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CBI of Miami 1 CBI of Miami 2 DIREITOS AUTORAIS Esse material está protegido por leis de direitos autorais. Todos os direitos sobre o mesmo estão reservados. Você não tem permissão para vender, distribuir gratuitamente, ou copiar e reproduzir integral ou parcialmente esse conteúdo em sites, blogs, jornais ou quaisquer veículos de distribuição e mídia. Qualquer tipo de violação dos direitos autorais estará sujeito a ações legais. CBI of Miami 3 Conceitos e Princípios da Análise Experimental do Comportamento II Lucelmo Lacerda 1. Extinção Operante e Respondente Extinção é um nome dado a um processo comportamental e também a um procedimento de ensino e vamos trabalhar aqui este processo e fazer alguns apontamentos sobre a utilização do procedimento de Extinção, embora ele vá ser trabalhado direta e mais profundamente em outro contexto, mais à frente. Como a extinção respondente e operante são fenômenos distintos, vamos trabalhá-los separadamente. • Extinção Respondente: Esta é uma relação que ocorre entre o indivíduo e um estímulo eliciador CONDICIONADO, ou seja, que não é estabelecido biologicamente, mas que foi aprendido, em que este estímulo deixa de eliciar o respondente, perdendo a função eliciadora condicionada, por meio da apresentação reiterada na ausência do estímulo eliciador incondicionado. Em outras palavras, se os cães começaram a salivar só ao ouvir a sineta, esta é uma habilidade evolutiva muito interessante, já que a sineta se demonstrou um estímulo que antecipava consistentemente o ato de comer, de modo que a eliciação da salivação diante dele cumpria o papel de preparar o ambiente digestório. Mas se a sineta perdeu esta relação com a carne, teria algum sentido evolutivo que o cão salivasse para sempre diante dele e diante de todos os outros estímulos pareados com a visão da comida? Certamente que não, então a relação se enfraquece e some se não for reposta constantemente. Temos Então o Seguinte Esquema: Em um primeiro momento, temos esta relação: S (estímulo incondicionado) Respondente S (estímulo neutro) Nenhum comportamento CBI of Miami 4 Depois, estabelecemos a presença contínua do estímulo neutro na presença do estímulo eliciador, o que pode ocorrer de modo “natural”, sem que ninguém planeje ou organize o ambiente deliberadamente, ou de maneira planejada e consistente em um processo educacional ou terapêutico: S (estímulo incondicionado) Respondente S (estímulo neutro) Deste modo, o estímulo antes neutro se torna um estímulo condicionado, sendo esta, portanto, uma aprendizagem respondente ou condicionamento respondente: S (estímulo antes neutro, agora condicionado) Respondente Se esse estímulo condicionado aparece sem a presença do estímulo incondicionado, ele aos poucos deixa de eliciar o respondente, passando pelo processo de extinção respondente. Estímulo Resposta Processo Sem aprendizagem Visão da comida Salivação Estímulo incondicionado Barulho do prato -------------------- Estímulo neutro Processo de aprendizagem Visão da comida + barulho do prato (quando batemos os talheres Salivação (em função da visão da comida) Pareamento consistente de estímulos – ocorrência do condicionamento respondente Resultado Barulho do prato salivação Estímulo condicionado CBI of Miami 5 Nós normalmente comemos em pratos e o barulho continua a ocorrer junto com a visão da comida, com o toque dos talheres na louça, mantendo o pareamento ativo e consistente. Mas imaginemos que isso não ocorresse mais, que passássemos por algum tipo de transformação social que fizesse com que não mais usássemos nenhum tipo de louça na cozinha e o pareamento deixasse de ocorrer, o que ocorreria com o comportamento respondente de salivar diante do barulho de prato? Deixaria de existir, ou seja, entraria em extinção, como na hipótese abaixo: Estímulo Resposta Relação Barulho de prato Salivação Respondente condicionado Barulho de prato Salivação mais fraca Processo de extinção respondente Barulho de prato Salivação ainda mais fraca Barulho de prato Salivação ainda mais fraca Barulho de prato Salivação ainda mais fraca Barulho de prato Salivação ainda mais fraca ... ... Barulho de prato Sem salivação Extinção respondente completa O conhecimento deste processo nos dá algumas informações importantes também na esfera terapêutico/educacional. Imagine que você seja o responsável pelo processo de intervenção de uma criança, é claro que o primeiro passo para começar seu trabalho é estabelecer o seu valor reforçador, ou seja, realizar um pareamento entre você e os estímulos que esta criança ama, seja a Galinha Pintadinha, o Cocoricó, Insetos, Dinossauros, o que seja. O terapeuta ou educador deve aparecer consistentemente na presença desses estímulos, preferencialmente antes deles e permanecendo em sua presença, CBI of Miami 6 garantindo uma relação de credibilidade entre estes estímulos (presença do profissional + aquilo que a criança mais ama) para produzir um condicionamento respondente poderoso e os pedidos deste profissional sejam mais provavelmente seguidos e seus elogios ou brincadeiras, mais poderosamente reforçadores. Em um segundo momento, o profissional passa a não somente orquestrar as coisas para um pareamento com os estímulos reforçadores para a criança, passa também a colocar demandas, atividades de aprendizagem distintas de somente assistir TV ou celular ou o que quer que a criança faça livremente, as coisas são organizadas para a intervenção acontecer e a criança avançar. MAS, e este é o ponto em que queria chegar, é necessário que o profissional não seja totalmente desligado dos estímulos que lhe emprestaram valor reforçador, é preciso que esta relação de pareamento seja continuamente reposta, que muitas vezes o profissional volte a estar na presença dessas coisas adoradas pela criança, para que ele permanentemente seja também um estímulo de preferência da criança, pois se esta relação se quebrar e a presença do profissional nunca mais ocorrer na presença desses outros estímulos, ele progressivamente perderá seu valor reforçador. • Extinção Operante: Imagine que uma criança está em casa enquanto dos pais trabalham também em casa, cada qual em um cômodo. Esta criança está assistindo TV, privada de atenção e ela começa a chorar. A mãe imediatamente diz para o pai “eu acho que é choro por atenção, não vamos dar atenção, já pude ver que ele não está machucado, se ele tiver alguma dor, deixe ele falar” e simplesmente não dê bola para o chororô e ele passe, então temos uma resposta com uma certa função (digamos que a mãe estivesse certa), que não é selecionado pelo ambiente, não tem reforço, não chega a se estabelecer no repertório do indivíduo. Deste modo, não se trata de uma extinção. CBI of Miami 7 Para que um comportamento passe por um processo de extinção, é preciso dois requisitos fundamentais, nesta ordem: 1. Uma certa resposta seja reforçada e aprendida 2. A relação entre a resposta e seu reforçador seja quebrada, de modo que a respostanão mais produza o mesmo reforço, reduzindo até deixar de existir, sendo, portanto, extinta. Imaginemos uma situação diferente desses pais (e bem mais realista), a mãe e o pai vão ver o que está ocorrendo com o choro e acabam por reforça- lo, pois ele não decorre de uma dor ou outro problema, mas da função de atenção e ele é reforçado, reforçado e aprendido, de modo que esta criança passa a ser uma “criança chorona” (1º elemento de uma extinção cumprido) e após um tempo, com ou sem aconselhamento, a família decide inverter a equação e não mais dar qualquer consequência ao comportamento de chorar de seu filho, a partir de então, portanto, o comportamento de chorar não é mais reforçado (2º passo para a extinção atingido), ou seja, há uma quebra da contingência antes estabelecida e o comportamento da criança se reduz, até acabar, completando o processo de extinção operante. Se no comportamento respondente, a extinção se dá pela contínua inexistência do pareamento entre estímulo incondicionado e estímulo condicionado, que elimina o valor eliciador do estímulo condicionado, no comportamento operante ele se dá por meio da quebra da contingência, com mudanças no ambiente que fazem com que o comportamento deixe de produzir as consequências reforçadoras que produziam no passado, fazendo com que este comportamento deixe de existir, entre em extinção. Isto pode ocorrer de modo “natural”, no dia a dia de qualquer um de nós ou de modo planejado, implementado por meio de um procedimento de extinção. CBI of Miami 8 Exemplos de extinção que ocorrem sem planejamento: Ex. A B C Processo 1 No horário do almoço Almoça em certo restaurante Comida é gostosa Isto acontece muitas vezes e o comportamento é aprendido No horário do almoço Almoça em certo restaurante (mudança de cozinheiro) Comida deixa de ser gostosa É quebrada a relação entre resposta e consequência (deixa de ir ao restaurante) 2 Todos os dias Trabalha em certo emprego Chefe é bacana, há uma amizade com os colegas Isto acontece muitas vezes e o comportamento é aprendido Todos os dias Trabalha em certo emprego Não há relação de amizade com novo chefe e colegas É quebrada a relação entre resposta e consequência (sai do trabalho) 3 Nos fins de semana à noite Pede pizza de certo sabor na Pizzaria X Pizza vem rapidamente, quentinha Isto acontece muitas vezes e o comportamento é aprendido Nos fins de semana à noite Pede pizza de certo sabor na Pizzaria X Pizza passa a demorar e chegar fria É quebrada a relação entre resposta e consequência (deixa de pedir na Pizzaria X) CBI of Miami 9 Exemplos de extinção que ocorrem com planejamento (isso não quer dizer que ela seja planejada sozinha): Ex. A B C Processo 1 No horário do almoço Chora para não comer tudo Mãe diz “não tem problema, filho, não precisa comer, pode ir” Isto acontece muitas vezes e o comportamento é aprendido No horário do almoço Chora para não comer tudo Mãe deixa de liberar da mesa por conta do choro. É quebrada a relação entre resposta e consequência (deixa de chorar para se livrar da comida/mesa) 2 Em privação do celular Grita Pai dá o celular Isto acontece muitas vezes e o comportamento é aprendido Em privação do celular Grita Pai passa a reter o celular É quebrada a relação entre resposta e consequência (deixa de gritar com a função de acesso ao celular) 3 Na hora dos interclasses “Bagunça” na sala de aula Professora tira da sala e ele assiste aos interclasses Isto acontece muitas vezes e o comportamento é aprendido Na hora dos interclasses “Bagunça” na sala de aula Professora não tira mais da sala e ele não assiste aos interclasses É quebrada a relação entre resposta e consequência (deixa de “bagunçar” com a função de assistir aos interclasses) CBI of Miami 10 No entanto, é preciso considerar ainda algumas coisas importantes, que são os efeitos colaterais da extinção, que podem ser muito danosos e devem ser considerados se houver, de fato, um planejamento em que este procedimento tenha lugar. Além disso, há também fatores que alteram a resistência de um certo comportamento ao processo de extinção. Não que nenhum comportamento operante possa resistir de modo indefinido à extinção, isto não existe, mas um comportamento pode ser extinto quase imediatamente ele não produza mais os reforçadores de sempre ou somente depois de um longo tempo sem esta produção, então comecemos com estes aspectos. Fatores que influenciam na resistência de um comportamento à extinção: A. Quantidade de Vezes em que Foi Reforçado – Se pensarmos em comportamentos que foram aprendidos e reforçados poucas vezes, eles são de mais fácil extinção, muito diferente de comportamentos que foram aprendidos e reforçados durante anos a fio, o que é um dos fatores mais fundamentais apoiar a intervenção precoce em casos de Transtornos do Neurodesenvolvimento; B. Custo ou Esforço de Resposta – Um comportamento que demande muito esforço, muita energia, para ser emitido será extinto mais rapidamente, caso não mais produza as consequências reforçadoras de outrora do que um comportamento de baixo custo de emissão, que pode ser feito muitas vezes sem dispêndio de muita energia. C. Esquema de Reforçamento – Apesar de ser contraintuitivo, o fato é que o comportamento fica mais fortalecido, isto é, mais resistente à extinção, se durante o período de reforçamento de sua existência os reforçadores eram alcançados algumas vezes e outras não, ou seja, se ele não era produzido todas as vezes, o que constitui o reforço contínuo. Os esquemas em que o reforçador é alcançado algumas vezes e outras não são chamados de esquemas intermitentes e uns produzem maior ou menor resistência do que outros (o que será trabalhado no próximo tópico), de modo que a questão sobre o reforçamento anterior do comportamento não é somente a quantidade de reforçadores disponibilizados, mas qual é a relação proporcional deles com a quantidade e período de ocorrência das emissões do comportamento. CBI of Miami 11 Vamos dar exemplos dessas possibilidades de resistência à extinção: Comportamento Quantidade de reforçamento Custo de resposta Esquema de reforçamento Tempo em extinção para ser eliminado Birra por salgadinho 5 vezes Alto Contínuo X (pouco tempo) 1000 vezes Alto Contínuo Maior do que X 1000 vezes Baixo Contínuo Maior ainda 1000 vezes Baixo Intermitente Dureza E além de haver diferentes possibilidades de resistência à extinção, também há alguns efeitos colaterais que são esperados quando um indivíduo é colocado em uma condição de extinção de algum comportamento. Estes efeitos não aparecem todas as vezes em que há extinção, mas em algumas das situações em que ela ocorre, que não conseguimos prever com precisão. São eles os que seguem: Efeitos colaterais da Extinção Explosão da Extinção Aumento da frequência da resposta Aumento da variação da resposta Aumento da intensidade da resposta Eliciação de respostas emocionais Tristeza, desamparo, raiva... CBI of Miami 12 Vamos dar exemplos para ficar mais claro o que seriam esses eventos. A B C Efeito colateral O que pode ocorrer durante a extinção Diante do salgadinho Grita e choraGanha o salgadinho + frequência Grita e chora mais ainda + variação Se joga no chão e bate no próprio rosto + intensidade Grita e chora com mais intensidade (é ouvida em todo o mercado Respostas emocionais Choro legítimo e soluço Em privação de atenção, em sala de aula “Bagunça”, isto é, fala e anda sem parar Professora dá bronca + frequência Fala mais e anda mais + variação Bate nos colegas e nas carteiras + intensidade Fala mais alto e corre Respostas emocionais Fica triste e desamparado O grande problema, portanto, da extinção, é a grande possibilidade de ela ser iniciada e quando os efeitos colaterais aparecem, ainda que sejam provisórios, causem uma situação difícil de ser controla, que exija que os aplicadores voltem atrás, ou ainda e mais frequentemente, que seja aplicada sem conhecimento de causa e quando o comportamento sobe de frequência, intensidade e variabilidade, ou seja, justamente no pico da explosão da extinção, quando ele está prestes a cair até sua completa eliminação, o aplicador, seja profissional ou genitor diz “Vixe, com ele não está funcionando, está é piorando” e volta atrás, fazendo com que o comportamento seja reforçado agora em ocorrência de maior frequência, variabilidade e em um nível mais intenso, além de colocar o reforçamento em um esquema de reforço intermitente (afinal o comportamento ficou uma série de emissões sem CBI of Miami 13 funcional, isto é, atingir sua função, e passou a funcionar novamente), fazendo com tudo isso aumente e muito a resistência à extinção e fazendo com que um procedimento que levaria, se fosse feito adequadamente, uns poucos dias, se torne um comportamento fortalecido o suficiente para semanas ou meses a fio existindo mesmo sem reforçadores. Estes efeitos impõem desafios especiais à utilização deste procedimento em intervenções comportamentais, como a necessidade de se prever se é possível o aparecimento de respostas que coloquem em risco a segurança do indivíduo, o que não é admissível e que pode levar a uma preparação prévia do ambiente para evitar quaisquer riscos ou até mesmo a opção de utilização de outros procedimentos que não a extinção para a intervenção. Isto será mais discutido à frente, mas é importante que a questão já seja levantada para a reflexão. 2. Esquemas de Reforçamento (e a Lógica de Ensinar no Contínuo e Caminhar para o Intermitente) Existem diferentes formas de um comportamento ser reforçado, isto é, de ele produzir ou não consequências vantajosas para o organismo que se comporta. Basicamente, este reforçamento pode ser contínuo ou intermitente e a intermitência pode ocorrer em diferentes esquemas, que têm impacto na frequência do responder, nas pausas que ocorrem após o reforçamento e na resistência à extinção e vamos responder a essas questões nesta pequena introdução ao assunto. • Reforço Contínuo: Esta é uma forma de reforçamento em que todas as vezes que o indivíduo se comporta, o reforço ocorre, isto é, a consequência que torna este comportamento vantajoso para si é produzida e atua sobre ele, aumentando a probabilidade de se comportar novamente da mesma forma, quando no mesmo contexto. Ou seja, o comportamento é reforçado continuamente. O padrão comportamental produzido por este esquema, no entanto, não é alto, isto porque o comportamento sempre produz o reforçador e ao ter acesso ao reforçador, ocorre o processo de saciação do organismo, sua motivação é CBI of Miami 14 diminuída, de modo que ele pode até ter reforçado o comportamento no longo prazo e o indivíduo ter maior probabilidade de se comportar quando novamente estiver privado do reforçador, mas no momento em que ele já se comportou e já teve acesso ao reforçador, isto exerce um efeito momentâneo de redução da privação e da motivação para o comportamento. Imaginemos o seguinte caso, Joãozinho, todas as vezes que chora de determinada forma, tem acesso a uma mamadeira, que a mãe o dá. No entanto, quando ele dá uma choradinha, a mamadeira já lhe é dada, então, naquele momento, ele fica saciado de leite, não faria sentido que ele chorasse logo em seguida, então ele irá chorar somente da próxima vez em que sentir fome. Ao final das contas, portanto, a frequência do comportamento de chorar não é alta, já que sempre que acontece, produz a saciação do indivíduo. E há mais uma coisa importante sobre isso, além de produzir uma frequência baixa do comportamento, o reforço contínuo também torna o comportamento pouco resistente à extinção. Se for implementado um procedimento ou se Joãozinho ficar sem sua mamadeira mesmo chorando por qualquer outro motivo, o comportamento de emitir aquele choro específico rapidamente será eliminado. Mas também é verdade que o esquema de reforço contínuo é o ideal para que aprendamos uma habilidade nova. Imagine o comportamento de xavecar uma pessoa, isto é, de fazer uma aproximação verbal com a função de uma relação de intimidade, qual é a probabilidade de isso dar certo, na vida real? Depende muito, mas com certeza é sempre baixa, mas se alguém não é muito hábil, vai ficando mais difícil, e se alguém tentar uma, duas, três, quatro...vinte vezes e não der certo, então a probabilidade deste comportamento ser aprendido, é muito baixa. Mas e se ele emitir este comportamento em um ambiente controlado, de um Grupo de Habilidades Sociais, por exemplo, e ele tiver acesso a reforço arbitrário, como elogios, fichas, aprovação, palmas... todas as vezes que ele emitir o comportamento ali, até ficar mais fluente e depois passar para a vida real, então é mais provável que ele aprenda o comportamento e depois de aprendido, a probabilidade de ele ter sucesso na vida real antes do vigésimo fora aumenta muito. CBI of Miami 15 Isto é o que ocorre com inúmeras habilidades com crianças pequenas, cujo comportamento vamos reforçando mesmo quando fazem bem mais ou menos, até depois começar a reforçar só quando acertam até que os comportamentos se tornem aprendidos e fortes. O reforçamento contínuo é, portanto, a melhor forma de aprender, mas torna o comportamento sensível demais às possibilidades do mundo real, o que exige que partamos ainda no processo de ensino para o reforçamento intermitente, que é nosso tema agora. • Reforço intermitente: Na vida real, o reforço não acontece todas as vezes em que nos comportamos, ele às vezes ocorre e às vezes não ocorre, o que configura especificamente o que chamamos de reforço intermitente. Mas existem diferentes correlações entre o reforço e o responder, que pretendemos explorar aqui. Padrões Fixos – Um comportamento pode produzir os reforçadores em certos esquemas invariáveis, que não mudam. Estes esquemas podem ser por quantidade de vezes que o organismo se comportou (esquema de razão) ou por intervalos invariáveis a partir dos quais a primeira emissão é reforçada (esquema de intervalo). Padrões fixos produzem frequências de comportamento e resistência à extinção mais altas do que reforço contínuo, mas mais baixas do que esquemas variáveis e produzem mais pausas pós- reforço do que nos esquemas variáveis. Padrões Variáveis – Um comportamento pode produzir os reforçadores em certos esquemas que possuem uma certa média, mas que não são fixos, ou seja, se a liberação do reforçador se dá em função da quantidade de vezes em que o comportamento é realizado (esquema de razão), não ocorrem sempre exatamente após a mesma quantidade de emissões, mas varia em torno de um certo número, ou seja, a quantidade de emissões é variável. Da mesma forma em relação aos intervalos a partir dos quais a primeira emissão daresposta é reforçada, nestes padrões variáveis este intervalo não é fixo, mas se modifica em torno de uma média. Padrões variáveis produzem as mais altas frequências do comportamento e maior resistência à extinção, assim como menos pausas pós-reforço. CBI of Miami 16 Esquema de Razão – É aquele em que a liberação dos reforçadores se dá em face da quantidade de vezes que o organismo emitiu o comportamento, seja em uma relação que é fixa (razão fixa) ou variável (razão variável). Estemas de razão produzem padrões de comportamento de maior frequência e menos pausa pós-reforço do que esquemas de intervalo. Esquema de Intervalo – É aquele em que o reforçador é produzido pelo comportamento na primeira emissão após o fim de um certo intervalo, que pode ser sempre o mesmo (intervalo fixo) ou pode mudar (intervalo variável) e este esquema produz frequências menores e mais intervalo pós-reforço do que esquemas de razão. • Razão Fixa – (FR) Neste esquema, a proporção entre a quantidade de comportamentos que devem ser emitidos pelo organismo e a quantidade de reforçadores liberados é fixa, não muda, o reforçador sempre é liberado após X emissões do comportamento em questão. Damos um número ao esquema que corresponde a esta quantidade, por exemplo, se o comportamento for reforçado a cada duas emissões, nomeamos o esquema de FR:2, enquanto se ele for reforçado a cada 4 vezes, somente, ele é um FR:4, como no exemplo abaixo: FR:2 – bloco com 8 tentativas 1 R - 3 R - 5 R - 7 R - 2 R S+ 4 R S+ 6 R S+ 8 R S+ Legenda: R (resposta emitida) S+ (reforço positivo) – (ausência de consequência) FR:4 – bloco com 16 tentativas 1 R - 5 R - 9 R - 13 R - 2 R - 6 R - 10 R - 14 R - 3 R - 7 R - 11 R - 15 R - 4 R S+ 8 R S+ 12 R S+ 16 R S+ Legenda: R (resposta emitida) S+ (reforço positivo) – (ausência de consequência) CBI of Miami 17 • Razão Variável – (VR) É aquele esquema em que a liberação do reforçador também se dá em função da quantidade de emissões do comportamento, em uma certa quantidade que é varia em torno de uma média, e é esta média que nomeia o esquema. Por exemplo, se um comportamento é reforçado nas tentativas 2, 4, 10, 8, 20, 3, 7, 1, 8, 5, 5, 12, 18, 1, 6 e 4, que calculemos a quantidade de emissões, 112, dividido pela quantidade de reforçadores disponibilizados, 16, nomeando, portanto, como VR:7. VR:4 – bloco com 16 tentativas 1 R - 5 R S+ 9 R - 13 R - 2 R S+ 6 R - 10 R - 14 R S+ 3 R - 7 R - 11 R - 15 R - 4 R - 8 R - 12 R - 16 R S+ Legenda: R (resposta emitida) S+ (reforço positivo) – (ausência de consequência) Neste caso, basta dividir a quantidade de comportamentos – 16 – pela quantidade de reforçadores – 4 – para se ter o nome do esquema VR:4 • Intervalo Fixo – (FI) Neste esquema, o comportamento é reforçado quando emitido após um certo intervalo após o reforçamento anterior. Estes esquemas são nomeados com o tempo que constitui o intervalo. Por exemplo, podemos ter o FI:1 segundo, FI:1 minuto, FI:1 mês e assim por diante. Imaginemos o seguinte esquema, FI:2 minutos para o comportamento de um cachorro de latir, isso significa que ele late às 13h e há reforço (digamos que seja um biscoito) e o próximo só será liberado, portanto, após o latido que vier após as 13:02, se neste intervalo ele latir outras 10 vezes, não haverá reforçadores para isso. Quando são 13:02, digamos que o cachorro esteja entretido com outra coisa e só volta a latir 13:03, quando tem acesso ao CBI of Miami 18 reforçador e passamos a remarcar o tempo como o intervalo, de modo que o reforçador só estará disponível no comportamento emitido após 13:05, ou seja, 2 minutos depois do último reforçamento. • Intervalo Variável – (VI) Neste esquema, também o foco é o intervalo entre os reforçamentos, não importa quantas vezes um indivíduo emitiu o comportamento, mas o intervalo entre as oportunidades. Digamos mais uma vez que estejamos reforçando o comportamento de latir de um cachorrinho (porque faríamos isso, só Deus sabe), mas ao invés de definirmos um tempo exato, poderíamos estabelecer um VI:10 minutos, isso poderia ser organizado assim: Primeiro latido com reforço 13h10min Próximos: 20 minutos depois do último reforçamento 5 minutos depois do último reforçamento 7 minutos depois do último reforçamento 1 minuto depois do último reforçamento 17 minutos depois do último reforçamento Se considerarmos que os intervalos somados dão 50 minutos em 5 intervalos, mas esses intervalos não foram todos estáticos em 10 minutos, eles variaram enormemente, o que constitui um VI:10, portanto. CBI of Miami 19 Exemplo dos padrões produzidos pelos diferentes esquemas: 3. Punição Positiva e Punição Negativa, seus Efeitos Colaterais e o Debate Contemporâneo Punição, em Análise do Comportamento, não é sinônimo de castigo, como no senso comum, na verdade, é uma operação funcional que pode ocorrer de inúmeras diferentes formas. Uma punição é o processo de redução de um comportamento por meio de sua consequenciação com estímulos aversivos. Dizendo de outra forma, quando um comportamento produz consequências aversivas, isto é, que o organismo se comporta para evitar, isso faz com que este organismo se comporte, portanto, menos daquela mesma forma, o que constitui o processo de punição e esta redução de probabilidade do comportamento no futuro é o produto desta punição. Esta punição é, portanto, uma contingência operante, mas ao contrário da contingência de reforçamento, neste caso o comportamento diminui de probabilidade, ao invés de aumentar. O indivíduo, enquanto organismo, se comporta operando uma mudança no ambiente e este ambiente opera sobre CBI of Miami 20 ele uma mudança, ele se torna um organismo novo, transformado, um organismo com menor probabilidade de emissão daquele comportamento. A punição, por sua vez, também pode ser positiva ou negativa, mas não se engane, não estamos falando de ela ser boa ou ruim ou fazer diminuir de probabilidade comportamentos bons ou ruins, na verdade este não é um tema da ciência, já que podemos realmente divergir quanto ao valor das coisas. Tal como nas relações de reforçamento, as palavras positivo e negativo, aqui, têm a função de – e +, isto é, possuem função matemática de indicar se a consequência que diminui a probabilidade do comportamento a que segue é a adição de um estímulo ou a subtração de um estímulo. Se meu comportamento produz a perda de um estímulo reforçador, isto pode puni-lo, ou seja, esta consequência pode fazer com que eu me comporte menos, mas não houve a adição de um estímulo aversivo, na verdade o que houve foi a retirada, a subtração de um estímulo, daí que seja uma punição negativa. Se meu comportamento faz com que eu tome um baita choque e eu deixe de me comportar da mesma forma, a consequência punidora não foi a retirada, a subtração de nenhum estímulo, mas a adição do estímulo a que chamamos de choque, que diminuiu a probabilidade de eu me comportar, daí que seja uma punição positiva, ainda que nada nesta descrição seja positivo, no sentido valorativo do termo. Mais uma vez é preciso reiterar que punição não é castigo, e por dois motivos: A. castigos podem não serem punitivos, porque castigo é topografia, é forma, e não função. Digamos que alguém esteja com sono e por isso fique “chato” em uma festa, zombando e batendo nos colegas, então o pai decide castigá-lo enviando-o a seu quarto, o que pode ser extremamente reforçador para ele, à medida em que o possibilitadormir e retirar de seu ambiente o estímulo aversivo a que chamamos de sono; e B. punição não necessariamente é um castigo, já que é função e não topografia. Digamos que uma criança faça um comportamento inadequado e eu a chame, lhe dê um beijo e, carinhosamente diga “mamãe não quer que você faça isso de novo, tá?” e ele de fato pare de fazer aquilo, isso foi uma punição, ainda que não tenha sido um castigo. CBI of Miami 21 Punições são efetivas, mas porque então não as utilizamos simplesmente todas as vezes que temos um comportamento que desejamos eliminar? Porque os comportamentos inadequados não são simplesmente seguidos destas consequências, deixando o espaço limpo para os adequados? Porque há sérios problemas éticos e técnicos nesta utilização, que iremos sumarizar em seguida, através da pontuação de 8 efeitos colaterais da punição, que podem ser encontrados em toda a obra de Skinner, mas que estão bem sumarizados no livro A Coerção e Suas Implicações, de Murray Sidman. 1. Elicia Comportamentos Emocionais Quando nós passamos por uma experiência de punição, uma série de respondentes são eliciados, provocando situações em que nosso coração pode acelerar, ficarmos ofegantes, suarmos, uma sensação de angústia ou de aceleração, enfim, comportamentos que, agrupados, geralmente denominamos de medo, raiva, ansiedade, entre outros. Estes respondentes podem paralisar um indivíduo, sendo uma barreira para aprendizagem, o que constitui um problema técnico para o ensino, assim como pode provocar sofrimento, o que constitui um problema ético para qualquer relação. 2. Provoca Comportamentos Agressivos Quando passamos por uma experiência de punição, há o estabelecimento do valor reforçador de agirmos de maneira agressiva, por exemplo, batendo no agente punidor, o que é verificado em pesquisas básicas com animais como chimpanzés e seres humanos também, o que faz aumentar a probabilidade de o agente punidor ou outra pessoa presente ser colocado nesta situação. 3. Funciona “Somente” na Presença do Agente Punidor As pessoas normalmente diminuem a velocidade de seu carro diante do radar, mas aceleram tão logo ele não esteja mais presente, assim como tendem a falar ou olhar a prova do coleguinha assim que a Professora dá um pulo no banheiro. São exemplos consistentes, mas corriqueiros de comportamentos que são punidos por certas consequências, mas quando o agende punidor não está apresente, não afeta a probabilidade de o comportamento acontecer. CBI of Miami 22 Este efeito colateral não pode ser estendido a todos os contextos porque quando eu como um salgado e passo mal, o comportamento não é socialmente mediado e não possui um agente punidor na ausência do qual a probabilidade de reforçamento volta a ocorrer, na verdade estamos falando de situações em que a punição se dá pela própria forma da ocorrência do comportamento. 4. Dá Modelo de Punição Quando punimos um indivíduo, estamos também oferecendo a ele um modelo de como devemos fazer em relação a outras pessoas, isto é, oferecemos a ele, sem querer, um modelo que ele pode imitar. Ao tomar suas próprias experiências de punição como um modelo, um indivíduo pode passar a apresentar aqueles mesmos estímulos diante do seu cachorro, uma irmãzinha ou outra pessoa, fazendo com que haja uma violação da dignidade deste outro, além de prejudicar as oportunidades sociais também deste indivíduo. 5. O Aplicador Se Torna Estímulo Aversivo Já aprendemos que quando dois estímulos aparecem de maneira consistente diante de um indivíduo, um desses estímulos ganha as propriedades do outro, por meio do pareamento de estímulos, que também podemos chamar de Transferência de Estímulos ou Condicionamento Respondente. Assim, se um aplicador de uma intervenção baseada em ABA pune consistentemente certos comportamentos de um cliente, então a própria visão, o cheiro, a voz deste aplicador ganharão as propriedades dos estímulos punidores, ou seja, sua própria presença se tornará um estímulo aversivo para o cliente, tornando este profissional inútil para a tarefa de reforçar comportamentos adequados e prejudicando gravemente a intervenção. 6. Provoca Comportamento de Fuga e Esquiva Não é só a presença física do aplicador que se torna aversiva quando há uma prática de punição, é tudo o que a ele está vinculado e se uma coisa é punitiva, é verdade que ela reduz a probabilidade dos comportamentos a que ela segue, mas também é verdade que ela aumenta os comportamentos que produzem sua retirada do ambiente, ou seja, ela aumenta a probabilidade de o CBI of Miami 23 indivíduo se comportar para ir embora, de fugir desta situação aversiva, o que prejudica gravemente qualquer possibilidade de ensino. Além disso, o estímulo que é aversivo, como indica o próprio nome, causa aversão ao indivíduo, ou seja, ele se comporta para ficar o mais longe possível deste estímulo, o que pode significar tanto os comportamentos para saírem de uma determinada situação (fuga) como quaisquer comportamentos que evitem sequem que estes estímulos sejam confrontados, ou seja, produz comportamentos para evitar que a situação ocorra, trata-se da esquiva. Se uma terapia é baseada em punição, o indivíduo fará de tudo a seu alcance para não participar dela, ele pode chorar, berrar, bater e até simular uma dor de cabeça (esquiva), assim como, se não houver modo de evitar, fará tudo isso e muito mais já no ambiente de terapia, para que seja mandado em bora para casa antes da hora (fuga). 7. Reforça o Comportamento Punidor Se você é um educador ou terapeuta e a criança com a qual está trabalhando dê socos em você e nos colegas dele, isso é uma situação extremamente aversiva, é verdade. Se você se comportar de uma maneira que ela pare de bater, isto elimina um estímulo aversivo do seu ambiente e a punição é capaz de produzir isso. Se você punir o comportamento dela de bater, este comportamento será inevitavelmente reduzido. O problema é que, quando você conseguir retirar este comportamento inadequado de bater em todo mundo, o seu comportamento de punir será reforçado, ou seja, ele terá sido capaz de afastar um estímulo aversivo (bater) do ambiente e isso deve fazer com que seu comportamento de punição aumente de probabilidade (reforço negativo), o que tornará seu comportamento de punir mais provável e com mais probabilidade de ter acesso a reforço, aumentando mais e mais e mais e mais e transformando o profissional em um tipo abusivo, o que é inadmissível no campo da Análise do Comportamento. 8. Não ensina outras respostas substitutivas Se uma pessoa emite um comportamento, por mais inadequado que ele seja, há uma motivação que estabelece o valor do reforçador pelo qual o indivíduo se comporta. Se nós punirmos um certo comportamento é verdade que ele será reduzido de probabilidade e até mesmo eliminado. No entanto, CBI of Miami 24 isso não responde ao problema fundamental do indivíduo que podemos resumir da seguinte forma “e agora, como terei acesso ao mesmo reforçador?” Se alguém se comporta de maneira inadequada por atenção, por exemplo, chorando como um bebê, eu posso punir seu comportamento de chorar e isso jamais voltar a acontecer, mas eu preciso me perguntar o que é então que ele fará para conseguir atenção daqui para frente. Talvez o indivíduo possa pedir adequadamente atenção, mas há alta probabilidade de ele não saber como fazer isso e ele poderia fazer cocô nas calças, bater a cabeça ou quebrar coisas, entre inúmeras outras formas, ainda muito mais inadequadas do que chorar, que ele pode emitir. Istoocorre porque a eliminação de um certo comportamento não foi acompanhada do ensino de outros comportamentos que dessem acesso ao mesmo reforçador. O Debate Contemporâneo Décadas atrás, a sociedade criava e ensinava suas crianças por meio de muitos artifícios violentos, em que a punição tinha realmente um papel especial na escola, em casa, nas terapias e inclusive, claro, naquelas que se baseavam em ABA. Intervenções que utilizavam choques, por exemplo, eram comuns, e inclusive pesquisadores muito reputados que tiveram experimentos importantes, como Lovaas, têm em seu currículo inúmeros estudos que hoje seriam absolutamente inaceitáveis. Entende-se, portanto, que a sociedade mudou e não é mais possível aceitar práticas em que a punição é uma ferramenta como outra qualquer à disposição do Analista do Comportamento, para evitar as práticas abusivas. Este combate, contudo, tornou toda a discussão em torno da punição um verdadeiro tabu, o que também não é favorável para a área e também para as crianças e suas famílias. Isto porque, quando uma criança faz um comportamento de agredir a outrem, por exemplo, se a Professora o olha nos olhos e diz “Isso não se faz com o amiguinho!” e se de fato ele bate menos no amigo, que procedimento comportamental é este? Punição e ainda assim a dignidade do aluno não foi violada de modo algum, pelo contrário ele aprendeu e a dignidade do colega, que outrora tinha sido violada pela agressão, foi recuperada. CBI of Miami 25 Há uma série de importantes autores, como Bruna Colombo, Marcos Bentes, Marta Hunzinker, entre inúmeros outros, que questionam este tabu e propõem uma discussão ampla e aprofundada sobre a punição (apesar deste nome terrível), em que se pese ética e tecnicamente nos casos concretos esta avaliação de benefício dos indivíduos para que possamos pesquisar sobre o tema, sempre resguardando a dignidade humana, em primeiríssimo lugar e também a transparência com escrutínio externo. 4. Contingências Automáticas e Socialmente Mediadas Nós já vimos que uma contingência é uma relação de dependência entre eventos, em que os Antecedentes (A), uma Resposta do organismo (B) e a Consequência que ela produz (C) interagem de modo a transformar o ambiente e o organismo, de modo dinâmico, por meio do aumento de probabilidade do comportamento, quando as consequências são reforçadoras, ou redução da probabilidade do comportamento, quando as consequências são punidoras. Ocorre, no entanto, que tudo o que não é a Resposta, é ambiente para que ela ocorra, ou seja, todos os estímulos corporais, o próprio corpo dentro da pele é parte do ambiente em que o organismo se comporta. Esses estímulos corporais podem ser estímulo antecedente e consequência para os comportamentos, daí que sejam também parte da contingência. Quando estabelecemos a análise de uma contingência, olhamos para uma resposta específica de um organismo. Por exemplo, se um estudante bagunça em sala de aula e a professora o dá uma esculhambação e o tira da sala, talvez tenhamos uma contingência em que um indivíduo está privado de atenção (A) e então ele grita e batuca (B) e então a Professora o dá uma esculhambação e o tira da sala e ele recebe também outras broncas da Coordenação e Direção da escola (C), constituindo uma contingência de reforço positivo pois a atenção foi adicionada ao ambiente do estudante pelas broncas. No entanto, se olharmos para a Professora, nesta relação, a bronca que ela dá não é tomada como comportamento, porque o que estávamos analisando até agora era o comportamento do estudante e não o dela, ou sejam, se a análise é da contingência do estudante, o comportamento da Professora é ambiente em que ele se comporta. Quando dizemos que, exceto CBI of Miami 26 a Resposta, todo o restante é ambiente, estamos falando também de outras respostas que a não a que está em análise. O que é preciso salientar é que o ambiente social, portanto, o comportamento de outras pessoas, é ambiente no qual uma pessoa se comporta, mas um ambiente no qual as contingências são socialmente mediadas. Se eu olhar e analisar o comportamento da professora que deu a bronca e tirou o aluno da sala, provavelmente eu dissesse que uma pessoa motivada para dar aula sobre um certo tema foi confrontada com um aluno correndo e batucando, tornando impossível que ela lecionasse (A) então ela deu uma bronca e tirou o aluno da sala (B) e então o ambiente teve um estímulo aversivo retirado (corrida e batuque do estudante) (C) reforçando negativamente o comportamento severo da Professora. As contingências de reforçamento e punição podem ser, portanto, socialmente mediadas ou não. As consequências que controlam nosso comportamento podem ser produzidas por outras pessoas, seja em intervenções educacionais ou terapêuticas ou no dia a dia ou não, podem ser produzidas por nossa relação direta como mundo exterior ou nosso mundo interior, nosso mundo dentro de nossa pele. A B C Tipo de contingência Todo dia cedo Vou à academia Sinto a endorfina, que reforça meu comportamento Automática Todo dia cedo Vou à academia Encontro pessoas legais e isso reforça meu comportamento Socialmente mediada Privado de comida Faço almoço e como A fome é afastada e isso reforça este comportamento Automática Privado de comida Peço um prato de comida a minha mãe A fome é afastada e isso reforça este comportamento Socialmente mediada