Prévia do material em texto
Gabriela Bordignon – UFMS CPTL (T5) Prof. Ulisses, CARDIOLOGIA – FPM VII SLIDES+AULA+ MEDCURSO (vídeo aula) ANATOMIA o PERICÁRDIO Visceral → recobre todo o epicárdio e os vasos da base É composto por uma fina camada de células mesoteliais, como qualquer serosa do corpo Parietal → terminações nervosas nociceptivas É um folheto fibrótico, possui certa elasticidade, porém tem um limite elástico – ele não deixa o coração dilatar indefinidamente FUNÇÕES DO PERICÁRDIO PROTEÇÃO AO CORACÃO o Redução do atrito com estruturas adjacentes (favorecendo o trabalho mecânico cardíaco) o Interdependência entre as câmaras – protege contra uma excessiva sobrecarga de volume – impede dilatação como em caso de exercício físico ou qualquer outra situação de hipervolemia por possuir um limite elástico (não permite que as fibras...) o Barreira física contra infecções adjacentes OBS.: ausência completa de pericárdio não é incompatível com a vida, porém, a ausência parcial (principalmente à esquerda) leva a morte súbita SÍNDROMES PERICÁRICAS o Pericardite aguda o Derrame pericárdico o Tamponamento cardíaco o Pericardite constritiva o Pericardite efusivo-constritiva PERICARDITE AGUDA DEFINIÇÃO Inflamação aguda dos folhetos pericárdicos QUANDO SUSPEITAR? 1. Dor torácica 2. Atrito pericárdico 3. Alterações eletrocardiográficas QUADRO CLÍNICO DOR TORÁCICA o Precordial ou retroesternal o Contínua e com longa duração o Irradiação cervical e para o trapézio o Tipo pleurítica – piora com inspiração profunda, tosse e espirro (isso ocorre se há comprometimento das pleuras) o Piora com o decúbito dorsal* o Alivia quando o paciente está sentado com o tronco para frente (inclinação frontal)* *ajudam a diferenciar da dor da síndrome coronariana aguda EXAME FÍSICO Taquicardia e taquipneia Atrito pericárdico – PATOGNOMÔNICO Presente em 85% dos casos “Ranger de lixas” 3 componentes: pré-sistólico, sistólico e protodiastólico Melhor identificado se paciente em pé, inclinado (diafragma pressionado) Outros sintomas Semelhantes a quadro gripal – febre, dor no corpo e fadiga pericardiopatias Gabriela Bordignon – UFMS CPTL (T5) Prof. Ulisses, CARDIOLOGIA – FPM VII PERICARDITE Sd. CORONARIANA AGUDA Início Súbito Gradual/crescente Localização Subesternal ou precordial esquerdo Qualquer ponto dentro da zona de irradiação Irradiação Trapézio ou idêntica a dor isquêmica Ombros, braços, pescoço, mandíbula e dorso Qualidade Em pontada, aguda, monótona e opressiva Em peso ou queimação Relação com a inspiração Piora Sem influência Duração Persistente Intermitente < 30 min Relação com a posição Piora com o movimento Sem influência Postura Piora deitado, melhora sentado ou inclinado para frente Sem influência Nitroglicerina Sem influência Alívio ELETROCARDIOGRAMA o SUPRADESNIVILAMENTO DO SEGMENTO ST - Côncavo - Onda T positiva e apiculada - Difuso, porém poupando V1 e aVR o INFRA DE PR 4 FASES EVOLUTIVAS FASE I → no momento da dor - Supra ST em várias derivações - supra de ST côncavo (exceto aVR e V1) e infra de PR - com T positiva e apiculada FASE II → dias após - Volta do ST para a linha de base, T apiculada FASE III → 1 a 2 semanas após - Inversão da onda T FASE IV → semanas ou meses após - Normalização completa do ECG DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL o IAM Sugere pericardite: Concavidade mantida do ST quando suprado Infra PR Inversão da onda T só ocorre quando ST normalizou Ausência de onda Q patológica DEMAIS EXAMES COMPLEMENTARES o ECOCARDIOGRAMA - Principal achado: derrame pericárdico* (se ausente não exclui o diagnóstico) o RX DE TÓRAX - Geralmente normal, exceto se houver grande derrame pericárdico Imagem AULA – mostra calcificação onde as setas apontam o EXAMES LABORATORIAIS - Discreta leucocitose, aumento de VHS e PCR e aumento enzimático discreto *Se importante derrame pericárdico: alternância elétrica de QRS, abafamento de bulhas e tamponamento cardíaco; sinal de Ewart (mais observado em pericardite subaguda e crônica, é o aumento da área cardíaca devido ao acúmulo de líquido no saco pericárdico / não é o coração que está grande é o líquido pericárdico que distendeu o saco pericárdico, isso pode exercer um efeito compressivo local no mediastino, de modo que, principalmente à esquerda, há a compressão do lobo inferior do pulmão, o que causa, basicamente, uma compressão do parênquima aerado – os alvéolos colabam, mas continua-se com perviedade da árvore traqueobrônquica, já que os brônquios de maior calibre da região irão continuar pérvios, isso causa Gabriela Bordignon – UFMS CPTL (T5) Prof. Ulisses, CARDIOLOGIA – FPM VII exatamente as mesmas coisas que uma consolidação pulmonar); coração em moringa no RX Coração em moringa no RX: aumento da silhueta cardíaca com um aspecto de “garrafa de água”, ou seja, diferentemente de uma cardiomegalia verdadeira, observa-se aqui uma base cardíaca fina e um grande alargamento lateral das bordas cardíacas. Isso ocorre devido a força da gravidade sobre o líquido, ou seja, o excesso de líquido acumula-se no recesso cardiofrênico, dando um aspecto de abaulamento da silhueta cardíaca lateral, podendo até centralizar o coração no tórax do paciente. Isso também será mais encontrado nas pericardites subagudas ou crônicas do que na pericardite aguda propriamente. ETIOLOGIAS o VIRAL OU IDIOPÁTICA + comum Coksackie B e enterovírus tipo 8 entre outros Pródromo de síndrome gripal (1-3 semanas antes) Autolimitados (1-3 semanas) Complicação mais comum: pericardite recorrente o PIOGÊNICAS: S. aureus, S. pneumoniae, G- Febre alta, calafrios, sudorese noturna, dor no corpo, prostração, dispneia Atrito pericárdico: 50% dos casos Altos índices de tamponamento cardíaco Geralmente como complicação de infecção bacteriana (torácica ou abdominal alta) Derrame pericárdico crônico e imunossupressão – FR importantes Complicações → tamponamento, pericardite constritiva pre.... o PÓS-TRAUMÁTICA 1ª semana pós pericardite aguda precoce (próprio trauma da pericardiotomia) Pleuropericardite (febre baixa, fraqueza e dor no corpo) Leucocitose e aumento do VHS Derrame pleural bilateral ou apenas esquerdo Autolimitada Complicações → pericardite recorrente, tamponamento e pericardite constritiva o URÊMICA Ação direta das toxinas urêmicas sobre os folhetos pericárdicos Responde bem com diálise 20% evoluem para tamponamento o RELACIONADAS ÀS COLAGENOSES FR, AR, LES Causa mais comum em crianças Autolimitada com raras complicações Pericardite em pão com manteiga o OUTRAS Fúngica: Histoplasma capsulatum IAM - Epistenocárdica: 1ª semana pós IAM, só envolve o pericárdio - Síndrome de Dressler: 2ª a 3ª semana pós IAM, acomete também outras serosas PRINCIPAIS CAUSAS: VIRAL, PÓS-INJÚRIA CARDÍACA E IDIOPÁTICA TRATAMENTO VIRAL OU IDIOPÁTICA - Controle dos sintomas e prevenção de recidivas - A princípio todos devem ser internados (tanto para garantir o repouso, quanto monitorar o risco de tamponamento) - AINE: IBUPROFENO ou indometacina - COLCHICINA: previne recidivas/manter > 3 meses após suspender os AINEs Gabriela Bordignon – UFMS CPTL (T5) Prof. Ulisses, CARDIOLOGIA – FPM VII -CORTICOIDES (refratários ao tratamento padrão, prednisona 0,25mg a 0,5mg/kg/dia) IBP: inibidor da bomba de prótons COMPLICAÇÕES TAMPONAMENTO – restrição ao enchimento diastólico ventricular - 15% dos casos - +Comum na pericardite piogênica PERICARDITE RECORRENTE - Complicação mais comum da pericardite aguda – 20-30% dos casos PERICARDITE CONSTRITIVA/EFUSIVO CONSTRITIVA – É rara, porém, é não rara em alguns casos: piogênica, tuberculose (TB), neoplasia,alterações autoimunes (actínica, esclerodermia) QUANDO INTERNAR? INDICAÇÕES: Febre >38ºC; início subagudo; imunodepressão; trauma; terapia com anticoagulante oral; miopericardite; derrame pericárdico ou tamponamento cardíaco PERICARDITE SUBAGUDA/CRÔNICA o Normalmente não chama atenção o Muitas vezes sem dor torácica, atrito e alterações no ECG o Insidiosa - Semanas ou meses - Emagrecimento, astenia, febre baixa - Derrame pericárdico crônico assintomático o Complicações: tamponamento, pericardite constritiva, pericardite efusivo-constritiva DIAGNÓSTICO ECO: derrame pericárdico Diante de um quadro clínico de pericardite (persistência do derrame pericárdico ou sintomas >3semanas) → PERICARDIOCENTESE DIAGNÓSTICA ETIOLOGIAS Tuberculose, relacionada ao HIV, neoplásica, actínica: radioterapia no tórax, mixedema – hipotireoidismo, urêmica, colagenoses: LES, AR, esclerodermia DERRAME PERICÁRDICO Geralmente assintomático Moderado a grande volume: pode ocasionar quadro semelhante a pericardite aguda Grandes: hipofonese de bulhas (anteparo entre o coração a valva e o esteto) ECG – nos grandes derrames pericárdicos (QRS de baixa voltagem, onda T plana) ECO – PADRÃO-OURO RX DE TÓRAX: cardiomegalia = coração em moringa, formato arredondado (>250ml de líquido) TAMPONAMENTO CARDÍACO o Condição na qual o DC está significativamente diminuído devido ao enchimento ventricular prejudicado pelas altas pressões intrapericárdicas o É provável quando ocorre um rápido acúmulo de líquido intrapericárdico – principalmente se líquido denso 200 ml (acúmulo rápido/situações hiperagudas) >2000 ml (acúmulo gradual) Principais etiologias: neoplasia, pericardite idiopática FISIOPATOLOGIA o Aumento da pressão intrapericárdica (>P átrio direito) → colabamento o Consequência → o aumento progressivo da P enchimento ventricular e atrial (síndrome congestiva aguda: pulmonar e sistêmica) o A restrição diastólica imposta pelas altas pressões leva à redução do volume de enchimento ventricular e redução do DC o Se a P intrapericárdica persiste elevada apesar de todos os mecanismos compensatórios → choque franco, bradicardia progressiva, PCR em AESP Gabriela Bordignon – UFMS CPTL (T5) Prof. Ulisses, CARDIOLOGIA – FPM VII o PULSO PARADOXAL → diminuição da PAS>10mmHg ou redução da amplitude do pulso arterial na inspiração Na inspiração, a redução da P intratorácica transmite-se para o pericárdio e para as câmaras cardíacas → aumento do retorno venoso para o coração direito, e diminuição do retorno venoso para o esquerdo QUADRO CLÍNICO MUITO IMPORTANTE – TRÍADE DE BECK 1. Hipotensão 2. Bulhas hipofonéticas 3. Turgência jugular Outros: taquipneia, dispneia, ortopneia; pulso paradoxal (DPOC, asma grave, pericardite constritiva), ausência de atrito EXAMES COMPLEMENTARES ECG: alternância elétrica QRS – swining heart (coração “nadando” no líquido) ECO: mais específico - derrame pericárdico importante; colapso do AD (telediastólico), VD (protodiastólico) As cavidades direitas trabalham com baixas pressões, logo, com o aumento da pressão do saco pericárdico elas colabam primeiro. COLAPSO TELEDIASTÓLICO: no final da diástole há contração atrial e fase final de enchimento diastólico do ventrículo, como há colabamento do átrio direito, há um atraso no reenchimento da cavidade do átrio direito COLAPSO PROTODIASTÓLICO: impede o início da fase de enchimento diastólico rápido do ventrículo TRATAMENTO o Reposição volêmica o Suporte inotrópico o Pericardiocentese imediata de alívio – punção de “Marfan” o Drenagem pericárdica PERICARDITE AGUDA → ESTÁGIO SUBAGUDO: ORGANIZAÇÃO E REABSORÇÃO DO DERRAME → ESTÁGIO CRÔNICO → FIBROSE E ESPESSAMENTO DO PERICÁRDIO → OBLITERAÇÃO DO ESPAÇO PERICÁRDICO PERICARDITE CONSTRITIVA Sequela de pericardite aguda, recorrente ou crônica Principal causa: TUBERCULOSE “CARAPAÇA” FIBRÓTICA E CALCIFICADA o Pericárdio endurecido exerce um efeito limitante ao enchimento ventricular (Síndrome congestiva) FISIOPATOLOGIA o EFEITO LIMITANTE AO ENCHIMENTO DIASTÓLICO – aumento das pressões diastólicas nas 4 câmaras (EQUALIZAÇÃO DAS PRESSÕES) Restrição abrupta no “limite elástico” (tamponamento: em toda a diástole) Curva diastólica dos ventrículos em “raiz quadrada” o Aumento das pressões em 10-15 mmHg (congestão) o SINAL DE KUSSMAUL: aumento (ou não redução) da P venosa com a inspiração - ausência de alteração na altura do pulso venoso ou turgência jugular o Se dá por restrição ao retorno venoso ao coração direito associado à não transmissão da pressão intratorácica às cavidades cardíacas QUADRO CLÍNICO Síndrome congestiva – ICD Sintomas de IC de esquerda em fases + avançadas Hipofonese de bulhas Sinal de Kussmaul Diagnóstico diferencial: cardiomiopatia restritiva e tamponamento cardíaco EXAMES COMPLEMENTARES ECG: baixa voltagem do QRS, ARV, SAE, onda Q patológica RX DE TÓRAX: aumento do VCS, aumento do AE, derrame pericárdico, calcificação pericárdica em até 50% dos casos (sugere TB) ECO: afastar CMP dilatada e valvopatias tricúspide CT E RNM: alto valor diagnóstico (espessamento pericárdico) CATE: D e E → pressões intracavitárias, comprometimento hemodinâmico e diferenciação restritiva BIÓPSIA: diagnóstico diferencial → miocardite, fibrose e doença infiltrativa Gabriela Bordignon – UFMS CPTL (T5) Prof. Ulisses, CARDIOLOGIA – FPM VII TRATAMENTO SEM tratamento: doença progressiva = IC refratária PERICARDIECTOMIA: mortalidade 5-10% (> nos casos mais avançados) “decorticação” precoce, realizar coronariografia de rotina em >50 anos Pericardite por TB: 2-4 semanas de RIP antes de operar DIURÉTICOS Falha no tratamento → “pensar” em disfunção miocárdica, pericardiectomia incompleta ou recidiva da doença PERICARDITE EFUSIVO CONSTRITIVA o Fase intermediária entre a aguda/subaguda e a pericardite constritiva o Característica: presença de derrame pericárdico + constrição pelo pericárdio visceral espessado e rígido o Como o líquido pericárdico encontra-se sob pressão o quadro clínico e hemodinâmico é semelhante ao tamponamento subagudo – pulso paradoxal e ausência de sinal de Kussmaul o TRATAMENTO: Pericardiocentese (....) e algumas vezes pericardiectomia CAI NA PROVA ATÉ TAMPONAMENTO SÓ!!!!!!! QUESTÕES 1. Com relação às doenças do pericárdio, numere a coluna da direita de acordo com sua correspondência com a coluna da esquerda. Assinale a alternativa que apresenta a numeração correta na coluna da direita, de cima para baixo. a) 3 – 2 – 1 – 4 – 5. b) 2 – 3 – 5 – 1 – 4. c) 3 – 2 – 5 – 1 – 4. d) 2 – 1 – 3 – 4 – 5. e) 4 – 3 – 1 – 5 – 2. 2. Com relação à apresentação clínica da pericardite aguda e do tamponamento cardíaco, assinale a alternativa correta. a) O pulso paradoxal é definido como uma queda na PA sistólica superior a 10 mmHg na expiração. b) No tamponamento, o sinal de Kussmaul costuma estar presente. c) No tamponamento severo, o pulso arterial é impalpável na inspiração. d) O achado da tríade de Beck (hipotensão, abafamento das bulhas e colabamento das jugulares) é fortemente sugestivo de tamponamento. e) No tamponamento, o descenso Y no pulso jugular se acentua. 3. 2020 HPEV - Homem, 53 anos de idade, sem antecedentes conhecidos, é admitido na sala de emergência com queixa de dor torácica e dispneia. Ao exame clínico: PA = 72 x 60 mmHg; frequência cardíaca = 102 batimentos/minuto; frequência respiratória = 23 movimentos/minuto. MEG, corado, hidratado. Presença de distensão venosa de jugulares. Bulhas rítmicas, abafadas, em 2 tempos, sem sopros. Murmúrios vesiculares diminuídos, sem ruídos adventícios. Abdome sem alterações. Realizado eletrocardiograma, reproduzido a seguir: Indique a conduta imediata a ser tomadadiante da instabilidade do paciente: A) Iniciar noradrenalina B) Trombólise C) Pericardiocentese D) Intubação orotraqueal GABARITO 1. B Gabriela Bordignon – UFMS CPTL (T5) Prof. Ulisses, CARDIOLOGIA – FPM VII 2. C 3. Temos um quadro clínico clássico de tamponamento cardíaco representado pela tríade de Beck: hipotensão arterial + turgência de jugular + hipofonese de bulhas cardíacas. Além disso, o ECG corrobora essa hipótese diagnóstico evidenciando baixa voltagem em todas as derivações. Fora do contexto de trauma, as principais etiologias de tamponamento cardíaco envolvem doenças do pericárdio, como pericardite viral, tuberculosa e neoplásica. O tratamento imediato neste caso é a pericardiocentese na região subxifoidea (punção de Marfan). Resposta: C.