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2018 Coordenador Caio Vinícius Sousa e Souza QUESTÕES COMENTADAS PGE–SP Provas objetivas dos dois últimos concursos (2009 e 2012) Comentários atualizados com base no Direito vigente DIREITO CONSTITUCIONAL Alan de Oliveira Dantas Cruz, Anna Luiza Silva Araújo e Eloise Moreira Campos Monteiro Barreto 1. Os direitos e garantias expressos na Constituição Federal a) constituem um rol taxativo. b) não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, entre os quais o Estado Democrático de Direito e o princípio da dignidade humana. c) não excluem outros decorrentes do Estado Democrático de Direito e do princípio da dignidade humana, mas a ampliação deve ser formalmente re- conhecida por autoridade judicial no exercício do controle de constitucio- nalidade. d) não excluem outros decorrentes do Estado Democrático de Direito e do prin- cípio da dignidade humana, mas a ampliação deve ser formalmente reconhe- cida pelo Supremo Tribunal Federal ao julgar arguição de descumprimento de preceito fundamental. e) somente podem ser ampliados por força de Tratado Internacional de Direitos Humanos aprovado em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros. Comentários Essa questão demandava que o candidato soubesse se os direitos e as garantias individuais são limitados apenas ao rol previsto expressamente na Constituição ou se podem ser acrescidos de outros que decorram da própria essência do texto constitu- cional, a partir do regime e dos princípios por ela adotados. 12 QUESTÕES COMENTADAS – PGE/SP | CONCURSO DE 2009 Letra “a”. INCORRETA. A previsão constitucional de que não serão excluídos outros direitos e garantias (§ 2º, do art. 5º, da CF/88), deixa claro que o rol expresso na Constituição Federal é meramente exemplificativo (“numerus apertus”), tornando o item “a” incorreto. Letra “b”. CORRETA. A resposta para este item é extraída de uma leitura siste- mática do texto constitucional, o que denota a relevância da leitura da legislação para as provas objetivas. A parte inicial do item correto encontra previsão no § 2º, do art. 5º, da CF/88, o qual estabelece que “Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados in- ternacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”. Complementando a assertiva do item “b”, retira-se do “caput” do art. 1º da Constituição Federal a previsão de que “A República Federativa do Brasil (...) constitui-se em Estado Democrático de Direito (...)”. O inciso III do dispositivo, por sua vez, consagra a dignidade da pessoa humana como fundamento da República Federativa do Brasil. É importante ter em mente que o Estado Democrático de Direito, para além de uma simples submissão ao Direito, representa o respeito às liberdades civis, à democra- cia, à soberania popular, aos direitos humanos e às garantias fundamentais. Já o prin- cípio da dignidade da pessoa humana, enquanto fundamento da República, pode ser entendido como valor intrínseco a toda e qualquer pessoa, como sinônimo de autono- mia e como valor comunitário (Informativo 861 do STF). Letra “c”. INCORRETA. Da leitura do dispositivo também é possível concluir que a Lei Maior NÃO limita a ampliação dos direitos e garantias ao reconhecimento por auto- ridade judicial no exercício do controle de constitucionalidade, como sugere, equivocada- mente, o item “c”. Letra “d”. INCORRETA. Da mesma forma, da leitura do dispositivo também é possível concluir que a Lei Maior NÃO limita a ampliação dos direitos e garantias ao reconhecimento pelo Supremo Tribunal Federal ao julgar arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF), como afirma erroneamente o item “d”. Letra “e”. INCORRETA. De igual modo, NÃO se retira da CRFB/1988 a ideia de que os direitos e garantias somente podem ser ampliados por força de Tratado Internacional de Direitos Humanos aprovado mediante quórum especial no Congresso Nacional. Em ver- dade, é importante lembrar que o § 3º, do art. 5º, da Constituição prevê que “Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”. Portanto, o quórum especial é para fins de equiparação do Tratado às Emendas Constitucionais, estando incorreto o item “e”. 2. A Constituição Federal estabelece que a prática de racismo é crime a) imprescritível e inafiançável, não dispondo sobre pena. b) imprescritível, sujeito à pena educativa de prestação de serviços à comunidade. c) imprescritível e punível com reclusão, não dispondo sobre fiança. 13 C O N ST IT U C IO N A L DIREITO CONSTITUCIONAL d) inafiançável e punível com reclusão, não dispondo sobre prescrição. e) imprescritível, inafiançável e punível com reclusão. Comentários A questão exigia o conhecimento da literalidade do texto constitucional, no que toca à previsão da prática do crime de racismo. Letra “a”. INCORRETA. A simples leitura da norma deixa claro o equívoco do item “a”, porquanto dissociado da previsão constante do no art. 5º, inciso XLII, da Constituição da República, porquanto neste há, sim, disposição sobre a pena (reclusão). Letra “b”. INCORRETA. O erro deste item é dispor equivocadamente da pena (a previsão constitucional não é de pena educativa de prestação de serviços à comunidade, mas de reclusão), além de não abordar se tratar de crime inafiançável. Letra “c”. INCORRETA. Já o item “c” está errado, na medida em que afirma que a Constituição não dispõe sobre a fiança, quando, já mencionado linhas acima, trata- -se de crime inafiançável. Letra “d”. INCORRETA.O item “d” está incorreto, porquanto declara que o texto constitucional não disporia sobre prescrição, quando o certo é que há sim tal previsão, no sentido de se tratar de crime imprescritível. Letra “e”. CORRETA. Eis o item que praticamente reproduz o texto constitucio- nal. A resposta desta questão está prevista, em sua íntegra, no art. 5º, inciso XLII, da Constituição da República, segundo o qual “a prática do racismo constitui crime ina- fiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei”. Verifica-se que o dispositivo constitui um comando constitucional de criminaliza- ção, tratando-se de reserva legal qualificada, uma vez que não se limita a exigir a previsão legal, mas estabelece, também, condições especiais e formas de aplicação da restrição. A lei de que trata o dispositivo constitucional é a Lei nº 7.716/89, a qual define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. ATENÇÃO: a Lei nº 9.459/97 ampliou o conceito do crime de racismo, incluindo na Lei nº 7.716/89 o seguinte con- ceito: “Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional” (art. 1º). Considerando esse conceito mais amplo do crime de racismo, o STF já decidiu que: “A incitação ao ódio público contra quaisquer denominações religiosas e seus seguidores não está protegida pela cláusula constitucional que assegura a liberdade de expressão. Assim, é possível, a depender do caso concreto, que um líder religioso seja condenado pelo crime de racismo (art. 20, § 2º, da Lei nº 7.716/81) por ter proferido discursos de ódio público con- tra outras denominações religiosas e seus seguidores. STF. 2ª Turma. RHC 146303/RJ, rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/3/2018” (Informativo 893). Como visto, o racismo pode ser configurado pela prática do discurso do ódio, também chamado de “hate speech”. Sobre o tema, o professor Márcio André Lopes Ca- valcanti explica que “No Brasil, ao contrário dos EUA, prevalece que o hate speech não é protegido pela ordem constitucional. Isso porque o direito à liberdade de expressão 14 QUESTÕES COMENTADAS – PGE/SP| CONCURSO DE 2009 não é absoluto, podendo a pessoa que proferiu o discurso de ódio ser punida, inclusi- ve criminalmente, em caso de abuso”.1 Por fim, cumpre registrar que os únicos crimes imprescritíveis e inafiançáveis previstos na CRFB/88 são o racismo e a ação de grupos armados (art. 5º, inciso XLIV – constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou mi- litares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático). 3. Proposta de Emenda Constitucional quer estabelecer a pena de morte para reincidentes em crimes hediondos, medida a ser referendada por plebiscito. A proposta deve ser considerada a) constitucional porque o art. 1º, parágrafo único, da Constituição Federal, pre- vê o exercício direto do poder pelo povo, caso em que não há limites ao poder de reformar a Constituição. b) constitucional porque a segurança pública é o princípio básico e norteador das garantias constitucionais e a proposta tende a otimizar esse princípio. c) constitucional porque a vedação à pena de morte não é direito fundamental, uma vez que admitida em caso de guerra declarada nos termos do art. 84, in- ciso XIX, da Constituição Federal. d) inconstitucional porque a proibição da pena de morte em tempo de paz é direito fundamental previsto no art. 5º, inciso XLVII, insuscetível de modificação por emenda, como estabelecido pelo art. 60, parágrafo 4º, da Constituição Federal. e) inconstitucional porque a matéria relativa às colisões entre direitos fundamen- tais é prerrogativa do poder constituinte originário, e neste caso tem-se um conflito entre o direito à vida e o direito à segurança. Comentários A presente questão demandava o conhecimento do candidato quanto às cláusulas pétreas e à possibilidade de alteração da Constituição para redução de direitos e garan- tias fundamentais, ao questionar sobre a possibilidade de se editar EC para a hipótese de reincidência no cometimento de crimes hediondos. Letra “a”. INCORRETA. A Lei Maior, em seu art. 1º, parágrafo único, prescre- ve que “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes elei- tos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Esta previsão, embora consagre o povo como detentor do poder, estabelece a forma de exercício e impõe limitações nos termos das normas constitucionais. Nesse sentido, o poder não pode ser considerado absoluto. Quanto ao poder de reformar a Constituição, esses limites estão estampados no art. 60, § 4º, da CF (cláusulas pétreas), não podendo ser objeto de supressão, mes- mo pelo detentor do poder, no caso, o povo. 1. Comentários ao Informativo 893 do STF – fonte: https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2018/ 04/info-893-stf.pdf. Acesso em: 05/04/2018. 15 C O N ST IT U C IO N A L DIREITO CONSTITUCIONAL Letra “b”. INCORRETA. O direito à segurança, como qualquer direito fundamen- tal, não pode ser considerado absoluto. No caso apresentado, a proposta de Emenda à Constituição encontra vedação expressa no Texto Constitucional (art. 60, § 4º), que veda a abolição dos direitos e garantias individuais, de modo a se tornar inconstitucional. Letra “c”. INCORRETA. Ao contrário do indicado no item, a vedação à pena de morte está elencada como direito e garantia fundamental, no rol dos direitos e de- veres individuais e coletivos, previsto no art. 5º, inciso XLVII. Ainda que o dispositivo admita a pena de morte em caso de guerra declarada, não lhe retira o título de direito fundamental, mas apenas demonstra que tais direitos não possuem caráter absoluto. Letra “d”. CORRETA. O art. 5º, inciso XLVII, da CF/88, consagra como direito fundamental a vedação à pena de morte, salvo em caso de guerra declarada. Por sua vez, o art. 60, § 4º, da CRFB/88, disciplina que não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir os direitos e garantias individuais. De uma interpretação sistemática dos dispositivos, chega-se à conclusão de que a proposta trazida no enun- ciado é inconstitucional, por ferir cláusula pétrea prevista no art. 60, § 4º. Vale lembrar que as chamadas cláusulas pétreas constituem normas constitucionais que não podem ser abolidas mediante Emenda Constitucional, pois configuram um núcleo intangível do Texto Constitucional. Todavia, não há impedimento para as normas sejam modifi- cadas, desde que para ampliar (e não restringir) os direitos nelas previstos. Letra “e”. INCORRETA. A resolução de colisões entre direitos fundamentais não é prerrogativa do poder constituinte originário, de modo que o Poder Judiciário, espe- cialmente o STF, intérprete máximo da Constituição, pode se valer dos princípios da interpretação constitucional, de modo a minimizar os possíveis conflitos e preservar a força normativa da Constituição. 4. Considere as seguintes afirmações: I. Liberdade, Igualdade e Fraternidade, ideais da Revolução Francesa, podem ser relacionados, respectivamente, com os direitos humanos de primeira, segunda e ter- ceira gerações. II. O direito à paz inclui-se entre os direitos humanos de segunda geração. III. Os direitos humanos de primeira geração foram construídos, em oposição ao absolutismo, como liberdades negativas; os de segunda geração exigem ações destina- das a dar efetividade à autonomia dos indivíduos, o que autoriza relacioná-los com o conceito de liberdade positiva e com a igualdade. IV. A indivisibilidade dos direitos humanos significa que, ao apreciar uma vio- lação a direito fundamental, o juiz deverá apreciar todas as violações conexas a ela. V. A positivação da dignidade humana nas Constituições do pós-guerra foi uma reação às atrocidades cometidas pelo regime nazista e uma das fontes do conceito pode ser encontrada na filosofia moral de Kant. Estão corretas SOMENTE as afirmações a) I, II e III. b) I, II e IV. 16 QUESTÕES COMENTADAS – PGE/SP | CONCURSO DE 2009 c) I, III e V. d) II, III e V. e) I, II, III e V. Comentários Nesta questão, exigia-se conhecimento do candidato sobre as gerações (dimen- sões) dos direitos fundamentais. Por exclusão, sabendo que o item II estava errado, o candidato poderia acertar a questão. Por isso, é importante ficar atento em questões com esse perfil. Letra “a”. INCORRETA. A alternativa “a” está errada por ter considerado como cor- reto o item II, o qual afirma que a paz social está inserida entre os direitos de 2ª geração. Na verdade, a paz constitui direito de 5ª geração (dimensão). Os direitos de 2ª geração são aque- les decorrentes do direito à igualdade, tais como os direitos sociais, econômicos e culturais. Letra “b”. INCORRETA. Já a alternativa “b” está equivocada ao considerar como cor- reto o item IV, pois a indivisibilidade dos direitos humanos não determina que o Juiz deva apreciar todas as violações conexas a determinada violação, mas significa que uma nova gera- ção de direitos humanos não supera a anterior, de forma que não podem ser separados pelo momento histórico de seu surgimento, mas devem ser considerados de um modo global. Letra “c”. CORRETA. As três primeiras gerações de direitos humanos, de fato, estão relacionadas com os ideais da Revolução Francesa (liberdade, igualdade e frater- nidade), de modo que os direitos humanos de 1ª geração são aqueles voltados às liber- dades públicas e aos direitos políticos, evidenciando-se como uma oposição ao abso- lutismo, como liberdades negativas; os de 2ª geração são aqueles decorrentes do direito à igualdade, tais como os direitos sociais, econômicos e culturais, exigindo do Estado ações destinadas a dar efetividade à autonomia dos indivíduos (liberdade positiva); e os de 3ª geração são afetos aos direitos de solidariedade, ligados à coletividade. Cumpre acrescentar que a positivação da dignidade humana nas Constituições do pós-guerra, é tida como uma resposta, uma reação dos países quanto às atrocidades cometidas du- rante a Segunda Guerra Mundial, especialmente, pelo regime nazista. É uma defesa do indivíduo que visa coibir novas práticas dessa natureza. Letra “d”.INCORRETA. Vide comentários às alternativas anteriores. Letra “e”. INCORRETA. Vide comentários às alternativas anteriores. 5. Alistado para o serviço militar, jovem recusa-se a cumprir ati- vidades de caráter militar. Alega que, professando orientação marxista-leninista, tem a convicção de que o Estado utiliza vio- lência para oprimir a classe trabalhadora e que as Forças Arma- das são um poder a serviço dessa opressão. A alternativa que expressa a correta solução constitucional para esse conflito é: a) Escusa fundamentada em convicção política não acarreta sanção se ocorrer em tempo de paz e for cumprida prestação alternativa fixada em lei. 17 C O N ST IT U C IO N A L DIREITO CONSTITUCIONAL b) A Constituição admite em tese a escusa, mas neste caso a convicção política alegada contraria a ordem democrática e não pode ser aceita, acarretando ne- cessariamente perda dos direitos políticos. c) Escusa fundamentada em convicção política não acarreta sanção se for cum- prida prestação alternativa fixada em lei, mesmo em caso de guerra declarada. d) A Constituição não admite em qualquer hipótese escusa fundamentada em convicção política por ferir o princípio da isonomia. e) A Constituição admite escusa de prestação de serviço militar somente por mo- tivos religiosos, mas impõe cumprimento de prestação alternativa fixada em lei. Comentários Essa questão exigia, primordialmente, que o candidato tivesse conhecimento da lite- ralidade da Constituição Federal, demonstrando que a leitura dos principais dispositivos constitucionais deve estar presente na preparação para as provas, em especial as objetivas. Letra “a”. CORRETA. No caso em análise, verifica-se que o jovem fez uso do insti- tuto da “escusa de consciência”, também chamada de “objeção de consciência” ou de “im- perativo de consciência”. Fazendo uso de tais escusas, é possível que o indivíduo recuse cumprir determinadas obrigações ou praticar atos que conflitem com suas convicções religiosas, políticas ou filosóficas, sem que essa recusa implique restrições a seus direitos. A compreensão do tema perpassa pela interpretação conjunta dos artigos 5º, in- ciso VIII; 15, “caput” e inciso IV e 143, § 1º, todos do Texto Constitucional. Do art. 5º, inciso VIII, da CF/88, extraímos que: “ninguém será privado de di- reitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir pres- tação alternativa, fixada em lei”. Por sua vez, o art. 15, “caput” e inciso IV, dispõe que “É vedada a cassação de di- reitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de: (...) IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII”. Complementando, o art. 143, § 1º, da CRF/88 estabelece que “Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essencialmente militar”. Observa-se que a alternativa trouxe os principais elementos dos dispositivos cita- dos. Assim, é importante gravar que a objeção de consciência não acarreta perda de direi- tos se: a) ocorrer em tempo de paz e b) for cumprida prestação alternativa fixada em lei. Letra “b”. INCORRETA. A alternativa “b” traz alguns equívocos, trazendo afir- mativas contrárias à norma constitucional. Primeiro, está errada a afirmação de que “A Constituição admite em tese a escusa”. Consoante já analisado no item anterior, a es- cusa é aceita pela CF/88, desde que atendidas as condições estabelecidas (tempo de paz e prestação alternativa). Segundo, também não procede a afirmação de que a alegação 18 QUESTÕES COMENTADAS – PGE/SP | CONCURSO DE 2009 de imperativo de consciência acarreta “necessariamente perda dos direitos políticos”. Isso porque, como já visto, o art. 15, inciso IV, da Carta Magna, preceitua que a perda dos direitos políticos apenas se dará nos casos de recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa. Letra “c”. INCORRETA. O equívoco desta alternativa se encontra na parte final, quan- do fala em “caso de guerra declarada”. Consoante já exposto nas demais alternativas, um dos requisitos para que o imperativo de consciência fundamentado em convicção política não acarrete sanção é que ele seja invocado em tempo de paz, conforme art. 143, § 1º, da Consti- tuição Federal. Neste ponto, vale frisar que o direito à invocação das escusas de consciência, a exemplo dos demais direitos fundamentais, não é absoluto, de modo que, em tempo de guer- ra declarada, tal direito pode ser mitigado ou afastado para que se promovam outros direitos também de envergadura constitucional, tais como a soberania, a segurança e a defesa da paz. Letra “d”. INCORRETA. Esta alternativa está errada por afirmar que o Texto Constitucional não admite em qualquer hipótese escusa fundamentada em convicção política, por ofensa à isonomia. Ao contrário, a CRFB/88, eu seu art. 5º, inciso VIII, prevê expressamente a invocação de convicções políticas como forma de se eximir de obrigação legal, desde que atendidos os requisitos legais. De certo modo, a previsão das escusas na Constituição concretiza o princípio da igualdade, em seu sentido mate- rial, ao respeitar as crenças e convicções pessoais de cada indivíduo (art. 5º, da CF/88). Letra “e”. INCORRETA. O erro desta alternativa está na primeira parte ao afir- mar que “A Constituição admite escusa de prestação de serviço militar somente por motivos religiosos”. Consoante já abordado, o art. 5º, inciso IV, da CF, autoriza o impe- rativo de consciência fundado em motivos de crença religiosa ou de convicção política ou filosófica. Errada, portanto, a restrição colocada pela alternativa. 6. A distinção entre a norma jurídica e a sua mera expressão textual resta sobremodo evidenciada a) no controle incidental de constitucionalidade, em relação ao controle abstra- to-principal. b) na interpretação de normas-princípio, em relação à interpretação de normas- -regra. c) mediante o uso do elemento sistêmico da interpretação, comparativamente à utilização dos demais elementos exegéticos. d) nas decisões de controle de natureza interpretativa, comparativamente às de- cisões simples de inconstitucionalidade. e) no controle de inconstitucionalidade tendo como parâmetro a Constituição Federal, em relação ao controle de nível estadual. Comentários A questão tinha como principal ponto a distinção entre texto legal e norma ju- rídica, envolvendo princípios de interpretação constitucional e teoria da Constituição. 19 C O N ST IT U C IO N A L DIREITO CONSTITUCIONAL Letra “a”. INCORRETA. Costuma-se definir o texto legal como sendo a literalida- de do dispositivo, o direito posto. Já a norma jurídica, como sendo a interpretação dada ao texto legal, buscando-se encontrar o seu real sentido. O item em apreço está incorreto, porque a distinção entre texto legal e norma jurídica não resta sobremodo evidenciada no controle incidental de constitucionalidade (difuso/concreto), em relação ao controle abs- trato-principal (concentrado), na medida em que ambos representam métodos repressivos de controle da norma pelo Poder Judiciário, sem que haja, em um ou outro, especial dife- renciação no que se refere à extração da norma jurídica compatível com a Constituição. Letra “b”. INCORRETA. A alternativa está errada, porque tanto na “norma-princí- pio” quanto na “norma-regra”, não se está tratando da mera reprodução (literal) do texto legal posto, mas sim da norma dele extraída a partir de uma interpretação jurídica ali- nhada ao Texto Constitucional, seja em relação às regras, seja em relação aos princípios. Letra “c”. INCORRETA. O item “c” traz consigo a comparação entre “elemento sistêmico” de interpretação e os demais elementos “exegéticos”.Não é aqui também que se tem a evidenciação da distinção pretendida na questão, a qual não está centrada na diferença de métodos que buscam adotar uma interpretação mais focada no contexto harmônico da norma como um todo (sua unidade) ou na interpretação com base na (pretensa) vontade do legislador. Letra “d”. CORRETA. De fato, o conceito de norma jurídica fica bastante eviden- ciado quando é realizado o controle interpretativo de uma norma plurissignificativa (ou polissêmica) em face da Constituição, pois o que se pretende é encontrar, dentre as múl- tiplas interpretações possíveis, aquela que mais se aproxima do Texto Constitucional. É importante ressaltar que, embora mais perceptível no controle interpretativo, a interpre- tação das normas também ocorre nas outras formas de controle de constitucionalidade. Letra “e”. INCORRETA. Com efeito, não está na diferença entre controle de cons- titucionalidade tendo como parâmetro a Constituição Federal ou Estadual, qualquer distinção especial entre texto legal e norma jurídica, porquanto, embora com parâme- tros constitucionais distintos, o processo interpretativo é semelhante, em ambos os ca- sos sendo demandada a efetiva extração da norma (texto + interpretação). 7. Brasileiro residente no exterior decide se naturalizar, por en- tender que, desse modo, terá mais oportunidades de trabalho. A obtenção da nacionalidade estrangeira a) acarretará a perda dos direitos políticos, porém não a da nacionalidade brasileira. b) acarretará a perda da nacionalidade brasileira, desde que decretada por sen- tença judicial. c) acarretará a perda automática da nacionalidade brasileira e, consequentemen- te, dos direitos políticos. d) não acarretará consequência alguma, no plano dos direitos políticos e de na- cionalidade, tendo em vista os objetivos colimados. e) acarretará a perda automática da nacionalidade brasileira, salvo se houver re- querimento prévio no sentido de sua preservação. 20 QUESTÕES COMENTADAS – PGE/SP | CONCURSO DE 2009 Comentários ADVERTÊNCIA: a presente questão trata do tema “Direitos da Nacionalidade”. Nela a banca do concurso considerou a alternativa “c” como resposta correta. Entre- tanto, entendemos que esta alternativa está equivocada, não havendo resposta, confor- me será adiante explicitado. Letra “a”. INCORRETA. O art. 12, § 4º, da CF/88, estabelece que será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos de e reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira e de imposição de naturalização, pela norma estrangeira como condição para permanência em seu terri- tório ou para o exercício de direitos civis. Portanto, considerando que no caso propos- to no enunciando está evidenciado que a aquisição da nova nacionalidade ocorreu de forma espontânea, sem caracterizar nenhuma das exceções constitucionais, deve haver a perda da nacionalidade brasileira, conforme entendeu o STF no MS 33864. Quanto aos direitos políticos, a perda decorre como consequência lógica da perda de nacionalidade, valendo lembrar que não há previsão expressa na Constituição sobre esse ponto, sendo o entendimento extraído de uma interpretação sistemática, pois, no Brasil, o exercício dos direitos políticos (pode votar e ser votado, propor ação popular, organizar e parti- cipar de partidos políticos), pressupõe a condição de cidadão, condição está exclusiva dos indivíduos que possuem a nacionalidade brasileira (art. 14, §§ 2º e 3º, da CRFB/88). Letra “b”. INCORRETA. A exigência de que a perda da nacionalidade seja decre- tada por sentença judicial está equivocada. A Constituição da República não exige tal requisito. A banca tentou confundir o candidato com essa exigência, pois o inciso I, do § 4º, do art. 12, preceitua que será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional. Por isso, é necessária muita atenção na leitura dos dispositivos. Letra “c”. CORRETA. Conforme já explicitado será declarada a perda da nacio- nalidade do brasileiro que adquirir outra nacionalidade de forma espontânea, desde que não se enquadre em uma das situações excepcionais do art. 12, § 4º, da CF. Deste modo, a perda da nacionalidade redundará na perda dos direitos políticos, já que a qualidade de cidadão do país é requisito para exercer os direitos políticos previstos na Constituição. ATENÇÃO: a alternativa afirma que a perda da nacionalidade será automáti- ca. Todavia, no ano de aplicação da prova (2009), estava em vigor o art. 23 da Lei nº 818/49, o qual previa a necessidade de processo administrativo prévio à decretação da perda da nacionalidade, não sendo automática. Tal previsão, a nosso entender, tornaria a alternativa errada. A título de acréscimo, cumpre informar que em 2017 foi editada a Lei nº 13.445 (Lei da Migração), que revogou a Lei nº 818/49, a qual, contudo, não cuida dos casos de perda da nacionalidade por brasileiros natos, apenas naturalizados. Letra “d”, INCORRETA. Conforme já abordado acima, a aquisição de nova naciona- lidade, de modo espontâneo, sem adequação a uma das exceções constitucionais, acarreta a perda da nacionalidade e dos direitos políticos (nesse sentido o STF, no já citado MS 33864). Letra “e”. INCORRETA. Este item afirma que não haverá a perda automática da nacionalidade brasileira se houver requerimento prévio no sentido de sua preservação, o que não ocorre, pois não há previsão constitucional nesse sentido. Com relação à ex- pressão “automática”, vide comentários já lançados em relação ao item “c”.