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08/06/22, 21:39 Literatura portuguesa
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LITERATURA	PORTUGUESA
CAPI�TULO 1 - LITERATURA PORTUGUESA
Michel Marcelo de França / Gabriela Manduca Ferreira
08/06/22, 21:39 Literatura portuguesa
https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=SXK9zHZAon5dRyktRdDXXg%3d%3d&l=9ewqnqrrEmnVMnry59%2bOlg%3d%3d&cd=zGi3… 2/18
Introdução
Vamos começar o capı́tulo compreendendo o processo de formação da literatura e da lı́ngua portuguesa. Para
isso, é interessante re�letirmos sobre alguns pontos: qual é a relação entre a formação da lı́ngua portuguesa e a
formação da Literatura portuguesa? Quais são as caracterı́sticas do perı́odo trovadoresco? Quais as diferenças
entre cantigas lı́ricas e cantigas satı́ricas? Quem são os principais autores e obras do perı́odo classicista?
Inicialmente, studaremos a formação da lı́ngua portuguesa, a partir do galego-português, para então identi�icar
de que modo se conectam a formação da Lı́ngua e a formação da Literatura. Valendo-se do entendimento da
formação da Literatura portuguesa, abordaremos o perı́odo do trovadorismo, identi�icando os tipos de
cantigas lı́ricas e satı́ricas. Com essa contextualização em mente, estudaremos o perı́odo classicista da
literatura portuguesa e, mais detidamente, a obra “Os Lusı́adas”, de Luı́s Vaz de Camões, com destaque para
alguns episódios, como o “gigante Adamastor” e o “velho do Rastelo”, considerados os mais importantes
dessa épica obra da Lı́ngua portuguesa.
No capı́tulo, abordaremos a literatura portuguesa em seu perı́odo de formação, possibilitando uma discussão
fundamental não apenas para compreender as manifestações posteriores da literatura portuguesa, mas,
também, para identi�icar as relações entre ela e a literatura brasileira, já que este deriva daquela, com a qual
compartilhamos a lı́ngua portuguesa.
Vamos lá? Acompanhe com atenção!
1.1 Formação da literatura portuguesa
Ao abordarmos a formação da literatura portuguesa, podemos, inicialmente, reconhecer que a principal
caracterı́stica distintiva entre os seres humanos e os animais é a linguagem, a �im de pensarmos na formação
da lı́ngua portuguesa. Observemos, desse modo, que na pré-história, o ser humano desenvolveu linguagens,
como gestos, pictogra�ias, sı́mbolos, entre outros artefatos que lhe permitiam expressar seus sentimentos e
pensamentos. Tais pensamentos e sentimentos voltavam-se tanto ao mı́tico quanto à partilha e à organização
social que fortalecia os grupos e as chances de sobrevivência.
08/06/22, 21:39 Literatura portuguesa
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Considera-se o marco das primeiras manifestações sonoras dotadas de signi�icados distintos para cada
emissão, aproximadamente o ano 3000 a.C., em uma região incerta da Europa Oriental, na Lı́ngua Indo-
Europeia. Foi a partir desse marco que se convencionalizou um código linguı́stico, isto é, um conjunto de sons
sistematicamente organizado com elementos de distinção e signi�icação.
Desde então, o Indo-europeu se espalhou por inúmeras regiões, evoluindo em contato com outras lı́nguas,
como o grego, o eslavo e o itálico. No entanto, cabe perguntarmos: qual seria a relação do processo linguı́stico
evolutivo com a formação da lı́ngua portuguesa? Poderı́amos iniciar a�irmando que tal processo linguı́stico
envolve o desenvolvimento do latim no século VII a. C.
Os romanos, em seu projeto de expansão territorial, apropriaram-se da lı́ngua utilizada pelo povo itálico (os
fundadores de Roma), tornando o latim a lı́ngua o�icial do Império, que se expandiu à Penı́nsula Ibérica em
218 a.C. Desse modo, regiões como a Galı́cia e a Lusitânia passaram a usar o latim vulgar, praticado pelos
soldados e desbravadores romanos (CAVALCANTI, [s.	d.]). O processo linguı́stico continuou evoluindo com a
formação do galego-português, a partir do latim vulgar.
Nesse contexto de formação da lı́ngua galego-portuguesa, derivada do latim vulgar, um texto literário passou a
ser considerado um marco, consistindo no primeiro texto em Galego-português: a poesia “Ca moiro por vós”,
de Paio Soares de Taveirós, conhecida como “Canção da Ribeirinha” e datada do �inal do século XII
(aproximadamente 1189).
Figura 1 - As pictogra�ias são, também, uma expressão humana de linguagem
Fonte: JESUSDEFUENSANTA, iStock, 2020.
08/06/22, 21:39 Literatura portuguesa
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Após analisar o fragmento apresentado, podemos perceber algumas similitudes entre a lı́ngua portuguesa
atual e o galego-português, idioma utilizado para a produção da literatura dessa época.
1.1.1 Galego-português
Ao abordarmos a formação da lı́ngua portuguesa, cabe observarmos, também, a formação de Portugal. O
condado Portucalense foi dado pelo rei Afonso VI, rei de Leão e Castela, ao Conde Henrique de Borgonha após
o casamento com sua �ilha Teresa de Leão. Depois da morte de Henrique, seu �ilho Afonso Henriques se
rebelou, proclamando-se rei de Portugal. A estreita ligação entre os reinos di�iculta a identi�icação de uma
literatura especi�icamente portuguesa nesse perı́odo. Portanto, o que existe nesse momento é uma literatura
peninsular, que não é apenas de Portugal, pois os textos produzidos nesse perı́odo também fazem parte de
outras literaturas.
Novamente relacionando a formação da lı́ngua e a formação da literatura, é importante observar que até o
século XIV a literatura da Penı́nsula Ibérica utilizava a lı́ngua galego-portuguesa. E, a partir desse momento é
que a lı́ngua portuguesa se separa do galego-português (CAVALCANTI, [s.	d.]).
Nos séculos XIII e XIV, destaca-se a produção literária de D. Dinis, rei de Portugal. A poesia de D. Dinis é um
marco da literatura trovadoresca em galego-português, com cantigas de amor (voz masculina dirigida à
amada) e de cantigas de amigo (voz feminina se dirige a um con�idente). Vejamos um exemplo de cantiga:
Figura 2 - Fragmento do poema “Ca moiro por vós”, considerado o primeiro texto em galego-português
Fonte: Elaborada pelo autor, baseado em SPINA, 1996, p. 267.
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Ao analisar o trecho do poema de D. Dinis, notamos a presença de elementos de submissão ao que é divino
(Deus). Mesmo para expressar seu encantamento por uma mulher, ele se coloca em condição de pecador,
sobretudo, abençoado e sempre perdoado. Interessante perceber que ele está disposto a arcar com as
consequências de seus sentimentos em razão do bem que Deus sempre lhe �izera, temente ao sentimento de
amor que estava sentindo, colocando em dúvida se realmente é “bem” aquilo que vê e sente.
Figura 3 - Fragmento do Poema de D. Dinis (1261-1325)
Fonte: Elaborada pelo autor, baseado em SPINA, 1996, p. 312.
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Assim sendo, a formação da Literatura portuguesa, inicialmente, passa pela formação da lı́ngua portuguesa.
Com isso, temos condições de abordar o perı́odo inicial da Literatura portuguesa, com o estudo da lı́rica
trovadoresca.
VOCÊ QUER LER?
As fronteiras da Literatura portuguesa, no perıódo medieval, são muito frágeis. A
produção literária foi se moldando de acordo com as in�luências polıt́icas e mudanças
econômicas, incorporando elementos externos ao reino de Portugal. O fruto disso é
uma literatura peninsular grafada em galego-português, ou mesmo em espanhol, como
marca de nacionalidade autoral. Para entender melhor essas e outras questões,
sugerimos a leitura do artigo“Origem e formação da Lıńgua portuguesa”, de Camillo
Cavalcanti. O artigo está disponıv́el em: http://www.�ilologia.org.br/ixcnlf/5/15.htm
(http://www.�ilologia.org.br/ixcnlf/5/15.htm)
1.2 Lírica trovadoresca
Ao abordarmos a lı́rica trovadoresca em Portugal, devemos, inicialmente, considerar o grande
desenvolvimento �ilosó�ico da literatura e do pensamento artı́stico da França, entre os anos de 1150 e 1200. E�
nessa época que surgem a primeira canção de gesta e a primeira poesia lı́rica, o primeiro torneio cavaleiresco,
a primeira carta de liberdade de uma comuna, sendo todas criações francesas (SPINA, 1996).
Duas literaturas, a épica dos trouvéres do Norte, e a lı́rica dos troubadours do Sul, nasceram maduras,
re�inadas e constituı́das. Ambas abandonaram o latim e foram buscar na lı́ngua vulgar, no romance, a
expressão do verbo épico e lı́rico.
1.2.1 Cantigas líricas: amor e amigo
Ao longo do século XII, trovadores de Provença e toda a civilização do Languedócio, compreendida entre o
Mediterrâneo e o Maciço Central, os Pireneus e a fronteira italiana, incluindo-se a França, capitanearam os
primeiros capı́tulos da literatura europeia (SPINA, 1996).
http://www.filologia.org.br/ixcnlf/5/15.htm
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No Sul da França, o renascimento da mulher estimulou o culto à poesia dos trovadores. No Norte, as canções
de gesta eram escritas e celebravam os feitos heroicos dos guerreiros da sociedade aristocrática. Isto é,
enquanto no Norte se fazia uma literatura de mero refrigério de heróis, meridional e de caráter individualista;
no Sul era produzida uma poesia sentimental, cortês, elegante e re�inada, tendo a mulher como maior fonte de
inspiração.
A� época, o direito romano contribui para enfraquecer na Provença o sistema feudal. No Norte, o feudo criou o
direito de primogenitura, ao passo que no Sul, em caso de sucessão, o feudo era dividido ente os herdeiros em
partes iguais. No Norte, a Igreja manteve sua �irme posição, enquanto que no Sul o papel da Igreja era
de�iciente, colocando em xeque a cristandade, elevando o papel polı́tico das mulheres na sociedade, inclusive,
com a concessão do direito a posse de terras.
Nesse contexto, o “serviço amoroso”, ou seja, a vassalagem amorosa presente na poesia do trovador
meridional, não correspondia à realidade social do Sul da França, sendo concebida apenas como um
empréstimo e homenagem à poesia feudal do Norte do paı́s. Mesmo os galanteios dos cavaleiros que rendiam
homenagens de submissão à mulher como “doce e pura”, como um ser superior, em nada se harmonizava
verdadeiramente à vida real que estas levavam na sociedade.
Segundo Spina (1996), em geral, a mulher que era adorada na corte de amor não era a mesma que se fazia dona
do lar ou aquela a que concedia sua mão o serviçal cavaleiro. Esse fato, por si só, já convertia essas relações
amorosas em um jogo de galanteios caracterizados como simples paixão, não servindo para estimação e
elevação do status da mulher.
Essa civilidade, especi�icamente cavaleiresca, exclusiva da vida palaciana e nascida simultaneamente nos dois
hemisférios da França, ao longo do século XI se disseminou e se instaurou por toda a Europa romana e anglo-
germânica. Surgiu, então, aos trovadores o primeiro grande tema da inspiração lı́rica: o amor. A morte e a
natureza passam a �igurar apenas como tópicos dessa poesia em que o trovador é mártir (SPINA, 1996).
Figura 4 - A Penı́nsula Ibérica no século XII era considerada o esplendor do trovadorismo
Fonte: MissVacation, iStock, 2020.
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Segundo Spina (1996), o amor cortês aparece de forma estranha entrelaçado a natureza primaveril, em razão
da sobrevivência da poesia folclórica dos cantos da primavera, uma marca dos trovadores provençais, com a
produção de uma poesia marcada pela idealização da mulher e pelo tema do amor inatingı́vel.
Apesar de não ter exportado para as terras galego-portuguesas a sua lı́ngua, como ocorreu na Itália, a lı́rica
provenciana também in�luenciou de forma bené�ica a poesia das populações rústicas e burguesas de tal
região. De acordo com Spina (1996), a nova forma importada para os salões da casa de Borgonha (a canção de
d’amor), adquiriu status de cidadania e poesia nacional, dando origem a uma nova poesia denominada como
palaciana, revestida de apelo popular.
Cabe destacar que o trovador era o nome dado àquele que criva, instrumentava e entonava suas próprias
composições poéticas. Assim, as cantigas também eram criadas e divulgadas pelo segrel, o trovador
pro�issional que viajava de corte em corte com o seu jogral (dançarinos, acrobatas, mı́mico), cujo músico era
o menestrel. Em terras portuguesas, um dos mais famosos trovadores foi o rei D. Dinis, o sexto a ocupar o
trono de Portugal, de 1279 a 1325. Foi grande incentivador da agricultura, tendo se destacado por fundar a
primeira universidade desse paı́s em 1290, então sediada na cidade de Lisboa. Suas cantigas representam um
dos momentos mais sublimes do emprego dos recursos verbais e a adequação ao dizer poético, a perfeita
junção entre palavra e música.
As cantigas de D. Dinis foram grafadas em galego-português, a lı́ngua utilizada pelos poetas da época, dada a
importância de Santiago de Compostela (capital da Galiza), localizada na extremidade de noroeste da
Penı́nsula Ibérica. Como Portugal somente se �irmou como reino independente a partir do século XII, suas
relações polı́ticas, econômicas e comerciais se davam com a Galiza, motivo pelo qual a produção literária
dessa época se dava nessa lı́ngua (SPINA, 1996).
Conhecendo o contexto das cantigas medievais, podemos identi�icar que elas se dividem em dois tipos de
composições: as lı́ricas e as satı́ricas. As cantigas lı́ricas, que, por sua vez, podem ser cantigas de amor (eu
lı́rico masculino) e cantigas de amigo (eu lı́rico feminino), tem como temática principal o amor. Já as cantigas
satı́ricas são as que realizam crı́ticas, dividindo-se entre as de escárnio (crı́tica indireta) e as de maldizer
(crı́tica direta e agressiva) (SPINA, 1996).
1.2.2 Cantigas satíricas: escárnio e maldizer
Nas cantigas de escárnio, o eu-lı́rico faz uma crı́tica (sátira) indireta e com duplo sentido. Para o trovador
fazer uma cantiga de escárnio, ele precisa compor uma cantiga falando mal de alguém, ou seja, fazendo uma
crı́tica a alguma pessoa, por meio de palavras de duplo sentido, ou melhor, através de ambiguidades,
trocadilhos e jogos semânticos, em um processo denominado pelos trovadores de “equı́voco”. Essa cantiga é
capaz de estimular a imaginação do autor, sugerindo-lhe uma nova expressão irônica (MOISE�S, 2008).
Vejamos um exemplo de cantiga de escárnio citada por Moisés (2010, p. 35):
Ai, dona fea, foste-vos queixar
que vos nunca louv[o] em meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!…
As cantigas de maldizer também trazem crı́ticas, ou seja, sátiras diretas, porém, não são acompanhadas de
duplo sentido. São frequentes as agressões verbais nas cantigas de maldizer, que podem ou não revelar o
nome daquele a quem a sátira se destina, mas que se caracterizam, inclusive, pelo uso de palavras de baixo
calão. Vejamos um exemplo de cantiga de maldizer citada por Moisés (2010):
Roi queimado morreu con amor
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Em seus cantares por Sancta Maria
por ua dona que gran bem queria
e por se meter por mais trovador
porque lhela non quis [o] benfazer
fez-sel en seus cantares morrer
mas ressurgiudepois ao tercer dia!…
Ao abordarmos a lı́rica trovadoresca na Literatura portuguesa, podemos considerar alguns trovadores que se
destacaram: João Soares de Paiva foi considerado o mais antigo poeta português com a cantiga “Ora faz host’o
senhor de Navarra”, que é parte do Cancioneiro da Vaticana; Paio Soares de Taveirós é considerado o autor de
um dos primeiros textos em português, “Canção da Ribeirinha” (1189 -1198), no Cancioneiro da Ajuda; D.
Afonso X, o Sábio, rei de Leão e Castela, era avô de D. Dinis e produziu numerosos versos, sendo os mais
conhecidos as Cantigas de Santa Maria; D. Dinis foi uma das �iguras mais contempladas do trovadorismo
português, rei de Portugal, incentivador das artes e do conhecimento acadêmico; e Martim Codax, que, apesar
de ter sua história pouco conhecida, foi reconhecido por suas composições (sete cantigas de amigo), que
foram transcritas junto da notação musical do poema.
CASO
Imaginemos um caso hipotético em que um in�luenciador digital começa a pesquisar
sobre manifestações literárias de conteúdo satıŕico e crıt́ico, com o intuito de
compreender um fenômeno bastante relacionado à vida moderna: os “haters”.
Ao observar a frequente presença nas redes sociais de “haters”, pessoas que usam a
internet para fazer crıt́icas e ofensas, principalmente a pessoas públicas, o
in�luenciador digital procurou outras expressões de sátira antes do uso da internet e
encontrou as cantigas de escárnio e maldizer no perıódo do Trovadorismo. Assim, o
in�luenciador digital pode perceber que, embora a prática do maldizer já tivesse
manifestações muito antigas, como as cantigas, a internet e o anonimato que ela
confere facilita a ação daqueles que se dedicam a essa prática.
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Para aprofundar nossos estudos sobre os autores e obras da Era Trovadoresca, podemos pesquisar em sites,
blogs e inúmeros vı́deos que estão disponı́veis na web. E, claro, não deixarmos de buscar mais informações
em bibliotecas e seus acervos sobre o assunto. Certamente, teremos contato com uma riqueza de detalhes
sobre o assunto que permitirão uma visão muito mais ampla sobre essa época.
VOCÊ QUER VER?
O �ilme “Coração de Cavaleiro”, lançado em 2001 e estrelado por Heath Ledger, aborda
a história de um cavaleiro medieval em uma busca para conquistar o amor de uma
donzela e provar sua bravura. “Coração de Cavaleiro” poderá nos aproximar das
caracterıśticas da era medieval, perıódo do trovadorismo. Há cenas do �ilme disponıv́eis
em: https://www.youtube.com/watch?v=ZI2AcNSXHKQ
(https://www.youtube.com/watch?v=ZI2AcNSXHKQ).
1.3 Era clássica
Por volta de 1527, o poeta Francisco de Sá de Miranda (1481-1558), retornava a Portugal após uma longa
viagem à Itália. Lá, ele estudou a obra de Francesco Petrarca (1304-1374) e de outros poetas do chamado
“dolce	stil	nuovo” (doce estilo novo). Destaque para alguns desses poetas: Dante Alighieri (1265-1321), Guido
Cuinizelli (1230-1276) e Guido Cavalcanti (1259-1300).
A partir desses estudos e experiências, Sá de Miranda, um dos colaboradores do “Cancioneiro Geral”, retorna a
Portugal investido de inovações que já eram praticadas na Itália e que já in�luenciavam as demais literaturas
europeias. E� nesse momento que se tem o marco inicial do Classicismo ou Era Clássica, caracterizado pela
aceitação e internalização da mentalidade literária renascentista por parte dos portugueses.
Cabe destacar que a palavra “clássico” nesse contexto se aplica a todos os escritores que tenham alcançado
alto nı́vel de realização e prestı́gio na produção de sua obra, de modo a se tornar um modelo aos aprendizes e
demais poetas. Durante o século XVI, o estudo e a imitação da métrica dos autores da antiguidade greco-latina
(os clássicos), visto que esses eram tidos como sinônimo de perfeição e, por isso, deviam ser contemplados e
imitados.
Por esse motivo, o classicismo português é considerado uma das épocas de maior produção literária de todos
os tempos. Tanto a poesia lı́rica como a épica foram desenvolvidas de forma intensa. Muitos textos em prosa
também foram produzidos, desde a narrativa de �icção à historiogra�ia e a denominada literatura de viagem,
baseada nas grandes navegações e no descobrimento de novas terras.
Destaque também para o gênero dramático, seja na forma de “autos”, conforme os produzidos na tradição
vicentina e medieval, seja ainda na forma de comédias e tragédias de acordo com o cânone greco-latino, com
espaço para a produção de peças teatrais escritas em verso e em prosa.
https://www.youtube.com/watch?v=ZI2AcNSXHKQ
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Em 1580, a era clássica chega ao seu �im com a morte de um dos maiores poetas dessa época e da lı́ngua
portuguesa, Luı́s Vaz de Camões, fato que se une à perda da independência polı́tica de Portugal.
1.3.1 Do medieval ao renascentismo
De acordo com Moisés (2008) o perı́odo que efetivou a transição da Idade Média para a Idade Moderna é
chamado de renascimento. Recebeu esse nome em razão da redescoberta e revalorização de preceitos da
antiguidade clássica, direcionando o pensamento e as manifestações artı́sticas para um paradigma mais
humanista e naturalista.
O renascimento cultural eclodiu, primeiramente, na região italiana da Toscana, nas cidades de Florença e
Siena, espalhando-se para o resto da penı́nsula itálica e, posteriormente, para todos os paı́ses da Europa
Ocidental (MOISE�S, 2008).
Graças à invenção de Johannes Gutemberg, a impressa, o processo de proliferação dessas ideias, rapidamente
alcançou plenitude, tornando-se uma escola artı́stica a ser seguida. Embora a Itália sempre tenha sido o local
onde o movimento apresentou maior expressão, as ideias renascentistas espalharam-se rapidamente por todo
o lado Ocidental do velho continente (MOISE�S, 2008).
Após a estadia de oito anos na Itália do poeta português Francisco de Sá de Miranda, o movimento chegou a
Portugal em 1527 com o nome de classicismo, como uma referência direta aos clássicos greco-romanos, nos
quais os autores renascentistas encontravam inspiração para suas composições. E� nesse perı́odo que surge
Luı́s Vaz de Camões, poeta lı́rico, sonetista e épico, autor de “Os Lusı́adas”, a epopeia portuguesa de maior
destaque.
VOCÊ SABIA?
O renascimento foi um movimento que repercutiu em todas as áreas: artes,
cultura e ciências. Defendendo a prevalência da razão e tendo como centro as
ações humanas (o humanismo), as obras renascentistas realizaram uma retomada
dos valores da Antiguidade Clássica e afastaram-se dos valores medievais. Entre
as obras de maior destaque no Renascimento estão a obra literária “Divina
Comédia”, de Dante Alighieri, e a pintura “Mona Lisa”, de Leonardo Da Vinci.
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A seguir, estudaremos sobre a vida desse importante poeta e as particularidades do seu modo de viver,
abordando também fatos sobre sua obra-prima, que narra a História de Portugal baseada na viagem de Vasco
da Gama às I�ndias.
VOCÊ O CONHECE?
Vasco da Gama, um dos maiores navegadores portugueses, nasceu em 1469 em Sines,
na região de Alentejo, Portugal. Era �ilho de Estêvão da Gama e Isabel Sodré. Vinha de
famıĺia nobre e abastada. Em E� vora, estudou navegação e matemática, e por ser �ilho
de um grande navegador, sucedeu ao pai por ordem de Dom João II. Dentre seus
grandes feitos está a construção de uma rota de comércio e troca de especiarias pelos
Oceanos Atlântico e I�ndico e a chegada às I�ndias. Em 24 de dezembro de 1524, faleceu
em Cochim, na I�ndia. Para sabermais sobre os feitos de Vasco da Gama, conhecido
como “o navegador dos Lusıádas”, acesse: https://super.abril.com.br/historia/o-
navegador-dos-lusiadas/ (https://super.abril.com.br/historia/o-navegador-dos-
lusiadas/).
1.4 Luís de Camões
A vida de Camões, ainda hoje, representa uma incógnita sob muitos aspectos. Sabe-se que nasceu entre 1524 e
1525, em uma dessas quatro cidades que reivindicam sua cidadania: Lisboa, Alenquer, Coimbra ou Santarém.
E� originário de uma famı́lia �idalga da Galiza, cujo pai se chamava Simão Vaz de Camões e a mãe Ana de Sá de
Macedo. Embora incerto, é possı́vel que na juventude tenha frequentado a Corte portuguesa e a Universidade
de Coimbra (MOISE�S, 2008).
Segundo Moisés (2008), especula-se que nessa época, manteve contato com escritores antigos e modernos,
como Homero, Virgı́lio, Ovı́dio, Petrarca, Boscán, Garcilaso, entre outros. A vida boêmia e turbulenta era uma
de suas caracterı́sticas mais marcantes, sendo descrito por seus contemporâneos como um homem de porte
mediano, com um cabelo loiro arruivado, cego do olho direito, com habilidade para exercı́cios fı́sicos e com
temperamento forte e intempestivo, propenso ao envolvimento em brigas.
Era considerado de grande valor como soldado, além de uma pessoa liberal e alegre. Por esse motivo,
acredita-se que seus dotes pessoais pudessem ter motivado paixão em D. Maria, �ilha de D. Manuel e irmã de
D. João III, e em Catarina de Ataı́de (que aparece em sua poesia sob o anagrama de Natércia).
Inclusive, é possı́vel que esses fatos tenham corroborado para que ele tenha sido afastado do convı́vio
palaciano, sendo enviado para Ceuta, em 1549, como soldado, onde perdera um olho em batalha.
Posteriormente, regressou a Lisboa e na procissão de Corpus Christi de 1552, após envolvimento em contenda
https://super.abril.com.br/historia/o-navegador-dos-lusiadas/
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com Gonçalo Borges, fere o servidor do Paço, o que lhe rende retorno às tropas portuguesas sediadas no
Oriente, como forma de escapar da prisão. Assim, viaja para a I�ndia em 1553 (NICOLA, 1999).
Nicola (1999, p. 77) a�irma que,
[…] a partir desse fato, iniciou-se uma longa jornada de 17 anos, na qual o poeta viveu nas
colônias portuguesas da A� frica e da A� sia, morando inclusive em Macau, ex-colônia portuguesa na
China, passando inúmeras di�iculdades e até algumas passagens pela cadeia. No entanto, no ano
de 1556, dá baixa das forças armadas e assume o cargo de ‘provedor dos bens de defuntos e
ausentes’ em Macau, local em que teria produzido parte de “Os Lusı́adas”.
Nesse perı́odo, Camões foi acusado de prevaricar, tendo de ir à Goa para se defender das acusações. No
percurso, sua embarcação naufraga na foz do rio Mecon, momento no qual, segundo os relatos, salvou “Os
Lusı́adas” e perdeu Dinamene, sua companheira. Não obstante, ao chegar em Goa, foi preso em razão das
acusações que sobre ele recaiam, sendo solto em 1563.
De acordo com Moisés (2008), em 1567, Camões foi novamente encarcerado por dı́vidas em Moçambique.
Após ser libertado, passou a viver de forma miserável até que Diogo do Couto proporciona-lhe meios para
regressar a Portugal. Chegando a Portugal em 23 de abril de 1569, em 1572 torna pública a obra “Os Lusı́adas”,
passando a receber uma pensão der 15.000 réis anuais, auxı́lio esse concedido pelo rei D. Manuel, a quem fora
dedicado o poema.
Após uma vida repleta de aventuras e desencontros, Camões morreu pobre e abandonado, em 10 de junho de
1580. A obra de Camões somente alcançou reconhecimento em Portugal e no mundo depois da morte do
poeta, que passou a ser considerado o maior poeta em lı́ngua portuguesa.
1.4.1 Os Lusíadas: proposição e invocação
A obra de Camões, “Os Lusı́adas”, é composta por cinco partes, obedecendo a seguinte ordem: narração,
invocação, proposição, epı́logo e dedicatória. De acordo com Moisés (2008), logo no inı́cio de sua obra, o
poeta apresenta aquilo que se propõe a fazer, indicando de forma objetiva o assunto da sua narrativa: cantar
(celebrar/louvar) os navegadores que desbravaram os mares e oceanos, tornando uma realidade a expansão
do império português no Oriente. Destina também proposições aos reis que promoveram a tais feitos e a
divulgação da fé e do império. Em suma, o autor apresenta o reconhecimento a todos os que se tornaram
dignos de admiração em razão de seus feitos heroicos.
Vejamos um trecho da proposição nas estrofes 1/3 (CAMO� ES, 2000, p. 1):
As armas, e os barões assinalados
Que, da Ocidental praia Lusitana
Por mares nunca dantes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edi�icaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
[...]
Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que �izeram;
de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram.
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Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.
Nesse outro trecho a seguir extraı́do de , o poeta, dirigindo-se às Tágides (Ninfas do Tejo), apresenta sua
inspiração para realizar aquilo a que se propôs, a�irmando que se trata de um grande feito, que exigirá a
inspiração das musas. Vejamos as estrofes 4/5 (CAMO� ES, 2000, p. 4): 
E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mi um novo engenho ardente,
Se sempre, em verso humilde, celebrado
Foi de mi vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandı́loco e corrente,
Por que de vossas águas Febo ordene
Que não tenham enveja às de Hipocrene.
Dai-me uma fúria grande e sonorosa,
E não de agreste avena ou frauta ruda,
No trecho apresentado a seguir, o poeta apresenta sua dedicatória, é a parte em que oferece sua obra ao rei D.
Sebastião. Cabe destacar que esse tipo de texto não era parte da estrutura das epopeias da Era Greco-romana,
caracterizando, desse modo, uma inovação por parte de Camões, que com isso demonstra sua necessidade
social e econômica de um mecenas, um protetor, um �inanciador. Vejamos nas estrofes 6/8 (CAMO� ES, 2000, p.
2-3):
E vós, ó bem nascida segurança
Da Lusitana antiga liberdade,
E não menos certı́ssima esperança
De aumento da pequena Cristandade,
Vós, ó novo temor da Maura lança,
Maravilha fatal da nossa idade,
Dada ao mundo por Deus, que todo o mande,
Pera do mundo a Deus dar parte grande.
[...]
Vós, poderoso Rei, cujo alto Império
O Sol, logo em nascendo, vê primeiro;
Vê-o também no meio do Hemisfério,
E, quando dece, o deixa derradeiro;
Vós, que esperamos jugo e vitupério
Do tope Ismaelita cavaleiro,
Do Turco Oriental e do Gentio
Que inda bebe o licor do santo Rio: [...]
Ao observar esses trechos de proposição e invocação de “Os Lusı́adas”, podemos observar que, ao mesmo
tempo em que Camões recorre à estrutura da epopeia clássica, inova ao incluir uma dedicatória e, além disso,
por se propor a narrar os feitos lusitanos (MOISE�S, 2008).
1.4.2 Os Lusíadas: episódio do velho do Restelo
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O episódio “velho do Restelo” é um dos mais conhecidos de “Os Lusı́adas”. Nele, é apresentado o momento da
partida das naus de Vasco da Gama do porto de Belém, onde um ancião, “velho do Rastelo”, enuncia de forma
eloquente sua indignação e contragosto sobre a decisão de se viajar às I�ndias. A esse fato, atribui-se a
pungência da mentalidade conservadorista feudal, agrária, oposta ao expansionismo e às navegações, ligadas
aos interesses da burguesia e da monarquia(MOISE�S, 2008).
Deduz-se desse fato que Camões, ao produzir sua epopeia para exaltar as Grandes Navegações, dá voz àqueles
que se opõem ao projeto expansionista. Assim, “O Velho do Restelo” caracteriza a dicotomia entre passado e
presente, antigo e novo. O Velho evidencia a vaidade, a cobiça e audácia como nocivos ao futuro da Pátria e
destaca que tais aventuras podem desgraçar famı́lias, vidas e fortunas. Vejamos o trecho inicial do episódio
narrado das estrofes 90 a 104 (CAMO� ES, 2000, p. 189):
90 "Qual vai dizendo: A� —" O� �ilho, a quem eu tinha Só para refrigério, e doce amparo Desta
cansada já velhice minha, Que em choro acabará, penoso e amaro, Por que me deixas, mı́sera e
mesquinha? Por que de mim te vás, ó �ilho caro, A fazer o funéreo enterramento, Onde sejas de
peixes mantimento!" A� — [...]
Cabe destacar que a fala do “velho do Rastelo” pode ser entendida como a expressão dos próprios sentimentos
de Camões, que se mostram divididos entre o Humanismo paci�ista e os feitos heroicos dos cavaleiros e
cruzados, que inspiraram o poeta sobre a missão expansionista de Portugal.
Segundo Moisés (2008), o discurso do “velho do Rastelo” também corresponde a um gênero da literatura
clássica grega, denominado como “propenptikón”, que signi�ica “adeus ao viajante que parte”. Isso reforça não
só a preocupação estilı́stica do poeta, como seu profundo conhecimento das métricas do gênero.
1.4.3 Episódio do gigante Adamastor
O episódio do gigante Adamastor é considerado o mais rico e complexo de “Os Lusı́adas”, tendo sido
inspirado em Homero e Ovı́dio, recuperando o caráter simbólico, mitológico e lı́rico da epopeia. Ele é
composto por 24 estrofes.
Nesse episódio, tanto Vasco da Gama como o Gigante Adamastor aparecem como narradores e como
personagens. Enquanto plano histórico, essa narrativa simboliza a superação dos portugueses frente ao mar,
superando superstições medievais sobre a existência de monstros, bestas e abismos, que habitavam o
Atlântico e o I�ndico (MOISE�S, 2008). Em verdade, o gigante Adamastor é apenas uma alucinação com a qual os
portugueses devem lutar para superar seus próprios medos.
Do ponto de vista da composição de “Os Lusı́adas”, podemos considerar esse episódio como clı́max do
poema, uma vez que Camões retoma dois temas recorrentes de sua obra: o amor impossı́vel e o amante
rejeitado. Apaixonado por Nereida Tétis, Adamastor, um dos gigantes �ilhos da Terra, sem ter seu amor
correspondido, busca tomar a amada à força, provocando assim a ira de Júpiter, que o transforma no Cabo das
Tormentas, uma �igura monstruosa que habita o Atlântico (MOISE�S, 2008).
O episódio também se destaca pela narrativa de eventos históricos, como a passagem do Cabo da Boa
Esperança, sob a chave do real maravilhoso, assim como pela presença da história de Portugal por meio de
profecias. No episódio, unem-se as caracterı́sticas do épico, do trágico e do lı́rico com um resultado estético
que o destaca de outros episódios do poema.
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A riqueza da história da Literatura portuguesa muito contribui para o entendimento do desenvolvimento dessa
nação, bem como das suas ex-colônias, como o próprio Brasil. Pensar as grandes navegações como a que foi
narrada por Camões na ida às I�ndias, demonstra que a chegada dos portugueses às terras brasileiras muito
pouco teve de acidental. Em verdade, os lusitanos eram ávidos navegadores e viviam um momento de
esplendor e prosperidade em razão das investidas além-mar. A obra “Os Lusı́adas” retrata essa questão,
sobretudo, no episódio do “Gigante Adamastor”, no qual o orgulho e a bravura portugueses são explicitados
em tom heroico e de superação.
A era trovadoresca portuguesa re�lete uma produção literária ainda muito in�luenciada por outros grandes
centros europeus. Apesar de demonstrar beleza e sutileza na produção das cantigas de amor e amigo, as
narrativas ainda estavam atreladas às novelas de cavalaria e aos feitos das cruzadas. Um dos maiores ganhos
desse perı́odo para Portugal foi certamente a criação da primeira universidade do paı́s, situada em Lisboa por
D. Dinis.
Já na era classicista e/ou renascentista, para além do resgate da arte clássica e da valorização do ser humano e
do belo, está uma das maiores obras produzidas em lı́ngua portuguesa, “Os Lusı́adas”, de Luı́s Vaz de Camões,
um dos maiores escritores da literatura lusitana. Sua obra não só resgata a métrica das grandes epopeias da
era clássica greco-romana, como também traz à luz a coragem, bravura e beleza do povo português e seus
feitos.
VOCÊ QUER LER?
Devido à importância do episódio do Gigante Adamastor, é recomendável que você leia
as 24 estrofes que compõem esse episódio e consiga identi�icar nelas os temas e as
caracterıśticas que temos destacado. Leia o episódio diretamente em “Os Lusıádas” e,
em seguida, você pode ler uma análise detalhada de cada estrofe, disponıv́el em:
https://www.passeiweb.com/index.php/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/o
/os_lusiadas_o_gigante_adamastor
(https://www.passeiweb.com/index.php/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/o
/os_lusiadas_o_gigante_adamastor).
Conclusão
Ao chegarmos ao �im do capı́tulo, podemos compreender como se deu a formação da Literatura portuguesa e
suas in�luências, além de seu desenvolvimento nos perı́odos do Trovadorismo e do Classicismo.
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
https://www.passeiweb.com/index.php/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/o/os_lusiadas_o_gigante_adamastor
08/06/22, 21:39 Literatura portuguesa
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conhecer o processo de formação da língua portuguesa a partir
do galego-português;
identificar as relações entre a formação da língua portuguesa e a
formação da Literatura portuguesa;
abordar as características do trovadorismo no contexto medieval;
conhecer os tipos de cantigas trovadorescas portuguesas e seus
principais autores;
estudar a era clássica portuguesa e suas relações com o
renascimento;
conhecer sobre vida de Luís Vaz de Camões;
abordar a obra “Os Lusíadas”, a partir de seus principais
episódios.
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Bibliografia
BARROS, F. V. O navegador dos Lusı́adas. SuperInteressante, [s.	 l.], 31 out. 2016. Disponı́vel em:
https://super.abril.com.br/historia/o-navegador-dos-lusiadas/ (https://super.abril.com.br/historia/o-
navegador-dos-lusiadas/). Acesso em: 7 fev. 2020.
CAMO� ES, L. V. Os	Lusíadas. 4. ed. Lisboa: Instituto Camões, 2000.
CAVALCANTI, C. Origem e formação da lı́ngua portuguesa. Círculo	 Fluminense	 de	 Estudos	 Filológicos	 e
Linguísticos, [s.	 l.], [s.	 d.]. Disponı́vel em: http://www.�ilologia.org.br/ixcnlf/5/15.htm
(http://www.�ilologia.org.br/ixcnlf/5/15.htm). Acesso em: 05 fev. 2020.
HELGELAND, B. Coração	de	cavaleiro. Columbia Pictures, 2001.
MOISE�S, M. A	literatura	portuguesa	através	dos	textos. 29. ed. São Paulo: Cultrix, 2010.
MOISE�S, M. Literatura	portuguesa. São Paulo: Cultrix, 2008.
NICOLA, J. Literatura	portuguesa: das origens aos nossos dias. São Paulo: Scipione, 1999.
SPINA, S. A	lírica	trovadoresca. 4. ed. São Paulo: Edusp, 1996.
https://super.abril.com.br/historia/o-navegador-dos-lusiadas/
http://www.filologia.org.br/ixcnlf/5/15.htm
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