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Por Jess Heinig ™ Créditos Escrito por: Jess Heining Desenvolvido por: Justin Achilli Editor: Cynthia Summers Director de Arte: Richard Thomas Layout & Composição: Becky Jollensten Arte Interna: Eric Hotz, Leif Jones, Alex Shiekman, Chris- topher Shy, Drew Tucker Arte de Capa: John Van Fleet Design de Capa e Contracapa: Becky Jollensten © 2000 White Wolf, Inc. Todos os direitos reservados. Todos os personagens, nomes, lugares e textos mencionados neste livro são propriedade intelectual da White Wolf, Inc. A reprodução sem permissão escrita do editor é expressamente proibida, exceto para o propósito de resenhas, e das planilhas de personagens, que podem ser reproduzidas para uso pessoal apenas. White Wolf, Vampiro: A Mascara, Vampiro: A Idade das Trevas, Mago A Ascensão e o Mundo das Trevas são marcas registradas da White Wolf Publishing, Inc. Todos os direitos reservados. Lobisomem o Apocalipse, Aparição o Esquecimento, Changeling o Sonhar, Caçador a Revanche, Lobisomem Oeste Selvagem, Mago a Cruzada dos Feiticeiros, Aparição a Grande Guerra, Trinity, Crianças da Noite e Livro do Clã Tremere são marcas registradas da White Wolf Publishing, Inc. Todos direitos reservados. Todos personagens, lugares, nomes e texto mencionados neste livro são propriedade intelectual da White Wolf Publishing Inc. A menção de qualquer referencia a qualquer companhia ou produto nessas paginas não são uma afronta à marca registrada ou direitos autorais dos mesmos. Este livro usa o sobrenatural como mecânica, personagens e temas. Todos os elementos místicos são fictícios e direcionados apenas para diversão. Recomenda-se cautela ao leitor. Dê uma olhada na White Wolf on-line em http://www.white-wolf.com; alt.games.whitewolf e rec.games.frp.storyteller IMPRESSO NO BRASIL. Agradecimentos Especiais, Edição Hellvis Chad“Tolo é Tolo” Brown, por suportar a serenata Smellvis. Richard "Vamos Compartilhar esta bebida" Thomas, por encontrar-se parafusando sete oitavos do kamikaze. Brian “Orelha” Glass, por sua ajuda ao arrastar o que-será- humilhado para o "palco". Phil “Honorário Trabalhador Braçal” Boulle, por aprender o que passa pelo entretenimento nos States. Fred“O Drama” Yelk, por tentar esmagar a compaixão de colega de quarto de sua namorada. Yeesh O bathroomon no dia seguinte à todo o fracasso. Créditos da Tradução Tradução: Bravo Revisão: Bravo Diagramação: ROR ™ Introdução: Iluminado pela Escuridão Capítulo Um: O Preço da Imortalidade Capítulo Dois: Dentro da Pirâmide Capítulo Três: Pedras da Pirâmide Índice 03 Índice 4 10 24 70 Iluminado pela Escuridão Iluminado pela Escuridão Às vezes me sinto preso entre dois mundos distintos – um que todos nós vemos e concordamos em reconhecer, e aquele que algumas porções reptilianas primordiais de nossos cérebros compreendem apenas subconscientemente. Nos movemos por meio do mundo comum e o aceitamos como normal pois retirar as camadas inferiores seria demais para suportar. Passei boa parte de minha vida reforçando o mundo comum: magia de palco, prestidigitação, desmascarar fenômenos paranormais e coisas do tipo. Explicações racionais existem para tudo, costumava dizer, e percorri longas distâncias para encontrá-las. Claro, tal explicação pode não ser plausível, mas nós estamos tão seguros de nossa habilidade em definir nosso mundinho que de bom grado abrimos mão da sensibilidade pelo interesse de tornar o inexplicável algo que possa ser racionalizado como “científico” e “lógico”. A Navalha de Occam não suporta esta noção, mas as pessoas preferem acreditar em qualquer coisa muito procurada desde que ela prove que eles não são insanos e que o mundo funciona em termos que compreendam. Deixe-me dar um exemplo: As pessoas não acreditam em vampiros. Uma enorme quantidade de literatura os cerca; histórias, filmes e programas de televisão nos deliciam com suas façanhas; histórias dos mortos vivos voltam até a África e Suméria antigas; e elas têm raízes nos contos populares de quase toda cultura no mundo. Mas todos sabem que vampiros não são reais. A noção de algo que volta dos mortos e bebe sangue para sobreviver – ridículo! A ideia de que uma fera monstruosa pode viver para sempre numa existência amaldiçoada desprovida de luz do sol ou esperança – absurdo! O pensamento de que algo lá fora possa funcionar de forma que os humanos não compreendam, possa desafiar a ordem da existência que as pessoas tomam por certo, possa predar os humanos, influenciá-los, espreitar entre eles, superá-los – não, os humanos são o pináculo da criação. Nós certamente não podemos perturbar esta noção. Se os humanos são apenas gado, se eles podem morrer de maneira frívola só para saciar os caprichos perversos de monstruosidades malevolentes, bem, isso é o suficiente para perturbar qualquer noção de que nós estamos no comando de nossos próprios destinos. Eu fiz um circuito de exposições e trabalhos associados por alguns anos. Viajei por cidades grandes e realizei performances de magia de palco, ilusão e prestidigitação. Também estabeleci uma política de sempre desmascarar um truque por apresentação. Os outros profissionais odiaram isso, mas o público gostava, então garantia que eu pudesse colocar seus traseiros nos assentos. Ao lado, ensinava garotos curiosos, investigava histórias estranhas, às vezes até aparecia num ponto televisivo para desmascarar uma alegação de poderes psíquicos ou fenômeno sobrenatural. Vi um relato sobre uma ocorrência bizarra, e imediatamente minha mente ficou extenuada imaginando como ela funcionava, como aconteceu, como poderia parecer real e como poderia duplicá-la. De alguma forma eu amava as circunvoluções, mas ainda mais, achava que gostava de Iluminado pela Escuridão 5 dobrar estes fenômenos à minha compreensão. Apresentava-as em termos simples e facilmente explicáveis, mostrava como elas eram embustes, e partia com a satisfação de que o mundo ainda cabia em minha caixa perceptiva. Charlatães, mentirosos e mascates eram as pessoas que deixava para trás. Suponho que de uma forma me sentia melhor que eles – o mundo funcionava da forma como eu dizia, e se eles quisessem sustentar noções ridículas como “fé” e “parapsicologia” então obviamente não eram tão inteligentes e instruídos como eu era. De qualquer modo, minha viagem levou-me inevitavelmente a Nova York, o terceiro bastião de bizarrices inúteis depois de Vegas e Hollywood. A Broadway parece velha atualmente, e quando você está no cu da Broadway, nas pocilgas e guetos e bocas de crack de entretenimento televisivo de horário pouco nobre, você sabe. Todos têm duas habilidades e um agente. Meu último trabalho: Conduzir um circuito de exposições, então sair com os caras das câmeras e desmascarar uma casa “assombrada” para Hard Copy ou A&E. A exibição não foi a parte mais importante. Ela correu como o esperado: levitar uma assistente, tirar lenços de seda do nada, atravessar uma parede de tijolos e coisas do tipo. A prestidigitação usual abriu espaço para uma velha noite cansada; refiz minha maquiagem e saí com os caras de câmera numa van para o “solar dos fantasmas”. Ooh, assustador. Me senti como um extra ridículo de O Sexto Sentido, pelo amor de deus. A casa era suburbana, talvez da década de 50, provavelmente construída no boom econômico após a Segunda Guerra Mundial. Tinha um quintal pouco envolvente; sustentada no meio de uma vizinhança de apartamentos e lojas de caixas. Ela não parecia assombrada, apenas cansada. Brinquei bastante com a câmera, que gracioso. O interior da casa estava nas mesmas condições: empoeirada, rangendo, deserta, com a ocasional pilha de detritos estranhos, uma folha batendo ou uma mancha de infiltração estranha. Nada fora do comum, mas certamente o tipo de coisa que poderia ser tomada pelos garotos supersticiosos ou em busca de emoção da vizinhança como “evidências” de assombração. Passei dois dias explorando aquela maldita casa. Nem um único fantasma mostrou as fuças, seja pessoalmenteou numa câmera infravermelha. O pessoal da câmera filmou muitos de meus comentários bajuladores sobre pessoas crédulas. A coisa ficou séria após o trabalho. Empacotei a última das ferramentas de investigação – sensores de calor, bússolas, detectores de campo, tudo em estojos de metal cinza compactos sem luzes brilhantes estranhas ou coisas do tipo – quando recebemos um convidado. O sol já havia se posto; esperava chegar em casa mais cedo, mas os caras da câmera tinham insistido em algumas tomadas noturnas de fantasmas. E estava saindo pela porta da frente para colocar o restante de minhas coisas na van quando uma voz de mulher me assustou de trás. “Com licença.” Palavras simples, mas que me amedrontaram de verdade. Recém havia desmascarado uma casa velha que não tinha uma única fagulha de estranheza nela, e uma voz vinda de traz conseguiu arrepiar minha pele e fazer o cabelo do pescoço ficar eriçado. Voltei-me rapidamente e percebi uma mulher alta num terno sóbrio, parada no alpendre, próximo ao muro, onde meus olhos não a perderiam se eu saísse pela porta da frente. Consegui acalmar os nervos. “Posso ajudá-la? Já estamos partindo”, comentei de antemão. A mulher aproximou-se dois passos. Por alguma razão, meu estômago deu um nó e minha boca secou. Minha pele ainda estava um tanto arrepiada, mesmo sob meu blusão “faça o público sentir-se confortável”. Ela ajustou seus óculos estreitos e me deu o mesmo olhar antes de continuar, “Eu só gostaria de ter a chance de falar com você por um momento”. Suspirei. “Se é sobre licenças, o cara na van as têm. A casa está abandonada e a rede divulga tudo. Se é sobre shows de mágica, você pode falar com o meu agente. Sinto por estar cansado esta noite. Desculpe ser um idiota, mas só quero voltar para casa. Dia longo”. A mulher ergueu uma sobrancelha, e ajustou um pouco minha postura. Me senti desconfortável mas não podia saber o porquê – como se ela fosse uma policial ou uma auditora fiscal ou alguém que me pegasse no meio de um ato malicioso, e iria adorar remexer as brasas. Ela deu outro passo e apresentou uma voz um Livro de Clã: Tremere 6 tanto mais macia, “Não, eu estava seguindo seu trabalho e sua investigação. Queria discutir seus métodos – de um mágico profissional para outro, poderíamos dizer”. Sob a luz da varanda, percebi que ela parecia um pouco mais velha do que aparentava a princípio. A luz amarela tornou seu visual magro e pálido, e a austeridade de seu cabelo e estilo de roupas apenas se somavam ao efeito de uma professora esquelética. “Estou certa de que você teria alguns minutos para mim”, adicionou. Coloquei meu estojo de ferramentas na antiga cadeira de madeira que decorava o pátio sem ao menos perceber que havia feito isso. “Alguns minutos, suponho”, disse um tanto estupefato. A mulher havia despertado meu interesse de uma forma mórbida. “Bom”, ela sorriu para mim. Estranhamente, seu sorriso recortado não parecia me deixar nem um pouco mais a vontade. “Obviamente, você descobriu que não há absolutamente nada de especial com esta casa – mas isso era de se esperar. Descobri o mesmo quando a explorei dois anos atrás. Estou mais interessada, realmente, naquela em Austin – aquela onde você conseguiu aquelas imagens nebulosas na câmera”. “O que tem ela?” Cruzei os braços. “Como este lugar – velho, decrépito, nada espetacular. As imagens de calor vieram do isolamento e dos dutos inadequados. Qualquer empreiteiro poderia transformá-la de 'assombrada' a habitável em um mês”. Ela balançou a cabeça como se eu houvesse cometido um erro. “Uma boa teoria, presumo, mas você não a seguiu. Você deveria ter checado o isolamento ao invés de descartá-lo”. Bufei. “Você perdeu o ponto onde nós fomos até os dutos? O vento cortava o teto e os dutos faziam uma pressão diferencial nos quartos grandes; isso significa movimento de corpos de ar quente e frio. Simples”. A mulher assumiu uma posta mais casual e respondeu, “Claro, mas o ar quente se move para cima. Aquela terceira imagem que você obteve se moveu de lado”. “Movimento do vento”, contrariei, começando a gostar do debate. Este era o tipo de discussão que muitas vezes tinha com os assim chamados psíquicos e feiticeiros. Não estava tanto nos dados, mas em como interpretá-los. “Além disso, você sabe tanto quanto eu que o vidro guarda calor e frio em proporções diferentes do que o resto das paredes. Isso significa diferentes propriedades radiantes”. “Bom, bom”, ela murmurou, novamente me lembrando estranhamente uma professora. “Ainda assim, você não checou. Você supôs, e sabe o que eles dizem sobre isso”. Um tanto irritado com a presunção, peguei minha caixa de ferramentas. “Olhe, tenho que ir. Tome meu cartão, e nós podemos continuar esta discussão por email”. Com minha mão livre consegui apalpar o bolso atrás de minha carteira e então estupidamente a derrubei no chão. Suspirei, larguei a caixa de volta na cadeira e me curvei para pegá-la, mas a mulher já a havia recolhido. Ela a ofereceu sem comentários, e eu consegui alcançar o cartão. Voltei-me para olhar para a van, mas ela não estava na entrada da garagem. “Acho que seus amigos o deixaram”, a mulher comentou ironicamente de trás. “Contudo, posso lhe dar uma carona”. Voltei-me para protestar mas ela simplesmente disse, “Venha”. Ela olhou-me com um ar certeiro e então moveu-se. Dei de ombros e a segui até o carro. A mulher dirigia um velho Jaguar – elegante, fino, um pouco fora do que você esperava de... o que? Ela realmente nem mencionou o que fazia. Certamente não era uma maga de palco, com aquele carro caro e aparência extravagante. Embarquei no carro enquanto a noite tornava-se abruptamente estranha, e passei as coordenadas do meu hotel à mulher. “Então o quanto você realmente duvida?” a mulher perguntou enquanto dirigia. “Você suspeita que haja realmente coisas lá fora que não consegue explicar racionalmente?” Comecei a bufar impacientemente, mas parei e pensei por um momento. “Suponho que seja possível”, disse. “Entretanto, a razão conta pelos números”. Iluminado pela Escuridão 7 A mulher sorriu – por um momento, parecia uma visão hedionda na luz fraca dos carros da noite e lâmpadas da rua. “E sobre as coisas além da razão? Até mesmo a ciência moderna aceita que não se consegue explicar tudo”. Realizei alguns rodeios, mas respondi, “Certamente, mas só que ainda não vi coisas assim. Suponho que você possa dizer que quando conseguir descobrir estes psíquicos amadores e assemelhados, virei com outra explicação. Pode não estar certo, mas certamente é —”. “Muito mais provável”, a mulher concluiu a frase por mim. Um pouco assustado, me deixei abater. Quando chegamos no hotel, a mulher pediu para ir comigo até meu quarto para continuar a discussão. Já havia negado várias fãs penetras para saber que não se tratava de uma. Neste momento queria descobrir o que exatamente esta mulher era. Se fosse algum tipo de fraude, ao menos era consistente; se não, então o que ela queria? Então subimos. Lá dentro, bati a porta, coloquei minha caixa de ferramentas próxima à cabeceira e voltei para discutir o cerne da questão. A mulher recém havia se virado e retirado seus óculos, e à luz ela parecia ter uma fascinação quase fantasmagórica. Fiz minha cara de bravo – ator treinado que era – e lati, “Tudo bem, você já se divertiu. Quer terminar com isso agora?” A mulher simplesmente assentiu. Perfurou-me com seu olhar, e repentinamente senti aquele terror novamente enquanto meu estômago dava nós, mas estava preso no mesmo lugar – parcialmente devido àquele medo, parcialmente devido a alguma parte insanamente racional de minha mente que precisava saber. “Você procurou por explicações no mundo em torno de si, e isso é bom”, ela alegou, dando um passo lento para frente. “Diferente de um cientista, você olha para os problemas que as pessoas desprezam e ridicularizam. Você está disposto a se colocar no alvo para chegar ao fundo de mistérios que as pessoas não acreditam. Mas você sempre retrocede– nunca percebe a verdade. Você está encurralado, tentando encontrar algo lá fora mas desiste no último instante”. Eu não podia falar. Boca seca, preso ao chão, não me restavam palavras. Em algum lugar em minha cabeça, minha própria voz sussurrava, Ela vai te matar. “Vou lhe fazer um favor”, ela murmurou, dando outro passo à frente. “Vou retirar esse véu, livrá-lo destas dúvidas. Vou levá-lo para além do limiar, e quando tiver feito isso, nunca mais se acanhará diante do precipício novamente”. Ela aproximou-se, olhando sem piscar para os meus olhos e fez um pequeno gesto com a cabeça na direção do minúsculo bar do quarto do hotel. “Lá”, ela comandou, e enquanto minha mente gritava Ela é louca, ela vai matá-lo, meus pés obedeciam como que por vontade própria e carregaram-me até o quarto e ao ladrilho. A mulher seguiu vivamente e contornou-me. Franziu a testa uma vez, ainda olhando levemente para cima, então disse, “De joelhos”. Meu corpo tremia. “Não”, eu disse. A mulher sorriu. “Um último ato de desafio, suponho. Você tem uma vontade forte e uma mente inquisitiva. Vamos esperar que sua busca desesperada pela verdade não leve-o a lugares onde não deveria ir... no entanto, suponho que qualquer um poderia dizer que é tarde demais para isso”. Seu rosto endureceu. “De joelhos!” ela repetiu, e eu caí. “Não se preocupe”, disse ela, acariciando meu cabelo de um jeito materno enquanto se aproximava de mim, “Todos que vão tão longe terminam mortos, de uma forma ou de outra”. Beijou meu pescoço, e uma breve pressão deu lugar a um êxtase ardente; estava repentinamente ciente de cada batida de meu coração, a pulsação em minhas têmporas, o fluxo do sangue pelas veias como seda movendo-se por minha pele. Do canto do olho eu vi sangue correndo em riachos pela minha camisa abaixo e salpicos no tapete limpo e Livro de Clã: Tremere 8 e branco. A luz refletida das lâmpadas luminosas do hotel iluminou o chão com um brilho intenso, contra o qual o sangue – meu sangue – Seu sangue! Ela está bebendo seu sangue, e você vai morrer! – criou padrões e poças rubras, se contorcendo sobre as fibras grossas com cada gota. Ofegando com o desespero de um afogado, senti e saboreei o sangue salgado correndo por meus lábios. Com uma ânsia desesperada agarrei e suguei o sangue, que cauterizava a dor em minha garganta até meu esôfago. Meus olhos rolaram para o teto impecavelmente limpo enquanto eu morria. * * * Acordei envolto em uma mortalha, deitado no chão frio. A escuridão em torno de mim lentamente dava lugar a formas, amontoadas a um braço de distância. Sussurros reverberavam através da câmara. Não conseguia ver lâmpadas, nenhuma parede familiar, apenas uma tênue cintilação de uma lamparina que pendida do teto alto e abobadado. Minhas roupas haviam sido levadas. Apenas um manto branco cobria meu corpo, mas o frio da pedra não me incomodava. Quase que por causalidade, percebi que não estava respirando, que a sala parecia ecoar um pouco mais alto como se algum som de fundo houvesse sido removido de mim, e que estava com sede. “Levante-se”, uma voz entoou gravemente. De novo, a fonte de sussurros aumentou em volume, então esvaneceu. Sentei-me, sutilmente ciente de que algo estava faltando, temeroso e desejoso ao mesmo tempo – quase que uma sensação desperta, mas mais como um desejo intelectual, como a fome por conhecimento ou vingança. Eu queria, mas não tinha ideia do que. “Erga-se dos mortos, postulante”, a voz entoou, seguida pelos sussurros. Eu compreendi sílabas em latim que saltavam pela abóbada enquanto uma figura envolta em túnica se aproximava de mim ostentando um cálice. Senti-me repentinamente fraco e zonzo. Apoiei-me em minhas mãos e então me ergui do chão. “Você descansará para sempre, ou buscará para sempre?” a figura perguntou. Minha voz resmungou bruscamente, “Eu quero viver”. A voz no canto de minha mente suplicava, gritava, chamava a atenção de todos os modos, Você está morto e eles querem matá-lo novamente. Você morrerá repetidas vezes. Ela tornou-se fraca enquanto enrijecia minha postura. “Fale comigo”, a figura disse. Ela segurou o cálice diante de mim. Um aroma flutuou, de uma só vez convidativo e repulsivo. Segurei-o, mas a figura puxou-o de volta, repetindo, “Fale comigo”. Uma sentença em latim saiu da boca da figura. Das outras figuras pela sala, um silvo sutil de palavras sussurradas seguiu-se. Tropecei sobre minhas próprias palavras, através de sentenças e conjugações em latim enquanto o mundo parecia incerto a meu respeito. Por fim, o homem deu-me o cálice e pediu que bebesse, e com uma vontade crescente e desconhecida, bebi do copo. O gosto lento de sangue inundou meus sentidos e lavou minha garganta, levando consigo fome, desejo e incerteza. Senti a fria morte do líquido, seu gosto amargo e podre trazendo um perceptível fedor de decadência. Ao meu redor, as figuras em mantos aguardavam imóveis, mas eu vi em torno delas uma terrível malevolência, como se de algum modo refletissem a antiga potência do sangue que bebi. Senti um calor e dor repentinos, então nada. O cálice, vazio, caiu de meus lábios e foi rapidamente arrebatado pelos longos dedos da figura diante de mim. “Você bebeu do cálice e renasceu em nosso sacramento”, a figura entoou com um pouco de impaciência. “Onde... o que é isso?” perguntei. Na luz vacilante, uma das figuras aproximou-se. A mulher que havia encontrado antes retirou seu capuz e sorriu para mim, novamente de forma que me causou desconforto. Desta vez, meu estômago não apertou e minhas costas não formigaram; ao invés disso, senti uma leve suspeita, uma paranóia rasteira enquanto ela falava. “Bem-vindo ao nosso círculo, cria. Você cruzou o limiar. Agora você tem muito a aprender”. Iluminado pela Escuridão 9 Capítulo Um: O Preço da Imortalidade Capítulo Um: O Preço da Imortalidade Os outros Membros têm muito a dizer sobre os Tremere — nós somos diableristas, traidores, adoradores do demônio, ladrões de bebês, nem ao menos somos Membros. De nossa parte temos muito a replicar — nós somos um pilar da Camarilla, não precisamos de demônios ou bichos-papões para fazer nossos trabalhos sujos, e nosso comando do sangue e a Maldição mostram que temos um melhor controle sobre a condição vampírica do que o resto dos remanescentes supersticiosos de histórias esquecidas. Em equilíbrio, tudo se resume a isso: os Tremere são Membros; nós apenas tendemos a fazer nossa conspiração um pouco mais rapidamente do que os outros, provavelmente porque não tivemos tanto tempo para nos estabelecer entre os mortos vivos. Os outros Membros fazem muito de suas longas histórias, suas antigas cidades e seus fundadores. Demasiadamente, por vezes; os velhos se perdem nas lembranças de glórias passadas, e não conseguem se adaptar à era moderna. Poder morto vivo fenomenal ou não, um Membro que não consegue discar um número de telefone ou se embaralha com o dinheiro moderno não dura muito neste mundo. Talvez se deva aos velhos se prenderem a estas lendas antigas e propagarem-nas que os neófitos engulam histórias sobre Antediluvianos, cidades vampíricas perdidas e redenção. Os Tremere não têm tais luxos. Temos de fazer nossa própria história, esculpindo-a no sangue da implacável Longa Noite. Tornamos-nos Membros não por acaso mas por nosso próprio esforço, aprendemos suas regras e as fizemos nossas, encontramos nosso lugar neste mundo imortal e desenvolvemos habilidades para sobreviver à míngua da mágica que deixamos para trás. Mágica Morta Ouvindo alguns dos velhos dizer isso, nós Tremere traçamos nossas raízes a magos vivos da Renascença e antes. É dito que uma vez nós nos amontoamos em castelos ou torres como os feiticeiros das lendas, estudando respeitáveis tomos e trabalhando feitiços. Alguns Membros entre nós Capítulo Um: O Preço da Imortalidade 11 acreditam que fomos os únicos magos de verdade daquela era, enquanto outros dizem que fomos apenas um entre muitos grupos diferentes, ou mesmouma pequena parte de uma organização maior — que as casas de nossa atual estrutura lembram facções similares de nossa origem. A despeito disso, reconhecemos algo que os outros não reconhecem: a magia está morrendo. Nosso líder — aquele que se chama Tremere — previu a morte da feitiçaria, e assim voltou seus talentos para a verdadeira imortalidade. De volta às nossas primeiras noites como Membros, Tremere e seus contemporâneos perceberam que sua mágica não conseguiria sustentá-los para sempre, mas eles descobriram os segredos do vampirismo como uma alternativa. Nós sabemos que os vampiros têm existido desde sempre, então Tremere deduziu que os mortos vivos tinham perdurado por tanto tempo que sobreviveram às eras míticas que os castigavam. Na maior parte de um século, por volta da virada do milênio (ou seja, 1000 d.C.), ele e seus assistentes reuniram o conhecimento necessário para tornarem-se mortos vivos. Feiticeiros de nossa ordem se associaram com Membros e descobriram o poder inerente ao sangue, bem como o conhecimento dos clãs e sociedades encontradas na Europa naquelas noites brutais. Os Tzimisce e Gangrel em particular ajudaram tais estudos, embora se diga que os Tzimisce, invejosos de nossas proezas mágicas, se voltaram contra nós. A despeito disso, eles não podiam parar o inevitável: Goratrix, um dos assistentes de Tremere, conseguiu desenvolver uma poção que simulava a Maldição de Caim dos outros Membros. Após “Abraçar” com sucesso dois de seus próprios aprendizes (um procedimento doloroso, sussurra-se, usando cateteres primitivos e instrumentos de corte cegos), Goratrix trouxe a poção a Tremere e os outros líderes. Etrius, o braço direito de Tremere, opôs-se à ideia da não vida, mas no final a preservação venceu. Tremere e seus seguidores tornaram-se Membros, e lentamente se espalharam para converter os remanescentes de sua ordem de feiticeiros. O que aconteceu aos outros feiticeiros não está claro; certamente nenhum feiticeiro de chapéu pontudo exista ainda hoje, e eles tornaram-se nada além de mito até onde diz respeito à história. Nós ainda estamos aqui. Parece que a previsão de Tremere nos salvou, mas o custo foi (e ainda é) alto. Livro de Clã: Tremere 12 A Poção Fatal A poção de Goratrix de fato induziu ao vampirismo, mas talvez seja provável que aprendizes como este não saibam que esta não era a meta inicial. Tivesse a poção funcionado como se pretendia, nós teríamos nos tornado imortais através do poder do sangue, mas permaneceríamos como humanos em nossas capacidades físicas. O fato de que os Gangrel e Tzimisce não foram exatamente parceiros voluntários na questão pode, claro, ser contabilizado para os caprichos dos negócios dos Membros. De minha parte, acho que a perda da luz do sol é um preço pequeno a pagar pelo poder e resiliência fenomenais que obtivemos. Capítulo Um: O Preço da Imortalidade 13 Guerra Medieval Como recém-chegados à cena vampírica, os inexperientes Tremere ocuparam uma posição precária. As poções originais concederam a Tremere e seu círcu- lo uma vitae extremamente po- tente, mas não a habilidade de usá-la. Outros Tremere, menos afortu- nados, tiveram apenas os equivalen- tes limitados de gerações vampíricas mais fracas para sustentá-los. Sem um conhecimento pleno do potencial vam- pírico, etiqueta social ou misticismo, os fundadores enfrentaram uma di- fícil batalha. Os outros Membros viram alvos fáceis nestes recém- chegados. Vampiros da Casa Tremere enfrentaram o preconceito e o escár- nio entre os Membros estabelecidos, que insultaram os convertidos como usurpadores e blasfemadores que não possuíam o verdadeirodom de Caim (como se a herança de um agricultor demente e assassino fosse algo do que se orgulhar). Um simples passo errado poderia facilmente significar a ruína para um Tremere incauto que não conhecia os prós e contras da Famí- lia, especialmente porque os Tremere ti- nham apenas o domínio limitado de suas Disciplinas com as quais se proteger. A situação rapidamente saiu do controle, com os Tzimisce na Europa Oriental invadindo as capelas Tremere, Ventrue protestando contra a virada de equilíbrio de poder, e os Gangrel ou Lupinos rasgando em pedaços sangrentos qualquer Tremere que acidentalmente invadisse seus territó- rios selvagens. Para piorar, alguns magos não viram com bons olhos a conversão à não vida. Uns poucos realmente nos caçaram e bus- caram destruir quaisquer vampiros que encontrassem. Este tipo de rivalidade só acrescentou-se ao fato de que velhas formas de magia medieval (se elas realmente tiveram qualquer longevidade) não pareciam funcio- nar bem para os Tremere convertidos. Nossa ordem havia realizado mais pesquisas para compreender o sangue e a Maldição, para usá-las para nossa vantagem. O fundador não hesitou. Com as mentes formidáveis de seu conselho, Tremere desencavou formas de aplicar velhas teorias mágicas ao novo san- gue. Destas raízes ele desenvolveu a Taumaturgia, os meios para moldar o sangue e outros elementos ao manipu- lar a Maldição que anima os Membros. O conhecimento da Taumaturgia se espalhou pelo clã, um substitutivo para as artes místicas que os membros da casa haviam deixado para trás uma vez que se tornaram mortos vivos. Esta Taumaturgia — a habili- dade de realizar milagres — deu aos Treme- re um meio de se defenderem contra as Disciplinas usadas por outros Membros; as chances eram, mesmo se um ancião focasse algum incrível poder contra o Tremere, um contra-ataque tauma- túrgico poderia ser construído com pesquisasuficiente. Esta adaptabi- lidade desde então se tornou um tipo de marca dentro do clã; os Tremere não definham ao lamen- tar pelas velhas noites quando podem desenvolver novas roti- nas para avanço pessoal. Além da Taumaturgia, o clã desenvol- veu outros recursos. Fizemos alianças com Membros que reconheceram nosso potencial e ofereceram nos ajudar em troca de nosso conhecimento ou considerações posteriores. Desenvolvemos as Gárgulas, servos que podiam lidar com os rigores da batalha contra outros Membros e contra os servos da destruição moldados em carne dos Tzimisce. Trouxemos para o rebanho uma pequena família de carniçais que havia deixado s e u s i n s t á v e i s m e s t r e s Tzimisce. Nossas incursões no uso de carniçais e confederados mortais se sobressaíram; osTre- mere tiveram longa experiência em “aconselhar” cortes mortais como sagazes conselheiros ou misteriosos benfeitores. Nossas já pesadamente defendidas capelas tiveram algumas perdas, mas conseguiram repelir os ataques de outros Membros e magos. Do oeste dos Montes Cárpatos, os Tremere se espalharam, sob a co- bertura de sombras e sob véus de segredo feiticeiro. Por vários séculos, conseguimos manter nossos recursos e até mesmo nos espalhar para outras partes da Europa. Nossos convertidos rapi- damente aprenderam a Taumatur- gia, dando-nos uma margem que confundia outros Membros. A des- despeito dos ataques constantes de soldados a pé e bestas monstruosas escravizadas construídas pelos Tzimisce, Livro de Clã: Tremere 14 predadores Lupinos, Membros coniventes e até mesmo supersticiosos caçadores de bruxas mortais, o clã pros- perou. Verdade, os Tremere nunca se aproximaram dos números dos outros clãs de vampiros, mas não precisávamos. Tínhamos metas e méritos diferen- tes. Enquanto os Ventrue prosseguiam as Cruzadas, ou os Brujah se misturavam para queimar seus próprios refúgios em nome do progresso, nós nos contentávamos com nossa recém-encontrada imorta- lidade e nossos estudos ocultos. Uma Nova Ordem A política com os outros Membros não se es- tabilizou facilmente. Muitos outros Membros relutaram em aceitar os seguidores de Tremere como um clã, parcialmente devido à simples resistência em mudar e parcialmente devido às nossas origens como mortos vivos empreen- dedores. O fundador percebeu que, para obter a verdadeira aceitação, precisava das creden- ciais que constituíam os outros clãs.Por cada clã traçar suas raízes até um Antediluviano mítico, Tremere teria de alguma forma ob- ter essa posição. Infelizmente, os Antedilu- vianos há muito haviam morrido, meras lendas das histórias recontadas com medo por Membros que temiam o retorno de seus terríveis progenitores. Tremere e o conselho conseguiu ras- trear relatos de vários Membros antigos de uma linhagem despre- zada de diableristas e ladrões de almas. Trabalhando rapidamente, Tremere conseguiu erradicar vários dos an- ciões da linhagem, e então encontrou seu caminho até a cripta de um de seus Matusaléns adormecidos. Lá, conta-se que ele conseguiu arrebatar a força, idade e sabedoria daquele demônio. Devorando o espírito do tolo Mem- bro com o seu próprio espírito, Tremere captu- rou o poder necessário para obter o respeito e o reconhecimento dos outros clãs. As novas do feito lentamente se espalharam, e outros Membros de má vontade reconheceram a te- nacidade, malícia e habilidade de Tremere. Nem todos Membros puderam ser facil- mente seduzidos pelos rumores do feito de Tremere. Alguns acreditavam que a agora ex- tinta linhagem era formada por santos ou cu- randeiros ou sábios, indubitavelmente persua- didos pelos talentos místicos que estes Membros evidenciavam para salvar suas próprias peles. Membros ingênuos abrigaram fugitivos da linhagem Salubri em troca de promessas de cura ou estranhos rumores como a Golconda. Lentamente, os Membros Tremere conseguiram se espalhar nas cortes pela Europa, caçando estes adora- dores do demônio onde fossem encontrados e obten- do gradual aceitação por habilidade taumatúrgica, astúcia e vontade. Os Membros Tremere conse- guiram se misturar com os outros Cainitas e encontrar um importante lugar como conse- lheiros, assessores e especialistas do oculto. Entre os mortais, os Tremere tinham uma vantagem visível — quando magos, os prime- iros Tremere sempre tiveram de esconder suas predileções da sociedade mortal. Transformar-se de feiticeiros excên- tricos em vampiros simplesmente acelerou a separação dos Mem- bros Tremere dos humanos. Em alguns lugares os Tremere até mesmo conseguiram encontrar potentes rebanhos entre a so- ciedade mortal; a Lituânia pagã viu a ascensão de um culto de sangue fomentado por Tremere, enquanto a in- filtração de instituições de educação medievais permitia que o clã escolhesse seus re- crutas dentre educados e eru- ditos. De fato, o clã preservou muitos livros em línguas clássicas e a certeza que ele- mentos de eras antigas de aprendizagem prosperassem. Os Tempos Ardentes Enquanto as fortunas dos vampiros aumentavam, assim também aquelas do clã Tremere. A humanidade arra- nhou seu caminho da Idade das Trevas com a consolidação dos po- deres de estados em territórios feu- dais. A Igreja conseguiu manter acesa a chama da fé e da educação. As cidades humanas cresceram em tama- nho, e assim também as oportunida- des para a academia, o desenvolvi- mento de sociedades secretas e os meios para apoiar maiores concentra- ções de pessoas (e, assim, de Membros bros). O clã estabeleceu capelas longe de suas fortalezas originais próximos à Alemanha e Itália, chegando a enviar emissários às cortes da Inglaterra, Es- panha, Noruega e além. O Conselho dos Sete criou postos — pontífices — para vigiar territórios tão amplos, e encorajou a se espalharem para as ainda desconhecidas África e Rússia. As viagens permaneciam lentas, devido aos perigos de longas jornadas e a inconveniência de hábitos Capítulo Um: O Preço da Imortalidade 15 noturnos, mas a lentidão significa pouco para seres com séculos para observar seus planos chegarem a resultados. Quanto mais as populações mortais cresciam, contudo, mais elas aceleravam sua própria violência. A controvérsia a respeito da ortodoxia religiosa estimulou conflitos entre nações árabes e europeias, levando a uma série de Cruzadas. Os nobres da Europa se mobilizaram para atacar os paynim, mas as fortunas da guerra levaram ambos os lados a se mover sem resolução. Eventualmente, exaustos, os dois lados estabeleceram um padrão de espera inquieto. A Igreja cristã, insatisfeita por sua falha em perseguir os infiéis, voltou suas atenções para dentro, particularmente na Europa Ocidental. Então começou a Inquisição, o levante mortal que dizimaria a Família. Os inquisidores começaram suas carreiras buscando sinais de heterodoxia. Padres e caçadores de bruxas seculares observavam seus pares atrás de quaisquer sinais de desvio dos dogmas da Igreja, e implacavelmente combatiam os hereges. Qualquer um que questionasse a Igreja, ou que parecesse diferente ou estranho, poderia ser um alvo; camponeses e nobres implacáveis traíam seus vizinhos para a Inquisição com histórias de diabruras. Pouco fez os mortais saberem dos monstros que realmente espreitavam em seu meio. Quando o primeiro morto vivo infeliz encontrou seu caminho até as fogueiras da Inquisição, o resto não tardou a segui-lo. Como a aprovação da tortura pelo Papa Inocêncio III, e a predileção da Inquisição por queimar, os “hereges” poderiam ser facilmente abatidos da população geral. Dificuldade antes inconvenientes tais como existência noturna ou aparência cadavérica de repente pairavam como faróis que separavam os Membros do resto da humanidade, e assim tornaram-se graves perigos. Mesmo os anciões, antes os governantes incontestes de seus domínios, se acharam amarrados às piras. Os inquisidores aprenderam a reconhecer os Membros através de sua resistência à tortura e lentamente desencavaram as fraquezas clássicas do fogo e da luz do sol. Os Tremere, tanto Membros quanto feiticeiros, talvez tivessem mais a perder: não apenas os Inquisidores nos varreram como mortos vivos, mas nossas capelas foram invadidas e queimadas, valiosos livros foram destruídos, e grandes coleções de conhecimento taumatúrgico perdidas. Uns poucos caçadores, especialmente sancionados pela Igreja e protegidos por sua fé em Deus, provaram-se resisten- Saulot e a Família Claro, o que poucos neófitos nesta era moderna percebem é que Tremere conseguiu não simplesmente descobrir Saulot, um dos fabulosos Antediluvianos, mas também diablerizar esse eminente Membro. Verdade, muitos dos Salubri pareciam ter entrado em persegui- ções complexas ou a busca de glórias passadas. Erradicá- los provou-se uma bênção para todos os Membros. Rumores de que Saulot de algum modo convocou Tremere, ou que o demoníaco Antigo organizou as circunstâncias da diablerie, são obviamente falsos. Os Membros que espalharam propaganda tão imprecisa deveriam ser tratados com mais severidade. Livro de Clã: Tremere 16 tes à Taumaturgia e outras Disciplinas, tornando-os verda- deiramente perigosos. Os Membros pela Europa fugiram atrás de abrigo; os anciões não puderam se adaptar aos tempos e quem continuou a ver o rebanho apenas como escravos ou comida pereceu. Toda a ordem social da Família foi perturbada. Pela primeira vez nós realmente percebemos que a humanidade poderia de fato erguer-se e nos destruir. E o golpe em nosso orgulho foi forte. A Camarilla Enquanto Membro após Membro perecia nas chamas, indivíduos em pânico pela Europa convocaram reuniões apressadas ou enviaram cartas de aviso a outras cidades, esperando descobrir como os Membros de longe se saíam. A Inquisição queimou seu caminho por toda Europa, não deixando nenhum lugar para se esconder e destruindo todas as linhagens. Os muitos clãs concluíram que apenas o segredo através da cooperação poderia garantir a sobrevivência. Assim como os mortais se reuniram em massas e juntaram forças do fato de que nenhum Membro solitário poderia atacá-los, os Membros precisavam colocar de lado suas diferenças de idade e reunirem-se atrás de proteção mútua. Um convite foi lançado aos Membros do continente. Os anciões compareceram a uma convocação onde proporiam a união que pudesse nos preservar. Ao reunirem-se em segredo, os Membros esperavam evitar os olhos daInquisição. Artifícios e joguetes falsos afastaram a atenção, enquanto os Membros reuniram-se para decidir sobre meios de sobrevivência. Contanto que a Inquisição continuasse a desfrutar de sucesso, apenas aumentaria seus esforços; cada vampiro queimado deixava outra centena de mortais desconfiados querendo entrar na briga para buscar por mais monstros. Apenas ao convencer os mortais de que seu trabalho havia terminado – que não restavam mais monstros, que os vampiros haviam sido varridos do mundo como se nunca tivessem existido – a Inquisição ficou satisfeita. Os primeiros conclaves foram terríveis, de fato. Os anciões não acostumados a se curvar aos caprichos de outros descobriram que não tinham escolhas senão subjugar seus egos monumentais se quisessem sobreviver. Os Membros discutiram sobre suas queixas seculares, e alguns clãs recusaram-se a comparecer à reunião. Eventualmente, juntamo-nos aos representantes de seis outros clãs na declaração para esta sociedade secreta. Os Fundadores produziram evidências impressionantes – anciões por todo o continente, erradicados e destruídos; crias trazendo abaixo ninhadas inteiras de vampiros com um único passo errado; senhores que dominavam suas terras por séculos, depostos; ferozes diableristas, a queda da Família, a destruição de senhores nas presas de suas crias. Os Membros sabiam que toda sua existência oscilava no precipício. Os críticos encontraram-se expulsos ou joga-dos para a Inquisição, enquanto aqueles que apoiavam a noção de segredo ajudaram a se afastar da sociedade e ocultar o movimento da Família entre os humanos. Os Ventrue reivindicavam o crédito pela formação da Camarilla, e os Toreador notavam que as falas apaixonadas de um dos seus seduziu Membros relutantes o suficiente para fazer a união funcionar. Mas nosso peso, posto silenciosamente por trás dos planejadores, forjou a união. Com nossos dons conseguimos realizar encontros isentos Capítulo Um: O Preço da Imortalidade 17 de intrusão, rastrear infiltrados e estabelecer a certeza dos outros Membros. A colocação cuidadosa de um voto aqui ou um favor ali nos capacitou a ter certeza que os outros clãs se moveriam nas direções em que propúnhamos. Ao apoiar um certo lorde Ventrue, podíamos convocar seu apoio posterior contra alguém que normalmente defenderia; elogiando um Toreador aqui significaria a eloquência do Toreador usada para nosso benefício. Deixe os outros levarem o crédito pela Camarilla – os Ventrue ainda alardeariam sua responsabilidade por levar os Membros à segurança, e os Toreador ainda fazem falas apaixonadas, se nós Tremere não estivéssemos lá para assegurar que as coisas fossem feitas. Muitos dos anciões de outros clãs estavam desacostumados às mudanças rápidas, e não conseguiram prever a criação de uma união tal como a Camarilla em menos de alguns séculos. Nós, por outro lado, sabíamos muito bem que a necessidade de permanecer constantemente vigilante noite após noite, nos adaptando para sobreviver nas arenas hostis em que havíamos recentemente entrado. Eventualmente, muitos anciões dos clãs Brujah, Gangrel, Malkaviano, Nosferatu, Toreador e Ventrue juntaram-se a nós ao reconhecer a necessidade do segredo. Assim surgiu a Camarilla, aceita amplamente entre estes clãs e defendendo as Seis Tradições como um meio de nos esconder entre os humanos e coexistir sem a guerra aberta. Aqueles Membros que achavam a Camarilla muito restritiva, ou que haviam cometido crimes muito graves para serem permitidos sobreviver, encontraram-se fora da égide da organização. Os Fundadores rapidamente estabeleceram justicares e arcontes para a tarefa de extirpar influências tão traiçoeiras. Estes rebeldes formaram os anarquistas; eles protestaram ostensivamente contra a estrutura política da Camarilla, mas na verdade muitos simplesmente fugiram, pois como diableristas, parricidas ou devassos eles ameaçavam a estabilidade da Família com sua existência e sabiam que seriam subjugados se tentassem entrar. A Camarilla por fim teve sucesso. Enquanto os Membros desapareciam da visão comum, os mortais voltavam suas atenções dos monstros na escuridão para a busca de razão. Como um adulto jovem colocando de lado coisas pueris, os humanos deixaram para trás suas superstições e dedicaram-se ao conhecimento. Nós herdamos a verdade do ocultismo. Enquanto humanos “racionais” e “científicos” gotejavam nas dobras dos outros clãs, estes se acomodaram; seu próprio conhecimento da condição e história vampírica tornando-se mais superstição. Nós guardamos esta sabedoria, como guardiões do arcano. Anarquia e o Sabá Enquanto a Idade das Trevas dava lugar à Idade Média e então à Renascença, os Membros lutavam com sua própria transformação de lordes potentes a predadores ocultos. Despojados dos meios de coexistir como mestres de reinos mortais, os Membros voltaram sua atenção uns para os outros. A Camarilla oferecia os meios para os Membros se encontrarem em segurança e medir suas posições contra seus pares. Ainda que senhores feudais solitários permanecessem em algumas partes isoladas da Europa — amplamente nas terras ancestrais dos bárbaros Tzimisce — muitas cortes cresceram para acomodar Membros de varia- Livro de Clã: Tremere 18 dos clãs, que tinham apenas a aprovação uns dos outros para ataviar seus egos. Os Membros da Camarilla usavam influência política, laços de sangue, intermediários mortais e chantagem para humilhar seus inimigos e angariar prestígio. No início nós reconhecemos a insensatez de tornarmo-nos alvos em tais jogos, então enquanto os outros Membros competiam por posições de poder e influência, nos fortificávamos com a corretagem de nossas habilidades especializadas. Príncipes Ventrue e hárpias Toreador lutavam amargamente por questões de status e prestação, os Brujah e Gangrel lutavam contra a opressão da Camarilla, e os Malkavianos e Nosferatu escondiam-se, não aceitos na sociedade educada, mas dávamos-lhes as ferramentas para alcançar suas ambiçõezinhas, arruinar seus inimigos e defender seus domínios. Além dos domínios da Camarilla, expatriados e anarquistas estabeleceram sua própria espécie de ordem social. Alguns realmente acreditam que a estrutura da Camarilla seja um mau agouro, enquanto outros simplesmente se provaram incapazes de existir na sociedade civilizada. A despeito disso, estes descontentes provocaram a Revolta Anarquista, um conflito oculto enquanto neófitos tolos ou Membros diableristas buscavam fazer suas fortunas fora dos auspícios da Camarilla. Durante quase um século estes anarquistas lutaram contra a Camarilla, enquanto clãs estrangeiros — Assamitas, Ravnos, Setitas — dobraram seus negócios ou até mesmo golpearam a Camarilla antes de voltar às sombras. Naturalmente a tênue segurança da recém fundada Camarilla precipitou o perigo. Os clãs Tzimisce e Lasom-bra colocaram-se em oposição à Camarilla enquanto os anarquistas reivindicavam crédito pela destruição dos progenitores destes clãs; os clãs não filiados e anarquistas desenfreadamente violavam as Tradições da Camarilla mas ainda afirmavam proteção de senhores da Camarilla. A situação tornou-se quase insustentável enquanto a combinação de sensibilidades anarquistas e feitiçaria Tzimisce trouxe uma ameaça ainda maior – o Sabá. De algum modo, usando bruxaria Tzimisce, os anarquis- tas aprenderam a quebrar o laço de sangue e formar bandos ferozes de defesa mútua. Da Península Ibérica aos penhas- cos da Romênia, Membros ostracizados ou caçados se lança- ram junto aos rebeldes. Descartando o segredo da Camarilla como fraqueza, o Sabá empreendeu rituais e ritos vis para fortalecer sua natureza desumana. Mesmo o nosso clã não saiu ileso: Goratrix, há muito o mais ambicioso dos apoiadores de Tremere, abertamente desertou. Ele levou pa- ra o Sabá vários aprendizes bem como seu próprio conheci- mento de Taumaturgia, lançando o caos sobre o clã como um todo e deitando nossas melhores armasaos pés do ini- migo, que teria deixado a Inquisição nos queimar a todos. Talvez sentindo o sangue já à superfície, os Assamitas do Oriente Médio redobraram seus ataques aos Membros da Camarilla. Os Príncipes caíram às presas sedentas dos assassinos que diablerizavam qualquer ancião que conseguissem encontrar. Os bandos do Sabá, também, vagavam pelas cidades e faziam seus próprios festins macabros, trazendo a guerra à Camarilla com enxames cada vez maiores de neófitos enlouquecidos e fanáticos. A pressão obrigou a Camarilla a fazer algo, mas os justicares estavam muito fracos e incapazes de dar conta dos inumeráveis campos de batalha. A única chance ficava numa massiva virada de jogo. Laços da Taumaturgia Mais uma vez, nosso clã resgatou os anciões da Camarilla de sua inabilidade em reagir à mudança. Reconhecendo os perigos da guerra sutil em múltiplas frentes, o Conselho dos Sete se mexeu para desenvolver algumas das mais potentes Taumaturgias já consideradas. Enquanto os espiões da Camarilla se infiltravam em refúgios Assamitas, e seguidores de Goratrix se abrigavam no Sabá como reflexos maníacos de nosso próprio clã, o conselho fez sua vontade manifesta em ritual. Usando princípios do Contágio e abastecendo um efeito massivo com sua própria feitiçaria potente, o conselho conseguiu lançar um conjunto de rituais que afetou todas as linhagens de sangue. Os espiões da Camarilla já haviam penetrado a fortaleza dos Assamitas quando o peso combinado da seita trouxe os assassinos aos seus pés. Para impor o assunto, o conselho lançou uma poderosa maldição sobre os Assamitas que participaram do Tratado de Tiro. Como resultado, todos os Assamitas foram tolhidos em sua habilidade de beber o sangue vampírico – uma garantia que nenhum outro clã poderia ter assegurado, salvo através de políticas vazias e frágeis promessas. Contra os seguidores de Goratrix, um ritual seme- lhante prevaleceu. Os túrgidos membros do Sabá com- partilhavam vitae numa paródia do ritual designado para evitar o laço de sangue e assim libertá-los da subserviên- cia a seus anciões, mas esta mesma partilha de sangue os tornou suscetíveis à nossa magia do sangue. O ritual lan- çado sobre a linhagem de Goratrix marcou para sempre qualquer Tremere que partilhasse dos ritos do Sabá, de modo que todos os Tremere pudessem ver o indivíduo como um traidor. Com tal sucesso, podíamos facilmente desencavar traidores e localizar os poucos Feiticeiros que pensavam em se esconder entre o Sabá, assim contra- riando suas manobras e evitando que se espalhassem. Vantagens ... A formação da Camarilla não apenas nos ajudou a nos esconder entre os mortais, mas também nos deu outras vantagens decisivas. Ao assumir posições como fundadores da Camarilla, conseguimos legitimar nosso lugar na Família. Aqueles que uma vez nos chamaram de usurpadores e diableristas agora tinham de reconhecer nossa aceitação como pares. Além disso, melhoramos nossa posição especializada. Membros com compreensão real do ocultismo tornaram-se mais raros com o passar dos anos, enquanto a Máscara erodia o conhecimento arcano em favor da razão. Crianças da noite e neófitos tinham pouca informação verdadeira a respeito da condição vampírica. Nossa rede de membros instruídos nos permitiu negociar informações vitais e preservar segredos ocultos, que podíamos moderadamente usar como moeda de troca com outros Membros. Capítulo Um: O Preço da Imortalidade 19 Talvez assustado por tais efeitos, o movimento anar- quista desabou; os anarquistas eventualmente voltaram, abatidos, para a proteção da Camarilla, afirmando sua autoridade. O Sabá permaneceu desafiadoramente rebel- de, mas seus poucos Tremere não podiam bater nosso po- der, nem seus números podiam se aproximar aos da Cama- rilla. A Camarilla, apoiada por nossas habilidades, prevaleceu. O Novo Mundo De mãos dadas com a agitação na Europa veio a descoberta e a exploração do Novo Mundo – as Américas. Os Membros anciões podiam ter ridicularizado a colonização da fronteira (“Por que irmão, quando todas as conveniências da civilização estão aqui?”), mas o conselho rapidamente apontou os Tremere para explorar estes recursos. Não poucas décadas após a descoberta do Novo Mundo, Tremere já havia enviado agentes aos assentamentos dos espanhóis, ingleses, franceses e holandeses, e se preparado para viajar uma vez que as populações alcançassem um nível capaz de suportar os Membros. Infelizmente, o Sabá parecia ter alcançado as Américas também; jovens Membros procurando evitar seus anciões e esculpir seus próprios domínios acharam a ideia de novas terras de fato tentadora. De modo comum, pensávamos que era melhor nos entrincheirar para que pudéssemos erguer defesas adequadas. Sutilmente encorajamos o desenvolvimento de fortalezas, o armamento da população e a contínua expansão de cidades. Natura lmente , não e s távamos tot a lmente despreparados para a eventual secessão das colônias do governo europeu. As opiniões divergem sobre se o Sabá esperou que a independência colonial também significasse a separação dos anciões europeus, ou se os esforços da Camarilla em armar e defender o território encorajou a propagação da rebelião. A despeito disso, as colônias se revoltaram; a guerra tornou-se a ordem do dia – e da noite. A guerra colonial provou-se benéfica para o clã e para a Camarilla. As várias escaramuças forneceram uma excelente cobertura para o conflito direto entre os agentes da Camarilla e os neófitos do Sabá. Portos bombardeados e cidades queimadas também destruíam refúgios inimigos. No entanto, só cuidadosamente coletamos muitas de nossas obras em bibliotecas ou fortificações defensivas; exércitos Propaganda Barata Sim, sim, não há nada de errado sobre a invulnerabilidade da Camarilla, a incompetência dos anarquistas e coisas do tipo. A despeito de nossos melhores esforços, não podíamos derrotá-los completamente. Um ritual de fato afetou todos os Tremere antitribu, mas se pudéssemos tê-los feito explodir em chamas na noite da traição de Goratrix, tenha certeza de que o conselho teria feito isso. Um Tremere sábio reconhece seus limites bem como seus pontos fortes. E, talvez, mantenha suas opções abertas... Livro de Clã: Tremere 20 que pudessem revistar um prédio do governo prestariam pouca atenção em uma biblioteca, e as defesas de capelas ajudaram tanto a dissuadir os atacantes quanto na guarda das cidades em que residiam. À época em que a guerra colonial acabou, conseguimos espalhar nossa influência por todo o continente americano e ao Canadá também. As oportunidades permitiram que nosso clã se expandisse e desse posições aos membros jovens e promissores, cimentando assim a posterior lealdade e estendendo a cadeia da pirâmide. O Sabá foi empurrado para o México, onde sua influência caótica ajudou a conduzir aquele país à pobreza e à ruína, ou confinado aos climas mais frios ao norte. Guerra Civil A era pós-revolucionária permitiu que as Américas se estabilizassem. As linhas de batalha com o Sabá mudaram pouco neste período, enquanto os Membros europeus reconheciam cada vez mais o valor do território fechado. Enquanto os colonos iam para o oeste, os Membros seguiam-nos, especialmente em cidades com rápido aumento populacional como Dodge, Tombstone e San Francisco. Em alguns lugares, Membros que não podiam nem mesmo ser considerados ancillae, tais como o incipiente príncipe de Fort Worth, estabeleceram seus próprios domínios e cortes como príncipes! A nova prosperidade enriqueceu tanto Membros quanto o rebanho. De nossa parte, nos espalhamos assim como o resto da Camarilla. Quando as cidades grandes cresceram, nós colocamos capelas para prestar nosso apoio à seita. Chefes políticos experientes desempenhavam um importante papel no desenvolvimento do governo da fronteira. Enquanto novos estados juntavam-se à união, conseguíamos abrir oportunidades para a educação, comunicação, comércio e coisasdo tipo. Nossa cuidadosa influência ajudou a assegurar que os Estados Unidos apoiassem bibliotecas e universidades onde conseguíssemos continuar a acumular conhecimento especializado, e ajudamos outros Membros da Camarilla ao promover o patrocínio das artes, cultura e política, além de endividá-los conosco. Os pontífices reconheceram o poder emergente dos Estados Unidos e asseguraram que nossos agentes estivessem em posição de tirar vantagem dos benefícios. Encorajamos forte comércio com a Europa e até mesmo com o Oriente; empurramos para o desenvolvimento de novas terras; e exaltamos as virtudes da postura agressiva militar para que os elementos militares pudessem eventualmente servir em conflitos continentais ou mesmo marítimos. A Guerra Civil do século XIX retardou o assunto mas não o interrompeu. Voltados para si mesmos, os Estados Unidos não podiam realizar seu poder econômico pleno para apresentar-se na arena mundial. Mais importante, contudo, a Guerra Civil pressagiou as novas formas de guerra que viriam a dominar o globo. Exércitos massivos com armas, canhões e escala de varredura mostraram que até mesmo irmãos poderiam ser colocados em lados opostos por uma causa amarga que reivindicaria milhões. A guerra total praticada na Marcha ao Mar arruinou não apenas alvos Capítulo Um: O Preço da Imortalidade 21 militares, mas assolou cada instalação civil pelo caminho (e, incidentalmente, queimou uns tantos refúgios do Sabá que começaram a formigar ao norte do México). Para nós, a guerra também foi uma poderosa lembrança — a unidade deve ser forçada com vontade forte e ação, ou é indigna. Guerra Civil Enquanto os Estados Unidos estabeleciam seus assuntos internos, a Revolução Industrial estava em pleno andamento. Ferrovias, telégrafos, aviões, telefones, automóveis, navegação transatlântica — tudo veio rapidamente no rastro do progresso estimulado pela humanidade florescente e a necessidade de melhores armas de guerra. Nos Estados Unidos, Membros inovadores travaram os novos desenvolvimentos e usaram-nos para garantir sua proeminência; na Europa, os Membros mais conservadores asseguraram um ritmo mais lento de desenvolvimento. A política da Camarilla de promover o pensamento racional sobre a superstição fechou o círculo. O mundo havia de fato sobrevivido aos vampiros — não mais precisava dos notívagos para manter sua classe laboral em cheque — e agora comprimiam um caminho cada vez maior e autossuficiente para o futuro. Enquanto as nações do mundo expandiam seus interesses nos continentes até então inexplorados, elas aumentavam não apenas suas conquistas militares mas também suas comunicações e linhas de suprimento. Uma colônia na Índia precisaria de guarnições regulares para sobreviver, assim como uma colônia na África; apenas ao satisfazer estas necessidades as nações industrializadas poderiam evitar que seus interesses desabassem frente os nativos que suprimiram. A onda de melhorias nos transportes provou-se benéfica, pois agora podíamos enviar Negociando Mentiras Mais política traiçoeira – alguém estaria alimentando nossos aprendizes bem. Claro que a Guerra Civil limpou o Sabá e os anarquistas dos territórios. Ela também ofereceu desculpas para qualquer Membro rancoroso varrer seu vizinho. Suspeito que a maior parte das mortes se deu sob o manto da Guerra Civil do que em qualquer conflito anterior. Propriedades escravistas Tremere no Sul (ah, as plantations forneciam ótimos rebanhos) sentiram as necessidades de alimentar a economia do Norte. O Norte industrializado, estabelecendo um padrão que os Estados Unidos continuariam a sustentar, decidiu colocar o Sul em uma posição econômica desconfortável e então mostrar sua autoridade com força. Não se engane, esta guerra não tratou de política, tratou de economia. Quase como as Cruzadas novamente. Suspeito que alguns poucos regentes morreram nas mãos de aprendizes ambiciosos enquanto os sobrados e fazendas queimavam. Eu conheci uns poucos. Livro de Clã: Tremere 22 acólitos e Membros por todo o globo em relativa segurança. Os Membros que nunca se arriscariam a dormir nos porões de um velho navio de madeira poderiam sobreviver em relativo conforto a bordo das cabines de um encouraçado. As mensagens que levariam meses para chegar a cavalo agora atravessavam o oceano em segundos graças ao telégrafo e, depois, ao telefone. Nós sempre nos sobressaímos nas comunicações e na coordenação mais do que qualquer outro clã; agora a tecnologia da era aprimorou nossas vantagens naturais. Uma vez que as nações do mundo em expansão ficaram sem espaço, contudo, algo teria que suprir esta carência. Esse algo se deu em duas Guerras Mundiais – disputas brutais para ver quem teria a supremacia sobre o mundo industrial. As Guerras Mundiais estimularam ainda mais o desenvolvimento através da guerra, trazendo avanços no voo, na estratégia e na coordenação militar. As fábricas bombeavam materiais, enquanto as nações percebiam que somente ao conceder direitos plenos e iguais a todos seus cidadãos poderiam manter uma economia necessariamente forte e um exército igualmente forte. As novas guerras e os novos tempos exigiam novas formas de pensar. Nosso papel nas Guerras Mundiais foi pequeno – embora alguns Membros joguem a culpa do ocultismo maníaco do Terceiro Reich aos nossos pés, não tomamos parte em fantasias tão loucas. Loucos e desejos mortais conduziram as guerras que inflamaram o mundo, não os Membros. Isso não quer dizer que nós não tiramos vantagem da situação; as Guerras Mundiais foram oportunidades perfeitas para testar novas teorias, recolher recrutas estrangeiros e separar algumas fraudezinhas do topo das grandes máquinas militares para financiar expansões ainda maiores dos recursos dos clãs. O que mais surpreendeu os Membros na guerra foi a destruição total e a brutalidade envolvidas. Gases, artilharia, bombardeios e finalmente a divisão do átomo provaram de uma vez por todas que o poder dos Membros não pode se equiparar ao puro poder destrutivo disponível aos inovadores mortais. Nunca arriscaríamos uma nova Inquisição; um mortal com um lança-chamas ou uma metralhadora poderia rasgar a meio até mesmo um ancião milenar. Se o poder da humanidade fosse voltado contra nós, seríamos aniquilados pela pura magnitude de forças aproveitadas. Assim tornou-se nossa meta não nos tornarmos o alvo, mas o guia. Se os mortais podiam nivelar cidades com suas ferramentas, então nós precisaríamos aconselhar os mortais com tais capacidades. As armas que podiam nos destruir também se tornaram nossa providência. Tal era a mais recente mudança na ideologia Tremere – nas noites modernas, sussurramos nos mesmos ouvidos que os Brujah, Ventrue e Toreador. Obviamente, nós raramente somos generais em campo de batalha ou os oficiais apertando mãos com líderes de estado estrangeiros, mas um tanto de espionagem teve assistência taumatúrgica em sua jornada até as mãos certas. Capítulo Um: O Preço da Imortalidade 23 As Noites Modernas Enquanto as guerras que agarraram o mundo terminavam, a humanidade recuava. Aqui finalmente eles haviam provado (e percebido...) sua habilidade de varrer toda vida da face do planeta. Sempre com cuidado com presas perigosas, protegemos nossos interesses durante a Era Atômica e a Guerra Fria. Não podíamos permitir que o mundo mortal destruísse a si mesmo e a nós no processo; nossas faculdades místicas ajudaram a assegurar que as cabeças frias mantivessem a aniquilação constantemente distante. Passou bem perto – muitas vezes, agentes fizeram seu caminho ou ficaram sob a influência de rivais, como possível pela tremenda expansão das comunicações e viagens. Um general chantageado em uma nação poderia ser substituído com um telefonema de outra, destruindo anos de trabalho cuidadoso. Nós observamos, economizamos nossa força, e continuamos a apoiar a Camarilla, esperando que nenhum mortal trouxesse a força do mundocontra os Membros. Como o tempo revelou, muito de nosso clã mudou. Onde uma vez éramos feiticeiros medievais, evoluímos para nos adaptarmos a esta era moderna. A feitiçaria tem tudo a ver com inventividade e adaptabilidade: o feiticeiro é um vidente e alguém que está pronto para lutar com ideias incomuns ou teorias não aceitas. Nós nos transformamos nos feiticeiros modernos. Ainda que nossos anciões possam permanecer abrigados em paredes de pedra com Gárgulas e “feitiços” de sangue, nós temos capelas virtuais e encantamentos de Internet abastecidos por JavaScript e imortalidade. Os avanços do mundo tornaram-se nossos brinquedos, por isso nós somos aqueles que compreendem muito do valor da interconectividade, as cadeias e hierarquias que mesmo os mortais estão recém começando a espalhar pelo mundo numa teia de silício. Nós conhecemos os segredos que os números não podem contar, e sabemos como fazer os números dançar de forma intrincada. Ainda que outros Membros mendiguem suas partes do globo emergente, nós já planejamos nossas partes, dividimos o território e investimos no futuro. Enquanto os outros confiam em suas velhas Disciplinas, nós forjamos uma nova trilha com a flexibilidade da Taumaturgia e a previdência da ambição. Fizemos-nos Membros, e somos uma linhagem nova e melhor – as velhas seguirão o caminho da Longa Noite que os pariu, mas nós Tremere vamos nos adaptar, aclimatar e absorver as maiores realizações em nós mesmos. E a Gehenna? Hmm. De fato, nós encorajamos nossos neófitos a se aprofundarem nos benefícios da era moderna. Qual é o objetivo de esforçar-se para abastecer um ritual projetado para contatar o senhor de alguém, quando um simples telefonema faria este trabalho? Devido a nossas relações uns com os outros – a pirâmide – temos uma vantagem singular sobre os outros Membros. Nós conseguimos compartilhar as ideias que funcionam e descartar aquelas que não funcionam de um modo unificado. A questão é, o que estamos nos tornando? Temos visto o que os vampiros foram nas noites da história. Então eles eram monstros predadores que preenchiam os papéis das lendas. Hoje nós somos a mesma coisa – ainda nos alimentamos de sangue, evitamos o sol, e existimos em um estado perpétuo e imutável – mas também absorvemos este novo mundo, as mudanças que ele reflete no rebanho refletem-se naqueles que se juntam a nós. O mundo não precisa mais de lendas ou superstições que espreitam nas sombras entre cabanas de palha. Nosso próprio chamado do poder, a adaptabilidade que Tremere precisou para fazer o salto de mortal a Membro, nos faz aceitar a mudança talvez mais prontamente do que muitos outros clãs, ainda que ao mesmo tempo não possamos dizer aonde estas mudanças levam. As velhas profecias sussurram sobre a Gehenna, o despertar dos Antediluvianos e a destruição da raça vampírica. Quando os vampiros não forem mais criaturas das lendas, contudo, o que será das lendas? A Gehenna será o que imaginamos, se o mundo está tão mudado? A Gehenna talvez já tenha vindo, mas tomado uma forma que não conseguimos reconhecer? Já caminhamos em seu resultado final? Os profetas que escreveram as lendas há tanto tempo atrás mal reconheceriam este mundo. Talvez a Gehenna que descreveram fosse apenas as palavras que eles podiam compreender, não o quadro deste novo milênio. Capítulo Dois: Dentro da Pirâmide Capítulo Dois: Dentro da Pirâmide A arregimentação e a hierarquia andam lado a lado com o clã Tremere – ou assim os de fora creem. Os outros vampiros suspeitamente pintam os Tremere como uma cadeia de comando hermeticamente unificada com regras rigorosas e dogmas autoritários. Dada sua aparente unidade, os Tremere certamente parecem como uma pirâmide monolítica. Os Tremere são organizados, e eles têm uma hierarquia, mas ela não é nem tão rígida nem tão ditatorial quanto muitos acreditariam. Formada originalmente do ímpeto social de inúmeros cultos de Hermes, em que feiticeiros de ideias semelhantes se reúnem para compartilhar e proteger seus respectivos talentos, a “pirâmide” Tremere é um constructo social – e talvez um pouco mais. A antiga tradição de mestre para aprendiz ainda tem muito peso, e os anciões cimentam a lealdade através de seu poder psicológico de rituais comunais e do laço de sangue, especialmente logo após o Abraço quando um aspirante se enquadra em qualquer estrutura para lutar com sua nova condição. Contudo, a despeito da paranoia dos outros clãs e das afirmações interesseiras de anciões inseguros, os Tremere não têm grandes e terríveis rituais para forçar a subserviência eterna. Os Feiticeiros não mantêm tropas de assassinos secretos cujo único propósito é abater Tremere rebeldes. Ninguém além dos mais neuróticos patronos estabelece ditames e promessas de aliança comprometendo linhagens inteiras em comportamento hermético sobre “assuntos Tremere”. Ao menos em parte... Em poucas palavras, a pirâmide é uma ferramenta para a sobrevivência. Jovens neófitos obtêm um sentido de organização para que saibam quem é bem sucedido, o que esperar e como sobreviver. Os anciões atormentam subordinados com promessas de recompensa – autoridade extra, treinamento esotérico, apoio político – em troca de serviços fiéis, e punem os neófitos que não atendem às expectativas. Planos semelhantes conduzem Membros ambiciosos de outros clãs, mas no Tremere, os anciões mantêm um monopólio sobre seus segredos, e apresentam ao menos a aparência de cooperação. Um neófito Brujah pode aprender os mistérios das Disciplinas ou as heresias Nodistas de qualquer um. Um neófito Tremere não pode muito bem voltar-se para aqueles de fora de seu clã para melhorar seu domínio taumatúrgico. A pirâmide assim promove a colaboração, sutilmente seleciona aqueles que recusam trabalhar dentro das restrições do clã e fornece uma clara linha de autoridade para aqueles que aderem a ela fanaticamente. Ao mesmo tempo, é um pântano de traições, indivíduos famintos por poder que quebrariam quaisquer regras ou trairiam qualquer colega por uma chance de promoção na estrutura inflexível e antiga. As Peças da Pirâmide A apreciação do misticismo e da numerologia levou os primeiros Tremere a construir sua pirâmide baseados em princípios mágicos e práticos. O próprio mítico Tremere paira no topo da pirâmide, uma figura invisível e inaudível para boa parte do clã. Em teoria, Tremere dirige o clã desta posição de liderança. Na prática, decisões radicais vêm dos conselheiros, sete anciões que vigiam uma dada parte do mundo. Os conselheiros apontam sete pontífices para organizar os assuntos dentro de seus continentes. Os pontífices passam suas ordens para sete amos cada, que por sua vez vigiam regentes, que vigiam aprendizes. Claro, a matemática simples sugere que o clã dificilmente tenha membros o suficiente para preencher cada posição com sete oficiais. Muitas vezes, as posições permanecem vagas, suas tarefas preenchidas por cuidadosa colaboração – ou sobreposição – entre partes menores; uma dupla de regentes pode dividir o monitoramento de um reino que normalmente seria comandada por um amo, ainda que realizem suas tarefas comuns. De fato, poucas cidades podem abrigar tantos vampiros para ter um regente Capítulo Dois: Dentro da Pirâmide 25 com sete aprendizes. A pirâmide sempre tem uma vaga, e este detalhe é apenas uma das recompensas pelas quais os competentes membros do clã podem competir. Postos Os Tremere leais reconhecem posições de comando dentro da pirâmide, tanto pela conveniência da autoridade quanto pelas atormentadas promessas de poder. Isto não é tanto uma influência direta sobre outros Tremere quanto o reconhecimento de serviços, capacidade e habilidade política. Tremere em posições de comando muitas vezes usam sua influência em nome de seus pares com a esperança de reciprocidade. Eles aprendem os segredos ocultos do clã, então distribuem tais migalhas como para encorajar seus subordinadosa permanecer leais e produtivos. O posto não é tudo para um Tremere; de fato, alguns Tremere de baixo escalão nem ao menos se importam com a estrutura do clã, ao invés disso demonstrando interesses pessoais em outros aspectos da sociedade vampírica ou mortal. Contudo, o posto é a melhor forma de avançar no conhecimento especial do clã, obter a ajuda de poderosos Membros Tremere, e obter domínio sobre os recursos do clã Tremere. Ainda que posições políticas como príncipes ou algozes variem de cidade para cidade, a pirâmide Tremere permanece relativamente consistente pelo globo. Um aprendiz em uma cidade imediatamente sabe sua posição com respeito a um regente em outra. Cada posto – aprendiz, regente, amo, pontífice – tem sete círculos de mistério; um postulante começa no primeiro círculo e (com sorte) progride até o sétimo. Cada círculo denota um grau de compreensão mística e responsabilidade pessoal. Assim, um aprendiz do quinto círculo presumivelmente sabe mais segredos ocultos e empunha maior autoridade do que um aprendiz do terceiro círculo. Na prática, claro, o favoritismo e a prestação entram em cena: o mesmo aprendiz do quinto círculo pode manter sua posição simplesmente por virtude de descender de uma linhagem de um importante amo, enquanto que o aprendiz do terceiro círculo pode ser um taumaturgo assustadoramente talentoso com poucas ambições políticas. Todavia, os Tremere de alto círculo possuem nível superior aos de baixo círculo no que diz respeito ao clã, e uma posição superior tal como um regente naturalmente superaria um simples aprendiz. Aqueles que alcançam postos superiores de um círculo de mistério de dado título (ou seja, círculos cinco ou superiores) às vezes são conhecidos como “altos” membros de seu posto. Embora o uso varie – poucos se importam com linguajar tão estranho como “alto aprendiz” – tais distinções muitas vezes servem ao orgulho (e vaidade), que muitas vezes anda lado a lado com os feitos Tremere. Geralmente, um novo Abraçado recebe o posto de aprendiz do primeiro círculo. Existem exceções – carniçais de longa data, magos mortais especialmente competentes e crias favoritas de Tremere de alto posto já reivindicaram posições de autoridade cedo em suas “carreiras” – mas para a maioria, a jornada começa na base. É uma longa e lenta jornada até o topo. Muitos Tremere não passam do posto de júnior de aprendiz; ferozes lutas barram o avanço, e alguns Feiticeiros simplesmente cedem à frustração ou se entediam Livro de Clã: Tremere 26 Abraços “rebeldes” menos comuns do que entre outros Membros, mas não totalmente desconhecidos. Por vezes um neófito ignorante Abraça um velho amor, ou um regente Abraça um parente, ou um Tremere apaixonado Abraça um namorado ou amante apaixonado. Oficialmente, os postos Tremere desaprovam esta prática. Não haveriam tantos Tremere “acidentais” correndo soltos por aí com alguns segredos do clã, um punhado de opiniões malformadas e nenhum lugar seguro, afinal. Na prática, tais aspirantes tendem a ser assimilados uma vez que sejam descobertos; melhor usar um recurso do que desperdiçá-lo. Naturalmente, eles devem suportar o voto e a Transubstanciação, e muitos sofrem de estigma social entre Tremere mais conservadores. Entre regentes e aprendizes liberais, contudo, tais aspirantes podem interagir sem muito preconceito – então desde que o “verdadeiro” Tremere não se importe com o suposto pedigree do aspirante, ele é apenas outro infeliz (e servo em potencial) carente de instruções. De fato, um Tremere Abraçado sem o ritual usual pode ser bastante ignorante das atuais políticas do clã ou mesmo da sociedade vampírica, e assim torna-se um “protégé” perfeito. Como com qualquer Membro, o nível de liberdade proporcionado a um aspirante varia de senhor para senhor. Alguns senhores exigem que suas crias os assistam a todo momento até serem liberados, no pressuposto de ser aquele senhor que irá adequadamente educar a cria nas artes místicas e evitar que ela cometa quaisquer erros escandalosos. Outros senhores dão a suas crias maior margem de manobra para aprenderem por si sós e através da experiência, argumentando que a cria deve se adaptar ao Abraço de acordo com suas próprias predileções. Ainda, poucos regentes aceitariam um Caitiff ou uma cria que não tenha passado pelo voto e pela Transubstanciação; afinal, os segredos do clã permanecem secretos. Um Tremere não confiaria mais a um aspirante não instruído a Taumaturgia do que um Maçom contaria a história de sua sociedade secreta a alguém que nunca foi iniciado ou aprendeu os ofícios especiais, palavras chaves e filosofias. Aprendizes A maior parte dos neófitos posam como aprendizes. O aprendiz serve a várias tarefas ao clã. Presumivelmente, o aprendiz traz habilidades específicas à mesa. Muitos aprendizes trabalham para afiar sua especialidade. Ao trabalhar com as perícias que conhecem melhor, eles contam com as maiores chances de promoção através do sucesso. Jovens aprendizes estudam os fundamentos da Taumaturgia e a condição vampírica com seus senhores e superiores; os mais velhos muitas vezes trabalham de acordo com seus gostos e talentos. Um aprendiz diplomático, por exemplo, pode ser incumbido com a manutenção das boas relações com os Membros de importância locais – seria tolice confiar a ele tarefas de geólogo ou erudito Cabalista quando seus talentos tornam-no valioso em outras direções, e o clã pode simplesmente procurar por um especialista diferente para tais habilidades. Em primeiro lugar entre as características de um aprendiz está o dever. Nenhum vampiro se importaria em passar a não vida como um servo aos caprichos de outro, Capítulo Dois: Dentro da Pirâmide 27 colocamos capelas para prestar nosso apoio à seita. Chefes políticos experientes desempenhavam um importante pap sem ao menos subir de posto. Alguns se afastam da hierarquia como um todo para existir como anarquistas, autarcas ou rebeldes. Os Membros de fora do clã Tremere raramente têm qualquer familiaridade com a estrutura de postos. A pessoa média não conhece a hierarquia dos Rosacruzes do século XVI; da mesma forma os Membros não Tremere não estudam as políticas internas do clã. Ocasionalmente um Membro barulhento tenta calcular a estrutura de posto, mas o fato de os postos terem mais a ver com manobras políticas e conhecimento do que com comando real às vezes torna difícil discernir o padrão subjacente – um aprendiz habilitado pode ostentar mais influência do que um regente de fachada. Por seu lado, os Tremere são exortados a manter a estrutura de postos em segredo; apenas os Tremere mais rebeldes e cabeças-duras discutem sobre aprendizes e regentes no Elísio. Aspirantes Um Tremere recém Abraçado se acha em uma posição tênue. Ele não apenas deve equilibrar as exigências da Besta e a repentina transformação de humano em monstro, mas está inundado com as admoestações de seu senhor ou regente. Como outros Membros, ele deve aprender as Tradições (particularmente a Máscara), descobrir meios de se alimentar, afiar suas novas Disciplinas e lutar com a moralidade de sua nova existência. Assim, o Clã Tremere tem uma das maiores taxas de falha entre todas as outras famílias – confrontar-se com sua nova existência infernal se prova muito para a maioria dos novos Abraçados, e eles ou ficam loucos ou terminam suas não vidas ao abraçar o próximo nascer do sol. O senhor de um Tremere deve desempenhar um papel na aceitação de seu estado, mas a hierarquia do clã também pode – muitas vezes, um aprendiz de alto posto ou regente também age como mentor para Membros aspirantes, ainda que por um curto período. Isto não é tanto uma lavagem cerebral quanto um “bem-vindo à conspiração”. O regente ou senhor aplica o Voto Tremere como um taumaturgo habilidoso usa o ritual da Transubstanciação dos Sete. Fora isto, a não vida é como de costume; o senhor ou mentor designado dá instruções sobre a sociedade vampírica,