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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
INSTITUTO DE HISTÓRIA
GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
Iasmin Rosa de Carvalho
RESENHA FINAL
A Declaração de Independência: Uma História Global
Niterói
Fevereiro de 2022
INTRODUÇÃO
 David Armitage, nascido no ano de 1965 em Stockport no Reino Unido, é um historiador britânico formado bacharel pela Universidade de Cambridge e também PhD[footnoteRef:1] e MA[footnoteRef:2], renomado por seus escritos sobre História Internacional e História Intelectual, também foi professor da Emmanuel College, Columbia University, Cambridge University onde concluiu seu Phd em História no ano de 1992, e Harvard University. Ele é membro da Royal Society of Edinburgh, da Royal Historical Society e da Australian Academy of the Humanities. [1: Doutor em História (Doctor of History) - Título dado a quem conclui o doutorado.] [2: Mestre das Artes (Master of Arts) - Título dado a quem conclui o mestrado no âmbito das ciências humanas e sociais.] 
 
RESUMO
 Em 2007, Armitage lança A Declaração de Independência: Uma História Global onde investiga como o mundo influenciou Thomas Jefferson e os revolucionários americanos na formulação da Declaração de Independência dos EUA de 1776 e sistematiza os impactos da Declaração americana, a primeira de sua espécie, nas mais de 100 declarações de independência posteriores, incluindo a brasileira. Armitage em contraponto a historiografia americana propõe diferentes visões sobre a independência dos EUA, carregando consigo uma obra erudita e séria, onde quebra paradigmas relacionados a visão de superioridade civilizacional e territorialista norte americana.
 Esta resenha tem como finalidade analisar criticamente o capítulo “No Congresso, 4 de julho de 1776: Declaração dos Representantes dos Estados Unidos da América, reunidos em Congresso geral” presente na obra “A Declaração de Independência: Uma História Global” publicado em 2007.
“NO CONGRESSO, 4 DE JULHO DE 1776: DECLARAÇÃO DOS REPRESENTANTES DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, REUNIDOS EM CONGRESSO GERAL”
 
 Neste capítulo, Armitage apresenta a relação de poder entre estado e nação, a função da instituição Estado que serve para condicionar os direitos e deveres da nação, sendo assim de forma ordinária impor ordem aos governados. Com um olhar cristão sobre a formação de um estado democrática de direito, David afirma que as dádivas divinas dadas aos homens seria a “vida, liberdade e a busca pela felicidade” (ARMITAGE, 2011) e o governo teria a responsabilidade da manutenção de tais direitos para a prosperidade dos povos. 
“Que, para assegurar tais direitos, governos são instituídos entre os homens, derivando seus justos poderes de consentimento dos governados; que, sempre que qualquer forma de governo se torne destrutiva de tais fins, é direito do povo alterá-la ou aboli-la e instituir novo governo, estabelecendo seus fundamentos em tais princípios, e organizando-lhe os poderes da forma que lhe pareça mais provável ultimar sua segurança e felicidade.” (ARMITAGE, 2011)
 Este trecho soa um tanto nacionalista e conservador, quase esperançoso, visto que desde o dia 4 de julho de 1776 os Estados Unidos da América, uma população tão densa e de economia tão próspera, trazendo em contraposto para o contexto recente, jamais teria pensado viver e ver o presidente Donald Trump[footnoteRef:3] comandar por fatídicos 4 anos um governo beirando a tirania. Armitage traz um olhar amplo e provocador acerca das variadas declarações ao longo do capítulo. [3: Donald John Trump (Nova Iorque, 14 de junho de 1946) serviu como o 45.º presidente dos Estados Unidos.] 
 Pacientemente as 13 colônias americanas acostumaram a viver com governos levianos por razões transitórias, a reação vem depois de anos de abusos e perseguições, forçando os a se livrar de um governo déspota e absoluto onde a tirania toma seu lugar por não encontrar uma forma expressiva de oposição do povo. O autor narra de forma firme e claramente expressiva os malfeitos do atual Rei da Grã-Bretanha Jorge III[footnoteRef:4] deixando transparecer quase visualmente o descontentamento finalmente atingido dos colonos, dentre eles havia a proibição de governadores aprovarem leis de caráter urgente, devastação ambiental sobre mares e rios, impôs permanência do exército mesmo em tempos de paz e tentou fazer com que a força militar seja superior ao poder civil, impôs impostos sem consentimento da população, privou-os de serem julgados por um júri local levando a além-mar para julgamento fora da luz de sua constituição, e muitos outros atos tirânicos expostos na obra. [4: George III (George William Frederick; 4 de junho de 1738 - 29 de janeiro de 1820) foi rei da Grã-Bretanha e rei da Irlanda a partir de 25 de outubro de 1760 até 1 de janeiro de 1801, e depois do Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda sua morte.] 
“Em todas as etapas dessas situações de opressão, solicitamos reparação nos mais humildes termos; nossos repetidos apelos foram respondidos apenas com repetidas injúrias. Um príncipe cujo caráter é assim marcado pelas ações que definem um tirano é indigno de ser o soberano de um povo livre.” (ARMITAGE, 2011. p. 142)
 Como um dos grandes perigos dos governos democráticos sempre estará a probabilidade de desenvolvimento do despotismo, não sob o alento do império de um só, como no exemplo da monarquia, mas através da tirania exercida pela maior parte. Trata-se de constituir limites ao poder popular e à força da maioria na democracia, frente ao urgente perigo de sua deterioração num império tirânico. Segundo Tocqueville[footnoteRef:5], o exemplo democrático norte-americano é o que, no século XIX, melhor concebe as dimensões que a tirania da maioria pode ser para as minorias. [5: Alexis-Charles-Henri Clérel (1805-1859), visconde de Tocqueville, dito Alexis de Tocqueville foi um pensador político, historiador e escritor francês.] 
 Seguindo narrando os fatos através do presente históricos, o professor Armitage expõe a negativa de socorro por parte do império britânico ao povo colono, explicitando o contato dos colonos com os britânicos e o alerta de que as circunstâncias as quais os colonos se estabeleceram na América do Norte não foi por escolha e mesmo assim os pedidos de compaixão e misericórdia foram ignorados, até pelos ditos “laços de parentesco comum” (ARMITAGE, 2011) entre britânicos e colonos. 
 Ora, naquela época, os cidadãos de países colonizadores se achavam tão superiores e páreos quanto os colonizadores, eram tão tiranos quanto, portanto como pedir clemência a um povo que seu único desejo é o enriquecimento e prosperidade da nação mesmo que isso custe a humanidade e dignidade de outros os quais subjugam inferiores? 
 David narra, num parágrafo eletrizante, a declaração da Independência dos Estados Unidos da América, é como se o professor de Harvard estivesse no Salão da Independência na Filadélfia no dia 4 de julho de 1776, totalmente insatisfeito com a perseguição e usurpações britânicas e num anseio revolucionário de um estado livre e independente com maior liberdade política e econômica.
 
 “Nós, por conseguinte, representantes dos Estados Unidos da América, reunidos em congresso geral, apelando para o Juiz Supremo do mundo pela retidão de Nossas Intenções, em nome e por autoridade do bom povo dessas colônias publicamos e, declaramos solenemente que estas Colônias Unidas são, e por direito têm de ser, ESTADOS LIVRES E INDEPENDENTES, têm inteiro poder para declarar guerra, concluir a paz, contratar alianças, estabelecer comércio e praticar todos os atos e ações a que ESTADOS INDEPENDENTES têm direito.” (ARMITAGE, 2011. p 144)
 Depois da declaração da independência, os Estados Unidos estiveram em guerra com a Inglaterra por 5 anos, onde a coroa britânica só reconheceu a independência em 1783, num choque de interesses entre colonos e ingleses.
 David Armitage sem dúvidas é um historiador que contribuiu avidamente para o cenário historiográfico atual, imputando aesta obra uma importância forte e encorajadora em meio a História Global, advindo de total mérito ao autor.
REFERÊNCIAS
https://stringfixer.com/pt/David_Armitage_(historian)
ARMITAGE, David. Declaração de Independência: uma história global. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. 264p.
https://www.redalyc.org/journal/5766/576664911005/html/
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