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Introdução_ao_Novo_Testamento_HISTÓRIA,_LITERATURA_E_TEOLOGIA_Volume

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Cartas Católicas, 
Sinóticos E 
Escritos Joaninos
INTRODUÇÃO
AO
NOVO TESTAMENTO
HISTÓRIA, LITERATURA E TEOLOGIA
V olum e I I
CARTAS CATÓLICAS, SINÓTICOS 
E ESCRITOS JOANINOS
M. EUGENE BORING
INTRODUÇÃO
AO
NOVO TESTAMENTO
HISTÓRIA, LITERATURA E TEOLOGIA
V olume II
CARTAS CATÓLICAS, SINÓTICOS 
E ESCRITOS JOANINOS
Tradutores:
Adenilton Tavares Aguiar 
Darcy Propodolski Pinto 
Diego Rafael da Silva Barros
Santo André - SP 
2016
4 ^
CRISTÃ PAULUS
© by WJK Press 
© by Editora Academia Cristã
Título do original inglês: An Introduction to the New Testament
Editores:
Paulo Cappelletti 
Luiz Henrique Rico
Diagramação:
Cicero Silva - (11) 94983-5964 
Revisão:
Darcy Propodolski Pinto 
Capa:
James Valdana
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Boring, M. Eugene.
Introdução ao Novo Testamento: história, literatura, teologia / M. Eugene Boring; 
tradução Adenilton Tavares Aguiar. - Santo André (SP): Academia Cristã; São Paulo: 
Paulus, 2015.
ISBN 978-85-98481-95-1 (v. 2)
1. B íblia-N .T. - Introdução. 2. Novo Testamento - Introdução. I. Título.
CDD -225.61
índices para catálogo sistemático:
1. Bíblia - N.T. - Introdução - 225.61
2. Novo Testamento - Introdução - 225.61
A CA D EM IA
CRISTÃ PAULUS
Editora Academia C ristã
Av. da Paz, 78 - Cam pestre
CEP 09080-607 - Santo André - SP
Tels./Fax: (1*1) 4424-1204 - 4901-5430 - 2857-0347 - 4421-8170
E-mail: academ iacrista@globo.com
Site: w w w.editoraacadem iacrista.com .br
Paulus Editora
Rua Francisco Cruz, 229 
04117-091 - São Paulo - SP
Tels.: (11) 5087-3700 - Fax: (11) 5579-3627 
E-mail: editorial@paulus.com.br 
Site: www.paulus.com.br
mailto:academiacrista@globo.com
http://www.editoraacademiacrista.com.br
mailto:editorial@paulus.com.br
http://www.paulus.com.br
Sumário
Lista de Ilustrações....................................................................................... XIII
Lista de Quadros........................................................................................... XIV
Prefácio................... ...........................................................................................XV
Abreviaturas....................................... .............................................................. XX
17 Roma e a Consolidação das Tradições..................................... 737
17.1 Consolidação Romana das Tradições Paulina e Petrina.... 737
17.1.1 A forma epistolar (paulina) de expressar a fé
se torna comum fora do círculo paulino..................... 739
17.2 Interpretando 1 Pedro................................................................... 739
17.2.1 Pedro e a tradição petrina na igreja primitiva........... 739
17.2.2 Autoria............................................................................. 743
17.2.3 Os leitores e sua localização.......................................... 747
17.2.4 Data e ocasião.................................................................. 749
17.2.5 Procedência ..................................................................... 750
17.2.6 Fontes............................................................................... 751
17.2.7 Gênero.............................................................................. 754
17.2.8 Estrutura e esboço.......................................................... 755
17.2.9 Síntese exegético-teológica............................................ 756
17.3 Interpretando Hebreus................................................................. 760
17.3.1 Hebreus não é uma carta............................................... 761
17.3.2 Paulo não é o autor......................................................... 763
17.3.3 Os destinatários não eram "Hebreus"......................... 769
17.3.4 Estrutura e esboço.......................................................... 774
17.3.5 Síntese exegético-teológica........................................... 775
17.4 Para leitura adicional.................................................................... 793
18 Tiago, Judas e 2 Pedro...................................................................... 795
18.1 Interpretando Tiago.................................................................... 795
18.1.1 O Autor implícito: Tiago o Justo, Irmão de Jesus..... 795
18.1.2 A Carta........................................................................... 801
18.1.3 Lugar no cristianismo primitivo................................. 804
18.1.4 Data e procedência........................................................ 810
18.1.5 Estrutura e esboço........................................................ 811
18.1.6 Síntese exegético-teológica........................................... 812
18.2 Interpretando Judas.................................................................... 821
18.2.1 Judas e Tiago................................................................. 821
18.2.2 Judas e Paulo................................................................. 823
18.2.3 Relação com outros documentos protocristãos.......... 825
18.2.4 Data e procedência........................................................ 826
18.2.5 Estrutura e esboço......................................................... 826
18.2.6 Síntese exegético-teológica........................................... 827
18.3 Interpretando 2 Pedro................................................................. 831
18.3.1 Linguagem e cultura..................................................... 832
18.3.2 Gênero............................................................................ 833
18.3.3 Perspectiva temporal.................................................... 833
18.3.4 Relação com a tradição de Jesus.................................. 834
18.3.5 Uso de Judas.................................................................. 834
18.3.6 Relação com Paulo e as "outras escrituras"............... 837
18.3.7 Relação com outros documentos protocristãos
de proveniência romana............................................... 837
18.3.8 Testemunho, canonicidade e data............................... 838
18.3.9 Heresia e ortodoxia....................................................... 839
18.3.10 Estrutura e esboço....................................................... 841
18.3.11 Síntese exegético-teológica......................................... 841
18.4 A Igreja em Roma: a Segunda e Terceira Gerações............ 847
18.4.1 Sumário: As Epístolas e a formação do
Protocristianismo........................................................... 848
18.5 Para leitura adicional.................................................................. 852
19 De Jesus aos Evangelhos................................................................ 853
19.1 Inspiração divina.......................................................................... 853
19.2 Memória individual.................................................................... 854
VIII Introdução ao N ovo Testamento
Sum ário IX
19.3 Tradição da Comunidade........................ 855
19.3.1 Tipos de materiais de, e sobre Jesus........................... 856
19.3.2 Uma comunidade fiel e criativa: preservação,
expansão e interpretação da tradição......................... 859
19.4 Qual foi o primeiro Evangelho?.............................................. 862
19.5 Para leitura adicional.................................................................. 918
20 Marcos e a Origem da Forma Evangelho................................. 920
20.1 O que é um Evangelho? O problema do gênero................. 921
20.1.1 Foi Marcos uma biografia de Jesus?........................... 921
20.1.2 Os Evangelhos como cristologia narrativa................. 927
20.2 Para leitura adicional.................................................................. 940
21 Interpretando Marcos........................................................................... 941
21.1 Uma aproximação literáriade Marcos.................................... 941
21.2 Autoria............................................................................................ 943
21.3 Fontes............................................................................................... 945
21.4 Data e Ocasião............................................................................... 946
21.5 Proveniência.................................................................................. 946
21.6 Estrutura e esboço........................................................................ 949
21.7 Síntese exegético-teológica........................................................ 951
21.8 Para leitura adicional.................................................................. 964
22 Interpretando M ateus...................................................................... 965
22.1 Autoria............................................................................................ 965
22.2 Fontes, influências e tradições................................................. 966
22.3 Data.................................................................................................. 968
22.4 Proveniência.................................................................................. 969
22.5 O Evangelho de Mateus: reinterpretação para
tempos de mudança.................................................................... 970
22.5.1 Mateus, o judeu............................................................. 970
22.5.2 Os missionários Q: "judeus messiânicos"
em casa na sinagoga...................................................... 971
22.5.3 "Judeus Messiânicos" como um grupo distinto
dentro da sinagoga........................................................ 971
22.5.4 A guerra, Jâmnia, autodefinição e polarização.......... 972
22.5.5 Os gentios...................................................................... 972
22.5.6 Recepção de Marcos...................................................... 973
22.6 A Comunidade Cristã de Mateus............................................ 974
22.6.1 Relação com o judaísmo formativo............................. 974
22.6.2 Estrutura e liderança..................................................... 976
22.6.3 Status social.................................................................... 979
22.7 Temas e questões teológicas..................................................... 980
22.7.1 Conflito de reinos.......................................................... 980
22.7.2 Ética: fazendo a vontade de Deus............................... 980
22.7.3 Cumprimento da Escritura.......................................... 981
22.7.4 Tipologia de Moisés...................................................... 982
22.7.5 Jesus o mestre; ausência do segredo messiânico...... 984
22.7.6 Emanuel e a presença contínua de Cristo.................. 985
22.8 Estrutura: Mateus como compositor....................................... 986
22.8.1 Esboço............................................................................ 987
22.9 Síntese Exegético-Teológica...................................................... 989
22.10 Para leitura adicional................................................................. 1001
23 Lucas: Teólogo, compositor e historiador.............................. 1002
23.1 Lucas, o teólogo: a reconfiguração da
História da Salvação..................................................................... 1002
23.2 Lucas o compositor: características literárias e estilo.........1019
23.2.1 Gênero............................................................................. 1019
23.2.2 Linguagem e estilo.........................................................1019
23.2.3 Estrutura......................................................................... 1020
23.3 Lucas o Historiador: Lucas-Atos e História........................... 1027
23.3.1 Lucas e os historiadores helenísticos...........................1028
23.3.2 Fontes, Tradições e Influências.....................................1032
23.3.3 Controles para avaliar "a exatidão histórica" de Lucas.. 1043
23.3.4 Particularidades da composição lucana......................1047
23.3.5 Sumário: "teólogo criativo" ou
"historiador confiável?"................................................1053
23.4 Para leitura adicional................................................................... 1053
24 Interpretando Lucas-Atos............................................................... 1054
24.1 Autoria e data.................................................................................1054
24.1.1 A data de Lucas-Atos.....................................................1054
24.1.2 Companheiro de Paulo?................................................1055
24.2 Proveniência...................................................................................1060
X Introdução ao N ovo Testamento
24.3 Sumário: A origem de Lucas-Atos...
"e foi assim que nos dirigimos a Roma" (At 28,14).............1064
24.4 Texto e história da transmissão................................................ 1067
24.5 Síntese exegético-teológica.........................................................1071
24.6 Para leitura adicional................................................................... 1118
25 Comunidade joanina e escola joanina......................................1120
25.1 Inclusão da comunidade joanina e seus escritos:
um sumário antecipado............................................................... 1120
25.2 O corpus joanino...........................................................................1122
25.2.1 Extensão e relações.........................................................1122
25.2.2 Autoria............................................................................ 1123
25.2.3 Cronologia relativa.........................................................1128
25.2.4 Cronologia absoluta: datas dos escritos joaninos.....1130
25.3 A Comunidade joanina e seus conflitos:
de Jerusalém a Éfeso ................................................................... 1133
25.3.1 O àp%f| (archê, princípio, fonte, norma)
na Judeia, Samaria e Galileia........................................1134
25.3.2 Centrado em Éfeso.........................................................1134
25.3.3 Interação com outros movimentos religiosos............1135
25.3.4 Dissolução final e integração da comunidade joanina.... 1139
25.4 Para leitura adicional................................................................... 1139
26 Cartas da comunidade joanina: Apocalipse, I a, 2a
e 3a Jo ã o ..................................................................................................1141
26.1 Interpretando Apocalipse...........................................................1141
26.1.1 Apocalipse como carta...................................................1141
26.1.2 Apocalipse como profecia.............................................1142
26.1.3 Apocalipse como apocalíptica......................................1142
26.1.4 Cenário social e político.................................................1145
26.1.5 Cenário da igreja.............................................................1149
26.1.6 Fontes, tradições e influências......................................1152
26.1.7 Estrutura..........................................................................1154
26.1.8 Síntese exegético-teológica............................................1156
26.2 Interpretando 2 João.................................................................... 1170
26.2.1 Estrutura..........................................................................1170
26.2.2 Síntese exegético-teológica............................................1171
Sum ário X I
26.3 Interpretando 3 João.................................................................... 1173
26.3.1 Estrutura......................................................................... 1173
26.3.2 Sínteseexegético-teológica............................................1173
26.4 Interpretando 1 João.................................................................... 1175
26.4.1 Gênero............................................................................. 1175
26.4.2 Destinatário.....................................................................1176
26.4.3 Estrutura......................................................................... 1176
26.4.4 Síntese exegético-teológica............................................1177
26.5 Para leitura adicional................................................................... 1183
27 Interpretando O Evangelho de João.......................................... 1184
27.1 Particularidades do Evangelho de João..................................1184
27.1.1 Estrutura e linha histórica.............................................1184
27.1.2 Cristologia: João tem uma imagem distinta
de Jesus........................................................................... 1185
27.1.3 Perspectivas e técnicas literárias..................................1187
27.2 Destinatários e propósito............................................................1194
27.3 Unidade, fontes e história composicional..............................1196
27.4 Estrutura e esboço.........................................................................1203
27.5 Síntese exegético-teológica.........................................................1205
27.6 Para leitura adicional................................................................... 1245
28 Epílogo: O Novo Testamento como Palavra de D eus........ 1247
28.1 A Bíblia retrata o Deus que fala.............................................. 1248
28.2 A Bíblia Retrata o Deus que capacita e inspira
outros a falar...................................................................................1249
28.3 Em tempos pós-bíblicos, o entendimento oracular da 
Palavra de Deus começou a ser aplicado à Bíblia
como um todo.................................................................................1252
28.3.1 A convergência entre os eventos reveladores 
onde Deus fala e a palavra da Escritura começa
já na Bíblia........................................................................1253
28.3.2 O entendimento oracular da revelação divina foi 
aplicado a toda a Escritura em algumas correntes
do judaísmo pós-bíblico................................................1254
28.3.3 Correntes posteriores da história da igreja focam 
mais especificamente sobre uma doutrina da
sagrada escritura.............................................................1256
XII Introdução ao N ovo Testamento
S umário
28.4 Bíblia e Palavra de Deus na Teologia Contemporânea.... 1259
28.4.1 Neo-Evangelicalismo.....................................................1259
28.4.2 Liberalismo Clássico......................................................1259
28.4.3 A Herança da Neo-Ortodoxia e Vaticano I I ............... 1260
28.5 Para leitura adicional................................................................. 1262
índice de autores citados.......................................................................... 1264
índice de passagens bíblicas.....................................................................1268
XIII
L ista de Ilustrações
Mapas
1 - A região do Mediterrâneo no primeiro Século........................... Abertura
3 - Palestina no primeiro Século d.C........................................................Final
Fotos
41 - Uma inscrição documenta Sérgio Paulo........................................... 1105
42 - Sardes, uma das sete igrejas citadas em Ap 2-3................................ 1143
43 - Éfeso, uma das Sete Igrejas em Ap 2-3.............................................. 1144
44 - Escultura da deusa Nike.................................................................... 1149
45 - Ilha de Patmos.................................................................................... 1154
46 - Ruínas de Esmirna............................................................................. 1158
47 - Modelo do altar a Zeus em Pérgamo, Berlim................................... 1159
48 - Ruínas de Tia tira................................................................................ 1160
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
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28
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30
806
808
809
835
870
872
872
874
887
888
896
899
949
950
993
L ista de Q uadros
Tiago e a Tradição de Jesus.......................................
Comparação entre Romanos e Tiago........................
Fé e Obras..................................................................
Paralelos entre Judas/ 2 Pedro.................................
Paralelos Verbais (Aland Synopse §43)....................
Paralelos Verbais (Aland Synopse §44)....................
Estatísticas de Concordância Verbal nos Sinóticos...
Paralelos Verbais (Aland Synopse §14)....................
Duplicações...............................................................
Redundância..............................................................
O Filho do Homem nos Evangelhos Sinóticos.........
Reconstrução das perícopes de "Q mínimo"
(com passagens questionáveis destacadas de cinza)
Estrutura da Seção Transicional..............................
Seção Transicional.....................................................
O Sermão do Monte..................................................
P refácio
Este livro foi escrito a partir das seguintes perspectivas e convicções:
O Novo Testamento é um livro ãe histórias. Não é um livro de 
idéias, ideais e princípios religiosos, mas narrativas e interpretações 
de eventos relacionados à vida de Jesus e seus seguidores, os quais 
se tornaram a comunidade cristã primitiva. O Novo Testamento é 
mais (e não menos) do que um livro de histórias em que esses even­
tos são interpretados como revelação dos atos de Deus em favor da 
salvação do mundo. Em sua interpretação da história, os autores do 
Novo Testamento usam as idéias de seu mundo (judaico e gentio, 
religioso e secular). Cada escrito do Novo Testamento está arraiga­
do na história dos próprios autores, a história da igreja primitiva. 
O Novo Testamento como um todo contém uma história de cole­
ta, transmissão, tradução e interpretação. O Novo Testamento não 
apenas comunica uma história, ele tem sua própria história. Desse 
modo, um vislumbre histórico é um elemento necessário para uma 
compreensão autêntica.
O estudo do Novo Testamento requer um método crítico prático. Como 
um livro de histórias, o Novo Testamento requer um método crítico. 
"Quem escreveu o quê, quando, onde, para quem e por quê" são 
questões inevitáveis à compreensão histórica, ainda que essas ques­
tões não possam ser definitivamente respondidas. Este livro não tenta 
explorar cada ponto seguindo detalhes metodológicos; porém, a par­
tir dos casos analisados pretende fornecer uma base suficiente para 
ilustrar evidências e argumentos. Em quatro pontos, questões gerais 
de introdução ao Novo Testamento são tratadas em extensas divaga- 
ções, explorando evidências e argumentos sobre os quais estão funda­
mentadas algumas conclusões acadêmicas típicas: a unidade literária
de 2 Coríntios, a pseudepigrafia, o problema sinótico e as marcas de 
paralelos nos evangelhos sinóticos. Em vez de meramente fornecer 
aos estudantes os resultados do que "os estudiosos pensam", evidên­
cia e argumentos são dados de modo a permitir que os estudantes 
julguem por si mesmos o grau de confiança que podemos ter sobre 
tais conclusões e que diferença elas fazem teologicamente. Estudantes 
que seguem os detalhes da evidência e argumento reforçam sua habi­
lidade de navegar e avaliar o oceano da literatura secundária sobre o 
Novo Testamento, e desenvolver suas próprias aptidões como intér­
pretes do Novo Testamento.
"Quem começa pelo início vai mais longe". Este livro foi escrito para 
iniciantes, pressupondo estudantes com grande interesse em explorar 
o assunto, mas ainda sem a experiênciaem um estudo detalhado da 
Bíblia. Trata-se de um livro consideravelmente técnico, o qual reflete 
muito da história e posição atual da pesquisa em Novo Testamento. 
As vezes, conservei citações em grego, como um lembrete de que o 
engajamento com o Novo Testamento implica um estudo transcultu- 
ral, e que aqueles que querem compreendê-lo precisam entrar em seu 
mundo linguístico. O livro é completamente inteligível mesmo para 
aqueles que não dominam o grego e o hebraico. Tudo está traduzido, 
e também frequentemente transliterado a fim de facilitar a pronúncia. 
Tenho em mente o tipo de leitores que encontramos no seminário ou 
pastorado, muitos dos quais são estudantes de nível secundário, os 
quais não passaram por uma graduação em estudos de religião ou 
línguas bíblicas. Embora as pressuposições sejam mínimas, o livro 
procura levar o estudante a uma compreensão e competência mais 
profundas como um intérprete do Novo Testamento.
O Novo Testamento é um livro de fé e teologia. Os autores do Novo 
Testamento expressam sua fé de que Deus agiu na vida de Jesus e nos 
eventos da igreja primitiva. Quando a fé é expressa conceituai e ver­
balmente, o resultado é teologia, "fé que busca compreensão", para 
usar a frase histórica de A nselm o . Embora fé e teologia não sejam a 
mesma coisa, não pode haver reflexão sobre a fé, e nem comunicação 
de fé, à parte da teologia. "Teologia" não se refere apenas ao discurso 
sistemático e abstrato de segundo ou terceiro nível, mas ao discurso 
de primeiro nível, a qualquer articulação da fé. O Novo Testamento é, 
portanto, um livro inteiramente teológico. Isto significa que entender o 
Novo Testamento em seus próprios termos requer reflexão teológica,
XVI Introdução ao N ovo Testamento
quer seus leitores compartilhem sua fé ou teologia, ou não. Uma in­
trodução ao Novo Testamento deve ser, em certo sentido, teológica, 
ainda que apenas no nível descritivo.
O Novo Testamento é essencialmente composto de Cartas e Evangelhos. 
O processo histórico que levou à formação do Cânon resultou em 
um Novo Testamento composto de apenas dois tipos de literatura. 
Isto ainda se reflete na leitura litúrgica da Escritura, na qual todos os 
textos do Novo Testamento ou são "Epístola" ou "Evangelho". Essa 
estrutura genérica bipartida do Novo Testamento tem sido frequente­
mente percebida. Contudo, até onde eu saiba, este livro representa o 
primeiro esforço de estruturar uma introdução ao Novo Testamento 
nesses moldes. Isso está em harmonia com a teologia e a história cristã 
primitiva; há também uma razão pedagógica. As Cartas são tratadas 
primeiro, na ordem histórica discutida aqui: 1 Tessalonicenses a 2 Pe­
dro. Somente então nos voltamos para os Evangelhos e os Atos. Na 
metade do curso, os estudantes começam a perceber que havia uma 
extensa tradição, completa em si mesma, em expressar a fé inteira­
mente dentro dos limites do gênero epistolar. Eles se tornam cons­
cientes de que estudaram a maioria dos livros do Novo Testamento 
sem encontrar sequer uma história sobre Jesus. Eles veem as Epístolas 
como um gênero paralelo dos Evangelhos, e o enxergam com novos 
olhos, novas questões, novas idéias. Perto do fim do curso, eles perce­
bem, pela primeira vez, que Epístola e Evangelho estão combinados 
na comunidade joanina, a prolepse do Cânon do Novo Testamento.
Existe uma subestrutura narrativa do Novo Testamento e suas teolo- 
gias. Tanto as Cartas quanto os Evangelhos compartilham uma base 
comum: narrativa. Todos os documentos do Novo Testamento con­
fessam a fé dentro de uma estrutura narrativa. Os evangelhos e Atos 
são obviamente narrativos. Mas as epístolas são também um gênero 
narrativo; cada carta funciona projetando um mundo narrativo. Este 
livro está em harmonia com esse modo narrativo; ele próprio é um 
tipo de narrativa. Ele conta a história do Novo Testamento, desde o 
judaísmo pré-cristão, passando por Jesus, a igreja primitiva, Paulo e 
a tradição das cartas, a tradição de Marcos e o Evangelho, até a com­
binação de Cartas e Evangelho na comunidade joanina. Isto envolve 
uma possível (re)construção de histórias. A alternativa é estudar os 
documentos do Novo Testamento como textos de flutuação livre, não 
ligados à História. Uma vez que o Novo Testamento é uma história,
P refácio XVII
XVIII
ou coleção de histórias dentro de uma história maior, este livro é uma 
narrativa. Ele conta a história do Novo Testamento.
A teologia do Novo Testamento é mais bem feita como exposição diacrô- 
nica de textos. Este livro é uma síntese dos gêneros tradicionais Intro­
dução ao Novo Testamento e Teologia do Novo Testamento. A teologia do 
Novo Testamento está entrelaçada na descrição narrativa da forma­
ção do Novo Testamento. Em vez de atentar para ensaios temáticos 
sob categorias do tipo "Cristologia" e "Eclesiologia" de cada livro ou 
do Novo Testamento como um todo, uma síntese exegético-teológica 
de cada documento do Novo Testamento apresenta sua teologia es­
truturada ao modo do próprio texto. O próprio ato de teologizar do 
Novo Testamento está no modo narrativo. O caminho adequado para 
compreender a teologia de cada livro é processando cada texto em seu 
próprio gênero e estrutura.
O Novo Testamento é o livro da igreja. Muito do que foi mencionado 
pode ser resumido nessa frase familiar, a qual, seguramente, não é 
original.1 Há cinquenta anos, eu fiquei impressionado com a impor­
tância central dessa chave hermenêutica nas palestras de Leander 
Keck's Vanderbilt. Eu tive outro professor, F red C raddock (também 
aluno de K eck ), que frequentemente se referia ao diálogo essencial 
entre Livro e Comunidade. A Comunidade precisa do Livro como 
norma e ponto de equilíbrio. O Livro precisa da Comunidade como 
seu contexto para compreensão. Eu devo muito a K eck , C raddock e a 
todos os meus professores, assim como tenho uma dívida com todos 
os meus alunos, com quem também aprendi muito. Dedico este livro 
aos meus alunos das classes de "Introdução ao Novo Testamento", no 
Seminário da Phillips University (1967-1986), Texas Christian Univer- 
sity e Brite Divinity School (1987-2006).
Ao longo dos anos, minha compreensão do Novo Testamento foi 
alargada e aprofundada pelo diálogo sobre o material deste livro com 
inúmeros colegas e estudantes. Valorizo especialmente o que aprendi 
com L eander K eck , F red C raddock, R ussell P regeant, U do Sch n elle , 
D avid B a lch e W illiam B ird, tanto em função de seus escritos quanto
Introdução ao N ovo Testamento
1 Cf. e.g. W il l i M a r x s e n , The New Testament as Church's Book?\ Trans. James E. Mig- 
nard (Philadelphia: Fortress Press, 1972); S a n d r a S c h n e i d e r s , The Revelatory Text: 
Interpreting the New Testament as Sacred Scripture, 2nd ed. (Collegeville, MN: Litur- 
gical Press, 1999), chap. 3, "The New Testament as the Church's Book.".
P refácio XIX
a partir de conversas pessoais. Sou profundamente grato à equipe de 
edição e produção da Editora Westminter John Knox, que me ofere­
ceu não apenas habilidade profissional, mas também conselhos e en­
corajamento. Ao concluir esse projeto, ofereço minha sincera gratidão 
a Jon L. B erquist, que era o Editor Executivo para a área de Estudos 
Bíblicos na Westminster John Knox, quando fui convidado a escrever 
este livro, em 1994. Ele me acompanhou ao longo do caminho com 
muitas e úteis conversas; a M arianne B lickenstaff, Editora da área 
de Estudos Bíblicos, que dirigiu o processo até sua edição final, e a 
Julie T onini, Diretor de Produção. Esses dois manusearam um lon­
go e complexo manuscrito; a D aniel B raden , Editor-Gerente, por seus 
conselhos. Sou também grato a J erry L. C oyle , B obby W a yn e C ook e 
James E. C rouch , pela leitura perspicaz do penúltimo rascunho. Sua 
diligência resultou em diversas sugestões incorporadas ao texto atual. 
Um agradecimento especial vai para V ictor P a u l F urnish , que leu as 
seções sobre Paulo e a tradição epistolar paulina, oferecendo muitas e 
valiosas sugestões.Porém, posso afirmar com segurança que nenhum 
desses nomes mencionados acima deve ser responsabilizado pelas 
imperfeições deste livro. Quanto a isto, assumo totalmente o ônus.
A breviaturas
2DH [Hipótese dos dois Documentos]
2GH [Hipótese dos dois Evangelhos ou Hipótese de Griesbach]
2SH [Hipótese das duas Fontes]
AB Anchor Bible
Abraham Philo, On the Life of Abraham
ABRL Anchor Bible Reference Library
Ag. Ap. josefo, Contra Apião
Alleg. Interp. Philo, Allegorical Interpretation
Ant. Josefo, Antiguidades Judaicas
ANTC Abingdon New Testament Commentaries
Apc. Apocalipse
Apol. Justino Mártir, Apologia
ASNU Acta seminarii neotestamentici upsaliensis
ASV American Standard Version
AV Authorized Version
B Codex Vaticanus
b. Babylonian tractate (of the Talmud)
B. Bat. Bava Batra
Bar Baruch
BETL Bibliotheca ephemeridum theologicarum lovaniensium
BJ Bíblia de Jerusalém
BJRL Bulletin of the John Rylands University Library ofManchester
BZNW Beihefte zur Zeitschrift für die neutestamentliche 
Wissenschaft
CBQMS Catholic Biblical Quarterly Monograph Series
CD Documento de Damasco
CEB The Common English Bible
A breviaturas XXI
CJA
Ciem.
Col
Cor
Cr
D
De Princip. 
Did.
Dn
Dt
Ecl
EDNT
Christianity and Judaism in Antiquity
Clemente
Colossenses
Coríntios
Crônicas
Bezae Cantabrigiensis 
Origen, De principiis 
Didaquê 
Daniel
Deuteronômio
Eclesiastes
Exegetical Dictionary of the New Testament. Edited by H. 
Balz, G. Schneider. ET. Grand Rapids, 1990-1993.
Ef
EKKNT
Efésios
Evangelisch-katholischer Kommentar zum Neuen Testa­
ment
Ep.
Ep. Brut. 
Esd 
Êx 
Exc.
Ez
FGH
F1
Fm
FRLANT
Sêneca, Epistulae morales
Cícero, Epistulae ad Brutum
Esdras
Êxodo
Excursus
Ezequiel
Farrer-Goulder Hypothesis
Filipenses
Filemom
Forschungen zur Religion und Literatur des Alten und 
Neuen Testaments
GCS Die griechische christliche Schriftsteller der ersten [drei] 
Jahrhunderte
G1
Gn
GTA
Hb
Heir
Hist. eccl. 
HNTC 
HTS 
HUT
Gálatas
Gênesis
Gõttinger theologischer Arbeiten 
Hebreus
Philo, Who Is the Heir?
Eusebius, História eclesiástica 
Harper's New Testament Commentaries 
Harvard Theological Studies 
Hermeneutische Untersuchungen zur Theologie
XXII I n t r o d u ç ã o a o N o v o T e s t a m e n t o
ICC International Criticai Commentary
Ign. Eph. Inácio aos Efésios
Ign. Phld. Inácio aos Filipenses
Ign. Pol. Inácio a Policarpo
Ign. Rom. Inácio aos Romanos
Ign. Smyrn. Inácio à Esmirna
Is Isaías
JBL Journal of Biblical Literature
Jr Jeremias
Js Josué
JSNTSup Journal for the Study of the New Testament: Supplement 
Series
Jt Judite
Jub. Jubileus
Jz Juizes
KEK Kritisch-exegetischer Kommentar über das Neue Testament 
(Meyer-Kommentar)
KJV King James Version [Versão Rei Tiago]
LCL Loeb Classical Library
" Life Josephus, The Life
LJS Lives of Jesus Series
Lv Leví ticos
LXX Septuaginta
Mac Macabeus
Mal Malaquias
MAs Minor Agreements
Mq Miqueias
Mt Mateus
NAB The New American Bible
NACSBT New American Commentary Studies in Bible and Theology
NASB New American Standard Bible
NEB The New English Bible
NICNT New International Commentary on the New Testament
NIGTC New International Greek Testament Commentary
NIV New International Version
NJB The New Jerusalem Bible
Nm Números
NovTSup Novum Testamentum Supplements
A breviaturas XXIII
NRSV New Revised Standard Version
NT Novo Testamento
NTL New Testament Library
NTS New Testament Studies
Os Oseias
ÒTK Õkumenischer Taschenbuch-Kommentar
Pd Pedro
Pol. Phil. Policarpo aos Filipenses
Pv Provérbios
Q Fonte Q
Rab. Rabbah
REB The Revised English Bible
Rm Romanos
RSV Revised Standard Version
Salm. Sal. Salmos de Salomão
SBLDS Society of Biblical Literature Dissertation Series
SBLSBL Society of Biblical Literature Studies in Biblical Literature
SBLSBS Society of Biblical Literature Sources for Biblical Study
SIG Syllogeinscriptionumgraecarum. Editedby W. Dittenberger. 
4 vols. 3rd ed. Leipzig, 1915-1924
Sir Siríaco
Sl(Sls) Salmo(s)
Sm Samuel
SNTSMS Society for New Testament Studies Monograph Series
SP Sacra página
T. Levi Testamento de Levi
t. Suk. Tosefta Sukkah
TDNT Theological Dictionary of the New Testament. Edited by G. 
Kittel and G. Friedrich. Translated by G. W. Bromiley. 10 
vols. Grand Rapids, 1964-1976.
TEV Today's English Version
THKNT Theologischer Handkommentar zum Neuen Testament
Tm Timóteo
TM Texto Massorético
TNIV Today's New International Version
TNTC Tyndale New Testament Commentaries
TOB Tobias
Ts Tessalonicenses
XXIV I n t r o d u ç ã o a o N o v o T e s t a m e n t o
TUGAL Texte und Untersuchungen zur Geschichte der altchri- 
stlichen Literatur
War Josefo, Guerra Judaica
WBC Word Biblical Commentary
Wis Wisdom of Solomon
WMANT Wissenschaftliche Monographien zum Alten und Neuen 
Testament
WUNT Wissenschaftliche Untersuchungen zum Neuen Testament
Zc Zacarias
ZNW Zeitschrift für die neutestamentliche Wissenschaft und die 
Kunde der alteren Kirche
Roma e a C onsolidação 
das T radições
É pelo fato de que Paulo e a tradição paulina fizeram do formato 
carta o veículo primário da instrução cristã que os primeiros mes­
tres cristãos continuaram a usar essa forma. As cartas da tradição 
paulina deixaram sua marca na instrução cristã de tal forma que os 
documentos escritos posteriormente que não eram cartas no sen­
tido comum, mas que foram escritos para ser lidos em voz alta 
diante de toda a congregação, tendiam a assumir alguns traços do 
formato carta e a ser classificados como tais. Podemos ver a in­
fluência dessa tradição mais claramente em 1 Pedro, e também na 
influência emergente de Roma como o centro do cultivo e dissemi­
nação de cartas didáticas.
17.1 Consolidação Romana das Tradições Paulina e Petrina
Ao final da década de 50 e início da década de 60, tanto Paulo quanto 
Pedro foram a Roma. Paulo foi como um cidadão romano (At 21,27 - 
28,31). Não sabemos como Pedro foi. Os associados e companheiros 
missionários de Paulo o acompanharam e, depois de sua morte, conti­
nuaram a propagar a compreensão paulina sobre a fé, em Roma e em 
outros lugares. Embora não tenhamos os detalhes, algo similar deve
7 3 8 Introdução ao N ovo Testamento
ter acontecido a Pedro. Depois de ambos terem selado seu testemu­
nho com suas próprias vidas, a igreja romana tornou-se herdeira das 
tradições dos dois grandes apóstolos.
Embora as tradições representadas por Paulo e Pedro fossem 
diferentes, elas não eram alternativas mutuamente excludentes, e 
não eram vistas como tais pela igreja de Roma, a qual, ao final do 
primeiro século, começou a ver a si mesma como mantenedora e 
instrutora de outras igrejas fora de Roma. As pseudoclementinas re­
presentam uma tradição petrina que se posiciona ao lado de Pedro e 
contra Paulo. Marcião foi um líder cristão romano que ficou do lado 
de Paulo. Mas a igreja romana tradicional via Pedro e Paulo juntos. 
Primeira Clemente é o testemunho mais claro de que a igreja roma­
na adotou tanto Pedro quanto Paulo como santos patronos, e se via 
como a líder mundial tanto do cristianismo judaico quanto gentílico 
na mesma igreja. Que esse desenvolvimento não precisa ser visto 
numa perspectiva ameaçadora, como um apego ao poder, é visível 
a partir de Ignácio, o qual, já em 110 d.C., de sua perspectiva antio- 
quena, considera "Pedro e Paulo" simplesmente como os apóstolos 
(IgnRm 4,1). Tanto Clemente quanto Ignácio sempre citam o par 
apostólico nessa ordem; Pedro se tornou a figura maior, que incor­
pora Paulo. Ignácio congratula a igreja romana como tendo "ensina­
do a outros" (IgnRm 3,1). Vinte anos depois, HermVis 2,4.3 se refere 
à igreja romana como tendo previamente enviado escritos a outras 
igrejas. Assim, ao final do primeiro século, houve uma amalgama- 
ção das tradições paulina e petrina em Roma, a qual é reconhecida 
na geração seguinte ao 2 Pedro mencionar Paulo como um apóstolo 
irmão, cujo ensino, contudo, deve ser entendido dentro da perspec­
tiva da tradição petrina (2 Pd 3,14-16). A consolidação das tradições 
paulina e petrina em um todo é representada de outra forma pelo 
autor de Lucas-Atos, o qual, na primeiraparte do segundo século
d.C. (também em Roma?), recontou a história da igreja primitiva de 
tal forma que Pedro e Paulo são dois representantes de uma só tra­
dição. Atos é um documento claro de que na terceira geração, em 
alguns círculos do cristianismo primitivo, havia um interesse pro­
fundo em apresentar a mensagem cristã sobre os dois pilares da tra­
dição petrina e paulina. Primeira Pedro também se encaixa nessa 
trajetória da tradição petrina em desenvolvimento.
17 • Roma e a C onsolidação das Tradições 7 3 9
17.1.1 A forma carta (paulina) de expressar a fé 
se toma comum fora do círculo paulino.
Não se deve tomar como certo que a literatura cristã secundária 
assumiría a estrutura de carta. Havia outras formas de literatura no 
rastro de Paulo (romances, apocalipses, Atos e variações não ca­
nônicas posteriores do gênero). Foi Paulo quem estabeleceu a forma 
carta como o meio primário da instrução cristã. Aqui, podemos ante­
cipar as conclusões sugeridas abaixo em relação às epístolas do Novo 
Testamento. De fato, Paulo influenciou não apenas a escola paulina, 
mas a literatura cristã primitiva em geral. Este é obviamente o caso 
das deuteropaulinas (Colossenses, Efésios e as Pastorais). Hebreus é 
um exemplo marginal da forma de carta paulina, mas foi finalmente 
aceita no corpus paulino como uma carta.
A tradição de que as cartas eram uma forma apropriada de ins­
trução cristã a serem lidas ao lado da Escritura, no culto congregacio- 
nal, foi uma influência formativa sobre os documentos não paulinos 
que, posteriormente, foram reunidos como Epístolas Católicas. Tiago 
e Judas refletem a circulação das cartas de Paulo, e as imitam com 
aberturas epistolares, mas sem outras formas epistolares no corpo e 
conclusão de seus respectivos documentos. Primeira Pedro é bastante 
paulina; 2 Pedro conhece Judas, bem como 1 e 2 Pedro, e escreve sob 
sua influência. A escola joanina conhecia tanto os Evangelhos quanto 
as Cartas; 1-3 João foram escritas em Efeso, onde as cartas paulinas 
foram divulgadas e a tradição paulina foi cultivada. Apocalipse re­
flete diretamente a forma de carta paulina. Podemos ver a influência 
dessa tradição mais claramente em 1 Pedro, e também a influência 
emergente de Roma como um centro para o cultivo e disseminação de 
tais cartas didáticas.
1 / . ^ Interpretando 1 Pedro
17.2.1 Pedro e a tradição petrina na igreja primitiva
Depois de Jesus e Paulo, Simão Pedro é a figura mais conhecida 
no cristianismo primitivo. Ele é mencionado nas cartas de Paulo, nos 
quatro Evangelhos e Atos, nas duas cartas canônicas atribuídas a ele,
e num longo corpo de literatura não canônica associada a seu nome, 
muita da qual reivindica sua autoria: O Evangelho de Pedro, A Carta 
de Pedro a Tiago, o Kerygma de Pedro, Os Kerygmas de Pedro, Os Atos de 
Pedro, as Pseudoclementinas, O Apocalipse de Pedro, A Paixão de Pedro e 
Paulo, Os Atos de Pedro e os Doze Apóstolos, Os Atos de Pedro, O Martírio 
de Pedro, A Paixão de Pedrod Muito desse material é de gerações ou 
mesmo séculos depois do Simão Pedro histórico, com quem possui 
uma conexão apenas nominal. Depois de a igreja ter se tornado uma 
instituição de alcance mundial, dentro da qual Pedro era uma figura 
de autoridade aceita, materiais que não tinham qualquer conexão com 
a vida e missão de Simão Pedro foram associados com ele ou mesmo 
a ele atribuídos. Contudo, há sólida evidência canônica e patrística de 
que o ministério do apóstolo Pedro continuou entre os discípulos in­
fluenciados por ele e numa corrente de tradição que emanou dele, de 
algum modo análoga à escola paulina que continuou reinterpretando 
a mensagem de Paulo depois de sua morte.1 2 Como no caso de Paulo, 
detalhes da vida e obra de Pedro são controversos, mas há acordo 
amplo sobre o seguinte esboço.
Simão antes de Jesus
Houve, obviamente, uma pessoa real chamada Simão, que rece­
beu o nome de "Pedro" (Mt 16,16-18; Jo 1,41-42; do aramaico Kepha 
(KD”'!?), transliterado ao grego como Cephas (Kr|<pâç), e traduzido 
como Petros, "Rocha"). O nome do pai de Simão era Jonas (Mt 16,17) 
ou João (Jo 1,41; 21,15) - dois nomes diferentes são representados 
em aramaico e grego. O nome de sua mãe é desconhecido. Como um
7 4 0 Introdução ao N ovo Testamento
1 Para textos e material introdutório, ver especialmente E d g a r H e n n e c k e and 
W il h e l m S c h n e e m e l c h e r , eds., New Testament Apocrypha (2 vols.; Philadelphia: 
Westminster, 1963,1964) e artigos individuais em ABD.
2 Cf. O s c a r C u l l m a n n , Peter: Disciple, Apostle, Martyr (Rev. ed.; Cleveland: World, 
1958), 70-154; Brown and Meier, Antioch and Rome; Pheme Perkins, Peter: Apostle 
for the Whole Church (Columbia, SC: University of South Carolina Press, 1994); R a y - 
m o n d E. B r o w n , K a r l P. D o n f r ie d and J o h n R e u m a n n , eds., Peter in the New Testa­
ment (Minneapolis: Augsburg, 1973); sobre a existência de um "grupo", "círculo" 
ou "escola" petrina, ver L u t z D o e r i n g , "First Peter as an Early Christian Diaspora 
Letter," in The Catholic Epistles and Apostolic Tradition, ed. Karl-Wilhelm Niebuhr 
and Robert W. Wall (Waco: Baylor University Press, 2009), 233, 455 nll7, e biblio­
grafia ali citada.
contemporâneo de Jesus, Simão nasceu em algum momento no 
período entre 10 a.C. - 10 d.C., talvez na bilíngue e multicultural 
Betsaida (cf. Jo 1,44; 12,21). A língua nativa de Pedro era o aramaico, 
mas é provável que, como muitas pessoas da Galileia, Pedro tam­
bém podia falar e entender grego até certo ponto. Simão era casado 
(Mc 1,30-31), e esteve acompanhado de sua esposa posteriormente 
nas viagens missionárias (1 Co 9,5). Juntamente com seu irmão An­
dré, estava no comércio de peixes, pertencendo à classe social média 
baixa de pequenos comerciantes e artesãos. A tradição preservada 
em Jo 1,35-42 sugere que tanto André quanto Simão podem ter sido 
discípulos de João Batista antes de serem chamados para seguir a 
Jesus, i.e., eles já estavam orientados para a corrente apocalíptica 
do judaísmo.
Simão com Jesus
Em algum momento durante sua missão, Jesus de Nazaré cha­
mou Simão para ser seu discípulo, e Simão atendeu ao chamado. 
As três versões desse encontro no Novo Testamento (Mc 1,16-20 = 
Mt 4,18-22; Lc 5,1-11; Jo 1,35-42) variam em detalhes, nos principais 
elementos cronológicos, e em sua compreensão do significado do 
evento (e.g., Simão foi chamado primeiro, conforme Marcos e Mateus, 
ou não, conforme aponta João?). Além disso, as similaridades entre 
Lucas 5,1-11 e João 21,1-19 demonstram que a perspectiva pós-pascal 
da igreja influenciou a recontagem de todas as histórias.
Quando Simão se tornou um discípulo de Jesus, sua vida foi 
completamente reorientada. Ele deixou casa, família e negócios, e se 
tornou um participante do movimento de Jesus e sua missão. Não 
apenas isso, mas está claro que ele se tornou o membro principal do 
grupo de discípulos. Ele é retratado como pertencendo ao círculo 
mais íntimo (e.g., Mc 9,2; 13,3; 14,33), o porta-voz para os demais 
discípulos (e.g., Mc 8,29; 9,5), o representante dos discípulos a quem 
Jesus fala e com quem Jesus lida (e.g., Mc 8,33), e membro repre­
sentante do grupo a quem outros abordam (e.g., Mt 17,24). Embora 
outras interpretações estejam em questão nessas histórias, tam­
bém está claro que, já durante a missão de Jesus, Simão era o lí­
der dos Doze, cujo nome sempre aparece primeiro em várias listas 
(Mt 10,2; Mc 3,16; Lc 6,14; At 1,13).
17 • Roma e a C onsolidação das Tradições 741
7 4 2 Introdução ao N ovo Testamento
Pedro na Igreja Primitiva
O encontro com o Senhor ressurreto habilitou Pedro para se tornar 
o líder principal do reagrupamento dos discípulos e da formação do 
que devia se tornar a igreja. O Jesus ressurreto apareceu a Simão e o 
(re-)constituiu para ser a "Rocha" sobre a qual a nova comunidade cris­
tã está estabelecida (1 Co 1-5; Lc 24,34; Mc 16,7). Por ocasião da primeira 
Carta de Paulo aos Coríntios, Pedro já é uma figura bemconhecida no 
cristianismo gentio distante da Palestina (1 Co 9,5). Se Pedro visitou 
ou não visitou Corinto pessoalmente, um grupo que apelava estrita­
mente à autoridade petrina existia no interior da congregação coríntia 
(1 Co 1,12). Paulo já podia ter achado necessário polemizar sutilmente 
contra o que ele considera uma falta de compreensão do papel de Pedro 
como a "Rocha" sobre a qual a igreja está fundamentada (1 Co 3,11; 
cf. Mt 16,18). Ao escrever aos Gálatas, mesmo enfatizando os contatos 
mínimos que eventualmente teria tido com os apóstolos originais, Pau­
lo, contudo, indica que ele foi a Jerusalém "para visitar Cefas" (G11,18), 
e que quatorze anos depois, Pedro (juntamente com Tiago e João) ainda 
era um dos três "Pilares" da igreja em Jerusalém (G1 2,7-8).
Claramente, Pedro era o líder principal da primeira comunidade 
cristã em Jerusalém, a qual era composta de "Hebreus" e "Helenis- 
tas", i.e., cristãos de cultura palestina e língua aramaica, e cristãos de 
cultura helenística e língua grega (cf. §§7.4,9.2 Vol. I, At 6,1-6). At 2 - 6 
retrata Pedro como ponte entre os dois grupos, e não apenas como líder 
de um. Bem cedo no desenvolvimento da igreja, a influência de Pedro 
havia se estendido para a comunidade gentílica. O quadro escrito pos­
teriormente de At 2 -12 ,15 , embora escrito de uma perspectiva lucana, 
ainda está essencialmente correto em suas linhas gerais: Pedro era 
desde o início tanto o líder principal quanto o agente de unidade em 
uma igreja que já começava a enfrentar tensões internas. A liderança 
de Pedro na igreja de Jerusalém retrocedeu em função de Tiago, irmão 
de Jesus, mas isso não necessita ser atribuído a conflito teológico. Pe­
dro defendia uma posição moderadamente mais próxima a Paulo do 
que a Tiago. Mesmo assim, Pedro era claramente o oponente de um 
cristianismo orientado mais para a lei e a teologia e prática das novas 
raízes da fé no judaísmo do que Paulo.
Nas cartas de Paulo, Pedro aparece primeiramente como a figura 
principal da igreja de Jerusalém (G11,18), e diversos anos depois como
17 • Roma e a C onsolidação das Tradições 7 4 3
um dos três "Pilares" (G1 2,9), e finalmente como um líder influente 
na igreja de Antioquia (G1 2,11-14). Nós perdemos Pedro de vista de­
pois do incidente em Antioquia (ca. 50 d.C.), embora aparentemente 
ele continuasse várias viagens missionárias (1 Co 9,5) - as quais, con­
tudo, não incluíam as províncias às quais 1 Pedro se dirige (1 Pd 1,1). 
Em Atos, Pedro desaparece abruptamente da narrativa em 12,17, par­
tindo de Jerusalém rumo a "outro lugar" e reaparecendo apenas no 
Concilio de Jerusalém (ca. 48 d.C.). Embora em algumas interpreta­
ções antigas, o "outro lugar" seja Roma, parece que Pedro não che­
gou a Roma até depois de Paulo ter escrito Romanos (ca. 56 d.C.). De 
acordo com uma confiável tradição protocristã, Pedro morreu como 
um mártir por volta da metade da década de 60.
17.2.2 Autoria
O espectro de possibilidades pode ser delineado como segue:
1. Pedro escreveu a carta pessoalmente, quando estava em Roma. 
Toda sua educação grega nos anos 60 e experiência fizeram 
com que ele fosse capaz de escrever a carta sem ajuda de Silva- 
no ou qualquer outra pessoa.3
2. Pedro forneceu as idéias, mas o vocabulário, sintaxe e estilo 
pertencem a Silvano, que de fato escreveu a carta, a pedido 
de Pedro. Pedro então a aprovou e a autorizou. Essa visão fre­
quentemente coloca 1 Pedro na década de 60, conforme foi co­
mentado acima, mas J. R amsey M ichaels trouxe de volta a visão 
anterior de A. M . R am sey , de que Pedro viveu até a década de 
80, quando ele escreveu a carta com a ajuda de Silvano.4
3. Silvano escreveu a carta representando Pedro, que lhe autori­
zou. Pedro é a autoridade por trás da carta, mas Silvano é seu 
compositor de fato, que deu sua "própria contribuição para o 
seu material não menos do que para a linguagem" da mesma.5
3 Essa posição é defendida por e.g. W a y n e G r u d e m , 1 Peter (TNTC; Grand Rapids: 
Eerdmans, 1988), 21-32.
4 J. R a m s e y M ic h a e l s , 1 Peter (WBC 49; Waco: Word, 1988), Ixii.
5 Ver E d w a r d G o r d o n S e l w y n , The First Epistle of St. Peter. The Greek Text with Intro- 
duction, Notes and Essays (London: Macmillan, 1964), 11 and Peter H. Davids, The 
First Epistle of Peter (NICNT; Grand Rapids: Eerdmans, 1990), 30.
4. Silvano escreveu em nome de Pedro, depois de sua morte, 
usando a tradição petrina. Silvano é de fato o autor da carta.6
5. Um membro anônimo do "círculo petrino" em Roma escreveu 
em nome de Pedro, depois de sua morte. "Pedro" é uma figura 
fictícia, mas "Silvano", "Marcos" e a "irmã eleita" são pessoas 
reais, que são membros do grupo petrino.7
6. Um cristão romano anônimo escreveu com base na tradição 
petrina.8
7. Um paulinista escreveu em nome de Pedro, fundamentalmente 
com base na tradição paulina.9
As considerações discutidas abaixo indicam que o item 5 ou 6 
deve ser a solução mais provável. A questão de autoria para 1 Pedro 
é um tipo diferente de questão do que, por exemplo, a autoria das 
Pastorais, no sentido de que temos diversas cartas não disputadas de 
Paulo e não temos de especular quanto ao que Paulo teria escrito. Mas 
1 Pedro é a única possibilidade de termos algo no Novo Testamento 
escrito pelo próprio Pedro, ou por qualquer um dos discípulos ori­
ginais de Jesus. As razões seguintes são convincentes para a maioria 
dos estudiosos contemporâneos de que 1 Pedro não foi escrita pelo 
próprio Pedro, mas por um discípulo anônimo em nome de Pedro.
(1) A exceção da primeira palavra, a carta em si não faz qualquer 
alegação, direta ou indireta, de uma autoria apostólica, mas especifi­
camente indica que a carta foi escrita por um ancião que é um co-an- 
cião com outros líderes nas igrejas da Ásia (5,1).
(2) Talvez, a razão mais forte para atribuir 1 Pedro a um discí­
pulo da segunda geração em vez de ao próprio Simão Pedro seja a
7 4 4 Introdução ao N ovo Testamento
6 J. N. D. K e l l y , A Commentary on the Epistles of Peter and of Jude (HNTC; New York: 
Harper & Row, 1969), 33, aceita essa questão com reservas.
7 J o h n H. E l l i o t t , 1 Peter. A New Translation with lntroduction and Commentary (AB 
37B; New York: Doubleday, 2000), 270-280.
8 L e o n h a r d G o p p e l t , A Commentary on 1 Peter (trans. John E. Alsup; Grand Rapids: 
Eerdmans, 1993), 51-52, embora também tenha simpatia pelo item 4 acima; Paul 
J. Achtemeier, 7 Peter: A Commentary on First Peter (Hermeneia; Minneapolis: For- 
tress Press, 1996), 199.
9 F r a n c is W r ig h t B e a r e , The First Epistle of Peter. The Greek Text with lntroduction and 
Notes (2nd rev. ed.; Oxford: Blackwell, 1961), 24-30; H e l m u t K o e s t e r , lntroduction to 
the New Testamcnt. Volume Two. History and Literature ofEarly Christianity (Founda- 
tions and Facets; Philadelphia: Fortress, 1982), 2.292-295.
falta do tipo de material que se poderia esperar de um companheiro 
pessoal de Jesus e testemunhas oculares de seu ministério. A exce­
ção do nome em 1,1, a carta não faz alegação de que é oriunda de 
uma testemunha ocular das palavras e ações de Jesus. O contraste 
em 1.8 não é entre o autor, que viu Jesus, e os leitores, que não o vi­
ram, mas é uma declaração sobre a vida cristã como tal. Os cristãos, 
incluindo o autor, amam, confiam e obedecem a Cristo, a quem eles 
não viram, com base na fé que lhes alcançou através da pregação 
cristã e do poder do Espírito Santo (1,12). A alegação do autor de 
que é uma testemunha dos sofrimentos de Cristo (5,1) não é uma 
alegação de que esteve presente na crucifixão - o que, em todo caso, 
não se aplicaria a Simão Pedro (Mc 14,50-72) - mas que ele, junta­
mente com seus companheiros anciãos, dá testemunho para outros 
do significado salvífico do sofrimento de Jesus. O autor não se refere 
a palavras de Jesus ou relatos sobre ele, mesmo quando elas se aco­
modam seu propósito. Assim, por exemplo, a citação de Mc 12,17 
apoiaria o ponto discutido em 1 Pd2,13-17. Em 1 Pd 3,9, onde uma 
fala de Jesus contra a retaliação seria mais apropriada (Mt 5,38-42), o 
autor cita o SI 34,13-17. Essas tradições jesuânicas, conforme incluí­
das pela carta, não são mencionadas como palavras de Jesus, mas 
uma parênese cristã que já tinha sido afetada pelas tradições jesuâ­
nicas em circulação no cristianismo primitivo.
(3) Ainda mais importante, a cristologia de 1 Pedro não é expres­
sada ou ilustrada pelas histórias de vida do Jesus histórico, mas pela 
incorporação da vida de Jesus dentro de um cenário cósmico no qual 
a fraqueza do Jesus terreno se torna parte do ato salvífico de Deus. 
A vitória de Deus sobre os poderes demoníacos que ameaçam a vida 
humana não são vistos em termos dos exorcismos do Jesus terreno 
como no Evangelho de Marcos (também associados com Pedro na 
tradição protocristã). Antes, o ato salvífico de Deus no evento-Cris- 
to é retratado como a vitória cósmica alcançada pela ressurreição/ 
ascensão, como na cristologia kenótica paulina, que retrata o Jesus 
terreno na fraqueza de uma vida verdadeiramente humana (e.g., 
Fp 2,5-11; 2 Co 13,4). Alguém poderia esperar que uma carta vinda de 
uma testemunha ocular da vida de Jesus deveria, ao menos, fazer con­
tato com o tipo de cristologia encontrada nos evangelhos, mas em vez 
disso, a carta trabalha completamente dentro da estrutura da tradição 
cristológica epistolar orientada para Paulo.
17 • Roma e a C onsolidação das Tradições 7 4 5
(4) A carta reflete conhecimento e apropriação da tradição paulina 
em uma forma difícil de imaginar o Pedro histórico, contemporâneo 
de Paulo e que algumas vezes se opôs a ele, (G1 2,11-21, ver abaixo).
(5) Primeira Pedro é escrita com um alto nível de competência 
literária e retórica por alguém que se sentia completamente à vonta­
de na língua e cultura grega, e que estava intimamente familiarizado 
com a LXX. Primeira Pedro exibe um nível melhor de grego do que o 
de Paulo, um judeu helenístico bem educado, que cresceu em Tarso, 
e melhor do que 2 Pedro, que não deve ter sido escrita pela mesma 
pessoa que escreveu 1 Pedro.10 Esse argumento não pressupõe que o 
Pedro histórico fosse um pescador iletrado que conhecia grego, visto 
que provavelmente não era este o caso. Pedro pode ter sido um letra­
do, e pode ter conhecido grego o suficiente para atuar numa socieda­
de multilíngue. A dificuldade, contudo, está em crer que um pescador 
palestino fosse capaz de escrever o grego elegante e sofisticado de 
1 Pedro, com suas diversas alusões à cultura clássica e helenística, e 
que um judeu palestino não apenas citasse a LXX - o que é suficiente­
mente digno de crédito numa situação missionária - mas não demons­
trasse conhecimento dos textos hebraicos originais e aludisse quase 
inconscientemente à fraseologia septuagíntica. Isso indica que o pró­
prio imaginário do autor é representado pela literatura grega e a LXX. 
Primeira Pedro, às vezes chega a melhorar a gramática e sintaxe grosseira 
quando cita a LXX (como em 3,10-12).
A autoria petrina não pode ser salva pela teoria de um secretário, 
como se as idéias básicas retornassem a Pedro, mas a linguagem so­
fisticada, a habilidade retórica, e a teologia particular vêm de Silvano. 
Tal teoria falha em entender a relação entre pensamento e linguagem 
- a carta é composta por, e representa o pensamento de, alguém que 
o expressou na linguagem. Os "pensamentos básicos" de 1 Pedro não 
existem na subtração de sua expressão linguística particular. Se Silvano 
desempenhou, de fato, tal papel na composição da carta, seu nome 
deveria aparecer pelo menos como coautor em 1,1, onde notavelmente 
não aparece (contrastar 1 Co 1,1; 2 Co 1,1; Fp 1,1; 1 Ts 1,1; Fm 1).
7 4 6 Introdução ao N ovo Testamento
10 Detalhes e listas em A c h t e m e ie r , 1 Peter, 3-9; M a r io n L. S o a r d s , "1 Peter, 2 Peter, 
and Jude as Evidence for a Petrine School," in Aufstieg und Niedergang der rõmischen 
Welt, ed. Joseph Vogt, Hildegard Temporini, and Wolfgang Haase (Berlin: de 
Gruyter, 1988), 3833; Selwyn, First Epistle ofSt. Peter, 489-501.
17 • Roma e a Consolidação das T radições 747
Em todo caso, a frase em 5,12 (8ià Zikoixxvoú, dia Silouanou, frequente­
mente traduzida como "através de Silvano"), não se refere à compo­
sição da carta, mas à sua expedição (cf. At 15,27; IgnRom 10,1, IgnFld 
11,2; IgnSmyrn 12,1; PolFil 14,1). No entanto, mesmo que a hipótese 
de um secretário ainda seja mantida, o resultado ainda é que a carta é 
composta não pelo próprio Pedro, mas por um discípulo fiel, e que a 
autoridade de Pedro permanece subjacente de alguma forma - o que 
é precisamente o que a teoria da autoria pseudônima alega!
(6) Toda a evidência de que a carta foi escrita perto do fim do pri­
meiro século (ver abaixo), significa que ela não pode ter sido escrita 
por Pedro, que, quase seguramente, morreu por volta de 64 d.C., em 
conexão com a prisão dos cristãos romanos sob Nero.
Assim, é melhor interpretar 1 Pedro como não tendo sido escrita 
por Simão Pedro, mas escrita em seu nome como uma expressão da 
autoridade apostólica de sua mensagem e continuação da tradição pe- 
trina romana por seus discípulos. Essa conclusão é fortalecida pelas 
considerações da situação dos leitores envolvidos, data e ocasião da 
carta, a procedência do autor, fontes e o gênero de sua composição.
17.2.3 Os leitores e sua localização
Primeira Pedro é dirigida a cristãos de uma ampla área geográ­
fica, as cinco províncias romanas que formavam praticamente toda a 
Ásia Menor, ao norte das montanhas Taurus, cujo território combina­
do era maior do que 320 mil quilômetros quadrados, maior do que a 
área combinada de Ohio, Pensilvânia, Nova York, e os seis estados da 
Nova Inglaterra. Uma vez que a Bitínia e o Ponto foram combinadas 
em uma província dupla, é estranho que o Ponto, a parte mais oriental 
seja mencionada primeiro, com a Bitínia separada e mencionada por 
último. Isso é provavelmente mais bem explicado como refletindo a 
rota a ser tomada pelo mensageiro que expediu a carta às igrejas dis­
persas, que, na vinda de Roma, teria desembarcado no Ponto, e seguido 
pela Galácia e Capadócia, e então retornado pela Ásia, finalizando 
na Bitínia. Essa é uma evidência adicional de que estamos lidando 
com uma carta real (ver abaixo). Essa área ampla representa uma 
combinação do território da missão paulina (Galácia e Ásia) e áreas 
que ao final do primeiro século estavam associadas à pregação petrina 
(cf. At 2,9). A carta não sugere que Pedro ou o autor pseudônimo
7 4 8 Introdução ao N ovo Testamento
tivesse evangelizado a área ou fosse pessoalmente conhecido das igre­
jas locais. Embora houvesse provavelmente alguns judeus cristãos en­
tre os destinatários, a carta indica que os leitores eram primariamente 
gentios que não tinham conhecido anteriormente o Deus verdadeiro, 
e que tinham vivido a pecaminosa e idolátrica vida pagã (1,14.18.21;
2,1.9-11.25; 4,3). De fato, a razão principal para sua marginalização 
social e aflições, as quais motivaram a carta, devia-se à abstenção de 
algumas ações próprias de sua vida pregressa, mas que agora consi­
deravam pecaminosas (4,4).
As expressões "forasteiros da Dispersão" (1,1) e "peregrinos" que 
"vivem no exílio" (1,1.17; 2,11) não têm uma intenção literal. Embora 
a expressão "leitores" possa incluir alguns judeus cristãos refugiados, 
que se estabeleceram na Ásia Menor durante e depois da guerra pales­
tina de 66-70, esses leitores não são literalmente estrangeiros. Eles são 
principalmente gentios que anteriormente participaram da sociedade 
que agora os rejeita. O autor aplica à comunidade cristã a imagem bíbli­
ca dos patriarcas e Israel como o povo de Deus em peregrinação, que vi­
vem como estrangeiros, sem direitos nas terras dominadas por outros.11
Inicialmente, pensava-se que os sofrimentos enfrentados pelos 
leitores (1,6; 2,12; 3,8-17; 4,12-19; 5,8-10) refletiam o período da perse­
guição oficial romana, quer sob Nero, na metade da década de 60; Do- 
miciano,na metade da década de 90; ou Trajano, na segunda década 
do segundo século. Um estudo mais recente convenceu a maioria dos 
eruditos de que 1 Pedro reflete um tempo de sofrimentos e perse­
guição social, mas não uma perseguição oficial iniciada pelo governo. 
Em todo caso, não houve uma perseguição romana em todo o império 
até o tempo de Décio, no terceiro século. Contudo, os leitores sofrem 
por serem nomeados de cristãos (4,16), e o tipo de rejeição e persegui­
ção social que eles experimentavam podia facilmente coloca-los diante 
da antipatia dos magistrados e governadores locais, onde eles podiam 
enfrentar decisões de vida ou de morte. A carta de Plínio, governador 
do Ponto ao imperador Trajano (ca. 112), não apenas detalha a situação
11 Cf. o tema similar em Hebreus e 1 Clemente, também oriunda da igreja de Roma 
do mesmo período. Sobre o uso que 1 Pedro faz dos patriarcas bíblicos como mo­
delos para a igreja como forasteiros no próprio país, ver especialmente R e in h a r d 
F e l d m e ie r , Die Christen ais Fremde (WUNT 6 4 ; Tübingen: Mohr, 1992) e R e in h a r d 
F e l d m e ie r , The First Letter of Peter: A Commentary on the Greek Text (trans. Peter H. 
Davids; Waco, Tex.: Baylor University Press, 2008), 53 e passim.
perigosa dos cristãos em seu tempo e lugar, mas indica que nos inci­
dentes ocorridos, vinte anos antes, alguns cristãos foram perseguidos 
a ponto de serrm repudiados em face de sua nova religião. Este seria
0 tempo de 1 Pedro (Plínio Cartas 10,97; ver texto em §26.1, Vol. II).
17.2.4 Data e ocasião
A alusão mais antiga a 1 Pedro provavelmente seja 2 Pedro 3,1, 
mas a data de 2 Pedro não é clara. Parece haver alusões claras em 
Polfp (ca. 135; 1,3=1 Pd 1,8; 2,1=1 Pd 1,13.21; 4,5; 2,2 =1 Pd 3,9; 10,1=
1 Pd 3,8; 10,2=1 Pd 2,12; 5,5; 14,1=1 Pd 5,12). De acordo com a História 
Eclesiástica de Eusébio, 3.39.17, Papias (no início do segundo século) 
citou 1 Pedro. Irineu (ca. 185 d.C.) é o primeiro autor cristão a citar 
1 Pedro diretamente e a designar Pedro como o autor (Contra Here­
sias. 4,9.2, 16,5; 5,7.2). O terminus a quo é fornecido pelas referências 
ou claras alusões internas da própria carta. A referência metafórica a 
Roma como "Babilônia" em 5,12, um uso que não se originou antes 
da destruição de Jerusalém, em 70 d.C., parece colocar a carta depois 
de 70. Entre 70 - 135 d.C., a data mais provável para 1 Pedro é apro­
ximadamente 90. Essa é a opinião da maioria dos eruditos críticos, 
baseada nas seguintes evidências: •
• Primeira Pedro pressupõe que a fé cristã se espalhou pelo território das 
cinco províncias. Não há evidência de congregações cristãs no Ponto, Bi- 
tínia e Capadócia na primeira geração. Uma tradição mais antiga indica 
que Paulo foi explicitamente proibido pelo Espírito Santo de pregar na 
Bitínia (At 16,7). Mas Plínio indica que havia muitos cristãos no Ponto, 
por volta de 92.
• As abundantes similaridades no vocabulário e visão de mundo comparti­
lhadas por 1 Pedro e 1 Clemente (escritas em Roma por volta do fim do pri­
meiro século), embora não apontem para dependência literária em qual­
quer direção, indicam que ambas derivam da mesma situação, e fazem 
uso de uma tradição comum.
• A combinação das tradições paulina e petrina sugere um período de mui­
tos anos depois da morte dos dois grandes apóstolos (ca. 64 d.C.), período 
durante o qual suas tradições foram fundidas.
• Embora os leitores, e talvez o autor, sejam cristãos gentios, a relação da 
igreja com o judaísmo, o papel da lei na salvação e o status de Israel na his­
tória da salvação não são problemáticas. As Escrituras Judaicas são vistas
17 • Roma e a C onsolidação das Tradições 7 4 9
Introdução ao N ovo Testamento7 5 0
como pertencendo e falando diretamente à igreja. Esses traços apontam 
para um tempo em que essas batalhas teológicas da primeira geração es­
tavam no passado.
• Embora não haja dependência literária direta das cartas paulinas não 
disputadas, o autor foi amplamente influenciado por elas, e provavel­
mente por Efésios também (mas não pelas Pastorais). Isso aponta para 
um tempo em que as cartas de Paulo haviam sido coletadas e circulavam 
como um corpus.
• Anciãos como líderes locais (5,1) são desconhecidos às cartas não disputa­
das de Paulo, mas são a forma padrão da liderança eclesiástica congregacio- 
nal que apareceu na tradição paulina/petrina no cristianismo da segunda 
geração, que é documentada em Atos, na terceira geração (At 11,30; 14,23; 
15,2.4.6.22; 16,4; 20,17.18; ver discussão sobre as Pastorais, §16 Vol. I).
Assim, a carta parece se encaixar melhor na situação da igreja 
romana próximo do fim do primeiro século. Tendo sofrido persegui­
ção sob Nero, entendendo a si mesmo como o depositário dos dois 
pilares apostólicos, Pedro e Paulo, e respondendo aos desafios de 
Hb 5,12 - ou seja, de que era necessário ensinar a outros os princípios 
elementares dos oráculos de Deus - , um líder congregacional escreve 
com autoridade apostólica a fim de encorajar as congregações-irmãs 
perseguidas da Ásia Menor.
17.2.5 Procedência
A carta alega ter sido escrita na "Babilônia" (5,13). Isso não pode 
ser tomado literalmente. Não há evidência de que Pedro estivesse na 
Babilônia ou que a tradição petrina estivesse localizada ali. A gran­
de cidade, que incluía uma significativa população judaica, era, na 
metade do primeiro século, uma pequena e insignificante cidade que 
havia sido deixada pela comunidade judaica, e estava praticamente 
desabitada na ocasião em que 1 Pedro foi escrita (Diodorus Sic. 2,9.9; 
Strabo Geog. 16,1.5). Assim, "Babilônia" deve ser entendida como um 
criptograma para Roma. Depois do ano 70 d.C., isso se tornou muito 
comum nos documentos apocalípticos judaicos (2 ApoBar 11,1-2; 67,7; 
2 Esdr 3,1-2, 28; OrSib 5.143, 155-161, 434, 440). Portanto, nossa con­
clusão é de que 1 Pedro foi realmente escrita em Roma, ou que Roma 
= Babilônia é parte do mundo literário fictício projetado pela carta, 
através da pseudonímia.
Se as figuras de Marcos e Silvano (5,12-13) são tomadas como 
elementos fictícios pertencentes à estrutura pseudoepigráfica, então 
entender Roma como o cenário pretendido podia fazer parte desse 
mesmo mundo fictício.12 Contudo, pode ser que tanto Marcos quanto 
Silvano sejam pessoas reais que trabalharam com Paulo e Pedro, e 
que continuaram ativos na igreja romana depois de os dois apóstolos 
terem sido mortos. Os diversos pontos de contato entre 1 Pedro, He- 
breus e 1 Clemente parecem localizar 1 Pedro em Roma, conforme se 
vê na tradição mais antiga.
17.2.6 Fontes
Primeira Pedro não é uma colcha de retalhos artificial de fontes, 
mas uma carta de fato (ver abaixo). Isso não significa, contudo, que 
ela foi composta ad hoc. O autor fez extrações de um profundo poço 
de materiais tradicionais que abrangiam a Escritura Judaica e a tra­
dição cristã.
Escritura Judaica: o autor usa o Antigo Testamento como um livro 
cristão no qual o que foi dito uma vez "a" e "sobre" Israel é trans­
ferido sem problema ou polêmica também para a igreja. O Espírito 
que inspirou os profetas bíblicos foi o Espírito do Cristo pré-existente 
(1,11), o mesmo Espírito que inspirou a pregação cristã (1,12). Quando 
o tamanho relativo dos documentos é considerado, 1 Pedro torna mais 
extenso o uso do Antigo Testamento do que qualquer outro autor do 
Novo Testamento, à exceção de Apocalipse. Seu pensamento oriunda 
da LXX, da qual as únicas citações diretas ou alusões são tomadas. 
A montagem do imaginário bíblico em 2,1-10 é uma das mais densas 
do Novo Testamento, embora apenas 2,6 seja uma citação direta. Em­
bora o autor conheça o Antigo Testamento, a escolha e combinação 
das citações não são feitas independentemente, mas refletem a tra­
dição da igreja. Ele cita alguns dos mesmos textos obscuros mencio­
nados por outros autores do Novo Testamento (e.g., Pv 3,34 em 5,5)
17 • Roma e a C onsolidação das Tradições 751
12 Ver, e.g. S c h n e l l e , New Testament Writings, que localiza 1 Pedro na Ásia Menor.D o e r i n g , "Diaspora Letter," 233, and Hunzinger, C. H. Hunzinger, "Babylon ais 
Deckname für Rom und die Datierung des lPetrusbriefes," in Gottes Wort und 
Gottes Land, ed. Henning Reventlow (Gõttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 1965), 
77, sugere que a carta se originou na Síria ou Ásia Menor.
7 5 2
e as mesmas combinações de textos (e.g,. Is 28,16 e 8,14 e 2,6-8; cf. 
Rm 9,33). Isso deve ser mais do que coincidência, mas não precisa ser 
dependência literária direta. Uma tradição de seleção textual e inter­
pretação que havia se desenvolvido emerge em Paulo, Tiago, 1 Pedro 
e outros. A procedência romana dessa tradição hermenêutica é suge­
rida pelo uso comum do Salmo 34 (LXX, SI 33) em Hebreus, 1 Pedro 
e 2 Clemente. Os contatos entre 1 Pedro e Tiago (usando alguns dos 
mesmos textos obscuros) podem sugerir sua dependência literária da 
tradição comum, que está enraizada no cristianismo de Jerusalém. 
Essa possibilidade é reforçada pelo caráter judaico geral da primeira e 
segunda geração do cristianismo romano.13
Tradição Cristã: Primeira Pedro é uma formulação distintivamente 
petrina de uma corrente da tradição cristã que era amplamente in­
fluente no cristianismo primitivo. Essa corrente de tradição incluía 
crenças e materiais hínicos, litúrgicos e catequéticos (e.g. 1,18-20;
2,21-25; 3,18-19; 2,13-3,7). A existência e conteúdos dessa corrente de 
tradição foi persuasivamente documentada por gráficos detalhados 
que catalogam o conteúdo, forma, fraseologia e padrões idênticos e 
similares que representam os resultados da análise comparativa de 
1 Pedro e outros documentos do Novo Testamento.14 Uma compa­
ração de 1 Pd 5,5-9 com Tg 4,6-10 indica diversos contatos nos quais 
mesmo o leitor casual pode detectar uma tradição subjacente comum.
Cartas paulinas: Não apenas o autor adota a forma epistolar sob a 
influência da tradição paulina, mas a utilização de diversos traços par­
ticulares da forma epistolar paulina vem direta ou indiretamente de 
Paulo. Isso é ilustrado por uma saudação que é sua marca registrada 
%ápiç úpív Kai eipf|vr| (charis humin kai eirênê, graça a vós e paz, 1,2), e 
pelo vocabulário distintivo paulino, como as palavras xópiopa (charis- 
ma, dom, 4,10) e èv Xpiarcò (en Christõ, em Cristo, 3,16; 5,10.14). O termo 
peculiar de Paulo para desejos pecaminosos "carnais" (aapKucóç, sarki- 
kos) não é encontrado na LXX nem em qualquer outra parte do Novo 
Testamento, exceto nas cartas paulinas (5 vezes) e 1 Pd 2,11. A termino­
logia dos "anjos, principados e potestades" é encontra fora do corpus 
paulino apenas em 1 Pd 3,22. O autor deriva de Paulo a visão de que 
a vida do crente "em Cristo" significa participação (koivcovíoc, koinõnia)
Introdução ao N ovo Testamento
13 B r o w n and M e ie r , Antioch and Rome, 92-158. See below, §18.4.
14 S e l v v y n , First Epistle of St. Peter, 365-466. Cf. also Elliott, 1 Peter, 20-40.
nos sofrimentos de Cristo de modo a ir além da ideia de imitar a Cristo 
como um modelo (cf. e.g., Fp 2,1; 3,10; 2 Co 1,5; 1 Pd 1,11; 5,1). Al­
guns eruditos têm compilado extensas listas de traços linguísticos, 
estilísticos, formais e teológicos distintivos de Paulo e encontrado 
em 1 Pedro (às vezes apenas em Paulo e 1 Pedro). A visão mais 
antiga que considerava 1 Pedro como meramente um paulinis- 
mo tem sido adequadamente rejeitada, mas intérpretes deveriam 
guardar-se contra uma super-reação que minimize a influência das 
cartas paulinas sobre 1 Pedro. Tais dados não necessariamente in­
dicam uma conexão literária direta entre 1 Pedro e as cartas pau­
linas no sentido de que o autor de 1 Pedro tivesse cartas paulinas 
abertas a sua frente à medida que escrevia. Ele as ouviu sendo li­
das frequentemente como parte do culto e instrução da igreja em 
Roma, onde provavelmente ele fosse um presbítero atuando no 
ensino, e assume que essas cartas circularam nas igrejas da Ásia 
Menor às quais ele escreve, e, assim, pressupõe que seus leitores 
também estão familiarizados com elas. Assim, a incorporação dos 
associados de Paulo, Marcos e Silvano (Silas) no mundo literá­
rio fictício projetado pelo documento (5,12-13) ilustra a co-opção 
do autor da tradição paulina. Isso representa uma fundição se­
cundária das tradições paulina e petrina, e não uma estratégia do 
Simão Pedro histórico. É difícil conceber que o Pedro histórico 
em Roma, em uma carta dirigida ao território da missão paulina 
da Ásia e Galácia, faria alusão a Marcos e Silas, mas não ao próprio 
Paulo (contrastar 2 Pd 3,14-16, onde mesmo a pseudoepígrafa 2 Pe­
dro é constrangida a fazer isto). O autor assume a forma epistolar 
paulina, muito conteúdo e teologia paulina, e mesmo os associados 
de Paulo - mas apresenta-os sob o nome de Pedro.
Tradição petrina distintiva. A fonte primária da qual 1 Pedro tira 
seu material, conceitos e linguagem é uma corrente da tradição cris­
tã, elementos que estão, em última análise, enraizados no cristia­
nismo primitivo palestino . A tradição de 1 Pedro é frequentemente 
tradição judaico-cristã associada a Jerusalém, conforme documen­
tado pelos contatos com Tiago. Essa corrente de tradição tem sido 
reinterpretada e argumentada por um intenso engajamento com o 
mundo das religiões helenísticas, e recebeu uma forma estável na 
igreja romana durante a geração de 60-90 d.C. Embora essa tradi­
ção tenha raízes profundamente judaicas, não há indicação de que o
17 • Roma e a C onsolidação das Tradições 7 5 3
7 5 4 Introdução ao N ovo Testamento
autor tenha absorvido o tipo de tradições judaicas cultivadas nas 
academias rabínicas que, posteriormente, receberam depósito escri­
to na Mishnah, Midrashim e o Talmude. Não há contato literário 
direto entre 1 Pedro e os Manuscritos do Mar Morto, mas a combi­
nação das similaridades temáticas tais como eleição, purificação por 
um ritual com água, a comunidade como casa escatológica de Deus, 
interpretação escatológica da Escritura, a identificação da própria 
comunidade como o povo de Deus, e o chamado à santidade pode 
apontar para o estágio primitivo da tradição agora encontrada em 
1 Pedro, como tendo se originado na mesma linha de pensamento 
daquela de Qumran, ou seja, às margens do judaísmo palestino, na 
tensão com as autoridades religiosas dominantes.
Incluído como parte do depósito da tradição protocristã palestina 
está o kerygma primitivo do evento salvífico da morte e ressurreição 
de Jesus, e alguma reflexão das palavras de Jesus. Não há citações 
diretas do ensino de Jesus em 1 Pedro. A variedade de alusões às pala­
vras de Jesus é controversa, mas tentativas de detectar um grande nú­
mero delas não tem sido convincente para a maioria dos estudiosos.15 
Quaisquer que sejam os reflexos das palavras de Jesus em 1 Pedro, 
eles carregam os traços não de uma memória pessoal, mas de algo já 
incorporado à tradição parenética da igreja.
17.2.7 Gênero
Ao final do século dezenove e primeira parte do século vinte, 
muitos eruditos argumentavam que a maior parte de 1 Pedro não foi 
composta originalmente como uma carta. Já em 1887, A dolf H arnack 
confiantemente declarou que 1 Pedro era "um sermão e não uma 
carta", que uma homilia batismal (1,3 - 5,11) havia sido inserida poste­
riormente numa estrutura de carta.16 Em 1911, E. R. P erdelwitz refinou 
a teoria a fim de argumentar que 1,3 - 4,11 era um sermão batismal 
para os novos conversos, incorporado posteriormente a uma carta que
15 Cf. R o b e r t H. G u n d r y , "'Verba Christi' in I Peter: Their Implications Concerning 
the Authorship of I Peter and the Authenticity of the Gospels Tradition," NTS 13 
(1967), 336-350, e a resposta de E r n e s t B e s t , "I Peter and the Gospel Tradition," 
NTS 16, no. 2 (1970), 95-113.
16 A d o l f v o n H a r n a c k , Die Geschichte der altchristlichen Literatur bis Eusebius (2 vols.; 
Leipzig: Hinrichs, 1897,1904), 451-65.
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adicionou exortações para uma nova situação de perseguição. Essa vi­
são da composição do documento foi amplamente adotada. Contudo, 
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