europeia Sugestão para o estudante: EU, Daniel Blake. Direção: Ken Loach. Reino Unido, 2016. Duração: 100 min. Este filme mostra a história de Daniel Blake, um operário inglês que busca receber benefícios do governo por estar afastado do trabalho por questões de saúde. Porém, a burocracia e os problemas da exclusão digital o impedem de conseguir os benefícios. POLÍTICAS SOCIAIS DA UNIÃO EUROPEIA Os países-membros da União Europeia desenvolveram um sistema de proteção social que, apesar de questionado por seu elevado custo, tem garantido aos cidadãos um padrão de vida elevado e diminuído as desigualdades sociais nesses países. O Estado de bem-estar social Alguns países europeus desenvolveram um sistema de proteção social conhecido como "Estado de bem-estar social" (Welfare State). Outras denominações são "Esta- do-previdência" e "Estado social de direito". Seguro-desemprego, previdência social, sistemas públicos de saúde e educação eficientes, crédito acessível para a compra de imóveis, atendimento a pessoas idosas e políticas de integração de pessoas com deficiência são exemplos das políticas de proteção social típicas desses países. As despesas com a previdência social são pagas pelas administrações públicas, por empresas e também por cotas individuais e familiares. O maior montante é destinado a aposentadorias e despesas sanitárias e educativas. Com as altas taxas de desem- prego atuais, os países europeus que adotam esse sistema têm empreendido esforços para assegurar maior assistência aos desempregados. Outro tipo de proteção social praticado é o rendimento mínimo garantido aos cidadãos mais desfavorecidos, pro- porcionando-lhes condições de vida minimamente dignas. A crise do modelo social europeu Há mais de uma década esse modelo social passa por dificuldades em razão do bai- xíssimo crescimento demográfico no continente. Os europeus vivem cada vez mais, e não nascem crianças em número suficiente para equilibrar o crescimento vegetativo. Desse modo, os governos são obrigados a destinar mais recursos aos gastos sociais, e as receitas da previdência social diminuem. As elevadas taxas de desemprego dificul- tam a adoção de políticas mais favoráveis à imigração. Os imigrantes que entram na UE muitas vezes são forçados a viver na clandestinidade. A população idosa na Europa tende a crescer cada vez mais. Essa é uma das preocupações dos governos europeus, pois os recursos obtidos com a população jovem e economicamente ativa não são suficientes para cobrir os custos de aposentadorias e saúde daquela faixa etária. Na fotografia, idosos jogando cartas em mesa ao ar livre em Lisboa, Portugal (2014). MARIO PROENCA/BLOOMBERG/GETTY IMAGES 107107 2o BIMESTRE – 107 https://www.youtube.com/watch?v=129PJIj-q6E capri Realce capri Realce capri Realce https://drive.google.com/file/d/1lQ26h62mXnTJo67lGS5uAVfh6Y6aogf8/view?usp=sharing capri Realce capri Realce capri Realce capri Realce Prioridades das políticas sociais Entre as preocupações sociais europeias, há duas de grande impacto para a popula- ção: o desemprego e a falta de segurança. Desemprego Assim como as demais regiões desenvolvidas do mundo capitalista, os países da Europa Ocidental vivem um intenso processo de incorporação de novas tecnologias em praticamente todos os setores de atividade econômica. Esse processo gera demanda de investimentos em equipamentos e tecnologia por parte das empresas e agrava o desemprego. A pressão da população sobre autoridades e empresas públicas para diminuir o desemprego nos países europeus é muito grande (observe a fotografia a seguir). Manifestantes protestam contra o congelamento de salários de servidores públicos e a proposta de extinguir cerca de 120 mil empregos públicos, em Paris, França (2017). Segurança pública A segurança pública tem sido cada vez mais relevante no conjunto de preocupações sociais da Europa. Ainda que as taxas de criminalidade no continente sejam baixas em comparação com as da América Latina ou da África, a segurança pública preocupa a população. A crescente disponibilidade de armas de pequeno porte, vindas, sobre- tudo, de países da Europa Oriental — entre eles os da ex-Iugoslávia e da Albânia — tem contribuído para o aumento da violência. Na França, pesquisas de opinião pública mostram que a população considera o problema da segurança mais importante que a questão do desemprego. As mais diversas formas de violência, incluindo atentados terroristas, têm apresentado crescimento nas estatísticas dos órgãos policiais e da Justiça. Além disso, a falta de perspectiva de futuro, por causa do desemprego, e a presença de imigrantes clandestinos favorecem o crescimento da extrema direita, com posturas xenófobas e contrárias à própria União Europeia. 108 108 – 2o BIMESTRE Texto complementar Europa hoje [...] A Europa deste iní- cio de século, porém, não é mais a mesma do pós-guerra, uma vez que os dois lados do conflito passaram a conside- rar, decorridos mais de cin- quenta anos, que o objetivo de paz entre eles, ancorado em instituições e sociedades democraticamente constituí- das e consolidadas, foi alcan- çado. O segundo objetivo, o da integração da Alemanha a um projeto comum, também foi realizado, especialmente depois que a reunificação do país, que passou a abri- gar uma população de 82 milhões de habitantes, não trouxe de volta os velhos sonhos imperiais. O fato de que a hipótese de regressão germânica foi afastada do imaginário europeu reforçou a ideia de que a paz, tão tra- balhosamente conquistada ao longo de mais de meio século, estava ligada, intrin- secamente, à construção de uma Europa politicamente unificada [...]. Porém, como a história não se detém, se os objetivos iniciais do pro- jeto de integração europeia já foram alcançados, quais os desafios que se colocam ago- ra à sua frente para que essa integração se aprofunde, e quais as dimensões políticas e geográficas [...] que ela se propõe atingir? As respostas não são uní- vocas, mas o fato de que a União Europeia tenha pas- sado a abrigar, a partir de 1o de maio de 2004, doze novos Estados (os últimos dois em janeiro de 2007) já é um começo de explicação. A extensão da ampliação irá modificar, necessariamente, a natureza e os passos do processo em curso, assim como a multiplicidade dos desafios e problemas a ele ligados. Com efeito, a inte- gração de doze novos países – sem contar os que já estão na fila de espera –, ao trazer para dentro das fronteiras da União uma população histó- rica, política e culturalmente mais diversificada, apresen- ta-se como uma tarefa tanto ou mais trabalhosa do que a que ocorreu no pós-Guer- ra dos anos 1950. No atual contexto pós-guerra Fria, o volume e a heterogeneidade das aspirações e demandas dessas novas popula- ções fazem com que o fortalecimento da coesão entre elas e a formulação de uma agenda de reformas que atinja todas as esferas da vida cotidiana se tornem essenciais para o avanço da construção dessa “Grande Europa” [...]. CAMARGO, Sônia de. A União Europeia: uma comunidade em construção. Contexto Internacional, v. 30, n. 2, 2008. Impostos e taxas As políticas sociais europeias são financiadas por uma série de impostos e taxas cobrados da sociedade. Embora cada país tenha independência na política fiscal, a União Europeia estabelece diretrizes gerais para homogeneizar a tributação em todos os países. Parte de um imposto comum em toda a Europa, o Imposto sobre Valor Agregado (IVA), é destinada ao financiamento das instituições europeias. As empresas europeias, com o objetivo de se tornarem mais competitivas e aumen- tar seus lucros, têm pressionado os governos a diminuir sua carga de tributos. Se essa redução ocorrer, outros segmentos da sociedade terão de pagar mais impostos. AS INSTITUIÇÕESDA UNIÃO EUROPEIA Há algumas instituições que regulam e intermedeiam a atuação da União Europeia: Conselho Europeu. Encarrega-se de definir as políticas gerais da União. É formado pelos chefes de Estado ou de governo dos países-membros, pelo seu presidente e pelo presidente da Comissão Europeia. Seu presidente é eleito por maioria qualifi- cada, cujo mandato é de dois anos e meio, podendo ser renovado uma vez. Comissão Europeia. Órgão encarregado de colocar em prática as políticas comuni- tárias. Com sede em Bruxelas, na Bélgica, a Comissão é formada por 28 comissá- rios, um para cada país da UE, sendo nomeado um candidato a presidente. Este, por sua vez, deverá ser aprovado pela maioria do Parlamento Europeu. Parlamento Europeu. Controla a Comissão Europeia e aprova pressupostos comuns. O número de deputados que o compõe é proporcional ao número de habitantes de cada país, com no mínimo 6 e no máximo 96 deputados. São eleitos a cada cinco anos pelos cidadãos. Tribunal de Justiça. Assegura o respeito às leis comuns e à aplicação dos tratados. Também atua como árbitro dos conflitos entre os órgãos da UE e entre os Estados- -membros. Tem sede em Luxemburgo. Comitê Econômico e Social. Responsável por prestar con- sultoria às propostas da Comis- são Europeia. Edifício-sede do Parlamento Europeu em Estrasburgo, França (2017). YU R I T U R K O V/ SH U TT ER ST O C K 109Capítulo 7 – União Europeia 109 2o BIMESTRE – 109 POLÍTICAS COMUNS DA UNIÃO EUROPEIA Desde o Tratado de Roma, de 1957, as barreiras comerciais entre os países-mem- bros da União Europeia haviam sido eliminadas, e uma série de políticas comuns foi encaminhada. Vejamos algumas delas: Política Agrícola Comum (PAC). É a base da política agrícola dos países-membros, financiada pelo Fundo Europeu de Orientação e Garantia Agrícola (Feoga). Seus objetivos são: evitar a competição de produtos agrícolas estrangeiros e manter o nível de vida dos agricultores europeus por meio da garantia de preços mínimos de venda dos produtos. Graças à PAC, a UE consegue tirar do mercado interno grandes quantidades de alimento, e parte do excedente é destinada à exportação. Com essa política, é criada uma barreira indireta à livre concorrência internacional de produtos agrários. Política pesqueira. Compreende acordos para explorar as fronteiras marítimas e incentivos à modernização tanto da frota pesqueira como da indústria de navega- ção. Essa política incrementou o volume da pesca, mas agravou o desemprego, por ter provocado o fechamento de pequenas empresas pesqueiras. Política regional. Voltada a reduzir as diferenças de desenvolvimento econômico entre os países e entre as regiões de alguns deles. Para isso, foram criados fundos de desenvolvimento que financiam a construção de infraestrutura para instalação de indústrias nas regiões menos desenvolvidas, e outras políticas de fomento à educação, à saúde e à igualdade de oportunidades dos cidadãos. Política de transportes. Por essa política, a UE tem favorecido a ampliação e a modernização das principais vias de acesso entre países do continente europeu e fomentado a criação de infraestruturas para conexão dos centros econômicos mais importantes da Europa com as regiões isoladas. Veja a fotografia a seguir. Estação de trem Hauptbahnhof, da qual saem trens que ligam a cidade a diversos outros locais da Alemanha e da Europa, em Berlim, Alemanha (2017). A N A C A N D ID A /S H U TT ER ST O C K 110 110 – 2o BIMESTRE Política industrial. Implica o incentivo à modernização das empresas e dos setores industrais em crise na UE, concedendo subvenções aos setores mais modernos, buscando novos mercados e estimulando a cooperação entre os países-membros. Embora seja uma das prin- cipais zonas industriais do mundo, a UE ainda enfrenta problemas de falta de modernização e menor desen- volvimento em alguns setores, quando comparada aos Estados Unidos e ao Japão, seus concorrentes diretos. A política industrial adotada visa assegurar competiti- vidade às suas indústrias. Também existe uma política energética comum, com o objetivo de diversificar as fontes de energia e reduzir as importações de petróleo. Política comercial. Por essa política, os produtos comer- cializados nos países-membros são taxados com um mesmo imposto, o IVA. Principal potência comercial do mundo, a UE vende produtos agrícolas e industriais e compra matérias-primas em geral e manufaturas de alta tecnologia. Política ambiental. Visa criar uma legislação ambiental única dos países-membros. O desenvolvimento sus- tentável constitui um dos principais objetivos da UE, baseando-se na ação preventiva e na correção de danos causados ao ambiente. Alguns exemplos disso são a proi- bição da gasolina com chumbo, a reciclagem de resíduos sólidos urbanos (fotografia ao lado), a proibição da fabricação e do uso de CFC (clorofluor- carboneto) e a utilização de energias limpas. Funcionários trabalhando em centro de reciclagem em Rocquencourt, França (2016). uu COMISSÃO europeia: <http:// ec.europa.eu/index_pt.htm>. Acesso em: 01 nov. 2018. O site da União Europeia traz dados estatísticos sobre população, imigração, questões ambientais, fontes de energia e muitas outras informações disponíveis em forma de estatísticas, gráficos e mapas, além de apresentar políticas, legislação, estratégias e metas do bloco para os próximos anos. C H A R LY T R IB A LL EA U /A FP 111Capítulo 7 – União Europeia 111 2o BIMESTRE – 111 http://ec.europa.eu/index_pt.htm http://ec.europa.eu/index_pt.htm CRISE NA UNIÃO EUROPEIA Na segunda década do século XXI, uma série de problemas socioeconômicos ainda atingia alguns países europeus, em especial da União Europeia. A crise financeira de 2008, o endivi- damento de muitas economias da UE e a discrepância entre os graus de desenvolvimento econômico e humano dos países da Zona do Euro haviam deixado Estados à beira da falência. Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha, grandes captado- res de empréstimos, foram afetados, mas, graças a eficien- tes medidas econômico-sociais boa parte desses países se recuperou ou está em recuperação. É o caso de Portugal, que investiu fortemente no setor de turismo, entre outras medidas. A instabilidade financeira gerou incertezas sobre a permanência de alguns desses países no bloco, como você viu no início deste Capítulo. Crise de 2008 e impactos sociais A crise econômica de 2008 teve início nos Estados Unidos, a partir da “bolha imobiliária” criada pela va- lorização dos imóveis com base em empréstimos hipotecários. Como muitos estadunidenses não conseguiam quitar as dívidas criadas pela compra da casa própria, muitas empresas e instituições destinadas a oferecer crédito tiveram altos prejuízos e, por um efeito domi- nó, a crise atingiu bancos e bolsas de valores do país. Logo as instituições financeiras da União Euro- peia também foram afetadas, o que gerou uma onda de desemprego, com diminuição do consumo e falên- cia de bancos e empresas do setor produtivo. Para socorrer as instituições afetadas pela crise, os governos europeus adotaram medidas considera- das rígidas para conter os gastos públicos, com alto impacto sobre a população. Assim, além da falta de emprego, os europeus enfrentaram corte de benefí- cios sociais, diminuição de investimentos em setores como saúde e educação, aumento de impostos, apro- fundamento das desigualdades sociais, sobretudo em países como Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espa- nha, cuja economia é mais dependente dos repasses financeiros da UE. Protesto em Atenas, Grécia (2012), contra o pacote de austeridade fiscal apresentado pela União Europeia aos países mais endividados. M IL O S B IC A N SK I/G ET TY IM A G ES 112 112 – 2o BIMESTRE https://drive.google.com/file/d/118y2NgWKlvfPwWCXdf64BcKwgXdulCce/view?usp=sharing Texto complementar Desemprego entre os jo- vensO rótulo nem-nem, esse termo novo que descreve com certo menosprezo os jovens que nem estudam nem trabalham, perde sua carga pejorativa quando é empregado para definir os gregos entre 15 e 24 anos cujo acesso ao mercado de trabalho foi retardado ao in- finito por causa da pior crise na história da zona do euro. Apesar dos incipientes sinais de recuperação econômica, a Grécia continua ostentando o pior indicador de desempre- go juvenil da União Europeia, uma taxa que beirou os 60% nos anos mais duros da crise (2013-2014) e que hoje está em torno de 44%. A geração dos nem-nem gregos se situa em terra de ninguém: tão longe das salas de aula como do mercado de trabalho ou, no melhor dos casos, com subempregos sem relação com os seus cursos. Nada que não possa ser dito dos jovens espanhóis, segun- dos no ranking do desempre- go juvenil da UE, com 39%. Em 2016, de acordo com dados da OCDE, 26,9% dos jovens gregos entre 15 e 29 anos eram nem-nem (na Es- panha, 22,7%). Segundo a Organização Internacional do Trabalho, o Brasil fechou 2017 com uma taxa de de- semprego de praticamente 30% entre jovens até 25 anos. Pior resultado desde 1991, mas, mesmo assim, abaixo da Grécia. A DIFÍCIL luta contra a epidemia de desemprego jovem no sul da Europa. El País. Disponível em: <https://brasil.elpais. com/brasil/2018/04/19/ internacional/1524154571_ 113071.html>. Acesso em: 17 ago. 2018. Resposta FRANÇA PAÍSES BAIXOS BÉLGICA ITÁLIA ALEMANHA OCEANO ATLÂNTICO 0° ÁFRICA ÁSIA ÁSIA MAR NEGRO MAR CÁSPIO MAR MEDITERRÂNEO MAR DO NORTE OCEANO GLACIAL ÁRTICO 45° N LUXEMBURGO SUÉCIA FINLÂNDIA DINAMARCAREINO UNIDOIRLANDA ESPANHA PORTUGAL ÁUSTRIA GRÉCIA ESTÔNIA LETÔNIA LITUÂNIA POLÔNIA ESLOVÁQUIA REP. TCHECA HUNGRIA ESLOVÊNIA CROÁCIA ROMÊNIA BULGÁRIA M A R B Á LT IC O M ER ID IA N O D E G R EE N W IC H SUÍÇA CÍRCULO POLAR ÁRTICO De 9,7 a 12,0 De 13,0 a 15,0 De 16,0 a 18,0 De 19,0 a 20,0 De 21,0 a 23,0 De 24,0 a 25,4 Sem dados População em risco de pobreza (em %) Desemprego na União Europeia Na média, o conjunto de países da União Europeia apre- senta altos indicadores socioeconômicos, mas isso não garante que haja equilíbrio entre os integrantes do bloco. A recente crise econômica afetou muito a Europa. As parcelas da população mais atingidas foram as compostas de jovens, imigrantes e trabalhadores menos qualificados. O risco de pobreza O risco de pobreza é um indicador que reflete a exclusão social, utilizado na União Europeia para fins estatísticos. Consideram-se em risco de pobreza as pessoas que rece- bem mensalmente menos de 60% do rendimento médio mensal per capita do país onde vivem. Em 2015, 23,7% da população da UE se encontravam em risco de pobreza ou de exclusão social. Observe o mapa a seguir. Ler o mapa • Retome o conceito de risco de pobreza e expli- que por que não pode- mos afirmar, com base na leitura do mapa, que os rendimentos das pes- soas em risco de pobre- za na Espanha e na Le- tônia são parecidos. UNIÃO EUROPEIA: RISCO DE POBREZA (2015) Elaborado com base em dados obtidos em: EUROSTAT. At-risk-of-poverty rate by poverty threshold, age and sex. Disponível em: <http://appsso.eurostat.ec.europa.eu/nui/show. do?dataset=ilc_li02&lang=en>. Acesso em: 23 out. 2017. SO N IA V A Z NE LO SE S N NO SO 350 km 113Capítulo 7 – União Europeia 113 2o BIMESTRE – 113 https://brasil.elpais.com/brasil/2018/04/19/internacional/1524154571_113071.html https://brasil.elpais.com/brasil/2018/04/19/internacional/1524154571_113071.html https://brasil.elpais.com/brasil/2018/04/19/internacional/1524154571_113071.html https://brasil.elpais.com/brasil/2018/04/19/internacional/1524154571_113071.html http://appsso.eurostat.ec.europa.eu/nui/show.do?dataset=ilc_li02&lang=en http://appsso.eurostat.ec.europa.eu/nui/show.do?dataset=ilc_li02&lang=en 108 Oriente a leitura e inter- pretação do infográfico. Ele faz uma síntese de aspectos econômicos da UE, possibili- tando que os alunos tenham uma visão das condições so- ciais da população dos paí- ses que a integram. Somente após a compreensão do in- fográfico é que as questões propostas devem ser respon- didas oralmente, com o ob- jetivo de possibilitar a troca de ideias, o esclarecimento de novas dúvidas e a prática da expressão verbal. Temas contemporâneos O tema Trabalho é contem- plado nesta seção e pode ser ex- plorado considerando-se que é por meio dele que o ser humano consegue obter sua subsistência. Entretanto, cum- pre lembrar que, para o seu exercício ou a sua execução, há necessidade, principalmen- te no mundo contemporâneo, caracterizado pela sociedade do conhecimento, de boa for- mação profissional. Além dis- so, deve-se considerar que a força de trabalho, entendida como a energia física e men- tal do ser humano empregada no processo produtivo, depen- de também das condições de vida do trabalhador. O desem- prego compromete a existên- cia humana e traz traumas psicológicos ao trabalhador. Compare o desemprego na UE com o do Brasil, que no ano de 2018 atingiu mais de 12 milhões de pessoas, o que representou 12,1% da popu- lação economicamente ativa. 108 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt . 1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . Pobreza e disparidades econômicas na União Europeia Nos últimos anos, a pobreza e a desigualdade econômica se acentuaram na União Europeia. Ao aumentar o desemprego, a crise econômica iniciada em 2008 aprofundou a pobreza e contribuiu para a redução da renda média mensal per capita de vários países do bloco europeu. Europa: variação da renda média mensal per cap ita – 2008-2016 Renda mensal é aquela recebida por uma pessoa em forma de salário por seu trabalho, lucro, juros , aluguel, arrendamento ou remuneração por serviços pres tados. IM A G EN S: P A U LO M A N ZI ; M A PA S: A N D ER SO N D E A N D RA D E PI M EN TE L Luxemburgo Suíça Noruega Islândia Dinamarca Alemanha Países Baixos Áustria Bélgica Suécia França Irlanda Finlândia Reino Unido Zona do Euro (19 países) União Europeia (28 países) Espanha Eslovênia Malta Itália Estônia Chipre República Tcheca Portugal Lituânia Eslováquia Letônia Hungria Croácia Polônia Grécia Bulgária Romênia Euros PPC* 401 489 493317 550 696 642466 679653 698618 0 500 1.000 1.500 2.000 2.500 3.000 3.500 2.791 3.078 1.917 2.328 1.694 1.756 1.433 1.575 1.467 1.654 1.5251.213 1.5021.452 1.4911.249 1.4081.264 1.4061.262 1.263 1.310 1.175 1.320 1.249 1.284 1.2831.199 616 728 552 734 599 801 819 830 736 860 893 1.010 744 900 935 751 912 961 930 988 1.060 1.105 1.105 1.229 1.021 1.151 Pobreza material Na União Europeia, são consideradas pessoas em situação de privação material aquelas que não têm condições econômicas para ter acesso a 4 ou mais destes itens: Pagar uma despesa inesperada no mesmo valor da renda média nacional sem tomar empréstimo. Ter refeição com carne ou peixe a cada 2 dias. Pagar as despesas mensais sem atraso. Ter máquina de lavar roupas. Pagar férias de uma semana para toda a família. Manter a casa aquecida. Ter telefone fixo ou móvel. Ter televisão em cores. Ter automóvel. EM 2016 EM 2008 Neste grá�co, a base de cada seta indica o valor da renda média mensal per capita de 2008, e a ponta, o de 2016. REDUÇÃO AUMENTO Legenda: A Grécia foi o país mais afetado p ela crise, registran do piora nos principai s indicad ores socioeco nômicos: renda, de sempreg o e pobrez a. A D IL SO N S EC CO INFOGRÁFICO * PPC: Paridade do Poder de Compra. É um método para calcular o poder de compra da população dos países. Considerando que os bens e serviços têm preços diferentes nos diversos países, o PPC mede quanto determinada moeda, convertida em euro, pode comprar em cada um deles. Em ger al, os pa íses cuj a renda p ercapit a já era maior a ntes da crise foram o s que ti veram o maior aumen to ness e período . Como resulta do, a desig ualdade de rend a entre o s países do blo co da Uniã o Europ eia cresceu . 108 109 Respostas 109 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt . 1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . FIN SUENOR IRL DIN RUN BEL ALE LUX FRA AUT POR ESP ITA SUI GRE PBS ESQ BUL LET RUS ISL BIE UCR MOL MAC ALB MAT TCH ESV ROM EST HUN POL CHP CRO BOS MTN SER LIU OCEANO ATLÂNTICO CÍRCULO POLAR ÁRTICO MAR NEGRO MAR DO NORTE MAR BÁLTICO ÁFRICA MAR MEDITERRÂNEO 0° 42° N ÁSIA ÁSIA População em risco de pobreza na União Europeia Mesmo nos países mais ricos do bloco, o percentual de pessoas em risco de pobreza é significativo. Desemprego na União Europeia De 2008 a 2016, o desemprego aumentou em 21 países dos 28 que compõem a União Europeia, e a taxa média de desemprego do bloco passou de 2,6% para 4,0%. FIN SUE NOR IRL DIN RUN BEL ALE LUX FRA AUT POR ESP ITA SUI GRE PBS ESQ BUL LET RUS ISL BIE UCR MOL MAC ALB MAT TCH ESV ROM EST HUN POL CHP CRO BOS MTN SER LIU OCEANO ATLÂNTICO CÍRCULO POLAR ÁRTICO MAR NEGRO MAR DO NORTE MAR BÁLTICO ÁFRICA MAR MEDITERRÂNEO 0° 42° N ÁSIA A pobreza no Leste Europeu é agravada pelas difer enças étni cas. Na região nordeste d a Romênia e no noroes te da Bulgári a, que abr igam ciganos e outras etn ias minoritári as, a pobre za atinge ma is de 50% da população . A costa do Mediterrâneo e o Leste Europeu agrupam os países mais pobres do bloco. Entre os fatores que impedem a recuperação e o crescimento econômico estão o endividamento público e a crise financeira, que reduzem os investimentos e a oferta de bens e de serviçospelo Estado. A Alemanha foi o país da União Europe ia em que o desempreg o mais diminuiu ap ós a crise econômic a de 2008. Passou de 3 ,9% (em 2008) para 1,7% (em 2016). O conceito de p obreza varia de acordo com as d iferentes realida des sociais. Na Uniã o Europeia, são consideradas em risco de pobrez a as pessoas com renda mensal inferior a 60% d a renda média mensal per capi ta em seus país es. NE LO SE S N NO SO NE LO SE S N NO SO Em 2016, a Grécia tinha a maior taxa de desemprego de longa duração da União Europeia, com 17,0% da população à procura de ocupação. Fonte: European Commission. Eurostat. Disponível em: <https:// ec.europa.eu/eurostat/ data/database>. Acesso em: 2 out. 2018. Interprete 1. Em 2016, qual era a renda média mensal per capita dos países da União Europeia com maiores taxas de desemprego? 2. Pode-se afirmar que a população em ris co de pobreza de todos os países da União Europeia tem as mesmas condições econômicas? Justifique. 520 km0 520 km0 De 12,2 a 17,8 De 17,8 a 19,8 De 19,8 a 25,1 De 25,1 a 30,1 De 30,1 a 41,1 População em risco de pobreza (em %) – 2016 De 0,3 a 1,5 De 1,5 a 1,9 De 1,9 a 3,1 De 3,1 a 4,5 De 4,5 a 17,4 Taxa de desemprego (em %) – 2016 109 https://ec.europa.eu/eurostat/data/database https://ec.europa.eu/eurostat/data/database https://ec.europa.eu/eurostat/data/database Texto complementar Brexit Compreender o Brexit é medir a irrupção dessa xeno- fobia por longo tempo subja- cente em regiões trabalhistas empobrecidas e constatar sua fusão com o nacionalismo conservador tradicional nas periferias e nas zonas rurais. Basta observar o mapa dos resultados: as grandes cidades inglesas e o conjunto da Escó- cia votaram pela permanência na União Europeia, enquanto as cidades e vilarejos pobres da Inglaterra e do País de Ga- les preferiram sair. Mesmo a presença de duas universida- des, de uma importante comu- nidade asiática e de uma eco- nomia urbana florescente não conseguiu fazer cidades como Nottingham e Birmingham se bandearem para o campo eurófilo. Ao votarem contra a Europa, esses municípios fizeram de uma revolta que amadurece há anos um even- to histórico decisivo, e isso em razão de três fatores prin- cipais. Primeiramente, o neo- liberalismo, do qual o reino foi um dos laboratórios, está se fragmentando. No início dos anos 1980, a primeira-ministra Margaret Thatcher conduziu uma política que transformou uma recessão em colapso industrial e social a fim de prejudicar a coesão dos bas- tiões operários. Por décadas, a margem de negociação dos assalariados foi largamente re- duzida. Durante os anos 1990 e 2000, tanto aqui como no mundo ocidental, o recurso ao crédito serviu para preencher o fosso entre os rendimentos que se estagnavam e o cresci- mento econômico. Em seguida, a crise de 2008 estourou. Mal tendo chegado ao poder, o governo conservador de David Came- ron (2010-2016) começou a cortar despesas. A falta de crédito desfechou um golpe severo nos pequenos comér- cios, que se viram desertos, ou substituídos pelos três símbolos nacionais da pobre- za urbana: Poundland (onde tudo custa 1 libra esterlina), Cash Converters (loja de penhores moderna) e os es- critórios de Citizens Advice (“conselho de cidadãos”), onde se pode entrar na fila de manhã a fim de obter ajuda para renegociar a dívida, evitar o despejo ou lutar contra pensamentos suicidas. Acrescente-se a isso o terceiro fator, a austeridade, e o quadro estará completo. Quando as supressões de cargos dizimam os serviços públicos, não é de admirar que alguns se perguntem se a crise não seria mais suportável com menos imigrantes. Os que ousavam fazer essa pergunta eram tidos como xenófobos. BREXIT, a xenofobia não explica tudo. Le Monde Diplomatique. Disponível em: <https://diplomatique.org.br/brexit-a-xenofobia-nao-explica-tudo/>. Acesso em: 18 ago. 2018. Manifestantes em Roma, Itália (2017), protestando contra a União Europeia. O Brexit e o discurso contra a União Europeia Após o plebiscito de junho de 2016, no qual a maioria optou pela saída da Grã-Bretanha da União Europeia (52% dos votos), foram previstos dois anos de negociações até se obter consenso sobre o acordo final do Brexit. O acesso ao Mercado Comum Europeu, mantendo os acordos comerciais para a troca de produtos e serviços com outros países do bloco, faz parte das negociações que deverão ser votadas no Parlamento Britânico e no Parlamento Europeu em março de 2019 para que seja confirmada a saída do bloco. No entanto, como até então nenhum país havia se reti- rado da União Europeia, a ausência de precedentes torna o processo instável, e o dissenso ainda pode fazer com que seja cancelado o pedido da Grã-Bretanha de deixar o bloco. Desde o plebiscito, o Brexit vem contribuindo para que grupos radicais contra a UE apareçam na cena política, não só na Grã-Bretanha, mas também em outros países, mostrando que não há mais a unidade que se via antes em relação ao bloco. Partidos políticos com formações populistas e naciona- listas vêm ganhando força em diversos países ao contestar os atuais moldes do bloco e incentivar a criação de movi- mentos neonazistas e xenófobos. O discurso anti-migra- ção, que permeia o Brexit, já é predominante onde a extre- ma-direita compõe atualmente os partidos mais influentes do sistema político. Na França, Alemanha, Áustria, Itália, Finlândia, Polônia, por exemplo, as alas políticas mais conservadoras des- ses países já discutem uma possível desinte- gração do bloco nos próximos anos.KY O D O N EW S/ G ET TY IM A G ES 114 114 – 2o BIMESTRE https://diplomatique.org.br/brexit-a-xenofobia-nao-explica-tudo/ https://www.youtube.com/watch?v=MYQJ8eJ0EuM 1 Faça o que se pede. a) Quais são as condições básicas para um país in- gressar no bloco que forma a União Europeia? b) Qual a principal diferença entre a UE e a an- tiga CEE? c) Cite pelo menos três países europeus que não integram a UE. 2 Reproduza a tabela a seguir em seu caderno e complete-acom o nome de países-membros da União Europeia, conforme o ano de ingres- so no bloco. 1957 1973 1981 1986 1990 1995 2004 2007 2013 3 Um dos grandes desafios na Europa é como lidar com o crescente número de idosos. Veja a notícia a seguir. População idosa da Europa é um desafio para o sistema previdenciário O equilíbrio no sistema previdenciário europeu é um dos grandes desafios do conti- nente para as próximas décadas, acreditam os especialistas. Os que vivem de aposentadorias deverão atingir a maioria da população europeia, com cerca de 30% do total em 2050. [...] Segundo o economista Pedro Paulo Zah- luth, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), já se pode falar em uma geração atividades perdida em diversos países, como na Espanha, por exemplo, onde quase metade dos jovens está [esteve] desempregada. “Esta geração não vai contribuir para o estado, porém ainda deve usar os ativos dos pais, que são da geração do baby boom, a mais sortuda da história, por se benefi- ciar de um momento econômico de muito crescimento”, afirma. Até hoje, esta ge- ração é a que possui os maiores ativos da economia. Segundo Zahluth, esta geração foi a pri- meira em que as pessoas atingiram a idade mí- nima para se aposentar. “Até então, a maioria das pessoas trabalhava e nunca atingia a ida- de, já que a expectativa de vida era baixíssima. Ou seja, não existiam problemas previdenciá- rios porque existiam pouquíssimas aposenta- dorias”, afirma. [...] A grande quantidade de mão de obra e a imigração podem beneficiar a economia, mas só virão com a retomada de um crescimento econômico, afirmam os especialistas. POPULAÇÃO idosa da Europa é um desafio para o sistema previdenciário. Jornal do Brasil, 3 fev. 2012. a) Quais são os desafios de uma crescente po- pulação idosa? b) Além do envelhecimento da população, qual outro problema apontado no texto vai influenciar negativamente o sistema previ- denciário europeu? A que se deve esse pro- blema? 4 Nos últimos anos, grupos radicais contra a União Europeia emergiram na cena política, não só na Grã-Bretanha, mas também em ou- tros países. Qual o principal discurso adotado por esses grupos? 115Capítulo 7 – União Europeia 115 2o BIMESTRE – 115 ser mundono TRANSPORTE NA UNIÃO EUROPEIA: O USO DAS BICICLETAS NAS CIDADES Como vimos anteriormente, uma das políticas adotadas pela União Europeia foi a amplia- ção e modernização dos principais eixos de transportes do continente. Nas cidades, os investimentos em infraestruturas “inteligentes” e o estímulo ao uso de bicicletas têm contribuído para melhorar a mobilidade urbana. Veja, na fotografia abaixo e no texto a seguir, o exemplo adotado pelos Países Baixos, cujas principais cidades são considera- das locais adequados para deslocamentos por bicicletas. Como a Holanda se tornou um país de ciclistas Investimentos em infraestrutura, educação e na legislação fazem do país um dos melhores, senão o melhor, lugares do mundo para se pedalar. Priorizar as bicicletas é a política pública local desde a década de 1970 A naturalidade com que os ciclistas se integram ao trânsito nas cidades holandesas surpreende os visitantes de países que priorizam automóveis. Boa infraestrutura, investi- mentos em educação e leis protetivas alçaram a Holanda às primeiras posições em rankings internacionais de países mais amigáveis às bicicletas. Ciclistas na cidade de Amsterdã, Países Baixos (2018). 116116 116 – 2o BIMESTRE Questões para autoavaliação Nesta Unidade, as questões sugeridas para autoavalia- ção – e que também podem ser utilizadas, a seu critério, para o diagnóstico do grau de aprendizagem dos estu- dantes – são as seguintes: 1. Como as características físicas da Europa influen- ciaram no modo de vida de seus habitantes? 2. Quais os principais desa- fios ambientais da Europa atualmente? 3. Como podemos definir as dinâmicas demográficas eu- ropeias nas últimas décadas? 4. Por que se iniciou a coo- peração que levou à forma- ção da União Europeia? 5. Quais os principais desa- fios para a manutenção da União Europeia? Respostas De acordo com o índice elaborado pela consultoria dinamarquesa de design urbano Copenhagenize, em parceria com a revista Wired, por exemplo, três cidades holandesas – Amsterdã, Utrecht e Eindhoven – estão entre as cinco melhores do mundo para se peda- lar. O estudo, que abrangeu 122 municípios com mais de 600 mil habitantes, avalia desde planejamento urbano até aspectos culturais. Hoje, 34% dos deslocamentos de até 7,5 km na Holanda são realizados por bicicletas, em comparação a 4% no Brasil. Mas nem sempre foi assim. Da mesma forma que em di- versos outros lugares da Europa, o uso de bicicletas como meio de transporte sofreu um forte retrocesso na Holanda por volta das décadas de 1950 e 1960, quando os carros se popularizaram. Com a economia do país em expansão, os responsáveis pelas políticas de planejamento urbano das cidades holandesas passaram a privilegiar o automóvel, conside- rado à época o veículo do futuro e estratégico para o crescimento econômico. O tráfego de carros se intensificou a partir de então, trazendo, além de congestiona- mentos, um excessivo aumento no número de acidentes de trânsito. No ano de 1971, mais de 400 crianças morreram por causa de acidentes envolvendo automóveis. Foi o estopim para que a população saísse às ruas em um movimento que ficou conhecido como “Stop de Kindermoord” ("Parem com o assassinato de crianças"). Nesse contexto, grupos de ati- vistas reivindicando melhores condições e infraestrutura para os ciclistas ganharam cada vez mais espaço. Às demandas populares somou-se o fator econômico. Em 1973, o preço do petróleo quadruplicou na Holanda em decorrência do embargo de países árabes às nações que apoiaram Israel na Guerra do Yom Kippur. As aparentes desvantagens do carro causaram uma mudança de perspectivas também nos governantes, que passaram a investir em polí- ticas de fomento ao uso de bicicletas como meio de locomoção diário. A busca por soluções favoráveis aos ciclistas continua até hoje, como ressalta Ruth Oldenziel, coautora do livro Cycling cities: the european experience e professora de História Europeia e Americana da Universidade Tecnológica de Eindhoven. “É uma história de movimentos sociais e trabalho político árduo. Desde os anos 1970, nós tivemos políti- cas de reivindicação das ruas que partiram tanto da população quanto de autoridades. E nós ainda não chegamos lá. Trata-se de um trabalho em constante andamento que re- quer tempo e grande empenho”, pondera. REED, Sarita. Como a Holanda se tornou um país de ciclistas. Nexo, 27 fev. 2017. Disponível em: <https://www.nexojornal.com.br/reportagem/2017/02/27/Como-a-Holanda-se- tornou-um-pa%C3%ADs-de-ciclistas>. Acesso em: 6 mar. 2018. 1 De acordo com o texto, quais foram as políticas adotadas para priorizar o uso das bicicle- tas nas cidades dos Países Baixos? 2 Na sua opinião, por que os Países Baixos, assim como outros países da União Europeia, adotam políticas para priorizar o uso de bicicletas como um dos principais meios de transporte urbano? 117117 2o BIMESTRE – 117 https://www.nexojornal.com.br/reportagem/2017/02/27/Como-a-Holanda-se-tornou-um-pa%C3%ADs-de-ciclistas https://www.nexojornal.com.br/reportagem/2017/02/27/Como-a-Holanda-se-tornou-um-pa%C3%ADs-de-ciclistas https://www.nexojornal.com.br/reportagem/2017/02/27/Como-a-Holanda-se-tornou-um-pa%C3%ADs-de-ciclistas