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TUTORIAL 4 - GENÉTICA ● Tipos de obtenção de insulina para humanos e vantagens e desvantagens dos dois processos: As insulinas podem ser classificadas em humanas e análogos à insulina humana. A insulina de origem humana (NPH e Regular) é desenvolvida em laboratório, a partir da tecnologia de DNA recombinante e os análogos são preparações de insulina que sofreram alteração na cadeia de aminoácidos para melhorias no tempo de ação. A insulina pode ser obtida através da extração de células do pâncreas de bovinos e suínos, a insulina produzida pelo suíno é mais parecida com a humana. Os três tipos de insulina ( humana, suína e bovina) causam efeito semelhante no homem e são denominadas insulinas regulares ou simples ou de ” single peak” (único pico de ação). Só que a insulina humana é menos imunogênica (gera menos defesas imunológicas), enquanto a do boi é a mais imunogênica, por isso são selecionadas pela necessidade do paciente em adquirir efeitos rápidos ou mais lentos dessas substâncias. ● Por que a insulina recombinante é mais segura e como ocorre o processo de alergia: Apesar da semelhança entre a insulina bovina e suína à insulina humana, sua ligeira diferença pode ser notada pelo sistema imunológico causando reações alérgicas em alguns pacientes que acabam produzindo anticorpos contra o hormônio, neutralizando sua ação e resultando em respostas inflamatórias nos sítios de injeção. Outra preocupação eram as possíveis complicações a longo prazo, decorrentes da injeção regular de uma substância estranha. Ao injetar a insulina regularmente o sistema imune pode em algum momento identificar aquela substância como estranha, utilizando as células apresentadoras de antígeno para estimular a produção de anticorpos elas geram uma resposta alérgica à insulina. Já a insulina produzida pela tecnologia do DNA recombinante apresenta a vantagem de eliminar a possibilidade de contaminantes ou agentes infecciosos que podem estar presentes nas proteínas purificadas de animais. Além de não ser reconhecida como estranha porque foi sintetizada por DNA humano, então não gera resposta alérgica. A bactéria E. coli foi a primeira utilizada, mas atualmente, esse procedimento também é realizado utilizando células de leveduras, já que elas secretam uma molécula de insulina humana quase completa, com estrutura tridimensional perfeita. Isso minimiza a necessidade de procedimentos de purificação caros e complexos. A Saccharomyces cerevisae é a levedura predominante para produção de insulina em larga escala. Além das cepas de E. coli e leveduras, animais transgênicos e sistemas de expressão vegetais também podem ser empregados para a produção deste hormônio recombinante. ● Como obter uma Bactéria recombinante (tecnologia do DNA recombinante): As bactérias recombinantes são originadas pela clonagem genética. Considerando que as bactérias são seres assexuados, elas se dividem gerando outra bactéria, que é um clone idêntico a ela já que só tem um único material genético sendo compartilhado. Por isso, a técnica central do DNA recombinante consiste em clonar o material genético de interesse ao de uma bactéria hospedeira. O DNA tem que ser isolado a partir de enzimas de restrição, presentes em bactérias e com função de proteger seu material genético fazendo cortes no DNA quando elas são atacadas por bacteriófagos. As enzimas de restrição reconhecem porções específicas do DNA de 4 a 8 pares de bases e fazem cortes nessas regiões, um em cada fita da dupla-hélice. A primeira enzima descoberta foi da bactéria E. coli e hoje essas enzimas são purificadas em laboratórios. 1. As enzimas de restrição cortam a porção do DNA contendo o gene de interesse para o pesquisador. 2. Esse fragmento de DNA contendo o gene é multiplicado por PCR para obtermos várias cópias do mesmo fragmento (ou da mesma informação). 3. A enzima de restrição é utilizada para clivar o plasmídeo (DNA) bacteriano. Esses fragmentos de DNA do humano, ao ser cortado, gera pontas que são complementares ao plasmídio porque foram clivados com a mesma enzima. 4. O plasmídio clivado é misturado com os fragmentos de DNA humano (contendo o gene) e uma enzima chamada ligase “cola” os dois fragmentos, catalisando a ligação fosfodiéster e produzindo o DNA recombinante, que será introduzido em uma bactéria hospedeira. 5. A bactéria hospedeira é colocada em um meio nutritivo seletivo, apenas aquelas que possuem o DNA recombinante crescem, formando colônias. Após muitas gerações de bactérias, os genes expressam proteínas humanas, que são purificadas (separadas) das bactérias. A partir desse método é possível produzir várias proteínas humanas. ● Mecanismo de obtenção da insulina recombinante, desde a amplificação do DNA humano responsável pela síntese da insulina até as modificações pós traducionais realizadas em laboratório: 1. A insulina humana é extraída de células pancreáticas para obtenção do gene da produção de insulina que fica na porção superior do cromossomo 11, o DNA é clivado por enzimas de restrição na região específica contendo a informação para produção de insulina e multiplicado por PCR. 2. Um DNA plasmidial é extraído de uma bactéria e cortado com as mesmas enzimas de restrição que clivaram o DNA humano, formando um plasmídeo vetor. 3. O gene humano da produção de insulina é inserido no vetor plasmidial, tendo seus fragmentos selados pela enzima ligase, formando o DNA recombinante. 4. O DNA recombinante é introduzido em células bacterianas hospedeiras. As bactérias recombinantes multiplicam-se em um tanque de fermentação e produzem a insulina humana. A insulina é extraída e purificada, pronta para uso. - PCR: A Reação em cadeia da polimerase é uma técnica usada para gerar várias cópias do DNA, ela é feita por uma enzima DNA polimerase que faz novas fitas de DNA usando as existentes como moldes. A enzima utilizada é a Taq polimerase porque ela é muito resistente ao calor. Para esse processo ocorrer são colocados primers no DNA em locais que o pesquisador quer copiar, ao se ligar no primer a enzima passa a copiar a sequência de nucleotídeos específica. A Taq polimerase é colocada junto com os primers, cofatores que auxiliam a enzima e o DNA molde em um tubo de ensaio, esse tubo vai ser aquecido até 96º C, nesta temperatura o DNA desnaturado e suas fitas se soltam, gerando duas fitas simples. Em seguida resfria-se o tubo para 55º C para que os primers se liguem por complementaridade nas bases do DNA (anelamento). Por fim, eleva-se de novo a temperatura para 72º C que é a temperatura que Taq polimerase fica mais ativa, então ela começa a estender os primers e sintetizar novas fitas do DNA. Esse processo se repete 25-35 vezes e pode formar milhares de cópias. - Transformação da bactéria: após a clivagem e ligação do plasmídeo ao DNA de interesse é preciso introduzi-lo na bactéria. A bactéria é misturada aos fragmentos de DNA e aplica-se um choque térmico nele, este choque forma poros na membrana da bactéria que permite a passagem do DNA e ela acaba incorporando seu plasmídeo transformado. Mas nem todas as bactérias incorporam o plasmídeo, e nele tem um gene para resistência a um antibiótico, por isso as bactérias são colocadas numa placa junto ao antibiótico e só aquelas que adquiriram o plasmídeo resistente sobrevivem e formam colônias, as outras morrem e o pesquisador pega a bactéria de interesse. Depois é preciso fazer testes para observar se a bactéria adquiriu o plasmídeo de forma correta, porque algumas podem incorporá-lo ao contrário e para expressar o gene em bactérias e produzir uma proteína, o gene tem que apontar na direção correta em relação ao promotor, se o gene estiver ao contrário, a fita errada de DNA seria transcrita e não seria produzida proteína. - Cromatografia de purificação: as bactérias têm muitas proteínas e macromoléculas. Por conta disto, a proteína recém-formada precisa ser purificada (separada de outras proteínas e macromoléculas) antes de poder ser utilizada. Existe uma variedade de diferentes técnicas utilizadas para a purificação deproteínas. Em uma técnica chamada de cromatografia de afinidade, uma mistura de moléculas extraídas das bactérias decompostas é vertida em uma coluna, ou em um cilindro repleto de grânulos. Os grânulos são revestidos com um anticorpo, uma proteína do sistema imunológico que se liga especificamente a uma molécula alvo. O anticorpo na coluna é projetado para ligar-se à proteína de interesse, e não a quaisquer outras moléculas da mistura. Desta forma, a proteína de interesse fica presa na coluna, enquanto as outras moléculas são arrastadas. Na etapa final, a proteína de interesse é liberada da coluna e coletada para o uso. -Western blotting: é uma técnica utilizada para detectar proteínas específicas, no caso da insulina o Western blotting permite identificar se as proteínas desejadas foram fabricadas pela bactéria. Para realização da análise de Western blotting, são necessários os anticorpos específicos para a proteína em análise. As fontes destes anticorpos podem ser amostras de soro (por exemplo, de pacientes com infecções conhecidas), preparações de anticorpo policlonal purificado, ou os anticorpos monoclonais. A mistura contendo a proteína sob investigação tem seus componentes revelados por eletroforese em gel e as proteínas são transferidas para o papel de nitrocelulose. O anticorpo primário se liga à proteína-alvo e é imobilizado no papel. O complexo antígeno-anticorpo pode assim, ser identificado com os anticorpos que serão marcados por iodo radioativo e, assim, podem ser visualizados pelo procedimento de autorradiografia. ● Outros exemplos de produtos para uso em humanos obtidos pelo DNA recombinante: Um exemplo da potencial aplicação da expressão de proteínas recombinadas em intervenção terapêutica é a produção de anticorpos em plantas, visando seu uso em imunoterapia. As plantas são capazes de sintetizar e montar qualquer tipo de molécula de anticorpo, desde fragmentos até cadeias completas, produzindo uma grande quantidade de anticorpos. Outro exemplo é a terapia gênica por transferência de células retiradas do próprio paciente com retrovírus, ou outros tipos de vírus, com o intuito de repor um gene mutante ou para o tratamento de doenças multifatoriais como câncer e doenças cardíacas. A primeira terapia gênica realizada para substituir um gene mutante único, foi a terapia para a deficiência da adenosina desaminase (ADA), a qual consiste em implantar linfócitos T transfetados com retrovírus expressando a proteína ausente nos portadores desta doença.