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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL Campus Cachoeira do Sul/RS Curso de Psicologia Disciplina: Teorias Psicoterápicas II Data: 19/10/2019 Professora: Laura Machado Acadêmica: Hanna Kemel Brum RESUMO Capítulo 4: “Transtorno Obsessivo Compulsivo” A terapia eficaz para o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é bastante diferente das abordagens terapêuticas comuns. Sendo assim, poucos terapeutas se sentem seguros o suficiente para desenvolvê-la, mesmo sendo a opção de tratamento com melhores efeitos de curto e de longo prazo para o TOC. O sofrimento envolvido nesse transtorno pode ser muito grande e até mesmo as menores tentativas de terapia podem aliviar muito o sofrimento dos pacientes. No DSM-5, o TOC se caracteriza por obsessões e/ou compulsões recorrentes que prejudicam substancialmente o funcionamento cotidiano. Sendo as obsessões “pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que, em algum momento durante a perturbação, são experimentados como intrusivos e indesejados e que, na maioria dos indivíduos, causam acentuada ansiedade ou sofrimento”. Já as compulsões são definidas como ações explícitas (comportamentais) ou implícitas (mentais) realizadas como tentativa de reduzir a aflição causada pelas obsessões ou por regras rígidas. Para haver um diagnóstico de TOC, as obsessões e/ou as compulsões devem ser consideradas graves o suficiente para causar certa aflição, perda de tempo e prejuízos ao funcionamento cotidiano do indivíduo. • Modelos cognitivos e comportamentais A teoria de duas etapas de Mowrer (1939) sobre aquisição e manutenção de comportamento de medo e evitação foi adotada para explicar fobias e TOC. A teoria propõe que, na primeira etapa, um evento neutro é associado ao medo ao ser relacionado a um estímulo que, naturalmente, causa aflição ou ansiedade. Mediante processos de condicionamento, objetos, bem como pensamentos e imagens, adquirem capacidade de produzir aflição. Já na segunda etapa, desenvolvem-se respostas de fuga ou evitação para reduzir a ansiedade ou a aflição recorrida pelos vários estímulos condicionados. • Entrevista inicial Depois de um diagnóstico de TOC ter sido determinado, o terapeuta deve agendar de 4 a 6 horas de consulta com o paciente, antes de começar o tratamento. O intuito dessas sessões é realizar três tarefas: coletar informações necessárias para desenvolver um plano de tratamento, identificando sinais que causem aflição no paciente, evitação, rituais e consequências temidas; após, o terapeuta precisa estabelecer um bom rapport com o paciente, realizando exercícios de exposição para gerar ansiedade e aflição; e por último, é necessário explorar a crença do paciente sobre o TOC e as consequências percebidas de deixar de realizar rituais e evitação. É necessário que os pacientes entendam a diferença entre obsessões e compulsões mentais, porque as obsessões são tratadas com exposição sistemática, e as compulsões mentais, com prevenção de rituais. Os pacientes sempre devem ser instruídos a informar quaisquer compulsões mentais ao terapeuta durante o tratamento. O terapeuta investiga os sinais externos de medo, os sinais internos de medo, as consequências temidas, a intensidade da crença, a evitação e os rituais, a história da queixa principal e a história de tratamento, o funcionamento social, o estado de humor e a escolha de tratamento do paciente. TRATAMENTOS • EPR INTENSIVA O programa de tratamento intensivo inclui quatro fases: 1. coleta de informações; 2. EPR intensiva; 3. visita domiciliar; 4. manutenção e prevenção à recaída. • Exposição e prevenção de rituais Desde que Victor Meyer (1966) relatou pela primeira vez o caso de dois pacientes que responderam bem a um tratamento com exposição prolongada a gatilhos obsessivos e rígida prevenção de rituais, o quadro de prognóstico para TOC melhorou muito. Os atuais tratamentos com EPR geralmente incluem exposição prolongada a gatilhos obsessivos e procedimentos voltados a bloquear rituais; costumam ser feitos exercícios de exposição em contextos reais (in vivo), por exemplo, pedir ao paciente que saia de casa sem verificar os queimadores do fogão. Quando os pacientes informam consequências específicas que temem ao se abster de rituais, esses temores também podem ser tratados por medo de exposição por imagens. Exercícios de exposição in vivo e por imagens são formulados especificamente para desencadear aflição obsessiva. Acredita-se que a exposição repetida e prolongada a pensamentos e situações temidas proporciona informações que refutam associações e avaliações equivocadas que os pacientes têm e, assim, geram habituação. A exposição geralmente é feita confrontando- se gradualmente situações que gerem aflição moderada antes de se enfrentar outras, mais incômodas. Trabalhos de casa envolvendo exposição são estabelecidos regularmente entre as sessões, e também se pede que os pacientes se abstenham de realizar rituais. • Variáveis de tratamento com EPR Exposição versus prevenção de rituais versus EPR No estudo trazido, os pacientes de cada condição melhoraram no pós-tratamento e no seguimento, mas a combinação EPR foi superior a um tratamento único em quase todas as medidas de sintomas, em ambos os pontos de avaliação. Parece que a EX e a PR afetam diretamente os sintomas de TOC. As conclusões desse estudo sugerem que a EX e a PR devem ser implementadas simultaneamente, os tratamentos que não incluem ambos os componentes geram resultados inferiores. É importante transmitir essa informação aos pacientes, especialmente quando eles estiverem com dificuldades de se abster de rituais ou de realizar exercícios de exposição durante as sessões e entre elas. • Implementação de prevenção a rituais A promoção da abstinência de rituais durante o tratamento é considerada essencial para os bons resultados do mesmo. No programa de tratamento de EPR de Meyer (1966), funcionários do hospital impediam fisicamente os pacientes de realizar os rituais, porém a intervenção física por parte de funcionários ou familiares para impedir que os pacientes façam os rituais não é mais comum nem recomendada. Agora, recomenda-se instruções e estímulos para se abster de rituais e da evitação. Embora a exposição em si possa reduzir a aflição obsessiva, ela não é tão eficaz na redução das compulsões. O paciente deve se abster de forma voluntária de fazer rituais ao mesmo tempo em que realiza exercícios de exposição sistemáticos. O terapeuta precisa enfatizar a importância de se abster de rituais e ajudar o paciente com essa tarefa, dando apoio, estímulo e sugestões. • Uso de exposição por meio de imagens O tratamento de exposição por imagens mais EPR in vivo foi superior, no seguimento, a um programa de EPR in vivo que não incluía exposição por imagens. Porém, um segundo estudo não concluiu que acrescentar exposição por imagens melhorasse a eficácia de longo prazo em comparação com somente a exposição. Conclui-se que a exposição por imagens ajuda os pacientes que relatam que haverá consequências se eles não fizerem os rituais. A exposição por imagens dá ao paciente uma oportunidade de confrontar esses pensamentos. Acrescentando-se imagens a uma exposição in vivo também se pode desviar das estratégias de evitação cognitiva usadas pelos pacientes que tentem intencionalmente não levar em conta as consequências da exposição ao mesmo tempo em que confrontam situações temidas in vivo. A exposição por imagens pode melhorar a manutenção de longo prazo e ser usada como um coadjuvante a exercícios in vivo para pacientes que temem consequências desastrosas. Para pacientes que apenas informam aflição extrema como consequência de se abster de seus rituais e comportamentos de evitação, a exposição por imagens pode ser desnecessária.• Exposições graduais versus exposições abruptas Em um estudo comparando pacientes que enfrentaram as situações mais aflitivas desde o início da terapia em relação àqueles que enfrentaram inicialmente situações menos aflitivas, não foram detectadas diferenças na redução dos sintomas de TOC. Mas, mesmo assim, os pacientes preferiram a abordagem mais gradual. As situações de dificuldade mais moderada geralmente são enfrentadas antes, seguidas por vários passos intermediários, antes de se tentarem exposições mais aflitivas. Enfatiza-se a ideia de que a exposição acontecerá em um ritmo que seja aceitável pelo paciente, e que nenhum tipo de exposição será tentado sem sua aprovação. É preferível enfrentar o item mais grave na hierarquia do tratamento em um momento relativamente inicial para dar tempo suficiente para que se repitam essas exposições difíceis em sessões posteriores. • Duração da exposição Já se acreditou que a duração da exposição era importante para o resultado, considerando-se a prolongada e contínua como mais eficaz do que a curta e interrompida. Embora o ideal seja persistir com a exposição até que se reduza bastante a ansiedade, o fator mais importante é repetir as mesmas exposições para reduzir a ansiedade associada com o passar do tempo. Essa nova instrução pode estimular os pacientes a realizar suas atividades sem fazer rituais ou evitações, independentemente da ansiedade ainda se manter depois de uma tarefa de exposição. Lembra-se os pacientes de que eles estarem ansiosos ou não é menos relevante do que o que eles fazem (ou não fazem) quando estão ansiosos, já que a ritualização e a evasão manterão o medo durante o processo. • Frequência das sessões de exposição A frequência ideal de sessões de exposição ainda está para ser estabelecida. Clinicamente, conclui-se que sessões menos frequentes podem ser suficientes para pacientes muito motivados, com sintomas de TOC leves a moderados, que entendem a importância do trabalho de exposição diária feito em casa. Aos pacientes com sintomas muito graves ou aos que, por várias razões, não conseguem cumprir de pronto as tarefas de EPR entre as sessões, geralmente se oferece tratamento intensivo. • Exposição assistida pelo terapeuta versus autoexposição Avaliações da presença de um terapeuta durante a exposição geraram resultados inconsistentes nos estudos realizados. Não há resposta clara disponível sobre o papel do terapeuta em tarefas de exposição no tratamento para TOC. Mas, conclui-se clinicamente que a presença de um terapeuta pode ajudar os pacientes a permanecerem nas exposições quando a ansiedade for muito alta, para evitar rituais ou comportamentos de evitação sutis durante a exposição e a continuar suficientemente motivados, apesar da aflição. • A EPR versus outras abordagens de tratamento EPR individual versus grupal A EPR individual intensiva pode apresentar obstáculos como alto custo do tratamento e problemas de agenda para paciente e terapeuta. Além disso, os pacientes também podem ter de esperar muito tempo ou viajar distâncias longas para se tratar. Assim, alguns pesquisadores começaram a examinar a eficácia de outras modalidades de tratamento mais acessíveis e eficientes. Uma das alternativas é o tratamento em grupo: em estudos, observaram-se melhorias importantes nos sintomas de TOC em ambos os tratamentos ativos, sem que se detectassem diferenças entre EPR individual e em grupo, imediatamente após o tratamento ou em seis meses de seguimento. A análise do perfil dos escores de sintomas de TOC coletadas durante o tratamento indicou, isso sim, uma redução mais rápida nos sintomas dos pacientes que receberam tratamento individual. Barrett, Healy-Farrell e March (2004) concluíram que a TCC individual e em grupo foram muito e igualmente eficazes para crianças e adolescentes com TOC, em comparação com um grupo-controle de lista de espera; isso levanta a possibilidade de que as intervenções de grupo possam ser especialmente promissoras no tratamento de jovens com TOC. Asbahr e colaboradores (2005) concluíram que a TCC em grupo e a sertralina foram semelhantes no pós-tratamento, mas com menos recaída na segunda condição. No fim, o tratamento individual tem sido associado a uma resposta mais rápida. • Envolvimento da família versus tratamento EPR padrão Emmelkamp e colaboradores (1990) examinaram se o envolvimento da família no tratamento aumentaria a eficácia de EPR para TOC. Pacientes casados ou que moravam com um companheiro foram designados para receber EPR com ou sem envolvimento do parceiro no tratamento. Os resultados indicaram que os sintomas de TOC foram significativamente reduzidos após o tratamento, para ambos os grupos. Mehta (1990) também examinou o efeito do envolvimento de familiares no resultado do tratamento com EPR. Mehta usou um tratamento baseado na família, em lugar de baseado no cônjuge. Pacientes que não haviam respondido à farmacoterapia anteriormente foram distribuídos de forma aleatória para receber tratamento por dessensibilização sistemática e EPR, com ou sem colaboração da família. As sessões de ambas as condições foram realizadas duas vezes por semana, durante 12 semanas; a prevenção de resposta foi descrita como gradual. Na condição em que se contava com a família, um familiar ajudava com o trabalho estabelecido para casa e com a terapia de relaxamento supervisionada, participava na prevenção de resposta e era instruído para prestar apoio. Conclui-se que o envolvimento da família pode ajudar no tratamento do transtorno. Já pesquisas sobre a hipótese de o envolvimento familiar melhorar os resultados da TCC em outros transtornos de ansiedade geraram conclusões contraditórias, e um ECR amplo recentemente completado indicou que ambas as formas de tratamento são eficazes e equivalentes. • EPR versus terapias cognitivas Vários estudos iniciais encontraram poucas diferenças entre tratamentos comportamentais tradicionais e aqueles aprimorados com diversas abordagens cognitivas. Geralmente é difícil discernir se a terapia cognitiva melhora a eficácia da EPR, porque a terapia de exposição e a terapia cognitiva têm por objetivo modificar cognições equivocadas. As terapias cognitivas para TOC que incluíam alguma forma de exposição para estímulos temidos foram superiores às que não a incluíam, sugerindo que a exposição pode ser necessária para melhorar os resultados. O tratamento misto voltado a dar aos pacientes a oportunidade de refutar suas cognições distorcidas faz mais sentido em termos clínicos. • Medicamentos serotonérgicos Eficácia dos medicamentos Entre os antidepressivos tricíclicos, a clomipramina (CMI) foi o mais estudado, em vários estudos foi considerada repetidas vezes superior ao placebo. Resultados semelhantes foram obtidos com inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs), fluoxetina, fluvoxamina e sertralina. Estudos sugerem que até 60% dos pacientes apresentam alguma resposta ao tratamento com ISRSs, mas mesmo o ganho de tratamento médio em pacientes que responderam ao tratamento é moderado. A melhora dos sintomas obsessivo-compulsivos só se mantém enquanto o medicamento está sendo usado. • EPR versus farmacoterapia Muitos estudos controlados têm mostrado que os antidepressivos serotonérgicos são superiores ao placebo na melhora dos sintomas do TOC. Porém, somente alguns estudos controlados compararam de forma direta a eficácia relativa ou combinada das medicações antidepressivas e da EPR, e diversos estudos que realizaram essa comparação incluíram delineamentos complexos, o que torna difícil traçar conclusões confiáveis sobre sua eficácia relativa e combinada. Embora haja claras evidências de que tanto o tratamento farmacológico com medicação serotonérgica quanto o tratamento com EPR sejam eficazes para TOC, há poucas informações sobre suaseficácias relativa e combinada. Nenhum estudo encontrou superioridade clara em longo prazo para a combinação de farmacoterapia e EPR sobre a EPR simples. Mesmo na ausência de resultados conclusivos, muitos especialistas continuam a defender os procedimentos combinados como sendo o tratamento de escolha mais indicado para TOC. Pode-se concluir que a farmacoterapia concomitante não é necessária para que cada paciente tenha benefícios com o EPR, e que essa farmacoterapia não parece inibir a resposta ao tratamento com EPR. Complicações durante o tratamento comportamental Também podem surgir dificuldades durante a implementação do tratamento com EPR para TOC, como: não adesão à prevenção de resposta; evitação passiva continuada; discussões; sobrecarga emocional; reações não ansiosas a exposições; rituais e medos emergentes; e reações familiares negativas, cada qual possui suas possíveis soluções que são igualmente descritas no capítulo. REFERÊNCIA Barlow, D. H. (2009). Manual clínico dos transtornos psicológicos: Tratamento passo a passo. (4. ed.). Porto Alegre: Artes Médicas.