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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS – DCEC Curso de Economia Resumo Beatriz Soares de Souza Ilhéus, BA julho/2022 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ – UESC DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS - DCEC Curso de Economia Resumo Beatriz Soares de Souza Trabalho apresentado como parte da avaliação da disciplina Formação econômica do Brasil, ministrada pelo Prof. Zilney Matos de Almeida. Ilhéus, BA julho/2022 Sumário A Importância da Análise Histórica-Econômica ........................................................................... 4 A Expansão Comercial Europeia, a Ocupação da América e os Modelos de Colonização ........... 6 A Colonização Efetiva ................................................................................................................. 8 O Perfil do Colonizador ............................................................................................................. 10 A solução Açucareira ................................................................................................................ 12 O Problema da Mão-de-Obra e a Solução Escravista ............................................................... 14 A Crise da Economia Açucareira ............................................................................................... 16 O Ciclo do Ouro ........................................................................................................................ 18 A Ocupação do Interior ............................................................................................................. 20 A Ruptura do Pacto Colonial .................................................................................................... 22 A Expansão Cafeeira ................................................................................................................ 24 A Abolição: Consequências ...................................................................................................... 26 O modelo primário exportador .................................................................................................. 28 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 30 A Importância da Análise Histórica-Econômica Através do conhecimento histórico-econômico podemos responder a questões quanto a situação socioeconômica de um país. Ademais, sabemos que a economia é uma ciência social aplicada, logo se faz necessário uma reintegração histórica para auxiliar a análise de questões envolvendo o desenvolvimento social. Nesse contexto, sem o conhecimento mínimo da história, o economista não conseguirá atuar de forma inovadora e criativa. A priori, a história econômica surge devido às transformações trazidas pela revolução industrial na Europa no século XIX. O livro capital de Karl Marx, pode ser considerado o marco fundador da história econômica, visto que aborda os elementos básicos da metodologia da história econômica, os quais são: uma doutrina econômica definida, uma doutrina histórica definida, o questionamento de tais doutrinas e a formulação de hipóteses claras. Ademais, o surgimento da história econômica correspondeu à necessidade de abandonar o método síncrono utilizados pelos clássicos para expor a formação das categorias da economia política e adotar uma abordagem contínua das ocorrências econômicas na vida das sociedades. Dessa forma, a história econômica busca introduzir o processo de produção econômica num contexto histórico-cultural temporal. Nesse contexto, as leis econômicas irão esclarecer mecanismos pelos quais se deu um processo, mas não explicam a lógica implícita desse processo. A teoria econômica busca formular corretamente os problemas básicos de uma pesquisa. No contexto histórico-econômico é importante fundamentar a respeito do tempo e movimento. O tempo é a permanência da realidade social, enquanto o movimento pode ser compreendido como o conjunto de modificações verificadas no processo econômico, como as elevações e quedas da produção, elevação de preços, dentre outras. A partir disso, é necessário abordar sobre o conceito de conjuntura, a qual é um corte do movimento temporal da sociedade. Logo, a conjuntura pode ser tanto econômica quanto social as quais se interagem na criação do fato histórico. Ademais, o conceito de estrutura pode ser definido como um conjunto de relações majoritárias e a interdependência entre o todo e a parte, é o movimento permanente ou permanência do movimento que a caracterizam. Através da análise estrutural, podemos abordar sobre a questão do crescimento o qual se relaciona com as modificações quantitativas que se refere as variações dimensionais e qualitativas que dizem respeito as variações estruturais que apresentam momentos de arrancada e desaceleração. Por fim, é fundamental abordar sobre a importância da disciplina de formação econômica do Brasil para os discentes do curso de economia. O economista deve identificar como um cidadão que habita em um determinado país, que fala determinada língua e que reproduz um tipo específico de cultura. Diante disso, o economista deve atuar do ponto de vista de sua sociedade. No entanto, o Brasil possui ponto de vista étnico e cultural muito variado e devido a tal formação histórica, o povo brasileiro não se vê no outro. Muito disso se dá devido aos diversos grupos étnicos e suas combinações. Logo, se faz necessário conhecer e refletir sobre a história socioeconômica do Brasil, pois se a economia não pretende permanecer vítima da história é fundamental redescobrir essa perspectiva histórica, porque tal perspectiva pode trazer sentido para futuros problemas e fundamentação para a teoria de amanhã. A Expansão Comercial Europeia, a Ocupação da América e os Modelos de Colonização A Sociedade durante a idade média constituía-se por três estamentos: os sacerdotes, nobres e servos. Ademais, conforme o pensamento medieval cada um destes grupos representava uma instituição divina. Na Europa Ocidental, tal estrutura era tão inflexível que descrevia a sociedade dividida em três ordens: os clérigos, os guerreiros e os trabalhadores. Os trabalhadores eram responsáveis por pela realização do trabalho que mantinham as demais castas. A medida de riqueza era determinada pela posse e propriedade de terra, que era dividida em feudos. Nesse contexto, a igreja católica era a instituição mais poderosa da época visto possuir o maior domínio das terras. O feudo compreendia uma aldeia e várias centenas de acres de terra arável onde o povo trabalhava. De outro modo, o feudo configurara-se como uma unidade política, econômica e jurídica, onde o senhor feudal exercia seu poder. Ao fim do século VIII, a Europa Ocidental regrediu ao estado de região exclusivamente agrícola. Logo, à terra é a única condição de riqueza, pois a existência social baseia-se na propriedade de terra. As relações entre os servos e os senhores feudais eram regidas por normas de suserania e vassalagem. Dessa forma, o servo devia total obediência e trabalho ao senhor feudal, enquanto este dava-lhe em troca o direito de arrendar uma faixa de terra para seu sustento. Além disso, o servo estava preso à terra e não lhe era permitido abondar o feudo, o servo não era considerado uma propriedade do senhor feudal, mas também não era um homem livre. A economia do período feudal pode ser caracterizada como uma economia fechada e autossuficiente, considerando que o comércio era quase inexistente e consistia apenas em trocas de poucas mercadorias as quaiseram necessárias para à reprodução do sistema. Além disso, como não havia um poder centralizado, não existia a possibilidade de arrecadação fiscal o que impedia o desenvolvimento de estradas e prestação de serviços. Ademais, como o feudo constituía uma unidade autônoma, havia enormes diversidades de pesos, medidas e moedas, o qual inviabilizava a prática das trocas. Por volta do século X, começou a surgir rachaduras na estrutural feudal quando cessaram as invasões bárbaras. Por conseguinte, ocorreu o aumento da população nos feudos, ocasionando a necessidade de aumentar a produção. Ademais, com o subterfúgio de reconquistar à Terra Santa, a nobreza feudal organizou-se e dirigiu-se ao oriente em busca de novas terras e produtos que pudessem ser comercializados na Europa. O movimento das cruzadas estava fundado a partir de diversos interesses, como a ampliação do domínio da igreja Católica, o avanço muçulmano através da igreja Ortodoxa, as terras que a nobreza buscava para cobrir suas dívidas e a segurança de manter o monopólio comercial por parte das cidades italianas. As cruzadas representaram grande mudança na estrutura econômica e na sociedade feudal e garantira a liberação do mediterrâneo para o transporte de mercadorias; possibilitaram o incremento das trocas de produtos orientais por artigos oriundos das regiões setentrionais da Europa; incentivaram o estabelecimento de feiras periódicas; geraram a necessidade de criação de uma polícia que garantisse a segurança; deram origem aos percursores dos banqueiros. Com a expansão comercial, ocorreu a desintegração do sistema feudal. Visto que a forma de organização feudal era incompatível com a burguesia. Em consequência disso, a burguesia lutou contra a forma de organização feudal, aliando-se ao rei o qual buscava aumentar sua autonomia. Durante o século XV, após a centralização do poder monárquico, Portugal passou a buscar novos territórios de modo a estabelecer feitorias e comercializar produtos de interesse para o mercado europeu. É nesse quadro de expansão comercial e territorial que começa a surgir as grandes navegações, e junto ao pioneirismo português, a Espanha também se concretizou como monarquia em decorrência da reconquista dos territórios controlados pelos árabes. Por conseguinte, surgiram as colonizações na América e os povos que colonizaram o continente não tinha a intensão de desenvolver o novo mundo. A partir das colonizações espanholas surgiram um tipo de colonização de exploração, a qual consistia em garantir às metrópoles a extração do máximo de riqueza possível das colônias. Com relação à colonização da América do Norte, a princípio não houve interesse europeu visto que as terras não possuíam produtos extrativos. A Colonização Efetiva A partir do século XV, convencionou o mundo moderno o qual pode ser caracterizado pelas grandes mudanças estruturais no mundo e transformações que fazem com ele seja qualitativamente diferente do mundo antigo. Dessa forma, ao fim do século XV nasceu a economia-mundo europeia. Ademais, é um sistema mundial, pois é maior que qualquer unidade política juridicamente definida. É uma economia- mundo porque o vínculo básico entre as partes do sistema é econômico ainda que esteja reforçado por arranjos políticos e estruturas confederativas. A partir disso, podemos considerar que a colonização é a parte integrante desse sistema mundial, tendo como consequência o descobrimento. Nesse contexto, surge o questionamento “por que foram os portugueses, habitantes de um dos menores países da Europa, os pioneiros da expansão marítima ocorrida a partir do século XV?”. A priori, é necessário abordar sobre as condições do continente europeu durante esse período: a gradativa desagregação do feudalismo, o crescimento das cidades, o renascimento do comércio, a formação de uma nova classe social, a busca por novos comércio e mercadorias, o êxodo rural, o fortalecimento monárquico, que com o tempo dá origem a uma nova forma de organização da sociedade. O pioneirismo português pode ser determinado na expansão marítima como resultado da procura de novas rotas de comércio com o Oriente, movimento acentuado pelo fechamento do Mediterrâneo, ocorrido a partir da tomada da Constantinopla pelos turcos, em 1453. Os portugueses, em decorrência do processo de centralização do poder monárquico durante o século XIV e de sua posição geográfica privilegiada, puderam reunir as condições para se lançarem em busca de uma rota comercial que permitisse à Europa manter acesso aos cobiçados produtos orientais. Portanto, a expansão marítima do século XV, ocorreu primordialmente pelos interesses comerciais europeus que estavam em jogo. Logo, o descobrimento da América nada mais é que um capítulo da história do comércio europeu. O Brasil possuía uma população rarefeita, organizada em tribos nômades, com domínio da agricultura e da criação de animais, onde tinha a possibilidade de extrair aquilo que necessitava para sobrevivência. A ocupação e o povoamento não se configuraram como objetivos para os portugueses, na verdade, não lhes restou alternativa. Ademais, diante das quantidades de metais preciosos que a Espanha extraía da América, outros países também se atiraram à tentativa de conquistar terras no novo mundo o que levou ao questionamento da soberania de Portugal sobre o Brasil. O litoral brasileiro passou a receber frequentes expedições, notadas por francesas e holandeses, o que constituía uma ameaça ao domínio português sobre o território. No entanto, em nenhum momento se perdeu de vista o próprio objetivo da expansão marítima, a qual era a busca por mercadorias que propiciassem altíssimos lucros ao comércio europeu. Dessa forma, a ocupação de terra só se justificaria, se dela fosse possível extrair riqueza. A partir disso, estabeleceu uma colonização fundada na produção de artigos tropicais, especialmente na cana-de-açúcar, a qual era o produto que mais propiciava lucros ao comércio europeu e os portugueses já dominavam as técnicas de plantio, armazenamento e transporte. Ao longo do processo de expansão comercial europeia iniciada no século XI, Portugal ocupou o papel principal. O sentido da colonização brasileira se deu através de uma vasta empresa comercial, mais completa que a antiga feitoria, mas sempre com o mesmo caráter que ela, destinada a explorar recursos naturais de um território virgem em proveito do comércio europeu. O Perfil do Colonizador Ao considerar a formação do povo português podemos partir dos primeiros lusitanos, onde encontra-se numa mistura de iberos, lígures e celtas, os chamados celtiberos. Após, as terras portuguesas foram visitadas por gregos, cartagineses, fenícios e romanos. Ademais, o penúltimo grande encontro de etnias deu-se com a invasão moura, e a partir disso, começaram a conviver muçulmanos, cristãos e judeus. Como contato final, ocorreu a introdução de negros africanos para o trabalho escravo no século XV. Dessa forma, podemos concluir que o povo português como conhecemos hoje advém desse encontro de etnias. Outro aspecto importante e que diz respeito à primazia portuguesa na expansão marítima, a qual se deveu ao fato de Portugal já ter se organizado como um Estado Nacional no século XIV, quando teve início a dinastia de Avis. Ademais, é essencial considerar que o pioneirismo português pode ser explicado pelo convívio com diferentes culturas. Complementar a isso, a aliança entre o soberano e grupos mercantis, possibilitaram a expansão do capitalismo comercial em detrimento do feudalismo, nos principais países da Europa. Ao analisar a história e o perfil do colonizador é importante ressaltar o conceito de aventureiro e trabalhador. A priori, para o aventureiro a mira de todo o esforço, o ponto de chegada, assume a relevância tão capital,que chega a dispensar todos os processos intermediários. Seu ideal será colher o fruto sem plantar a árvore. O trabalhador é aquele que enxerga primeiro a dificuldade a vencer, não o triunfo a alcançar, medindo todas as possibilidades e esperdícios, e sabe tirar o máximo proveito do insignificante, tem todo sentido bem nítido para ele. Observando a sociedade criada pelo português no Brasil, podemos facilmente encaixá-la no perfil do aventureiro. Os pioneiros não vieram para cá com o intuito de criar uma sociedade, ou mesmo reproduzir a sua própria. Nesse aspecto, desde o primeiro momento, o português que veio para o Brasil criou formas para se beneficiar do trabalho de outrem. O português foi o primeiro povo europeu a conviver com as dificuldades nas regiões tropicais do globo. Isto, deve, em grande parte, às diversidades étnicas e cultural de sua formação, já que havia experimentado outros momentos de contanto com culturas diferentes. Tal capacidade de se moldar a várias situações, pôde ser vista na África, Ásia, e, sobretudo, no Brasil. Entretanto, na experiência brasileira, os portugueses e seus descendentes imediatos foram inexcedíveis. Além da capacidade de se moldar à nova terra, o português também foi insuperável na miscigenação. Esse fenômeno foi implantado no Brasil pelo motivo de o português vinha de sua terra natal sem família. Os primeiros portugueses nascidos no Brasil eram fruto da dominação do homem branco sobre a mulher indígena. A moralidade do português nas terras brasileiras seria muito mais flexível que aquela verificada na Metrópole. Em primeiro lugar, devemos situar o papel dos proprietários de terras no Brasil. Estes, em suas posses, concentravam quase todos os poderes em suas mãos. Os poderes do Estado e da Igreja, por mais que presentes, faziam vistas grossas para as suas atitudes. Ademais, as opiniões dos religiosos acerca das posturas morais dos colonos assemelha-se a uma constatação feita em sermão dominical e tão ineficaz quanto. Em outro aspecto, a análise do perfil dos colonizadores que ocuparam as termas brasileiras, devemos considerar a respeito do desenvolvimento de um verdadeiro desprezo pelo trabalho manual. De fato, a palavra trabalho, não configurava o vocabulário dos colonos. E, o trabalho manual, figurava menos ainda. O peso da Igreja Católica e sua tentativa de perpetuar a ordem feudal em Portugal e em suas colônias, contribuíram para a retração das atividades manufatureiras. O personalismo português iria se refletir na organização do Estado. Em uma sociedade estruturada para o benefício de uma minoria e na qual a maior parte da população ou era escrava ou estava afastada da propriedade dos meios de subsistências, não podia existir qualquer laço duradouro de solidariedade entre os grupos sociais. Nesse sentido, de pioneiros no contexto europeu passaram a retardatários e, hoje, conformaram-se ao papel de meros caudatários no processo da união europeia. A solução Açucareira O cultivo de cana-de-açúcar foi o principal motivo pelo qual as terras brasileiras se mantiveram em mãos portuguesas por tanto tempo. Ademais, é necessário compreender o processo pelo qual Portugal conseguiu tonar rentável uma exploração colonial por meio da agricultura, visto que as experiências de colonização até então desenvolvida baseavam-se no comércio, na extração de riquezas naturais ou na pilhagem. Foi na organização das técnicas de plantio de cana-de-açúcar e na produção em larga escala que os portugueses criaram um modelo novo de colonização: a plantagem. A priori, é necessário considerar que os europeus utilizavam o açúcar em ocasiões especiais ou como artigo medicinal. O mel de abelha era o principal adoçante para culinária. Como consequência da expansão de sua técnica de produção, o açúcar deixou de ser um produto restrito a nobreza para atingir mercados consumidores mais amplos. A produção portuguesa, ampliou a oferta ao final do século XV, possibilitando o barateamento do produto, de tal forma que hoje poderíamos considerar uma commodity. Além disso, a disseminação do consumo do açúcar levou o Rei D. Manuel I, de Portugal, a baixar as normas restringindo sua produção de modo a estancar a queda dos preços. É necessário considerar o papel dos flamengos na ampliação do mercado consumidor, e foi essa popularização do açúcar que facilitou o crescimento da oferta mediante a produção brasileira. Os primeiros indícios da produção de açúcar no Brasil em abundância dizem respeito ao engenho fundado por Martim Afonso de Souza, em São Vicente, provavelmente em 1534. Apesar de seu estabelecimento no atual Estado de São Paulo, o cultivo da cana logo encontrou melhores condições climáticas e de solo na região nordestina conhecida como Zona da Mata, faixa de terra do Recôncavo baiano até a Paraíba. Foram nos estados da Bahia e de Pernambuco por volta do século XVI, que a produção alcançou grande escala, contribuindo para o desenvolvimento da colônia. Ademais, o primeiro engenho pernambucano data de 1539, e o baiano, de 1546. A atividade tomou tal grandeza que, conforme se pode inferir do relato de Pero de Magalhães Gandavo, por volta de 1560, havia 57 engenhados funcionando no Brasil, além de pelo menos cinco em construção. Além disso, a produção brasileira de açúcar beneficiou a experiência portuguesa, desenvolvida nas Ilhas do Atlântico, em meados do século XV. O empreendimento contava com o apoio de comerciantes italianos. No entanto, na medida que a produção portuguesa se ampliava, o monopólio dos italianos seria quebrado, possibilitando o sucesso da aliança formado por portugueses e flamengos, que viriam substituir os italianos. A aliança luso-flamenga viabilizou a implantação da indústria açucareira no Brasil. Além da experiência comercial dos holandeses, foi de suma importância para sua participação no financiamento para a construção dos primeiros engenhos no Nordeste brasileiro. Contudo, a estruturação da economia açucareira no Brasil encontrou dificuldades na insuficiência de trabalhadores para viabilizá-la. Devemos considerar a falta de mão-de-obra disponível em Portugal, visto que no próprio país ela se manifestava, verificando-se a escravidão negra na região do Algarve. A atração de trabalhadores somente seria possível através de salários compensadores, elevando custos, o que inviabilizaria a produção baseada em mão- de-obra livre. Além disso, a forma de ocupação do solo impunha um problema a mais, pois, diferentemente da experiência das ilhas do atlântico, onde havia pouca quantidade de terras disponível, a vastidão do território brasileiro possibilitava formas de utilização extensivas, através da produção em grandes unidades. A solução encontrada para os dois problemas foi a utilização de mão- de-obra escrava, primeiramente indígena, depois africana, o cultivo em latifúndios, em que o senhor de engenho, acompanhado de um seleto grupo de trabalhadores livres, organizava e controlava a produção. É importante considerar ainda o fluxo de renda criado na colônia por conta da produção açucareira. Apesar dos elevados preços do açúcar, o grosso acumulação de capitais verificam-se no âmbito de circulação. Ademais, não podemos esquecer o caráter mercantilista da economia colonial. Ainda assim, com poucos recursos gerados do aviltamento dos preços dos produtos metropolitanos, tais como: manufaturas, peixes, azeite, sal e vinho, e pelos juros pagos aos comerciantes flamengos, os quais, financiaram a instalação dos engenhos. Outra característica marcante do fluxo circular da renda da economia açucareira estava no fato de a renda disponível se concentrar nas mãos de um restrito número de senhores de engenho. A economia açucareira caracterizava-se pela concentração da renda e da produção, assim como de sua localização geográfica. O Problema da Mão-de-Obrae a Solução Escravista É primordial abordar a questão da adoção do escravismo como forma básica de organização do trabalho. Para isso, é necessário lembrar os principais traços e objetivos da própria colonização caracterizada principalmente pelo estabelecimento de um conjunto de relações entre a metrópole e a colônia, convencionalmente chamado de pacto colonial. A priori, devemos considerar o caráter da expansão mercantil e colonial da Europa do século XVI, cujo impulso primordial era a aceleração da acumulação capitalista nos quadros da economia europeia. Nesse aspecto, a organização da colônia foi orientada para a produção de artigos comercializáveis na Europa, especialmente produtos tropicais e metais preciosos, necessários ao incremento da circulação de mercadorias. No caso da América Espanhola, a dominação e o saque dos territórios garantiram à metrópole a extração e a apropriação do outro e da prata em grandes quantidades. Quanto ao Brasil, a aparente inexistência de metais condicionou os portugueses a procurarem organizar colonização com base na produção açucareira voltada para o mercado europeu. Ademais, no quadro mais amplo da economia global, verifica-se que as colônias se configuraram, desde o início, como setores produtivos especializados dentro das grandes rotas comerciais. Em consequência de tais objetivos, foram adotados em toda a América formas de trabalho compulsórias, nas regiões mineiras colonizadas pela Espanha, por meio da servidão; nas demais foi implantado o escravismo que se tornou o regime de trabalho preponderante no continente. Ademais, a implantação do trabalho assalariado na colônia representaria, evidentemente, uma grande limitação a esses objetivos, principalmente considerando-se a quantidade de terras disponíveis, o que poderia levar os trabalhadores a se transformarem, com o tempo, em proprietários. Dessa forma, a simples transferência de mão-de-obra da metrópole para a colônia constituiria um entrave à acumulação. Ademais, deve-se considerar a pequena população portuguesa da época, insuficiente para fornecer a quantidade de braços necessários à tarefa da colonização sem que os salários se tornassem por demais elevados. Por outro lado, dados os custos, a produção colonial só se tornaria economicamente viável se pudesse ser organizada em larga escala, o que pressupunha enormes investimentos iniciais. Assim, desde logo estava afastada a possibilidade de se estabelecer uma colonização com base na pequena propriedade autônoma ou no trabalho assalariado. Outro aspecto curioso é o motivo pelo qual não foram utilizados escravos nativos. Por volta de 1580, a predominância dos negros era absoluta, uma das razões para a substituição do índio pelo africano foi a oposição da Igreja Católica à escravização dos indígenas. Dessa forma, na substituição dos indígenas por negros, um dos pontos que talvez tenha importado é a rarefação demográfica dos aborígenes, e as dificuldades de seu apresamento e transporte. Logo, a não- adoção sistemática da escravidão indígena são insatisfatórias e insuficientes algumas explicações correntes na historiografia. Além disso, o tráfico negreiro constituía um dos mais importantes setores do comércio mundial o qual gerava altos lucros e permitia a acumulação de grandes capitais na Europa. Um último aspecto a ser ressaltado diz respeito à questão da forma assumida pelo tráfico no continente africano pois a África surge como um imenso viveiro de força de trabalho, ainda no século XVII, sua população equivalia à da Europa e representava um quinto da população do globo. Ademais, sua localização fronteira com relação à América viabilizava o transporte de escravos. Portanto, é possível concluir que o escravismo colonial e, especificamente, o escravismo africano não deve ser entendido como uma opção por um tipo de trabalhador supostamente dócil e disciplinado, mas sim como uma imposição das condições econômicas e históricas da época, porquanto a colonização, desde o início, se configurou como uma empresa comercial, com necessidade de se adaptar ao objetivo primordial da expansão mercantil e colonial, da promoção e acumulação capitalista. Ademais, a sociedade escravista brasileira não foi uma criação do escravismo, mas o resultado da integração da escravidão da grande lavoura com os princípios sociais preexistentes da Europa. A Crise da Economia Açucareira A implantação da economia colonial no Brasil, correspondeu à estruturação da indústria açucareira, cujas características básicas são: monocultura, latifúndio, produção de artigos tropicais para mercado externo, mão-de-obra escrava e a imposição do exclusivo metropolitano. Ademais, a indústria açucareira constituiu uma extraordinária fonte de riqueza para a metrópole lusa, tornando-se o Brasil o maior produtor mundial durante o século XVI. Todavia, essa economia entraria em declínio a partir do século XVII, levando Portugal a perder o seu lugar como potência mundial o que provocou a alienação de sua soberania. Ao longo de quase todo o século XVI, Portugal logrou derrotar os invasores e manter a soberania sobre a colônia. Esse domínio entrou em crise a partir de 1580, quando a monarquia lusitana passou a ser controlada pela Espanha, em decorrência da questão sucessória que levou ao fim da Dinastia de Avis. Assim, tendo em vista a incorporação de Portugal ao Império espanhol, esta provocou as primeiras disputas entre o reino lusitano e os Países Baixos, que tiveram início já em 1595, quando os holandeses promoveram a pilhagem de feitorias lusitanas na costa da África. Logo depois, atacaram Salvador. Mas a trégua assinada entre Espanha e Holanda suspendeu por algum tempo as escaramuças. A partir de 1621, o conflito seria retomado, sobretudo depois da criação da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais. Entre 1624 e 1625, ocorreu a primeira invasão Holandesa ao Brasil, tendo como alvo a Bahia. Em 1630 houve um novo ataque, dessa vez em Pernambuco. De qualquer forma, os batavos conseguiam permanecer em Pernambuco por mais de duas décadas, o que foi possível, em grande medida, pela administração imposta pelo Conde João Maurício de Nassau-Siegen, o qual era figura do renascimento. Com o fim domínio espanhol, em 1640, não significaria o término da guerra contra holandeses. A luta pela expulsão dos holandeses continuou mesmo depois do fim da denominação espanhola, principalmente porque os Países Baixos não mais pretendiam renunciar à área conquistada no Nordeste brasileiro e dos lucros auferidos com o controle direto sobre a população açucareira. Finalmente, Portugal conseguiria retomar para si o território após noves anos de guerra (1645-1654). Apesar da vitória militar, as consequências das invasões seriam economicamente desastrosas para Portugal. As exportações brasileiras encontravam, pois, a partir da segunda metade do século XVII, um poderoso concorrendo no açúcar antilhano, e não apenas naquele produzido em colônias holandesas, mas também em ilhas ocupadas pela Inglaterra e pela França. Efetivamente, esses países iniciaram a ocupação de seus territórios no Caribe por meio do estabelecimento de pequenas propriedades organizadas em torno de núcleos de povoamento europeu. A partir da organização de áreas produtoras de açúcar pela Holanda, este país passou a colaborar com as colônias inglesas, fornecendo crédito para compra de equipamentos e escravos. Ademais, o desenvolvimento da produção açucareira na região contribuiu também para o crescimento das economias nas colônias inglesas da América do Norte. Verificou-se a organização de um inédito sistema econômico quadrangular no Novo mundo, integrando pelo comércio as colônias de exploração antilhanas e as zonas de povoamento da América do Norte, o que permitiria, o desenvolvimento das treze colônias. Todavia, para o Brasil, asconsequências de todas essas transformações seriam graves e duradouras, pois de dominador absoluto do mercado, o açúcar brasileiro passa à posição de competidor. Já para Portugal, os resultados seriam, do ponto de vista político e econômico, catastróficos. É importante assinalar que do Brasil, Portugal ainda tentaria extrair, por meio da exploração das riquezas naturais, a possibilidade de sua sobrevivência como nação soberana: a partir do século XVIII, o ouro brasileiro, jorrando em grandes quantidades permitiria a metrópole manter uma aparência de prosperidade. O Ciclo do Ouro Ao reconquistar a autonomia política, em 1640, Portugal encontrava-se em situação bastante frágil, considerando que, além de haver perdido a maior parte dos entrepostos comerciais do Oriente durante o domínio espanhol, e ainda depois dele, enfrentava agora a concorrência da produção antilhana de açúcar e a consequência baixa dos preços do produto brasileiro. No final do século XVII, era evidente que os acordos assinados com o governo britânico não seriam capazes de solucionar a crise econômica decorrente da decadência da produção açucareira. A esperança voltar-se-ia, então, para as primeiras descobertas de ouro, realizadas ainda durante a década de 1690 por exploradores paulistas. Com a descoberta de ouro, teria início um novo ciclo na economia colonial, alterando-se também as relações entre Portugal e o Brasil. De fato, o ouro extraído do Brasil daria novo impulso aos negócios portugueses e seria parcialmente responsável pelo financiamento da revolução indústria. Com a descoberta do ouro e diamante no Brasil e a sua exploração em escala até então sem precedentes tiveram várias e profundas repercussões no mundo português. Em primeiro lugar, conduziu uma grande percentagem da população das religiões costeiras do Pernambuco e Rio de Janeiro. Em segundo lugar, ao mesmo tempo que estimulava enormemente economia colonial, ajudando a resolver uma crise econômica. Em terceiro lugar, o aumento da procura de escravos oeste- africanos para as minas e plantações do Brasil conduziu a um aumento correspondente do comércio esclavagista com a África ocidental e à procura de novos mercados de escravos nessa região. As primeiras descobertas de ouro levaram para a região das minas um grande contingente de pessoas, e logo atraíram a atenção e fiscalização dos portugueses. Ao mesmo tempo em que chamavam a atenção da coroa, as jazidas de ouro atraíam também levas de forasteiros, vindos não só de Portugal, mas também da Bahia, Pernambuco e do Rio de Janeiro. De qualquer forma o ouro continuava a jorrar em grandes quantidades e as primeiras medidas impostas pela Metrópole logo se mostraram insuficientes para evitar o contrabando. Em 1713, houve a primeira tentativa de estabelecimento de Casas de fundição e o ouro só poderia circular fundido em barras com o selo real. Em 1719, procurou-se implantar as casas de fundição mais uma vez, a oposição generalizada inviabilizou o regime. Somente em 1725 começaria a funcionar a primeira casa de fundição. O ciclo da mineração mão ficou restrito ao ouro. Simultaneamente, iniciou-se a exploração de diamantes, especialmente no Distrito Diamantino. As primeiras descobertas datam de 1729. Diante disso, o governador foi obrigado a comunicar o achado a Lisboa e a Fazenda Real logo impôs normas rígidas sobre a região. A partir de então, a exploração constituiria um privilégio concedido a poucas pessoas, obrigadas a pagar uma quantia fixa pelo direito de extração. A mineração provocou mudanças consideráveis na vida da colônia. A ocupação do território, que desde o século XVI se dera sobretudo nas terras próximas ao litoral, agora se dirigia para o interior. A organização social, até então fundada nos grandes centros de produtos de açúcar no Nordeste, passou a ser Centro-sul do País. Portanto, verifica-se que a economia mineira foi responsável por transformações significativas na vida brasileira, sendo a principal delas o estabelecimento de uma civilização urbana em torno das regiões auríferas. É primordial ressaltar que, apesar da extraordinária riqueza gerada, o ouro brasileiro não contribuiu para que Portugal retomasse o papel de grande potência. Pelo contrário: acentuou sua dependência em relação à Inglaterra, que pôde tirar proveito da transferência de enormes quantidades do mental para o pagamento das importações lusitanas, obtendo recursos necessário para o financiamento da Revolução Industrial. A Ocupação do Interior A partir do final do século XVI o domínio espanhol e as tentativas holandesas de controle de parte do território brasileiro, o movimento das bandeiras tomaria novo impulso, em decorrência das dificuldades de obtenção de mão-de-obra africana, já que as guerras entre Espanha e Holanda haviam desorganizado o tráfico para as colônias da América. Além do interior de São Paulo e de Minas Gerais, a Amazônia também constituiu um foco inicial de atração. Primeiramente espanhóis, partindo de Quito, percorreram a região no sentido Oeste-leste, em busca de um suposto paraíso tropical, conhecido nas lendas europeias como El Dorado – uma terra que jorraria ouro e que seria habitada por um povo guerreiro, cujas mulheres seriam excelentes cavaleiras. A penetração das ordens religiosos não se limitou à região Amazônica, tendo em vista seus propósitos confessionais. As ordens fundaram missões não apenas na região norte, mas também na região sul, particularmente a área que atualmente cobre as fronteiras entre Brasil, Paraguai e Argentina. Os religiosos estabeleciam- se nessa região onde organizavam núcleos de povoamento indígena, supostamente para protegê-los dos colonizadores brancos. Vistas as condições em que se deu a ocupação do interior da capitania de São Vicente, do Vale Amazônico e da região compreendida por Brasil, Argentina e Paraguai tinha como objetivo o abastecimento de engenhos dessas regiões. O crescimento da produção na zona açucareira logo constituiria um estímulo à expansão dos currais, o que gerou conflitos entre criadores e proprietários de engenho. Isso se deve ao fato de que a plantação da cana era feita de maneira extensiva, ou seja, não havia qualquer preocupação com a preservação do solo, uma vez que o imenso território da colônia permitia que as culturas fossem transferidas de local. O conflito acabou por empurrar a criação de gado cada vez mais para o interior do Nordeste, e as fazendas fixaram-se na zona semiárida e no sertão, impróprios para o cultivo. De qualquer forma, o crescimento cada vez maior da produção açucareira levou também ao surgimento de novas sesmarias. Por sua vez, as novas sesmarias contribuíram também para a expansão das áreas de criação de gado. A ocupação da região das minas abriria uma nova fronteira para a criação de animais. A alta dos preços e a insuficiência do abastecimento incentivou a instalação de fazendas, não só no interior de Minas Gerais, mas também Goiás e Mato Grosso do Sul. Ademais, o interior do Paraná, de Santa Catarina e, inclusive, os pampas do Rio Grande do Sul começaram a ser também ocupados por gado oriundo das missões jesuíticas e que era comercializado em centros do interior de São Paulo. Com a expansão das estâncias de gado no Sul, a produção desses artigos também seria exportada para o Norte da colônia. Quanto ao sal, o crescimento da população no Centro-Sul da colônia levaria ao aumento do consumo. Além do gado bovino e das salinas, um outro fator que contribuiu para a ocupação territorial foi a criação de equinos. O cavalo foi reintroduzido na América pelos europeus, e o aumento do rebanho foi estimulado, dada a sua importância como meio de transporte. Já a criação de mulas foi incentivada pelo aumento da produção mineira, que gerou a necessidade de transportedo ouro para o porto do Rio de Janeiro. A criação de animais permaneceu, ao longo de todo o período colonial, como uma das poucas atividades que não foram submetidas ao controle absoluto da Coroa, dando origem a uma camada de homens livres. A Ruptura do Pacto Colonial Até o final do século XVII, verificava-se na Europa o predomínio do capital comercial, em que o processo de acumulação dava-se, primordialmente, na esfera da circulação se mercadorias. Dentro desse quadro, o sistema colonial exercia um papel fundamental, uma vez que garantia às burguesias metropolitanas o fornecimento de produtos que alcançavam elevados preços no comércio internacional, permitindo, dessa forma, o aumento da acumulação. Após séculos de riqueza proveniente do comércio, a indústria finalmente assumia o predomínio da economia europeia. O desenvolvimento industrial, porém, era incompatível com a existência de monopólios. A expansão da indústria requeria a conquista de mercados cada vez mais amplos, não apenas consumidores, mas também fornecedores de matérias-primas Ademais, ao processo de desenvolvimento industrial corresponderia o início do questionamento de todos os monopólios, entre os quais se incluía, evidentemente, o pacto colonial. Aliás, as investidas contra o pacto colonial não seriam conduzidas apenas por vozes ligadas aos interesses da indústria britânica. Também no Brasil houve manifestações de oposição à sua vigência. Diante desse quadro, Portugal começaria a sofrer pressões para afrouxar as restrições que impunha ao comércio do Brasil, sua principal colônia. O episódio da vinda da Família Real para o Brasil está diretamente ligado às guerras napoleônicas e à luta entre França e Inglaterra pela hegemonia econômica e política mundial. Em 1806, Napoleão decide derrotar a Inglaterra pelo “Bloqueio Continental”. Ainda no início de 1807, tendo em vista esses objetivos, Napoleão forçou os russos a aceitarem a sua política, de que era peça fundamental o bloqueio da Europa ao comércio inglês. Assim, em agosto de 1807, o governo de Lisboa recebia a nota franco-espanhola exigindo que Portugal declarasse guerra à Grã- Bretanha. Evidentemente, Portugal não poderia resistir militarmente às forças napoleônicas, e a derrota era certa. A Inglaterra, por sua vez, não permitiria um abalo tão grande em seus interesses econômicos. Em face dessa perspectiva, a saída apontada pelos diplomatas britânicos foi a transferência da Família Real para o Rio de Janeiro. Em 29 de Novembro de 1807, o Príncipe Regente D. João VI partiu com a Família Real para o Brasil. Algumas medidas tinham que ser tomadas para a época em que terminasse o bloqueio na Europa, e as outras nações concorressem com a Grã-Bretanha no Brasil. Foi assim que, entre 1809 e 1810, foram assinados dois tratados, que conferiam imensos privilégios econômicos e políticos à Inglaterra. O primeiro deles era, no dizer de Nelson Werneck Sodré, um modelo de perfeição quanto às concessões, pois concedia tudo, suavizando por vezes as concessões com o mito da reciprocidade. O segundo versava, basicamente, sobre normas de comércio e navegação e, entre outras cláusulas, garantia aos navios ingleses o direito de pagar no Brasil as mesmas taxas que os navios portugueses pagavam nos portos britânicos. As consequências, contudo, seriam muito mais amplas. alguns setores da sociedade portuguesa tentariam, por meio da Revolução do Porto, reverter a situação, exigindo a volta da Família Real a Portugal e reimplantando o pacto colonial. Em face da possibilidade de reimplantação plena do pacto colonial, tomaram vulto as manifestações favoráveis à emancipação. A independência viria, pois, como resultado da confluência dos interesses pessoais de D. Pedro com os dos grandes proprietários de terra, empenhados em evitar as consequências de uma rebelião popular que pudesse pôr em risco seus privilégios. Diante disso, a diplomacia britânica tratou de intermediar o reconhecimento da independência, defendendo principalmente os interesses da Inglaterra, em 1827, o Brasil assinou acordo com a Grã-Bretanha, em que, além de se comprometer a extinguir o tráfico negreiro dentro de quatro anos, garantia a manutenção dos direitos de 15% sobre as importações britânicas. Conseguia a Inglaterra, depois da independência, manter a economia brasileira submetida aos objetivos do expansionismo comercial britânico. A Expansão Cafeeira A extração de ouro e de pedras preciosas monopolizou a atenção da Metrópole portuguesa durante a maior parte do século XVIII. O declínio da mineração acentuou-se no último quartel do século XVIII. O esgotamento das jazidas não foi acompanhado, naquele momento, por outra atividade que pudesse manter o nível de vida alcançado no auge do processo. Apesar dessa decadência, a mineração criou as bases para o desenvolvimento da principal atividade que a sucedeu: a cultura cafeeira. A introdução do café no Brasil ocorreu ainda no início do século XVIII. A maneira como se deu a introdução das primeiras mudas no País é incerta. Vale notar que a introdução do café deu-se por contrabando de forma semelhante à saída das primeiras mudas de seringueiras da Amazônia. Mesmo assim, a plantação de café se difundiria pelo território brasileiro, alcançando o Rio de Janeiro ainda em meados do século XVIII. O crescimento do consumo mundial de café, associado à crescente urbanização e à industrialização que tomavam curso na Europa, favoreceu o desenvolvimento da cultura cafeeira. Entretanto, o desenvolvimento do cultivo encontraria limitações em dois pontos fundamentais: o fornecimento de mão-de- obra e os custos de transportes. A escravidão atingiria, durante o século XIX, o seu auge, pois a expansão cafeeira exigiria um fluxo constante de mão-de-obra escrava. O final do tráfico, em 1850, estimularia o comércio interno de escravos, verificando-se um deslocamento das regiões estagnadas para a região cafeeira. Devemos considerar também, como um agravante da crise de mão-de-obra, o fato de que a “vida útil” de um escravo era de aproximadamente sete anos. Apesar das resistências dos cafeicultores, a extinção do tráfico indicava, para um futuro não muito distante, a abolição da escravatura. Por mais que a mata pudesse ser derrubada para as novas plantações e que o problema da mão-de- obra fosse solucionado, ainda existia a restrição imposta pelos custos de transporte. Até a implantação das primeiras ferrovias, o principal meio de escoamento da produção era a nula. A introdução das primeiras ferrovias permitiria a superação das restrições impostas pelos meios de transporte, fazendo que o café se expandisse para uma região fértil: o Oeste Paulista. É importante assinalar que as ferrovias seriam implantadas com técnicas e capitais britânicos, embora o governo brasileiro tenha tido uma participação direta no seu desenvolvimento, por meio da constituição de empresas, das quais era o principal acionista, e também pela concessão de aval aos empréstimos obtidos na Inglaterra. Além da implantação do transporte ferroviário, um outro fator contribuiria para esta grande expansão cafeeira: trata-se da introdução da mão-de-obra imigrante nas novas regiões produtoras. Na verdade, aproveitando-se da desestruturação da agricultura europeia, a partir de meados do século XIX, os produtores paulistas iniciaram o aliciamento de famílias para as suas plantações de café. Viu-se que a introdução do transporte ferroviário e a implantação do trabalho de imigrantes viriam a eliminar os dois grandes entraves à expansão da agricultura cafeeira. A partir de então, o café tornar- se-ia o principal produto da economia brasileira. A Abolição: Consequências Apesar do papel centralexercido durante a época mercantilista, ao iniciar-se o século XIX, o tráfico negreiro e a própria escravidão seriam postos em xeque. Passou-se a criticar a escravidão em nome da moral, da religião e da racionalidade econômica. Descobriu-se que o cristianismo era incompatível com a escravidão; o trabalho escravo menos produtivo do que o livre; e a escravidão uma instituição corruptora da moral e dos bons costumes. Foi com esses argumentos que a escravidão e o tráfico passaram a ser questionados, especialmente pela Inglaterra, que pretendia remover todos os obstáculos ao avanço triunfante do capitalismo industrial, entre os quais se incluíam aqueles que limitavam a expansão do mercado. O combate ao tráfico negreiro tornar-se-ia, doravante, um problema internacional. Os reflexos no Brasil não demorariam a se fazer sentir, tanto que, dos tratados de 1810 já constava a exigência de abolição gradativa do comércio de escravos, cláusula que foi renovada no acordo de 1827, pelo qual, entre outras medidas, o governo brasileiro se comprometia a acabar com o tráfico em 1831. Contudo, a oposição dos grandes proprietários seria imensa. Os grandes proprietários rurais de forma alguma poderiam concordar com a adoção de medidas que, a médio prazo, provocariam a extinção do escravismo, sustentáculo de seu poder econômico e, consequentemente, de seu domínio político. Em face da pressão dos grandes proprietários de terras, a cláusula do Tratado de 1827 que determinava a extinção do tráfico negreiro em 1831 tornar-se-ia letra-morta. A Inglaterra não aceitaria o descumprimento do acordado, passando a tomar o tráfico como pirataria. Assim, até meados da década de 1840, a questão permaneceria insolúvel: de um lado, a Inglaterra, que exigia o cumprimento do acordo que determinava a extinção do tráfico, de outro, o governo brasileiro que, controlado pelos grandes proprietários, não se preocupava em cumprir a lei. A eliminação do tráfico significava, a médio prazo, o fim da escravidão. Os grandes fazendeiros, especialmente aqueles ligados à agricultura cafeeira, passaram, então, a exigir soluções alternativas para o problema da obtenção de braços para a lavoura. Como já foi assinalado, a substituição do escravo pelo trabalhador estrangeiro seguiu, num primeiro momento, a proposta feita pelo Senador Nicolau de Campos Vergueiro. Contudo, logo surgiram atritos entre proprietários de terras e trabalhadores, devido aos expedientes usados pelos fazendeiros para tornar a dívida dos trabalhadores perpétua. Assim, rebeliões contra os maus-tratos eram frequentes, dado o inconformismo dos estrangeiros com a condição a que eram reduzidos. A extinção do escravismo era, portanto, uma questão de tempo. Mas, enquanto a escravidão não fosse oficialmente abolida, haveria necessidade de se encontrar uma solução para a carência de braços na agricultura. Esta viria, finalmente, por meio da implantação do assalariamento. Desde a década de 1850, o Brasil vinha assistindo a um processo de modernização. Os vultosos capitais comprometidos num comércio que originara algumas das maiores e mais sólidas fortunas brasileiras achavam-se agora disponíveis. Além disso, a lei Eusébio de Queiroz produzira uma relativa normalização nas relações entre Brasil e Inglaterra. O resultado foi um crescimento extraordinário e uma alteração na própria estrutura econômica. Surgiram bancos, indústrias e empresas comerciais, além de ter havido a ampliação dos meios de comunicação e de transportes. O movimento abolicionista conheceria, a partir de então, um grande crescimento, estimulado pelo fato de, nas zonas urbanas, a mão-de-obra cativa não ser mais indispensável. (...) Todavia, a luta pelo fim da escravidão mostrar-se-ia longa, pois embora o movimento abolicionista crescesse, as forças escravistas ainda lograriam algumas vitórias. A solução final viria em 1888, com a assinatura da Lei Áurea, a lei que aboliu a escravidão do Brasil. As consequências porém, seriam amplas. Tendo perdido a sua principal base de apoio, o Império seria posto abaixo apenas um ano e meio depois do fim da escravidão, e as camadas dominantes encontrariam na República uma nova forma de organização política que lhes permitisse defender os seus interesses. Um último aspecto a se considerar diz respeito à própria deformação das mentalidades provocada pela escravidão. A escravidão deixava, pois, sua marca sobre o futuro, traduzida em racismo e exclusão social. O modelo primário exportador A economia brasileira – como, de resto, toda a economia latino-americana – organizar-se-ia, entre o final do século XIX e a crise de 1929, de acordo com o modelo primário-exportador. Ou seja: apesar de formalmente independente, o país mantinha a sua produção voltada para o fornecimento de artigos primários destinados a abastecer o mercado externo. É necessário remontar ao período correspondente à primeira fase da Revolução Industrial. Esta constituiu-se numa das mais extraordinárias transformações da História, pois, pela primeira vez, o homem não mais estaria sujeito às intempéries e às variações climáticas para conseguir prover a sua subsistência. Portanto, para se compreender a extensão das transformações provocadas pela revolução industrial, deve-se atentar para os reflexos que o fenômeno engendrou nas economias agrárias ou naquelas em que havia pouco avanço tecnológico. A atividade industrial permite romper os limites enfrentados pelas economias agrárias e aumentar a produtividade. O resultado é o aprofundamento da divisão de trabalho por meio de uso de máquinas cada vez mais complexas em maior quantidade. A partir de então o mundo assistiria ao processo de aprofundamento da Revolução Industrial, que entraria em sua segunda fase – correspondente, como se sabe, ao desenvolvimento do setor de transportes e das indústrias química, petrolífera e de base. Nessa etapa, consolidou-se, do ponto de vista político e ideológico, o livre- cambismo. Ao mesmo tempo, ampliou-se o sistema de divisão internacional do trabalho baseada no mercado mundial, em que a especialização não se limitava mais apenas aos trabalhadores de um mesmo setor, mas incorporava a esse sistema áreas e países inteiros. Podemos resumir as características do sistema econômico mundial a partir da segunda metade do século XIX da seguinte forma: Crescimento econômico acentuado em muitos países que integram o sistema capitalista; Dinamização demográfica; Formação e expansão de um fundo de conhecimentos técnicos transmissíveis; Internacionalização crescente das economias industrializadas europeias e dos países exportadores de produtos primários; Desenvolvimento de países distantes da Europa; Aumento das transações financeiras internacionais; Crescimento do fenômeno do imperialismo e surgimento do neocolonialismo. Não obstante a autonomia política ter sido obtida em 1822, a economia brasileira continuou reproduzindo as características básicas do modelo colonial ao longo de quase todo o século XIX. Tais características podem ser assim resumidas: latifúndio, monocultura, produção em larga escala, mercadorias tropicais destinadas aos países temperados, abastecimento de manufaturas por meio de importação e mão-de-obra escrava. No caso da economia mercantil-escravista cafeeira nacional, estava ela baseada na acumulação de capital feia ainda nos tempos coloniais. O capital mercantil, oriundo do tráfico de escravos, o capital usurário urbano, o comércio de mulas, etc. O comissário de café foi o principal agente na organização e na centralização de capital que facilitou a criação das primeiras fazendas. Mesmo que o fazendeiro já dispusesse de terras e escravos, restava o problema do custeio de despesas correntes e, neste ponto, a presença do comissário se fazia imprescíndivel para a maior parte dos novos propietários. O desenvolvimentodo capitalismo na economia cafeeira contribuiu para o declínio político dos fazendeiros escravistas, centralizados na região do Vale do Paraíba e principais sustentáculos do regime monarquico. A abolição da escravatura em 1888, foi a gota d’água que fez transbordar os último resquicios do equilíbrio de forças que matinham o império. Os fazendeiros de café das regiões modernizadas, no caso, o Oeste Paulista,estiveram na linha de frente da campanha republicana, reivindicando o fim da centralização no Rio de Janeiro e a adoção de u federalismo nos moldes da constituição dos Estados Unidos, com o qual poderiam estruturar um Estado que pudesse atendê-los sem nenhum entrave ou restrição. REFERÊNCIAS MENDONÇA, Marina Gusmão de; PIRES, Marco Cordeiro. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.