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MÓDULO 1 – ESPECÍFICA Instagram: @ten.prof.edvaldo VARIAÇÃO LINGUÍSTICA A semântica estuda a significação das formas linguísti- cas, ou seja, ela é um meio de representação de sentido dos enunciados. Entende-se por mutação semântica as mudanças de sentido que ocorrem na estrutura da língua decorrentes de fatores internos, intralinguísticos, e/ou de fatores externos, extralinguísticos. No primeiro caso, os fatores internos decorrem do processo de mudança lin- guística, dizem respeito ao processo de evolução da pala- vra ou da língua em seu todo. No segundo caso, a muta- ção semântica é condicionada por fatores de ordem ex- terna à estrutura da língua, tais como a intencionalidade do falante, o contexto ou situação de uso da língua, a identidade social do falante e do(s) ouvinte(s). Entram aí, também, outros fatores de ordem psicossocial, social, geográficos, religiosos, políticos, entre outros. Isso signi- fica dizer que a construção do sentido e, consequente- mente, a mutação semântica é, na verdade, contextual e que ela ocorre ao lado da variação linguística. Variação linguística é o fenômeno de uma língua sofrer variações ao longo do tempo, do espaço geográfico, do espaço ou estrutura social, da situação ou contexto de uso. Isso significa dizer que uma língua está sujeita a reajustar-se no tempo e no espaço para satisfazer às ne- cessidades de expressão e de comunicação, individual ou coletiva, de seus usuários. Uma característica de todas as línguas do mundo é o fato de não serem faladas da mesma maneira por todos os seus usuários. Alguns afirmam que isso ocorre na lín- gua portuguesa, porque “os brasileiros não sabem muito bem o português”. Isso não condiz com a verdade, todas as línguas variam. A língua portuguesa, por exemplo, pro- vém de uma variação do latim, o latim vulgar (língua popu- lar), muito diferente do latim culto, que só era falado por uma pequena parte da população da época. A variação é inseparável do fenômeno linguístico e têm formas variá- veis porque as sociedades são constituídas por grupos distintos em vários aspectos. Isso define o uso de deter- minada variedade e serve para identificar seus membros. Aprendemos a diferenciar as falas e, no momento em que nos comunicamos com alguém, percebemos se é do Ceará, do Rio de Janeiro, da Bahia ou de outros lugares do país. Da mesma forma percebemos outras características do falante, como, profissão, classe social etc. Os aspec- tos percebidos com mais facilidade são dois: a pronúncia e o vocabulário. Fatores de variação: — Internos à língua (pelo desaparecimento de oposições que não se revelem funcionais; pela prevalência do prin- cípio da economia, que tende a eliminar redundâncias; pela introdução de novos elementos com a função de tornarem a comunicação clara/não ambígua); — Externos à língua (relativos a mudanças políticas e sociais, por exemplo, a criação de fronteiras políticas que é cumulativa à criação de fronteiras linguísticas). Variação diacrônica ou histórica Porque é que nos custa tanto a ler um texto da Literatu- ra Clássica ou da época medieval? A razão de ser desta pergunta permite verificar que a língua portuguesa — e qualquer língua — apresenta diver- sas manifestações ao longo do tempo. Cabe à Linguística Histórica o estudo deste tipo de variação. Estas mudanças nunca são bruscas, havendo geralmen- te um período de transição entre um estágio e outro. As mudanças diacrônicas podem ocorrer: — no som/pronúncia; — na flexão e na derivação; — nos padrões de estruturação da frase; — ao nível dos significados; — pela introdução de novas palavras (neologismos e estrangeirismos). Vamos analisar o fragmento: Antigamente “Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os ja- notas, mesmo sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio." Carlos Drummond de Andrade Texto transcrito de Quincas Borba,editado em 1886 Que alegria! que entusiasmo! Que saltos em volta do amo! chega a lamber-lhe a mão de contente, mas Rubião dá-lhe um tabefe, que lhe doe; elle recúa um pouco, triste, com a cauda entre as pernas; depois o senhor dá um estalinho com os dedos, e eil-o que volta novamente com a mesma alegria. - Socega! socega! Quincas Borba vae atraz delle, pelo jardim fóra, contorna a casa, ora andando, ora aos saltos. [...] Quando Rubião estaca, elle olha para cima, á espera; naturalmente, cuida delle; é algum projecto, sahirem juntos ou cousa assim agradavel. [...] Tem o sentimento da confiança, e muito curta a memoria das pancadas. Ao contrario, os affagos ficam-lhe impressos e fixos, por mais distrahidos que sejam. Gosta de ser amado. Contenta-se de crêr que o é. Texto transcrito de Quincas Borba, editado em 1957 Que alegria! que entusiasmo! Que saltos em volta do amo! chega a lamber-lhe a mão de contente, mas Rubião dá-lhe um tabefe, que lhe dói; êle recua um pouco, triste, com a cauda entre as pernas; depois o senhor dá um estalinho com os dedos, e ei-lo que volta novamente com a mesma alegria. - Sossega! Sossega! Quincas Borba vai atrás dêle pelo jardim fora, contorna a casa, ora andando, ora aos saltos. [...] Quando Rubião estaca, êle olha para cima, à espera; naturalmente, cuida dêle; é algum projeto, saírem juntos, ou coisa assim agra- dável. [...] Tem o sentimento da confiança, e muito curta a memória das pancadas. Ao contrário, os afagos ficam-lhe impressos e fixos, por mais distraídos que sejam. Gosta de ser amado. Contenta-se de crer que o é. Texto transcrito de Quincas Borba, editado em 2022 Que alegria! que entusiasmo! Que saltos em volta do amo! chega a lamber-lhe a mão de contente, mas Rubião dá-lhe um tabefe, que lhe dói; ele recua um pouco, triste, com a cauda entre as pernas; depois o senhor dá um estalinho com os dedos, e ei-lo que volta novamente com a mesma alegria. - Sossega! Sossega! Quincas Borba vai atrás dele pelo jardim fora, contorna a casa, ora andando, ora aos saltos. [...] Quando Rubião estaca, ele olha para cima, à espera; naturalmente, cuida dele; é algum projeto, saírem juntos, ou coisa assim agra- dável. [...] Tem o sentimento da confiança, e muito curta a memória das pancadas. Ao contrário, os afagos ficam-lhe impressos e fixos, por mais distraídos que sejam. Gosta de ser amado. Contenta-se de crer que o é. Variação Diatópica: No plano léxico e semântico, a variação diatópica é o fenômeno de uma determinada comunidade de fala ou região eleger expressões próprias para nomear seres ou situações, para os quais encontraremos denominações distintas em outras regiões. Para citar alguns exemplos, no Estado do Paraná o item lexical “bombom” tem sentido de “doce de chocolate”, em Porto Velho, Rondônia, tem sentido de “bala”, ou seja, “pequena pelota de açúcar soli- dificada, com sabor”. Um outro exemplo é o caso de “égua”, que para o paranaense tem sentido de “fêmea do cavalo” e pode ter também conotação pejorativa; para o cearense, além destes mesmos sentidos, a mesma pala- vra, em certas situações, sofre esvaziamento semântico, ou seja, perde seu sentido original e ganha outro sentido. Assim “égua” é usada como interjeição de surpresa em certas situações da fala, por exemplo: “Égua! má!” Variação Diastrática: Por variação diastrática, entende-se as variações que a língua apresenta na estrutura social, ou seja, são as vari- ações que ocorrem de um grupo social para o outro. As- sim, fatores tais como: sexo, faixa etária, condição socio- econômica, profissão, religião e até mesmo convicções político-partidárias e esportivas, entre outros, condicio- nam mudanças no uso efetivo da língua. Evidentemente, se há variação, há mutação: a palavra “bacana” originária de “bacanal” sofreu variação emuta- ção ao longo de sua história evolutiva. Usada por algum tempo como gíria específica de determinados grupos sociais, incorporou-se ao português do Brasil e hoje é usada e aceita indistintamente por quaisquer segmentos sociais. No entanto, para um determinado segmento so- cial específico, os malandros e marginais, sobretudo os cariocas, a palavra “bacana” pode ganhar – em certas situações de uso – a conotação de “rico” ou “privilegiado”, como na expressão “festa de bacana” (=festa de rico). Para citar mais um exemplo, o mesmo ocorre com a palavra “homem”. Para quaisquer falantes de português, “homem” pode ter um sentido amplo, geral, de “ser huma- no” ou mais específico, isto é “ser humano do sexo mas- culino”. No entanto, em certas situações de uso, a mesma palavra pode significar “polícia”, como em “-Corre, lá vem os home!”, ou “patrão”, como em “O homem te mandou embora?”. Variação Diafásica: Este tipo de variação linguística é diretamente ligado aos fatores emocionais, por isso pode-se denominá-la intencional ou situacional e inclusive explicá-la pela sim- ples observação das atividades verbais que são adequa- das ao ato da fala pelas circunstâncias em que se encon- tra o falante. Assim, pode-se dizer que o contexto de uso da língua condiciona também a variação e, consequente- mente, a mutação semântica. De fato, a palavra “mulher”, no diminutivo, ou seja, “mu- lherzinha” pode, de acordo com a situação e a intenção do emissor, significar: a) “mulher pequena”, denotativamente; b) “minha esposa” oi “minha amada”, afetivamente; c) “mulher vulgar” ou “prostituta”, pejorativamente; d) “ho- mem frouxo” ou “covarde”, pejorativamente, se aplicada a um homem. Nota-se, portanto, que determinadas palavras nocionais, sobre tudo as que têm alta frequência de uso, podem sofrer e geralmente sofrem mudanças de significação condicionadas por fatores extralinguísticos, situacionais ou diafásicos. Variação de Registro: Chamamos de registros as variações que ocorrem de acordo com o grau de formalismo existente em uma de- terminada situação: há situações em que a variedade padrão, ou norma culta, é a melhor opção, aquela que estabelecerá uma maior sintonia entre os interlocutores. Nas entrevistas de emprego, em redações para concursos e vestibulares e em exposições públicas, por exemplo, a variedade linguística exigida, na maioria das vezes, é a padrão, por isso é indispensável conhecê-la bem para adequarmos a comunicação de acordo com a pertinência do momento. Em contrapartida, há situações de uso em que a variedade não padrão (gírias, regionalismos, jar- gões) é aquela que melhor se encaixa no contexto comu- nicacional. Veja o exemplo Variação Diamésica A variação diamésica é a que acontece entre os gêneros textuais, ou seja, suportes de transmissão de uma dada informação que contenham características quase regula- res, por exemplo, o whatsapp e a bula de remédio. Orientações didáticas específicas para alguns conteúdos Variação linguística A Língua Portuguesa é uma unidade composta de mui- tas variedades. O aluno, ao entrar na escola, já sabe pelo menos uma dessas variedades - aquela que aprendeu pelo fato de estar inserido em uma comunidade de falan- tes. Certamente, ele é capaz de perceber que as formas da língua apresentam variação e que determinadas ex- pressões ou modos de dizer podem ser apropriados para certas circunstâncias, mas não para outras. Sabe, por exemplo, que existem formas mais ou menos delicadas de se dirigir a alguém, falas mais cuidadas e refletidas, falas cerimoniosas. Pode ser que saiba, inclusive, que certos falares são discriminados e, eventualmente, até ter vivido essa experiência. Frente aos fenômenos da variação, não basta somente uma mudança de atitudes; a escola precisa cuidar para que não se reproduza em seu espaço a discriminação linguística. Desse modo, não pode tratar as variedades linguísticas que mais se afastam dos padrões estabeleci- dos pela gramática tradicional e das formas diferentes daquelas que se fixaram na escrita como se fossem des- vios ou incorreções. E não apenas por uma questão me- todológica: é enorme a gama de variação e, em função dos usos e das mesclas constantes, não é tarefa simples dizer qual é a forma padrão (efetivamente, os padrões também são variados e dependem das situações de uso). Além disso, os padrões próprios da tradição escrita não são os mesmos que os padrões de uso oral, ainda que haja situações de fala orientadas pela escrita. A discriminação de algumas variedades linguísticas, tratadas de modo preconceituoso e anticientífico, expres- sa os próprios conflitos existentes no interior da socieda- de. Por isso mesmo, o preconceito linguístico, como qual- quer outro preconceito, resulta de avaliações subjetivas dos grupos sociais e deve ser combatido com vigor e energia. É importante que o aluno, ao aprender novas formas linguísticas, particularmente a escrita e o padrão de oralidade mais formal orientado pela tradição gramati- cal, entenda que todas as variedades linguísticas são legítimas e próprias da história e da cultura humana. Para isso, o estudo da variação cumpre papel funda- mental na formação da consciência linguística e no de- senvolvimento da competência discursiva do aluno, de- vendo estar sistematicamente presente nas atividades de Língua Portuguesa. A seguir relacionam-se algumas propostas de atividades que permitem explorar mais intensamente questões de variação linguística: transcrição de textos orais, gravados em vídeo, para permitir identificação dos recursos linguísticos pró- prios da fala; edição de textos orais para apresentação, em gênero da modalidade escrita, para permitir que o aluno possa perceber algumas das diferenças entre a fala e a escri- ta; análise da força expressiva da linguagem popular na comunicação cotidiana, na mídia e nas artes, anali- sando depoimentos, filmes, peças de teatro, novelas televisivas, música popular, romances e poemas; levantamento das marcas de variação linguística liga- das a gênero, gerações, grupos profissionais, classe social e área de conhecimento, por meio da compara- ção de textos que tratem de um mesmo assunto para públicos com características diferentes: * elaboração de textos procurando incorporar na reda- ção traços da linguagem de grupos específicos; * estudo de textos em função da área de conhecimento, identificando jargões próprios da atividade em análise; * comparação de textos sobre o mesmo tema veicula- dos em diferentes publicações (por exemplo, uma ma- téria sobre meio ambiente para uma revista de divul- gação científica e outra para o suplemento infantil); * comparação entre textos sobre o mesmo tema, produ- zidos em épocas diferentes; * comparação de duas traduções de um mesmo texto original, analisando as escolhas estilísticas feitas pe- los tradutores; * comparação entre um texto original e uma versão adaptada do mesmo texto, analisando as mudanças produzidas; * comparação de textos de um mesmo autor, produzido em condições diferentes (um artigo para uma revista acadêmica e outro para uma revista de vulgarização científica); análise de fatos de variação presentes nos textos dos alunos; análise e discussão de textos de publicidade ou de imprensa que veiculem qualquer tipo de preconceito linguístico; análise comparativa entre registro da fala ou de escrita e os preceitos normativos estabelecidos pela gramáti- ca tradicional. Léxico O trabalho com o léxico não se reduz a apresentar sinô- nimos de um conjunto de palavras desconhecidas pelo aluno. Isolando a palavra e associando-a a outra apresen- tada como idêntica, acaba-se por tratar a palavra como “portadora de significado absoluto”, e não como índice para a construção do sentido, já que as propriedades se- mânticas das palavras projetam restrições selecionais. Essetratamento, que privilegia apenas os itens lexicais (substantivos, adjetivos, verbos e advérbios), acaba negli- genciando todo um outro grupo de palavras com função conectiva, que são responsáveis por estabelecer relações e articulações entre as proposições do texto, o que con- tribui muito pouco para ajudar o aluno na construção dos sentidos. Considerando a densidade lexical dos universos especi- alizados, em que a carga de sentidos novos supera a ca- pacidade do receptor de processá-los, o domínio de amplo vocabulário cumpre papel essencial entre as habilidades do leitor proficiente. A escola deve, portanto, organizar situações didáticas para que o aluno possa aprender no- vas palavras e empregá-las com propriedade. Do que se veio afirmando, é possível depreender um princípio orientador: não são apenas as palavras difíceis que precisam ser objeto de estudo; a formação de glossá- rios é, apenas, uma das tarefas. É preciso entender, por um lado, que, ainda que se trate a palavra como unidade, muitas vezes ela é um conjunto de unidades menores (radicais, afixos, desinências) que concorrem para a cons- tituição do sentido. E, por outro, que, dificilmente, pode- mos dizer o que uma palavra significa, tomando-a isola- damente: o sentido, em geral, decorre da articulação da palavra com outras na frase e, por vezes, na relação com o exterior linguístico, em função do contexto situacional. A seguir são indicadas atividades que podem orientar o aluno na construção de relações lexicais, de modo a, pro- gressivamente, construir um conjunto de estratégias de manipulação e processamento das palavras: explorar ativamente um corpus que apresente palavras que tenham o mesmo afixo ou desinência, para deter- minar o significado de unidades inferiores à palavra; aplicar os mecanismos de derivação e construir famí- lias de palavras; apresentar textos lacunados para, por meio das pro- priedades semânticas e das restrições selecionais, ex- plicitar a natureza do termo ausente; apresentar um conjunto de hipônimos e pedir ao aluno para apresentar o hiperônimo correspondente; apresentar um conjunto de palavras em que uma não é hipônimo e pedir que o aluno a exclua, explicitando su- as razões; inventariar as palavras de determinado campo semân- tico, presentes em determinado texto, e analisar os efeitos de sentido obtidos com o emprego; inventariar as palavras de determinada variedade ou registro, presentes em um texto, e analisar os efeitos obtidos com o emprego; identificar, em textos, palavras ou expressões que ins- talam pressuposições e subentendidos e analisar as implicações discursivas; identificar e analisar a funcionalidade de empregos figurados de palavras ou expressões; identificar os termos-chave de um texto, vinculando-os a redes semânticas que permitam a produção de es- quemas e de resumos. Todos esses procedimentos precisam ser incorporados à produção textual. A elaboração de paráfrases e de re- sumos permite a criação de boas oportunidades para a discussão a respeito das escolhas lexicais e de suas im- plicações semântico-discursivas. Indiscutivelmente, a prática de refacção mobiliza intenso trabalho com essas questões. Não se trata de estimular o uso de palavras difíceis ou raras, mas de apreciar as escolhas em função da situação interlocutiva e dos efeitos de sentido que se quer produzir. Ortografia Infelizmente, a ortografia ainda vem sendo tratada, na maioria das escolas do ensino fundamental, por meio de atividades de identificação, correção de palavra errada, seguidas de cópia e de enfadonhos exercícios de preen- chimento de lacunas. Entretanto, é possível desenvolver um trabalho que permita ao aluno descobrir o funciona- mento do sistema grafo-fonêmico da língua e as conven- ções ortográficas, analisando as relações entre a fala e a escrita, as restrições que o contexto impõe ao emprego das letras, os aspectos morfossintáticos, tratando a orto- grafia como porta de entrada para uma reflexão a respeito da língua, particularmente, da modalidade escrita. Para que tal reflexão possa ocorrer, as estratégias de ensino devem se articular em torno de dois eixos: a) privilégio do que é “regular”, permitindo que, por meio da manipulação de um conjunto de palavras, o aluno pos- sa, agrupando-as e classificando-as, inferir as regularida- des que caracterizam o emprego de determinada letra; b) preferência, no tratamento das ocorrências “irregula- res”, dos casos de frequência e maior relevância temática. O aprendizado de novas palavras, inclusive de sua for- ma gráfica, não se esgota nunca. Assim, mais do que investir em ações intensivas e pontuais, é preferível optar por um trabalho regular e frequente, articulado à seleção lexical imposta pelo universo temático dos textos seleci- onados. Ainda que o trabalho com as formas regulares e irregu- lares precise ocorrer paralelamente, pois, nos textos lidos ou produzidos, são empregados tanto o que é regular como o que é irregular, é importante dar ênfase à cons- trução das regularidades. Afinal, não se aprende a escre- ver as palavras uma a uma. Portanto, ao realizar atividades de análise e reflexão sobre a língua, os alunos necessitam: identificar e analisar as interferências da fala na escri- ta, principalmente em contextos de sílabas que fogem ao padrão consoante/vogal; explorar ativamente um corpus de palavras, para expli- citar as regularidades ortográficas no que se refere às regras contextuais; explorar ativamente um corpus de palavras, para des- cobrir as regularidades de natureza morfossintática, que, por serem recorrentes, apresentam alto grau de generalização. Ao invés de sobrecarregar o aluno com pesada metalinguagem (radical, vogal temática, desi- nências, afixos), deve-se insistir no uso do paradigma morfossintático para a construção de regularidades ortográficas; apoiar-se no conhecimento morfológico para resolver questões de natureza ortográfica; analisar as restrições impostas pelo contexto e, em caso de dúvida entre as possibilidades de preenchi- mento, adotar procedimentos de consulta. Para descobrir tais regularidades, é preciso deslocar-se do texto, pois é muito difícil construir um inventário signi- ficativo de palavras a partir do léxico de um texto em par- ticular e, ainda que fosse possível, o objetivo da proposta não é o funcionamento do léxico no texto, mas a própria composição gráfica ou morfossintática da palavra. É sabido que: a) a verbalização da regra não assegura o emprego cor- reto de palavras a ela relacionadas em textos produzi- dos; b) o bom desempenho em exercícios especialmente ela- borados para tratar de questões ortográficas também não é garantia de emprego correto em textos produzi- dos. Assim, a construção de regras ou as atividades prepara- das para que o aluno possa se apropriar das regularida- des descobertas não têm um fim em si mesmas. Se o objetivo é que os alunos escrevam com correção nos textos que produzem, é preciso reintroduzir as competên- cias desenvolvidas no texto. Variação linguística na BNCC • Conhecer algumas das variedades linguísticas do por- tuguês do Brasil e suas diferenças fonológicas, prosó- dicas, lexicais e sintáticas, avaliando seus efeitos se- mânticos. • Discutir, no fenômeno da variação linguística, varieda- des prestigiadas e estigmatizadas e o preconceito lin- guístico que as cerca, questionando suas bases de maneira crítica. Praticando com Edvaldo O Texto 1, de autoria de Maurício de Sousa, consiste nu- ma homenagem a Juliette Freire, a campinense vencedo- ra do Big Brother Brasil 2021. O Texto 2, por sua vez, traz a definição de Sérgio Roberto Costa para um determinado gênero textual. Sua leitura é necessária para responder a questão: Disponível em:<https://br.ign.com/turma-da-monica/>. Acesso em 25 de março de 2022. TEXTO 2: “Segmentoou fragmento de HQs, geralmente com três ou quatro quadrinhos, apresenta um texto sincrético que alia o verbal e o visual no mesmo enunciado e sob a mesma enunciação. Circula em jornais ou revistas, numa só faixa horizontal de mais ou menos 14 cm x 4 cm, em geral, na seção “Quadrinhos” do caderno de diversões, amenidades ou também conhecido como recreativo, onde se podem encontrar Cruzadas, Horóscopo, HQs, etc.”. Fonte: COSTA, Sérgio Roberto. Dicionário de gêneros textuais. Belo Horizonte: Autêntica, 2008. 01.A expressão “Eita, mulinga!”, no segundo quadrinho, permite-nos perceber uma variação linguística caracte- rizada por: A) Regionalismo. B) Desvio Gramatical. C) Gíria. D) Empréstimo Linguístico. E) Anglicismo. 02.Supõe-se que um redator tenha a capacidade de es- crever bem; o conceito de “escrever bem” equivale a: A) de forma gramaticalmente correta; B) de forma lógica e precisa; C) de forma erudita e sofisticada; D) de forma adequada à situação comunicativa; E) de forma a representar perfeitamente o pensamento. Texto “Variedades linguísticas são as variações que uma língua apresenta, de acordo com as condições sociais, culturais, regionais e históricas em que é utilizada.” (CEREJA & MAGALHÃES, 2013, p. 30). A partir do conceito apresentado, leia a charge. Disponível em: <https://caminhosnordestino.blogspot.com/2017/05/eu-acho-e- graca.html> Acesso em: 25 de março de 2022. 03.Sobre as variações linguísticas presentes na charge, preencha corretamente as lacunas do texto a seguir. Há a variação _______________ na medida em que re- presenta um local específico onde vivem os falantes, ou seja, a seca é principalmente característica de quem vive no Nordeste. Há, também, a variação _______________ que depende do contexto, isto é, a oca- sião determina a maneira informal dos falantes se co- municarem. Além das duas variações, destaca-se ain- da a _______________ quando ocorre em virtude da con- vivência entre os falantes. Como exemplo desta última variação, na charge, há expressões populares no lin- guajar de um grupo social específico. A sequência que preenche corretamente as lacunas do texto é A) histórica / fonológica / diatópica B) fonológica / diatópica / histórica C) diafásica / diastrática / diatópica D) diatópica / histórica / diastrática E) diatópica / diafásica / diastrática 04.Há conteúdos que devem estar sempre presentes em uma aula de português. Não existe um momento ou ano específico para que sejam abordados. Sempre que necessário, com base no texto que está sendo traba- lhado, estes conteúdos devem ser inseridos na aula. Uma das alternativas abaixo mostra um conteúdo que contraria estas afirmações. Identifique-a. A) Ortografia. B) Variação linguística. C) Léxico. D) Análise sintática. 05.Em quase todas as partes do Brasil, “feira” significa “reunião de vendedores”. A exceção está na região Norte, que concebe essa mesma palavra com sendo a “sacola em que se transportam gêneros”. Na Língua Portuguesa, portanto, uma mesma palavra pode apre- sentar sentidos diferentes. Um mesmo produto, entre- tanto, também pode ser expresso por palavras diferen- tes. É o caso de “mandioca”, “aipim” e “macaxeira”. Trata-se de denominações empregadas em localida- des brasileiras distintas para uma mesma espécie de planta. Os exemplos mencionados corroboram a exis- tência, no Brasil, de um fenômeno linguístico que leva o nome de variação: A) Diatópica. B) Diamésica. C) Diacrônica. D) Diastrática. Texto I Capitulação Delivery Até para telepizza É um exagero. Há quem negue? Um povo com vergonha Da própria língua. Já está entregue Luís Fernando Veríssimo http://atocadaspalavras.blogspot.com/2013/12/capitulacao-poema-de-luis- fernando.html. Acesso em 30/10/2019. Texto II Caco Galhardo https://cacogalhardo.wordpress.com/category/personagens/chico- bacon/. Acesso em 30/10/2019. 06.Depois de analisar os textos I e II podemos afirmar que A) em ambos a “capitulação” é definitiva, ou seja, a so- ciedade já se capitulou, já se rendeu a outro povo, a outra cultura. B) Não há qualquer problema ou vício de linguagem neste processo linguístico, o uso indiscriminado de termos estrangeiros é comum em todas as línguas. C) O exagero que o autor do primeiro texto vê no em- prego da palavra “delivery” se aplicaria também à “telepizza” e a todas as palavras inglesas utilizadas na Língua Portuguesa. D) Luís Fernando Verissimo escreveu o poema “Capitu- lação” apresentando uma crítica bem-humorada ao emprego de termos estrangeiros, mostrando que é a favor dos empréstimos linguísticos e que eles são necessários no cotidiano. http://atocadaspalavras.blogspot.com/2013/12/capitulacao-poema-de-luis-fernando.html http://atocadaspalavras.blogspot.com/2013/12/capitulacao-poema-de-luis-fernando.html https://cacogalhardo.wordpress.com/category/personagens/chico-bacon/ https://cacogalhardo.wordpress.com/category/personagens/chico-bacon/ E) Os dois, escritor e cartunista, fazem referência a um fenômeno linguístico denominado estrangeirismo, com um tom condenatório: o primeiro, mencionando a submissão cultural; o segundo apresenta um per- sonagem que sequer conhece a palavra “entrega” da língua portuguesa, conhece apenas o anglicis- mo. Antigamente Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastan- do a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio. Carlos Drummond de Andrade 07.Ao travarmos contato com o fragmento ora exposto, percebemos que nele existem certas expressões que já se encontram em desuso, tais como: Mademoisel- les, prendadas, janotas, pé de alferes, balaio. A seguir são apresentados alguns conceitos. Sua tarefa consis- tirá em analisá-los e marcar a opção que melhor expli- ca o artifício utilizado por Carlos Drummond de Andra- de. A) Variação diatópica: representa as variações que ocorrem pelas diferenças regionais. As variações regionais, denominados dialetos, são as variações referentes a diferentes regiões geográficas, de acordo com a cultura local. Um exemplo deste tipo de variação é a palavra “mandioca” que, em certos lugares, recebe outras denominações, como “maca- xeira” e “aipim”. Nesta modalidade também estão os sotaques, ligados às marcas orais da linguagem. B) Variação diastrática: é a variação ocorrida em razão da convivência entre os grupos sociais. As gírias e os jargões são exemplos desta modalidade de vari- ação linguística. É uma variação social e pertence a um grupo específico de pessoas. As gírias perten- cem ao vocabulário específico de certos grupos, como os policiais, cantores de rap, surfistas, estu- dantes, jornalistas, entre outros. Já os jargões estão relacionados com as áreas profissionais, caracteri- zando um linguajar técnico. Como exemplo, pode- mos citar os profissionais da Medicina, os advoga- dos, os profissionais da Informática, dentre outros. C) Variação diafásica: é a variação que se dá em fun- ção do contexto comunicativo, isto é, a ocasião de- termina o modo como falaremos com o nosso inter- locutor, podendo ser formal ou informal. D) Variação diacrônica: a língua é dinâmica e sofre transformações ao longo do tempo. Um exemplo de variação diacrônica é a questão da ortografia: a pa- lavra “farmácia” já foi escrita com “ph” (pharmácia). A palavra “você”, que tem origem etimológica na expressão de tratamento de deferência “vossa mer- cê” e que se transformou sucessivamente em “vos- semecê”, “vosmecê”, “vancê”, até chegar na que uti- lizamos hoje que é, muitas vezes (principalmente na Internet), abreviado para “vc”. E) Variação diamésica: consiste no meio de comuni- cação empregado pelo autor, ou seja, a fala, um do- cumento escrito, ume-mail, uma mensagem no WhatsApp etc. 08.Em São Paulo diz-se “bexigas”, enquanto no Rio de Janeiro diz-se “balões”. Essa diferença é um exemplo de A) linguagem coloquial. B) gíria. C) regionalismo. D) linguagem erudita. E) arcaísmo. Observe o segmento a seguir. “Sou fio das mata, cantô da mão grosa Trabaio na roça, de inverno e de estio A minha chupana é tapada de barro Só fumo cigarro de paia de mio”. 09.No terreno da variação linguística, o aspecto a ser centralmente estudado nesse texto de Patativa do As- saré, intitulado “O poeta da roça” é a variação de A) construções sintáticas. B) situações sociocomunicativas. C) estratégias comunicativas. D) gêneros textuais realizados na fala. E) registros e níveis de fala. Leia. “Cunhado pelo biólogo americano Eugene F. Stoermer no início dos anos 1980, o termo Antropoceno faz referência à maneira como os geólogos nomeiam os vários éons, eras, períodos, épocas e idades pelas quais a Terra pas- sou nos seus cerca de 4,6 bilhões de anos de existência”. 10.Os termos sublinhados indicam que a informação bá- sica desse segmento do texto é de base A) histórica. B) geográfica. C) geológica. D) política. E) linguística. Texto. Da Bahia para o Sul, pouca gente saberá o que é vitalina e o que é caritó. Caritó é a pequena prateleira no alto da parede, ou nicho nas casas de taipa, onde as mulheres escondem, fora do alcance das crianças, o carretel de linha, o pente, o pedaço de fumo, o cachimbo. Vitalina, conforme popularizou a cantiga, é a solteirona, a moça- velha que se enfeita − bota pó e tira pó − mas não encon- tra marido. E assim, a vitalina que ficou no caritó é como quem diz que ficou na prateleira, sem uso, esquecida, guardada intacta. (Rachel de Queiroz) 11.A respeito da expressão vitalina, de acordo com o tex- to, é correto afirmar: A) Trata-se de um exemplo de variação diastrática. B) Trata-se de um exemplo de variação diatópica. C) Trata-se de um exemplo de variação diacrônica. D) Trata-se de uma variação social da língua. E) Trata-se de uma variação diafásica. Texto. Pra cantá caninha verde primero canta O violero Depois que o violero canta canta otros Companhero Chora morena primero canta o violero Depois que o violero canta canta otros Companhero. P. Chiquito e N. Serra. Cana verde. 12.Julgue os itens a seguir, a respeito da forma como foi usada a linguagem na transcrição da letra de música acima e marque a opção incorreta. A) O texto apresenta formas linguísticas típicas da ora- lidade, que deveriam ter sido corrigidas na transcri- ção para a escrita. B) O texto revela marcas de variação linguística na or- tografia, que revelam características sociais de quem a usa. C) O autor optou por fazer uma alteração na forma convencional das palavras, o que se evidencia na redução do ditongo “ou”. D) O autor utilizou uma regra tradicional de acentua- ção gráfica ao acentuar “cantá” (v.1). E) As convenções gráficas da escrita foram desconsi- deradas com a redução sistemática do ditongo ei antes de sílaba iniciada por r. Texto. Antigamente Acontecia o indivíduo apanhar constipação; ficando per- rengue, mandava o próprio chamar o doutor e, depois, ir à botica para aviar a receita, de cápsulas ou pílulas fedoren- tas. Doença nefasta era a phtísica, feia era o gálico. Anti- gamente, os sobrados tinham assombrações, os meninos, lombrigas (…) Carlos Drummond de Andrade. Observe outra versão do texto acima, em linguagem atual. Antigamente Acontecia o indivíduo apanhar um resfriado; ficando mal, mandava o próprio chamar o doutor e, depois, ir à farmá- cia para aviar a receita, de cápsulas ou pílulas fedorentas. Doença nefasta era a tuberculose, feia era a sífilis. Anti- gamente, os sobrados tinham assombrações, os meninos, vermes (…) 13.Comparando-se esses dois textos, verifica-se que, na segunda versão, houve mudanças relativas a A) significado. B) significante. C) acentuação. D) fonética. E) sintaxe Cante Lá que Eu Canto Cá Poeta, cantô da rua, Que na cidade nasceu, Cante a cidade que é sua, Que eu canto o sertão que é meu. (...) Você teve inducação, Aprendeu munta ciença, Mas das coisas do sertão Não tem boa esperiença. Nunca fez uma paioça, Nunca trabaiou na roça, Não pode conhecê bem. Pois nesta penosa vida, Som quem provou da comida Sabe o gosto que ela tem. (...) Você é munto ditoso, Sabe lê, sabe escrevê, Pois vá cantando o seu gozo, Que eu canto meu padecê Inquanto a felicidade Você canta na cidade, Cá no sertão eu infrento A fome, a misera. Pra sê poeta divera, Precisa tê sofrimento. (...) Só canta o sertão dereito, Com tudo quanto ele tem, Quem sempre correu estreito, Sem proteção de ninguém, Coberto de precisão Suportando privação Com paciença de Jó, Puxando o cabo da inxada, Na quebrada e na chapada, Moiadinho de suó. (...) 14.Os vocábulos cantô, ciença, conhecê são exemplos de: A) Solecismo: problemas na concordância ou regência. B) Aliteração: repetição de sons consonantais. C) Assonância: repetição de sons vocálicos. D) Apócope: redução de fonemas. E) Eco: repetição de um mesmo som final. Leia: (...) A propósito das questões formuladas (uma perguntava pelo efeito expressivo de “ide” e outra mandava substituir a segunda pessoa do plural pela terceira), mas depois da segunda, que talvez até seja mais fácil que a primeira, faz o seguinte comentário: “Agora o bicho pega de vez, ao menos para quem teve o azar de estudar com ‘professo- res’ que julgam que nas aulas de português só se deve falar da língua viva, da língua de hoje”. [...] Como disse, as questões da prova mandam discorrer so- bre o efeito expressivo da forma “ide” e, depois, substituir esta forma pela terceira do plural – “vão”. O professor Pasquale supõe – ou permite que se suponha – que as respostas podem ser dadas com base no estudo das for- mas gramaticais da língua mais “antiga” e que alunos que só tivessem estudado a língua viva se sairiam mal na prova. (...) 15.Os termos “língua viva” e “língua de hoje” contrapõem- se ao termo “língua mais ‘antiga”, o que corresponde à variação: A) regional. B) histórica. C) situacional. D) social. E) dialetal. 16.Sírio Possenti faz alusão a Guimarães Rosa como um autor que criou uma “interlíngua”, ou seja, que mistu- rou regionalismos com termos em desuso (arcaicos) e com palavras emprestadas de línguas estrangeiras. Para facilitar a leitura e compreensão de um texto des- se autor, é preciso estar atento ao fato de que: A) as variações linguísticas ocorrem, mas apenas no campo do léxico. Por exemplo, a palavra miúdo, em Portugal, significa criança, no Brasil. B) a língua portuguesa apresenta variações de um grupo social para outro e de uma situação de co- municação para outra. C) o texto escrito não comporta a modalidade falada da língua, a não ser na fala real dos personagens. D) criar palavras novas só se justifica quando se pre- tende construir um enredo de alcance apenas regi- onal. E) as pessoas não entendem neologismos, sejam se- mânticos ou sintáticos. 17.Sobre variação linguística, informe se é verdadeiro (V) ou falso (F) o que se afirma. ( ) Dialeto é a variedade linguística de um grupo es- pecífico de falantes que possuem as mesmas ca- racterísticas socioculturais (classe econômica, nível cultural, profissão). ( ) Socioleto é o modo característico de uso da lín- gua em determinado lugar, região, província, país. ( ) Cronoleto é a variedade própria de certa faixa etá- ria, de uma geração de falantes. ( ) Idioleto é o modo de falar característico de um grupo de pessoas. De acordo com as afirmações, a sequência correta é A) F, F, V, F. B) F, F, V, V. C) V, V, F, F. D) V, V, F, V. Texto A Terra é chata Estou a fim de concordar com os terraplanistas. Mas,antes, meu cérebro terá de virar uma pizza (...) 18.Sobre variação linguística, é correto afirmar que a ex- pressão Estou a fim de, usada pelo autor no subtítulo do texto, denota uma variação A) diatópica. B) diastrática. C) diamésica. D) diacrônica. Texto Toda língua varia, isto é, não existe comunidade linguísti- ca alguma em que todos falem do mesmo modo. A varia- ção é o reflexo de diferenças sociais, como origem geo- gráfica e classe social, e de circunstâncias da comunica- ção. Com efeito, um dos princípios mais evidentes desen- volvidos pela linguística é que a organização estrutural de uma língua (os sons, a gramática, o léxico) não está rigo- rosamente associada com homogeneidade; pelo contrá- rio, a variação é uma característica inerente das línguas naturais. (CAMACHO, R. Norma culta e variedades linguísticas. 19.A partir das informações dadas, assinale a afirmati- va INCORRETA. A) A variedade culta, também chamada de norma cul- ta, representa o uso característico das pessoas com acesso à cultura letrada; é essencialmente urbana. B) Todas as línguas e suas variedades são igualmente eficientes para o exercício de todas as funções a que se destinam e nenhuma língua ou variedade di- aletal é inerentemente inferior a outra similar sua. C) No senso comum, há a crença equivocada de que os falantes de variedades populares falam sem obedecer à regra alguma e, por desconhecimento, não seguem as regras da variedade culta escrita. D) A discriminação de uma determinada língua ou va- riedade linguística em relação a outra denomina-se preconceito linguístico, geralmente pautado na ideia de que há línguas ou variações linguísticas “melho- res” ou “piores” que outras. E) O usuário da língua nunca deve preferir a variedade culta, pois nem sempre é a mais adequada, aquela que estabelecerá uma maior sintonia entre os inter- locutores. Disponível em: <tirasarmandinho>. Acesso em 25 de março de 2022. 20.No trecho “Esse toco aí?”, sobre a palavra em destaque podemos afirmar que: I. Assim como “aipim”, “macaxeira” e “mandioca”, es- ta também é uma marca linguística que pode deno- tar regionalismo. II. Diferentemente das expressões “aipim”, “macaxei- ra” e “mandioca”, esta não pode ser considerada uma marca linguística de regionalismo. III. Toda a frase poderia ser substituída por “Essa ra- magem aí?”, sem o prejuízo do efeito de sentido pre- tendido no texto em questão. IV. A frase denota a expressão de surpresa da perso- nagem ao descobrir que “esse toco” se tratava da mesma planta a qual mencionara no primeiro qua- drinho. Está(ão) CORRETO(s) apenas o(s) item(s): A) I, IV. B) II. C) I. D) I, III, IV. E) I, III. 21.É movediço o terreno em que se assenta o ensino da gramática, porque se observam diversas opiniões, e algumas se opõem diametralmente, como a de Bagno (2002, p. 119) e a de Evanildo Bechara extraída de http: //veja.abril.com.br/blog/reinaldo/tag/evanildo-bechara (acesso em 19/01/15): “Não resta dúvida de que ela (a norma culta de uma língua) é um componente deter- minante da ascensão social. Qualquer pessoa dotada de mínima inteligência sabe que precisa aprender a norma culta para almejar melhores oportunidades. Pri- var cidadãos disso é o mesmo que lhes negar a chan- ce de progredir na vida”. Assim, na sua prática peda- gógica, buscando atingir os objetivos elencados pelos PCN para o ensino e a aprendizagem de língua portu- guesa, o que deve fazer o professor de língua portu- guesa, usando, por óbvio, o bom senso? A) O professor deve ensinar ao aluno a norma-padrão, a qual, em geral, o aluno desconhece ao chegar à escola, sem que se invalidem as marcas linguísticas desse aluno. B) O professor precisa inculcar ao aluno a ideia de que este nunca poderá ascender socialmente sem o domínio da norma-padrão da língua, nas mais dife- rentes situações sociocomunicativas. C) O professor tem de fazer que o aluno compare a sua forma de usar a língua, adquirida antes do início do aprendizado formal, com a aquela apresentada pelo professor e eleja a que melhor lhe convier. D) O professor necessita rever todas as suas ativida- des e práticas pedagógicas com base na teoria da variação linguística, pois é forçoso valorizar e des- tacar o modo de falar que o aluno detém ao iniciar o aprendizado formal da língua. O sumiço do ditongo "ou" O ditongo "ou" de formas verbais do passado também já bateu asas: todos dizem "falô/acabô" etc. - mas, e isso é bem relevante, todos ainda mantêm o ditongo "eu" em "bebeu/comeu" etc. O que fazer diante disso? Simples: tratar os fatos como fatos. Especialmente, ficar atento ao fato de que as mudanças não são aleatórias. Se desapa- receu o ditongo em "falou", não desapareceu em "bebeu". Significa que há uma ordem da língua que se impõe aos rumos da mudança. A língua só muda onde pode mudar. Ou não muda de qualquer jeito. (...) (Revista Língua Portuguesa. Editora Segmento. Ano 9. Nº 101. Março de 2014-p. 26 - Por Sírio Possenti) 22.De acordo com o texto, os fatos linguísticos devem ser considerados fatos, apenas. Assim sendo, fenômenos da mesma natureza do que é apontado no texto, parti- cularmente em falou/falô, só não se verifica A) em relação ao -r final das formas verbais de infiniti- vo. B) em relação ao grupo -ei- como em peito. C) em relação ao grupo -ei- como em peixe. D) em relação ao grupo -ou- como em loucura. E) em relação ao grupo - eia como em ideia. Para responder às questões de números 23 a 27, leia as informações apresentadas e a letra da música de Adoni- ran Barbosa. Os professores de Português de uma escola, querendo tratar a questão da variação linguística, traba- lharam a música As Mariposa com seus alunos de 9.° ano, pedindo-lhes que a reescrevessem de acordo com a nor- ma-padrão da língua portuguesa. As Mariposa As mariposa quando chega o frio Fica dando vorta em vorta da lâmpida pra si isquentá Elas roda, roda, roda e dispois se senta Em cima do prato da lâmpida pra descansá Eu sou a lâmpida E as muié é as mariposa Que fica dando vorta em vorta de mim Todas noite só pra me beijá Tá muitu bom... Mas num vai si acostumá, viu Dona mariposinha? 23.Considerando-se as propostas atuais de ensino de língua materna, a atividade revela-se http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/tag/evanildo-bechara http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/tag/evanildo-bechara A) instigante, uma vez que essas propostas apregoam a prevalência da variedade padrão em relação às demais. B) inadequada, uma vez que alunos de 9.° ano têm ainda dificuldade para entender o assunto. C) contraproducente, uma vez que insere no ambiente escolar texto com erros crassos de português. D) preconceituosa, uma vez que nega a legitimidade das formas de expressão não-padrão. 24.A concepção de ensino de língua dos professores da escola, conforme exposto pela atividade proposta, pri- oriza o trabalho com a gramática A) de uso. B) descritiva. C) prescritiva. D) internalizada. 25.Observe as expressões: “vorta”, “lâmpida”, “dispois”, “muié”, “beijá”. Tais ocorrências mostram alterações linguísticas no plano A) morfológico. B) morfossintático. C) sintático. D) fonético. 26.Fundamentando-se nas Orientações Curriculares e Proposição de Expectativas de Aprendizagem para o Ensino Fundamental, é correto afirmar que a música As Mariposa é um gênero textual cuja esfera de circu- lação social é a A) escolar. B) jornalística. C) literária. D) da vida pública e profissional. 27.A coerência da música, considerando-se a relação de sentido estabelecida entre o eu lírico e a lâmpada, ba- seia-se A) na comparação metafórica, já que se promove uma equivalência entre os dois. B) na redundância, já que o fato de as mariposas pro- curarem luz é bem conhecido. C) na exclusão, já queas mariposas ou sentam nas lâmpadas ou sentam no eu lírico. D) no exagero, já que as mariposas buscam calor e is- so não existe no eu lírico. Para responder às questões de números 28 e 29, conside- re as informações a seguir. Em outra escola, os professores também optaram por trabalhar com as músicas de Adoniran Barbosa. Porém, não apenas os de Português, mas os de todas as discipli- nas. Além disso, além das músicas, outros textos de dife- rentes gêneros foram incluídos no projeto, mantendo-se um diálogo temático entre eles. Os professores discuti- ram as marcas linguísticas do texto, o cenário retratado pelo autor em suas músicas, a vida social apresentada, dentre outros aspectos. 28.Nessa outra escola, as atividades priorizaram A) a variação linguística e a proposta de escrita livre, sem atender a formalismos. B) o trabalho com projeto e a busca do ensino da nor- ma social de prestígio. C) a exploração dos gêneros textuais e a tendência pe- la aula tradicional. D) a abordagem interdisciplinar e as situações reais de produção do discurso. 29.Um dos professores da escola solicitou a seus alunos que elaborassem um conto com as informações conti- das na música de Adoniran Barbosa. A atividade solici- tada explora o processo de A) normatização gramatical. B) paródia. C) cópia. D) retextualização. Língua brasileira [...] O Brasil tem dessas coisas, é um país maravilhoso, com o português como língua oficial, mas cheio de diale- tos diferentes. No Rio de Janeiro, é “ e aí merrmão ! CB, sangue bom !" Até eu entender que merrmão era “meu irmão" levou um tempo. Para conseguir se comunicar, além de arranhar a garganta com o erre, você precisa aprender a chiar como chaleira velha: “ vai roláumaschparadaschischperr- tasch ".[...] Em Mins , quer dizer, em Minas, eles engolem letras e falam Belzonte , Nossenhora , Doidemais da conta , sô ! Qualquer objeto é chamado de trem . Lembrei daquela história do mineirinho na plataforma da estação. Quando ouviu um apito, falou apontando as ma- las: “ Muié, pega os trem que o bicho tá vindo ".[...] Mas o lugar mais interessante de todos é Florianópolis, um paraíso sobre a terra, abençoado por Nossa Senhora do Desterro. Os nativos tradicionais, conhecidos como Manezinhos da Ilha, têm o linguajar mais simpático da nossa língua brasileira. Chamam lagartixa de crocodilinho da parede . Helicóptero é avião de rosca (que deve ser lido roschca ). Carne moída é boi ralado . Se você quiser um pastel de carne, precisa pedir um envelope de boi ra- lado . Telefone público, o popular orelhão, é conhecido como poste de prosa e a ficha de telefone é pastilha de prosa . Ovo eles chamam de semente de galinha e motel é lugar de instantinho .[...] (RAMIL, K. Tipo assim . Porto Alegre: RBS, 2003.) 30.Sobre o texto, analise as afirmativas. I. O autor trata de variedades existentes na língua por- tuguesa do Brasil, enfocando diferenças de pronún- cia e de vocabulário. II. A pronúncia das letras r e s pelos cariocas pode ser caracterizada como pedante, pois se julgam os que falam melhor o português. III. A descrição do linguajar dos nativos tradicionais de Florianópolis não apresenta traço de preconceito linguístico. IV. O autor expressa ponto de vista de conotação nega- tiva e preconceituosa sobre os falares do Rio de Ja- neiro e de Minas. Está correto o que se afirma em A) I e II, apenas. B) III e IV, apenas. C) I, II e III. D) I, III e IV. Leia: Nem todos os integrantes de uma sociedade têm acesso a todas as variedades e muito menos a todos os conteú- dos referenciais. Somente uma parte dos integrantes das sociedades complexas, por exemplo, tem acesso a uma variedade culta ou padrão, considerada geralmente “a língua”, e associada tipicamente a conteúdos de prestígio. A língua padrão é um sistema comunicativo ao alcance de uma parte reduzida dos integrantes de uma comunidade; é um sistema associado a um patrimônio cultural apre- sentado como um corpus definido de valores, fixados na tradição escrita. Uma variedade linguística vale o que valem na sociedade os seus falantes, isto é, vale como reflexo do poder e da autoridade que eles têm nas rela- ções econômicas e sociais. Maurizzio Gnerre. Linguagem, escrita e poder. São Paulo: Martins Fontes, 1991, p. 6 (com adaptações). 31.Infere-se do texto acima que A) as variedades linguísticas refletem características socioeconômicas de seus falantes. B) as variedades linguísticas são ensinadas pela esco- la e, consequentemente, só os falantes que frequen- tam a escola têm acesso a todas as variedades. C) se o falante não detém o poder e não tem autorida- de social, ele não consegue aprender a variedade culta de uma língua. D) a variedade padrão é uma invariante; por essa ra- zão, representa adequadamente a língua de uma comunidade. 32.Assinale a opção correta acerca da variedade padrão de uma língua. A) Variedade padrão é um conceito abstrato que re- presenta uma língua comum, não-institucionalizada, mas aceita pela população de um país. B) A variedade padrão representa as regularidades en- contradas na fala da população de grandes centros urbanos. C) A associação de uma variedade linguística à tradi- ção gramatical contribui para transformá-la em va- riedade padrão. D) A difusão da variedade padrão de uma língua ocor- re, essencialmente, pela necessidade de comunica- ção de seus falantes. 33.Acerca da língua portuguesa do Brasil, assinale a op- ção incorreta. A) Fenômenos linguísticos variados, por exemplo, o emprego de pronomes, diferenciam a língua portu- guesa do Brasil da língua portuguesa de Portugal. B) O léxico do português do Brasil assimila elementos indígenas e africanos. C) Traços linguísticos marcantemente brasileiros, co- mo o emprego de construções sintáticas de uso corrente no Brasil, estão presentes na produção lite- rária de escritores modernistas. D) Diferenças linguísticas entre o português no Brasil e o de Portugal não se estabelecem no campo da prosódia. Leia: Pelo que se sabe até o presente momento, a língua ma- terna, entendida como primeira língua, é adquirida no convívio com a sociedade, sem ensino formal, sem a pre- sença da escola; nesse sentido, não existe ensino de lín- gua materna. Em matéria de grámatica, o que se ensina normalmente na escola é a gramática normativa da língua de uma comunidade e não, a língua dessa comunidade. Então, quando o falante nativo de uma língua explicita o sentimento secular inculcado de que não sabe falar a sua própria língua, ele de fato está confundindo a sua língua com a gramática normativa de parte de sua língua. A lín- gua materna de uma comunidade é o seu legado maior. https://resolvamais.com.br/errado.html https://resolvamais.com.br/errado.html https://resolvamais.com.br/errado.html https://resolvamais.com.br/certo.html Tenha ou não prestígio, ela tem de ser respeitada, porque, além de completa e perfeita do ponto de vista linguístico, ela faz parte da identidade de seus falantes. Maria Marta P. Scherre. A norma do imperativo e o imperativo da norma — Uma reflexão linguística sobre o conceito de erro. In: M. Bagno. Linguística da norma. São Paulo: Loyola, 2002, p. 242. 34.Infere-se do texto acima que A) o ensino da gramática normativa da língua torna-se desnecessário, tendo em vista que o falante nativo já sabe sua própria língua. B) a variedade linguística trazida pelo aluno para a es- cola deve ser considerada e reconhecida pelo pro- fessor. C) o mito de que o falante nativo não sabe falar sua própria língua é criado pelos professores. D) o preconceito linguístico difundido pela escola é consequência da falta de prestígio das variedades não-padrão. Entrevista com Marcos Bagno Pode parecer inacreditável, mas muitas das prescrições da pedagogia tradicional da língua até hoje se baseiam nos usosque os escritores portugueses do século XIX faziam da língua. Se tantas pessoas condenam, por exemplo, o uso do verbo “ter” no lugar de “haver”, como em “hoje tem feijoada”, é simplesmente porque os portu- gueses, em dado momento da história de sua língua, dei- xaram de fazer esse uso existencial do verbo “ter”. No entanto, temos registros escritos da época medieval em que aparecem centenas desses usos. Se nós, brasileiros, assim como os falantes africanos de português, usamos até hoje o verbo “ter” como existencial é porque recebe- mos esses usos de nossos ex- colonizadores. Não faz sentido imaginar que brasileiros, angolanos e moçambi- canos decidiram se juntar para “errar” na mesma coisa. E assim acontece com muitas outras coisas: regências verbais, colocação pronominal, concordâncias nominais e verbais etc. Temos uma língua própria, mas ainda somos obrigados a seguir uma gramática normativa de outra língua diferente. Às vésperas de comemorarmos nosso bicentenário de independência, não faz sentido continuar rejeitando o que é nosso para só aceitar o que vem de fora. Não faz sentido rejeitar a língua de 190 milhões de brasileiros para só considerar certo o que é usado por menos de dez milhões de portugueses. Só na cidade de São Paulo temos mais falantes de português que em toda a Europa! Informativo Parábola Editorial, s/d. 35.Na entrevista, o autor defende o uso de formas linguís- ticas coloquiais e faz uso da norma padrão em toda a extensão do texto. Isso pode ser explicado pelo fato de que ele A) adapta o nível de linguagem à situação comunicati- va, uma vez que o gênero entrevista requer o uso da norma padrão. B) apresenta argumentos carentes de comprovação científica e, por isso, defende um ponto de vista di- fícil de ser verificado na materialidade do texto. C) propõe que o padrão normativo deve ser usado por falantes escolarizados como ele, enquanto a norma coloquial deve ser usada por falantes não escolari- zados. D) acredita que a língua genuinamente brasileira está em construção, o que o obriga a incorporar em seu cotidiano a gramática normativa do português eu- ropeu. E) defende que a quantidade de falantes do português brasileiro ainda é insuficiente para acabar com a hegemonia do antigo colonizador. 36.Com base nos PCNs, é correto afirmar que, no ensino- aprendizagem de diferentes padrões de fala e escrita, se almeja que os alunos A) aprendam a usar exclusivamente a forma correta da língua no desenvolvimento de suas competências discursivas. B) aprendam a adequar os recursos expressivos, a va- riedade de língua e o estilo às situações comunica- tivas. C) desmitifiquem o aprendizado da língua, apesar de reconhecerem que a língua portuguesa é de difícil assimilação. D) dominem por substituição outras modalidades de fala e padrões de escrita. 37.Quando se ensina Português na escola, ensina-se, fundamentalmente, a disciplina gramatical porque A) o estudo crítico das gramáticas normativas, seus conceitos, sua estrutura e coerência interna é fun- damental para a compreensão do texto na sala de aula. B) as gramáticas apresentam deficiência quanto ao registro dos fatos da linguagem e limitam os equí- vocos do texto escrito em norma padrão. C) a concepção de linguagem em que se baseia o en- sino de Português é resumida à dimensão formal, a um conjunto de regras e normas. D) as pesquisas linguísticas mostram que o falante aprende a língua decorando um conjunto de regras, que constituirá a sua gramática interna. 38.Considere o texto abaixo. João era efetivamente um sujeito sorumbático. Pode-se dizer mesmo que era tristonho, melancólico, falando sempre pouco e baixo e esgueirando-se pelos cantos da casa. Nesse texto, o contexto pode auxiliar na inferência do significado do termo “sorumbático”. Esse processo pode ser classificado como A) de explicação por meio de exemplo, pois logo após o termo “sorumbático” mostra-se uma situação vi- vida no passado pela personagem João que explica o sentido do termo. B) de definição, pois o termo “sorumbático” é repetido pronominalmente logo em seguida, sendo possível compreendê-lo dentro do contexto de sua segunda ocorrência. C) de conotação mediante efeito cumulativo, já que se pode compreender o sentido de “sorumbático” pela associação que o leitor faz com o outro termo “sempre” de mesma raiz. D) de sinonímia ou substituição, pois é possível com- preender, pelo contexto, que o termo “sorumbático” está associado à personagem João, da mesma for- ma que seus sinônimos “tristonho e melancólico”. 39.(...) ao lado da superstição de que a função do profes- sor de língua seria ensinar um padrão idealizado de língua culta, existe no imaginário da grande maioria das pessoas outra crença, igualmente prejudicial ao sucesso do ensino de língua: a de que, para dominar esse padrão idealizado de bem falar, é preciso conhe- cer integralmente a doutrina gramatical tradicional, conhecer sua nomenclatura técnica e aprender suas definições. (Bagno, 2005, p. 48) A partir do fragmento, a concepção defendida pelo au- tor é: A) o conhecimento da nomenclatura gramatical em profundidade é fundamental para que o aluno me- lhore suas habilidades de leitura e escrita. B) o papel do professor de língua portuguesa é ensinar apenas o padrão culto da língua, não havendo nes- sa concepção nenhuma atitude supersticiosa. C) a ideia de que conhecer a gramática padrão da lín- gua torna o falante apto a um bom desempenho oral é uma crença social. D) o estudo integral da gramática normativa da língua facilita a expressão oral dos alunos, permitindo que eles possam corrigir seus próprios desvios. 40.“A importância e o valor dos usos da linguagem são determinados historicamente segundo as demandas sociais de cada momento.” – Com essa afirmação, os Parâmetros ratificam a inter-relação que há entre: A) história e classes sociais. B) escola e linguagem. C) linguagem e sociedade. D) ensino e linguagem. TEXTO A modalidade oral da língua tem estado fora dos progra- mas de ensino da escola. Acredita-se que esse fato se deva à visão equivocada de que, como o aluno se expres- sa fluentemente na esfera do oral, não é necessário foca- lizar esse uso. Outro fator que parece influenciar na deci- são dos professores de não trabalhar com as práticas orais é a crença de que a escrita tem status superior à fala. Novo equívoco que acompanha o fazer pedagógico na área. De fato, nas sociedades letradas, a escrita possui um valor inestimável, entretanto a oralidade segue ao lado do desenvolvimento da escrita. Sabe-se, por outro lado, que, em situações que exigem um certo grau de for- malidade, nossos jovens têm grandes dificuldades no desempenho oral. Mesmo nas ocasiões de apresentação de trabalhos em sala de aula, é comum que os alunos se sintam embaraçados e “embaralhados” com o que têm a dizer. Portanto, os exercícios de oralidade não devem se ausentar das atividades escolares, especialmente quando se dirigem para o desempenho linguístico em contextos mais formais, já que, na esfera do cotidiano, os alunos já dominam essa forma de expressão. Na escola, portanto, é necessário que os alunos, cientes de que as situações de interação verbal se diferenciam também pelo grau de formalidade que exigem, aprendam a usar a modalidade oral da língua de acordo com o assunto tratado, com os papéis dos interlocutores e com a intenção comunicativa. Para isso, é importante que o professor proponha ativida- des de produção e interpretação de variados tipos de tex- tos orais, de observação e análise de seus diferentes usos e de reflexão sobre os recursos que a língua apresenta para isso. Marcuschi, Luiz Antônio. Critérios para ensino de língua com vistas a uma avaliação da redação de vestibular. Texto mimeografado, 2002. Adaptado. 41.Podemos dizer que o principal objetivo do texto acima é:A) comprovar, por meio de dados objetivos, a dificul- dade que têm os alunos no desempenho oral. B) defender a necessidade do trabalho com a modali- dade oral nas escolas. C) propor atividades que podem ser utilizadas em sala de aula para trabalhar a língua falada. D) aprofundar a discussão sobre as diferenças entre as modalidades oral e escrita da língua. 42.Segundo o texto, a ausência de um trabalho consisten- te com a modalidade oral da língua, nas escolas, deve- se: 1. à deficiência do professor, em comparação com a expressão fluente do aluno, na esfera do oral. 2. à percepção, por parte da escola, de que essa moda- lidade não precisa ser trabalhada, uma vez que os alunos já a dominam. 3. à supervalorização que se dá à modalidade escrita, cujo domínio é cada vez mais exigido em nossa so- ciedade letrada. 4. à impotência da escola para fazer os jovens supera- rem as grandes dificuldades que apresentam no de- sempenho oral. Estão corretas: A) 2 e 3, apenas. B) 1, 2 e 4, apenas. C) 1 e 3, apenas. D) 2 e 4, apenas.