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GUIA PARA PRESCRIÇÃO DE PROBIÓTICOS O que são probióticos? “Microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas podem conferir benefícios à saúde do hospedeiro” (FAO, 2011). Probióticos são considerados suplementos alimentares; assim, eles não são considerados medicamentos, e, portanto, não são regulados pela Food and Drug Administration. O que são MAMPs (padrões moleculares associados a microrganismos) ou Bio-MAMPs®? São fragmentos ativos na forma de lisados proteicos obtidos de cepas probióticas que recebem tratamento térmico-tecnológico específico para viabilidade da liberação de fragmentos vivos. Em resumo, são cepas “mortas”, assim, os fragmentos dos probióticos são capazes de ativar o sistema imunológico do hospedeiro. Lisados microbianos, bactérias mortas (conhecidas como MAMPs ou Bio-MAMPs®) e esporos não podem ser considerados probióticos. Que tipos de microrganismos são os probióticos? Os probióticos podem conter uma variedade de microrganismos. Entretanto, os mais estudados e aceitos para a suplementação são as bactérias que pertencem aos gêneros denominados Lactobacillus e Bifidobacterium. Cada um desses dois grandes gêneros inclui várias espécies e pode incluir subespécies. Bactérias de outros gêneros também podem ser utilizados como probióticos, assim como leveduras Saccharomyces boulardii. Principais microrganismos utilizados por suas propriedades probióticas: Lactobacilos Bifidobactérias Fungo Outros Lactobacillus acidophillus; L. casei; L. casei cepa Shirota; L. rhamnosus; L. reuteri; L. delbrueckii; L. bulgaricus; L. plantarum; L. fermentum; L. johnsonii; L. rhamnosus; L. gasseri; L. helveticus; L. paracasei; L. esporogenes. Bifidobacterium bifidum; B. lactis; B. breve; B. infantis; B. longum; B. animalis. Saccharomyces boulardii. Enterococcus faecium; Lactococus lactis; Bacillus coagulans; Streptococcus salivarius subs. Thermophillus. ASPECTOS PRÁTICOS Como escolher a cepa probiótica? Um probiótico não serve para todas as doenças; a seleção de probióticos deve ser baseada na indicação clínica e deve levar em consideração a cepa e a dosagem usada nos ensaios clínicos. Devo escolher uma única espécie ou combinar várias espécies? Prefira combinar cepas a utilizar cepas isoladas. Diferentes cepas de bactérias probióticas têm funções ligeiramente diferentes e estão concentradas em distintos locais ao longo do trato gastrointestinal. Por isso, suplementos probióticos que contêm múltiplas cepas tendem a ser mais eficazes em geral do que os produtos que contêm uma concentração extremamente alta de apenas uma ou duas cepas. Isso ocorre porque muitas cepas trabalham sinergicamente. Quais espécies devem compor a suplementação? 1) Inclua ao menos uma cepa de espécies Lactobacillus e uma cepa de espécies Bifidobacteria. Lactobacillus Bifidobacteria 2) Inclua uma cepa produtora de ácido lático Lactococcus lactis Enterococcus faecium Lactobacillus sporogenes Lactobacillus acidophillus Lactobacillus casei Bifidobacterium bifidum Bifidobacterium adolescentes Bifidobacterium breve Bifidobacterium longum 3) Em caso de hipercloridria, optar pela escolha de espécies mais resistentes ao ácido clorídrico: Bifidobacterium breve Bifidobacterium longum Bifidobacterium infantis Bifidobacterium animalis subsp. Lactis Lactococcus lactis 4) Inclua cepas com maior atividade de colonização da mucosa: Lactobacillus reuteri Lactobacillus rhamnosus Lactobacillus acidophilus Lactobacillus gasseri Lactobacillus casei Qual dose utilizar? Não existe dose padrão. Em ensaios clínicos randomizados o consumo diário de probióticos variou de 1 bilhão até 3 trilhões de UFC, sendo que na maioria dos estudos clínicos randomizados em humanos, a dose variou de 2 a 50 bilhões de UFC por dia. Que tipo de cápsulas utilizar? Preferir cápsulas vegetais transparentes e isentas de corantes. Os probióticos precisam estar veiculados em cápsulas gastroresistentes? Para serem considerados probióticos, deveriam ser resistentes ao pH gástrico. Entretanto, Caillard (2017), Dodoo et al. (2017) e SILVA et al. (2015) verificaram que as cepas testadas nos estudos apresentaram baixa resistência às condições ácidas e sugeriram que a maioria desses microrganismos não apresentaria viabilidade quando imerso em conteúdo ácido simulando o pH do estômago. Por isso, para garantir a resistência ao pH gástrico sugere-se que os probióticos sejam liofilizados. Caso contrário, o uso de cápsulas gastroresistentes pode ser sugerido. Como saber se os probióticos são liofilizados? Verifique com o farmacêutico nas farmácias magistrais. Em suplementos prontos, verifique na embalagem a necessidade de refrigeração. Probióticos que não necessitam de refrigeração normalmente são liofilizados. Na dúvida, contate o fornecedor. Pode-se prescrever probióticos em sachê? O veículo utilizado pode ser cápsulas ou sachês, a critério do paciente. Quais excipientes são indicados? Inulina, fruto-oligossacarídeo (FOS), goma acácia, celulose microcristalina e aerosil. Qual horário consumir? Sugere-se o consumo 30 minutos antes das refeições. Não é indicado tomar probióticos com bebidas quentes. Há interação com outros medicamentos ou suplementos? Há poucos estudos que avaliaram interação de probióticos com medicamentos. Como os probióticos contêm microrganismos vivos, a administração concomitante a antibióticos pode eliminar um grande número de organismos, reduzindo a eficácia das espécies de Lactobacillus e Bifidobacterium. Então, a recomendação para a utilização do probiótico é consumir com no mínimo 2 horas de intervalo do consumo do antibiótico. Saccharomyces boulardii pode interagir com antifúngicos (como clotrimazol, cetoconazol e nistatina). Assim, o consumo de probióticos deve respeitar pelo menos 2 horas de distância da utilização de antifúngicos. Os probióticos, também, devem ser usados com cautela em pacientes imunodeprimidos que utilizam medicamentos como a ciclosporina, tacrolimus, azatioprina e agentes quimioterápicos, uma vez que os probióticos podem causar infecção ou colonização patogênica em pacientes imunocomprometidos. Por quanto tempo consumir? A maioria dos estudos clínicos utilizaram probióticos por no mínimo 20 dias, sendo que o período médio de consumo em que efeitos clínicos foram observados foi superior a 6 semanas. O uso deve ser contínuo? Muitas cepas probióticas não colonizam o intestino e, portanto, o consumo contínuo pode ser necessário. O consumo é seguro? Para a maioria das populações, o consumo de probióticos é considerado seguro e as complicações raras. No entanto, a infecção e a sepse são as complicações mais sérias e não prováveis da administração de probióticos, particularmente em pacientes imunocomprometidos. Os efeitos colaterais comuns de probióticos são tipicamente transitórios, mas incluem flatulência e distensão abdominal que tende a diminuir com o decorrer da terapia. Para amenizar esse efeito, a dose pode ser elevada gradativamente. Para garantir a segurança, opte por probióticos os quais tenham sido submetidos a rastreio do genoma microbiano para avaliação da presença de fatores patogênicos e de virulência (verifique essa informação na farmácia magistral de sua confiança). Como deve ser a conservação de um suplemento probiótico? Probióticos liofilizados não necessitam de refrigeração desde que a temperatura do ambiente seja inferior a 30ºC. Se o probiótico não for liofilizado, ou a temperatura ambiente superior a 30ºC, a recomendação é manter o suplemento em geladeira. Preservar o probiótico na geladeira a 4 ºC aumentará a vida útil do produtoem até 120 dias (SILVA, 2015). Além disso, proteja os probióticos da exposição à luz, ao calor, ao oxigênio e à umidade. Algumas bactérias formadoras de esporos como Bacillus coagulans, Bacillus subtilis e Bacillus Clausii não necessitam de refrigeração. PASSO A PASSO DA PRESCRIÇÃO MAGISTRAL 1) Descreva em itálico o gênero e espécie. A subespécie e a estirpe, quando disponíveis também podem ser inseridas. Ex: Bifidobacterium infantis 35624 Gênero Espécie Estirpe Bifidobacterium infantis 35624 Ex: Bifidobacterium longum subsp. Longum NCC 2705 Gênero Espécie Subespécie Estirpe Bifidobacterium longum Longum NCC 2705 2) Informe a potência em UFC (Unidades Formadoras de Colônias) 1 bilhão de UFC 109 UFC 5 bilhões de UFC 5x109 UFC 10 bilhões de UFC 10x109 UFC 3) Informe o número de doses e tipo de cápsula Exemplo: Aviar 30 doses em cápsulas vegetais transparentes qsp. 4) Informe a posologia e o tempo estimado para consumo Exemplo: Posologia: Consumir 1 dose ao dia 30 minutos antes da refeição. Período mínimo estimado para consumo: 4 a 6 semanas 5) Exemplo de Prescrição: Probioticoterapia Bifidobacterium animalis – 2 bilhões de UFC Streptococcus thermophilus- 2 bilhões de UFC Lactobacillus bulgaricus - 2 bilhões de UFC Lactococcus lactis - 2 bilhões de UFC Aviar 30 doses em cápsulas vegetais transparentes qsp. Posologia: Consumir 1 dose ao dia 30 minutos antes da refeição. Período mínimo estimado para consumo: 4 a 6 semanas PRINCIPAIS ESPÉCIES UTILIZADAS NA ANSIEDADE, DEPRESSÃO E MODULAÇÃO DO HUMOR FORMULAÇÕES Melhora do humor, redução do estresse e cortisol Lactobacillus helveticus – 1,5 bilhões de UFC Bifidobacterium longum - 1,5 bilhões de UFC Bio-MAMPs L. Gasseri – 10 mg Aviar 30 doses em cápsulas vegetais transparentes qsp. Posologia: Consumir 1 dose ao dia 30 minutos antes da refeição. Período mínimo estimado para consumo: 4 a 6 semanas Modulação da reatividade em situações negativas Bifidobacterium animalis – 2 bilhões de UFC Streptococcus thermophilus- 2 bilhões de UFC Lactobacillus bulgaricus - 2 bilhões de UFC Lactococcus lactis - 2 bilhões de UFC Aviar 30 doses em cápsulas vegetais transparentes qsp. Posologia: Consumir 1 dose ao dia 30 minutos antes da refeição. Período mínimo estimado para consumo: 4 a 6 semanas Redução de cortisol, melhora do humor e da memória Lactobacillus helveticus – 2 bilhões de UFC Bifidobacterium longum- 2 bilhões de UFC Lactobacillus casei Shirota -2 bilhões de UFC Bifidobacterium animalis - 2 bilhões de UFC Streptococcus thermophiles - 1 bilhão de UFC Lactobacillus bulgaricus -2 bilhões de UFC Lactococcus lactis - 1 bilhão de UFC Aviar 30 doses em cápsulas vegetais transparentes qsp. Posologia: Consumir 1 dose ao dia 30 minutos antes da refeição. Período mínimo estimado para consumo: 4 a 6 semanas Depressão e Ansiedade Lactobacillus acidophilus - 3 bilhões de UFC Bifidobacterium longum - 3 bilhões de UFC Lactobacillus casei -2 bilhões de UFC Bifidobacterium bifidum - 2 bilhões de UFC Bio-MAMPs L. Gasseri – 10 mg Aviar 30 doses em cápsulas vegetais transparentes qsp. Posologia: Consumir 1 dose ao dia 30 minutos antes da refeição. Período mínimo estimado para consumo: 4 a 6 semanas Transtorno depressivo maior Lactobacillus acidophilus -2 bilhões de UFC Lactobacillus casei -2 bilhões de UFC Bifidobacterium bifidum - 2 bilhões de UFC Bio-MAMPs L. Gasseri – 10 mg Aviar 30 doses em cápsulas vegetais transparentes qsp. Posologia: Consumir 1 dose ao dia 30 minutos antes da refeição. Período mínimo estimado para consumo: 4 a 6 semanas Redução de dor abdominal, náusea e vômitos, induzidos pelo estresse. Lactobacillus acidophilus - 3 bilhões de UFC Bifidobacterium longum - 3 bilhões de UFC Aviar 30 doses em cápsulas vegetais transparentes qsp. Posologia: Consumir 1 dose ao dia 30 minutos antes da refeição. Período mínimo estimado para consumo: 4 a 6 semanas Redução da depressão e emoções negativas em pacientes com Síndrome do Intestino Irritável Lactobacillus salivarius- 3 bilhões de UFC Bifidobacterium animalis- 3 bilhões de UFC Bifidobacterium longum - 3 bilhões de UFC Bifidobacterium infantis - 3 bilhões de UFC Lactobacillus acidophilus - 2 bilhões de UFC Aviar 30 doses em cápsulas vegetais transparentes qsp. Posologia: Consumir 1 dose ao dia 30 minutos antes da refeição. Período mínimo estimado para consumo: 4 a 6 semanas REFERÊNCIAS CAILLARD, ROMAIN, LAPOINTE, N. "In vitro gastric survival of commercially available probiotic strains and oral dosage forms." International journal of pharmaceutics 519.1 (2017): 125-127. CIORBA, M. A. A Gastroenterologist’s Guide to Probiotics. Clinical gastroenterology and hepatology : the official clinical practice journal of the American Gastroenterological Association. 2012;10(9):960-968. COOK, Michael T. et al. 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