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1 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência: vestibulopatias MÓDULO II – Distúrbios sensoriais, motores e da consciência: Vestibulopatias PROBLEMA 6 – Balança mas não cai? Cai sim!! Como? Tontura ou vertigem? Independente do que seja, a minha vida com isso não está fácil... E o que é pior, o médico não resolve o meu problema. Já viz: hemograma; glicemia de jejum; insulinemia; dosagem de triglicérides, colesterol total e frações; T4 livre e TSH; sorologia para Sífilis, Rubéola e Citomegalovírus; velocidade de hemossedimentação; dosagem de mucoproteínas, complemento, imunocomplexos circulantes; pesquisa de AC anticolágeno II, e fator antinúcleo... e o doutor fala que está tudo normal. Até TC de crânio eu já fiz e só escuto que o exame está normal... E ai? Como que é que eu fico? Rodando? Intencionalidade educacional: compreender a importância dos estímulos auditivos, vestibulares, somatossensorias e cerebelares para a manutenção do equilíbrio e postura. Conhecer os principais distúrbios de equilíbrio e postura. Objetivos e Identificações: - Rever as vias óptica, auditiva e vestibular - Caracterizar as vias aferentes gerais conscientes e inconscientes - Conceituar morfofuncionalmente as vias extrapiramidais - Cerebelo: Microscopia: córtex e substância branca Núcleos cerebelares Lobos e fissuras Divisões filogenética, anatômica e funcional Aferências e eferências Principais funções - Caracterizar as vias específicas relacionadas ao equilibro e à postura estática e dinâmica. - Identificar os principais distúrbios relacionados ao comprometimento do equilíbrio e da postura - Identificar em exames por imagem as estruturas estudadas. Sumário ORELHA ............................................................................................................................................................................. 2 CEREBELO .......................................................................................................................................................................... 7 VESTIBULOPATIAS ........................................................................................................................................................... 11 Objetivos da Tutoria: 1-Aspecto físico e patológico relacionado ao equilíbrio e audição 2- Caracterizar as vias especificas ao equilíbrio, postura estática e dinâmica 3-Distúrbios relacionados ao comprometimento das vias posturais 4-Vertigem postural paroxística benigna, neurite vestibular (infecciosa), Sd. ou doença de Menier, Labirintite aguda, fistula labiríntica, cinetose, encefalopatia de Wernick. 2 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência: vestibulopatias ORELHA Introdução A orelha é o órgão da audição e do equilíbrio, sendo composta por três partes: orelha externa, média e interna. As partes externa e média estão relacionadas principalmente com a transferência de som para orelha interna, que contém o órgão do equilíbrio e também da audição. Anatomia do Ouvido Ouvido externo Orelha Meato acústico externo Ouvido médio Cavidade timpânica Membrana timpânica Ossículos da audição Tuba auditiva Ouvido interno Labirinto membranáceo (Endolinfa) Labirinto vestibular Labirinto colear Labirinto ósseo (Perlinfa) Vestíbulo Canais semicirculares ósseos Cóclea Meato acústico interno Orelha Externa A orelha externa é formada pela orelha (pavilhão) e meato acústico externo. A orelha é composta de cartilagem e coberta por pele fina, sendo composta de várias depressões e elevações. A concha é a depressão mais profunda. A margem elevada da orelha é a hélice. O trago é uma projeção linguiforme superposta à abertura do meato acústico externo. A irrigação arterial da orelha advém das artérias auricular posterior e temporal superficial. A drenagem linfática da face lateral da metade superior da orelha é feita pelos linfonodos parotideos superficiais, enquanto que a face cranial da metade superior é feita pelos linfonodos mastoideos e cervicais profundos, e o restante da orelha, drena para os linfonodos cervicais superficiais. Os principais nervos para a pele da orelha são o auricular magno e o auriculotemporal. O nervo auricular magno supre a face cranial (medial) e a parte posterior (hélice, antélice e lóbulo) da face lateral. O nervo auriculotemporal, um ramo do NC V3, supre a pele da orelha anterior ao meato acústico externo. Inervação Nervo vago Nervo auricular magno Fundo de orelha externa e face externa da membrana timpânica Anterior: face anterior da orelha externa. Posterior: face posterior da orelha externa Nervo mandibular, auriculotemporal e ramo da membrana timpânica Nervo facial, auricular posterior e ramo auricular Face posterior da orelha externa, parede anterior e teto do meato acústico externo e grande parte da membrana timpânica Parte posterior da orelha externa e parte externa da membrana timpânica 3 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência: vestibulopatias O meato acústico externo é um canal que liga o pavilhão auditivo até a membrana timpânica (sua “base”), medindo uma distância de 2 a 3 cm em adultos. O ⅓ lateral desse canal é cartilagíneo e revestido por pele, já os ⅔ mediais são ósseos e revestidos por pele fina e contínua com a camada externa da membrana timpânica. O meato acústico externo contém glândulas ceruminosas, responsáveis por produzir cerume (cera de ouvido). A membrana timpânica é uma divisória entre o meato acústico externo e a cavidade timpânica da orelha média, medindo cerca de 1 cm de diâmetro. A membrana timpânica movimenta-se em resposta às vibrações do ar que atravessam o meato acústico externo e chegam até ela. Os movimentos da membrana são transmitidos pelos ossículos da audição através da orelha média até a orelha interna. Orelha Média A cavidade timpânica ou cavidade da orelha média corresponde a uma câmara estreita e cheia de ar na parte petrosa do temporal. A cavidade tem duas partes: A cavidade timpânica propriamente dita, o espaço diretamente interno à membrana timpânica, e O recesso epitimpânico, o espaço superior à membrana. A cavidade timpânica está unida na parte anteromedial à parte nasal da faringe pela tuba auditiva (e por esse motivo, é composta de ar – equilibra a pressão entre o meio externo e interno) e na parte posterossuperior às células mastóideas através do antro mastoideo. O conteúdo da orelha média é composto por: Ossículos da audição (martelo, bigorna e estribo); Músculos estapédio e tensor do tímpano; Nervo corda do tímpano, um ramo do NC VII; Plexo timpânico de nervos. Membrana timpânica Ossículos da audição Martelo, bigorna e estribo Martelo Na região do manúbrio, se conecta com a membrana timpânica e a face articular se conecta com a bigorna. Bigorna Estribo Articulação Tuba auditiva Faz a conexão do orelha média com a cavidade nasal permitindo a equalização da pressão com a membrana timpânica. 4 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência: vestibulopatias Orelha Interna A orelha interna contém o órgão vestibulococlear relacionado com a recepção do som e a manutenção do equilíbrio. A orelha é formada pelo: Labirinto ósseo (parte petrosa do osso temporal) Vestíbulo, Canais semicirulares ósseos, Cóclea, Meato acústico interno Labirinto membranáceo, que está contido no labirinto ósseo. Labirinto vestibular e Labirinto coclear O labirinto membranáceo, contendo endolinfa, está suspenso no labirinto ósseo cheio de perilinfa, seja por delicados filamentos semelhantes aos filamentos de aracnoide-máter queatravessam o espaço subaracnóideo ou pelo grande ligamento espiral. Ele não flutua. Esses líquidos participam da estimulação dos órgãos de equilíbrio e audição, respectivamente. A orelha interna contém a cóclea, órgão da audição, e o utrículo, sáculo e canais semicirculares, órgãos do equilíbrio. A cóclea é a parte em forma de concha do labirinto ósseo que contém o ducto coclear, a parte da orelha interna associada à audição. O canal espiral da cóclea começa no vestíbulo e faz duas voltas e meia ao redor de um centro ósseo, o modíolo – composto por osso esponjoso contendo canais para os vasos sanguíneos e para a distribuição do nervo coclear O vestíbulo do labirinto ósseo é uma pequena câmara oval que contém o utrículo e o sáculo e partes do aparelho do equilíbrio (labirinto vestibular). O vestíbulo apresenta a janela do vestíbulo em sua parede lateral, ocupada pela base do estribo. O vestíbulo é contínuo com a cóclea óssea anteriormente, os canais semicirculares posteriormente e a fossa posterior do crânio pelo aqueduto do vestíbulo, o qual dá passagem ao ducto endolinfático. Os canais semicirculares (anterior, posterior e lateral) comunicam-se com o vestíbulo do labirinto ósseo. Cada canal semicircular forma cerca de dois terços de um círculo e tem cerca de 1,5 mm de diâmetro, exceto em uma extremidade onde há um alargamento, a ampola óssea. O labirinto membranáceo é formado por uma série de sacos e ductos comunicantes que estão suspensos no labirinto ósseo. Contém endolinfa, um líquido aquoso cuja composição é semelhante à do líquido intracelular, assim diferindo em composição da perilinfa adjacente (que é semelhante ao líquido extracelular) que preenche o restante do labirinto ósseo. O labirinto membranáceo é constituído de duas divisões: Labirinto membranáceo é constituído de: Labirinto vestibular Labirinto coclear Utrículo Ducto coclear na cóclea – é um tubo fechado em uma extremidade, que está presente dentro do canal espiral ósseo. Sáculo 3 ductos semicirculares: cada ducto possui uma ampola, com criptas ampulares (área sensitiva), que registra os movimentos da cabeça. Por fim, o meato acústico interno é um canal estreito que segue lateralmente por cerca de 1 cm dentro da parte petrosa do temporal. O poro acústico interno do meato acústico interno está situado na parte posteromedial deste osso, alinhado com o meato acústico externo. O meato acústico interno é fechado lateralmente por uma lâmina fina e perfurada de osso que o separa da orelha interna. Através desse plano seguem o nervo facial (NC VII), o nervo vestibulococlear (NC VIII) e suas divisões, além dos vasos sanguíneos. O nervo vestibulococlear divide-se perto da extremidade lateral do meato acústico interno em duas partes: um nervo coclear (Audição) e um nervo vestibular (equilíbrio). 5 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência: vestibulopatias Sentidos especiais: aparelho vestibuar Função Posição da cabeça em relação ao corpo Posição dos olhos em relação a cabeça Sensor de velocidade angular, linear e orientação cefálica Canais semicirculares Alças dispostas m 3 planos bilaterais Detectam a velocidade de deslocamento Coplanares Canal semicircular posterior: inclinação lateral da cabeça Canal semicircular lateral: rotação da cabeça Canal semicircular anterior: flexão e extensão da cabeça Cél. Ciliadas Localizadas nos canais semicirculares e nos órgãos otolíticos Envoltos pelas membranas otolíticas nos órgãos otolíticos ação da gravidade Movimento da cabeça, promove deslocamento da endolinfa em sentido contrário ↓ Deslocamento da endolinfa promove deslocamento dos cílios ↓ Deslocamento dos cílios promove hiperpolarização ou despolarização ↓ Nervo vestibulococlear Órgãos otolíticos Utrículo e sáculo Aceleração linear: - Antero-posterior - Occiptotemporal - lateral Inclinação estática FISIOLOGIA DA ORELHA INTERNA A orelha interna é composta pelos labirintos anterior e posterior. O labirinto anterior ou cóclea é responsável pela audição, enquanto o labirinto posterior ou vestíbulo é responsável pelo equilíbrio. Como pode ser visualizado na imagem acima, o labirinto posterior é composto por: sáculo, utrículo, canais semicirculares e suas respectivas ampolas. O sáculo e o utrículo possuem células ciliadas sensitivas que se localizam nas máculas e são envoltas pela membrana otolítica (onde se encontram os otólitos – cristais de Carbonato de Ca). As células ciliadas possuem dois tipos diferentes de cílios: os estereocílios (curtos) e os cinocílios (mais longos). O sáculo e o utrículo são responsáveis pela percepção de movimentos lineares da cabeça, porque durante este tipo de movimento, a membrana otolítica sofre uma deflexão, provocando a movimentação dos estereocílios em direção ao cinocílio (figura 2), o que culmina na despolarização da célula ciliada sensitiva. Figura 2. Despolarização das células ciliares do sáculo e do utrículo durante movimentos lineares da cabeça. Os canais semicirculares têm nas suas extremidades uma região mais dilatada denominada ampola, que possui a crista ampular, região com células ciliadas com função sensitiva. Os cílios destas células são cobertos pela cúpula, uma massa gelatinosa (figura 3). Durante a rotação da cabeça, há uma deflexão da cúpula e a despolarização das células ciliadas. Há três canais semicirculares (CSCs): 1- Anterior ou superior; Os CSCs verticais (superior e inferior) são sensíveis à 2- Posterior ou inferior 6 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência: vestibulopatias movimentação da cabeça em rotação para cima e para baixo. 3-Lateral ou horizontal. O CSC lateral é sensível à movimentação da cabeça em rotação horizontal. Figura 3. Despolarização das células ciliares dos canais semicirculares quando submetidos à rotação. O primeiro neurônio da via vestibular está localizado no gânglio vestibular ou de Scarpa (figura 1). Há duas divisões do nervo: Inferior (que parte do sáculo e do canal semicircular inferior) e a Superior (que parte do utrículo e dos canais semicirculares lateral e superior). FISIOLOGIA DA ORELHA INTERNA Labirinto posterior: sáculo, utrículo, canais semicirculares e duas ampolas Labirinto anterior (cóclea): audição. Labirinto posterior (vestíbulo): equilíbrio Sáculo e utrículo: percepção à movimentação linear da cabeça Cél. ciliadas localizadas na mácula, envolvidas pela membrana otolítica Estereocílios e cinocílios Nervo vestibular Gânglio vestibular ou de Scarpa Divisão superior: utrículo, CSCs superior e lateral Divisão inferior: sáculo e CSC inferior Canais semicirculares Lateral: percepção à rotação horizontal da cabeça Superior e inferior: percepção à rotação vertical (para cima e para baixo) da cabeça Células ciliadas localizadas na ampola, envolvidas pela cúpula, uma massa gelatinosa Sistema vestibular Detecta acelerações: Angulares Lineares Estabilização de imagem visual, Postura e equilíbrio Porção central: cerebelo Porção periférica: órgão vestibular (orelha interna) Órgão vestibular Canais semicirculares Laterais: Sensíveis a movimentação da cabeça em rotação Verticais: movimentação da cabeça em rotação para cima e para baixo Ampola: dilatação na extremidade de cada CSC crista ampular (cel. ciliadas com função sensitiva) Cúpula: Massa gelatinosa que envolve os cílios das cél. sensitivas 7 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência: vestibulopatias CEREBELO INTRODUÇÃO O cerebelo consiste em uma estrutura globosa com dois hemisfériosque apresentam dobras paralelas transversais (folhas) separas por fissuras. Ele ocupa cerca de ¼ do volume craniano, e contém 80% do total de neurônios do cérebro. Fica situado dorsalmente ao bulbo e à ponte, contribuindo para a formação do teto do IV ventrículo. Repousa sobre a fossa cerebelar do osso occipital e separa- -se do cérebro pela tenda do cerebelo, formado pela dura- máter. Comunica-se diretamente com a medula e tronco encefálico. Figura 1: Secção sagital e mediana do Quarto Ventrículo e Cerebelo. Possível visualizar a localização anatômica do cerebelo e suas relações com o tronco encefálico. Função: manutenção da postura, equilíbrio, coordenação de movimentos e aprendizagem de habilidades motoras. Todas funções motoras, porém estudos mostram o envolvimento em funções cognitivas. Inicialmente, considerava-se que o cerebelo tinha apenas funções motoras, porém existe também a participação em funções cognitivas. Mostra-se que existem conexões com a área pré-frontal do córtex, evidenciando funções não motoras, relacionadas à memória, como resolver quebra cabeça, jogo da memória, etc. Localização Fossa posterior, abaixo do tentório do cerebelo, dorsal ao bulbo e ponte Arquitetura Similar à do cérebro. Composto pelo córtex, substancia branca e estruturas nucleares profundas. Função Coordenação de movimentos e manutenção do equilíbrio. Significância clínica Pacientes irão cursar com prejuízos na coordenação, fala desarticulada e desequilíbrio da marcha (mais acentuado em lesões na linha mediana). ASPECTOS ANATÔMICOS Visão externa O cerebelo é dividido em: vérmis e nos hemisférios cerebelares direito e esquerdo. A superfície do cerebelo apresenta sulcos na direção transversal, que delimitam lâminas finas, denominadas folhas do cerebelo. Os lobos são delimitados pelas fissuras do cerebelo. O cerebelo possui 17 lóbulos e 8 fissuras. Os mais importantes são os lóbulos: nódulo, flóculo e tonsila; e dentre as fissuras: posterolaterias e prima. O cerebelo possui uma organização somatotópica, onde o corpo está representado três vezes, separado pelas fissuras, e assim recebendo nomes: lobo anterior, posterior e flóculo-nodular. Esta divisão também pode ser longitudinal: hemisférios laterais, paraverme, verme e lóbulo flóculo- nodular. Figura 3:Vista superior de um cerebelo “desenrolado”. 8 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência: vestibulopatias Visão interna Internamente, o cerebelo é constituído pelo corpo medular (no centro, formado por substância branca) e revestidas externamente pelo córtex cerebelar (substância cinza). No interior do corpo medular existem quatro pares de núcleos de substância cinzenta, que são os núcleos centrais do cerebelo: Denteado, Interpósito (subdividido em emboliforme e globoso) e o Fastigial. Deles saem todas as fibras eferentes do cerebelo. No córtex cerebelar distinguem-se as seguintes camadas: Molecular: a camada molecular é formada por fibras de direção paralela e contém dois tipos de neurônios, as células estreladas e as células em cesto. Média (células de Purkinje): A camada média é formada por uma fileira de células de Purkinje. Granular: a camada granular é constituído, principalmente, por numerosas células granulares (células pequenas com pouco citoplasma) que possuem muitos dentritos e um axônio que atravessa a camada média e se bifurca na camada molecular, constituindo as fibras paralelas, que se dispõe no eixo da folha cerebelar. Essas fibras paralelas irão estabelecer sinapse com as células de Purkinje, assim cada célula granular tem comunicação com um grande número de células de Purkinje. A célula de Purkinje é o elemento dominante do processo de informação cerebelar. Recebeu este nome em homenagem ao fisiologista tcheco Johannes Purkinje que as descreveu em 1837. As células de Purkinje são neurônios multipolares (piriformes e grandes), dotadas de dendritos que se ramificam na camada molecular, e de um axônio que sai em direção oposta. Em conjunto formam o único sistema eferente cerebelar, funcionando como moduladoras das informações aferentes que chegam ao córtex cerebelar. Figura 4: Diagrama esquemático de duas folhas do cerebelo mostrando o arranjo das células e das fibras no córtex cerebelar. Comunicações O cerebelo irá se comunicar com o resto do SN pelos pedúnculos, no total, ele possui três: pedúnculo cerebelar superior, médio e inferior. PEDÚNCULO CEREBELAR SIGNIFICANCIA FUNCIONAL Superior Transporta primariamente impulsos de saída do cerebelo Médio Transporta EXCLUSIVAMENTE impulsos que entram no cerebelo Inferior Transporta primariamente impulsos que entram no cerebelo Vascularização Existem três grandes artérias que estão relacionadas com a vascularização do cerebelo: 2 artérias cerebrais, que se unem na base da ponte dando origem à artéria basilar. Dois pares de artérias surgem da artéria basilar: artéria cerebelar superior e artéria cerebelar anterior e inferior e o 3 º par, a. cerebelar posterior inferior, que surgem através das artérias cerebrais; no qual irão irrigar locais diferentes do cerebelo: ARTERIA ORIGEM IRRIGAÇÃO A. Cerebelar superior a. Basilar Metade superior 9 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência: vestibulopatias A. Cerebelar anterior inferior a. Basilar Antero-inferior a. Cerebelar posterior inferior a. Vertebrais Póstero-inferior Figura 6: Vascularização do Cerebelo. A importância prática da vascularização do cerebelo é devido ao acidente vascular cerebral, principalmente o isquêmico. É necessário procurar a artéria que foi acometida correlacionando com o acometimento clínico apresentado. ESTRUTURA E FUNÇÃO DO CEREBELO Divisão funcional Funcionalmente, baseado nas conexões do córtex com os núcleos centrais, podemos dividir o cerebelo em três partes: vestibulocerebelo, espinocerebelo, cerebrocerebelo A divisão filogenética do cerebelo (arqui, paleo e neocerebelo); esta divisão baseada nas conexões do córtex com os núcleos centrais, veio para substituí-la; uma vez que se tinha muita dificuldade de conceituar o paleocerebelo. O uso dos termos da divisão filogenética é desaconselhado pela Comissão de Terminologia da Sociedade Brasileira de Anatomia. Vestibulo cerebelo CONEXÕES AFERENTES: Chegam pelo fascículo vestibulocerebelar, tendo origem nos núcleos vestibulares e se distribuem ao lobo floculonodular. Trazem informações da parte vestibular do ouvido interno sobre a posição da cabeça. Importante para equilíbrio e postura CONEXÕES EFERENTES: Projetam-se para o núcleos vestibulares medial e lateral. Pelo lateral vai para os vestibulosespinhais que controla musculatura para manutenção do equilíbrio e marcha. As mediais irão controlar movimentos da cabeça e oculares. Espinoce rebelo CONEXÕES AFERENTES: Penetrando pelos pedúnculos superior e inferior e fazem conexões pelos tratos espinocerebelar anterior e posterior. O posterior irá receber sinais de propriocepção e pelo anterior irá receber sinais motores que chegam à medula pelo trato corticoespinhal. CONEXÕES EFERENTES: Fazem sinapse com o núcleo interposito, que vão para o núcleo rubro e tálamo. O rubro influencia neurônios motores e o tálamo vão para áreas motoras do córtex cerebral. Os dois vão exercer influência sobre os neurônios motores da medula situados do mesmo lado, controlando músculos distais responsáveis por movimentos delicados. Cerebroc erebelo CONEXÕES AFERENTES: Penetram pelo pedúnculo cerebelar médio, pelas fibras pontinas, levando informações oriundas de áreas motoras e não motoras do córtex cerebral. CONEXÕES EFERENTES: Fazem sinapse no núcleo denteado, levando pro tálamo (do lado oposto) e depois para as áreas motoras do córtex cerebral, ondese origina o trato corticoespinhal. Age sobre a musculatura distal, responsável por movimento delicado. Aspectos funcionais As principais funções do cerebelo são: manutenção do equilíbrio e postura, controle do tônus muscular, controle dos movimentos voluntários, aprendizagem motora e funções cognitivas específicas. • Manutenção do equilíbrio e postura: O vestibulocerebelo promove contração adequada dos músculos axiais e proximais dos membros, de modo a manter o equilíbrio e postura. • Controle do tônus muscular: Mantido, principalmente, pelos núcleos denteado e interposto. A perda do tônus é um dos sintomas de descerebelização. • Controle dos movimentos voluntários: O cerebelo controla o planejamento (pelo cerebrocerebelo) de movimentos e faz correção do movimento já em execução (pelo espinocerebelo). • Aprendizagem motora: Há evidencias de que fibras olivocerebelares, que chegam ao córtex como fibras 10 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência: vestibulopatias trepadeiras e fazem sinapse diretamente com os células de Purkinje, possam modular sua excitabilidade nesta conexão, e assim, modificar as respostas por tempo prolongado aos estímulos, criando um padrão de atividade apropriado. APLICAÇÃO CLÍNICA Quando o cerebelo é lesado, os principais sintomas observados são: Ataxia (incoordenação de movimentos), Perda de equilíbrio, Hipotonia (diminuição do tônus da musculatura esquelética). Se o envolvimento é global, é possível ver todos esses sintomas.e do cerebrocerebelo. É possível ver esses sintomas em casos de embriaguez aguda. Isto acontece, pois o álcool tem efeito tóxico sobre as células de Purkinje. As síndromes cerebelares podem ser divididas em três, de acordo com a divisão funcional: síndromes do vestíbulo, do espino e do cerebrocerebelo. SINDROME SINTOMAS Vestibulocerebelo Marcha atáxica (base alargada e movimentos irregulares) + perda de controle dos movimentos oculares durante a rotação de cabeça (nistagmo). Espinocerebelo Erros na execução motora (ataxia de membros). A área afetada deixa de processar informações proprioceptivas dos feixes espinocerebelares + Nistagmo + alteração na fala (disartria) Cerebrocerebelo Ligados ao movimento: atraso no inicio do movimento + decomposição do movimento multiarticular + disdiadococinesia + rechaço + tremor + dismetria A manobra de Holmes (do rebote) é um dado semiológico bastante útil na constatação de alteração cerebelar dos membros superiores. Realiza-se a flexão do antebraço contra resistência oposta pelo examinador que bruscamente a relaxa. O paciente terá incapacidade de abortar um movimento quando se retira a oposição ao mesmo. As etiologias podem ser bem variadas e se comportar de maneira diferentes. Vamos relembrar as principais: ETIOLOGIA HISTÓRIA EXEMPLOS Vascular Início súbito, agudo. Mantem quadro ou melhora discreta. AVEi ou AVEh. Processo expansivo Crônico, piora progressiva. Comum em crianças. Neoplasias, neuroinfecções (neurotoxoplasmo se, criptococose, tuberculose). Degenerat ivo Crônico, piora progressiva lenta Ataxias cerebelares hereditárias. Intoxicaçã o Agudo/Cronico Relação causal Fenitoína, car bamazepina. ANATOMIA DO CEREBELO Vascularização Artéria cerebelar superior Artéria cerebelar anterior inferior Artéria cerebelar posterior inferior Divisão funcional Vestibulocerebelo Equilíbrio e marcha Movimentos da cabeça e oculares Espinocerebelo Controle do tônus muscular Correção do movimento em execução Controle de músculos distais responsáveis por movimentos delicados Planejamento do movimento Visão interna Corpo medular Núcleo denteado Núcleo interpósito - Emboliforme - Globoso Fastígal Córtex cerebelar Camada molecular Camada média - Cél. estreladas - Cél. em cesto Camada granular - Cél de Purkinje - Cel. Granulares 11 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência: vestibulopatias VESTIBULOPATIAS VERTIGEM E NISTAGMO A vertigem e o nistagmo são os sintomas vestibulares mais comuns e estão presentes na maior parte das vestibulopatias. A vertigem é a sensação de rotação, seja do ambiente ou do próprio corpo, decorrente de um desequilíbrio ou assimetria do tônus entre os vestíbulos direito e esquerdo. Algumas características auxiliam na distinção entre vertigem central e vertigem periférica. CARACTERÍSTICA VERTIGEM PERIFÉRICA VERTIGEM CENTRAL Intensidade Muito intensa Pouco intensa Duração Aguda e recorrente Crônica Sintomas auditivos (hipoacusia, zumbidos) Comum Raro Alterações neurológicas N. vestibulococlear Outros nervos, cerebelar Alteração do equilíbrio Moderada (desvio para o lado da lesão) Importante (desvio para lesão ou não) Coordenação Normal Alterada nas lesões cerebelares Motricidade ocular extrínseca Normal Diplopia ou desalinhamento O nistagmo, por sua vez, é o movimento involuntário e repetitivo do globo ocular, sendo a manifestação clínica da assimetria de tônus entre os músculos da musculatura ocular extrínseca, que é mantido pelo sistema vestibular. O nistagmo pode ser horizontal, vertical ou rotatório (figura 4), mas pode apresentar dois componentes, sendo, por exemplo, horizonto-rotatório. Nistagmo Horizontal Nistagmo Vertical Nistagmo Rotatório O nistagmo periférico geralmente tem sentido único, sendo horizonto-rotatório ou horizontal e sofre um efeito inibidor pela fixação ocular, ou seja, reduz sua intensidade com a fixação ocular (fatigável). Além disso, ele tem uma fase lenta (de origem labiríntica) e uma fase rápida (de origem central, no tronco encefálico) e geralmente está acompanhado de vertigem intensa e sintomas neurovegetativos como náuseas. Por convenção, denomina-se o sentido do nistagmo de acordo com a sua fase rápida. Ademais, a fase rápida do nistagmo periférico vai em direção ao labirinto sadio, na fase aguda. A pesquisa do nistagmo pode ser: Espontânea, apenas observando o paciente em posição neutra e olhando para frente; Semiespontânea, observando o paciente enquanto ele olha 30º para direita, para esquerda, para cima e para baixo. É essencial que pacientes com vertigem ou nistagmo tenham seu equilíbrio avaliado. O equilíbrio estático pode ser avaliado por meio do teste de Romberg, em que o paciente é colocado em posição ortostática, com pés juntos e braços pendentes (figura 5) e se observa se ele apresenta tendência de cair para um lado ou para o outro ou qualquer oscilação. Este teste pode também ser sensibilizado ao solicitar que o paciente ponha um pé a frente do outro. Figura 5. a) Teste de Romberg; b) Teste de Romberg sensibilizado. Quando o paciente tem uma lesão periférica (do labirinto) ele tende a cair para o lado do labirinto comprometido. No caso de lesões centrais, a tendência é que a queda ocorra para frente ou para trás. Já o equilíbrio dinâmico é avaliado por meio da observação da marcha do paciente em linha reta. A marcha atáxica ou espástica indica alguma lesão central, enquanto desvios da linha reta indicam alguma lesão vestibular. 12 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência: vestibulopatias Entretanto, só são notadas alterações neste teste quando a alteração vestibular é aguda. Se o quadro já é crônico e compensado, faz-se necessária a sensibilização através do teste de Fukuda (marcha de olhos fechados), em que se solicita ao paciente para andar em linha reta com os olhos fechados. Neste teste, um desvio maior que 45º ou um deslocamento maior que um metro da linha reta almejada denota o comprometimento do labirinto de mesmo lado. VERTIGEM POSTURAL PAROXÍSTICA BENIGNA - VPPB Definição e epidemiologia A vertigempostural paroxística benigna, mais conhecida como VPPB, é a patologia que cursa com vertigem de curta duração (segundos a minutos), decorrente da movimentação da cabeça. É responsável por 20% dos casos de vertigem e 90% dos casos de problemas no labirinto. A VPPB pode acometer pessoas de qualquer idade, mas é mais comum naquelas entre 40 e 60 anos. Fisiopatologia A mudança da posição da cabeça provoca o deslocamento anormal dos otólitos e ocasiona uma vertigem rápida com duração de segundos associada a um nistagmo posicional paroxístico característico. Pode ter 2 subtipos: canalitíase, o mais comum, que ocorre quando o otólito que se desprendeu ficou solto e boiando na endolinfa do canal semicircular; e cupulolitíase, quando o otólito se fixou à cúpula. O canal semicircular posterior é o mais acometido, sendo responsável por mais de 70% dos casos, porque tem posição mais inferior, tanto em ortostase quanto em posição supina. 20% ocorre no CSC lateral e cerca de 6% CSC no CSC superior. Na maioria das vezes a VPPB é idiopática, mas entre as possíveis causas se encontram: TCE; Repouso prolongado no leito; Neurite vestibular; Ménière; Sedentarismo; Disfunções hormonais ou metabólicas. Quadro clínico Geralmente, há uma história bem típica de manifestação da vertigem com a mudança brusca de posição da cabeça, ao abaixá-la, levantá-la ou rotacioná-la. Não há sintomas auditivos (hipoacusia, zumbidos, plenitude aural). Diagnóstico O diagnóstico é clínico e realizado através de manobras. O teste mais conhecido é o de Dix-Hallpike (figura 6): • Paciente sentado, com a cabeça rotacionada 30º para a direita; • Deita-se em decúbito dorsal com a cabeça para fora da maca, mantendo assim a cabeça em extensão e rotação lateral a 30º; • Para o diagnóstico deve-se identificar, dentro de alguns segundos, o nistagmo, que pode ser: Rotatório e vertical para cima (CSC posterior), Vertical para baixo (CSC superior, mas também pode ter origem central); ou Horizontal (CSC lateral). Figura 6. Manobra de Dix-Hillpike. Diz-se que a VPPB é subjetiva quando o paciente apresenta vertigem durante a manobra, sem que se observe o nistagmo. Ainda assim, está indicado o tratamento que também é realizado através de manobras – eficácia superior a 70%. Head roll test: manobra para avaliar nistagmo de canal lateral 13 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência: vestibulopatias Tratamento O tratamento é feito pela manobra de Epley (figura 7), que visa o reposicionamento dos otólitos: • A partir da última posição da manobra de Dix-Hillpike, vira- se a cabeça do paciente para o lado contralateral (mantendo angulação de 30º) por cerca de 30 a 60 segundos • O paciente vira-se para decúbito lateral, mantendo a rotação da cabeça, e permanece nesta posição por 30 a 60 segundos. • O paciente é levantado e mantido sentado na maca, ainda com a rotação da cabeça em 30º para a esquerda, por mais 30 a 60 segundos. Figura 7. Manobra de Epley. Essa terapia pode ser associada ao uso de supressores vestibulares e antieméticos, como o Dimenidrinato, 50 a 100 mg/dose, via oral, de 4/4 horas ou de 6/6 horas (dose máxima de 400 mg/dia). Costuma haver remissão clínica em 3-4 semanas mesmo sem aplicação de terapêutica. Manobra de Lempert (Barbecue) As manobras podem ser acompanhadas por complicações como: Sintomas neurovegetativos (náuseas, sudorese), Migração para canal semicircular lateral e Canalith jam (bloqueio canalicular). NEURITE VESTIBULAR Definição e etiologia A neurite vestibular é a inflamação do nervo vestibular, sendo a divisão superior a mais acometida. A etiologia pelo herpes simples vírus 1 (HSV-1) é a mais comum. 3ª neuropatia mais comum, acomete adultos jovens Comumente, relata-se uma infecção de vias aéreas superiores (IVAS) recente Quadro clínico A vertigem é moderada a severa, de início súbito e sem sintomas auditivos (hipoacusia e zumbidos). Diagnóstico O diagnóstico é feito pela observação do nistagmo, que pode ser espontâneo, semiespontâneo ou após a manobra de head-shake, que consiste em virar a cabeça do paciente de um lado para outro várias vezes, por 10 a 20 segundos. Sendo neurite vestibular, o nistagmo é horizontal e se direciona para o lado sadio. Já o nistagmo de origem central tende a ser prolongado, vertical (após a estimulação no plano horizontal) e desconjugado (diferente) entre os 2 olhos. Ademais, para diferenciar lesões periféricas e centrais, preconiza-se a realização da bateria HINTS (Head Impulse test, Nistagmo Típico e Skew deviation): H I Head Impulse test ou teste do impulso encefálico – virar cabeça para esquerda e para direita (nesta ordem) por algumas vezes enquanto o paciente mantém o olhar fixo entre os olhos do examinador. O teste é positivo é constatado através da presença de sacadas (movimento compensatório dos olhos que o paciente é obrigado a fazer para manter o olhar fixo) e denota reflexo vestíbulo-ocular defasado em relação à movimentação da cabeça, ou seja, uma lesão vestibular ipsilateral ao lado testado. N T • Nistagmo Típico (central ou periférico) S • Skew deviation – Oclusão alternada de cada um dos olhos do paciente. Em lesões centrais, um globo ocular fica mais baixo que o outro (estrabismo vertical). Se qualquer um dos itens da bateria HINTS não assume padrão periférico é necessário complementar a investigação com exames de imagem (como a tomografia computadorizada), buscando possíveis causas centrais (AIT ou AVe). A aplicação da bateria HINTS revela sua importância pelo fato de possuir 100% de sensibilidade e 96% de especificidade em identificar AVC em pacientes com vertigem com duração superior a 24 horas. Tratamento O tratamento da neurite vestibular envolve: • Corticoides orais: prednisona ou prednisolona: 1 mg/Kg, via oral, de 24 em 24 horas, por 5 dias. Seguido de redução gradativa da dose por mais 15 dias. • Sedativos labirínticos ou antieméticos, como o Dimenidrinato + piridoxina, 50 mg, via oral, de 6/6 horas por 3 a 5 dias. • Reabilitação vestibular. MIGRÂNEA VESTIBULAR Definição e epidemiologia 14 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência: vestibulopatias Cefaleia migrânea que se segue por vertigem. Acomete 16% da população adulta, sendo mais comum entre mulheres. Fisiopatologia A depressão alastrante do SNC ocasiona o vasoespasmo da artéria auditiva interna, o que compromete a irrigação do labirinto e desencadeia os sintomas labirínticos. Quadro clínico Pacientes com migrânea vestibular costumam cursar com cefaleia, vertigem, desequilíbrio e sensação de “cabeça vazia”. A cefaleia é caracteristicamente migrânea: unilateral, pulsátil, com fotofobia e fonofobia. A coincidência entre cefaleia e vertigem ocorre em apenas 25 a 50% dos casos. Há também a apresentação de sintomas auditivos: hipoacusia, zumbidos e plenitude aural. Geralmente, a audiometria é normal na migrânea vestibular, o que possibilita o diagnóstico diferencial com Ménière. Tratamento O tratamento consiste em: • Redução do estresse, higiene do sono e prática de atividade física; • Evitar aspartame, chocolates, queijos, glutamato e bebidas alcoólicas; • Uso de drogas profiláticas: antidepressivos tricíclicos (amitriptilina, 10 a 200 mg/dia, via oral), inibidores da recaptação de serotonina (venlafaxina, 75 a 225 mg/dia, via oral); • Sedativos labirínticos, como o Dimenidrinato, 50 a 100 mg/dose, via oral, de 4/4 horas ou de 6/6 horas (dose máxima de 400 mg/dia); • Reabilitação vestibular em casos resistentes. MÉNIÈRE Definição Ménière é uma patologia que decorre de uma hidropsia endolinfática (↑da pressão do liquido), que causa hipertensão no labirinto membranáceo, sobretudo no ducto coclear e no sáculo. Atinge pessoas de30 a 40 anos. Quando idiopática, denomina-se doença de Ménière, e quando é secundária, síndrome de Ménière. Neste último caso, há algumas causas possíveis: Infecções virais ou por sífilis; Doenças autoimunes; Doenças metabólicas ou hormonais. Quadro clínico Ménière apresenta a tétrade de sintomas: Vertigem episódica (3 a 4 horas); Perda auditiva progressiva ou flutuante; Zumbido; Plenitude aural; A maioria dos casos é unilateral, mas 30% dos casos apresenta-se de forma bilateral. Na audiometria observa-se uma perda auditiva neurossensorial inicialmente em frequências graves (baixas). Diagnóstico De acordo com os critérios diagnósticos, Ménière pode ser definida ou provável. Ménière definida: 2 ou mais episódios de vertigem (de 20 minutos a 12 horas); Perda auditiva neurossensorial em frequências graves a médias na orelha afetada (audiometria) em pelo menos uma ocasião; Sintomas auditivos flutuantes, como zumbido e plenitude aural; Nenhum outro diagnóstico que justifique tais sintomas. Ménière provável: 2 ou mais episódios de vertigem (de 20 minutos a 24 horas); Sintomas auditivos flutuantes, como zumbido e plenitude aural; Nenhum outro diagnóstico que justifique tais sintomas. Exames complementares: • Audiometria, em que se observa perda auditiva neurossensorial inicialmente em frequências graves (baixas); • Exames laboratoriais, para investigação de possíveis causas; • Vectoeletronistagmografia, em que se constata hipofunção vestibular uni ou bilateral; (avalia a função do labirinto) • RNM de crânio com contrate, com ênfase na avaliação de condutos auditivos internos para afastar patologia retrococlear (ex.: Schwannoma); • Eletrococleografia, que constata aumento do potencial de somação (PS) em relação ao potencial de ação (PA): PS/PA > 40%. Este exame possui sensibilidade de 62% e especificidade de 95%. Ou seja, uma eletrococleografia normal não exclui Ménière, mas um resultado alterado associado aos sintomas característicos fecha o diagnóstico; • Potencial Evocado Miogênico Vestibular (VEMP), capaz de captar o potencial inibitório no músculo esternocleidomastoideo ipsilateral (originado na mácula sacular) e fornecer o diagnóstico precoce. Tratamento 15 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência: vestibulopatias O tratamento de Ménière consiste em: • Controle dietético: restringir sódio, chocolate, açúcares, cafeína e álcool; • Betaistina (vasodilatador –analago de histamina), 24 mg, via oral, de 12 em 12 horas após as refeições. • Depressores labirínticos nas crises, como o Dimenidrinato + piridoxina, 50 mg, endovenosa, de 6/6 horas. • Não são prescritos diuréticos (não existe evidencia de benefícios) • Cirurgia: realizada apenas em casos excepcionais, em que quadros são incontroláveis, por meio da descompressão do saco endolinfático. FÍSTULAS PERILINFÁTICAS As fístulas perilinfáticas são áreas de escape de perilinfa, localizadas na janela oval ou na janela redonda, geradas por algum trauma, cirurgias otológicas, barotrauma ou de forma espontânea. Clinicamente, manifesta-se com perda auditiva neurossensorial e/ou vertigem. Ademais, pode ocorrer: Fenômeno de Túlio: vertigem ou nistagmo desencadeado por som; Sinal de Hennebert: vertigem ou nistagmo desencadeado por pressão aplicada ao ouvido. O diagnóstico definitivo e o tratamento são cirúrgicos, mas isso só é feito em casos de alta suspeição clínica. (timpanoplastiaesplanadora) CINETOSE A cinetose é uma síndrome que envolve náuseas, vômitos, sialorreia, sudorese e palidez, desencadeada quando se está em movimento (viagens de carro ou embarcação, por exemplo). Acomete qualquer idade (2 anos de idade), sendo mais comum entre mulheres. É decorrente da estimulação excessiva do sistema vestibular e também do conflito entre os sistemas responsáveis pela manutenção do equilíbrio: vestibular, visual e proprioceptivo. O diagnóstico é meramente clínico e o tratamento consiste na administração de depressores labirínticos nas crises Dimenidrinato, 50 a 100 mg/ dose, via oral, de 4/4 horas ou de 6/6 horas (dose máxima de 400 mg/dia). LABIRINTOPATIAS METABÓLICAS/ HORMONAIS Disfunções metabólicas ou hormonais que levam à alteração do potencial endococlear, já que a composição da endolinfa é afetada principalmente por alterações nas concentrações de Na+ e K+. É mais comum em mulheres a partir da 3ª década. A queixa mais comum é a vertigem, sendo cíclica, mas o paciente pode referir também “cabeça vazia” e zumbidos. Entre as alterações metabólicas e hormonais se encontram: • Hipoglicemias, hiperglicemias, hiperinsulinemia, resistência periférica a insulina, que interferem na bomba sódio-potássio-ATPase existente na estria vascular. Para investigação, deve ser realizada a curva glicoinsulinêmica de 3 horas, em que indicam intolerância à glicose: Glicemia < 55 mg/dL (a qualquer momento) Glicemia entre 145 e 200 na 2ª hora Queda da glicemia > 30 em meia hora Insulina em jejum > 50 U/L Soma da insulina da 2ª e 3ª hora > 60 U/L • Hipo ou hipertireoidismo Causam lesão direta das células ciliadas e alterações hemodinâmicas (vasculares), assim como bioquímicas (perfil lipídico). • Alterações ovarianas Podem ocorrer em todas as fases de vida da mulher (ciclo menstrual, gestação, climatério) e causam hidropsia endolinfática secundária, com os seguintes sintomas: vertigem, cefaleia e compulsão por doces. Ademais, a audiometria pode ser normal ou indicar uma perda auditiva de configuração plana ou em U invertido (figura 8) e a vectoeletronistagmografia tem como achado mais frequente a hiperreflexia bilateral. Figura 8. Audiometria indicando perda auditiva com configuração em U invertido bilateralmente. O tratamento consiste na intervenção sobre a causa metabólica ou hormonal que está levando à labirintopatia. VESTIBULOPATIAS Quadro clínico Diagnóstico Tratamento VPPB Vertigem com mudança de posição da cabeça. Sem sintomas auditivos Monobra de Dix- Hallpike Manobra de Epley + Dimenidrinato Neurite vestibular Vertigem moderada a severa, de início súbito. Sem sintomas auditivos. IVAS recente Bateria HINTS Corticoide oral + Dimenidrinato+ piridoxina + reabilitação vestibular Migrânea vestibular Cefaleia migrânea, vertigem, desequilíbrio e sensação de “cabeça vazia”. Clínico + audiometria Dimenidrinato + medidas profiláticas + reabilitação vestibular 16 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência: vestibulopatias Presença de sintomas auditivos: hipoacusia, zumbidos e plenitude aural (normal ≠ Ménière) Ménière Vertigem episódica (3 a 4 horas); Perda auditiva progressiva ou flutuante; Zumbido; Plenitude aural Critérios clínicos + exames complementares Controle dietético + Betaistina + Dimenidrinato+ piridoxina + cirurgia (casos excepcionais) Fístula perilinfática Perda auditiva neurossensorial e/ou vertigem; Fenômeno de Túlio; Sinal de Hennebert Cirúrgico Cirúrgico Cinetose Náuseas, vômitos, sialorreia, sudorese e palidez, desencadeada quando se está em movimento Clínico Dimenidrinato Labirintopatias metabólicas/ hormonais Hipo ou hiperglicemias, hiperinsulinemia, resistência periférica a insulina; Hipo ou hipertireoidismo; Alterações ovarianas Clínico + exames complementares Intervenção sobre a causa metabólica ou hormonal VESTIBULOPATIAS