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ARQUITETURA HIGH TECH A arquitetura high-tech é baseada na aplicação de alta tecnologia na construção civil. Ela inicia na década de 1970 e é realizada até hoje, pois muitos de seus arquitetos ainda trabalham dentro dessa lógica arquitetônica. As características dessa arquitetura são a leveza, flexibilidade e transparência vinculadas à aplicação da tecnologia em arquitetura. Note-se que esse vínculo é essencialmente conceitual, pois outros arquitetos também utilizam a tecnologia em seus projetos, mas não dessa maneira. Os principais arquitetos que seguem esse conceito são Norman Foster, Renzo Piano, Richard Rogers e Jean Nouvel. Eles atuam por meio de grandes escritórios com dezenas ou centenas de arquitetos e engenheiros. A aplicação da alta tecnologia nos projetos dessa categoria não se limita à estrutura ou aos revestimentos. Ela transparece em todos os aspectos do projeto, incluindo instalações, como iluminação, elevadores e condicionamento térmico, consumo energético e economia de recursos naturais. O termo High-Tech também significa que a arquitetura, em sua leitura formal e espacial, é materializada por essa tecnologia de ponta, poderíamos dizer que se faz um alarde da tecnologia. Ou seja, a própria arquitetura não é um mero invólucro, ela se materializa formalmente com a aplicação tecnológica de materiais, instalações e técnicas construtivas. MÉDIA e BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA Palestra de Luis Fernandez Galiano sobre Norman Foster. https://www.youtube.com/watch?v=K5C2kJKbRMU MONTANER, J. M. Depois do movimento moderno. Barcelona: Gustavo Gili, 2013. PEREIRA, J. Introdução à história da arquitetura: das origens ao século XXI. Porto Alegre: Bookman, 2009. Arquitetura High-Tech – Norman Foster Certamente ele é o mais conhecido dos arquitetos da linha High-Tech, com projetos distribuídos por vários países. Foster, de origem inglesa, acredita que a tecnologia na arquitetura é endêmica, ou seja, é parte integrante da própria arquitetura e sem ela não pode ser feita. Os projetos desenvolvidos por seu escritório envolvem dezenas e às vezes centenas de profissionais. O projeto arquitetônico inclui a elaboração de peças específicas com materiais nobres, elevando bastante o custo da construção. Uma das características de suas obras é que a estrutura aparece com clareza como elemento definidor da volumetria arquitetônica,. Norman Foster e os seus lápis. Um rapaz de Manchester apaixonado pelo desenho à Universidade Foster admirou arquitetos revolucionários pelo uso da técnica que fizeram e se inspirou neles: BUCKMINSTER FULLER MIES VAN DER ROHE As suas referências, o seu repertório: admiração de Foster pela Arquitetura de Buckmister Fuller NORMAN FOSTER AND BUCKMINSTER FULLER, CLIMATROFFICE, 1971 The Team Four: Norman Foster & Richard Rogers with Wendy Cheesman and Su Rogers (4 anos juntos). The Retreat, Pill Creak, Cornwall, 1963 by Team Norman Foster & Richard Rogers with Wendy Cheesman and Su Rogers. A sua produção arquitetônica sempre foi coerente com uma preocupação pela perfeição no uso da tecnologia, faz uma arquitetura que ostenta o requinte tecnológico. A sua arquitetura desenvolve características específicas em diversos períodos: • Arquitetura caixa (o importante é a pele do edifício) • Fred Olsen Building (1968- 1970) • Matriz da IBM (1972) • Matriz da Willis Faber (1975) • Centro Sainsbury de Artes (1978) • Arquitetura muito expressiva formalmente, através da tecnologia (a tecnologia se expressa fortemente no exterior, Foster foi influenciado pelo Centro Pompidou) • Banco de Hong Kong e Shangai (1986) • Centro de distribuição da Renault (1982) • Infraestruturas Urbanas: • O Aeroporto de Stansted (1991) • A Torre de Comunicações de Barcelona (1992) • O Metrô de Bilbao (1995) • Arquitetura que intervém nos entornos históricos: • Midiateca e Centro de Artes de Mines (1984- 1993) • O domo do Reichstag de Berlin (1999) Prédio para Fred Olsen, Norman Foster & Wendy Cheesman. Foster conjuga: os operários e os administrativos, ambos juntos no mesmo prédio Uma pele de vidro forma esta caixa arquitetônica que se mimetiza com a paissagem e alberga 700 funcionários da IBM. Foster reproduz a experiência realizada no prédio de Fred Olsen: minimalismo e sofisticação técnica. E conjuga em um mesmo edifício as pessoas e a tecnologia Norman Foster, Coshman, Inglaterra (1971). Edifício central da IBM Matriz da Willis Faber and Dumas em Ipswich, Inglaterra. Matriz da Willis Faber and Dumas em Ipswich, Inglaterra. Confiança na democracia que pode provocar a construção industrial e, neste caso, conjuga o trabalho e o lazer Sainsbury Centre for Visual Arts: de novo conjuga, quebra paradigmas. Agora reúne as aulas em uma faculdade com a exposição de obras de arte. (1974- 1978) Reconsideração dos tipos: desacraliza as tipologias, remonumentaliza. Até então como era um museu?, uma faculdade?, na década de 1970 com as high techs como podem ser? Processo da concepção arquitetônica de Norman Foster Se até o Centro Salesbury de Artes vai trabalhar com “caixas tecnológicas perfeitas e minimalistas”, com a obra do banco de Hong Kong e Shangai vai começar a conceber arquiteturas mais expressivas. O anterior com certeza influenciado pelo Centro Pompidou, obra de seu antigo sócio Richard Rogers e de Renzo Piano . E essa expressividade vai ser resultado do uso da tecnologia que se exterioriza. A tecnologia para Foster não apenas vai servir para solucionar eficientemente problemas arquitetônicos mas passará a ser forte elemento de expressão. O conjunto da obra de Foster se caracteriza por repensar paradigmas arquitetônicos (modelos) e parece ter um prazer especial em alterar o que poderia ser pensado como obvio. Hong Kong and Shangai Bank – Norman Foster (1976- 1986) A partir desta obra Foster começa a fazer arranha-céus. Capta ideias do Centro Pompidou embora as instalações não se expressam fora Banco de Hong Kong e Shangai: De novo a mudança de paradigma. Como seria uma planta de escritórios “tradicional”? Centro de distribuição da Renault (1982- 1983) em Swindon. Fernández Galiano chegou a dizer em 2010que esta obra era a mais barroca de Foster, será verdade? Aeroporto de Stanted (1982), de novo Foster quebra paradigmas!!! Até então os aeroportos eram obscuros (alguém conhece a terminal 2 do Aeroporto de Guarulhos???... A luz natural não existia neles. As salas de máquinas estavam no teto. Foster vai inverter essa lógica Uma árvore estrutural que se repete, leve e branca Reistag, Berlin (1999) Reistag, Berlin (1999) Edifício Gherkin – Norman Foster (2003) Edifício Gherkin – Norman Foster Arquitetura High-Tech – Renzo Piano A primeira grande obra do arquiteto italiano Renzo Piano, o Centro Pompidou (1970), foi feita em conjunto com Richard Rogers e Gianfranco Franchini. Trata-se de um projeto que apresenta algumas das principais características da arquitetura High Tech que fariam parte da carreira de Piano: aplicação extensiva da tecnologia, uso das instalações e estrutura como elementos formais da arquitetura, espaços internos conectados com o exterior, e a influência das propostas do Archigram inglês. Ao longo do tempo, Renzo Piano modifica o seu repertório arquitetônico, mas mantém o uso de alta tecnologia em suas obras. Em seus projetos amplia a relação com o meio ambiente e busca soluções arquitetônicas mais específicas para o lugar. Centro Pompidou (1971- 1977), Paris Renzo Piano e Richard Rogers Centro Pompidou (1971- 1977), Paris Renzo Piano e Richard Rogers Centro Pompidou (1971- 1977), Paris Renzo Piano e Richard Rogers Centro Pompidou (1971- 1977), Paris Renzo Piano e Richard Rogers A célebre “Fonte” (1917), um mictório invertido, obra de arte de Marcel Duchamp, membro do dadaísmo. Duchamp propõe resignificar os objetos do cotidiano, como forma de crítica (todo o artístico tem que ser belo?, o cotidiano não pode ser arte?)Centro Pompidou – Renzo Piano Centro Pompidou – Renzo Piano e Richard Rogers Renzo Piano, Menil Collection, 1981- 1987 Mostra uma maior sensibilidade em relação ao contexto natural e às pre-existencias arquitetônicas. Escala mais humana, não monumental. Integra a natureza externa e internamente. Brises de fibrocimento desenhadas em relação à escala humana, que servem para difundir a luz natural Ampliação do IRCAM – Renzo Piano (1987- 1990) Ampliação do IRCAM – Renzo Piano A Bridge Tower ou The Sharp (2012)– Renzo Piano, Londres Mistura programas de hotel, restaurantes, escritórios e apartamentos de altíssimo padrão. Foi eleito o melhor arranha-céu da Europa pela Council of Tall Buildings and Human Habitat O prémio foi outorgado pela sua perfeita integração com a paisagem urbana e principalmente pela sua sustentabilidade ambiental (para sua construção foram utilizados 95% de materiais reciclados e a posição dos espelhos é projetada para aproveitar ao máximo a luz, a fim de otimizar o consumo de energia). Arquitetura High-Tech – Richard Rogers O arquiteto ítalo-inglês Richard Rogers é um dos precursores da arquitetura High- Tech, antigo sócio de Norman Foster no Team 4. Sua primeira grande obra, o Centro Pompidou, feito em conjunto com Renzo Piano e Gianfranco Franchini. Nesse centro cultural já estão todas as características da arquitetura que Rogers desenvolveria ao longo do tempo. Uma das principais é o desnudamento do edifício Rogers recebe o título de lorde da Inglaterra em 1996 e declara que o seu trabalho é produto de “uma confiança racional na montagem e desmontagem dos elementos físicos ao longo de toda a série das escalas de projeto” Benévolo, Leonardo., p. 168 A arquitetura no Novo Milénio As peças aparecem claramente, conectadas umas com outras, nada está escondido. Lloyd´s Bank, Londres (1978- 1986) E1 Diapositiva 50 E1 O edifício desnudo Edsel; 02/03/2018 A estrutura metálica do banco se complica prositadamente para obter uma expressão monumental. Lloyd´s Bank, Londres (1978- 1986) Richard Rogers possui uma formação humanística acentuada que faz com que ele não apenas seja um arquiteto que deixa obras exhuberantes. Muitos dos seus projetos permaneceram no papel, como reflexões. Assim mesmo Richard Rogers desenvolveu uma amplíssima atividade teórica e de produção de artigos para periódicos. Entre essa produção destacamos: Cidades para um pequeno planeta, influente livro sobre urbanização contemporânea de 1997. “A arquitetura está mudando em resposta às exigências ambientais e à disponibilidade de novos materiais de desempenho extremo e biologicamente legitimado. Le Corbusier definiu a arquitetura como ‘o jogo sábio, correto e magnífico dos volumes reunidos sob a luz’. No futuro, ao contrário, os edifícios tenderão a desmaterializar-se. O ambiente será caracterizado não pelas massas, mas pela transparência e pelos véus, por estruturas indeterminadas, adaptáveis, flutuantes, em relação às mudanças ambientais cotidianas e à variedade dos usos. Os edifícios do futuro [...] poderiam assemelhar-se, mais que aos imutáveis monumentos do passado, a modernos autômatos móveis, pensantes e orgânicos. Essas novas arquiteturas mudarão o caráter do espaço público. Enquanto as estruturas se tornarão mais leves, os edifícios se tornarão mais permeáveis. Os pedestres irão mover-se não em torno, mas através dos edifícios. A rua e o parque entrarão no edifício, ou o edifício planará acima.” (Richard Rogers, Cidades para um pequeno planeta) Richard Rogers – Corte de Justiça de Bordeaux (1992- 1998) Neste projeto Rogers dialoga com o contexto histórico, reutilizando construções antigas que coloca em diálogo com as modernas. O grande teto aparece como instrumento que acolhe volumes arquitetônicos independentes. De novo aparecem elementos independentes (volumes neste caso) conectados entre eles. Richard Rogers – Parlamento do País de Gales (1998- 2005) A importância das transparências que determina a sobreposição de imagens (tudo o que está dentro aparece, vemos os diferentes planos da arquitetura) Os tetos sem espessura que se estendem livremente no ar. Aeroporto de Barajas, Madri (1996- 2006). Lembrar: quem fez aeroporto que quebrou paradigmas? 122 Leadenhall Street, 2002, Londres. Prédio para o setor terciário: com espaços públicos no térreo, arquitetura transparente. 122 Leadenhall Street, 2002, Londres. Prédio para o setor terciário: com espaços públicos no térreo, arquitetura transparente. Rogers se preocupa especialmente pelos problemas das cidades inglesas, passando a presidir uma força- tarefa governamental destinada a estudar esses problemas. Os princípios que deviam nortear o trabalho dos arquitetos para solucionar os problemas urbanos tinham que ser, segundo Rogers (2003): 1) Excelência projetual 2) Bem-estar social 3) Responsabilidade Ambiental 4) Tudo isso dentro de um marco econômico e legislativo variável Richard Rogers Na frente de uma maquete do projeto de reurbanizaçã o do South Bank (1994) em Londres. Richard Rogers, maquete do projeto de reurbanização do South Bank em Londres (1994): um grande teto de vidro, uma onda de vidro no Tamisa que cobria prédios existentes. Esta grande onda de vidro e aço que abrigava a Hayward Gallery, o Queen Elizabeth Hall e o Purcell Room foi projetado para ter um impacto regenerativo no bairro mais amplo do South Bank. Os arquitetos citaram como o Centro Pompidou de Paris transformou o distrito circundante. Arquitetura High-Tech – Jean Nouvel Jean Nouvel é um arquiteto francês que nasceu em 1945, e que objetiva com a sua arquitetura destacar a tecnologia e entender os lugares na sua particularidade. “O projeto não nasce dos preconceitos do desenho, mas de uma reflexão exaustiva sobre dados do programa que determina a escritura arquitetônica, de modo que cada objeto pede uma arquitetura diferente” Jean Nouvel em depoimento a L´Architecture d´aujourd´hui (1984) Jean Nouvel– Instituto do Mundo Árabe Sua primeira obra de grande porte foi o Instituto do Mundo Árabe (1982- 1987), em Paris. Nesse projeto, a volumetria relativamente simples (o conjunto é formado por dois blocos, um linear e um curvo) esconde a sofisticada trama mecânica de controle da luminosidade das fachadas, que lembra a forma dos arabescos característicos da arquitetura islâmica. Jean Nouvel– Instituto do Mundo Árabe Em uma de suas fachadas, possui uma série de painéis que se movimentam de acordo com a intensidade da luz solar que incide sobre eles: quanto mais luz incidente, mais os mecanismos se fecham, reduzindo a entrada de luz nessa fachada. Jean Nouvel– Conjunto Nemausus Jean Nouvel– Conjunto Nemausus Um dos seus mais ousados projetos é a Torre Agbar (2004), em Barcelona, na Espanha. A torre usa um sistema construtivo baseado em uma casca externa de concreto e um núcleo rígido. Entre esses dois elementos situam-se os pavimentos, que acompanham a forma externa da edificação. A arquitetura High Tech será herdeira direta das propostas contidas no modernismo, e segundo seus princípios “uma arquitetura moderna autêntica pode e deve ser nada mais que uma engenharia elegante, ou certamente um projeto do design industrial em escala” de um edifício. Observe-se que nessa proposta arquitetônica não há vínculos visíveis com qualquer arquitetura tradicional ou mesmo com formas antigas. Portanto, uma construção se enquadra nesse tipo de arquitetura quando ela é uma consequência da aplicação de uma engenharia construtiva que aparece nitidamente nas suas formas. Em resumo, as principais características da Arquitetura High-Tech: Continuidade e vigência da postura mais representativa da Arquitetura Moderna: a que se baseia nas contribuições da ciência, da indústria e da técnica; Possibilidades formais da utilização de novos materiais e do suporte das novas tecnologias (o que já vinha acontecendo desde meados do século XIX); Confiançana racionalidade e na capacidade de síntese que o mundo da tecnologia pretende possuir intrinsicamente; Tecnologia como fonte de inspiração; Arquitetura de grande alta tecnologia e elegência no desenho; Presença dos elementos estruturais e de instalações; REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BENEVOLO, L. A arquitetura no novo milênio. São Paulo: Estação Liberdade, 2007. (Capítulo IV – Os inovadores da arquitetura europeia, páginas 137 a 202) MONTANER, J. M. Depois do movimento moderno. Barcelona: Gustavo Gili, 2013. (TERCEIRA PARTE – XVIII. A saída pela tecnologia, páginas 247 a 258) Projetos de intervenção em edifícios pré-existentes Entre a conservação do passado e a projetação do novo Norman Foster – Médiathèque de Nimes Norman Foster – Reichstag Dome (Berlim) Norman Foster – British Museum Court Norman Foster – British Museum Court Norman Foster – British Museum Court Jean Nouvel – Ópera de Lyon Jean Nouvel – Ópera de Lyon Jean Nouvel – Museu e Centro de Arte Reina Sofia Jean Nouvel – Museu e Centro de Arte Reina Sofia Jean Nouvel – Museu e Centro de Arte Reina Sofia