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APS, 26.05.22, semana 02. Dor na APS Dor é uma experiência fundamental à sobrevivência e à funcionalidade. “Experiência sensitiva e emocional desagradável associada ou semelhante àquela associada a uma lesão tecidual real ou potencial”. Componentes da dor: sensitivos, motores, neurovegetativos e psicossociais. A dor mal controlada é uma das mais importantes fontes de sofrimento e limitação, impactando nas atividades profissionais, relacionais, de lazer e autocuidado. É um fator de limitação muito grande, então, no adulto-jovem, impacto muito no social e financeiro. · Componentes sensitivos da dor - Dor nociceptiva: estimulação dos receptores da dor quando ocorrem lesões nociceptores (pele ou órgãos internos); ferida, fratura, contusão, queimadura, pós procedimento cirúrgico. É intensa, aguda ou latejante ou pode ser leve. Aguda, latejante, ocorre lesão. É uma dor ampla. - Dor neuropática: lesão ou disfunção nervosa, da medula espinhal ou do cérebro; compressão nervosa, zoster, síndrome do túnel do carpo; dor em queimação, agulhadas, choque ou formigamento. Dor de queimação, choque ou formigamento. - Dor nociplástica: responsividade aumentada de neurônios nociceptivos a estímulos usuais (hiperalgesia) ou recrutamento de uma resposta a estímulos usualmente não dolorosos (alodínia). Comum na fibriomialgia. · Componentes motores, neurovegetativos e psicossociais - Motores: pontos gatilho; É um nódulo, identifica por meio de pressão, contraturas, faz técnicas para liberação desses pontos - Disfunções de sono, fadiga e motivação; Total relação com a experiência com a dor - Modulação da dor e a regulação do estado sono-vigília compartilham vias neurais e endócrinas que incluem o sistema nervoso autonômico. É uma resposta medular. Estímulo vias aferentes corno posterior gera resposta motora pela via eferente. É a via mais rápida de defesa, não há muitas formas de atuar. O tálamo é o centro de entendimento da dor. A nocicepção (percepção da dor) é um contribuinte para a sensação física. Informação codificada e transmitida é complexamente modulada (amplificada ou reduzida) pela medula e por centros supramedulares a caminho do cérebro e do próprio cérebro, podendo sequer se tornar consciente. A experiência da dor é construída a partir dos estímulos, do contexto, memória, fatores genéticos, tornando a resposta absolutamente pessoal. Crianças que crescem com pessoas com dor crônica, ouvem tanto que reproduzem isso e acabam sentindo a dor real. A melhor forma de diagnosticar a presença de dor neuropática é a avaliação clínica-neurológica. Pode ser feito exame complementar, mas o diagnóstico é pela clínica · Avaliação clínica Quadros inespecíficos e crônicos são regras, categorizar queixas dolorosas com base em doenças pré-definidas costuma ser pouco útil, nos leva a solicitação de exames desnecessários, além de abordagem centrada no médico. Dor é difícil de caracterizar, paciente costuma encaixar a dor no que o médico está falando. Primeira coisa em paciente com dor crônica: “como posso te ajudar?” e deixar o paciente falar, enquanto o paciente falar, tentar caracterizar - Explorar a história da dor: qualificar (circunstâncias e ritmo, qualidade/descrição, região acometida), quantificar (severidade, tempo de duração e recorrência, questionários), prognósticos (fatores perpetuantes, excluir sinais de alarme). - Exame físico: deve ser orientado pela história, conciso e orientar a abordagem. É necessário sair do nosso lugar (médico) e tentar entender o paciente, compreender o paciente como um todo. · PQRST É preconizado pela IASP (International Association for the Study of Pain). P: provoca/palia; Q: qualidade; R: região; S: severidade; T: tempo. · Ritmos - Mecânica: piora com o movimento; - Ventilatório dependente: dor mecânica relacionada a inspiração e/ou expiração; - Inflamatória: piora a noite ou com imobilização prolongada (poucas horas), melhorando gradualmente com atividade; - Aos esforços/claudicante: ocorre ao mesmo nível de esforço; - Em crescendo: dor progressiva ou de início súbito em intensidade máxima; - Em cólica: aumenta e reduz ciclicamente; - Pós-prandial precoce: minutos após a refeição; - Pós-prandial tardia: horas após a refeição; - Peri menstrual: relacionada ao período de menstruação. · Qualidade da dor Questionário DN4 investiga dor neuropática. Ponto de corte 4 ou mais positivos. Questionários multidimensionais de dor conjugam severidade, evolução temporal, doses de medicamentos e intensidade/frequência de outras intervenções – escala graduada de dor crônica, questionário McGill, inventário breve de dor. Diferenciar dor aguda x crônica x crônica agudizada. Dor crônica tem componente emocional maior do que a dor aguda Bandeiras vermelhas ou red flags são sintomas ou sinais que sugerem condição de urgência, gravidade ou reconhecida vantagem da instituição precoce de tratamento específico = pronta suspeita, poucos parâmetros são suficientes. Paciente recebe o questionário e deve marcar o que ele acha que caracteriza a dor dele. · Avaliação complementar Indicação de exames complementares será de acordo com a avaliação clínica, doenças infecciosas, suspeita de neoplasia, suspeita de fraturas e sinais de alerta. Se não for solicitado com uma boa indicação, pode atrapalhar o diagnóstico. · Abordagem - Orientada pela história e exame clínico. Saber ouvir muito bem o paciente - Individualizada. Incluir comorbidades, preferências, contexto familiar e social - Medicação, procedimentos ambulatoriais, técnicas manuais, neuromodulação (acupuntura, TENS (estimulação elétrica nervosa transcutânea)), órteses (palmilhas, bengalas). - Exercícios e adaptações de atividades diárias, grupos terapêuticos. - Multidisciplinar: educação física, fisioterapia, psicologia, assistente social, terapia ocupacional, ortopedia e neurocirurgia. · Abordagem medicamentosa - Analgésicos não opioides (dipirona e paracetamol): estimulam o sistema inibitório descendente. - AINEs: inibidores preferenciais de COX1 (ibuprofeno), inibidores preferenciais de COX2 (diclofenaco), inibidores seletivos de COX2 (nimesulida e celocoxibe). - Miorrelaxantes: ciclobenzaprina com benefício em fibromialgia mesmo em doses baixas. Os opioides podem ser prejudiciais em casos de dor crônica por interferir no processo interno de busca e satisfação por contato social e atividade física. Tramadol opioide atípico, menos efeitos colaterais e ação serotoninérgica. - Antidepressivos: tricíclicos e inibidores seletivos da recaptação da serotonina e noradrepinefrina (duais) facilitam a inibição descendente. - Anticonvulsivante: gabapentina e pregabalina, efetivos na dor neuropática e na fibromialgia. Proposta medicamentosa em associação a outras intervenções: - Dipirona/paracetamol em dose plena. - Associação de analgésicos não opioides a ANIE menor dose e menor tempo. - Associação de analgésicos não opioides a ciclobenzaprina, EXCETO idosos, por risco de queda, glaucoma, arritmia, doses altas de tramadol, triciclicos). - Associação de analgésicos não opioides a tramadol ou codeína. · Abordagem não medicamentosa - Intervenção psicológica: terapia cognitivo comportamental, aceitação-compromisso, mindfulness, relaxamento etc. - Atividade física: planejadas, estruturadas e repetitivas para melhorar ou manter ou mais componentes de aptidão física. Aborda o componente motor da dor, psicossocial (medo do movimento, distúrbios do humor), promove analgesia endógena mediada por exercício físico (nociplástico). Progressão deve ser gradual e permitir tempo para recuperação adequada. - Neuroestimulação: TENS, acupuntura e eletrocupuntura. · Sinais de alerta não relacionados ao ritmo da dor - Febre, uso crônico de corticoide, imunodeficiências – osteomielite. - Declínio funcional em paciente alto risco cardiovascular, sintomas ou sinais de doença vascular periférica – angina ou IAM. - Trauma agudo, idoso frágil, uso crônico de corticoides, osteoporose conhecida – fratura. - Diagnóstico prévio de CA, perda de peso, fadiga importante, sintomasrelacionados ao órgão primário do câncer – metástase. - Dor no membro superior associada a síndrome de Horner (miose, ptose e anidrose ipsilateral) e síndrome da veia cava superior (cianose e edema do membro ipsilateral) – tumor de ápice de pulmão (Pancoast). - Lombalgia, diarreia, uveíte, uretrite asséptica, psoríase ou outras lesões pele compatíveis. - Espondiloartrite - Déficits neurológicos importantes e progressivos - causas neurológicas graves. · Sinais de alerta – cefaleia - Início súbito. - Maior frequência e/ou intensidade. - Início da cefaleia após os 50 anos de idade. - Início recente de cefaleia com HIV ou neoplasia. - Com sinais infecciosos (febre e rigidez de nuca). - Sinais ou sintomas focais neurológicos. - Papiledema. Aumento da pressão intracraniana - Cefaleia devido a trauma. · Para fixar 1. Dor é um sintoma, portanto, é subjetivo e não devemos subestimar. 2. Identificar qual componente da dor prevalece. 3. Avaliar PQRST. Crucial para diagnóstico e tratamento 4. Indicar tratamento não medicamentoso, acionar equipe multidisciplinar. 5. Quando indicado tratamento medicamentoso, iniciar monoterapia com menor dose que controle a dor.