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Indaial – 2021
Teoria da 
argumenTação 
Jurídica
Prof.a Ivone Fernandes Morcilo Lixa
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2021
Elaboração:
Prof.a Ivone Fernandes Morcilo Lixa
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
L788t
Lixa, Ivone Fernandes Morcilo
Teoria da argumentação jurídica. / Ivone Fernandes Morcilo Lixa. 
– Indaial: UNIASSELVI, 2021.
206 p.; il.
ISBN 978-65-5663-612-2
ISBN Digital 978-65-5663-611-5
1. Argumentação jurídica. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo 
da Vinci.
CDD 340
apresenTação
Olá, caro acadêmico. Seguramente, você já ouviu que o profissional 
do Direito tem como principal ferramenta o domínio da linguagem e das 
técnicas de convencimento. É sabendo se expressar adequadamente que 
direitos são requeridos, defendidos e assegurados nos tribunais. Com o 
domínio das expressões e do vocabulário jurídico, o operador do Direito 
se diferencia e se destaca em sua permanente luta pela justiça. Através da 
linguagem e da capacidade de argumentar é possível peticionar, apelar, 
recorrer, sustentar teses jurídicas, persuadir, provar, julgar e até mesmo 
condenar ou absolver. 
Sem dúvida, a argumentação jurídica, como capacidade de 
exteriorizar através do domínio da linguagem, o sentido e alcance da norma 
no caso concreto é que o Direito concretiza na realidade fática. Mais do que 
conhecer leis e conceitos jurídicos, é necessário que o jurista tenha habilidades 
e competências que lhe permitam ser ao mesmo tempo pensador do direito, 
orador e escritor de excelência. 
Pensando em lhe possibilitar a aquisição de boa capacidade 
argumentativa e interpretativa do Direito é que elaboramos este livro 
especialmente para você, selecionando temas atuais e relevantes para que 
seja um profissional diferenciado e de sucesso. 
Metodologicamente, o livro está dividido em três grandes unidades, 
subdivididas em tópicos que lhe permitirão um estudo minucioso e 
sistemático sobre o tema da argumentação e interpretação jurídica. 
Na Unidade 1 serão estudados os conceitos básicos acerca da 
Linguagem, Comunicação e Vocabulário Jurídico, de forma a particularizar 
o campo do Direito com o objetivo de compreender as distintas e múltiplas 
inter-relações dos sentidos e significações jurídicas com vistas a dominar as 
técnicas de persuasão de maneira correta e eficaz. 
Na Unidade 2, o principal foco do estudo será a Argumentação 
Jurídica, em que você conhecerá essa importante ferramenta para a atividade 
do profissional do Direito nos dias de hoje. Vivemos um momento em que 
se compreende o Direito para além do mero texto legal, exigindo-se do 
intérprete, o domínio de um raciocínio lógico e argumentativo para que seja 
possível solucionar o caso concreto de maneira justa e razoável. 
Na Unidade 3, quando então já dominados os conceitos básicos 
e fundamentais da argumentação jurídica, chegaremos ao estudo da 
hermenêutica jurídica e os novos desafios no campo da interpretação e 
aplicação do Direito. 
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
Ao final de cada tópico, você terá à disposição autoatividades que 
lhe permitirão avaliar e aprofundar melhor os estudos realizados. Leia 
atentamente os textos selecionados e indicados em cada unidade. 
Bons estudos!!! Você não estará só nesta jornada que se inicia. 
Estaremos sempre juntos. 
Prof.a Ivone Fernandes Morcilo Lixa
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá 
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, 
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
LEMBRETE
sumário
UNIDADE 1 — LINGUAGEM E LINGUAGEM JURÍDICA ......................................................... 1
TÓPICO 1 — CONCEITOS INICIAIS ............................................................................................... 3
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3
2 LÍNGUA E LINGUAGEM: CONCEITOS INICIAIS .................................................................... 3
3 FUNÇÕES DA LINGUAGEM ......................................................................................................... 10
4 NÍVEIS DE LINGUAGEM ............................................................................................................... 14
5 LINGUAGEM ORAL E ESCRITA .................................................................................................. 17
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 23
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 24
TÓPICO 2 — LINGUAGEM JURÍDICA .......................................................................................... 27
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 27
2 LINGUAGEM JURÍDICA ................................................................................................................ 28
2.1 JARGÃO JURÍDICO E PODER SIMBÓLICO ........................................................................... 31
2.2 AS CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM JURÍDICA ........................................................ 35
3 TÉCNICO-CIENTÍFICA ................................................................................................................... 36
3.1 LÓGICA E ESTILO ....................................................................................................................... 39
3.2 CONCISÃO .................................................................................................................................... 40
3.3 ESTÉTICA ..................................................................................................................................... 40
4 OS NÍVEIS DA LINGUAGEM JURÍDICA ..................................................................................41
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 47
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 48
TÓPICO 3 — VOCABULÁRIO JURÍDICO ..................................................................................... 51
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 51
2 POLISSEMIA ...................................................................................................................................... 51
3 HOMONÍMIA .................................................................................................................................... 53
4 SINONÍMIA E PARONÍMIA .......................................................................................................... 54
5 AMBIGUIDADE E VAGUEZA ....................................................................................................... 55
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 60
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 64
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 65
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 66
UNIDADE 2 — LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA ............................................ 67
TÓPICO 1 — ORATÓRIA: CONCEITO E CARACTERÍSTICAS .............................................. 69
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 69
2 ORATÓRIA ......................................................................................................................................... 69
3 A ORATÓRIA NO CAMPO JURÍDICO ....................................................................................... 75
4 RETÓRICA .......................................................................................................................................... 80
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 89
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 90
TÓPICO 2 — ARGUMENTAÇÃO: CONCEITOS E ELEMENTOS CARACTERIZADORES .......93 
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 93
2 ARGUMENTAÇÃO ........................................................................................................................... 93
3 TIPOS DE ARGUMENTOS ............................................................................................................. 97
4 FALÁCIAS ARGUMENTATIVAS ................................................................................................ 101
5 FIGURAS DE LINGUAGEM......................................................................................................... 105
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 110
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 111
TÓPICO 3 — DIREITO, ARGUMENTAÇÃO E LÓGICA JURÍDICA ..................................... 113
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 113
2 ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA .................................................................................................... 113
3 LÓGICA E ARGUMENTAÇÃO .................................................................................................... 120
4 O DIREITO COMO SISTEMA LÓGICO ................................................................................... 125
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 134
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 137
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 138
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 140
UNIDADE 3 — DIREITO MODERNO, ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 
E HERMENÊUTICA ..................................................................................................141
TÓPICO 1 — O DIREITO MODERNO E A QUESTÃO INTERPRETATIVA ........................ 143
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 143
2 A RACIONALIDADE CIENTÍFICA MODERNA ..................................................................... 143
3 O POSITIVISMO JURÍDICO COMO EXPRESSÃO DO DIREITO MODERNO .............. 149
4 A INTERPRETAÇÃO DO DIREITO MODERNO NO MARCO DO POSITIVISMO 
LEGALISTA ....................................................................................................................................... 154
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 160
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 161
TÓPICO 2 — A REDEFINIÇÃO INTERPRETATIVA E ARGUMENTATIVA DO 
DIREITO CONTEMPORÂNEO ............................................................................. 163
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 163
2 A CRISE DO POSITIVISMO JURÍDICO ................................................................................... 163
3 EMERGÊNCIA DO NOVO CONSTITUCIONALISMO COMO PARADIGMA DE 
DIREITO E DE INTERPRETAÇÃO .............................................................................................. 166
4 A ARGUMENTAÇÃO E A NORMATIVIDADE DOS PRINCÍPIOS .................................. 171
5 A PONDERAÇÃO COMO TÉCNICA INTERPRETATIVA .................................................... 174
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 180
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 181
TÓPICO 3 — HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA: DESAFIOS DO 
DIREITO BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO ................................................... 183
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 183
2 HERMENÊUTICA E INTERPRETAÇÃO: CONCEITOS INICIAIS ...................................... 183
3 HERMENÊUTICA JURÍDICA ...................................................................................................... 190
4 DESAFIOS PARA A HERMENÊUTICA JURÍDICA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO ...... 194
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 198
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 202
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................203
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 205
1
UNIDADE 1 — 
LINGUAGEM E LINGUAGEM JURÍDICA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
•	 compreender	a	diferença	entre	língua,	linguagem	e	fala	de	forma	a	definir	
a língua como o conjunto de palavras organizadas através de regras 
gramaticais	específicas;
•	 identificar	o	processo	de	comunicação	como	um	interativo	entre	sujeitos	
– emissor e receptor – situados histórica e culturalmente de forma a 
diferenciar	a	comunicação	humana	como	específica	estabelecida	através	
de um conjunto de sinais e respectivas regras de diferentes níveis que 
servem	de	instrumentos	de	comunicação;
• diferenciar a linguagem oral da escrita como modalidades distintas, cada 
qual	com	características	específicas;
•	 particularizar	a	linguagem	jurídica	como	uma	metalinguagem	e	manifestação	
específica	da	língua	portuguesa	que	se	justifica	por	ser	o	direito	um	espaço	
comunicativo	no	qual	o	domínio	da	linguagem	é	essencial;
• caracterizar a linguagem jurídica em sua particularidade técnica 
e	 científica	 própria	 com	 estilo	 e	 lógica	 que	 permite	 não	 ser	 apenas	
informativa,	mas	 expressa	 termos	 de	 distintas	 significações	 e	 sentidos	
que	se	inter-relacionam	com	vistas	à	persuasão;
•	 compreender	 o	 vocábulo	 jurídico	 como	 um	 conjunto	 de	 termos	 que	
devem ser utilizados de maneira adequada, usando-se corretamente as 
figuras	de	linguagem	quando	forem	necessárias,	evitando	ambiguidades	
e/ou	vaguezas	de	forma	a	garantir	a	prestação	de	um	serviço	eficaz.
Esta	unidade	está	dividida	em	três	tópicos.	No	decorrer	da	unidade,	
você	 encontrará	 autoatividades	 com	 o	 objetivo	 de	 reforçar	 o	 conteúdo	
apresentado.
TÓPICO	1	–	CONCEITOS	INICIAIS
TÓPICO	2	–	LINGUAGEM	JURÍDICA
TÓPICO	3	–	VOCABULÁRIO	JURÍDICO
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1 — 
UNIDADE 1
CONCEITOS INICIAIS
1 INTRODUÇÃO
A	 linguagem	 é	 o	 instrumento	 que	 garante	 ao	 ser	 humano	 estabelecer	
diálogo com seu semelhante ao mesmo tempo que confere sentido à realidade e a 
seu	agir.	Através	da	linguagem	nomeamos	coisas	e	fatos,	além	de	organizarmos	
nosso	pensamento	sobre	nosso	mundo	existencial.
Desde	a	infância,	o	ser	humano	se	comunica	através	das	distintas	formas	
de linguagem – choro, sons, olhares e gestos – que é compreendida por nossos 
familiares.	Aos	poucos,	adquirindo	a	cultura	do	meio	em	que	vivemos,	vamos	
adquirindo	a	linguagem	através	dos	signos,	e	assim,	é	estabelecida	a	relação	entre	
um	significante	e	um	significado.	
Em	síntese,	a	linguagem	é	o	instrumento	de	comunicação	através	do	qual	
é	possível	a	atividade	ou	a	ação	entre	os	membros	de	um	grupo	social,	 sendo	
construída	 por	 um	 conjunto	 de	 sinais	 e	 respectivas	 regras	 que	 estabelecem	
combinação	entre	eles,	podendo	ser	classificada	em	verbal,	não	verbal	e	mista.	
Variando os níveis de linguagem, desde a coloquial e informal até a mais 
sofisticada	e	culta,	podemos	utilizar	as	modalidades	oral	e	escrita	como	“recursos”	
expressivos	de	acordo	com	a	oportunidade	e	necessidade	persuasiva.	
Pronto para iniciar os estudos? Vamos adiante!
2 LÍNGUA E LINGUAGEM: CONCEITOS INICIAIS
Embora	no	cotidiano	os	termos	linguagem,	língua	e	fala	sejam	utilizados	
sem	rígida	distinção	são	expressões	que	não	podem	ser	confundidas.	Apesar	
de serem conceitos relacionados entre si revelam aspectos diferentes da 
comunicação	humana	estudados	pela	linguística.	A	linguística	é	definida	como	
campo	do	conhecimento	que	estuda	a	linguagem	verbal	humana	que,	com	base	
em	 teorias	 e	 estudos	 específicos,	 possibilita	 compreender	 as	 transformações	
das	línguas	e	seus	desdobramentos	em	distintos	idiomas.	Ainda,	também	tem	a	
preocupação	de	analisar	a	estrutura	das	palavras,	expressões	e	a	particularidade	
fonética	de	cada	idioma.	
UNIDADE 1 — LINGUAGEM E LINGUAGEM JURÍDICA
4
A	 linguística	 se	 ocupa	 de	 discussões	 e	 definições	 que,	 em	 geral,	 não	
são	 preocupações	 dos	 “seres	 humanos	 falantes”.	 Seguramente,	 poucos	 se	
preocupariam	 em	 conhecer	 a	 origem	 e	 evolução	 da	 língua	 que	 utilizam,	 bem	
como	a	classe	gramatical	das	palavras	e	sua	função	no	contexto	da	oração	ou	frase.	
Isso	porque	a	língua	e	a	linguagem	são	atividades	próprias	da	natureza	humana	
e	qualquer	indivíduo	tem	a	habilidade	de	compreender	sua	língua	quando	em	
diálogo	com	outro	ser	falante	“naturalizando”	o	processo	comunicativo.		
Na	 linguística	 são	 encontradas	 inúmeras	 distinções	 entre	 língua	 e	
linguagem,	já	que	essa	discussão	é	uma	constante	nessa	área	do	conhecimento	e	
não	é	uma	tarefa	fácil.	
Desde	 o	 início	 é	 importante	 salientar	 que	 o	 termo	 “linguagem”,	 como	
melhor	 veremos	 mais	 adiante,	 é	 relacionado	 a	 fenômenos	 bastante	 diversos.	
Além	de	referir-se	a	uma	capacidade	humana,	é	utilizado	para	compor	expressões	
como	“linguagem	corporal”,	“linguagem	literária”,	“linguagem	jurídica”,	dentre	
outras.	 Porém,	 em	 termos	 gerais	 linguagem	 é	 definida	 como	 instrumento	 de	
comunicação	 e,	 desde	 tal	 concepção,	 a	 língua	 é	 entendida	 como	um	“código”	
através	 do	 qual	 se	 estabelece	 a	 comunicação	 entre	 um	 emissor	 (aquele	 que	
codifica)	e	um	receptor	(aquele	que	decodifica).	É	o	que	se	conhece	como	esquema	
ou processo comunicativo que envolve diferentes elementos, quais sejam:
• Emissor: também	 chamado	 de	 locutor	 ou	 remetente.	 É	 aquele	 que	 emite	 a	
mensagem para um ou mais receptores, o que comunica, que solicita ou que 
expressa	algo.
• Receptor:	 conhecido	por	 interlocutor,	destinatário	ou	ouvinte.	É	 aquele	que	
recebe	a	mensagem	emitida	pelo	emissor.
• Mensagem:	 é	 o	 conteúdo	 ou	 conjunto	 de	 informações	 transmitidas	 pelo	
emissor.	 Pode	 ser	 um	 texto	 verbal	 (uso	 de	 palavra	 oral	 ou	 escrita)	 ou	 não	
(corporal,	gestos	ou	sinais).
• Código:	é	o	conjunto	de	signos	utilizados	na	mensagem	que	são	comuns	tanto	
para	o	emissor	como	para	o	receptor.
• Canal de comunicação:	meio	utilizado	para	a	transmissão	da	mensagem,	tais	
como:	televisão,	revista,	meios	virtuais	etc.
• Contexto:	podendo	ser	chamado	também	de	referente.	É	a	situação	comunicativa	
que	emissor	e	receptor	estão	inseridos.
• Ruídos na comunicação:	ocorre	quando	a	mensagem	não	é	decodificada	de	
forma correta pelo interlocutor, causados por diversos fatores, tais como: 
código	utilizado	pelo	locutor	desconhecido	pelo	interlocutor;	barulho	no	local;	
tom	de	voz	do	locutor	etc.
TÓPICO 1 — CONCEITOS INICIAIS
5
FIGURA 1 – ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO
FONTE: <https://www.metamorfose.adm.br/ELEMENTOS-DA-COMUNICAcaO+54851>. 
Acesso em: 20 abr. 2021.
Nesse	 processo	 de	 comunicação	 há	 um	 componente	 relevante	 a	 ser	
acrescentado:	a	cultura.	Não	basta	apenas	que	o	emissor	e	receptor	partilharem	o	
mesmo	código	para	haver	uma	comunicação	eficiente.	É	também	necessário	que	
pertençam	a	meios	ou	tradições	culturais	semelhantes	ou	comuns,	uma	vez	que	
os	códigos	linguísticos	não	são	homogêneos	para	indivíduos	que	falam	a	mesma	
língua,	nem	tampouco	a	mesma	competência	linguística.	
A	linguagem	é	também	uma	interação	entre	sujeitos	históricos	e	culturais	
que	 utilizam	 a	 linguagem	para	 agirem	 e	 transformarem	 seu	meio	 social.	 Essa	
concepção	é	aceita	pelo	moderno	conceito	de	linguagem	e	é	importante	na	análise	
do	 discurso	 e	 na	 argumentação.	 Nesse	 sentido,	 nos	 explica	 Mikhail	 Bakhtin	 
(2006,	p.	72):	
[...]	para	observar	o	fenômeno	da	linguagem,	é	preciso	situar	os	sujeitos	
–	 emissor	 e	 receptor	 ao	 som	 –,	 bem	 como	 o	 próprio	 som,	 no	meio	
social.	Com	efeito,	é	indispensável	que	o	locutor	e	o	ouvinte	pertençam	
à	 mesma	 comunidade	 linguística,	 a	 uma	 sociedade	 organizada.	 E	
mais, é indispensável que estes dois indivíduos estejam integradosna 
unicidade	da	situação	social	imediata,	quer	dizer,	que	tenham	relação	
de	pessoa	para	pessoa	sobre	terreno	bem	definido.
Apesar	 da	 dificuldade	 em	 reduzir	 os	 termos	 linguagem	 a	 um	 único	
conceito,	é	possível	afirmar	que	é	um	sistema	de	sinais	complexo	utilizado	pelo	
ser	humano	para	exprimir	e	transmitir	ideias	e	pensamentos.	
UNIDADE 1 — LINGUAGEM E LINGUAGEM JURÍDICA
6
Atualmente,	 considera-se	 a	 linguagem	 como	 ação,	 como	 atividade	 que	
permite a um determinado grupo social a prática de diversos atos que exige do 
semelhante	reações,	comportamentos	e	vínculos.	
Há	que	se	 frisar	que	a	comunicação	não	é	exclusiva	de	seres	humanos,	
existindo	 também	 entre	 os	 animais	 não	 humanos.	 Mas	 embora	 tendo	 a	
capacidade	comunicativa	através	de	linguagem	própria,	os	animais	não	humanos	
não	 desenvolvem	 a	 língua.	 Apesar	 de	 ser	 complexa	 em	 algumas	 espécies,	 a	
comunicação	natural	 dos	 animais	 não	humanos	 é	muito	diferente	 por	 utilizar	
uma	linguagem	natural	como	cheiro,	toque,	movimento,	sinais	visuais	e	faciais.	
A	 linguagem	 são	 sinais	 adquiridos	 genericamente	 ou	 ensinado	 pela	 vida	 em	
grupo	servindo	para	procriação,	afastar	inimigos,	como	forma	de	submissão	etc.	
Embora	demonstrando	possuir	raciocínio	analítico	e	capacidade	de	emitir	sons	
e	 pronunciar	 palavras,	 não	 elaboram	 cultura	 e,	 ao	 que	 parece,	 a	 linguagem	 é	
limitada	e	sem	capacidade	de	combinar	e	aprimorar	informações.					
A	 linguagem	sempre	estará	presente	no	processo	comunicativo,	 tornando	
possível	a	relação	entre	os	comunicadores.	Tradicionalmente	é	definida	como	um	
sistema de sinais utilizados pelos seres humanos desde os tempos mais remotos para 
exprimir	e	transmitir	ideias	e	pensamentos.	Muitas	foram	as	formas	de	linguagem	
utilizadas pelo ser humano ao longo da história, desde sistemas de sinais, como 
gestos	e	gritos	até	a	fala	e	meios	técnicos	sofisticados	como	nos	dias	de	hoje.
FIGURA 2 – A EVOLUÇÃO DA LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO
FONTE: <https://miro.medium.com/max/558/0*dFCXziBhDFkiLIy_.jpg>. Acesso em: 20 abr. 2021.
TÓPICO 1 — CONCEITOS INICIAIS
7
A Evolução da Comunicação
 O homem começou a sentir a necessidade de se comunicar desde que começou 
a viver em sociedade, fosse para alertar sobre alguma coisa ou expressar sua cultura ou 
sentimento. Ao longo dos tempos, a comunicação evoluiu paralelamente com o homem até 
hoje. A evolução da comunicação pode-se dividir em duas partes: Pré-História e História. 
Pré-História é toda a forma de civilização anterior à invenção da escrita. O surgimento da 
escrita marca o início da História.
 Paleolítico e Mesolítico de 500.000 a.C. a 18.000 a.C. 
 Foi quando o homem começa a dominar a natureza, fabricar utensílios, usar trajes 
para se proteger do frio, usar o fogo e, dentre outras coisas, desenvolver a linguagem para 
se comunicar. Nesse processo, inicia-se o que hoje conhecemos como pinturas rupestres, 
ou seja, desenhos feitos em cavernas ou pedras para conseguir se expressar.
FIGURA – PINTURA RUPESTRE
FONTE: <http://twixar.me/RZ8m>. Acesso em: 20 abr. 2021.
 Neolítico de 18.000 a.C a 5.000 a.C. 
 O homem passou a viver em grupos maiores, as habitações passaram de cavernas 
a casas construídas por ele próprio, os trajes eram feitos por tear, e a comunicação passou 
a ser expressa através da técnica de gravar o cotidiano em ossos, pedras e madeiras, assim 
como apareceu a modelagem em argila. 
 Idade dos metais de 5.000 a.C a 4.000 a.C. 
 É assim denominada porque o homem começou a utilizar cobre, ferro e bronze 
no seu dia a dia; as civilizações viram centros urbanos e o homem descobre a importância 
de se desenvolver perto de rios. Os seus meios de locomoção também se desenvolvem, 
porém, o meio de comunicação continua o mesmo. A transição da Pré-história para a 
História se dá no final da Idade dos Metais, que foi por volta de 4.000 a.C. Os historiadores 
aceitam como certo o aparecimento da escrita na Mesopotâmia e no Egito. Agora, 
chegamos à História que é assim denominada, pois nessa Era temos arquivos que registram 
e datam os acontecimentos. Através dessa época é que temos uma real noção de como 
o homem vivia e se comunicava, o que pensava e o que sentia em relação ao mundo 
ao seu redor. Se o surgimento da escrita marca o início da história, a invenção da técnica 
de imprimir ilustrações, símbolos e a própria escrita promove a possibilidade de tornar a 
informação acessível a um número cada vez mais crescente de pessoas, alterando assim, o 
modo de viver e de pensar de uma sociedade.
NOTA
UNIDADE 1 — LINGUAGEM E LINGUAGEM JURÍDICA
8
É	 a	 linguagem	 atividade	 ou	 ação	 que	 possibilita	 a	 interação	 entre	 os	
membros	de	um	grupo	social	para	a	prática	de	diversos	e	distintos	atos	que	exigem	
reações	 e/ou	 comportamentos	 que	 estabeleçam	 vínculos	 entre	 os	 indivíduos.	
É	 constituída	 por	 um	 conjunto	 de	 sinais	 e	 respectivas	 regras	 que	 estabelecem	
combinação	entre	eles	e	utilizada	como	instrumento	de	comunicação.	
Podemos	 afirmar,	 em	 síntese,	 que	 linguagem	 é	 todo	 sistema	 de	 sinais	
convencionais	 através	 dos	 quais	 os	 sujeitos	 interagem	 uns	 com	 outros.	 São	
inúmeras	 as	 formas	 de	 linguagem.	 Exemplo:	 linguagem	 corporal,	 linguagem	
falada,	linguagem	da	informática	etc.	É	importante	destacar	que	de	acordo	com	o	
sistema	de	sinais	que	se	utiliza,	a	linguagem	é	classificada	em:	
• Linguagem verbal:	 é	 aquela	 que	utiliza	 as	 palavras	para	 a	 comunicação.	O	
termo	 “verbal”	 é	 de	 origem	 latina	 “verbale”,	 vem	 de	 “verbu”	 que	 significa	
“palavra”.	Essa	é	a	maneira	mais	convencional	de	linguagem	utilizada	por	ser	
momentânea	 e	 pode	 transmitir	 ideias	 e	 pensamentos	 de	 qualquer	 nível	 de	
complexidade.	Podemos	classificar	a	linguagem	verbal	em	dois	tipos:
◦ Escrita:	 essa	maneira	 de	 se	 comunicar	 verbalmente	 é	 utilizada,	 em	 geral,	
quando	o	receptor	não	está	presente	na	conversa	e,	na	maioria	das	vezes,	a	
interação	não	é	momentânea.	
◦ Oral:	diferente	da	escrita,	em	sua	maioria,	apresenta	a	interação	imediata.	Ela	
pode ocorrer independente do fato de o interlocutor estar no mesmo local, 
como	é	o	caso	de	uma	conversa	por	telefone.	Para	uma	boa	comunicação	oral	
é	preciso	estar	atento	à	naturalidade	e	à	objetividade	da	mensagem.
• Linguagem não verbal: é aquela que utiliza qualquer outro tipo de sinal como 
gestos,	sons,	imagens	etc.	Por	exemplo:	quando	alguém,	por	alguma	razão,	não	
tem	ou	perde	a	capacidade	de	fala,	utiliza	linguagem	não	verbal.	
• Linguagem mista: é	quando	ocorre	uma	mescla	entre	a	linguagem	verbal	e	a	não	
verbal,	utilizando	simultaneamente	palavras	e	sinais	(ou	outros	códigos)	para	
comunicar	uma	mensagem	ao	interlocutor.	Por	exemplo:	quando	chamamos	
alguém	 pelo	 nome	 ou	 concordamos	 com	 um	 “sim”	 ao	 mesmo	 tempo	 que	
movimentamos	a	cabeça	com	sinal	positivo.	
FIGURA 3 – LINGUAGEM VERBAL, NÃO VERBAL E MISTA
FONTE: <https://sites.google.com/site/linguagemverbalenaoverbal/introduo>. Acesso em: 20 abr. 2021.
TÓPICO 1 — CONCEITOS INICIAIS
9
É	comum	utilizarmos	a	 combinação	da	 linguagem	verbal	 e	não	verbal,	
do	tipo	mista.	Nos	dias	de	hoje,	utilizamos	mensagens	via	internet	com	palavras	
(mensagem	verbal)	e	com	emojis	(linguagem	não	verbal).	Você	já	notou	isso?	
A	língua	é	a	linguagem	que	utiliza	a	palavra	como	sinal	de	comunicação,	
sendo	assim,	um	aspecto	de	linguagem.	Para	Terra	(2018,	p.	13),	em	geral,	define-
se	a	“língua	como	um	sistema	de	natureza	gramatical,	que	pertence	a	um	grupo	
de	indivíduos,	formado	por	um	conjunto	de	sinais	(o	léxico)	e	por	um	conjunto	
de	 regras	para	 a	 combinação	 (gramática	 em	 sentido	 amplo)”.	A	 língua	 é	uma	
construção	social	de	caráter	abstrato	que	se	concretiza	através	da	fala,	que	é	um	
ato	individual	de	vontade	e	inteligência.	
Para	 Ferdinand	de	 Saussure	 (1972,	 p.	 27)	 há	 uma	 clara	 distinção	 entre	
língua e fala:
[...]	esses	dois	tipos	objetos	(língua	e	fala)	estão	estreitamente	ligados	
e se implicam mutuamente: a língua é necessáriapara que a fala seja 
inteligível	e	produza	todos	os	seus	efeitos;	mas	esta	é	necessária	para	
que	a	língua	se	estabeleça;	historicamente	o	fato	da	fala	vem	sempre	
antes	[...]	Existe,	pois,	interdependência	da	língua	e	da	fala;	aquela	é	
ao	mesmo	tempo	o	instrumento	e	produto	desta.	Tudo	isso,	porém	não	
impede	que	sejam	duas	coisas	absolutamente	distintas.
A	língua,	portanto,	é	uma	construção	sociocultural	que	existe	independente	
do	comunicador.	Ao	nascermos,	a	língua	já	está	formada	e	partilhada	pelo	grupo	
humano	 e	 subsistirá	 independente	 de	 nossa	 existência.	 Em	 geral,	 em	 todas	
sociedades,	a	escrita	é	posterior	à	língua	e	não	é	raro	que	se	faça	uso	da	língua	
sem	que	se	saiba	utilizar	sua	escrita.	
VOCÊ JÁ OUVIU FALAR EM CULTURAS ÁGRAFAS?
 O que é uma sociedade ágrafa? Sociedade ágrafa é aquela que não desenvolveu 
por si mesma um sistema próprio de escritura. Exemplo: os Incas foram uma civilização 
avançada, mas nunca tiveram uma escritura; eram ágrafos. Como se registra a história de 
uma sociedade ágrafa, já que a escrita é uma das mais conhecidas fontes histórias?
 Com a colaboração de outras ciências, como antropologia, arqueologia e 
paleontologia, novos materiais passaram a servir de indícios do passado de um povo: 
imagens, relatos orais, vestígios, artefatos, ossos, armas, fotografias, músicas, construções e 
outros objetos. Essas podem ser tão importantes quanto a escrita no processo de resgate 
do passado de uma civilização ou comunidade.
INTERESSA
NTE
UNIDADE 1 — LINGUAGEM E LINGUAGEM JURÍDICA
10
 Sendo assim, sabendo que as sociedades ágrafas ou que fazem parte da história 
antiga não possuíam recursos como fotografias, músicas e outras fontes mais modernas, 
para estudarmos essas sociedades, utilizamos as fontes materiais, que são os vestígios 
materiais. Sinais que o homem deixa pelos lugares por onde passa, que podem ser vistos 
em vários sítios arqueológicos abertos à visitação pública ou em museus especializados. 
Exemplos: cerâmicas com elementos femininos, pedras talhadas e polidas, fósseis, ruínas, 
entre outros. 
FONTE: <https://brainly.com.br/tarefa/21508142>. Acesso em: 20 abr. 2021.
A	língua	é	o	elemento	que	possibilita	a	interação	entre	os	indivíduos	em	
um	determinado	grupo	social	que	torna	os	signos	realidade	através	da	associação	
entre	significantes	sonoros	e	significados.	É	um	fenômeno	de	grande	diversidade	
e	 complexidade	cujas	 forças	que	 lhe	dão	dinâmica	 são	 inúmeras,	 tais	 como	os	
meios	de	comunicação	em	massa.	
3 FUNÇÕES DA LINGUAGEM
Segundo	 a	 utilização	 da	 linguagem	 pelo	 comunicador	 ou	 falante,	 a	
linguagem	possui	diferentes	funções	que	dependem	dos	elementos	utilizados	na	
comunicação,	ou	seja,	do	emissor,	receptor,	mensagem,	código,	canal	e	contexto.	
As	combinações	desses	elementos	determinam	o	objetivo	do	ato	comunicativo.	
De	 acordo	 com	Petri	 (2017),	 as	 funções	 da	 linguagem	podem	 ser	 classificadas	
em:	 função	 referencial,	 função	 emotiva,	 função	 conotativa,	 função	 poética	 e	
função	metalinguística,	cada	qual	possuindo	características	bastante	particulares.	 
Veja a seguir: 
• Função Referencial ou Denotativa: é	também	chamada	de	função	informativa,	
a	 função	 referencial	 e	 tem	 como	 objetivo	 principal	 informar	 ou	 referenciar	
algo.	Por	sua	função,	esse	tipo	de	texto	é	escrito	na	terceira	pessoa	(singular	
ou	plural)	enfatizando	seu	caráter	impessoal.	Como	exemplo:	a	linguagem	de	
textos	 jornalísticos	e	científicos.	São	 textos	que	por	meio	de	uma	 linguagem	
denotativa	(sentido	literal	ou	real)	informam	a	respeito	de	algo,	sem	explicitar	
aspectos	 subjetivos	 ou	 emotivos	 à	 linguagem.	 São	 textos	 claros	 e	 objetivos	
(PETRI,	2017).
 Exemplo: Na	linguagem	jurídica,	tem-se	função	referencial,	por	exemplo,	em	
uma	qualificação	de	parte.	Observe	a	objetividade	do	texto.	
TÓPICO 1 — CONCEITOS INICIAIS
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QUADRO 1 – FUNÇÃO REFERENCIAL
FONTE: A autora
João Paulo de Souza Filho, brasileiro,	 casado,	 comerciante,	 portador	 do	
documento	 de	 identidade	 RG	 n°	 123.456.78-910,	 inscrito	 no	 CPF	 sob	 n°	
109.876.543-21,	com	endereço	eletrônico	jpsilva@marte.com.br,	domiciliado	e	
residente	na	Rua:	Das	Flores	n°	67,	Bairro	Oliveira,	São	Caetano	do	Sul,	SP.	
CEP:	89.056-240,	nesta	Comarca	onde	recebe	intimações,	vem	respeitosamente	
ante Vossa Excelência propor:
• Função Emotiva ou Expressiva:	 essa	 função	 traz	 as	 emoções	 do	 emissor	 e	
é	 também	 chamada	 de	 função	 expressiva	 e	 tem como objetivo principal 
transmitir suas emoções,	 sentimentos	 e	 subjetividades	por	meio	da	própria	
opinião.	É	o	tipo	de	função	que	explicita,	que	evidencia,	as	opiniões	e	emoções	
de quem escreve a mensagem, por isso é escrito em primeira pessoa e está 
voltado	para	o	 emissor,	porque	possui	um	caráter	pessoal.	Como	exemplos	
temos:	os	textos	poéticos,	as	cartas,	os	diários.	Em	geral	são	textos	marcados	
pelo	uso	de	sinais	de	pontuação,	por	exemplo,	reticências,	ponto	de	exclamação	
etc.,	a	fim	de	dar	ênfase	à	mensagem	transmitida	(PETRI,	2017).
 Exemplo: Na	 linguagem	 jurídica,	 exemplos	de	 função	 emotiva	 aparecem	num	
boletim	de	ocorrência	ou	numa	sentença.	Veja	um	trecho	da	sentença	do	famoso	
“Caso	Nardoni”,	destacando	trecho	do	texto	de	função	emotiva:	
QUADRO 2 – FUNÇÃO EMOTIVA
FONTE: <https://www.conjur.com.br/dl/sentenca-nardoni.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2021.
“Há	 crimes,	 na	 verdade,	 de	 elevada	 gravidade,	 que,	 por	 si	 só,	 justificam	
a	 prisão,	 mesmo	 sem	 que	 se	 vislumbre	 risco	 ou	 perspectiva	 de	 reiteração	
criminosa.	E,	por	aqui,	todos	haverão	de	concordar	que	o	delito	de	que	se	trata,	
por	sua	gravidade	e	característica	chocante,	teve	incomum	repercussão,	causou	
intensa	indignação	e	gerou	na	população	incontrolável	e	ansiosa	expectativa	
de	uma	justa	contraprestação	jurisdicional.	A	prevenção	ao	crime	exige	que	a	
comunidade	respeite	a	lei	e	a	Justiça,	delitos	havendo,	tal	como	o	imputado	
aos pacientes, cuja gravidade concreta gera abalo tão profundo naquele 
sentimento, que para o restabelecimento da confiança no império da lei e da 
Justiça exige uma imediata reação. A falta dela mina essa confiança e serve 
de estímulo à prática de novas infrações, não sendo razoável, por isso, que 
acusados por crimes brutais permaneçam livre, sujeitos a uma consequência 
remota e incerta, como se nada tivessem feito”	(grifo	nosso).
UNIDADE 1 — LINGUAGEM E LINGUAGEM JURÍDICA
12
• Função Conativa ou Apelativa: o	objetivo	é	influenciar	o	receptor	a	partir	do	
apelo,	por	essa	razão	é	chamada	também	apelativa.	É	caracterizada	por	uma	
linguagem persuasiva que tem o intuito de convencer o leitor.	 Por	 isso,	 o	
grande	 foco	 é	no	 receptor	da	mensagem.	Essa	 função	é	muito	utilizada	nas	
propagandas,	 publicidades	 e	 discursos	 políticos,	 de	 modo	 a	 influenciar	 o	
receptor	por	meio	da	mensagem	 transmitida.	Esse	 tipo	de	 texto	 costuma	 se	
apresentar	 na	 segunda	 ou	 na	 terceira	 pessoa	 com	 a	 presença	 de	 verbos	 no	
imperativo	e	o	uso	do	vocativo	(PETRI,	2017).
 Exemplo: Na	linguagem	jurídica,	encontra-se	a	função	apelativa	nas	alegações	
finais.	Destaca-se,	a	seguir,	trecho	com	função	apelativa.	
QUADRO 3 – FUNÇÃO APELATIVA
FONTE: <https://sites.google.com/site/wwwcostalinsadvogadoscombr/a-151>. 
Acesso em: 20 abr. 2021.
Efetivamente, o réu empreendeu desforço defensivo, tendo se contraposto, 
no tempo oportuno, a intentona patrocinada pela vítima, a qual anelava, 
com todas as veras de sua alma, por termo a vida do primeiro, malgrado 
tenha fracasso em seu ignóbil intento, ante a oposição expedita do réu, o 
qual para salvaguardar seu bem maior (vida) neutralizou a truculenta 
investida ao abrigo da lei.	Já	proclamava	o	axioma:	“matar para não morrer, 
não é crime”;	logo,	na	controvérsia	entretida,	o réu encontra-se “a cavaleiro 
de qualquer censura” na	 feliz	 assertiva	debitada	 a	PEDRO	A.	PINTO.	Ou,	
como	diria	com	maior	engenho	e	arte	o	jurista	CARLOS	BIASOTTI,	em	repto	
à peça prodrômica: “antes que réu, é vítima o acusado do equívoco,se não 
do arbítrio”.
• Função Poética: essa	 função	 tem	 como	 objetivo	 enfatizar	 a	 mensagem,	
ressaltando a maneira como ela é estruturada para dar destaque ao seu 
significado.	Ao	escolher	a	função	poética,	a	preocupação	é	muito	mais	com	as	
rimas, que pode ser tanto em prosa como em verso, com a estrutura e com a 
imagem	do	que	com	as	palavras	em	si.	O	texto	não	é	objetivo	e	transmite	pouca	
informação	(PETRI,	2017).
 Exemplo: Embora	 sendo	 raro	 no	 campo	 jurídico	 pode-se	 encontrar	 peças	
processuais	 em	 forma	 de	 versos,	 como	 a	 sentença	 prolatada	 nos	Autos	 do	
Processo	n°	0301112-67.2017.805.0244	(Restituição	de	Coisa	Apreendida)	pela	
Vara	Criminal	da	Comarca	de	Senhor	do	Bonfim	(Tribunal	de	Justiça	do	Estado	
da	Bahia).	
TÓPICO 1 — CONCEITOS INICIAIS
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QUADRO 4 – LINGUAGEM POÉTICA
FONTE: <https://migalhas.uol.com.br/arquivos/2018/3/art20180326-09.pdf>. 
Acesso em: 20 abr. 2021.
Não	sei	quem	é	o	proprietário/	Mas,	o	possuidor	do	melhor	documento	(fls.	
62)/	 É	 presumido	 o	 signatário/	 Dono	 daquele	 instrumento/	 Ficando	 com	 o	
direito/	De	recebê-la	no	peito	como	fiel	depositário/	Não	decido	por	decidir/	
Mas,	por	a	lei	me	permitir	(art.	120,	§	4°,	CPP)/	Colocar	em	suas	mãos/	Que	
outrora	foi	tirada,	do	povo	e	dos	cidadãos/	Sem	piedade	e	compaixão/	Aquela	
sanfona	velha	que	imortalizou	Gonzagão/	Nilvado	o	direito	é	seu,	como	fiel	
depositário/	Visto	o	seu	opositor	não	ter	provado	o	contrário/	Até	que	se	finde	a	
contenda/	Delegado	me	atenda/	Como	da	outra	vez	foi	buscar/	A	bela	sanfona	
do	povo,	vá	agora	entregar/	E	para	finalizar/	Hei	por	bem	declarar/	Que	fui	
competente	para	buscar/	Sou	também	para	entregar/	Cumpra-se,	sem	titubear!
• Função Metalinguística:	 a	 função	 metalinguística	 é	 caracterizada	 pelo	 uso	
da metalinguagem, ou seja, a linguagem que se refere a ela mesma, como a 
que	se	usa	nos	dicionários,	cujos	verbetes	explicam	a	própria	palavra.	Ou	ainda	
no	filme	que	tem	por	próprio	tema	o	cinema.	No	poema	que	tem	por	tema	o	
fazer literário ou em uma peça de teatro que tem por tema o teatro e demais 
gêneros	em	que	a	linguagem	está	preocupada	com	o	próprio	código.	Nesses	
casos,	o	emissor	explica	um	código	utilizando	o	próprio	código	(PETRI,	2017).
 Exemplo: No	caso	jurídico,	a	metalinguagem	é	utilizada	para	definir	conceitos	
jurídicos,	por	exemplo,	o	Conceito	de	Crime	previsto	no	artigo	1°	do	Decreto-
Lei	n°	3.914/1941	(BRASIL,	1941):	
QUADRO 5 – FUNÇÃO METALINGUÍSTICA
FONTE: <http://www.planalto.gov.br/>. Acesso em: 20 abr. 2021.
Considera-se crime a infração penal a que a Lei comina pena de reclusão ou de 
detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de 
multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão 
simples ou de multa, ou de ambas, alternativa ou cumulativamente. 
UNIDADE 1 — LINGUAGEM E LINGUAGEM JURÍDICA
14
FIGURA 4 – AS FUNÇÕES DA LINGUAGEM E SUA RELAÇÃO COM OS ELEMENTOS DA 
COMUNICAÇÃO
FONTE: <http://twixar.me/Drtm>. Acesso em: 20 abr. 2021.
4 NÍVEIS DE LINGUAGEM
Você	já	deve	ter	percebido	que	são	inúmeras	as	variações	linguísticas	de	
um	 idioma	 como	 resultado	 de	 contínuas	 e	 dinâmicas	 relações	 comunicativas	
de	um	determinado	grupo	social.	O	Brasil,	por	exemplo,	é	um	país	com	imensa	
variedade	 de	 línguas.	 Somos	 o	 oitavo	 país	 com	maior	 número	 de	 línguas	 em	
uso,	sendo	a	maioria	das	comunidades	indígenas.	São	190	línguas	indígenas	que	
atualmente	estão	em	perigo	de	extinção.	O	Brasil,	além	dos	diferentes	sotaques	
regionais,	é	um	país	multilíngue.	
FIGURA 5 – REGISTRO ESCRITO DE LÍNGUA INDÍGENA EM PERIGO DE EXTINÇÃO
FONTE: <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-43010108>. Acesso em: 20 abr. 2021.
TÓPICO 1 — CONCEITOS INICIAIS
15
Portanto,	 somos	parte	de	um	país	 com	uma	população	de	mais	de	210	
milhões	de	indivíduos	distribuídos	em	um	território	de	proporções	continentais,	
com	 forte	 influência	 de	 povos	 indígenas	 e	 distintas	 ramificações	 estrangeiras	
de	 origem	 africana,	 europeia	 e	 norte-americana,	 cada	 qual	 contribuindo	
historicamente	para	uso	e	desuso	de	termos	e	a	criação	de	expressões	linguísticas.	
Ao	 longo	 do	 tempo,	 nossa	 língua	 sofreu	 mudanças	 constantes.	 Por	
exemplo,	a	palavra	“Você”;	antigamente	era	“Vossa	Mercê”,	que	se	transformou	
sucessivamente	em	“Vossemecê”,	“Vosmecê”,	“Vancê”	e,	com	o	passar	do	tempo,	
foi	sendo	modificada,	por	populações,	culturas,	povos	diferenciados.	
Assim,	vamos	nos	dando	 conta	de	que	 é	 comum	nos	depararmos	 com	
linguajares	 diversificados	 de	 uma	 região	 à	 outra,	 o	 que	 vai	 contribuindo	 de	
maneira	significativa	para	a	complexidade	de	nosso	idioma.
Mas	 como	 unificar	 essa	 grande	 variedade	 linguística?	 Isso	 é	 possível?	
A	 escola	 é	 o	 centro	 de	 referência	 para	 o	 ensino	 da	 língua	 vernácula,	 a	 língua	
“pura”	 sem	 “estrangeirismos”,	 a	 chamada	 linguagem	 culta,	 sem	 elementos	
descaracterizadores,	 constituída	 por	 normas	 gramaticais.	 Entretanto,	 há	 uma	
permanente dicotomia entre a norma culta e o universo linguístico dos indivíduos, 
em	que	o	falar/escrever	“certo”	sobrepõe-se	às	variantes	linguísticas.	Há	um	“falar	
brasileiro”	 que	 é	um	modo	de	 se	utilizar	 a	 língua	portuguesa,	 que	 é	 a	 língua	
nacional,	com	enormes	variedades	linguísticas.	
Haveria	 uma	 forma	 “certa”	 para	 uso	 da	 língua?	 Para	 Marcos	 Bagno	
(2007),	a	língua	é	um	enorme	iceberg	que	flutua	no	mar	do	tempo	e	a	gramática	
normativa é a tentativa de descrever apenas uma parcela mais visível, que é a 
chamada	“língua	culta”.	Mas,	esta	é	parcial	e	não	pode	ser	aplicada	a	todo	resto	
da	 língua,	 sob	 o	 risco	 de	 ser	 reproduzido	 um	 tipo	 de	 preconceito	 comum	na	
sociedade	brasileira:	o	preconceito	linguístico.	
Chamando	a	atenção	para	o	preconceito	linguístico,	afirma	Bagno	(2007,	p.16):	
Como	a	educação	ainda	é	privilégio	de	muito	pouca	gente	em	nosso	
país,	uma	quantidade	gigantesca	de	brasileiros	permanece	à	margem	
do	 domínio	 de	 uma	 norma	 culta.	 Assim,	 da	 mesma	 forma	 como	
existem	milhões	de	 brasileiros	 sem	 terra,	 sem	escola,	 sem	 teto,	 sem	
trabalho,	 sem	 saúde,	 também	 existem	 milhões	 de	 brasileiros	 sem	
língua.	Afinal,	 se	 formos	acreditar	no	mito	da	 língua	única,	existem	
milhões	de	pessoas	neste	país	que	não	têm	acesso	a	essa	língua,	que	é	
a norma literária, culta, empregada pelos escritores e jornalistas, pelas 
instituições	 oficiais,	 pelos	 órgãos	 do	 poder	 –	 são	 os	 sem-língua.	 É	
claro	que	eles	também	falam	português,	uma	variedade	de	português	
não-padrão,	 com	 sua	 gramática	 particular,	 que,	 no	 entanto,	 não	 é	
reconhecida como válida, que é desprestigiada, ridicularizada, alvo 
de	chacota	e	de	escárnio	por	parte	dos	falantes	do	português-padrão	
ou	mesmo	daqueles	que,	não	falando	o	português-padrão,	o	tomam	
como	referência	ideal	—	por	isso	podemos	chamá-los	de	sem-língua.
UNIDADE 1 — LINGUAGEM E LINGUAGEM JURÍDICA
16
Superar	o	preconceito	linguístico	é	um	enorme	desafio	porque	são	muitos	
os	 aspectos	 comunicativos	 de	 nosso	 idioma.	 Desde	 o	 espaço	 físico,	 no	 qual	
interagimos,	que	é	um	campo	de	atividade	social	de	grande	importância	quando	se	
refere	à	atuação	linguística	que,	por	natureza,	se	concretiza	no	terreno	geográfico	
onde	suas	qualidades	geológicas	e	produtivas	influenciam	significativamente	em	
nossa	maneira	de	 se	 comunicar,	de	 se	 comportar,	de	 agir,	de	viver	 (SANTOS,	
2018).	 Em	 região	 de	 floresta	 densa,	 por	 exemplo,	 a	 linguagem	 local/regional	
será	repleta	de	termos	que	se	referem	às	especificidades	da	natureza	local,	por	
exemplo,	a	palavra	“buriti”	–	do	tupi-guarani:	mbur	=	alimento;	iti	=	árvore	alta;	=	
árvore	alta	de	alimento	ou	de	vida.		
Ainda,	 conforme	 as	 relações	 sociais	 vão	 se	 desenvolvendo	 vão	 sendo	
criadas	novas	palavras	e	expressões	que	condizem	com	a	necessidade	de	nomear	
novos	bens	de	consumo	e	entretenimento.	Um	exemplo	é	o	estrangeirismo	que	
atribui	valores	linguísticos	a	produtos	e	bens	de	serviço	atravésda	língua	do	país	
de origem, como é o caso de internet, pendrive, hot-dog, videogame, shampoo etc. 
Ainda,	Santos	(2018,	p.	6)	nos	esclarece	que:
Toda sociedade é heterogênea, ou seja, ela é portadora de diferentes 
tipos	de	cenários	onde	as	ações	humanas	podem	se	manifestar:	cenários	
culturais,	religiosos,	artísticos,	profissionais,	de	lazer,	comerciais	etc.,	e	
entre esses cenários há um elemento divisor de águas que difere entre 
si	e	estabelece	 limites	de	comportamentos	que	acabam	restringindo,	
de	certa	forma,	o	desenvolvimento	da	outra,	são	as	classes	sociais	dos	
indivíduos.	 O	 modo	 de	 comunicação	 das	 diferentes	 classes	 sociais	
se	 estabelece	perante	 o	modo	de	 vida	dos	 falantes	 e	das	 formas	de	
expressões	 características	 das	 mesmas.	 Tem-se,	 superficialmente,	
disseminado a ideia de que, dependendo da classe social, pode-se 
estabelecer	um	determinado	linguajar	para	cada	uma	delas;	todavia,	
essa	 ideia	 acaba	 entrando	 em	 contradição	 ao	 inferir-se	 que	mesmo	
inseridos	 em	 uma	 classe	 social	 específica	 um	 ou	 mais	 indivíduos	
podem possuir e exercer maior ou menor domínio linguístico em 
qualquer	classe	social.
Portanto,	 as	diferenças	 sociais	não	podem	servir	de	 condição	para	que	
os	 indivíduos	 sejam	 considerados	 aptos	 a	 exercerem	a	 comunicação	 “certa	 ou	
errada”.		Na	verdade,	são	adequações	e	conformidades	da	língua	estabelecidas	
que	não	podem	excluir	 indivíduos,	mas	contribuir	para	coesão	e	coerência	em	
momento	que	necessitam	de	maior	ou	menor	dedicação	de	atenção.
A	escolarização	pode	levar	a	pensar	que	a	linguagem	correta	é	a	linguagem	
escrita, que é, por natureza, lógica, clara, explícita, ao passo que a linguagem 
falada	é	mais	confusa,	incompleta,	sem	lógica	etc.	Essa	percepção	é	equivocada.	
A	fala	tem	elementos	contextuais	e	pragmáticos	que	a	escrita	pode	revelar,	e,	por	
outro	lado,	a	escrita	tem	elementos	que	a	linguagem	oral	não	utiliza.
TÓPICO 1 — CONCEITOS INICIAIS
17
Utiliza-se	 a	 expressão	 “linguagem	culta”	para	designar	uma	variedade	
linguística	representada	pelas	pessoas	de	alta	escolarização	formal	e	com	acesso	à	
cultura	letrada.	Linguagem	de	nível	culto	é	aquela	considerada	ideologicamente	
como	“certa”	e	é	definida	como	aquela	que	o	grupo	social	atribui	valor	distinto	
da	 linguagem	 popular	 que	 é	 aquela	 que	 se	 constrói	 nas	 múltiplas	 relações	
comunicativas	 entre	 os	 indivíduos	de	diferentes	 espaços	 e	 vivências	 sociais.	 É	
aquela que tende a ser coloquial e, muitas vezes, é responsável pelo surgimento 
de	 termos	 comuns	 como	gírias,	 jargões	 e	 figuras	 de	 linguagem,	 dentre	 outras	
manifestações	e	expressões	linguísticas.
FIGURA 6 – LINGUAGEM CULTA E LINGUAGEM COLOQUIAL
FONTE: <https://mundotexto.files.wordpress.com/2014/02/norma-culta-charge-surfista.jpg>. 
Acesso em:20 abr. 2021.
5 LINGUAGEM ORAL E ESCRITA
A	linguagem	comporta	duas	modalidades	distintas	e	bastante	utilizadas:	a	
linguagem	oral	e	a	linguagem	escrita.	São	formas	diferentes	tanto	em	“recursos	
expressivos”	como	gramaticalmente.	Não	há	dúvida	de	que	a	linguagem	falada	
é	o	primeiro	e	mais	importante	meio	de	comunicação.	Não	é	sem	razão	que	o	ser	
humano	é	considerado	um	“animal	que	fala”.
Como	adiante	veremos,	sob	o	ponto	de	vista	argumentativo,	a	comunicação	
oral	 possui	 vantagens	 em	 relação	 à	 escrita,	 apesar	 de	 algumas	 desvantagens	
também.	Usando	a	oralidade	é	possível	mais	agilidade	e	interação	comunicativa,	
além	de	outras	formas	de	linguagem,	como	a	corporal,	o	que	garante	mais	eficácia	
da	comunicação.	
UNIDADE 1 — LINGUAGEM E LINGUAGEM JURÍDICA
18
Ao	estarmos	presencialmente	 com	nosso	 interlocutor	podemos	estar	mais	
atentos	 à	 reação	dos	 que	nos	 ouvem	e	 sendo	possível	 “moldar”	 ou	 reorientar	
a	 linha	 argumentativa	 de	 acordo	 com	 a	 interação	 com	 os	 receptores.	 Gestos	
ou postura corporal podem indicar necessidade de reformular ou reforçar a 
argumentação	a	fim	de	persuadir	o	público-alvo.	
A	linguagem	oral	ou	a	“palavra	falada”	possui	relevância	e	validade	no	
campo	jurídico	produzindo	efeitos,	como	veremos.	Imagine,	por	exemplo,	uma	
situação	em	que	ocorreu	grave	ofensa	verbal	a	alguém	que	pleiteia	danos	morais	
em	 juízo.	Como	produzir	prova	 se	não	há	documento	 escrito	para	produzir	o	
convencimento	 do	magistrado?	 É	 possível	 provar	 o	 alegado	 através	 de	 prova	
testemunhal,	audiovisuais,	depoimento	pessoal	do	ofendido	etc.	
Outro exemplo jurídico em que a oralidade é relevante é o caso do artigo 
107	do	Código	Civil	que	afirma:	A validade da declaração de vontade não dependerá 
de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir (BRASIL,	2002).		Observe	
que, neste caso, a forma dos negócios jurídicos é livre, podendo, sem prejuízo de 
sua	validade,	ser	celebrada	verbalmente.
Evidentemente, a escrita representa maior segurança jurídica porque 
fica	o	 registro	de	um	ato	ou	um	 fato	 com	 relevância	na	vida	 social	 e	 jurídica.	
Mas,	 a	 informalidade	da	palavra	 falada	permite	mais	 agilidade	nas	 revisões	 e	
possibilidade	de	persuasão.	
Em	síntese,	segundo	Petri	(2017,	p.	26),	são	características	da	linguagem	
oral:
1.	 É	mais	abrangente	uma	vez	que	mesmo	pessoas	não	alfabetizadas,	
mas	que	conheçam	o	código,	são	capazes	de	se	comunicar,	usando	
essa	modalidade;
2-	 Faz	uso	de	recursos	da	linguagem	não	verbal	como	gestos,	olhares,	etc.;
3-	 Entonação	e	ritmo	que	se	modificam	de	acordo	com	o	sentido	da	
mensagem;
4-	 Maior	interação	entre	emissor	e	receptor	uma	vez	que	estão	“face	a	
face”;
5-	 Pode	 ser	 mais	 repetitivo	 a	 fim	 de	 reforçar	 o	 significado	 da	
mensagem;
6-	 Não	há	possibilidade	de	ser	apagada	a	mensagem	como	ocorre	na	
escrita;
7-	 A	frase	pode	utilizar	complementos	e	ser	feito	o	uso	de	pausas;
8-	 É	possível	 o	 uso	de	marcadores	 conversacionais,	 ou	 seja,	 expressões	
utilizadas	para	confirmação	como:	“né”?;	“certo?”;		“não	é	mesmo?”,	etc.
9-	 Pode	utilizar	expressões	populares	e	gírias.	
Portanto, no uso da linguagem oral é comum que o emissor utilize 
TÓPICO 1 — CONCEITOS INICIAIS
19
recursos	que	permite	ao	receptor	sentir-se	participante	ativo	da	comunicação.	A	
informalidade, típica da linguagem oral, pelo desapego gramatical e forma de 
interação	possibilita	agilidade	na	comunicação	e,	em	alguns	casos,	dependendo	
da	competência	e	habilidade	do	comunicador,	maior	convencimento.	
A	linguagem	escrita,	historicamente,	posterior	à	oral	em	todas	as	culturas,	
estima-se	que	teve	sua	origem	na	antiga	Mesopotâmia,	há	cerca	de	5.000	anos	por	
meio	da	chamada	escrita	cuneiforme,	dado	a	seu	formato	em	forma	de	“cunha”	e	
também	no	Egito	antigo,	por	meio	dos	hieróglifos.
Sem	dúvida,	a	escrita	foi	um	grande	marco	para	o	desenvolvimento	da	
humanidade,	 permitindo,	 entre	 outras	 coisas,	 o	 acúmulo	 e	 aprimoramento	do	
conhecimento.	Portanto,	a	escrita	não	é	apenas	uma	questão	de	mero	registro	de	
saberes,	sentimentos,	ideias	e	culturas,	mas	representa	a	possibilidade	de	agregar	
conhecimento,	o	que	permitiu	o	avanço	da	ciência.	
FIGURA 7 – AS PRIMEIRAS FORMAS DE ESCRITA / EVOLUÇÃO DA ESCRITRA
FONTE: <https://conhecimentocientifico.r7.com/escrita-origem-historia/>. Acesso em: 22 abr. 2021.
UNIDADE 1 — LINGUAGEM E LINGUAGEM JURÍDICA
20
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TÓPICO 1 — CONCEITOS INICIAIS
21
Sob	o	ponto	de	vista	argumentativo,	a	linguagem	escrita	possui	a	vantagem	
de ser produzida antes de ser apresentada ao receptor, o que permite planejar 
com	cuidado	a	produção	textual,	escolher	o	nível	de	linguagem	a	ser	utilizado	e	
rever	antecipadamente	antes	de	sua	exposição.	
Por	outro	 lado,	não	há	 interação	 imediata	com	o	receptor	não	havendo	
a	possibilidade	de	 correção	ou	 esclarecimento	 caso	 a	mensagem	não	 seja	bem	
compreendida,	 umavez	 que,	 em	 regra	 geral,	 a	 leitura	do	 texto	não	 é	 feita	 na	
presença	do	escritor.	
Assim,	a	escrita	de	um	texto	exige	clareza,	coerência	e	coesão	na	exposição	
das	 ideias	e	enunciados	de	forma	a	afastar	obscuridades	ou	lacunas.	Um	texto	
jurídico,	 por	 exemplo,	 exige	 a	 verificação	 cuidadosa	 de	 sua	 objetividade	 e	
compreensão,	uma	vez	que	ao	ser,	as	peças	processuais	são	lidas	e	consideradas	
pelo	magistrado	sem	a	presença	do	peticionário.	
O	inverso	também	é	verdadeiro.	Uma	decisão	judicial	também	deve	ser	
clara	e	perfeitamente	compreensível	pela	parte	e	seu	advogado.	Tanto	assim	é	que	
há	como	recurso	os	chamados	embargos	de	declaração	ou	embargos	declaratórios,	
que	são	utilizados	em	processos	judiciais	para	pedir	que	o	magistrado	esclareça	
a	decisão	por	 ela	dada.	Tal	 recurso	está	previsto	no	artigo	1022	do	Código	de	
Processo	Civil	(BRASIL,	2015,	s.p.):	
Art. 1.022.	Cabem	 embargos	 de	 declaração	 contra	 qualquer	 decisão	
judicial para:
I-	 esclarecer	obscuridade	ou	eliminar	contradição;
II-	 suprir	 omissão	 de	 ponto	 ou	 questão	 sobre	 o	 qual	 devia	 se	
pronunciar	o	juiz	de	ofício	ou	a	requerimento;
III-	corrigir	erro	material.
Parágrafo único.	Considera-se	omissa	a	decisão	que:
I-	 deixe	de	se	manifestar	sobre	tese	firmada	em	julgamento	de	casos	
repetitivos	ou	em	incidente	de	assunção	de	competência	aplicável	
ao	caso	sob	julgamento;
II-	 incorra	em	qualquer	das	condutas	descritas	no	art.	489,	§	1°.
Considera-se	obscuridade	quando	a	decisão	não	é	feita	de	maneira	clara	
e	objetiva,	 faltando	clareza	na	decisão,	o	que	pode	 fazer	 com	que	ela	não	 seja	
bem	compreendida.	A	contradição	se	aplica	quando	a	decisão	apresentar	pontos	
que	não	estejam	de	acordo	entre	si	ou	se	a	conclusão	não	for	compatível	com	a	
fundamentação	legal	da	sentença.	Por	outras	palavras,	quando	o	que	foi	dito	na	
sentença	não	está	de	acordo	com	a	lei	usada	para	o	caso	em	apreço.	A	omissão	
pode	acontecer	de	duas	maneiras.	No	primeiro	caso,	o	juiz	pode	deixar	de	analisar	
alguma	questão	que	foi	apontada	por	uma	das	partes	do	processo.	No	segundo	
caso,	o	juiz	não	decide	sobre	fatos	que	ele	tem	o	dever	de	se	decidir.
Portanto,	o	jurista	deve	ter	muito	cuidado	na	elaboração	de	um	texto,	em	
razão	de	que,	apesar	dos	modernos	e	ágeis	meios	virtuais	de	comunicação,	no	
campo jurídico, a maioria dos atos processuais se realiza por meio da escrita: 
UNIDADE 1 — LINGUAGEM E LINGUAGEM JURÍDICA
22
petições,	atas,	documentos,	certidões,	mandados,	laudos,	despachos,	sentenças,	
acórdãos	etc.,	apesar	de	a	comunicação	oral	ser	bastante	presente	na	seara	jurídica,	
por segurança jurídica os atos praticados devem ser devidamente registrados a 
fim	de	serem	consultados	a	qualquer	momento.	
Para	Petri	(2017,	p.	26-27),	são	características	da	linguagem	escrita:	
1-	 É	 menos	 abrangente	 uma	 vez	 que	 apenas	 pessoas	 alfabetizadas	
podem	fazer	uso	dela;
2-	 Não	aproveita	os	mesmos	recursos	da	linguagem	oral;
3-	 Não	é	possível	ao	emissor	perceber	a	reação	do	leitor;
4-	 Não	há	normalmente	repetição	de	palavras;
5-	 Há	a	possibilidade	de	correção;
6-	 Utiliza	raramente	gírias	e	expressões	populares;
7-	 É	mais	permanente	que	a	linguagem	oral;
8-	 Utiliza	 pontuação	 para	 representação	 a	 entonação	 e	 ritmo	 da	
modalidade	oral;
9-	 É	mais	prestigiada	socialmente.	
Na	 linguagem	 oral	 há	 compartilhamento	 de	 situação	 espaço-temporal,	
o que permite ao emissor direcionar sua atividade de maneira a garantir um 
discurso	explícito.	Já	na	linguagem	escrita	há	outros	recursos	importantes,	como	
a	pontuação	que	indica	pausas	dando	mais	função	expressiva	à	comunicação.	
23
Neste tópico, você aprendeu que:
•	 Embora	os	termos	linguagem,	língua	e	fala	sejam	utilizados	sem	distinção,	um	
estudo	mais	atento	permite	compreender	que	são	aspectos	diferentes	utilizados	
na	comunicação	humana	e	estudados	pela	linguística.
•	 A	 linguagem	 é	 definida	 como	 um	 instrumento	 utilizado	 no	 processo	
comunicativo e envolve: emissor, receptor, mensagem, código, canal de 
comunicação,	contexto	e	ruídos.
•	 Ao	longo	da	história	da	civilização	humana,	a	linguagem	tem	servido	para	a	
interação	dos	membros	de	um	grupo	social	e	se	manifesta	de	distintas	formas	
sendo	classificadas	em:	verbal,	não	verbal	e	mista.
•	 A	 linguagem	 possui	 distintas	 funções,	 quais	 sejam:	 denotativa,	 emotiva,	
conotativa,	poética,	metalinguística,	dentre	outras.
•	 É	possível	a	utilização	da	linguagem	em	diferentes	níveis,	servindo	todas	para	
a	comunicação	de	acordo	com	o	contexto	e	necessidade.
•	 É	um	equívoco	admitir	a	linguagem	culta,	a	“escolarizada”,	como	“a	correta”.	
Tal	 concepção	 é	 uma	 forma	 de	 segregação	 ideológica	 que	 desconsidera	 e	
marginaliza	as	diferentes	formas	de	comunicação.
•	 A	 linguagem	 tanto	 escrita	 como	 oral	 são	 modalidades	 de	 comunicação	
e	 recursos	 expressivos,	 cada	 qual	 com	 vantagens	 e	 desvantagens,	 ambas	
utilizadas	no	campo	jurídico	exigindo	cuidado	e	domínio	linguístico.
RESUMO DO TÓPICO 1
24
AUTOATIVIDADE
1	 “Comunicação”	é	uma	ação	natural	e	inerente	à	vida	social	humana	através	
da	 qual	 é	 possível	 conhecer,	 divulgar	 ou	 informar;	 expor	 ou	 noticiar;	
divulgar	ou	 transmitir	 ideias,	 saberes,	 conceitos	 e	valores	 etc.	Acerca	do	
propósito	da	comunicação,	assinale	a	afirmação	CORRETA:
a)	(			)	Toda	comunicação	é	uma	finalidade	em	si	mesma.
b)	(			)	A	 comunicação	 possibilita	 estabelecer	 relações	 e	 conexões	 entre	 os	
indivíduos	de	uma	sociedade.
c)	 (			)	O	objetivo	da	comunicação	independe	da	vida	social.
d)	(			)	A	 comunicação	 independe	de	 sua	 forma,	não	 tem	objetivo	definido,	
uma	vez	que	é	um	ato	imediato	e	autoexplicativo.
2	 A	 comunicação	 verbal	 é	 a	 forma	 mais	 utilizada	 de	 comunicação	 por	 ser	
momentânea	 e	 poder	 transmitir	 ideias	 e	 pensamento	 de	 qualquer	 nível	 de	
complexidade,	podendo	ser	definida	como	todo	tipo	de	troca	de	informação	
através	da	linguagem.	Considerando	tal	afirmação	é	CORRETO	afirmar	que:
a)	 (			)	A	comunicação	verbal	é	caracterizada	pelo	uso	de	palavras	através	de	
linguagem	escrita	ou	falada.
b)	(			)	A	 comunicação	 verbal	 é	 exclusivamente	 a	 linguagem	 “falada”	 que	
utiliza	o	acervo	de	vocábulos	–	palavras	–	do	emissor.
c)	 (			)	A	transmissão	de	ideias	não	pode	ser	realizada	através	da	comunicação	
verbal,	mas	somente	escrita.	
d)	(			)	Com	o	avanço	tecnológico	nos	dias	atuais,	pouco	se	utiliza	a	comunicação	
verbal.	
3	 Alguns	 elementos	 são	 primordiais	 para	 a	 realização	 do	 processo	
comunicativo, dentre os quais o emissor, receptor, referente, canal, código 
e	mensagem.	Cada	um	dos	elementos	possui	função	específica	e	possibilita	
uma	adequada	compreensão	da	mensagem.	Acerca	da	função	do	EMISSOR	
no	processo	comunicativo,	assinale	a	assertiva	CORRETA:
 
a)	(			)	O	emissor	é	aquele	que	idealiza	e	codifica	a	mensagem.
b)	(			)	A	codificação	ou	transmissão	da	mensagem	é	a	função	do	emissor	no	
processo	comunicativo.
c)	 (			)	A	interpretação	da	mensagem	é	a	função	do	emissor.
d)	(			)	Emissor	e	receptor	são	elementos	do	processo	comunicativo	compostos	
por	um	conjunto	de	signos	escolhidos	para	a	transmissão	da	mensagem.	
25
4	 Comunicação	 é	 uma	 atividade	 que	 faz	 parte	 do	 cotidiano	 e	 pode	 ser	
realizada	através	de	distintos	meios	e	fundamental	em	inúmeros	campos	
da	atividade	humana.	Assim,	considere	as	seguintes	afirmações.
I-	 "Comunicar"	é	uma	habilidade	exclusivamente	humana.
II-	 A	 comunicação	 é	 a	 forma	 e	 habilidade	 através	 da	 qual	 se	 estabelece	 o	
relacionamento	entre	os	membros	de	um	grupo	social.
III-	O	ato	de	transmissão	de	uma	mensagem	é	um	ato	de	comunicação.
IV-	"Comunicar"	é	estar	em	contato	ou	em	relação	com	alguém	com	a	finalidade	
de	expor,	noticiar	ou	veicular.
Assinale	a	afirmação	CORRETA:
a)	(			)	As	afirmações	I,	II,	III	e	IV	estão	corretas.
b)	(			)	As	afirmações	II,	III	e	IV	estão	corretas.
c)	 (			)	As	afirmações	I	e	III	estão	corretas.
d)	(			)	As	afirmações	I,	III	e	IV	estão	corretas.
5	 A	 comunicaçãoé	 a	 arte	 de	 tornar	 algo	 comum	 para	 duas	 ou	 mais	
pessoas,	o	que	era	monopólio	de	um	ou	poucos.	Permite	o	intercâmbio	de	
conhecimentos	e	ideias,	além	da	criação	de	vínculo	entre	as	pessoas.	Sobre	
o	considerado,	analise	as	asserções	a	seguir	e	a	relação	entre	elas:
I-	 A	comunicação	interliga	e	quebra	as	distâncias	entre	as	pessoas.	É	um	elo	
que	possibilita	encontros	de	sujeitos	isolados.
 
PORQUE
II-	Quando	interagimos	uns	com	os	outros,	aquele	que	era	solitário	passa	a	ser	
integrado	com	outros	(duas	ou	mais	pessoas).
Assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	(			)	As	asserções	I	e	II	são	verdadeiras,	sendo	a	I	a	justificativa	correta	da	II.
b)	(			)	As	asserções	I	e	II	são	verdadeiras,	sendo	a	II	a	justificativa	da	I.
c)	 (			)	A	asserção	I	é	verdadeira	e	a	II	é	uma	proposição	falsa.
d)	(			)	A	asserção	I	é	falsa	e	a	II	é	uma	proposição	verdadeira.
26
27
TÓPICO 2 — 
UNIDADE 1
LINGUAGEM JURÍDICA
1 INTRODUÇÃO
Comunicar	utilizando	diferentes	tipos	de	linguagem	é	parte	das	relações	
humanas.	Cada	profissão	cria	e	aprimora	expressões	próprias	com	características	
comuns	que	são	utilizadas	por	seus	membros,	definindo-se,	assim,	a	linguagem	
jurídica	 de	 cada	 campo	 técnico.	 No	 campo	 jurídico	 não	 é	 diferente.	 Para	 os	
profissionais	 do	 direito,	 a	 linguagem	 e	 seu	 domínio	 é	 a	 principal	 ferramenta	
utilizada	para	convencer,	transigir,	demandar,	enfim,	atuar	na	luta	pela	defesa	e	
garantia	de	direitos.	
Você	verá	em	seus	estudos	como	é	importante	o	domínio	do	vocabulário	
jurídico.	Conhecer	o	sentido	dos	termos	utilizados	nas	leis	e	códigos,	as	relações	
das	 palavras	 nos	 textos	 jurídicos	 e	 as	 variações	 nas	 estruturas	 sintáticas	 das	
palavras	que	permitem	dar	ênfase	ao	discurso.	
O	 conhecimento	 e	domínio	do	vocabulário	 jurídico,	 com	o	 cuidado	de	
não	cometer	excessos,	é	a	tarefa	primeira	que	se	impõe	aos	que	abraçam	o	campo	
profissional	do	direito.	
Por	meio	da	palavra,	o	direito	se	concretiza.	Além	de	falar	bem	para	as	
necessidades do cotidiano aos que se dedicam ao mundo jurídico é necessário ir 
além:	é	dominar	a	linguagem	jurídica	com	precisão.	
Manter	o	formalismo,	o	estilo	e	a	ética,	os	profissionais	do	direito	devem	
se	modernizar	constantemente	para	persuadir	e	convencer.	Sem	o	“juridiquês”	
desenfreado,	que	é	filho	da	inútil	e	ingênua	afetação,	para	não	cair	no	ridículo,	a	
linguagem	jurídica	deve	ser	clara	e	precisa,	porém	culta	e	erudita.	
Vamos	conhecer	um	pouco	sobre	a	linguagem	jurídica!
28
UNIDADE 1 — LINGUAGEM E LINGUAGEM JURÍDICA
2 LINGUAGEM JURÍDICA
A	 linguagem	 jurídica	 é	 uma	 das	 manifestações	 específicas	 da	 língua	
portuguesa	aplicada	à	uma	área	específica	do	conhecimento	com	características	
próprias.	Embora,	em	não	raras	vezes,	utilizando	signos	linguísticos	da	linguagem	
comum	não	é	compreendida	 imediatamente	por	um	não	 jurista,	por	um	leigo.	
Sem	dúvida,	esse	é	um	obstáculo	a	ser	superado	quando	do	início	da	formação	
acadêmica	 no	 direito.	As	 definições	 e	 conceitos	 específicos	 com	 que	 o	 direito	
opera	são	elementares	e	necessárias	para	o	campo	jurídico,	mas	sem	sentido	fora	
do	direito	porque	não	têm	outra	função	a	não	ser	exprimir	termos	e	expressões	
que	apenas	possuem	pertinência	exclusivamente	jurídica.	
São,	basicamente,	duas	as	razões	para	que	se	 justifique	a	linguagem	do	
direito:
•	 Há	um	vocabulário	jurídico	próprio.
•	 Confere	sentido	ao	discurso	e	argumentação	jurídica.	
A	linguagem	jurídica	é	utilizada	em	situações	particulares	pela	necessidade	
de,	 no	 exercício	 profissional,	 serem	 conceituados	 fenômenos	 relacionados	 ao	
Direito	e	estabelecer	seu	sentido	jurídico,	que	em	regra	geral	não	têm	o	mesmo	
ou	não	encontram	qualquer	significado	no	uso	corrente.	Isso	ocorre	porque	tem	
natureza	técnico-científica	própria,	uma	vez	que	utiliza	palavras	para	o	campo	
teórico-prático	do	Direito,	que	é	onde	reside	o	problema	do	vocabulário	jurídico.	
E	aí	está	o	primeiro	obstáculo	a	ser	enfrentado,	porque	como	qualquer	ciência,	
os	 termos	 devem	 ser	 utilizados	 com	 exatidão,	 devendo	 o	 termo	 técnico	 ser	
empregado	 adequadamente,	 sendo	 absolutamente	 indispensável	 não	 só	 para	
a	compreensão	rápida	dos	argumentos	utilizados	como	também	para	a	correta	
identificação	dos	fenômenos	discutidos.
Há	que	se	observar	que	nenhum	termo	está	dissociado	de	sua	significação	
comum	ou	lexical	(da	língua,	da	linguagem	natural	ou	do	código	abstrato),	em	
geral	relacionada	a	sua	etimologia	(origem),	e	que,	quando	se	estabelece	sentido	
mais	específico	(técnico-científico)	há	necessidade	de	ser	verificado	seu	sentido	
contextual	que	identificará	a	forma	mais	precisa	ou	técnica,	uma	metalinguagem,	
ou	 seja,	 é	 uma	 linguagem	 que	 descreve	 outra	 linguagem	 artificial,	 termos	
utilizados	para	designar	fatos	da	vida	social	que	possuem	sentido	e	relevância	
no	campo	jurídico.	
TÓPICO 2 — LINGUAGEM JURÍDICA
29
METALINGUAGEM 
 A metalinguagem nada mais é do que a preocupação do emissor totalmente 
voltada ao próprio código que está sendo utilizado. Isso quer dizer que o código é o tema 
da mensagem ou, então, ele é usado para explicar sobre ele mesmo. O código, no texto 
verbal, é a língua. No momento em que usamos uma mensagem verbalizada para explicar 
a língua, usando a própria linguagem, ocorre a metalinguagem. Observe, em seu cotidiano, 
como isso é feito várias e várias vezes: em conversas de caráter informal ou até mesmo 
durante suas aulas.
FIGURA – EXEMPLO DE METALINGUAGEM
FONTE: <https://blogdoenem.com.br/metalinguagem-literatura-enem/>. 
Acesso em: 22 abr. 2021.
 Exemplo de metalinguagem: um quadrinho em que um personagem fala sobre o 
balão, forma característica da linguagem dos quadrinhos.
NOTA
Qual	a	razão	do	direito	construir	uma	linguagem	própria?	
Como já discutido no tópico anterior, a própria natureza intrínseca ao ser 
humano é social, vive em sociedade para atender as suas necessidades, interesses 
e	realizar	suas	potencialidades.	Essa	característica	inata	do	ser	humano	em	colocar	
“seu	eu”,	seu	pensar,	em	comum	com	o	próximo	é	o	ato	comunicativo	próprio	da	
convivência,	de	relação	de	grupo	e	da	prática	social.	
30
UNIDADE 1 — LINGUAGEM E LINGUAGEM JURÍDICA
Porém,	o	estudo	da	comunicação	 jurídica	se	 justifica	pela	relação	 inerente	
entre	 o	 direito	 e	 a	 sociedade,	 na	 qual	 a	 atuação	 daquele	 tem	 como	 objetivo	
normatizar	as	relações	sociais	e	os	seus	efeitos.	E	diante	do	universo	jurídico,	se	
pode	 afirmar	que	 as	 ações	humanas	que	verdadeiramente	 importam	à	 ciência	
jurídica dizem respeito aos efeitos, estas podem gerar ao grupo social ou a algum 
de	seus	membros,	já	que	a	própria	existência	do	direito	tem	por	objetivo	regular	
os	atos	que	afetam	os	membros	da	sociedade,	são	os	chamados	valores	jurídicos.	
Valores	jurídicos	tais	como	a	ordem,	a	segurança,	a	liberdade,	as	justiças,	
dentre	outros,	são	inerentes	à	condição	humana	e	são	compreendidos	de	maneira	
distinta	 pelos	 indivíduos	 e	 o	 direito	 estabelece	 uma	 espécie	 de	 “consenso”,	 a	
fim	de	estabelecer	critérios	que	possibilitem	a	vida	em	comum,	e	é	aí	que	surge	
a	 necessidade	 de	 uso	 de	 linguagem	 própria	 e	 complexa.	Assim	 como	 outros	
profissionais,	o	advogado,	por	exemplo,	ao	ser	solicitado	para	prestação	de	um	
trabalho	específico,	é	necessário	relatar	o	fato	valorado	juridicamente,	bem	como	
o	que	deve	ser	feito	de	acordo	com	critérios	técnicos.	
FIGURA 9 – A ESPECIFICIDADE DA LINGUAGEM JURÍDICA
FONTE: <http://www.praticadapesquisa.com.br/2010/10/em-11-de-agosto-de-2005-amb-
associacao.html>. Acesso em: 22 abr. 2021.
Pela	 figura,	 percebe-se	 a	 dificuldade	 de	 compreensão	 da	 linguagem	
jurídica	por	aqueles	que	não	são	profissionais	da	área.	Observe	que	os	 termos	
utilizados	são	conceitos	que	 regulam	e	protegem	valores.	No	caso,	utiliza-se	a	
expressão	in dubio pro reo,	o	que	significa	que	na	dúvida	a	“balança	deve	pender”	
para	o	acusado	uma	vez	que	a	liberdade	integra	o	conjunto	de	bens	inerentes	à	
condição	humana	e	de	grande	relevância	no	mundo	dodireito.	
Sem	dúvida,	o	direito	é,	por	excelência,	se	comparado	a	outros	campos	
do conhecimento, a ciência da palavra, o que exige o aprimoramento do domínio 
da	 palavra	 no	 exercício	 da	 profissão,	 pois	 é,	 na	 linguagem,	 o	 espaço	 em	 que	
o	direito	 se	 efetiva.	Assim,	pode-se	 afirmar	que	 a	 capacidade	de	 realizar	uma	
TÓPICO 2 — LINGUAGEM JURÍDICA
31
boa	comunicação	permite	recriar	os	fatos	com	consistência	e	credibilidade	e	de	
estabelecer	relações	de	causa	e	efeito	entre	estes	e	as	leis	formarão	um	parâmetro	
decisório	que	irá	amparar	o	direito	requerido.	
O	 direito	 é	 um	 espaço	 de	 comunicação	 relevante	 para	 as	 relações	
humanas, uma vez que a sociedade humana é uma coletividade constituída por 
entes	comunicantes.	É	nesse	sentido	que	Miguel	Reale	(1992,	p.	34)	considera	o	
direito	uma	linguagem	indissociável	das	relações	humanas:	
O	Direito	é,	por	conseguinte,	um	fato	ou	fenômeno	social;	não	existe	
senão	 na	 sociedade	 e	 não	 pode	 ser	 concebido	 fora	 dela.	 Uma	 das	
características da realidade jurídica é, como se vê, a sua socialidade, 
a	sua	qualidade	de	ser	social.	Logo,	 ...	desde	que	passou	a	viver	em	
sociedade, o homem vem sentindo cada vez mais a necessidade 
imperiosa de se comunicar, pois já foi dito que o homem é aquilo que 
consegue	comunicar	aos	seus	semelhantes.	
Por	meio	da	palavra	é	que	o	profissional	do	Direito	atua,	devendo	ter	claro	
que	se	comunicar	para	atender	às	necessidades	comuns	e	diárias	de	comunicação	
é	 diferente	 de	 falar	 com	 precisão	 no	 exercício	 da	 profissão	 jurídica,	 havendo	
a necessidade de domínio da linguagem para que tenha cautela na escolha 
das	palavras.	
Isso	 não	 significa	 que	 linguagem	 jurídica	 se	 confunda	 com	 “jargão	
profissional”,	para	que	o	profissional	acabe	se	encapsulando	em	um	hermetismo	
vocabular	somente	acessível	e	compreendido	por	poucos	iniciados.	
2.1 JARGÃO JURÍDICO E PODER SIMBÓLICO
Jargão	 é	 o	 vocabulário	 típico	 de	 uma	 especialidade	 profissional	 e	 é	
utilizado	especificamente	por	pessoas	que	compõem	determinado	segmento	ou	
grupo	 tecnicamente	 especializado.	 Por	 exemplo,	 existem	 jargões	 de	 médicos,	
engenheiros,	 técnicos	de	informática	etc.	Evidente	que	o	 jargão	é	 importante	para	
a	compreensão	dos	procedimentos	e	documentos	jurídicos	por	sua	complexidade,	
com	significados	incompreensíveis	para	leigos.	
32
UNIDADE 1 — LINGUAGEM E LINGUAGEM JURÍDICA
FIGURA 10 – JARGÃO JURÍDICO 
FONTE: <http://paginasclandestinas.blogspot.com/2011/04/jargao-juridico.html>. 
Acesso em: 22 abr. 2021.
Como veremos adiante, o uso exagerado e impróprio da linguagem 
jurídica,	 sob	 uma	 falsa	 roupagem	de	 tecnicismo,	 é	mais	 uma	 preocupação	 de	
efeitos	“pirotécnicos”	da	palavra	do	que	propriamente	com	o	compromisso	com	
o	rigor	profissional.
TÓPICO 2 — LINGUAGEM JURÍDICA
33
QUADRO 6 – ALGUNS JARGÕES JURÍDICOS
FONTE: <https://luizabrito67.blogspot.com/2011/10/juridiques-no-banco-dos-reus.html>. 
Acesso em: 22 abr. 2021.
Entretanto,	 o	 domínio	 da	 linguagem	 jurídica	 é	 também	 um	 meio	 de	
promoção	 social,	 política	 ou	 cultural	 que	 exprime	 relação	 de	 poder.	 É	 obvio	
que	 por	 ser	 o	Direito	 objeto	 de	 ciência,	 este	 desenvolve	 seu	 próprio	 discurso,	
com lógica e terminologia peculiares e aqueles que se dedicam à árdua tarefa 
de estudar cientificamente o direito poderá ter domínio sobre seu aparato 
conceitual. Não se pode conceber	 o	 direito	 sem	 sociedade,	 ou	 mesmo	 uma	
sociedade	sem	normatização	que	venha	a	se	valer	de	regras	(ou	princípios)	para	
controlar/limitar	as	condutas	dos	indivíduos	que	integram	o	grupo	social.	
Sob	certo	ponto	de	vista,	o	direito	é	um	instrumento	de	sustentação	social	
criado	 para	 impor	 condutas	 coercitivamente,	 obrigatória	 e	 independente	 da	
vontade	da	parte.	É	evidente	que	nem	toda	sociedade	deverá	obrigatoriamente	
possuir Códigos, tal	 qual	 concebemos	 na	 cultura	 jurídica	 ocidental,	 para	 reger	
a convivência humana, mas sempre haverá um conjunto de normas que 
lhe	 possibilite	 estabilidade	 e	 que	 permita	 o	 desenvolvimento	 de	 atividades	
econômicas,	políticas,	familiares	etc.,	a	fim	de	garantir	relativa	segurança	para	os	
indivíduos	e	para	as	relações	surgidas	entre	estes,	para	evitar	que	somente	a	força	
(individual),	por	si	só,	seja	o	único	elemento	para	solucionar	conflitos.
Ao	longo	da	história,	a	luta	foi	a	condição	para	a	construção	e	manutenção	
de	 direitos,	 uma	 vez	 que	 não	 são	 dados	 espontaneamente	 pela	 natureza	 nem	
tampouco	 graciosamente	 concedido	 pelos	 donos	 do	 poder.	 No	 entender	 de	
Ihering	 (2006),	 é	um	dever	do	 interessado	para	 consigo	mesmo	e	 também	um	
dever	com	a	sociedade	a	luta	pelo	direito.	E	afirma	Ihering	(2006,	p.	1):	“Todos	os	
direitos da humanidade foram conquistados na luta: todas as regras importantes 
do direito devem ter sido, direito de um povo ou direito de um particular, faz-
se	presumir	que	 se	 esteja	decido	 a	mantê-lo	 com	firmeza”.	Portanto,	 o	direito	
não	são	palavras,	são	vivências	e	experiências	humanas	construídas	e	garantidas	
34
UNIDADE 1 — LINGUAGEM E LINGUAGEM JURÍDICA
pela	força	e	luta.	“O	Direito	não	é	pura	teoria,	mas	uma	força	viva	.....	A	justiça	
sustenta	numa	mão	a	balança	e	que	pesa	o	Direito	e,	na	outra	é	a	força	brutal;	a	
balança	sem	a	espada	é	a	impotência	do	Direito” (IHERING,	2006,	p.	5).
Nesse	 sentido,	 os	 indivíduos,	 ao	 edificarem	 o	 direito,	 que	 tem	 como	
mediação	 a	 linguagem	 para	 reger	 e	 limitar	 as	 relações	 sociais,	 aceitam	 como	
legítimo tanto o poder político, que cria as normas, quanto válidas e aceitáveis os 
conteúdos	destas,	pois,	em	certo	sentido,	se	assim	não	fosse,	existiria,	no	mínimo,	
insubordinação	social	e	política	questionando-se	o	poder	regulatório	constituído	
e	suas	instituições.
É	 nesse	 ponto	 que	 ganha	 relevância	 a	 importância	 o	 pensamento	 de	
Bourdieu	(2007)	sobre	a	concepção	do	direito	como	poder	simbólico	e	a	noção	
de	que	o	autor	pressupõe	que	os	dominados	se	submetem	espontaneamente	ao	
controle	porque	possuem	alguma	crença	neste	comando.
 
[…]	como	o	poder	de	constituir	o	dado	pela	enunciação,	de	fazer	ver	e	
fazer	crer,	de	confirmar	ou	de	transformar	a	visão	do	mundo	e,	deste	
modo,	a	ação	sobre	o	mundo,	portanto	o	mundo;	poder	quase	mágico	
que	permite	obter	o	equivalente	daquilo	que	é	obtido	pela	força	(física	
ou	econômica),	graças	ao	efeito	específico	de	mobilização,	só	se	exerce	
se for reconhecido,	quer	dizer,	ignorado	como	arbitrário.	Isto	significa	
que	 o	 poder	 simbólico	 não	 reside	 nos	 “sistemas	 simbólicos”	 em	
forma	de	uma	“illocutionary	force”	mas	que	se	define	numa	relação	
determinada – e por meio desta – entre os que exercem o poder e 
os	que	 lhe	estão	 sujeitos,	quer	dizer,	 isto	 é,	na	própria	 estrutura	do	
campo em que se produz e se reproduz a crença.	O	que	faz	o	poder	
das palavras e das palavras de ordem, poder de manter a ordem ou de 
a	subverter,	é	a	crença	na	legitimidade	das	palavras	e	daquele	que	as	
pronuncia,	crença	cuja	produção	não	é	da	competência	das	palavras	
(BORDIEU,	2007,	p.14-15).
A	 pergunta	 que	 fazemos	 é:	 como	 o	 poder	 político	 consegue	 impor	 o	
direito	em	uma	determinada	sociedade?	O	direito	tem	uma	face	simbólica	que	
se manifesta através de uma linguagem aparentemente lógica e coerente capaz 
de garantir interesses e necessidades humanas, como se tivesse, por si mesmo, o 
poder	de	disciplinar	a	vida	social.	
Assim,	 o	 direito	 expresso	 na	 linguagem	 jurídica	 vai	 sendo	 visto	 como	
algo	“natural”	criando	uma	autonomia	de	um	sistema	que	se	autoexplica.	E	é	sob	
tal	aspecto	que	Bordieu	(2007)	considera	que	a	reivindicação	de	uma	autonomia	
absoluta	do	direito	e	o	esforço	dos	juristas	em	elaborar	um	corpo	de	doutrinas,	
regras	 e	 conceitos,	 independente	 de	 constrangimentos	 e	 pressões	 sociais,	
elaborando	em	si	seu	próprio	fundamento	é	onde	reside	seu	poder	simbólico.	
São	construídos	modelos	que,	na	realidade,	são	puras	ficções	da	ciência	
jurídica	 que	 vãoconstruindo	uma	pretensa	 neutralidade	 valorativa,	 afastando	
o	fenômeno	social	que	lhe	é	subjacente,	concepção	que	influencia	diretamente	a	
formação	jurídica	que	privilegia	o	ensino	estritamente	técnico	do	direito.	E	assim,	
TÓPICO 2 — LINGUAGEM JURÍDICA
35
o sistema se autoalimenta afastando o futuro jurista dos fenômenos sociais, 
construindo uma linguagem e discurso homogêneo que, no momento de suas 
escolhas	 juridicamente	 possíveis	 para	 um	 conflito,	 há	 pouca	 possibilidade	 de	
desfavorecer	ou	contrariar	o	modelo	dominante.	
Desde	 tal	 crítica,	 chama-se	 a	 atenção	 para	 o	 fato	 de	 que	 a	 linguagem	
jurídica,	que	expressa	as	normas	jurídicas,	dá	a	falsa	impressão	de	que	é	perfeita,	
pronta	 e	 acabada	 independente	 de	 suas	 contradições	 e	 pressões	 sociais,	 e	 aí	
encontramos um aspecto importante para uma análise permanente crítica e 
cuidadosa	da	linguagem	jurídica.						
Em	síntese,	se	a	linguagem	jurídica	procura	criar	e	manter	uma	simbologia	
própria,	que	é	fortalecida	pelos	jargões	jurídicos	que	apenas	são	compreendidos	
pelos	 profissionais	 aptos	 e	 treinados,	 os	 conflitos	 sociais	 são	 aparentemente	
mantidos	sob	controle	e	dentro	da	expectativa	do	aceitável.	
Para melhor compreender o tema acerca do direito como expressão do 
poder simbólico, sugerimos a leitura do breve texto de autoria de Daniel França disponível 
em: https://projetouve.wordpress.com/2014/05/25/1771/, bem como o texto de Rodrigo 
Ghiringhelli de Azevedo: A força do direito e a violência das formas jurídicas, disponível 
em: https://www.scielo.br/pdf/rsocp/v19n40/04.pdf.
DICAS
Sem	dúvida,	o	campo	do	direito	é	um	espaço	de	concorrência	de	monopólio	
de	“dizer	o	direito”	através	de	uma	linguagem	própria	no	qual	se	confrontam	
sujeitos	 competentes	 e	de	 capacidade	 reconhecida	de	 compreender	 e	definir	o	
justo	 e	 legítimo	do	 caso	 concreto.	 Isso	 implica	 na	necessidade	de	 reforçar	 um	
discurso com estilo próprio que confere ao mesmo tempo capacidade técnica, 
política	e	social	para	utilizá-lo	na	transformação	da	realidade	social	–	um	conflito	
entre	 partes	 –	 em	 realidade	 jurídico-judicial	 –	 debate	 entre	 profissionais	 que	
conhecem	as	“regras	do	jogo”	e	dominam	a	linguagem	jurídica.	
2.2 AS CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM JURÍDICA
Como você já compreendeu, a linguagem jurídica possui algumas 
características	 que	 a	 tornam	 singular	 em	 relação	 à	 língua	 nacional.	 Já	 vimos	
que	possui	particularidade	em	função	da	existência	de	um	vocabulário	técnico-
científico	próprio	e	é	exatamente	desde	tais	aspectos	específicos	que	a	linguagem	
jurídica	se	distingue.	
36
UNIDADE 1 — LINGUAGEM E LINGUAGEM JURÍDICA
3 TÉCNICO-CIENTÍFICA
A	linguagem	 jurídica	é,	em	grande	parte,	 legada	pela	 tradição,	ou	seja,	
foi sendo construída e reproduzida ao longo do tempo pelos pensadores do 
direito	e	acumulada	pelo	saber	jurídico.	Embora	sendo	modificado	o	sentido	das	
expressões	do	direito,	como	mais	adiante	veremos,	a	grande	marca	da	linguagem	
jurídica	 é	 sua	perenidade	 inscrita	 na	 história.	Mas	 será	 que	 é	 uma	 linguagem	
ultrapassada	 e	 atrasada?	Não,	 porque	 os	 termos	 antigos,	 alguns	 deles	 até	 em	
latim,	não	perdem	força	porque	a	renovação	da	linguagem	jurídica	é	permanente,	
sobretudo	pelos	neologismos,	que	é	a	atribuição	de	novos	sentidos	a	palavras	já	
existentes	na	língua.	
A	 renovação	permanente	da	 linguagem	 jurídica	 é	dada	 sobretudo	pela	
jurisprudência	e	doutrina	jurídica.	Mas,	lembre-se	de	que	a	linguagem	jurídica	
deve	ser	prática	e	a	serviço	dos	profissionais	do	direito.	É	criada	e	realizada	em	
função	da	atividade	jurídica	e	judicial	e,	por	essa	tal	razão,	é	definida	como	uma	
linguagem	técnico-científica.	
A	 característica	 técnico-científica	 ocorre	 em	 função	 do	 uso	 semântico	
(acepção)	de	uma	palavra	(lexia)	no	campo	teórico-prático	do	Direito,	o	que	é	um	
primeiro	problema	de	vocabulário	jurídico	a	ser	enfrentado	quando	iniciamos	o	
estudo	do	direito,	pois	a	primeira	dificuldade,	que	existe	em	qualquer	ciência	e	
precisa	ser	convenientemente	enfrentada,	é	sem	dúvida	a	da	nomenclatura	ou	a	
da	exatidão	dos	termos	obrigatoriamente	a	serem	utilizados	tecnicamente	para	a	
perfeita	comunicação.
Há	que	se	destacar	que	não	há	palavra	sem	significação	comum	ou	mesmo	
lexical, o sentido do termo no texto segundo o próprio idioma, da língua natural, 
que	 é	 estabelecida,	 via	 de	 regra	 por	 sua	 etimologia.	 Porém,	 ao	 ser	 utilizada	
em	 sentido	 técnico	 é	 necessária	 a	 verificação	de	 seu	 sentido	 contextual,	 o	 que	
permitirá	a	identificação	precisa	do	termo.		
Segundo	Petri	(2017,	p.	44),	a	linguagem	jurídica	carrega	em	si	ambiguidade	
na	medida	 em	que	 “[...]	 é	 ao	mesmo	 tempo	 culta	 (na	 sua	 origem),	 popular	 (por	
destinação)	e	técnica	(por	sua	produção).	Sua	juridicidade	a	especializa	quando	
sua	finalidade	é	a	de	destinar	a	todos”. É	linguagem	de	um	grupo	que	“fala”	o	
direito,	seja	o	legislador	(o	que	o	edita),	aquele	que	o	diz	(o	juiz),	os	profissionais	
do	 direito	 em	 geral	 (advogados,	 defensores,	 membros	 do	Ministério	 Público,	
estudantes	 de	 direito	 etc.)	 e	 para	 os	 destinatários	 do	 direito.	 Assim,	 é	 uma	
linguagem	de	caráter	profissional	manejada	por	diferentes	atores	sociais	sendo,	
portanto,	uma	linguagem	cultural.	
TÓPICO 2 — LINGUAGEM JURÍDICA
37
É	 uma	 linguagem	 que	 essencialmente	 nomeia	 institutos	 jurídicos	
(casamento,	 divórcio,	 posse	 etc.,	 que	 são	 “agrupamentos”	 conceituais	 e	 legais	
que	permitem	sua	“localização”,	sua	identificação	no	ordenamento	jurídico),	seu	
referente	(a	que	o	termo	se	refere	juridicamente)	e	seu	vocabulário	específico.	
Destaca	Petri	(2017,	p.	45)	que	a	linguagem	jurídica:
[...]	nomeia	as	realidades	jurídicas,	isto	é,	essencialmente	as	instituições	
e	 as	 operações	 jurídicas,	 entidades	 que	 o	 direito	 cria,	 consagra	 ou	
modela.	 Assim,	 ela	 nomeia	 todos	 os	 níveis	 dos	 poderes	 públicos,	
todas	as	formas	de	atividade	econômica,	as	bases	da	vida	familiar,	os	
contratos,	as	convenções.
O direito nomeia igualmente as realidades naturais e sociais que ele 
apreende	e	transforma	em	“fatos	jurídicos”,	atribuindo-lhes	efeitos	de	
direito.	Assim,	ele	nomeia	os	delitos	e	as	situações	jurídicas.	
O direito, como toda ciência, desenvolve uma linguagem correspondente, 
com terminologias próprias que se distanciam de seu sentido comum e originário 
e	 assim,	 criam-se	 categorias	 próprias	 que	 também	 servem	 para	 neutralizar	 a	
linguagem	natural,	contribuindo	não	possibilitar	aos	não	juristas	às	convenções	
e	práticas	jurídicas.	
Confundir	 linguagem	 técnica	 com	 uso	 de	 “palavras	 difíceis”,	 termos	
“exclusivamente”	 jurídicos	e	rebuscamento	desnecessário	corre	o	risco	de	cair	em	
um	cientificismo	desnecessário	e	forma	de	exercício	de	poder	que	reforça	o	poder	
simbólico	autolegitimador	do	direito.	
GLOSSÁRIO JURÍDICO
 Você encontrará disponível na internet diversos glossários e dicionários jurídicos. 
Será importante você ir se familiarizando com a linguagem que fará parte de seu cotidiano. 
Sugerimos consultar: https://www.trt2.jus.br/consultas/221-pagina-principal/atendimento-
e-servicos-trt2/1422-glossario-de-termos-juridicos.
DICAS
Por	 fim,	 salientamos	 que,	 no	 caso	 do	 direito,	 linguagem	 técnica	 não	 se	
confunde	com	latinismos.	Apenas	para	esclarecer	melhor,	o	chamado	“latinismo”	
é uma reminiscência com emprego do uso de palavras latinas de maneira 
exagerada.	Evidente	que	há	 termos	como	habeas corpus que é de uso comum e 
com	significado	próprio.	Mas	e	quando	nos	deparamos	com	expressões	como:	
Cláusula rebus sic stantibus; data venia; venia conecessa; mandamus; in casu?
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UNIDADE 1 — LINGUAGEM E LINGUAGEM JURÍDICA
QUADRO 7 – AS DEZ EXPRESSÕES LATINAS MAIS UTILIZADAS
1. Conditio sine qua non
Essa	expressão	significa	a	condição	sem	a	qual	
algo	não	pode	ser.	Ela	é	aplicada	para	justificar	
que,	 se	não	 for	daquela	 forma,	não	haverá	 a	
devida	validade.	Uma	das	principais	aplicações	
do	termo	é	emcasamentos.	Nesse	caso,	a	união	
só	acontece	se	houver	a	vontade	mútua	do	casal,	
ou seja, conditio sine qua non.
2. Periculum in mora
O termo é utilizado para mostrar que há o 
perigo	na	demora.	Nesse	caso,	ele	deixa	explícito	
que a morosidade do processo judicial pode 
gerar	algum	dano	aos	envolvidos	no	processo.	
O	 advogado	utiliza	 o	 termo	para	 justificar	 a	
necessidade	de	uma	decisão	mais	rápida,	como	
uma	liminar,	visando	proteger	seu	cliente	de	riscos.
3. Habeas corpus
Uma	das	 expressões	 jurídicas	 em	 latim	mais	
conhecidas, habeas corpus	 significa	“que	 tenha	
o	 corpo”.	Essa	 referência	 à	 liberdade	é	direta,	
já	que	o	termo	é	utilizado	na	solicitação	desse	
direito	a	alguém,	evitando	qualquer	ato	abusivo.	
O habeas corpus é solicitado para evitar uma 
prisão	ou	a	continuidade	dela	inadequadamente.
4. Erga omnes
Seu	 significado	 é	 “para	 todos”,	 ou	 seja,	 é	
utilizada	em	decisões	nas	quais	o	efeito	vale	para	
todas	as	partes	envolvidas.	Suas	implicações	são	
válidas	para	todos	os	casos,	por	isso	a	expressão	
é	utilizada	como	um	método	de	eficácia.	Assim,	
fica entendido que todos devem cumprir 
determinada	decisão.
5. A priori
A priori é um termo que se aplica quando há a 
indicação	de	que	um	conceito	ou	argumento	é	
fundamentado	de	maneira	inicial.	Nesse	caso,	as	
provas	são	fundamentadas	apenas	na	razão,	sem	
que	tenha	havido	determinado	estudo.
6. A posteriori
Já	 a	 expressão	a posteriori	 é	 o	oposto.	Ela	 já	 é	
aplicada em argumentações mais avançadas, 
tendo	o	 efeito	 como	principal	 avaliação,	para	
então	chegar	até	a	causa.	Nessa	etapa,	a	análise	
já	conta	com	provas	mais	concretas	para	justificar	
todo	o	contexto	do	caso.
7. Data venia
Essa	 é	 uma	 expressão	 cordial,	 utilizada	 no	
contexto	 de	 argumentações	 jurídicas.	Data 
venia pode ser entendida como uma licença ou 
permissão	para	discordar	de	determinado	ponto	
de	vista.	Sua	aplicação	é	uma	forma	respeitosa	
de,	diante	de	uma	ideia,	colocar	outra	colocação	
contrária	com	opiniões	diferentes.
8. Modus operandi
Essa	é	uma	das	expressões	 jurídicas	em	 latim	
mais	utilizadas	também	fora	do	Direito.	Trata-se	
da	indicação	de	uma	forma	de	agir	padronizada,	
ou	um	procedimento	 convencional	 aplicado.	
Seu	uso	no	Direito	é	muito	comum	na	avaliação	
de criminosos em série, que sempre repetem a 
forma	de	praticar	os	atos.
9. Amicus curiae
É	uma	expressão	simples	que	significa	“amigo	
da	corte”.	Sua	utilização	ocorre	em	casos	em	que	
uma terceira pessoa é convocada para auxiliar 
o	juiz	para	definir	o	veredito.	O	amicus curiae é 
uma	figura	muito	comum	em	casos	de	grande	
apelo	popular,	com	cobertura	ampla	das	mídias	
tradicionais	e	mobilização	considerável.
10. In dubio pro reu
In dubio pro	reu	significa	“em	dúvida	pelo	réu”.	
Nesses	 casos,	 o	 termo	 é	utilizado	quando	 se	
pressupõe	 a	 inocência	 do	 acusado.	O	 artigo	
5°	da	Constituição	determina	que,	 se	houver	
dúvidas	quanto	à	culpa,	o	veredito	do	juiz	deve	
ser	favorável	ao	réu,	ou	seja,	ele	é	inocentado.
Embora,	 para	 alguns,	 o	 uso	 de	 expressões	 latinas	 demonstra	 erudição,	
mas	como	já	dito,	a	função	da	comunicação	no	direito	não	é	pirotécnica!!!	O	uso	
inadequado	e	 indiscriminado	do	 latim	pouco	 contribui	para	o	 acesso	à	 justiça	
e	garantia	do	direito,	até	porque,	em	não	raras	vezes,	 sequer	o	usuário	sabe	o	
significado	do	termo	empregado.	
FONTE: <https://blog.unyleya.edu.br/vox-juridica/dicas-de-estudo4/saiba-quais-sao-as-10-
expressoes-juridicas-em-latim-mais-comuns/>. Acesso em: 22 abr. 2021.
TÓPICO 2 — LINGUAGEM JURÍDICA
39
Observe	 no	 quadro	 que	 as	 expressões	 latinas	 trazem	 em	 si	 complexos	
conceitos	jurídicos.
3.1 LÓGICA E ESTILO
Como	expressão	de	um	pensamento,	a	linguagem	não	pode	ser	tão	somente	
informativa,	 mas	 uma	 comunicação	 racional	 e	 logicamente	 ordenada.	 Como	 nos	
lembra	Telles	Júnior	(1980,	p.	32),	a	“[...]	lógica	é	a	ciência	da	argumentação	(ou	
produto	do	raciocínio),	diretiva	da	operação	de	raciocinar”. Para se compreender 
a	comunicação	jurídica	é	absolutamente	indispensável	a	construção	e	manutenção	
de um raciocínio lógico durante o processo comunicativo, no sentido de 
“organizar”	sistematicamente	o	discurso.	
Mais	adiante,	estudaremos	a	lógica	e	argumentação	jurídica	de	maneira	
específica	ao	tratarmos	o	tema	de	interpretação	na	Unidade	3.	Entretanto,	apenas	
para	compreendermos	que	não	é	possível	deixar	de	frisar	que	a	linguagem	jurídica	
como	 exposição	 argumentativa	não	pode	deixar	de	 considerar	 a	 compreensão	
adequada	das	expressões	utilizadas.	Embora	se	possa	expressar	diferentes	termos	
com	 distintas	 significações,	 os	 sentidos	 se	 estruturam	 e	 se	 inter-relacionam,	
de	 forma	 a	 fixar	 limites	 de	 sentido	 contribuindo	 para	 a	 não	 ambiguidade	 e	
contradição,	com	vistas	a	melhor	persuasão.	
Ainda,	há	que	se	compreender	que	o	discurso	jurídico,	em	sua	totalidade,	
tem	por	centro	vetor	principal	o	chamado	princípio	da	interação	entre	emissor	e	
receptor.	Como	já	estudado,	a	comunicação	tem	como	princípio	básico	a	interação	
de ideias e pensamentos entre o emissor e o receptor através da fala e, para que 
ocorra	o	processo	comunicativo	e	reações	entre	ambos,	a	construção	do	discurso	
há	de	ser	lógica	e	coerente	e,	sobretudo	culta.	
O nível culto da linguagem jurídica é relacionado com a necessidade 
persuasiva	e	 lógica	a	fim	do	operador	demonstrar	o	domínio	e	 capacidade	de	
expressar a profundidade conceitual que serve para manejar a linguagem com 
autoridade.
A	 logicidade	 se	 evidencia	 na	 clareza	 e	 uso	 semântico	 adequado	 da	
linguagem	evitando-se	a	ambiguidade,	vagueza	ou	obscuridade	da	mensagem,	
razão	pela	qual	os	termos	devem	estar	em	seu	“devido	lugar	no	discurso”,	como	
se	diz:	usar	“	a	palavra	certa	no	lugar	e	sentido	certo”.	
A	 correção	 da	 linguagem	 no	 direito	 confunde-se	 com	 o	 seu	 inerente	
formalismo,	rigor	gramatical	e	precisão	técnica.	É	por	essa	razão	que	os	juristas	
possuem um estilo próprio utilizando pronomes de tratamento formais, títulos 
e	adjetivos	de	tal	maneira	que	acaba	por	ser	bastante	evidente	no	cotidiano	do	
trabalho	dos	juristas	o	estilo	jurídico	de	se	expressar.	
40
UNIDADE 1 — LINGUAGEM E LINGUAGEM JURÍDICA
O	 tradicionalismo	 no	 tratamento	 jurídico	 é	 bastante	 arraigado	 na	
formação	e	na	cultura	jurídica	de	tal	maneira	que	são	consolidadas	pelo	costume.	
Expressões	como:	“egrégio	Tribunal	de	 Justiça”;	“nobre	casuístico”;	“eminente	
julgador”;	 “excelso	 Supremo”	 etc.	 são	 expressões	 que	 conferem	 característica	
específica	ao	texto	e	discurso	jurídico.	
Porém,	há	sempre	que	se	ter	cuidado	no	uso	das	expressões	jurídicas	a	fim	
de	tanto	não	pecar	pela	erudição	exagerada	e	sem	propósito	como	a	falta	de	clareza	
e	lógica	na	comunicação,	o	que	é	um	fator	que	compromete	o	objetivo	persuasivo.	
3.2 CONCISÃO
Outro	 atributo	 importante	 da	 linguagem	 jurídica	 é	 a	 concisão, ou 
objetividade,	 que	 é	 a	 busca	 de	 expressão	 do	 pensamento	 de	 forma	 breve	
privilegiando	o	essencial	do	que	se	pretende	expor.	
É	 aqui	 que	 o	 uso	 de	 locuções	 e	 de	 máximas	 (brocardos,	 aforismos,	
provérbios)	 latinos	 podem	 auxiliar,	 uma	 vez	 que	 são	 formas	 concisas	 que	
auxiliam	 na	 expressão	 de	 significados	 jurídicos.	 Locuções	 latinas	 como	 ad 
judicia (procuração	válida	apenas	para	o	juízo);	data venia (com	a	devida	licença	
para	discordar);	e	mutatis mutandis (mudado	o	que	deve	ser	mudado),	por	si	só	
sintetizam	o	objetivo	da	comunicação.	Ou	mesmo	brocardos	jurídicos	como	pacta 
sunt servanda (os	acordos	devem	ser	cumpridos);	nullum crimen sine lege	(não	há	
crime	algum	sem	lei	como	princípio	do	direito	penal) possuem a função de expressar 
de maneira concisa um complexo conceito. 
Destaca-se	que,	apesar	na	necessidade	de	objetividade	e	concisão,	não	é	
adequado	o	uso	do	que	 se	denomina	 “frases	de	 arrastão”,	 que	 são	 frases	 que	
utilizam pouco e variados conectivos coordenativos, por exemplo: "pois é, é, 
então,	pois”.	Ainda	não	são	 recomendáveis	as	chamadas	“frases	deladainha”,	
que	utilizam	excesso	de	conectivos,	tais	como:	“viveu	feliz	e	leu	e	amou	e	chorou	
e	sofreu	e	morreu”.	Ou	mesmo	as	“frases	telegráficas”,	como:	“o	acusado	entrou	
na	audiência	e	sentou.	Abaixou	a	cabeça.	Estava	triste.	Sabia	da	condenação”.	
3.3 ESTÉTICA 
Uma	das	características	relevantes	na	comunicação	jurídica	é	a	elegância.	
O	direito	e	sua	linguagem	é	produto	de	uma	acumulação	histórica	milenar	que	se	
reveste	de	técnica.	É	neste	sentido	que	afirma	Reale	(1992,	p.	87):	
Os juristas falam uma linguagem própria e devem ter orgulho de 
sua	 linguagem	 multimilenar,	 dignidade	 que	 bem	 poucas	 ciências	
podem	invocar	[...]	antes	exige	os	valores	da	beleza	e	da	elegância"	e	
devem "ter vaidade da linguagem jurídica, uma das primeiras a 
se	 revestir	 de	 forma	 científica,	 continuando	 a	 ter,	 desde	 as	 origens,	
o Direito	Romano	como	fonte	exemplar	e	ponto	de	referência.
TÓPICO 2 — LINGUAGEM JURÍDICA
41
Você já deve ter se dado conta de que o direito é, por excelência, a arte e a 
ciência	da	palavra	e	que	deve	ser	boa	e	bem	elaborada,	porque	é	através	dela	que	o	
profissional	do	direito	se	expressa.	
Como	o	jurista	busca,	na	prática,	a	realização	do	justo	no	caso	concreto	no	
sentido	de	garantia	e	proteção	a	direitos,	tendo	na	pessoa	humana	e	sua	dignidade	
como	fonte	valorativa,	não	há	como	dissociar	a	técnica	da	ética.	
FIGURA 11 – CONCEITO DE ÉTICA
FONTE: <https://www.pensador.com/frase/MTI0ODIxMA/>. Acesso em: 22 abr. 2021.
A	figura	chama	a	atenção	para	o	fato	de	que	no	manejo	da	linguagem	jurídica,	
a	ética	se	define	como	parâmetro	para	seleção	de	termos	e	elaboração	do	discurso.
4 OS NÍVEIS DA LINGUAGEM JURÍDICA
Como já estudado, a linguagem em geral possui distintos níveis que se 
definem,	como	o	modo	de	falar	e	escrever	variam	de	acordo	com	as	circunstâncias	
e	habilidades	do	comunicante.	A	linguagem	jurídica	na	verdade	também	possui	
uma	 vasta	 gama	 de	 variáveis,	 uma	 vez	 que	 não	 há	 uma	 linguagem	 jurídica	
propriamente	dita,	mas	distintos	níveis	de	acordo	com	a	finalidade	para	a	qual	é	
utilizada.	Vejamos	alguns	distintos	níveis	da	linguagem	jurídica.
• Linguagem legislativa:	é	a	versão	da	linguagem	jurídica	utilizada	em	códigos,	
leis	esparsas	etc.	com	a	finalidade	de	criar	o	direito	em	hipótese.	
 Ex.: 
Artigo 5° da Constituição Federal: 
Todos	são	iguais	perante	a	lei,	sem	distinção	de	qualquer	natureza,	garantindo-
se	 aos	 brasileiros	 e	 aos	 estrangeiros	 residentes	 no	 País	 a	 inviolabilidade	 do	
direito	à	vida,	à	liberdade,	à	igualdade,	à	segurança	e	à	propriedade...
42
UNIDADE 1 — LINGUAGEM E LINGUAGEM JURÍDICA
Artigo 213 do Código Penal brasileiro: 
Constranger	alguém,	mediante	violência	ou	grave	ameaça,	a	ter	conjunção	
carnal	ou	a	praticar	ou	permitir	que	com	ele	se	pratique	outro	ato	libidinoso:	
(Redação	dada	pela	Lei	n°	12.015,	de	2009)
Pena	-	reclusão,	de	6	(seis)	a	10	(dez)	anos.	(Redação	dada	pela	Lei	n°	12.015,	
de	2009)
Observe	as	diferenças	nos	enunciados.	A	linguagem	empregada	é	bastante	
distinta.	No	caso	do	Artigo	5°	da	CF	há	uma	declaração	de	direito	e	para	tanto	a	
“montagem”	da	frase	é	apropriada	para	tal	finalidade.	Já	no	artigo	213	do	CP	há	
uma	definição	de	tipo	penal.	Perceba	a	diferença	na	montagem	das	orações	e	uso	
verbal.	No	caso	da	tipificação	inicia-se	a	frase	com	verbo	no	infinitivo	pessoal	a	
fim	de	conferir	“força”	e	coercibilidade	à	oração.		
• Linguagem processual ou forense: é a linguagem técnica utilizada nos 
processos	judiciais	a	fim	de	ser	aplicado	o	direito.
 Ex.: sentença	judicial.	
QUADRO 8 – SENTENÇA JUDICIAL
FONTE: <https://www.editorajuspodivm.com.br/cdn/
arquivos/424ab0ab1da4a9df40370eba8914289b.pdf>. Acesso em: 22 abr. 2021.
Além	 da	 linguagem	 técnica	 objetiva,	 com	 o	 uso	 de	 termos	 específicos	
(“emendar	 a	petição	 inicial”,	 “despacho”,	 “polo	 ativo”,	 “relação	processual”	 e	
“indeferimento”)	no	modelo	de	sentença	ao	final	há	as	palavras:	“Publique-se.	
Registre-se.	Intimem-se”	que	são	utilizadas	em	peças	processuais	desta	natureza	
e	com	sentido	específico,	qual	seja:	a	publicação	da	decisão	bem	como	dar	ciência	
da	sentença	à	parte	a	fim	de	gerar	efeitos	jurídicos.	
TÓPICO 2 — LINGUAGEM JURÍDICA
43
QUADRO 9 – CONTRATO DE COMODATO
FONTE: <https://domtotal.com/direito/pagina/detalhe/23130/civel-contrato-de-comodato>. 
Acesso em: 22 abr. 2021.
CONTRATO DE COMODATO
I- DAS PARTES
xxxxxxxx,	 brasileira,	 menor	 impúbere,	 neste	 ato	 representada	 por	 seu	 pai	
xxxxx,	brasileiro,	casado,	comerciante,	inscrito	no	CPF/MF	sob	o	n°	xxxxxxxx,	
residente	nesta	capital,	doravante	denominada	COMODANTE,	e
xxxxxxxxxx,	brasileira,	viúva,	aposentada,	inscrita	no	CPF/MF	sob	o	n°	-------
------------,	residente	nesta	capital,	doravante	denominada	COMODATÁRIAS.
 
xxxxxxxxxxx	 e	 sua	 mulher	 xxxxxx,	 brasileiros,	 casados,	 ele	 comerciantes,	
ela	 do	 lar,	 inscritos	 no	CPF/MF	 sob	 o	 n°	 xxxxxxx,	 doravante	 denominados	
ANUENTES.
II- DO OBJETO
O	presente	Contrato	tem	por	objeto	o	Comodato	do	bem	abaixo	descrito,	de	
propriedade	 da	COMODANTE,	 tendo	 como	usufrutuários	 os	ANUENTES,	
nos	termos	da	legislação	em	vigor:
Bem:	imóvel	constituído	pelo	apartamento	xxx	do	prédio	da	Rua	xxxxx	xxxx,	e	
a	correspondente	fração	ideal	xxxxdo	lote	n°	xxx,	do	quarteirão	xxxxxxx,	com	
área,	limites	e	confrontações	de	acordo	com	a	planta	respectiva,	tudo	conforme	
registro	no	Cartório	do	07°	Ofício	de	Registros	de	Imóveis	de	Belo	Horizonte/
MG,	livro	n°	xxxx,	matrícula	xxxxx,	datado	xxxx.
III- DO PRAZO
O	 prazo	 do	 presente	 contrato	 é	 indefinido,	 devendo	 as	 COMODATÁRIAS	
desocuparem	e	restituírem	o	imóvel	no	prazo	de	15	(quinze)	dias	após	simples	
notificação	da	COMODANTE.
IV- DAS CONDIÇÕES GERAIS
O imóvel dado em comodato na presente data, encontra-se em perfeito 
estado	 de	 conservação	 e	 limpeza,	 devendo	 ser	 desocupado	 e	 restituído	 à	
COMODANTE	nas	mesmas	condições.
Belo	Horizonte,	data	da	ocupação.
• Linguagem convencional ou contratual: é a linguagem jurídica utilizada nos 
contratos	através	dos	quais	se	criam	direitos	e	obrigações.
 Ex.: contrato	de	comodato	(tipo	de	contrato	aplicado	a	empréstimos	gratuito).
44
UNIDADE 1 — LINGUAGEM E LINGUAGEM JURÍDICA
Note	que	a	 linguagem	utilizada	no	contrato	acima	utiliza	termos	próprios	
como	“partes”,	“objeto”,	“prazo”	e	“condições	gerais”	bem	como	a	disposição	
dos	parágrafos	são	específicos,	por	exemplo,	descrevendo	o	bem	que	é	objeto	do	
contrato	e	condições	gerais.	
• Linguagem doutrinária: é a linguagem utilizada pelos pensadores 
(doutrinadores)	do	direito	e	tem	por	finalidade	discutir	os	conceitos	jurídicos	
utilizados	pelos	juristas.	
 Ex.: 
QUADRO 10 – LINGUAGEM DOUTRINÁRIA
FONTE: Kelsen (2001, p. 231-232)
“O	direito	é	uma	organização	da	 força.	Pois	o	Direito	vincula	certas	
condições	ao	uso	da	força	em	relações	entre	os	homens,	autorizando	o	emprego	
da	 força	apenas	por	certos	 indivíduos	e	apenas	sob	certas	circunstâncias.	O	
Direito	permite	a	conduta	que,	em	todas	as	outras	circunstâncias,	tem	de	ser	
considerada	proibida	....	A	técnica	social	que	chamamos	de	“Direito”	consiste	
em	 induzir	 o	 indivíduo,	 por	 meio	 específico,	 a	 se	 abster	 de	 intervenção	 à	
força	 nas	 esferas	 de	 interesse	 alheias:	 no	 caso	de	 tal	 intervenção,	 a	 própria	
comunidade	 jurídica	 reage	 com	 uma	 intervenção	 similar	 nas	 esferas	 de	
interesse	do	indivíduo	responsável	pela	intervenção	anterior”
Leia	com	atenção	o	conceito	utilizado	pelo	autor.	A	linguagem	é	específica	
(conceitual)	com	termos	próprios,	tais	como	“se	abster	de	intervenção”,	“esfera	
de	interesse	alheias”,	“comunidade	jurídica”,	dentre	outros.	
• Linguagem cartorária ou notarial:	 é	 a	 linguagem	 que	 tem	 por	 finalidade	
registrar	atos	de	direito.	
 Ex.: Certidão	de	casamento.
TÓPICO 2 — LINGUAGEM JURÍDICA
45
FIGURA 12 – CERTIDÃO DE CASAMENTO
FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/854909941757978988/?nic_v2=1a4VISTjO>. 
Acesso em: 22 abr. 2021.
46
UNIDADE 1 — LINGUAGEM E LINGUAGEM JURÍDICA
No	 documento	 cartorialacima	 (certidão	 de	 casamento)	 há	 termos	
específicos	tais	como	“matrícula”,	“regime	de	bens	de	casamento”,	“cônjuge”	etc.
Em	síntese,	“linguagem	jurídica”	é	uma	expressão	que	comporta	distintos	
níveis	 de	 acordo	 com	 a	 finalidade	 e	 destinatário.	 Utilizada	 desde	 intelectuais	
do direito, passando pela prática judicial e chegando no leigo, é uma forma de 
comunicação	que	se	caracteriza	por	sua	pluralidade.	
Neste	 sentido,	 afirma	Petri	 (2017,	p.	 49):	 “A	 linguagem	do	direito,	pois	
não	é	uma	língua	e	não	é	uma.	Mas	esta	linguagem	existe	sob	a	forma	de	dois	
elementos que a constituem in intellectu, em	seu	vocabulário,	e	 in actu, em seu 
discurso,	 em	diversos	níveis	 e	diversas	 relações	que,	 sobre	um	 fundo	comum,	
fazem	viver	múltiplas	manifestações”.	
Em	 relação	 à	 linguagem	 jurídica,	 nunca	 é	 demais	 lembrar	 que	 ela	 se	
caracteriza por ser simultaneamente: culta em sua origem, popular por sua 
destinação	e	técnica	em	sua	produção.	
47
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
•	 A	linguagem	jurídica	é	uma	das	manifestações	da	língua	portuguesa	aplicada	
à	atividade	profissional	dos	juristas.
 
•	 O	 excesso	 de	 uso	 de	 jargões	 jurídicos,	 que	 é	 o	 vocabulário	 próprio	 dos	
profissionais	da	área	é,	de	um	lado,	necessário,	e	de	outro,	uma	das	faces	do	
poder	simbólico	do	direito	que	constitui	uma	forma	de	controle	“consentida”	
ou	de	poder	simbólico.
 
•	 A	linguagem	jurídica	possui	características	próprias	sendo	simultaneamente:	
técnica	 e	 científica,	 lógica	 e	 com	 estilo	 próprio,	 concisa,	 estética	 e	 ética.	
Características	 que	devem	 ser	 conhecidas	 e	dominadas	pelo	profissional	do	
direito.
•	 A	 linguagem	 jurídica	 possui	 distintos	 níveis	 de	 acordo	 com	 a	 finalidade	 e	
destinatário.	 De	 leigos	 a	 intelectuais	 e	 pensadores	 do	 direito,	 a	 linguagem	
jurídica	é	plural,	o	que	exige	atenção	nas	distintas	formas	de	utilizá-la.
48
1	 A	 linguagem	 jurídica	 é	 definida	 como	 uma	 metalinguagem,	 ou	 seja,	 é	
uma	linguagem	específica	que	serve	para	descrever	o	conjunto	de	normas	
jurídicas que regulam a vida social sendo a necessidade primeira do 
jurista	compreendê-la	e	manejá-la	adequadamente.	Assinale	a	alternativa	
CORRETA	acerca	da	necessidade	de	domínio	da	linguagem	jurídica	pelo	
profissional	do	direito:
 
a)	(			)	A	 linguagem	 jurídica	é	uma	 linguagem	 técnica	própria	da	atividade	
dos	profissionais	do	direito.
b)	(			)	A	linguagem	jurídica	não	é	técnica,	mas	sim,	culta.
c)	 (			)	A	 linguagem	 jurídica	 é	 um	 conjunto	 de	 termos	 sofisticados	 e	 sem	
sentido.
d)	(			)	Um	 leigo	 do	 direito	 que	 tenha	 bom	 domínio	 da	 gramática	 também	
domina	a	linguagem	jurídica	por	ela	ser	genérica	e	universal.			
2	 O	 jargão	 é	 definido	 como	 vocabulário	 típico	 de	 uma	 especialidade	
profissional	 e	 é	 utilizado	 por	 um	 grupo	 de	 pessoas	 que	 compõem	
determinado	segmento	especializado.	O	 jargão	 jurídico	é	constituído	por	
um	 conjunto	 de	 expressões	 e	 palavras	 com	 sentido	 próprio.	 Acerca	 do	
jargão	jurídico,	assinale	a	afirmação	CORRETA:	
a)	 (			)	O	jargão	jurídico	não	tem	sentido	técnico.
b)	(			)	O	direito	expresso	na	linguagem	cria	e	mantém	uma	simbologia	própria	
fortalecida	pelos	jargões	jurídicos.
c)	 (			)	O	jargão	jurídico	é	desnecessário	na	atividade	profissional.
d)	(			)	Jargão	jurídico	e	normas	jurídicas	são	sinônimos.	
3	 A	linguagem	jurídica	possui	características	próprias	que	a	tornam	singular	
em	relação	à	língua	portuguesa.	Sua	particularidade	é	a	existência	de	um	
vocabulário	 técnico-científico	 próprio.	 Acerca	 da	 característica	 técnica-
científica	da	linguagem	jurídica,	assinale	a	afirmação	CORRETA:
a)	(			)	A	 linguagem	 jurídica	 não	 é	 técnica	 e	 sim	 um	 conjunto	 de	 termos	
sofisticados	compreendidos	somente	por	profissionais	do	direito.
b)	(			)	A	 linguagem	 jurídica	é	 técnica,	 criada	pela	 tradição	e	 renovada	pela	
jurisprudência	e	doutrina.
c)	 (			)	Não	 existe	 uma	 ciência	 do	 direito	 e	 sim	 uma	 linguagem	 técnica-
normativa.
d)	(			)	A	 linguagem	 jurídica	 não	 é	 parte	 da	 língua	 portuguesa	 por	 ser	
tecnicamente	específica.		
AUTOATIVIDADE
49
4	 Quanto	à	expressão	latina,	associe	corretamente	os	termos	a	seguir:	
A-	Erga	omnes
B-	 In	dubio	pro	reu
C-	Modus	operandi
D-	Habeas	corpus
(			)	 Expressão	utilizada	para	solicitação	do	direito	à	liberdade	para	evitar	a	
prisão	ou	a	continuidade	inadequada	dela.
(			)	 “Na	dúvida	para	o	réu”	e	é	utilizada	quando	se	pressupõe	a	inocência	do	
acusado.	
(			)	 É	a	expressão	utilizada	quando	uma	decisão	é	válida	para	todas	partes	
envolvidas.
(			)	 Significa	 uma	 forma	 de	 agir	 padronizada	 ou	 um	 comportamento	
convencional.	
Assinale	a	alternativa	que	apresenta	a	sequência	CORRETA:	
a)	 (			)	D	–	B	–	A	–	C.
b)	(			)	B	–	C	–	D	–	A.
c)	 (			)	C	–	B	–	A	–	D.	
e)	 (			)	D	–	A	–	C	–	B.	
5	 Uma	das	características	da	linguagem	jurídica	é	ser	lógica.	A	lógica	é	uma	
forma	específica	de	raciocinar	que	possibilita	a	organização	sistemática	e	
coerente	de	um	discurso.	Acerca	da	lógica	como	característica	da	linguagem	
jurídica	é	CORRETO	afirmar	que:	
a)	 (			)	A	lógica	é	evidenciada	na	clareza	e	uso	da	linguagem	de	tal	forma	que	
permite	evitar	a	ambiguidade	e	vagueza	da	mensagem.
b)	(			)	A	 lógica	 jurídica	 deve	 ser	 evitada	 a	 fim	 de	 garantir	 clareza	 na	
comunicação.
c)	 (			)	O	discurso	jurídico	é	técnico	e	não	lógico	
d)	(			)	A	lógica	aplica-se	às	ciências	exatas	e	não	ao	direito.
50
51
TÓPICO 3 — 
UNIDADE 1
VOCABULÁRIO JURÍDICO
1 INTRODUÇÃO
Como	 você	 deve	 ter	 percebido,	 o	 direito	 se	 manifesta	 e	 se	 concretiza	
através	da	linguagem,	que	é	aplicado	ao	caso	concreto	sob	a	forma	de	uma	decisão	
judicial	ou	administrativa.	Há	que	se	frisar	que	a	linguagem	jurídica	é	produto	
de	uma	longa	tradição	por	juristas,	tribunais	e	doutrinadores	do	direito,	o	que	faz	
com	que	seja	um	nível	culto	e	elevado	intelectualmente.	
Por	 essa	 razão,	 a	 linguagem	 jurídica	 é	 constituída	 por	 um	 complexo	
vocabulário	que	comporta	cuidado	para	ser	estabelecida	sua	adequada	significação,	
sendo	seu	estudo	essencial	para	a	formação	jurídica	para	que	o	profissional	da	
área	possa	se	expressar	objetiva	e	adequadamente,	daí	a	importância	do	domínio	
do	vocabulário	jurídico.	
Porém,	 o	 vocabulário	 jurídico	 carrega	 consigo	 vícios	 para	 os	 quais	
devemos	estar	atentos.	Polissemia,	Homonímia,	Sinonímia,	Paronímia,	Vagueza	
e	 Ambiguidade	 são	 os	 desafios	 a	 serem	 enfrentados	 pelos	 juristas	 a	 fim	 de	
adequadamente	interpretar	e	aplicar	a	norma	jurídica.		
São	“ruídos”	na	comunicação	jurídica	que	depois	de	bem	compreendidos	
e	identificados	devem	ser	superados.	
Vamos	para	o	último	tópico	desta	primeira	unidade?	E	não	deixe	de	fazer	
as	autoatividades	ao	final	do	tópico.	
2 POLISSEMIA
Até	 o	momento	 estudado	 já	 deve	 estar	 bastante	 claro	 que	 a	 linguagem	
jurídica	utiliza	termos	com	sentido	específico,	porém	utilizando	palavras	que	não	
são	exclusivamente	jurídicas,	o	que	gera	a	polissemia.	Polissemia	é	quando	uma	
palavra	comporta	múltiplos	significados	tendo	sentido	jurídico	como	não	jurídicos.	
52
UNIDADE 1 — LINGUAGEM E LINGUAGEM JURÍDICA
É	o	que	acontece	com	a	palavra	“direito”.	É	um	termo	que	se	origina	do	
latim directus (direito,	reto),	mas	que	é	adotada	com	múltiplas	acepções.	Segundo	
Trubilhano	e	Henriques	(2019,	p.	37),	somente	a	palavra	“direito”	comporta	as	
seguintes	significações:
•	 Conjunto	 de	 normas	 jurídicas	 positivadas	 por	 instituições	
politicamente	 legítimas	 e	 regulam	 a	 vida	 social.	 É	 o	 também	
chamado	direito	positivo;
• Faculdade do jurisdicionado de exigir em juízo interesses, 
necessidades	e	valores	assegurados	em	lei;
• Conjunto de conhecimento, disciplinas e cursos necessários à 
formação	jurídica;
•	 O	oposto	do	errado;
•	 O	retilíneo;
•	 O	oposto	ao	esquerdo;
•	 O	que	é	justo	de	acordo	com	normas	morais	e	éticas.	
As	palavras	 e	 expressões	 jurídicas,	 por	 comportarem	distintos	 significados,exigem	rigor	de	critérios	para	o	estabelecimento	de	critérios	para	a	determinação	
correta	de	sentido,	uma	vez	que	utiliza	termos	da	língua	corrente.	
A	polissemia	no	campo	jurídico	ocorre	de	duas	maneiras:
• Polissemia externa: ocorre	 quando	 uma	 palavra	 possui	 um	 significado	 na	
linguagem	coloquial	–	sentido	comum	–	e	outro	na	linguagem	jurídica.	
 Ex.: 
◦	 “sentença”	:	
▪	 Na	linguagem	coloquial	significa	uma	frase,	uma	oração	oral	ou	escrita.	
Ex.:	Paulo	escreveu	a	seguinte	sentença	no	e-mail:	enviar	o	documento.
▪	 Na	 linguagem	 jurídica	significa	a	decisão	final	de	um	em	relação	a	um	
processo.	Ex.:	A	sentença	do	Juiz	Antonio	de	Carvalho	indeferiu	o	pedido	
de	prisão	preventiva	de	João	da	Silva.
◦	 “ação”:	
▪	 Na	 linguagem	 coloquial	 refere-se	 ao	 verbo	 agir.	 Ex.:	 Penso	 antes	 de	
cometer	qualquer	ação.
▪	 Na	linguagem	jurídica	significa	o	ato	de	requerer	 intervenção	ou	tutela	
judicial	a	fim	de	solucionar	um	litígio.	Ex.:	Paulo	Souza	entrou	com	ação	
judicial	requerendo	pensão	alimentícia.	
◦	 “despacho”:		
▪	 Na	linguagem	coloquial	significa	oferenda	à	entidade	divina	realizada	em	
ritual	religioso.	Ex.:	Maria	da	Graça	fez	um	despacho	no	mar	no	primeiro	
dia	do	ano	para	Iemanjá.
▪	 Na	linguagem	jurídica	é	o	ato	de	expedir	ou	deferir.	É	a	decisão	tomada	por	
uma	autoridade	competente.	Ex.:	A	ação	tinha	como	pedido	a	revogação	
da	liminar	por	cinco	dias	contados	a	partir	do	despacho	do	juiz.	
TÓPICO 3 — VOCABULÁRIO JURÍDICO
53
• Polissemia interna:	ocorre	quando	há	mais	de	um	significado	jurídico.	
 Ex.:
◦	 “prescrição”:	
▪	 Pode	significar	determinação	ou	definição	legal.	Ex.:	A	lei	prescreve	que	o	
recurso	de	apelação	deve	ser	interposto	no	prazo	de	15	dias.	
▪	 Também	pode	significar	a	perda	de	um	direito	por	decurso	de	prazo.	Ex.:	O	
prazo	de	prescrição	para	requerer	indenização	por	dano	moral	é	de	5	anos.	
◦	 “alvará	judicial”:	
▪	 É	 uma	 ordem	 judicial	 na	 qual	 aquele	 que	 requer	 necessita	 de	 uma	
autorização	 judicial	 para	 a	 prática	 de	 determinado	 ato.	 Ex.:	 Expede-se	
alvará	judicial	para	que	Mariana	Fernandes	realize	o	saque	do	FGTS.
▪	 Pode	 também	 significar	 pedido	 para	 expedição	 de	 alvará	 judicial	 para	
a	 intervenção	do	 juiz	 em	situação	específica.	Ex.:	Paulo	Silveira	 solicita	
alvará	judicial	para	revisão	do	inventário	de	seu	pai.	
◦	 “autos”:
▪	 Significa	o	conjunto	de	documentos	físicos	que	compõem	o	processo.	Ex.:	
O	documento	está	nos	autos	do	processo.
▪	 Também	 pode	 significar	 documento	 público	 ou	 solene	 emanado	 de	
autoridade	competente	com	a	função	de	notificar	alguém	a	cumprir	uma	
ordem	legal.	Ex.:	Luiz	recebeu	o	Auto	de	Infração	de	trânsito	para	pagar	a	
multa	imposta.	
3 HOMONÍMIA
Ocorre	 homonímia	 quando	 as	 palavras	 possuem	 a	mesma	 grafia	 ou	 a	
mesma	pronúncia,	porém	com	significados	diferentes.	Esclarecem	Trubilhano	e	
Henriques	(2019,	p.	38)	que	“[...]	homonímia	é	a	identificação	fônica	(homofonia)	
ou	a	identidade	gráfica	(homografia)	dos	fonemas	que	não	tem	o	mesmo	sentido,	
de	 modo	 geral”.	Adotando	 a	 distinção	 feita	 pelo	 referido	 autor,	 temos	 então	
Homonímia	 como	 gênero	 que	 se	 desdobra	 em	 duas	 espécies:	Homofonia	 (ou	
Homônimos)	e	Homografia	(ou	Homógrafos).	
Exemplos de Homônimos Homófonos:
•	 Cessão:	ato	ou	efeito	de	ceder	algo	ou	direito.
	 Sessão:	reunião,	por	exemplo,	sessão	de	julgamento.
	 Seção:	repartição,	por	exemplo,	seção	de	direito	público.	
•	 Remissão:	perdão.	
	 Remição:	resgate,	liberação,	pagamento.
•	 Cassar:	revogar,	anular,	proporcionar	privação.
	 Caçar:	procurar,	perseguir.
54
UNIDADE 1 — LINGUAGEM E LINGUAGEM JURÍDICA
Exemplos de Homônimos Homógrafos:
FIGURA 13 – EXEMPLOS DE HOMÔNIMOS HOMÓGRAFOS:
FONTE: A autora
• ato judicial praticado fora do fórum por ordem judicial;
• cuidado, zelo;
• investigação, pesquisa
"diligência"
• queda
• perda de um direito"decadência"
Há	relevância	dos	homônimos	para	além	do	sentido	jurídico	que	trazem	
consequências	no	mundo	do	direito.	Você	já	ouviu	falar	de	pessoas	que	mudaram	
de	nome	com	autorização	judicial?	Como	regra	geral,	pelo	estabelecido	no	artigo	
58	da	Lei	n°	6015/1973	(BRASIL,	1973),	o	prenome	é	definitivo,	por	ser	esta	uma	
norma	de	ordem	pública.	Contudo,	há	situações	em	que	é	alteração	do	prenome,	
tais como: 
•	 Quando	 o	 prenome	 expõe	 seu	 portador	 ao	 ridículo,	 ao	 vexame,	 que	 cause	
constrangimento,	 segundo	 o	 disposto	 no	 artigo	 55	 da	 Lei	 n°	 6015/73.	 Ex.:	
Em	 1972	 por	 força	 de	 decisão	 judicial	 do	 Tribunal	 de	 Justiça	 de	 São	 Paulo	
(RT	 443/146)	 foi	 permitida	 a	 alteração	 do	 nome	 Kumio	 Tanaka	 para	 Jorge	
Tanaka	uma	vez	que	a	pronúncia	do	nome	(“Kumi	o	Tanaka”)	ridicularizava	
seu	portador	que	era	vítima	de	escárnio,	tendo	sido	resolvida	a	situação	com	
mudança	autorizada.
•	 Ainda	 quando	 for	 caso	 de	 nomes	 iguais,	 que	 é	 um	 fenômeno	 comum	 em	
nosso	 cotidiano,	 há	 uma	 grande	 discussão	 judicial,	 isto	 porque	 há	 sérios	
problemas	 com	 inclusão	 indevida	em	cadastros	 restritivos	de	 consumidores	
(SPC/SERASA),	 certidões	positivas	de	distribuidores	 judiciais,	nos	 cadastros	
criminais	do	Instituto	de	Identificação	etc.	
4 SINONÍMIA E PARONÍMIA
Sinonímia	se	define	quando	há	mais	de	um	vocábulo	com	a	mesma	ou	quase	
a	mesma	significação,	por	exemplo,	os	termos	“casa”,	“lar”,	“residência”,	“solar”.	
Para	Trubilhano	e	Henriques	(2019),	a	identificação	de	acepções	que	constituem	
sinonímia apresenta-se como total ou stricto sensu e parcial ou parassinonímia ou 
quase sinonímia. A	sinonímia	 total ocorre entre termos cujo sentido cognitivo e 
afetivo	são	equivalentes.	A	rigor,	apenas	ocorre	sinonímia	total	se	as	palavras	são	
TÓPICO 3 — VOCABULÁRIO JURÍDICO
55
sinônimas em qualquer contexto, sem mais sutil ou pequena que seja a mudança 
no	sentido.	Desde	tal	concepção,	na	prática,	não	haveria	sinonímia	absoluta,	uma	
vez	que	não	existem	palavras	com	sentidos	idênticos.
No	campo	jurídico	há	predominância	de	termos	com	sentido	denotativo,	
ou	seja,	em	seu	sentido	literal	ou	real,	como	as	palavras	“crime”	e	“delito”.	Cada	
qual	possui	o	tom	afetivo	ou	expressivo	específico,	utilizando-o	de	acordo	com	o	
contexto	e	necessidade	que	o	discurso	exige.	
Paronímia	 ocorre	 quando	 há	 afinidade	 de	 palavras	 de	 sentido	 diverso	
em	relação	a	outras,	quer	pela	forma	gráfica	quer	pelo	som.	Tal	ocorrência	exige	
atenção	e	cuidado,	pois	são	termos	parecidos	e,	por	essa	razão,	geram	equívocos	
sobretudo	na	área	 jurídica.	São	exemplos	de	parônimos	comuns	na	 linguagem	
jurídica:
•	 Prover:	 deferir	 (recurso)	 ou	 fornecer	 algo	 necessário/	 Provir:	
originar-se	ou	proceder.
•	 Infligir:	impor	ou	aplicar	uma	pena/	Infringir:	desobedecer.
•	 Mandado:	 ordem	 ou	 determinação	 judicial/	 Mandato:	 outorga	 de	
poderes	de	representação	ou	contrato	cujo	instrumento	é	a	procuração.
•	 Elidir:	suprimir	ou	excluir/	Ilidir:	refutar	ou	anular.
•	 Eminente:	insigne	ou	excelente/	Iminente:	próximo	a	ocorrer.
•	 Delação:	ato	de	delatar	ou	indicar	autoria/	Dilação:	ao	de	dilatar	ou	
prologar,	por	exemplo,	um	prazo.
•	 Flagrante:	o	que	acabou	de	acontecer/	Fragrante:	aromático.
•	 Tráfico:	praticar	comércio	ilegal	ou	ato	de	traficar/	Tráfego:	fluxo	ou	
ato	de	trafegar.
Salientam	 Trubilhano	 e	 Henriques	 (2019)	 que	 há	 “parentesco”	 entre	
paronímia	 e	 paranomásia,	 que	 é	 o	 “jogo”	 de	 palavras	 com	 sons	 semelhantes,	
porém	de	 sentidos	diferentes.	Exemplo:	não	há	que	 se	 confundir	habeas corpus 
com habeas copo	ou	o	clássico	“capitão	de	fragata	com	cafetão	de	gravata”.
5 AMBIGUIDADE E VAGUEZA
Como	já	vimos,	na	comunicação,	“ruído”	é	considerado	tudo	aquilo	que	
pode atrapalhar a mensagem, fazendo com que se torne pouco clara, com duplo 
sentido	ou	mesmo	incompreensível,	fazendo	com	que	o	receptor	não	compreenda	
como	deveria	o	sentido	desejado	pelo	comunicante.	
Um	dos	“ruídos”	na	comunicação	é	a	ambiguidade.	O	termo	“ambiguidade”	
se origina do latim ambiguitas, que	significa	equívoco	ou	incerteza.	Também	sua	
origem porser relacionada ao termo grego amphibolia, que quer dizer duplicidade 
de	 sentido.	 Portanto,	 ambiguidade,	 por	 sua	 origem	 etimológica,	 pode	 ser	
compreendida	como	“duplo	sentido”	de	uma	mensagem	como	um	todo,	de	um	
termo	ou	de	uma	expressão.	
56
UNIDADE 1 — LINGUAGEM E LINGUAGEM JURÍDICA
FIGURA 14 – CONCEITO DE AMBIGUIDADE
FONTE: <https://www.dicio.com.br/ambiguidade/>. Acesso em: 22 abr. 2021.
QUADRO 11 – EXEMPLOS DE FRASES COM AMBIGUIDADE
FONTE: <https://www.significados.com.br/exemplos-de-ambiguidade/>. Acesso em: 22 abr. 2021.
• João foi atrás do taxi correndo.
Na	frase	acima	a	palavra	“correndo”	é	utilizada	de	tal	forma	que	não	é	possível	ter	certeza	
sobre	o	sentido	da	frase.	Afinal:	João,	correndo,	foi	atrás	do	taxi	ou	João	foi	atrás	do	taxi	que	
passou correndo?
• Antônio sentou no sofá e quebrou o braço.
Na	frase	a	palavra	“braço”	permite	mais	de	um	significado.	Afinal:	Antônio	sentou	e	quebrou	
o	braço	do	sofá	ou	Antônio	ao	sentar	no	sofá	quebrou	seu	próprio	braço?
A	ambiguidade	está	presente	em	todas	as	formas	de	comunicação.	Observe	a	
imagem	a	seguir.	São	inúmeras	as	possibilidades	de	interpretação,	uma	vez	que	o	
observador,	de	acordo	com	o	enfoque,	tenha	distinta	interpretação.	Afinal,	o	que	
há	na	figura?	Ambiguidade	não	está	presente	apenas	na	linguagem	jurídica,	mas	
em	todas	formas	de	linguagem,	inclusive	as	não	verbais.	
FIGURA 15 – AMBIGUIDADE LINGUAGEM NÃO VERBAL
FONTE: <http://sobreasletras.blogspot.com/2011/05/ambiguidade.html>. Acesso em: 22 abr. 2021.
TÓPICO 3 — VOCABULÁRIO JURÍDICO
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Na	 figura	 acima,	 o	 que	 você	 vê	 primeiro?	 Tente	mostrar	 a	 figura	 para	
outras	pessoas	e	verá	que	serão	diferentes	as	primeiras	impressões!!!	
Ambiguidade	 é	 considerada	 como	um	vício	de	 linguagem,	 isto	 é,	 uma	
espécie	de	“desvio”	ou	 inadequação	de	uso	das	normas	estabelecidas	pela	 língua	
portuguesa.	
Vícios	 de	 linguagem	 são	 alterações	 defeituosas	 de	 uma	 língua	padrão,	
produzidas	por	ignorância,	descuido	ou	descaso	por	parte	do	emissor.	
QUADRO 12 – TIPOS DE VÍCIO DE LINGUAGEM
Tipo Conceito Exemplo
Cacoepia É	a	má	pronúncia	de	uma	palavra
Compania	(em	vez	de	
companhia),	gor	(em	vez	de	
gol),	cadalço	(em	vez
de	cadarço);
Silabada É	a	troca	de	acentuação	prosódica	de uma palavra 
Récorde	(em	vez	de	recorde),	
rúbrica	(em	vezde	rubrica),	
íbero	(em	vez	de	ibero);	
Cacografia É	a	má	grafia	ou	má	flexão	de	uma	palavra
Maizena	(em	vez	de	maisena),	
cidadões	(em	vez	de	cidadãos),	
interviu	(em	vez	de	interveio)	
Deslize É	o	mau	emprego	de	uma	palavra
	Mala	leviana	(por	mala	leve),	
peixe	com	espinho	(por	peixe	
com	espinha),	vultuosa	quantia	
(por	vultosa	quantia).	
Estrangeirismo
Abuso	do	emprego	de	palavras	estrangeiras,	
grafando-as	como	na	língua	de	origem.	Por	
princípio,	todo	estrangeirismo	que	não	possuir	
equivalente adequado em nossa língua deve 
ser	aportuguesado.
Abajur,	boate,	garagem,	
coquetel, checape, píteça, 
xampu,	xortes,	e	não	abat-jour,	
boite,	garage,	cocktail,	check-
up, pizza, shampoo, shorts
De 
concordância
Concordância	é	o	mecanismo	pelo	qual	algumas	
palavras	alteram	suas	terminações	para	
adequar-se	à	terminação	de	outras	palavras
Houveram	eleições	(por	houve	
eleições),	o	pessoal	chegaram	
(por	o	pessoal	chegou);
De regência
Regência	nominal	é	a	relação	de	dependência	
que	se	estabelece	entre	o	nome	(substantivo,	
adjetivo	ou	advérbio)	e	o	termo	por	ele	regido.	
A	regência	verbal	estuda	a	relação	que	se	
estabelece	entre	os	verbos	e	os	termos	que	
os	complementam	(objetos	diretos	e	objetos	
indiretos)	ou	caracterizam	(adjuntos	adverbiais)	
Assisti	esse	filme	(por	assisti	a	
esse	filme),	ter	ódio	de	alguém	
(por	ter	odio	a	alguém),	não	lhe	
conheço	(por	não	o	conheço)
De colocação
Um	dos	aspectos	da	harmonia	da	frase	refere-
se	à	colocação	dos	pronomes	obliquos	átonos.	
Tais	pronomes	situam-se	em	três	posições:
-	Antes	do	verbo	(próclise):	Não	te conheço.	
-	No	meio	do	verbo	(mesóclise):	Avisar-te-ei.	
-	Depois	do	verbo	(ênclise):	Sente-se,	por	favor.
Darei-lhe	um	abraço	(por	
dar-lhe-ei	um	abraço),	tenho	
queixado-me	bastante	(por	
tenho	me	queixado	bastante)
FONTE: <https://blog.maxieduca.com.br/vicios-de-linguagem/>. Acesso em: 22 abr. 2021.
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UNIDADE 1 — LINGUAGEM E LINGUAGEM JURÍDICA
A	ambiguidade	é	um	tipo	de	vício	de	linguagem	que,	embora	podendo	
ser	utilizado	em	alguns	casos	como	na	poesia	ou	literatura,	não	é	admitido	na	
linguagem técnica, como é o caso da linguagem jurídica, pela exigência de clareza 
e	 precisão	 no	 uso	 dos	 termos.	 Informalmente	 ou	 mesmo	 na	 linguagem	 oral	
coloquial,	a	ambiguidade	é	utilizada	e	pode	denotar	até	certa	simpatia,	porém	é	
necessário	estar	atento	para	não	ser	utilizada	no	campo	jurídico.	
No	campo	do	direito,	em	que	surgem	controvérsias	e	conflitos,	desacordos	
e incertezas, pode frequentemente surgir, exatamente, como veremos mais 
adiante,	dada	a	generalidade	e	abstração	da	norma	jurídica	cuja	interpretação	e	
aplicação	dependem	muito	do	contexto	em	que	é	utilizada.
Podem	 ser	 inúmeras	 as	 situações	 em	 que	 ocorre	 ambiguidade,	 porém	
destacaremos	algumas	a	fim	de	que	você	as	evite.	
• Uso indevido de pronome possessivo: pode ocorrer quando há mais de um 
sujeito na sentença e o uso de qualquer pronome possessivo pode causar 
equívocos.	 Ex.:	 O	 Comandante	 Cardozo	 pediu	 ao	 soldado	 Fernandes	 que	
pegasse sua munição.	De	quem	era	a	munição?	Do	Comandante	Cardozo	ou	
do soldado Fernandes? 
• Colocação inadequada de palavras: quando pela sintaxe da frase há prejuízo 
no	 entendimento.	 Ex.:	 O	 depoente	 mal-humorado	 resmungou	 durante	 a	
audiência.	Ser	mal-humorado	é	uma	característica	do	depoente	ou	foi	somente	
durante a audiência? 
• Uso indevido de formas nominais:	 ocorre	 quando	 a	 ambiguidade	 aparece	
pelo	uso	de	verbos	na	forma	nominal	(gerúndio,	particípio	ou	infinitivo).	Ex.:	A	
testemunha	viu	Pedro	correndo.	Quem	estava	correndo:	a	testemunha	ou	Pedro?
 
A	vagueza,	de	maneira	distinta	da	ambiguidade,	é	quando	um	termo	ou	
expressão	se	apresenta	de	maneira	incerta	ou	imprecisa.	
FIGURA 16 – CONCEITO DE VAGUEZA
FONTE: <https://www.dicio.com.br/vagueza/>. Acesso em: 22 abr. 2021.
TÓPICO 3 — VOCABULÁRIO JURÍDICO
59
Sem	dúvida,	um	dos	fatores	relacionados	à	vagueza	no	direito	é	a	própria	
dificuldade	do	legislador	em	legislar	sobre	fatos	e	eventos	futuros.	A	questão	que	
fazemos	na	área	jurídica	diz	respeito	à	vagueza:	o	direito,	por	sua	natureza,	não	
possuiria	uma	linguagem	aberta	e	vaga	já	que	são	inúmeras	as	possibilidades	de	
sentido da norma jurídica?
No campo jurídico há o caso do que se costuma chamar de vagueza conceitual. 
Você poderá conhecer o caso do conceito de “concurso de pessoas” especificado no artigo 
288 do Código Penal brasileiro. Leia mais em: https://canalcienciascriminais.jusbrasil.com.
br/artigos/295703564/a-vagueza-conceitual-e-o-delito-de-associacao-criminosa.
DICAS
Em	 síntese,	 existem	 diversos	 fatores	 que	 prejudicam	 a	 comunicação,	
dentre	os	quais,	a	ambiguidade	e	a	vagueza.	A	primeira	é	definida	como	uma	
incerteza	designativa	e	ocorre	quando	coexistirem	dois	ou	mais	significados.	A	
ambiguidade	pode	ser	de	vários	tipos,	como	o	caso	de	palavras	iguais	na	forma,	
mas	de	origem,	gênero	e	significados	diferentes,	homônimos.	Ex.:	“peça”	(parte	
de um instrumento/mecanismo ou juridicamente parte de um processo judicial – 
peças	processuais).	
Já	a	vagueza,	por	sua	vez,	não	há	precisão	para	sua	aplicabilidade	porque	
existem	inúmeras	possibilidades	em	que	ocorre	e	depende	do	contexto.	No	caso	
do	 direito,	 especificamente,	 há	 o	 caso	 de	 vagueza	 normativa.	 Ex.:	 o	 artigo	 5°	
da	Constituição	Federal	 estabelece	no	 inciso	LXXVIII	que	“a	 todos,	no	âmbito	
judicial	e	administrativo,	são	assegurados	a	razoável	duração	do	processo	e	os	
meios	que	garantam	a	celeridade	de	sua	tramitação”.	O	que	é	“razoável	duração	
do	processo”?	O	que	 é	 aceitável?	O	que	 é	 sensato?	Na	prática,	 cabe	 ao	Poder	
Judiciário	estabelecer	o	que	é	razoável	para	si.É	um	parâmetro	que	depende	da	
atuação	dos	advogados,	que	devem	exigir	a	garantia	de	um	direito	constitucional	
líquido	e	certo	e	do	próprio	Judiciário,	como	poder	público	que	tem	o	dever	em	
observar	os	padrões	mínimos	de	razoabilidade	para	não	permitir	que	um	direito	
possa	perecer.		
60
UNIDADE 1 — LINGUAGEM E LINGUAGEM JURÍDICA
LEITURA COMPLEMENTAR
“A ELITIZAÇÃO DA LINGUAGEM JURÍDICA COMO OBSTÁCULO AO 
ACESSO À JUSTIÇA”
Renata	Martins	de	Sousa
A	possibilidade	de	todos	terem	acesso,	sem	restrições,	à	tutela	jurisdicional	
constitui	uma	das	grandes	preocupações	da	sociedade	contemporânea.
Cappelleti	e	Garth	(1988,	p.12)	destacam	que	o	acesso	à	Justiça	pode	ser	
encarado "como o requisito fundamental — o mais básico dos direitos — de um sistema 
jurídico moderno e igualitário que pretende garantir, e não proclamar os direitos de todos".
A	ideia	de	acesso	à	Justiça,	que	tomou	relevo	sobretudo	no	bojo	do	Estado	
Social,	não	implica,	porém,	apenas	possibilitar	o	acesso	à	Justiça	como	instituição	
estatal,	mas	também	viabilizar	o	acesso	à	ordem	jurídica	justa	(GRINOVER,	1996,	
p.	115-116).
Dada	a	relevância	da	matéria,	o	acesso	à	Justiça,	ao	menos	em	tese,	é	um	
direito	humano	consagrado	pela	grande	maioria	das	Constituições.	No	Brasil,	o	
citado	direito	encontra-se	previsto	no	artigo	5°,	XXXV,	da	Constituição	Federal,	
segundo o qual "a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça 
a direito".
Contudo,	 a	 despeito	 de	 sua	 previsão	 no	 plano	 formal,	 não	 há	 como	
desconsiderar	 a	 existência	 de	 inúmeros	 obstáculos	 que	 tendem	 a	 refletir	
diretamente	na	capacidade	de	efetividade	de	tal	direito.	Nesse	sentido,	a	título	de	
mera	ilustração,	cabe	mencionar	que	o	próprio	hermetismo	da	linguagem	jurídica	
pode	figurar	como	um	instrumento	de	cerceamento	do	amplo	acesso	à	Justiça.
Quanto	 a	 isso,	 convém	 lembrar	 que	 a	 linguagem	 e	 o	 Direito,	 como	
práticas	sociais,	são	elementos	 interligados,	não	se	questionando	o	fato	de	que	
o	 discurso	 jurídico	 no	 país,	 geralmente	 estabelecido	 por	 meio	 de	 linguagem	
formal	 (expressões	 técnicas),	 torna-se	 inacessível	 à	maioria	das	pessoas,	 o	que	
leva	alguns	a	denunciar	que	a	matriz	liberal	do	Direito	se	ocupa,	assim,	de	ocultar	
a	realização	de	propósitos	autoritários.
A	própria	análise	das	obras	da	 literatura	brasileira,	que	se	ocupam	das	
razões	 que	 operam	 a	 marginalização	 e	 a	 exclusão	 social	 no	 país,	 facilita	 no	
processo	de	compreensão	do	uso	erudição	da	linguagem	jurídica	no	Brasil.	Nessa	
lógica,	cumpre	destacar,	que	ao	tratar	da	formação	do	patronato	político-jurídico	
no	país,	 o	 sociólogo	Raymundo	Faoro	 (2001,	 p.	 885),	 além	de	 advogar	 que	 as	
especificidades	brasileiras	decorreriam	de	sua	herança	lusitana,	também	apresenta-nos	
uma	concepção	de	que	o	estamento	patrimonial	 continua	a	controlar	o	Estado	
TÓPICO 3 — VOCABULÁRIO JURÍDICO
61
brasileiro	segundo	 interesses	particularistas,	 fazendo	perpetuar	um	sistema	de	
privilégios	 no	 âmbito	 do	 aparelho	 estatal,	 inclusive	 por	meio	 do	 emprego	 do	
formalismo jurídico, traduzido, em grande medida, por leis, retóricas e elegantes, 
criadas dentro de uma estrutura tendenciosa a concentrar o poder político nas 
mãos	 de	 poucos.	 Sintetizando	 tais	 ideias,	 destaca	 o	 sociólogo:	 "O poder — a 
soberania nominalmente popular — tem donos, que não emanam da nação, da sociedade, 
da plebe ignara e pobre"	(FAORO,	2001,	p.	885).
Nessa	 linha	 de	 reflexão,	 é	 possível	 apontar	 que,	 no	 Brasil,	 além	 dos	
obstáculos	 diretamente	 relacionados	 às	 desigualdades	 sociais	 que,	 há	 muito,	
protraem-se no tempo, o próprio tecnicismo da linguagem, aliado ao uso 
de	 vestes	 talares	 nos	 tribunais	 e	 o	 uso	 das	 formalidades	 excessivas	 dos	 ritos	
judiciários,	 também	 corrobora	 para	 o	 afastamento	 do	 cidadão	 comum	 das	
instâncias	do	Judiciário	e,	por	conseguinte,	do	pleno	acesso	à	Justiça.
Deveras,	 a	 linguagem	 rebuscada	 da	 legislação	 e	 seu	 distanciamento	
da	 linguagem	 coloquial,	 além	 de	 impedir	 a	 necessária	 comunicação	 entre	 os	
jurisdicionados,	 por	 vezes	 também	 implica	 em	 dificuldade	 de	 compreensão	
por	parte	dos	próprios	profissionais	da	área	 jurídica.	Senão	vejamos.	Em	meio	
a	um	julgamento,	o	magistrado	de	Barra	Velha,	comarca	de	Santa	Catarina,	teria	
proferido a seguinte ordem: "Encaminhe o acusado ao ergástulo público"	(Jornal	Folha 
de São Paulo,	23/1/2005,	com	adaptações).	A	sofisticação	da	linguagem	por	parte	
do	magistrado,	Ricardo	Roesler,	impossibilitou	que	sua	ordem	fosse	cumprida	de	
imediato,	dada	a	ausência	de	compreensão	por	parte	dos	 servidores	do	Poder	
Judiciário	 acerca	 do	 sentido	 e	 significado	 da	 expressão	 "ergástulo"	—	palavra	
arcaica	usada	como	sinônimo	de	cadeia.	Quando	Roesler	descobriu	que	nem	seus	
subordinados	entendiam	o	que	ele	falava,	decidiu	substituir	os	termos	pomposos	
e	os	em	latim	por	palavras	mais	simples.
Em	 meio	 a	 tal	 contexto,	 marcado	 pela	 vagueza	 e	 violência	 simbólica	
do estilo hermético que muitas vezes se transmuda em exercício de poder e 
intimidação	 contra	 os	 mais	 humildes,	 propõe-se	 a	 adequação	 da	 linguagem	
jurídica	na	interlocução	das	partes	processuais,	com	vista	a	possibilitar	mudanças	
progressivas	no	universo	do	Direito.
Com efeito, o fomento ao emprego de técnicas processuais amparadas 
na	simplicidade	e	informalidade,	contribuem	para	o	empoderamento	de	grupos	
oprimidos	e	a	garantia	de	seus	direitos,	além	de	propiciar	a	interação	das	pessoas	
comuns	 com	 a	 cultura	 jurídica	 e	 estimulá-las	 a	 deliberar	 e	 apresentar	 seus	
argumentos	no	processo	decisório,	refutando	concepções	paternalistas	e	elitistas.
Ao	destacarem	a	necessidade	de	 a	Constituição	 ser	 levada	a	 sério	pela	
sociedade,	 ponderam	 Soares	 e	 Barros,	 citando	 Pablo	 Lucas	 Verdú	 (VERDÚ,	
1998	 apud	 SOARES;	 BARROS,	 2014,	 p.	 163),	 que	 o	 sentimento	 constitucional	
se manifesta como "expressão de afeição do cidadão pela justiça e pela equidade, 
62
UNIDADE 1 — LINGUAGEM E LINGUAGEM JURÍDICA
relacionando-se diretamente à norma fundamental, pois esta dispõe sobre valores como 
liberdade".	Daí	surge	a	necessidade	de	se	encontrar	mecanismos	aptos	a	incorporar	
as	pessoas	que	não	têm	acesso	à	justiça,	repensando	as	instituições	para	o	povo,	
para	o	qual	a	Constituição	foi	criada.
Logo,	 estando	assentado	que	o	 cidadão	 comum	deve	 integrar	 a	ordem	
jurídica,	 não	 podendo	 figurar	 como	 mero	 espectador,	 resta	 comprovada	 a	
relevância	 da	 simplicidade	 da	 linguagem	 jurídica,	 que	 pode	 figurar	 como	
mais	 uma	 ferramenta	 de	 emancipação	de	 enorme	 contingente	 de	 pessoas	 que	
encontram	obstáculos	quanto	ao	acesso	à	Justiça.
Ressalte-se,	 nesse	 sentido,	 o	 trabalho	 desempenhado	 pela	 Defensoria	
Pública,	 instituição	 ligada	 ao	 sistema	 de	 Justiça	 que,	 calcada	 na	 expansão	 da	
cidadania, além de prestar o serviço de assistência jurídica integral aos vulneráveis, 
encontra-se	 diretamente	 comprometida	 com	 a	 democratização	 e	 pluralização	
do	acesso	à	 Justiça,	priorizando	a	clareza	e	 transparência	na	comunicação	com	 
seus	assistidos.
À	luz	do	princípio	da	dignidade	humana,	a	Defensoria	não	se	presta	apenas	
ao	patrocínio	judicial	da	causa	dos	necessitados	(condição	que	deve	ser	aferida	do	
ponto	de	vista	não	apenas	econômico,	mas	também	social	e	organizacional),	uma	
vez	que	também	é	responsável	pela	orientação	extrajudicial	de	enorme	parcela	
da	população,	 fomentando	 a	participação	popular,	 possibilitando	 a	prevenção	
de	 litígios	 e	 educando	 grupos	 vulneráveis	 na	 consolidação	 de	 seus	 direitos	 e	
garantias	fundamentais.
Assim,	no	 intuito	de	 franquear	o	acesso	à	 Justiça	a	 todos,	bem	como	a	
necessária	 acessibilidade	 ao	 seu	 público-alvo,	 afastando-se	 do	 cientificismo	
exacerbado,	 a	 instituição	 prima	 pelo	 emprego	 da	 linguagem	 coloquial,	
reconhecendo	que	esta	exerce	um	papel	indispensável	na	constituição	significativa	
do	mundo	e	do	próprio	Direito.Cabe,	 nesse	 aspecto,	 citar	 iniciativas	 simples	 tomadas	 por	 órgãos	 de	
execução	da	Defensoria	de	todo	o	país,	capazes	de	ilustrar	a	atuação	da	instituição	
no	papel	de	educação	em	direitos	e	promoção	da	inclusão,	por	meio	da	linguagem.	
A	Defensoria	Pública	do	Estado	da	Bahia,	por	exemplo,	lançou	no	fim	do	ano	de	
2019	cartilha	que	trata	dos	direitos	das	pessoas	com	deficiência,	objetivando	criar	
condições	para	que	os	cidadãos	possam	ocupar	mais	os	espaços	de	reivindicação	
e	de	construção	de	políticas	públicas.	A	publicação	busca	sintetizar	em	linguagem	
acessível	 o	 rol	 das	 garantias	 legais	 do	 público	 das	 pessoas	 com	 deficiência,	
como	 o	 direito	 à	 saúde,	 à	mobilidade,	 educação,	 trabalho,	 previdência,	 lazer,	
acessibilidade,	entre	outros.
Seguindo	a	mesma	trilha,	a	Defensoria	Pública	do	Estado	do	Pará	lançou,	
no	mesmo	período,	o	Manual	de	Direitos	do	Cidadão	na	Abordagem	Policial.	A	
ideia partiu de uma demanda exposta por movimentos sociais, em decorrência de 
TÓPICO 3 — VOCABULÁRIO JURÍDICO
63
algumas	abordagens	policiais	que	possivelmente	violaram	os	direitos	humanos.	
Como foi solicitado pelas lideranças, o manual é acessível e possui uma linguagem 
simples,	tendo	por	finalidade	permitir	que	os	cidadãos	entendam	os	seus	direitos	
diante	de	tal	situação.
Os	casos	acima	retratados	revelam	a	preocupação	por	parte	da	Defensoria	
em	educar	a	população,	por	meio	de	linguagem	acessível	para	o	alcance	de	todos,	
além	de	reconhecer	na	alteridade	um	pressuposto	filosófico	relevante	e	capaz	de	
fundar um discurso que reconhece os invisíveis como humanos, empreendendo 
esforços para assegurar aos seus assistidos patamares mínimos necessários de 
tutela	da	dignidade	humana.
Por derradeiro, medidas como essas tornam-se necessárias para gerar 
conhecimento	e	condições	para	superação	de	problemas	sociais	e	estruturais	da	
sociedade	brasileira,	identificando	e	combatendo	situações	de	opressão	e	violação	
de direitos humanos, além de alçar os indivíduos	 à	 condição	 de	 verdadeiros	
cidadãos.
Com	base	nas	considerações	tecidas,	necessário	identificar	que	o	Judiciário	
e	as	instituições	que	integram	o	sistema	de	Justiça	devem	perder	seu	isolamento	
e articular-se com a sociedade civil, priorizando o emprego de uma linguagem 
acessível	 e	 menos	 elitizada,	 de	 forma	 a	 contribuir	 para	 fazer	 minimizar	 as	
injustiças	ocorridas	à	 luz	de	uma	ordem	constitucional	e	para	a	construção	de	
uma	Justiça	de	proximidade,	assegurando	ao	cidadão	comum	condições	de	poder	
se	expressar	juridicamente,	com	base	em	mecanismos	postos	à	disposição.
 
FONTE: <https://www.conjur.com.br/2020-set-29/tribuna-defensoria-elitizacao-linguagem-
juridica-obstaculo-acesso-justica>. Acesso em: 22 abr. 2021.
64
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
•	 A	linguagem	jurídica	utiliza	termos	com	sentido	específico,	porém	são	palavras	
que	 não	 são	 exclusivamente	 jurídicas,	 o	 que	 produz	polissemia,	 que	 ocorre	
quando	uma	palavra	comporta	múltiplos	significados	jurídicos	e	não	jurídicos.
•	 A	polissemia,	na	 linguagem	jurídica,	ocorre	de	maneira	 interna	e	externa.	A	
primeira	é	quando	há	mais	de	um	significado	jurídico	e	a	segunda	quando	o	
termo	possui	um	sentido	jurídico	e	outro	na	linguagem	coloquial.
•	 Homonímia	 é	 quando	 as	 palavras	 possuem	 a	 mesma	 grafia	 ou	 a	 mesma	
pronúncia,	 porém	 com	 significados	 diferentes	 cujo	 conhecimento	 evita	
consequências	não	desejadas	no	mundo	jurídico.
•	 A	 sinonímia	 e	 paronímia	 são	 vícios	 de	 linguagem	 que	 no	 direito	 ocorrem	
comumente,	mas	devem	ser	reconhecidos	e	bem	utilizados,	quando	for	o	caso,	
no	mundo	jurídico.
•	 A	 ambiguidade	 e	 a	 vagueza,	 embora	 estando	presente	 em	 todas	 formas	 de	
comunicação,	 no	 campo	 do	 direito	 onde	 surgem	 controvérsias	 e	 conflitos,	
desacordos	e	incertezas	podem	surgir	que	depende	do	contexto	em	que	incide.
Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem 
pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao 
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
CHAMADA
65
1	 A	linguagem	jurídica	utiliza	termos	com	sentido	específico,	porém	utilizando	
palavras	 que	 não	 são	 exclusivamente	 jurídicas,	 o	 que	 gera	 a	 polissemia.	
Polissemia	é	quando	uma	palavra	comporta	múltiplos	significados	tendo	
sentido	jurídico	como	não	jurídicos.	A	polissemia	no	campo	jurídico	ocorre	
de	 duas	maneiras,	 quais	 sejam:	 polissemia	 externa	 e	 polissemia	 interna.	
Acerca	do	conceito	de	polissemia	interna,	assinale	a	afirmação	CORRETA:
a)	(			)	É	aquela	que	ocorre	quando	a	palavra	possui	o	mesmo	significado	na	
linguagem	jurídica	e	na	coloquial.
b)	(			)	É	quando	um	termo	possui	mais	de	um	significado	jurídico.
c)	 (			)	Ocorre	quando	a	lei	estabelece	o	sentido	do	termo	jurídico.	
d)	(			)	Quando	a	palavra	possui	a	mesma	grafia	e	mesma	pronúncia.	
2 Homonímia é um vício de linguagem que ocorre quando as palavras 
possuem	a	mesma	grafia	ou	a	mesma	pronúncia,	porém	com	significados	
diferentes.	 Podem	 ocorrer	 de	 duas	 formas:	 homônimos	 e	 homógrafos.	
Quanto	aos	homônimos	homógrafos,	assinale	a	afirmação	CORRETA:	
a)	 (			)	São	 definidos	 como	 as	 palavras	 que	 possuem	 a	 mesma	 grafia	 com	
sentidos	distintos.
b)	(			)	São	 as	 palavras	 ou	 termos	 jurídicos	 com	 a	 mesma	 grafia	 e	 mesmo	
sentido.
c)	 (			)	São	os	termos	jurídicos	escritos	em	latim.
d)	(			)	São	as	palavras	jurídicas	utilizadas	no	sentido	coloquial.
3	 Considere	a	seguinte	afirmação:		
“Aberta	 a	 temporada	de	 caça	 a	um	antigo	 inimigo	da	 Justiça,	 que	 a	 corrói	
por dentro tanto quanto a morosidade nas sentenças e a estrutura arcaica dos 
tribunais.	É	o	juridiquês,	o	uso	de	um	português	arrevesado,	palavrório	cheio	
de	raciocínios	labirínticos	e	expressões	pedantes.
O vetusto vernáculo manejado no âmbito dos excelsos pretórios, inaugurado a partir 
da peça ab ovo, contaminando as súplicas do petitório, não repercute na cognoscência 
dos frequentadores do átrio forense.”
FONTE: <https://www.estrategianaadvocacia.com.br/artigos2.asp?id=156#.X6G2gflKjIU>. 
Acesso em: 22 abr. 2021.
A	 afirmação	 refere-se	 ao	 chamado	 “juridiquês”,	 que	 é	 o	 uso	 excessivo	
e	 desnecessário	 de	 uma	 linguagem	 rebuscada.	 Escreva	 como	 esse	 vício	
linguístico	comum	no	mundo	jurídico	impede	o	acesso	à	justiça.
AUTOATIVIDADE
66
REFERÊNCIAS
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São	Paulo:	Loyola,	2007.
BAKHTIN,	M.	Marxismo e filosofia da linguagem. 12.	ed.	São	Paulo:	Hucitec,	2006.	
BOURDIEU,	P.	O poder simbólico.	Tradução	Fernando	Tomaz,	
10.	ed.	Rio	de	Janeiro:	Bertrand	Brasil,	2007.
BRASIL.	Lei n° 13.05 de 16 de março de 2015.	Disponível	em:	Disponível	em:	
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BRASIL.	Lei n° 10.406 de 10 de janeiro de 2002.	Disponível	em:	http://www.
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IHERING,	R.	V.	A luta pelo direito (der kampf um´s Recht).	Tradução	de	João	
Vasconcelos.	São	Paulo:	Forense,	2006.	
KELSEN,	H.	O que é Justiça? 3.	ed.	São	Paulo:	Ed.	Martins	Fontes,	2001.	p.	231-232.
PETRI,	M.	J.	C.	Manual de Linguagem Jurídica. 3.	ed.	São	Paulo:	Saraiva,	2017.	
REALE,	M.	O Direito como experiência:	introdução	à	
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SAUSSURE,	F.	Curso de linguística geral.	4.	ed.	São	Paulo:	Cultrix,	1972.	 
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TRUBILHANO,	F.,	HENRIQUES,	A.	Linguagem Jurídica e Argumentação: 
teoria	e	prática.	6.	ed.	São	Paulo:	Atlas	editora,	2019.
67
UNIDADE 2 — 
LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO 
JURÍDICA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• diferenciar oratória de retórica;
•	 identificar	os	fatores	relevantes	de	oratória	e	retórica;
•	 compreender	 a	 relevância	 da	 oratória	 jurídica	 para	 o	 exercício	 da	
atividade	profissional	na	área	jurídica;
•	 definir	 a	 retórica	 enquanto	 arte	 e	habilidade	 adquirida	pelo	orador	de	
forma	a	se	comunicar	de	maneira	clara	e	eloquente	a	fim	de	persuadir;
•	 compreender	 a	 origem	 e	 construção	 histórica	 da	 retórica	 desde	 a	
Antiguidade	grega,	seu	legado	e	redefinição	pela	linguística	moderna	e	
contemporânea;	
•	 conceituar	 a	 argumentação	 como	 processo	 de	 estruturação	 de	 um	
raciocínio	lógico	e	coerente	que	tem	como	propósito	convencer	alguém	
para	modificar	seu	comportamento	ou	opinião;	
•	 identificar	os	diferentes	elementos	que	constituem	a	argumentação;	
•	 diferenciar	 os	 tipos	 de	 argumentos	 mais	 utilizados	 de	 acordo	 com	 a	
finalidade;
•	 conceituar	e	diferenciar	as	falácias	argumentativas	compreendidas	como	erros	
lógicos,	conscientes	ou	não,	que	conduzem	a	pré-compreensões	equivocadas	
produzindo	preconceitos	ilegítimos,	estereótipos	e	más	decisões;	
•	 compreender	 as	 diferentes	 figuras	 de	 linguagem	 enquanto	 estratégias	
utilizadas	pelo	orador;
•	 definir	a	argumentação	jurídica	como	estratégia	específica	de	convencimento;
•	 identificar	o	processo	de	construção	do	processo	argumentativo	no	direito	
com	vistas	a	produzir	um	resultado	válido	juridicamente;	
•	 relacionar	lógica	e	argumentação	de	forma	a	compreender	a	elaboração	
de	premissas	válidas	e	conclusões	jurídicas	adequadas;
•	 compreender	o	direito	como	um	sistema	lógico.
PLANO DE ESTUDOS
Esta	unidade	está	dividida	em	três	tópicos.	No	decorrer	da	unidade,	
você	 encontrará	 autoatividades	 com	 o	 objetivo	 de	 reforçar	 o	 conteúdo	
apresentado.
TÓPICO	1	–	ORATÓRIA:	CONCEITO	E	CARACTERÍSTICAS
TÓPICO	2	–	ARGUMENTAÇÃO:	CONCEITOS	E	ELEMENTOS	
CARACTERIZADORES
TÓPICO	3	–	DIREITO,	ARGUMENTAÇÃO	E	LÓGICA	JURÍDICA
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Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
69
UNIDADE 2
TÓPICO 1 — 
ORATÓRIA: CONCEITO E CARACTERÍSTICAS
1 INTRODUÇÃO
Desde	 os	 primórdios	 das	 civilizações	 humanas	 encontramos	 registros	 de	
uso	da	oratória	 como	 instrumento	persuasivo.	A	oratória	 é	definida	 como	um	
conjunto	 de	 habilidades	 que	 permitem	 falar	 com	 desenvoltura	 e	 eloquência,	
demonstrando	conhecimento	e	domínio	do	conteúdo	da	mensagem.
Neste	 primeiro	 tópico,	 estudaremos	 os	 elementos	 que	 caracterizam	
a	 boa	 oratória,	 tais	 como	 a	 dicção,	 entonação	 e	 gesticulação	 que	permitem	 ao	
orador	transmitir	uma	mensagem	de	maneira	agradável	e	convincente,	que	são	
importantes	instrumentos	para	o	profissional	da	área	jurídica.	
Ainda,	você	conhecerá	alguns	dos	grandes	oradores	da	história.	Procure	
observar	as	técnicas	utilizadas.	Lembre-se	de	que	a	oratória	é	uma	habilidade	que	
pode	ser	adquirida	e	aprimorada.	
2 ORATÓRIA
Não	 é	 incomum	 os	 termos	 oratória	 e	 retórica	 serem	 equivocadamente	
utilizados	como	sinônimos,	uma	vez	que	ambos	possuem	conceitos	semelhantes	
e	estão	relacionados	com	a	habilidade	de	comunicação.
Como	veremos	a	seguir,	a	retórica	é	mais	abrangente	e	é	independente	da	
existência	de	uma	plateia,	e	tem	o	claro	objetivo	de	persuadir	o	público.	Alguém	
que	possua	boa	retórica	pode	se	comunicar	não	estando	necessariamente	diante	
de	um	público.
Define-se	a	oratória	como	a	arte	de	bem	falar	em	público,	de	forma	eloquente	
e	é	uma	forma	específica	de	comunicação.	É	uma	habilidade	comunicar-se	com	
confiança	e	clareza.	Portanto,	ter	boa	oratória	é	fundamental	para	se	expressar	de	
maneira	convincente.	
Entretanto,	oratória	não	é	somente	falar	bem	em	público.	Existem	fatores	
com	determinam	a	maneira	com	que	um	discurso	é	recebido	pelo	público.	O	tom	
de	voz,	a	expressão	facial,	a	postura	e	a	linguagem	corporal	implicam	diretamente	
na	boa	comunicação.	Portanto,	o	bom	orador	se	comunica	bem	utilizando	tanto	a	
linguagem	verbal	como	a	não	verbal.	
UNIDADE 2 — LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
70
A	 oratória	 é	 considerada	 um	 conhecimento	 específico	 constituído	 por	
meios	 e	 regras	 através	 das	 quais	 se	 chama	 a	 atenção	 e	 influencia	 o	 público	
ouvinte.	 Se	 é	 um	 conhecimento	 pode	 ser	 aprendido	 através	 do	 domínio	 de	
técnicas	específicas.	
Como	 já	 estudado,	 a	 comunicação	 é	 a	 transmissão	 de	 uma	mensagem	
para	um	receptor.	Receptor	poderá	ser	tanto	uma	multidão	como	um	pequeno	
grupo	de	indivíduos.	A	oratória	independe	do	número	de	receptores,	mas	sim	da	
capacidade	de	convencimento	do	orador.	
Quais	são	os	principais	fatores	relacionados	à	oratória?	Todo	discurso	tem	
seu	 início	com	um	bom	planejamento.	É	necessário	escolher	adequadamente	o	
conteúdo	que	possa	ser	desenvolvido	no	tempo	estipulado	para	a	apresentação.	
O	que	será	dito	deve	ser	selecionado	considerando	o	impacto	que	deverá	causar	
nos	ouvintes	e	que	possa	ser	interessante	e	compreendido.		
Chegada	a	hora	de	falar	em	público,	quais	fatores	são	relevantes?	
•	 Dicção:	é	a	 forma	como	o	orador	articula	e	pronuncia	as	palavras.	Porém,	a	
boa	dicção	não	significa	que	o	indivíduo	não	se	expresse	de	maneira	adequada	
porque	é	comum	a	dificuldade	na	pronúncia	de	certas	palavras.	Muitas	vezes	
são	pequenos	erros	que	podem	estar	relacionados	aos	hábitos	de	linguagem	de	
uma	determinada	cultura.		
FIGURA 1 – E QUANDO A LÍNGUA “TRAVA”? COMO TER BOA DICÇÃO?
FONTE: <https://www.estudokids.com.br/20-trava-linguas-folclore/>. Acesso em: 26 abr. 2021.
São	 inúmeras	 as	 técnicas	 que	 podem	 ser	 utilizadas	 para	 “destravar	 a	
língua”	e	adquirir	uma	boa	dicção.	Os	fonoaudiólogos	ensinam	que	é	necessária	
uma	boa	respiração	e	aquecimento	dos	músculos	do	rosto	e	da	língua	com	alguns	
pequenos	exercícios	diários,	como	falar	trava-línguas,	uma	espécie	de	brincadeira	
que	 devem	 ser	 ditos	 inicialmente	 devagar	 e	 depois	 ir	 acelerando.	 São	 frases	
populares	tais	como:	"Sabendo	o	que	sei	e	sabendo	o	que	sabes	e	o	que	não	sabes	e	
o	que	não	sabemos,	ambos	saberemos	se	somos	sábios,	sabidos	ou	simplesmente	
saberemos	se	somos	sabedores."
TÓPICO 1 — ORATÓRIA: CONCEITO E CARACTERÍSTICAS
71
Outro	bom	recurso	é	a	leitura	em	voz	alta	de	textos	e	poemas	clássicos	e	
a	escrita.	Vamos	conhecer	como	essas	técnicas	foram	utilizadas	por	Demóstenes,	
o	orador	gago.
FIGURA 2 – DEMÓSTENES, O GRANDE ORADOR GAGO
FONTE: <https://amenteemaravilhosa.com.br/demostenes-grande-orador-gago/>. 
Acesso em: 26 abr. 2021.
No	breve	texto	a	seguir,	você	conhecerá	a	história	de	Demóstenes,	um	dos	
maiores	oradores	de	todos	os	tempos	e	que	teve	que	superar	suas	dificuldades	
físicas	com	sacrifícios	 inimagináveis	para	atuar	de	forma	brilhante	nos	antigos	
tribunais	gregos.	É	um	exemplo	que	nos	inspira.	
Na fantástica e emocionante história da oratória através dos tempos, o grego 
Demóstenes certamente foi o maior de seus personagens, porque, sem dúvida, quem mais 
sacrifícios pessoais fez para realizar seus sonhos e objetivos.
 Nasceu em 333 Antes de Cristo. Era filho de um rico industrial, falecido quando 
tinha apenas 07 anos de idade. Órfão, ficou sob a tutela de parentes que acabaram 
dilapidando parte de sua fortuna.
 Aos 14 anos, pela permanente e dedicada leitura, já possuía instrução cultural 
suficiente para compreender, inclusive, a linguagem prolixa de Calístrato, um dos mais 
veementes oradores da época.
 Como habilidosa técnica de aprendizagem dos segredos de falar em público, 
copiava pacientemente a história de Thucydides,orador famoso pela sonoridade das 
suas palavras.
 
INTERESSA
NTE
UNIDADE 2 — LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
72
 E, por não preencher, ainda, os requisitos necessários para se tornar advogado e falar 
nos Tribunais, Demóstenes se tornou escritor de discursos pronunciados por outros oradores.
 Interessante é que, nessa condição, podia pedir a palavra depois do cliente, para 
esclarecimentos. Sua sofrível dicção, porém, não o ajudava muito.
 Nervoso na tribuna, se perturbava, se confundia, e provocava risos nos ouvintes. Além 
disso, tinha peito fraco, articulação defeituosa, e o estranho vício de levantar constantemente 
uma das espáduas, sendo por isso várias vezes, vaiado e ridicularizado em público.
 Mas, não desistiu. Tinha uma meta a cumprir.
 Disposto a vencer, procurou fortificar os pulmões com exercícios físicos diários. 
A gagueira nervosa, dominou falando ao mar, à exaustão, com seixos na boca. E, para tirar 
o vício de levantar descontroladamente o ombro, ficava debaixo da ponta de uma espada 
dependurada, ferindo-se, a sangrar, cada vez que a tocava.
 O mais comovente é que, para não se distrair no esforço de vencer as dificuldades 
desse dramático treinamento, fechava-se num subterrâneo e mandava raspar seu cabelo 
e barba, para que, por qualquer motivo, não se sentisse tentado a ir para as ruas, já que 
pessoalmente inadequado à vida social da época.
 Ao mesmo tempo, o grande amigo Satyros, famoso comediante, ensinava-lhe a 
pronúncia exata das palavras, a ação e tom de falar em voz alta, e a arte da declamação.
 Seu esforço não foi em vão. Demóstenes não apenas venceu os defeitos físicos, 
como aprendeu a falar corretamente, tornando-se o mais completo orador da Grécia, e o 
maior exemplo de tenacidade em todos os tempos.
 Certo, pois, que o bom orador não nasce feito. Ao contrário, é natural consequência 
de paciente e permanente treinamento das regras de comunicação.
FONTE: <https://www.abracrim.adv.br/artigos/um-historico-exemplo-de-persistencia-e-
superacao-demostenes-o-maior-orador-da-grecia-antiga>. Acesso em: 26 abr. 2021.
• Gesticulação: seguramente,	você	já	ouviu	a	frase:	“o	corpo	fala”	e	o	que	isso	
significa?	Ao	nos	 comunicarmos,	 temos	posturas	 corporais	para,	na	maioria	
das	vezes,	inconscientemente,	darmos	ênfase	ao	que	falamos.	
O	que	 fazemos	com	o	corpo	expressa	nosso	domínio	emocional.	Como	
usar	as	mãos?	A	cabeça	deve	ser	mantida	erguida?	Andar	ao	falar	é	necessário?	
Não	há	uma	fórmula	pronta	para	todas	as	situações	e	pessoas,	mas	é	necessário	
dar	atenção	à	postura.	
TÓPICO 1 — ORATÓRIA: CONCEITO E CARACTERÍSTICAS
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FIGURA 3 – LINGUAGEM CORPORAL
FONTE: <http://linguagemdocorpo.blogspot.com/2008/10/captulo-12-aplicaes-prticas.html>. 
Acesso em: 26 abr. 2021.
A	gesticulação	deve	ser	sempre	moderada	e	natural,	sem	exageros	e	deve	
estar	em	sintonia	com	a	fala.	Há	que	se	considerar	o	tamanho	do	público	e	seu	
nível	intelectual.	Para	um	número	menor	de	pessoas	e	com	maior	intelectualidade	
não	 é	 recomendável	 muita	 gesticulação.	 O	 olhar	 é	 uma	 linguagem	 corporal	
relevante	para	a	boa	comunicação.	Para	que	o	público	se	sinta	parte	da	exposição	
é	necessário	que	de	direcione	o	olhar	para	cada	uma	das	pessoas.	Enfim,	o	bom	
orador	utiliza	os	gestos	corporais	como	importante	meio	de	comunicação.	
• Intensidade de voz: você	já	deve	ter	notado	que	as	pessoas	tímidas	falam	em	
tom	de	voz	baixo	 e,	 em	alguns	 casos,	 chega	 a	 ser	 inaudível.	O	bom	orador	
sabe	dosar	 o	 tom	de	voz	de	 acordo	 com	a	mensagem.	A	 entonação	vocal	 é	
um	instrumento	muito	poderoso	para	o	convencimento.	A	altura,	velocidade	e	
impostação	da	voz	são	medidores	de	uma	boa	comunicação.	Falar	aos	berros	
cria	 bloqueios	 e	 ruídos	 na	 comunicação	 da	 mesma	 forma	 que	 falar	 muito	
devagar	gera	desinteresse	e	desestímulo	para	o	público.	
Ao	longo	da	história,	os	grandes	líderes	ganharam	destaque	e	arrastaram	
multidões	pelo	poder	da	oratória.	Vamos	conhecer	a	capacidade	de	convencimento	
de	importantes	personagens	da	história	e	as	técnicas	utilizadas	por	cada	um	deles.	
UNIDADE 2 — LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
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• Nelson Mandela e a pausa no discurso: Rolihiahia	 Dalibhunga	 Mandela	
(1918-2013),	filho	de	importante	chefe	tribal,	ao	iniciar	seus	estudos	recebeu	o	
nome	inglês	de	“Nelson”	e	teve	acesso	a	importantes	escolas	para	negros	da	
elite,	 tendo	 ingressado	no	curso	de	Direito	em	1939,	mas	o	abandonou	para	
se	dedicar	à	 luta	 contra	o	 regime	político	de	 segregação	 racial	na	África	do	
Sul.	Em	1964	foi	condenado	à	prisão	perpetua	até	que,	em	1984,	por	pressão	
internacional	 é	 proposto	 acordo	 para	 trocar	 a	 liberdade	 pelo	 abandono	
da	militância	 política,	mas	 ele	 se	manteve	 firme	 a	 seus	 ideais.	 Em	 1990	 foi	
libertado	e,	em	1994,	Mandela	conquistou	as	eleições	multirraciais,	tornando-
se	presidente	da	África	do	Sul.	Seus	discursos	eram	repletos	de	pausas,	dando	
a	impressão	de	reflexão.	
Veja o discurso de posse de Mandela “chegou o momento de construir”. 
Observe as pausas ao falar em reconciliação, paz e harmonia. 
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ircG8scNUWg&feature=emb_title.
DICAS
• Martin Luther King e a repetição:	 King	 (1929-1968)	 foi	 importante	 ativista	
na	defesa	dos	direitos	civis	dos	negros	nos	Estados	Unidos	da	América.	Filho	
de	 pastores	 da	 Igreja	 Batista	 seguiu	 o	 mesmo	 caminho	 após	 formar-se	 em	
Teologia.	Defensor	da	igualdade	racial	provocou	a	ira	de	autoridades	e	grupos	
racistas	 como	 a	 Ku	 Klux	 Klan	 que,	 com	 violência,	 atacavam	 os	 militantes	
da	 luta	 antirracial.	Um	de	 seus	discursos	mais	 famosos	 -	 I have a dream	 (eu	
tenho	um	sonho)	-	foi	em	1963,	quando	liderou	uma	marcha	sobre	a	cidade	de	
Whashington	reunindo	250	mil	pessoas.	Foi	assassinado	no	dia	04	de	abril	de	
1968	na	cidade	de	Memphis.	
Conheça dois discursos de Martin Luther King. O discurso “eu tenho um sonho”. 
Além da belíssima e humanitária mensagem na defesa da igualdade, observe a repetição 
com ênfase e repetição da frase “eu tenho um sonho”. 
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=aWlhPFHOl-Y.
 Outro discurso de King no mesmo estilo e comovente é seu último discurso 
conhecido como “eu estive no topo da montanha”, proferido dias antes de ser assassinado. 
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=RWlSc63xkfk.
DICAS
TÓPICO 1 — ORATÓRIA: CONCEITO E CARACTERÍSTICAS
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• Charlie Spencer Chaplin e o poder da oratória na crítica contra o nazismo: 
Chaplin,	 (1889-1977)	além	de	ator,	 escritor,	 comediante	e	diretor	de	cinema,	
destacou-se	como	um	grande	orador.	No	filme	O grande ditador,	de	1940,	profere	
um	dos	belos	discursos	contra	o	nazismo,	o	fascismo	e	regimes	autoritários	em	
geral.	É	um	discurso	extremamente	atual	no	qual	 são	utilizadas	as	diversas	
formas	de	linguagem	demonstrando	inigualável	oratória.	
Conheça o discurso de Charles Chaplin feito no filme O grande ditador. 
Observe o domínio das palavras, a mudança de tom de voz, o olhar e gestos corporais. 
Sem dúvida, além do conteúdo sensível e autêntica declaração em defesa da liberdade é 
autêntica lição de oratória. 
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=K2K9519Upe.
DICAS
3 A ORATÓRIA NO CAMPO JURÍDICO
Após	o	estudo	inicial	da	oratória,	você	já	percebeu	sua	importância	para	
o	profissional	do	ramo	do	direito.	É	uma	ferramenta	essencial	para	a	atividade	
jurídica.	 Sua	 importância	 é	 reconhecida	 no	 próprio	 Estatuto	 da	 Ordem	 dos	
Advogados	 do	 Brasil	 (BRASIL,	 1994)	 em	 seu	 artigo	 n°	 7,	 que	 estabelece	 as	
situações	em	que	o	advogado	deve	se	manifestar	oralmente:	
IX-	 sustentar oralmente	as	razões	de	qualquer	recurso	ou	processo,	
nas	sessões	de	 julgamento,	após	o	voto	do	relator,	em	instância	
judicial	ou	administrativa,	pelo	prazo	de	quinze	minutos,	salvo	se	
prazo	maior	for	concedido.
X-	 usar da palavra,	 pela	 ordem,	 em	 qualquer	 juízo	 ou	 tribunal,	
mediante	 intervenção	 sumária,	 para	 esclarecer	 equívoco	 ou	
dúvida	 surgida	 em	 relação	 a	 fatos,	 documentosou	 afirmações	
que	influam	no	julgamento,	bem	como	para	replicar	acusação	ou	
censura	que	lhe	forem	feitas;
XI-	 reclamar, verbalmente ou por escrito,	 perante	 qualquer	 juízo,	
tribunal	ou	autoridade,	contra	a	inobservância	de	preceito	de	lei,	
regulamento	ou	regimento;
XII-	falar,	sentado	ou	em	pé,	em	juízo,	tribunal	ou	órgão	de	deliberação	
coletiva	 da	 Administração	 Pública	 ou	 do	 Poder	 Legislativo	
(BRASIL,	1994,	p.	3).
No	 cotidiano,	 o	profissional	do	direito	obriga-se	 a	usar	 a	oratória	para	
expor	seus	argumentos,	influindo	diretamente	na	decisão	de	um	processo	judicial.	
Neste	 sentido,	 expõe	 Bradi	 (apud	 CAVALCANTI,	 1999,	 p.	 12):	 “Dominando	
a	 “arte	 da	 oratória”,	 podemos	 informar	 comunicar	 ideias,	 defender,	 refutar,	
realizar	discursos	ou	falar	com	propriedade.	São	essas	oportunidades	que	fazem	
da	 oratória	 uma	 arte	 sempre	 atual,	 cujo	 conhecimento	 tanto	 é	 imprescindível	
para	o	triunfo	social	quanto	para	promover	o	próprio	trabalho”.
UNIDADE 2 — LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
76
Evidentemente,	 se	 o	 profissional	 do	 direito	 não	 souber	 organizar	 suas	
ideias	 e	 expô-las	 de	 maneira	 ordenada,	 objetiva	 e	 clara	 estará	 colocando	 em	
risco	a	 concretização	da	 justiça	no	caso	concreto,	 isso	porque	é	uma	atividade	
profissional	que	depende	da	capacidade	de	bem	falar.	
A	chamada	oratória	forense	é	aquela	utilizada	no	cotidiano	dos	tribunais,	
seja	 na	 sustentação	 oral	 ou	mesmo	 na	 sustentação	 de	 um	 recurso.	Ainda	 nas	
audiências,	 o	 profissional	 do	 Direito	 necessita	 fazer	 intervenções	 a	 fim	 de	
esclarecer	dúvidas	ou	equívocos	que	podem	interferir	diretamente	no	julgamento	
de	uma	causa	ou	mesmo	replicar	afirmações	que,	no	 seu	entender,	devem	ser	
contestadas,	usando-se	a	expressão	“pela	ordem”.	
A diferença das expressões “questão de ordem” e 
“pela ordem” no Tribunal do Júri
 Na maior parte de um júri, a defesa passa sentada na sua bancada como mera 
expectadora do julgamento. Legalmente, falará por no máximo duas horas e meia 
(art. 477 do CPP). Ocorre que há situações em que se deve invocar a palavra da bancada para 
não só garantir a plenitude de defesa, mas também a plenitude do exercício profissional, 
sendo elas as seguintes:
1. "Questão de ordem"
O mecanismo da “questão de ordem” serve para suscitar questões de direito, principalmente 
quando o advogado se depara com alguma ilegalidade. A palavra deve ser requerida ao 
juiz, que, em razão do advogado arguir “questão de ordem”, deve lhe conceder a palavra 
para que a fundamente, ou seja, indique qual o dispositivo legal está sendo violado e em 
razão de quais motivos. No Tribunal do Júri, o fundamento dessa situação está previsto 
no art. 497, X, do CPP, que prevê, como atribuição do juiz presidente resolver as questões 
de direito  suscitadas  no curso do julgamento. O advogado deve sempre requerer que 
a “questão de ordem” por ele suscitada seja registrada em ata, com fundamento no art. 495, 
incisos XIV e XV, do CPP, tendo em vista que, se não estiver registrada, haverá grande 
probabilidade de ser considerada preclusa, por inobservância ao art. 571, VIII, do CPP.
2. "Pela ordem"
É extremamente comum o termo “pela ordem” ser usado como se fosse “questão de 
ordem”, de modo que, embora, por costume, sejam utilizadas como se sinônimas fossem. 
Tecnicamente não o são. O mecanismo do uso da palavra “pela ordem” é uma prerrogativa 
do advogado prevista no art. 7°, inciso X, da Lei n. 8.906/94. Trata-se do uso da palavra 
mediante “intervenção sumária”, ou seja, para falar “pela ordem”, é desnecessário que o 
juiz conceda a palavra, deve-se simplesmente fazer a manifestação. Logo, se a palavra do 
advogado for cassada ou o juiz presidente negar uma questão de ordem que o advogado 
entenda estar ligada ao seu exercício profissional, pode utilizar a palavra “pela ordem”.
FONTE: <https://canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br/artigos/780414463/questao-de-ordem-e- 
pela-ordem-voce-sabe-quando-se-deve-usa-las-no-tribunal-do-juri>. Acesso em: 26 abr. 2021.
NOTA
TÓPICO 1 — ORATÓRIA: CONCEITO E CARACTERÍSTICAS
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FIGURA 4 – COMPOSIÇÃO DO TRIBUNAL DO JÚRI
FONTE: <https://patperruchi.jusbrasil.com.br/artigos/398816176/tribunal-do-juri>. 
Acesso em: 26 abr. 2021.
É	no	plenário	do	Tribunal	do	Júri,	conhecido	também	como	Júri	Popular,	
que	promotor	e	advogado	têm	a	oportunidade	de	demonstrarem	a	capacidade	
de	oratória,	uma	vez	que	um	dos	princípios	que	 rege	esse	 instituto	do	direito	
processual	penal	é	a	oralidade.	
Através	 dos	 discursos	 tanto	 da	 defesa	 como	 a	 acusação,	 as	 teses	 são	
apresentadas	aos	jurados	que	compõem	o	Conselho	de	Sentença,	os	quais,	após	
ouvirem	a	instrução	no	plenário,	que	é	basicamente	interrogatório	do	réu,	leitura	
de	peças	processuais	quando	necessário,	oitiva	de	 testemunhas	e	a	atuação	da	
acusação	e	da	defesa,	decidem	sobre	a	inocência	ou	culpa	do	acusado.	
No	 Tribunal	 do	 Júri,	 os	 profissionais	 do	 direito	 não	 apenas	 utilizam	 a	
linguagem	 jurídica,	mas	 utilizam	 de	 recursos	 de	 oratória,	 entendido	 por	 leigos	
equivocadamente	como	mera	teatralização,	para	persuadir	o	Conselho	de	Sentença.	
O	 uso	 adequado	 do	 tempo	 para	 a	 apresentação	 das	 teses	 expressas	
nos	argumentos	defendidos	oralmente	 são	verdadeiros	 confrontos	em	que	são	
combinadas	fortes	emoções,	conhecimento	jurídico	e	domínio	de	oratória.	
Inúmeros	 são	 os	 juristas	 que	 se	 destacaram	 e	 se	 destacam	 na	 atuação	
do	Tribunal	do	Júri	pela	capacidade	de	convencimento,	mas	de	todos,	Evandro	
Lins	e	Silva	é	inigualável.	Atuando	na	defesa	de	casos	polêmicos,	dono	de	uma	
oratória	ímpar,	foi	um	defensor	incansável	da	justiça	e	do	direito,	deixando	claro	
que	a	defesa,	por	pior	que	seja	o	delito,	não	é	mais	importante	que	“dar	voz”	a	um	
acusado	inocente	ou	criminoso	culpado.	
UNIDADE 2 — LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
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FIGURA 5 – EVANDRO LINS E SILVA: O JURISTA BRASILEIRO DO SÉCULO
FONTE: <https://canalcienciascriminais.com.br/a-defesa-tem-a-palavra-algumas-consideracoes-
sobre-a-ausencia-de-preparacao-de-advogados-para-atuarem-perante-o-tribunal-do-juri/>. 
Acesso em: 26 abr. 2021.
Conheça	brevemente,	no	texto	a	seguir,	a	história	 inspiradora	de	Evandro	
Lins	 e	Silva,	nascido	em	18	de	 janeiro	de	1912,	na	 cidade	de	Parnaíba,	Estado	
do	Piauí,	 e	 bacharelado	 em	1932,	pela	 antiga	Universidade	do	Rio	de	 Janeiro,	
na	Faculdade	de	Direito,	especializando-se	na	matéria	penal,	militando	durante	
muitos	anos	nos	tribunais	brasileiros.	
QUADRO 1 – HISTÓRIA DE EVANDRO LINS E SILVA
 A defesa tem a palavra, pela honra e liberdade brasileira
Sua	 caminhada	 foi	 árdua,	 para	 naquela	 época,	 discordar	 da	 ditadura	 de	
Vargas,	ser	perseguido	e	ainda	ser	reconhecido	como	talentoso	profissional.	
Defendendo	presos	e	acusados	políticos,	o	que	demonstrava	com	veemência	
a	sua	afeição	pela	 independência	e	a	 liberdade	política.	Como	ministro	não	
se	curvou	diante	da	sociedade	norte-americana,	que	usavam	como	pretexto	
a	tentativa	de	evitar	a	expansão	do	comunismo,	tornando	o	Brasil	alheio	aos	
avanços	e	a	liberdade	política,	Evandro	se	manteve	firme	em	favor	do	regime	
democrático,	pois	era	socialista	e	democrata,	e	sonhava	com	um	mundo	menos	
injusto,	e	esse	não	era	o	ideal	norte-americano,	e	aí	se	concentrava	esse	choque	
de	idealização.
Sua	 impecável	 dignidade	 e	 firmeza	 renderam	 a	 Evandro	 inúmeras	
oportunidades,	 das	 quais	 ele	 aproveitou	 de	maneira	 espontânea,	 buscando	
sempre	a	defesa	da	Honra	e	da	Liberdade	do	Brasil,	então	dentro	dessa	cheia	
profissão	 cheia	 de	 árduas	 surpresas,	 Evandro	 ao	 prestar	 um	 depoimento	
pessoal	 que	 foi	 republicado	 em	 1°	 de	 fevereiro	 de	 2012	 no	 Instituto	 dos	
Advogados	Brasileiros	na	sessão	comemorativa	do	centenário	de	nascimento	
de	Evandro	Lins	e	Silva,	O	Pensamento	Vivo	de	Evandro	Lins	e	Silva	(2012,	p.	
TÓPICO 1 — ORATÓRIA: CONCEITO E CARACTERÍSTICAS
79
FONTE: <https://www.editorajc.com.br/o-direito-no-pensamento-juridico-de-evandro-lins-e-silva/>.Acesso em: 26 abr. 2021.
8),	nos	disse:	“Nestes	sessenta	anos,	como	advogado,	não	fiz	outra	coisa	senão	
repetir	a	sina	de	Sísifo,	em	todos	os	pretórios,	defendendo	a	liberdade	alheia.	
Trabalhei	muito,	empurrei	a	pedra	da	lenda	para	levá-la	ao	topo	da	montanha,	
e,	quando	lá	chegava,	descia	outra	vez	para	empurrá-la	de	novo.	Tem	sido	um	
esforço	incessante,	durante	toda	a	vida”.
Evandro	ao	ser	questionado	acerca	da	defesa	de	casos	polêmicos	deixou	claro	
que	a	defesa	por	pior	que	seja	o	delito	não	é	menos	importante	que	à	satisfação	
da	moralidade	pública	e	que	esta	tem	a	função	de	estar	ao	lado	do	acusado	
inocente	ou	criminoso	a	voz	dos	seus	direitos	legais.	E	deixa	claro	que	a	Voz	do	
Direito	no	meio	da	paixão	pública	é	suscetível	de	se	demasiar,	até	mesmo	pela	
exaltação	da	sua	própria	nobreza,	e	tem	aí	a	missão	sagrada	nesses	casos	de	
não	consentir	que	a	indignação	degenere	em	ferocidade	e	a	expiação	jurídica	
em	extermínio	cruel.
Sua	concepção	mostrou	sempre	que	todo	indivíduo	independente	do	ocorrido	
tinha	direito	a	defesa,	e	Evandro	ao	longo	de	sua	caminhada	se	mostrou	aberto	
para	defender	os	mais	diferentes	tipos	de	casos,	com	sua	injusta	aposentadoria	
consolidou	sua	carreira	polêmica	ao	defender	o	a	causa	de	Raul	Fernando	do	
Amaral	Street,	o	 famoso	e	polêmico	caso	Doca Street,	 em	que	o	acusado	em	
30	de	novembro	de	1976	na	praia	dos	Ossos	em	Búzios,	matou	Ângela	Maria	
Fernandes	Diniz,	o	então	acusado	de	homicídio	qualificado	por	motivo	torpe,	
meio	 cruel	 e	 recurso	 que	 impossibilitou	 a	defesa	da	 vítima,	 e	 Evandro	não	
mostrou	intimidação	ao	clamor	público	e	a	pressão	da	imprensa,	e	em	1979	
estava	 lá	para	o	 julgamento	que	repercutiu	na	Argentina,	Estados	Unidos	e	
até	 em	países	 africanos,	pois	 o	 caso	 era	 considerado	uma	demonstração	de	
machismo	 cruel,	mas	 a	 decisão	 do	 júri	 beneficiou	 a	 defesa,	Doca	 Street	 foi	
condenado	 a	 dois	 anos	 de	 detenção,	 por	 homicídio	 culposo	 e	 beneficiado	
pelo	sursis que	é	um	instituto	do	Direito	Penal	que	garante	que	o	condenado	
não	se	sujeite	à	execução	de	pena	privativa	de	liberdade	de	pequena	duração,	
ou	 seja,	 permite	 que,	mesmo	 condenada,	 uma	 pessoa	 não	 fique	 na	 cadeia,	
e	 depois	Evandro	publicou	 o	 livro	 que	 consagra	 a	 história	dessa	magnífica	
defesa:	A Defesa tem a Palavra – O caso Doca Street e algumas lembranças.
Evandro	é	considerado	um	Doutor	em	Humanidade,	apesar	da	defesa	de	casos	
tão	 polêmicos,	 pois	 utilizava	 a	 sua	 formação	 intelectual	 e	 seu	 desempenho	
humanístico	para	analisar	as	questões	jurídicas,	não	se	deixando	abater	pelo	
calor	do	momento,	ou	clamor	da	causa,	ou	seja,	para	não	ser	 injusto	não	se	
deixava	 em	 nenhum	momento	 ser	 levado	 pela	 emoção,	 e	 ao	 longo	 de	 sua	
carreira	atuou	com	louvor,	e	foi	reconhecido	mundialmente.	
UNIDADE 2 — LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
80
Para completar e enriquecer seu estudo sobre oratória forense assista à sustentação 
oral feita por Luis Roberto Barosso em 05/05/2011, à época advogado, na defesa pela união 
homoafetiva. Observe a impecável oratória de Barroso e os argumentos utilizados. 
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=DDpn9H3h3lQ.
DICAS
4 RETÓRICA
A	palavra	retórica	tem	sua	origem	no	latim	rhetorica, termo	que	remete	ao	
grego rhetoriké (arte	da	retórica),	que	significa	a	arte de falar bem, de	se comunicar 
de forma clara e transmitir ideias com convicção.	A	retórica,	 junto	à	oratória,	
permite	ao	orador	a	boa	comunicação	de	forma	a	persuadir.	 	É	um	importante	
instrumento	da	argumentação	que	pode	ser	aprendida	e	praticada.	
FIGURA 6 – A RETÓRICA É UM CAMPO DE ESTUDO QUE VEM DESDE A ANTIGUIDADE
FONTE: <https://escolaeducacao.com.br/retorica/>. Acesso em: 26 abr. 2021.
A	sua	origem	lendária	remonta	a	Sicília	no	século	V	a.C.	A	retórica	antiga	
nasceu	em	465	a.C.,	na	Sicília	Grega,	sendo	sua	origem	jurídica	quando	Córax,	
discípulo	do	filósofo	Empédocles,	e	Tísias,	publicaram	a	obra	Arte Retórica,	com	
o	 objetivo	de	 instrumentalizar	 os	 cidadãos	 envolvidos	 em	disputas	 judiciais	 à	
habilidade	 de	 convencer.	 Na	 antiga	 Grécia	 não	 existia	 a	 figura	 do	 advogado	
e	 os	 litigantes	 apresentavam	 suas	 razões,	 redigidas	 por	 logógrafos	 (espécies	
de	 escrivães	 públicos	 que	 conheciam	 as	 leis	 e	 utilizavam	 os	 ensinamentos	 de	
Córax,	que	se	apresentavam	como	argumentos	imbatíveis,	capazes	de	convencer	
qualquer	pessoa.
TÓPICO 1 — ORATÓRIA: CONCEITO E CARACTERÍSTICAS
81
Nos	 tribunais	 gregos,	 os	 processos	 eram	 essencialmente	 orais	 e	 para	
tanto,	o	discurso	retórico	era	essencial.	A	retórica	era	uma	habilidade	ensinada	
pelos	 sofistas	 que	 dava	 a	 habilidade	 de	 confrontar	 argumentos	 contrários	 e	
não	a	 sustentação	de	uma	verdade.	Córax,	Górgias	 e	Protágoras	 eram	sofistas	
conhecidos	para	os	quais	a	retórica	era	tida	como	a	arte	do	discurso	persuasivo,	a	
eles	interessando	ensinar	aos	seus	seguidores	a	arte	de	transformar	um	discurso	
forte	em	um	discurso	fraco,	assim	como	um	discurso	fraco	em	um	discurso	forte.
Os	 sofistas	eram	uma	espécie	de	professores	e	pensadores	viajantes	da	
Grécia	Antiga	que	realizavam	discursos	públicos	para	atrair	estudantes,	de	quem	
cobravam	para	lhes	ensinar	a	arte	da	retórica.
QUEM ERAM OS SOFISTAS? 
“Os sofistas correspondem aos filósofos que pertenceram à “Escola Sofística” (IV e V a.C.). 
Composta por um grupo de sábios e eruditos itinerantes, eles dominavam técnicas de 
retórica e discurso, e estavam interessados em divulgar seus conhecimentos em troca do 
pagamento de taxa pelos estudantes ou aprendizes. Os sofistas rompem com a tradição 
pré-socrática, ao criticar os costumes e tradições da sociedade ateniense da época. Note 
que a palavra “sofista”, de origem grega, “sophistes”, corresponde a um termo derivado de 
“sophia”, ou seja, sabedoria. Dessa maneira, os jovens bem-nascidos buscavam os sofistas 
interessados em adquirir conhecimentos e especialmente o “aretê”, conceito grego que 
denota nobreza, excelência e virtude e, no caso dos sofistas a união dos conhecimentos 
gerais indispensáveis (mais precisamente nas áreas da oratória, retórica, ciência, música e 
filosofia), uma vez que na Grécia Antiga, a função política, muito destacada, dependia do 
bom uso da palavra”.
FONTE: <https://www.todamateria.com.br/sofistas/>. Acesso em: 26 abr. 2021.
INTERESSA
NTE
É	nesse	cenário	que	surge	Protágoras	(481	a.C.-	411	a.C.),	quando	então	
é	 feita	a	perfeita	relação	entre	a	sofística	e	a	retórica,	passando	a	ser	a	retórica	
conhecida	 como	a	 arte	de	 convencer	 a	 qualquer	 custo,	 independentemente	de	
ser	o	argumento	verdadeiro	ou	justo.	Para	Protágoras,	todo	argumento	pode	ser	
contraposto	a	outro	e	qualquer	tema	pode	ser	sustentado	ou	refutado.	
UNIDADE 2 — LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
82
FIGURA 7 – IMPORTANTES SOFISTAS E A DIFERENÇA ENTRE SOFISTAS E FILÓSOFOS
FONTE: <https://cursoenemgratuito.com.br/sofistas/>. Acesso em: 26 abr. 2021.
TÓPICO 1 — ORATÓRIA: CONCEITO E CARACTERÍSTICAS
83
A	cultura	grega	era	essencialmente	oral	e	isso	tornava	a	retórica	essencial	
para	 o	 cidadão	 que	 precisava	 falar	 bem	 para	 convencer	 e,	 assim,	 exercer	 sua	
cidadania	 plenamente.	 A	 própria	 literatura	 grega	 tinha	 uma	 origem	 oral	 e	 a	
poesia	dramática	era	feita	para	ser	declamada	ou	cantada.	Da	política	à	literatura	é	
impossível	imaginarmos	a	antiga	cultura	grega	sem	a	beleza	cênica.	
DICAS
 Conheça as obras literárias Antígona e Édipo Rei, de 
Sófocles, dramaturgo grego que teria vivido no século V a.C. 
Leia as referidas obras em: 
http://portaleinstein.com.br/uploads/7910sofoclestrilogiatebana 
postadoem27.fev.pdf.
Entretanto,	 os	 filósofos	 desde	 Sócrates	 vão	 se	 opor	 aos	 sofistas	 por	
entender	que	a	retórica	não	era	parte	da	filosofia	na	busca	da	verdade.	Segundo	
ele,	“a	arte	oratória	que	não	oferece	a	verdade	ao	que	não	a	conhece	e	não	tem	
feito	senão	caçar	opiniões,	será	uma	arte	ridícula	a	meu	ver	e	até	desprovida	de	
arte”	(PLATÃO,	2004,	p.	68).
Da	mesma	maneira,	pensadorescomo	Aristóteles	passaram	então	a	 criticar	
sistematicamente	 os	 sofistas	 e	 a	 partir	 daí	 o	 termo	 adquire	 um	 sentido	pejorativo,	
entendido	 pelo	 vocabulário	 filosófico	 o	 mesmo	 que	 um	 sofisma	 que	 é	 um	 falso	
argumento	ou	intencionalmente	falacioso.
UNIDADE 2 — LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
84
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1.
TÓPICO 1 — ORATÓRIA: CONCEITO E CARACTERÍSTICAS
85
No	campo	da	 retórica,	Aristóteles	 (384	 a.C.	 –	 322	 a.C.)	 foi	 além	de	 seu	
mestre	Platão.	Indo	além	da	crítica	buscou	sistematizar	o	estudo	sobre	a	retórica.	
Segundo	 o	 filósofo,	 a	 retórica	 é	 o	 estudo	 lógico	 da	 argumentação,	 tendo	 sido	
definida	como	“a	 capacidade	de	descobrir	o	que	é	adequado	a	 cada	caso	com	
o	fim	de	persuadir”	afirmando,	ainda,	que	persuadimos	pelo	discurso	“quando	
mostramos	a	verdade	ou	o	que	parece	verdade,	a	partir	do	que	é	persuasivo	em	
cada	caso	particular”	(ARISTÓTELES,	2017,	p.	86).
Nos	 primeiros	 séculos	 cristãos	 na	 Idade	 Média,	 a	 retórica	 permanece	
valorizada,	mas	aplicada	nas	declamações	cerimoniais	e	estudos	escolares	com	a	
recuperação	de	exercícios	retóricos	gregos	antigos	chamados	de	Progymnasmata 
(exercícios	 preliminares)	 dando-se	 ênfase	 aos	 discursos	 morais.	 Esse	 período	
é	 conhecido	 como	 a	 “segunda	 sofística”,	 uma	vez	 que	 a	 retórica	 era	 utilizada	
para	confirmar	os	valores	religiosos	e	morais	da	sociedade	da	época.	Porém,	a	
retórica	continuava	a	ser	criticada	por	ser	vazia	de	significado,	mas	era	um	bom	
instrumento	para	a	conversão	e	justificativa	do	cristianismo.	
É	no	século	XIX	que	a	retórica	vai	perdendo	sua	influência	e	vai	reduzindo	
seu	objetivo	pragmático,	ou	seja,	a	utilidade	do	discurso	na	prática	e	vai	ganhando	
novos	contornos.	
O QUE É A PRAGMÁTICA? 
“Trata-se do ramo da linguística que analisa o uso concreto da linguagem pelos falantes da 
língua em seus variados contextos. A Pragmática extrapola a significação dada às palavras 
pela semântica e pela sintaxe, observando o contexto extralinguístico em que estão 
inscritas; ou seja, ocupa-se da observação dos atos de fala e suas implicações culturais 
e sociais. Segundo a Pragmática, o sentido de tudo está na utilidade, no efeito prático 
que os atos de fala podem gerar. Para ela, o que realmente importa é a comunicação 
e o funcionamento da linguagem entre os usuários, concentrando-se nos processos de 
inferência pelos quais compreendemos o que está implícito”. 
FONTE: <https://www.portugues.com.br/redacao/pragmatica.html>. Acesso em: 26 abr. 2021.
NOTA
É	no	século	XX	que	a	retórica	é	retomada	por	Chaïm	Perelman,	na	obra	
escrita	em	1958,	juntamente	com	Lucie	Olbrechts-Tyteca,	“Traité de l’argumentation 
– la nouvelle rhetorique”	 (a	 teoria	 da	 argumentação).	 Na	 obra,	 Perelman	 deixa	
claro	que	seu	estudo	não	se	tratava	da	mesma	concepção	da	retórica	tradicional,	
retomando	apenas	o	conceito	de	“auditório”,	elemento	essencial,	uma	vez	que	a	
argumentação	visa	à	adesão	dos	que	deseja	influenciar.	
UNIDADE 2 — LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
86
Para	Perelman,	argumentar	é:	
[...]	 fornecer	 argumentos,	 ou	 seja,	 razões	 a	 favor	 ou	 contra	 uma	
determinada	 tese.	 Uma	 teoria	 da	 argumentação,	 na	 sua	 concepção	
moderna,	vem	assim	retomar	e	ao	mesmo	 tempo	renovar	a	 retórica	
dos	Gregos	e	dos	Romanos,	concebida	como	a	arte	de	bem	falar,	ou	
seja,	 a	 arte	de	 falar	de	modo	a	persuadir	 e	 a	 convencer,	 e	 retoma	a	
dialética	e	a	tópica,	artes	do	diálogo	e	da	controvérsia	(PERELMAN,	
2014,	p.	234).
Para	 Perelman	 (2014),	 a	 argumentação	 é	 sempre	 situada	 em	 um	
determinado	contexto;	dirige-se	à	um	auditório	determinado;	o	orador	por	seu	
discurso	visa	persuadir	o	auditório;	os	auditores	devem	estar	dispostos	a	ouvi-
lo	–	a	ser	persuadido	–;	querer	persuadir	implica	em	renunciar	a	“dar	ordens”	
ao	auditório,	mas	 sim	procurar	a	adesão	 intelectual.	A	adesão	nada	 tem	a	ver	
com	verdade	ou	falsidade	das	teses	que	o	orador	defende,	mas	sim	com	o	poder	
argumentativo	de	poder	enfrentar	uma	tese	contrária	à	sua.	
FIGURA 9 – A TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO EM PERELMAN
FONTE: <https://slideplayer.com.br/slide/3296894/>. Acesso em: 26 abr. 2021.
Na	 Teoria	 de	 Perelman,	 a	 argumentação	 é	 um	 processo	 dialético	 que	
pressupõe	duas	figuras	centrais:	orador	e	auditório.	A	aceitação	do	auditório	se	
dá	pelo	argumento	que	deve	ser	razoável,	justo	ou	socialmente	útil	e	não	por	ser	
uma	tese	verdadeira	e	sua	aceitação	é	sempre	provisória.	
TÓPICO 1 — ORATÓRIA: CONCEITO E CARACTERÍSTICAS
87
QUADRO 2 – SÍNTESE: A NOVA RETÓRICA DE PERELMAN
a) Semelhante	a	uma	semente	em	estado	de	 latência,	a	Retórica	aguardou	por	
muitos	séculos	o	ambiente	propício	para	seu	ressurgimento.	Foram	necessários	
desenvolvimentos	 históricos	 recentes,	 como	 a	 democracia	 representativa	 e	
a	emergência	dos	meios	 tecnológicos	de	comunicação	de	massa,	para	que	a	
importância	de	seu	instrumental	teórico	voltasse	a	interessar	o	meio	acadêmico.
b) Somente	em	meados	do	século	XX,	devido	à	importância	dada	à	Filosofia	da	
Linguagem,	os	estudiosos	voltaram	a	considerar	a	Retórica	como	objeto	digno	
de	 estudo.	 Em	 1958,	 Chaïm	 Perelman,	 professor	 da	 Universidade	 Livre	 de	
Bruxelas,	publica	um	livro	que	vai	representar	o	renascimento	contemporâneo	
da Retórica: Traitè de l’argumentation. La nouvelle Rhétorique (PERELMAN,	1999).	
Seu	 livro	abre	dizendo-se	em	ruptura	com	a	concepção	de	 razão	e	 raciocínio	
saídos	do	pensamento	cartesiano.	Era	uma	premonição	do	que	viria	a	ocorrer	
nas	décadas	seguintes,	com	relação	à	crítica	pós-moderna	da	razão.
c) O	campo	de	eleição	da	Retórica	é	o	diferendo.	Ao	contrário	do	espírito	cartesiano,	
que	 visa	 ao	 critério universal,	 fora	 do	 qual	 tudo	 é	 erro.	 Perelman	 reclama	 a	
tradição	 antiga,	 que	 remonta	 ao	Aristóteles,	 da	 Retórica,	 como	 também	 da	
Dialética,	como	artes de razoar,	a	partir	de	opiniões	geralmente	aceitas,	detidas	
por	um	conjunto	de	indivíduos	que	a	Retórica	constitui	em	auditório.
d) O Auditório – enquanto	que	para	a	 lógica	formal	as	provas	utilizadas	são	
impessoais,	 devendo	 ser	 aceitas	 universalmente,	 para	 o	discurso	 retórico	
é	 vital	 a	 relação	 entre	 o	 orador	 e	 o	 auditório	 a	 que	 se	 dirige.	 Segundo	
Perelman,	 o	 auditório	 é	 “todo	 o	 conjunto	 daqueles	 que	 o	 orador	 deseja	
influenciar	mediante	seu	discurso”.	A	influência	pela	argumentação	não	é	
mais	do	que	fazer	uso	público	da	razão.	A	noção	de	auditório	passa	pela	
de reconhecimento	 de	 outro,	 o	 que	 implica	 uma	 renúncia	 à	 violência.	As	
técnicas	retóricas	visam	à	persuasão	que,	por	sua	vez,	é	sempre	precária,	
porque	está	ligada	à	doxa	(crença).	Por	isso,	a	ação	discursiva	visa	obter	um	
resultado	no	âmbito	de	uma	troca	relacional.	E	o	estado	de	crença,	como	
Charles	Peirce	também	registrou,	se	faz	necessário	para	que	possamos	nos	
relacionar	uns	com	os	outros	e	com	o	mundo	em	nossa	volta.
e) Neste	princípio	de	século	XXI,	a	Retórica	parece	ter	retornado	para	ficar	entre	
nós,	definitivamente,	embora	as	razões	para	isso	não	estejam	propriamente	nela	
mesma.	Como	a	democracia,	os	direitos	humanos,	a	liberdade	individual	e	de	
associação	 juntaram-se	 aos	 meios	 tecnológicos	 de	 comunicação	 para	 formar	
uma	sociedade	em	que	a	vontade	e	a	deliberação	da	maioria	tornaram-se	um	
credo	universal,	o	espaço	de	atuação	no	palco	da	história	volta	a	ser	ocupado	
pela	 Retórica.	 Embora	 não	 seja	mais	 aquela	 Retórica	 clássica	 organizada	 por	
Aristóteles	 e	 outros	 pensadores,	 tais	 como	 Cícero	 e	 Quintiliano,	 a	 Retórica	
contemporânea	dialoga	com	as	diversas	filosofias	da	linguagem,	com	a	semiótica	
e	as	teorias	da	comunicação,	retomando	seu	lugar	de	direito	entre	os	saberes	da	
academia.Assim,	também,	a	Retórica	empresta	seus	instrumentos	e	mecanismos	
para	a	publicidade,	para	o	jornalismo	e	seus	sucedâneos,	com	vistas	a	melhorar	
o	 diálogo	 entre	 as	 pessoas,	 entre	 emissores	 e	 receptores,	 cada	 um	 desses	
representando	seus	papeis	sociais	em	busca	de	interesses	próprios	e	coletivos.
FONTE: <https://revistacontemporartes.com.br/2019/09/20/elementos-da-arte-retorica/>. 
Acesso em: 26 abr. 2021.
UNIDADE 2 — LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
88
Perelman	 teve	 grande	 relevância	 para	 o	 pensamento	 jurídico.	 Para	
Oliveira	 (2020),	Perelman,	na	obra	Sobre a Justiça,	publicada	em	1945,	analisa	o	
problema	da	justiça,	com	o	objetivo	de	conceituá-la,	e	conclui	que	a	justiça	é	um	
dos	 conceitos	mais	 difíceis	 de	 serem	 conceituados	 e	 com	um	 sentido	 emotivo	
muito	forte.	É	esse	sentido	emotivo	que	dificultaria	para	o	autor	o	conceito	de	
justiça.	Portanto,	para	Perelman	seria	necessário	extirpar	todo	o	subjetivismo	e	
irracionalismo	vinculado	à	noção	de	justiça.	
O	filósofo	belga	parte	de	seis	concepções	diferentes	de	justiça	para,	então,	
tentar	 encontrar	 algo	 em	 comum	entre	 elas,	 com	a	 intenção	de	 construir	 uma	
fórmula	geral.	Essas	seis	concepções	são:	1)	a	cada	qual	a	mesma	coisa;	2)	a	cada	
qual	 segundo	seus	méritos;	 3)	a	 cada	qual	 segundo	suas	obras;	 4)	a	 cada	qual	
segundo	suas	necessidades;	5)	a	cada	qual	segundo	sua	posição;	6)	a	cada	qual	
segundo	o	que	a	lei	lhe	atribui.
Para	Perelman,	segundo	Oliveira	(2020,	p.	64),	a	ideia	de	justiça	caminha	
junto	com	a	de	igualdade	e	que,	na	verdade,	em	todas	as	referidas	concepções	
está	implícito	o	pensamento	de	se	tratar	de	uma	forma	idêntica	seres	idênticos,	e	
acaba	formulando	a	noção	de	justiça	da	seguinte	maneira:	a	justiça	é	um	princípio	
de	ação	segundo	o	qual	os	seres	de	uma	mesma	categoria	essencial	devem	ser	
tratados	da	mesma	forma.
Um	 dos	 grandes	 dilemas	 para	 os	 pensadores	 do	 direito	 é	 exatamente	
o	conceito	de	 justiça	porque	uma	noção	formal	de	 justiça	não	permite	que,	em	
um	caso	concreto,	seja	possível	verificar	se	foi	feita	justiça	ou	não,	uma	vez	que	
sempre	devem	ser	estabelecidos	critérios	que	devem	ser	demonstrados.	
A	fórmula	de	justiça	de	Perelman	se	aplicada	à	história	da	humanidade	
demonstra	a	fragilidade,	pois	seres	humanos	diferentes	não	poderiam	receber	o	
mesmo	tratamento.	E	essa	exatamente	foi	e	é	a	causa	de	muitas	injustiças	como	
é	o	caso	das	mulheres,	negros,	indígenas	e	demais	grupos,	que	por	sua	diferença	
foram	sistematicamente	perseguidos	e	ultrajados.
89
Neste tópico, você aprendeu que:
•	 A	 oratória	 é	 uma	 habilidade	 distinta	 da	 retórica,	 definida	 como	 arte	 ou	
habilidade	de	falar	em	público	de	forma	eloquente	e	convincente,	enquanto	a	
retórica	tem	como	objetivo	a	comunicação	de	forma	clara	e	objetiva.
•	 Há	fatores	relevantes	e	essenciais	a	serem	utilizados	e	dominados	por	um	bom	
orador,	quais	sejam:	a)	dicção	–	que	é	a	forma	de	articulação	e	pronúncia	das	
palavras;	b)	gesticulação	–	a	ênfase	da	postura	corporal	durante	a	comunicação;	
e	c)	 intensidade	de	voz	–	a	“dose”	dada	à	entonação	vocal	a	fim	de	conferir	
maior	atenção	à	mensagem	emitida	pelo	orador.
•	 A	oratória	 jurídica	é	um	instrumento	essencial	para	o	exercício	da	atividade	
profissional	na	área	jurídica	cuja	habilidade	influi	diretamente	na	aplicação	do	
direito	no	caso	concreto.
•	 Ao	 longo	 da	 história	 existiram	 importantes	 oradores	 cujos	 discursos	 foram	
memoráveis,	 dentre	 os	 quais	 destacou-se	 o	 jurista	 Evandro	 Lins	 e	 Silva,	
considerado	o	maior	dos	oradores	do	direito	penal	brasileiro	por	sua	oratória	
ímpar	e	defensor	incansável	da	justiça.
•	 A	retórica,	enquanto	arte	e	habilidade	adquirida	pelo	orador,	é	uma	forma	de	
comunicação	clara	e	eloquente	que	tem	como	finalidade	persuadir,	aprendendo	
também	a	origem	e	construção	histórica	da	retórica	desde	a	antiguidade	grega,	
seu	legado	e	redefinição	pela	linguística	moderna	e	contemporânea.
RESUMO DO TÓPICO 1
90
1	 Embora	 exista	 uma	 relação	 entre	 a	 oratória	 e	 a	 retórica	 são	 distintas	 as	
habilidades	 utilizadas	 com	 finalidade	 persuasiva.	 A	 oratória	 é	 definida	
como	 falar	 bem	 em	 público,	 enquanto	 a	 retórica	 é	 o	 uso	 adequado	 das	
palavras	de	forma	a	produzir	o	convencimento.	Acerca	da	diferença	entre	
oratória	e	retórica,	considere	as	seguintes	afirmações:	
I-	 A	oratória	é	um	tipo	específico	de	comunicação	feita	diante	de	um	público.
II-	 O	uso	da	retórica	não	exige	obrigatoriamente	a	existência	de	um	público,	
uma	vez	que	pode	ser	utilizada	em	textos	escritos.
III-	 Tanto	a	retórica	como	a	oratória	exigem	obrigatoriamente	a	presença	de	
um	orador	diante	de	um	público.
IV-	 Oratória	e	retórica	são	instrumentos	de	comunicação.	
Assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	(			)	As	afirmações	I,	II	e	III	estão	corretas.
b)	(			)	As	afirmações	I,	II	e	IV	estão	corretas.
c)	 (			)	As	afirmações	II,	III	e	IV	estão	corretas.
d)	(			)	As	afirmações	II	e	III	estão	corretas.	
2	 A	oratória	 forense	 é	utilizada	no	 cotidiano	do	 exercício	da	 atividade	do	
profissional	 do	 direito.	 O	 advogado	 é	 um	 profissional	 cuja	 atividade	 é	
regulada	pelo	Estatuto	da	Ordem	dos	Advogados	do	Brasil	(Lei	n°	8.906/94),	
o	qual	estabelece	a	manifestação	oral	para	determinados	procedimentos.	
Acerca	das	 situações	 em	que	o	 advogado	deve	 se	manifestar	 oralmente,	
assinale	a	afirmação	CORRETA:
a)	(			)	É	permitido	ao	advogado	usar	a	palavra,	pela	ordem,	em	qualquer	juízo	
ou	tribunal,	mediante	intervenção	sumária,	para	esclarecer	equívocos	
ou	dúvidas	em	relação	a	fatos,	documentos	ou	afirmações	que	possam	
interferir	no	julgamento.
b)	(			)	Não	é	permitido	o	uso	da	palavra	para	reclamar	verbalmente	ou	por	escrito	
perante	 qualquer	 tribunal,	 juízo	 ou	 autoridade	 contra	 inobservância	 de	
preceito	de	lei,	por	ser	esta	uma	atividade	privativa	do	juiz.
c)	 (			)	Obrigatoriamente,	 quando	 o	 advogado	 faz	 uso	 da	 palavra,	 deve	
manter-se	em	pé.	
d)	(			)	Nos	Tribunais	superiores,	o	advogado	não	poderá	fazer	uso	da	palavra.	
3	 Embora	 sendo	 instrumentos	 de	 comunicação	 complementares,	 oratória	
e	 retórica	 distinguem-se,	 sendo	 que	 a	 oratória	 exige	 obrigatoriamente	 a	
presença	de	 um	público,	 enquanto	 que	 a	 retórica	 pode	 ser	 utilizada	 em	
textos	escritos.	Avalie	as	asserções	a	seguir	sobre	os	textos	retóricos:
AUTOATIVIDADE
91
I-	 Há	 uma	 profunda	 diferença	 entre	 um	 texto	 retórico	 e	 um	 informativo,	
uma	vez	que	nos	retóricos	usam-se	argumentos,	comparações	ou	qualquer	
possibilidade	capaz	de	persuadir	o	leitor.
PORQUE
II-	 Nos	textos	argumentativos,	o	objetivo	é	o	convencimento	do	leitor.	
Assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	(			)	As	asserções	I	e	II	são	falsas.
b)	(			)	As	asserções	I	e	II	são	verdadeiras,	sendo	a	II	a	justificativa	da	I.
c)	 (			)	A	asserção	I	é	verdadeira	e	a	II	é	uma	proposição	falsa.
d)	(			)	A	asserção	I	é	falsa	e	a	II	é	uma	proposição	verdadeira.
4	 O	Tribunal	do	Júri	ou	Júri	Popular	é	um	instituto	do	direito	processual	penal	
que	 tem	 como	 competência	 julgar	 os	 crimes	 de	 homicídio,	 induzimento,	
instigação	 ou	 auxílio	 ao	 suicídio,	 infanticídio	 e	 aborto	 –	 provocado	pela	
gestante,	com	seu	consentimento	ou	provado	por	 terceiro.	É	no	Tribunal	
do	Júri	que	se	torna	evidente	a	capacidade	de	oratória	de	um	profissional	
do	direito.	Quais	procedimentos	exigem	o	uso	da	retórica	e	da	oratória	no	
Tribunal	do	Júri?	
5	 Embora	muitas	 são	 as	 atividades	 profissionais	 que	 exigem	 o	 domínio	 da	
retórica	 e	 oratória,	 particularmente,	 na	 área	 jurídica,	 tal	 conhecimento	 é	
essencial.	 Apesar	 de	 os	 termos	 retórica	 e	 oratória	 serem	 relacionados	 e	
complementares,	possuem	conceitos	distintos.	Diferencie	retórica	de	oratória.
92
93
UNIDADE 2
TÓPICO 2 — 
ARGUMENTAÇÃO: CONCEITOS E ELEMENTOS 
CARACTERIZADORES
1 INTRODUÇÃO
Neste	 tópico,	 centramos	 nossos	 estudos	 na	 Argumentação,	 que	 é	
importante	 recurso	 retórico	 de	 linguagem	 elaborado	 desde	 um	 conjunto	 de	
proposiçõesorganizadas,	 fundamentadas	 e	 lógicas	 que	 tem	 por	 finalidade	
persuadir	o	interlocutor,	 leitor	ou	ouvinte.	Trata-se	de	importante	instrumento	
para	a	atuação	de	profissionais	de	qualquer	área,	com	destaque	na	jurídica,	pois	
possibilita	 o	 domínio	 de	 técnicas	 tanto	 para	 propor	 (argumentar)	 como	 para	
rebater	ou	refutar	proposições	argumentativas	(contra-argumentação).	
Serão	destacados	os	principais	tipos	de	argumentos	que	comumente	são	
utilizados	de	acordo	com	o	conteúdo	da	mensagem	e	sua	finalidade,	uma	vez	que	
nem	todos	os	argumentos	possuem	a	mesma	força	de	persuasão	e,	por	essa	razão,	
para	ser	cuidadosamente	elaborado	a	fim	de	ser	claro	e	bem	construído.
Ao	final,	você	compreenderá	as	diferentes	técnicas	argumentativas	para	
lhe	auxiliar	na	proposição	e	desenvolvimento	de	afirmações,	conceitos	e	 ideias	
claras,	ordenadas,	coerentes	e	com	forte	poder	persuasivo.
2 ARGUMENTAÇÃO
Argumento	é	um	termo	que	deriva	do	latim	argumentum,	que	significa	um	
raciocínio	que	se	utiliza	para	demonstrar	ou	comprovar	uma	proposição	ou	ainda	
para	 convencer.	 Portanto,	 argumentar	 é	 expressar-se	 de	 forma	 oral	 ou	 escrita	
utilizando	um	raciocínio	de	 forma	a	 justificar	de	maneira	razoável	algo,	 tendo	
como	finalidade	a	persuasão	ou	a	demonstrar	de	um	conteúdo,	de	uma	ideia	ou	
conceito,	com	sentido	de	verdade.	
Portanto,	para	convencer	ou	persuadir	os	argumentos	utilizados	devem	
ser	coerentes,	consistentes	e	sem	contradições.	Apenas	dessa	maneira	conseguirá	
atingir	seus	objetivos,	pois	caso	contrário,	poderá	ser	contestado	ou	rejeitado	pelo	
receptor	ou	auditório.
Em	 síntese,	 podemos	 definir	 a	 argumentação	 como	 um	 recurso	 que	
tem	 como	 propósito	 convencer	 alguém,	 para	 que	 este	 tenha	 a	 opinião	 ou	 o	
comportamento	modificado.
94
UNIDADE 2 — LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
FIGURA 10 – CONCEITO DE ARGUMENTAÇÃO
FONTE: <https://www.dicio.com.br/argumentacao/>. Acesso em: 26 abr. 2021.
Argumentar,	 como	 você	 já	 percebeu,	 tem	 claros	 objetivos:	 convencer	
ou	persuadir.	Mas	qual	seria	a	diferença	dessas	duas	ações	já	que	ambas	levam	
alguém	a	“entrar	em	acordo”	sobre	algo	comum?	Convencer	é	o	primeiro	passo	
que	tem	por	objetivo	esclarecer,	fazer	compreender,	conscientizar.	Já	persuadir	é	
ir	mais	além	e	leva	a	um	resultado	por	ter	como	objetivo	um	“levar	a	fazer”.
Segundo	Henriques	 (2013,	 p.	 37),	 há	 clara	 diferença	 entre	 convencer	 e	
persuadir.	Observe	o	quadro	a	seguir:
QUADRO 3 – DIFERENÇA ENTRE CONVERCER E PERSUADIR
FONTE: Henriques (2013, p. 37)
Convencer Persuadir
•	foge	à	noção	de	tempo •	é	temporal
•	refere-se	ao	auditório	universal •	reporta-se	ao	auditório	particular
•	busca	o	racional •	busca	o	não	racional
•	usa	o	raciocínio	lógico •	usa	o	raciocínio	plausível
•	leva	à	certeza •	leva	a	possibilidades
•	busca	o	entendimento •	busca	a	vontade
Persuasão	depende	essencialmente	da	argumentação	utilizada	pelo	orador	e	
necessita	da	existência	de	três	elementos:	o	orador –	emissor	ou	falante,	que	é	aquele	
que	produz	o	discurso;	o	auditório – espectador,	destinatário,	receptor	ou	ouvinte,	que	
é	a	pessoa	ou	o	grupo	de	pessoas	às	quais	se	dirige	o	discurso	e	sobre	as	quais	o	seu	
poder	persuasivo	deve	incidir;	e,	o	assunto – aquilo	de	que	trata	o	discurso.
TÓPICO 2 — ARGUMENTAÇÃO: CONCEITOS E ELEMENTOS CARACTERIZADORES
95
A	argumentação,	portanto,	deve	ser	elaborada	de	acordo	com	o	auditório	
e	 deve	 possuir	 elementos	 ou	 componentes	 básicos	 que,	 segundo	 Henriques	
(2013),	são	os	seguintes:
a) Coerência:	 a	 argumentação	 deve	 ser	 coerente,	 isto	 é,	 deve	 obedecer	 a	 uma	
sequência	 lógica	de	 forma	a	permitir	 a	 compreensão	da	 conclusão	pretendida. 
Pode-se	dizer	que	a	coerência	ocorre	quando	há	a	formação	de	uma	“cadeia	lógica”	
no	argumento	utilizado	a	fim	de	ter	sentido	para	o	auditório,	leitor	ou	ouvinte.	
• Tipos de coerência:
1- Coerência Descritiva:	 é	 quando	 se	 promove	 a	 pertinência	 da	 descrição	
com	 a	 cena,	 ambiente	 e	 tempo	 no	 qual	 estão	 situados	 os	 personagens	 e	
acontecimentos	descritos.	
2- Coerência Textual:	é	o	elemento	que	permite	o	entendimento	do	argumento	
transmitido	no	texto	e	tem	como	princípios:	a	não	contradição	–	as	ideias	
utilizadas	não	podem	se	contradizer	a	fim	de	não	interromper	a	lógica	do	
texto	–	e	relevância	–	que	é	a	percepção	do	interlocutor	em	relação	às	ideias	
expostas	de	maneira	sequencial	de	forma	a	conferir	significado	ao	conjunto	
do	argumento.	
• Fatores de coerência:
1- Conhecimento:	o	conjunto	de	saberes	que	integram	o	patrimônio	intelectual	
são	arquivados	na	memória,	o	que	permite	elaborar	um	argumento	coerente	
explorando	o	acumulado.	Ex.:	“Culpa,	Dolo	e	Crime.	Tudo	pronto	para	a	
celebração	 religiosa”.	A	 frase	 está	 incoerente	porque	 “culpa,	dolo	 crime”	
são	conceitos	jurídicos	e	não	religiosos.	A	frase	coerente	seria:	Culpa,	Dolo	e	
Crime.	São	conceitos	jurídicos	penais	presentes	no	processo	penal.	
2- Inferência: é	a	operação	intelectual	através	da	qual	é	possível	se	chegar	a	
uma	conclusão,	uma	dedução	por	meio	de	um	raciocínio.	Ou	seja,	aquilo	
que	se	deduz	a	partir	de	uma	outra	coisa.	
QUADRO 4 – O QUE É INFERÊNCIA
FONTE: <http://www.filorbis.pt/filosofia/Inferencia.htm>. Acesso em: 26 abr. 2021.
Inferência
- Operação mental pela qual extraímos uma proposição nova (conclusão) 
de uma ou mais proposições já conhecidas (premissas).
- As inferências ou são verdadeiras ou falsas. 
- A conclusão só será válida se estiver contida e/ou implícita na premissa
Raciocínio por analogia, indução 
e dedução
- As que a conclusão antecede uma única 
premissa.
- Obtém-se por um processo de conversão 
e de oposição das proposições.
Inferências Imediatas
- As que a conclusão antecedem pelo 
menos duas premissas.
Inferências Mediatas
96
UNIDADE 2 — LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
• Fatores de Contextualização:	 são	 fatores	 que	 inserem	 o	 interlocutor	 na	
mensagem	 fazendo	 com	 que	 haja	 mais	 clareza.	 Por	 exemplo,	 utilizar	
acontecimentos	 largamente	 explorados	 pela	 mídia.	 Daí	 a	 importância	 da	
valorização	de	uma	comunicação	à	altura	intelectual	do	ouvinte.	
DIFERENÇA ENTRE COESÃO E COERÊNCIA
 “Coesão e coerência são coisas diferentes, de modo que um texto coeso pode 
ser incoerente. Ambas têm em comum o fato de estarem relacionadas com as regras 
essenciais para uma boa produção textual.
 
A coesão textual tem como foco a articulação interna, ou seja, as questões gramaticais. Já a 
coerência textual trata da articulação externa e mais profunda da mensagem”.
FONTE: <https://www.todamateria.com.br/coesao-e-coerencia/>. Acesso em: 26 abr. 2021.
NOTA
b) Carisma:	 a	 argumentação	 pode	 ser	 compreendida	 como	 uma	 virtude	
necessária	para	produzir	alto	grau	de	convencimento.	Para	os	antigos	gregos,	
o termo kharisma era	considerado	um	dom	de	origem	divina.	O	uso	adequado	
das	emoções	aliada	à	postura,	aliada	à	ética,	permite	o	desenvolvimento	da	
habilidade	necessária	para	influenciar	a	vontade	dos	ouvintes.
 Diferença entre Carisma e Manipulação: como	muitos	pensadores	ao	longo	da	
história	já	discutiram,	a	relação	humana	tem	presente	uma	relação	de	poder,	
entretanto,	manipular	é	uma	relação	de	poder	nefasta	e	egoísta	que	não	tem	
um	objetivo	maior	a	não	ser	a	satisfação	da	satisfação	de	dominar.	Embora	a	
manipulação	 seja	um	 instrumento	 eficaz	para	promover	 o	 convencimento	 é	
um	jogo	de	poder	no	qual	aquele	que	manipula	não	está	preocupado	com	os	
resultados.	Ao	contrário	da	manipulação,	a	persuasão	carismática	mostra	com	
clareza	as	 razões	de	 ser	 seu	argumento	adequado,	 sem	dissimulações	e	 sim	
com	segurança	e	transparência.	
FIGURA 11 – CARISMA É UM ATRIBUTO QUE FACILITA ESTABELECER VÍNCULOS ENTRE OS 
INDIVÍDUOS E ENGAJAR PESSOAS
FONTE: <https://portalsocial.v2v.net/pt-BR/aggregators/45cede1b-b29c-46a9-a1e5-de742675370a>. 
Acesso em: 26 abr. 2021.
TÓPICO 2 — ARGUMENTAÇÃO: CONCEITOS E ELEMENTOS CARACTERIZADORES
97
c) Dialética:	no	processo	persuasivo	não	há	como	separar	a	dialéticada	retórica.	
A	dialética	 é	 um	dos	meios	 utilizados	 para	 se	 obter	 a	 adesão	do	 auditório,	
isso	 porque	 é	 uma	 espécie	 de	 movimento	 argumentativo	 que	 possibilita	 a	
interação	com	o	auditório.	A	palavra	dialética	advém	do	grego	dialetiké	que	é	a	
justaposição	dos	termos	dia (interação/troca)	e	letiké (razão/conceito).	Portanto,	
a	dialética,	no	sentido	argumentativo	é	o	embate	e	 ideias	diferentes	do	qual	
pode	surgir	uma	nova	ideia.
FIGURA 12 – PROCESSO DIALÉTICO
FONTE: <https://cursoenemgratuito.com.br/metodo-na-filosofia/>. Acesso em: 26 abr. 2021.
Em	 síntese,	 argumentar	 tem	 como	 objetivo	 o	 convencimento	 ou	 persuasão	 
e	 para	 tanto	 é	 necessário	 o	 desenvolvimento	 de	 um	 conjunto	 de	 premissas	
seguidas	de	uma	conclusão,	tornando,	assim,	o	argumento	válido.	
3 TIPOS DE ARGUMENTOS
A	estratégia	argumentativa	é	estabelecida	com	a	finalidade	de	estabelecer	
o	“acordo”	entre	orador	e	auditório,	que	são	partícipes	de	uma	interação.	Lembre-
se	de	que	o	objetivo	da	argumentação	é	o	de	criar	inicialmente	uma	recepção	para	
então	introduzir	aceitação	para	introduzir	uma	opinião	ou	ideia.	
Esse	processo	se	dá	em	duas	etapas:	na	primeira,	busca-se	construir	uma	
“base	real	e	comum”	entre	os	participantes	da	interação	e,	na	segunda,	a	criação	
de	vínculos	para	o	estabelecimento	do	acordo.	
Na	primeira	fase,	para	estabelecer	uma	base	comum	podem	ser	utilizados	
como	argumentos:	
• Argumento de Autoridade (ab auctoritate):	é	um	tipo	de	argumento	que	mais	
serve	para	estabelecer	uma	hierarquia,	uma	subordinação,	 e	não	propriamente	
uma	confiança.	É	dar	“voz	a	outro”	que	dificilmente	será	questionado,	não	quanto	
ao	argumento,	mas	quanto	prestígio.	
• Ideia inicial;
• Pergunta. • Nova ideia;• Resposta.
• Junção das 
ideias.
• Conclusão.
Antítese
Tese Síntese
98
UNIDADE 2 — LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
A	natureza	do	prestígio	subdivide-se	em:
1- Competência:	 os	 argumentos	 utilizados	 pressupõem	 competência	 técnica,	
científica,	moral	ou	profissional	que	legitimam	a	opinião.
2-	Experiência: pressupõem	 argumentos	 utilizados	 a	 partir	 de	 experiências	
vivenciadas	por	quem	está	argumentando.
3- Testemunhos: são	as	experiências	vivenciadas	por	aquele	que	não	é	o	orador	
que	tão	somente	testemunha	o	argumento.
• Pressupostos Comuns:	 são	 opiniões	 ou	 ideias	 comumente	 aceitas	 que	 são	
consideradas	 espécie	de	 ‘lugar	 comum”	em	uma	determinada	 comunidade.	
São	utilizadas	não	apenas	opiniões,	mas	também	valores.	
QUADRO 5 – EXEMPLIFICATIVO DA PRIMEIRA FASE DO GATILHO ARGUMENTATIVO
FONTE: <http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/1112711_2013_cap_5.pdf>. 
Acesso em: 26 abr. 2021.
Na	segunda	fase	do	gatilho	argumentativo	é	o	momento	de	ser	estabelecido	 
o	vínculo	para	complementar	a	opinião	ou	ideia	proposta.	Neste	momento	podem	
ser	utilizados	dois	tipos	argumentativos:	dedutivo	e	analógico.
1- Dedutivo:	pretende	 construir	uma	cadeia	 contínua	e	 lógica	 entre	 elementos	
fortemente	relacionados.
2- Analógico: implica	 em	 estabelecer	 uma	 relação	 entre	 o	 argumentado	 e	
outra	opinião	ou	ideia	aceita	pelo	auditório.	Pressupõe	o	estabelecimento	de	
comparação	 com	 elementos	 comuns.	A	 comparação	 é	 um	 recurso	 bastante	
utilizado	para	estabelecer	os	vínculos	entre	o	argumentado	e	o	que	é	aceitável,	
podendo	ser	utilizados:	exemplos	–	modelo	prático	–	ou	metáfora	–uma	relação	
de	semelhança.	
TÓPICO 2 — ARGUMENTAÇÃO: CONCEITOS E ELEMENTOS CARACTERIZADORES
99
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2
0
2
1.
100
UNIDADE 2 — LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
Para	melhor	compreender	e	fixar	os	distintos	 tipos	de	argumentos,	observe	 
o	breve	texto-síntese	a	seguir.
QUADRO 6 – DISTINTOS TIPOS DE ARGUMENTOS
FONTE: <https://querobolsa.com.br/enem/redacao/tipos-de-argumentos>. Acesso em: 26 abr. 2021.
Argumento de autoridades
O	argumento	de	autoridade	é	aquele	que	se baseia na citação de uma fonte 
confiável,	 como	 um	 especialista	 no	 assunto	 que	 está	 sendo	 debatido.	 Em	
um	 debate	 sobre	 educação,	 por	 exemplo,	 Paulo	 Freire,	 como	 educador	 e	
pedagogo	reconhecido	internacionalmente,	poderia	ser	citado	como	meio	de	
fundamentar	uma	ideia	apresentada	na	fala.	A	citação	da	fonte	pode	ser	feita	
tanto de forma direta	 –	 quando	há	 a	 transcrição	da	 citação,	 utilizando,	 em	
geral,	as	aspas	–	quanto	de	forma	indireta,	quando	se	reescreve	aquilo	que	foi	
dito	pela	autoridade	escolhida.
Argumento por evidência (ou por comprovação)
Esse	tipo	de	argumento	se baseia em uma evidência	que	possa	levar	o	leitor	
a	admitir	e	aceitar	uma	tese.	Essa	evidência	pode	ser,	por	exemplo,	formada	
por dados estatísticos	ou	por pesquisas de diversos tipos,	desde	que	a	fonte	
esteja	 explícita.	 Ainda	 é	 possível	 utilizar	 esse	 tipo	 de	 argumento	 a	 partir	
de fatos notórios,	ou	seja,	que	são	de	domínio	público.
Argumento por comparação (ou por analogia)
A	argumentação	por	comparação	ou	analogia	é	aquela	em	que	se	estabelece	
relação	de	semelhança	ou	diferença	entre	a	tese	defendida	e	algum	tipo	de	
dado	a	fim	de	comprovar	o	ponto	de	vista	defendido.	Nesse	caso,	é	possível	
construir	analogias	com	obras	de	ficção,	por	exemplo,	tais	como	romances	e	
séries	de	televisão.
Argumento por causa e consequência
Esse	 tipo	 de	 recurso	 argumentativo	 busca	 comprovar	 a	 tese	 defendida	 a	
partir	 da	 exploração	 das	 relações	 de	 causa	 e	 consequência	 associadas	 ao	
tema	debatido.	Ao	explicar	os	porquês	 e	 as	consequências	 da	 temática	 em	
questão,	pode-se confirmaras ideias expressas pela tese.
Argumento por ilustração (ou exemplificação)
Quando	se	tem	um	tema,	ou	mesmo	uma	tese,	de	caráter	muito	teórico,	uma	
das	maneiras	mais	 interessantes	 de	 fundamentar	 o	 ponto	 de	 vista	 adotado	
é	por	meio	da	 ilustração	 ou	exemplificação.	Esse	 recurso	argumentativo	 se	
constrói	a	partir	da	elaboração de uma breve narrativa,	que	pode	ser	real	ou	
fictícia,	com	o	intuito de tornar mais concreto aquilo	que	está	sendo	defendido	
pelo	texto.
TÓPICO 2 — ARGUMENTAÇÃO: CONCEITOS E ELEMENTOS CARACTERIZADORES
101
4 FALÁCIAS ARGUMENTATIVAS
O	termo	“falácia”	tem	sua	origem	no	verbo	latino	fallare (enganar),	sendo,	
portanto,	 relacionado	com	engano,	 falha,	 erro	ou	equívoco.	Para	Freitas	 (2012,	
p.	 138),	 “Falácias	 são	 erros	 lógicos,	 conscientes	 ou	 inconscientes,	 enganadores	
e/ou	 autoenganadores,	 que	 servem	 para	 ludibriar	 e	 formar	 pré-compreensões	
equivocadas,	conducentes	a	preconceitos	ilegítimos,	estereótipos	e	más	decisões”.
Falácia	argumentativa	ocorre	quando	o	raciocínio	desenvolvido	aparenta	
ser	válido	e	verdadeiro,	mas	em	realidade	é	falso	e	incorreto	em	razão	dos	vícios	e	
incoerências	de	que	possui,	e,	por	essa	razão.	Isso	faz	com	que	o	interlocutor	possa	
ter	a	ilusão	de	estar	diante	de	um	raciocínio	argumentativo	válido,	verdadeiro	e	
coerente,	quando	na	realidade	trata-se	de	mera	 impressão	ou	aparência.	Nesse	
sentido,	 falácia	 passa	 a	 ser	 sinônimo	 de	 sofisma,	 que	 é	 um	 argumento	 que	
parte	de	premissas	 verdadeiras	 ou	 assim	 consideradas,	mas	 que	 chega	 a	uma	
conclusão	 inaceitável	 ou	 absurda.	Ou	 seja,	 nos	 sofismas,	 embora	 as	premissas	
sendo	verdadeiras	a	conclusão	é	falsa.
 
Exemplo	de	sofisma:	
“Conviver	com	criminoso	é	presunção	de	criminalidade.
Pedro	convive	com	um	criminoso.
Logo;	presume-se	que	Pedro	também	seja	criminoso”.	
Perceba	 o	 erro,	 vício,	 contido	 no	 raciocínio	 acima.	 A	 premissa	 é	
aparentemente	verdadeira,	mas	a	conclusão	é	equivocada,	um	resultado	distorcido	
que	pode	levar	o	ouvinte	a	uma	adesão	equivocada	ao	argumento	utilizado.	
São	várias	as	falácias	que	são	encontradas	ou	utilizadas.	Vejamos	algumas	
delas:	
• Falácias da ignorância do assunto (ignoratio elenchi):	 é	 a	 falácia	 também	
chamada	de	razões	irrelevantes.	Trata-se	em	discutirou	inserir	no	argumento	
o	que	não	faz	parte	da	discussão	ou	temática	em	pauta	de	forma	a	apelar	para	
a	 ignorância	 do	 interlocutor	 que	 não	 pode	 ou	 não	 tem	 conhecimento	 para	
refutar	a	asserção	reconhecidamente	falsa.	No	direito	considera-se	argumento	
falacioso	por	 ignorância,	por	exemplo,	 se	um	advogado	de	defesa	expõe	no	
Tribunal	do	Júri	sobre	as	mazelas	ou	malefícios	das	prisões,	para	comover	os	
jurados	e	impedir	uma	condenação	do	réu,	deixando	de	lado	a	materialidade	
do	crime	e	a	culpabilidade	do	agente,	e	não	as	condições	em	que	eventualmente	
poderá	cumpri	a	pena	cominada.	
102
UNIDADE 2 — LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
FIGURA 14 – APELO À IGNORÂNCIA
FONTE: <https://slideplayer.com.br/slide/10183391/>. Acesso em: 26 abr. 2021.
• Falácia da Falsa Analogia:	 trata-se	de	um	 tipo	de	 falácia	 argumentativa	que	 é	
o	equívoco	de	semelhança	ao	se	tomar	uma	coisa	por	outra.	É	realizada	através	
da	 comparação	 de	 duas	 premissas	 que	 supostamente	 possuem	 características	
comuns,	 produzindo	 um	 resultado	 equivocado.	 Ou	 seja,	 a	 conclusão	 não	
se	 sustenta	 porque	 as	 premissas	 utilizadas	 não	 são	 análogas,	 não	 possuem	
propriedade	ou	características	semelhantes,	não	servindo,	portanto,	como	base	
de	uma	conclusão	válida	e	verdadeira.
Exemplo:	
“Estamos	diante	de	uma	falsa	analogia	ao	afirmar	que	“o	Estado	deve	
ser	gerido	como	uma	empresa,	pois	tanto	o	Estado	como	a	empresa	necessitam	
de	 gestores”.	 Trata-se	 de	 uma	 falácia,	 visto	 que,	 embora	 ambos	 precisem	de	
gestores,	 existem	 diferenças	 relevantes	 entre	 estes,	 tais	 como	 a	 cobrança	 de	
impostos	e	a	obrigatoriedade	de	oferecer	serviços	educacionais	e	de	saúde	por	
parte	 do	Estado,	 que	 não	 são	 exigências	 impostas	 às	 empresas	 privadas.	Ou	
ainda:	 “Os	 empregados	 são	 como	 pregos.	 Temos	 de	 martelar	 a	 cabeça	 para	
desempenharem	a	sua	função.	O	mesmo	deve	acontecer	com	os	empregados”.
FONTE: <https://griczynskir.jusbrasil.com.br/artigos/697923047/exemplos-das-falacias-mais-
comuns>. Acesso em: 26 abr. 2021.
No	segundo	exemplo,	observe	que	se	trata	de	uma	falácia,	uma	vez	que	
“empregados”	e	“pregos”	possuem	diferenças	em	suas	características	e	funções.	
• Falácia da Petição de Princípio (petitio principii): é	 também	 chamada	 de	
falácia	 por	 falta	 de	 razões.	 Também	 denominada	 argumentum in circulo,	 é	
aquela	 falácia	 com	 a	 qual	 se	 dá	 como	 provado	 o	 que	 deve	 ser	 provado	 (id 
quod probandum est).	 A	 falácia	 é	 utilizada	 com	 a	 pretensão	 de	 argumentar	
utilizando	um	argumento	“sem	argumento”	aditando	‘razões’	cujo	significado	
é	simplesmente	equivalente	ao	da	pretensão	original.	Seria	apresentar	como	
demonstrado	o	que	exatamente	lhe	cabe	demonstrar.	
Exemplo:	 o	 réu	 suicidou-se	porque	 se	 envenenou.	Observe	que	não	há	
apresentação	de	argumentos,	mas	limita-se	repetir	o	que	deve	ser	justificado.	
TÓPICO 2 — ARGUMENTAÇÃO: CONCEITOS E ELEMENTOS CARACTERIZADORES
103
• Falácia genética: é	aquela	que	consiste	em	extrair	conclusões	equivocadas	ou	
indevidas	 sobre	 algo	 a	partir	da	qualidade	ou	propriedade	de	 sua	 fonte	de	
origem.	
QUADRO 7 – FALÁCIA GENÉTICA
FONTE: <https://filosofianaescola.com/falacias/falacia-genetica/>. Acesso em: 26 abr. 2021.
A	falácia	genética	ocorre	quando	uma	ideia	é	rejeitada	com	base	em	sua	origem	
ou	história.	 Imagine	você	 contando	a	um	amigo	que	pensou	em	uma	nova	
explicação	para	a	origem	do	universo	enquanto	dormia.	E	ele	respondendo:	
Se	uma	ideia	teve	origem	num	sonho,	certamente	ela	está	errada!	Seu	amigo	
acaba	de	cometer	a	falácia	genética	ao	rejeitar	sua	ideia	apenas	com	base	no	
que	a	originou.	Outro	exemplo	dessa	falácia	seria	o	seguinte.	Você	descobre	
que	o	Fusca	da	Volkswagen	foi	desenvolvido	com	o	apoio	de	Hitler	e	com	base	
nisso	conclui	que	esse	não	era	um	bom	carro.	Novamente,	 está	 chegando	a	
uma	conclusão	falaciosa	por	levar	em	consideração	apenas	a	origem	do	carro.
Por que é uma falácia?
O	que	torna	uma	teoria	verdadeira	são	as	razões	que	existem	a	seu	favor.	
As	causas	que	 levaram	ao	seu	surgimento	não	contribuem	em	nada	para	
mostrar	se	é	verdadeira	ou	falsa. 
• Falácia ad populum: consiste	 em	 apelar	 a	 sentimentos	 populares	 para	
substituir	 ou	 suprir	 a	 falta	 de	 consistência	 na	 argumentação.	 Essa	 falácia	
desperta	uma	espécie	de	“argumento”	ou	“mentalidade”	de	massa	 levando	o	
indivíduo	a	concordar	com	a	multidão,	sob	o	risco	de	ser	excluído	e	perder	o	
sentimento	de	pertinência.
FIGURA 15 – FALÁCIA AD POPULUM
FONTE: <https://www.slideshare.net/j_sdias/persuadir-e-convencer-ethos-pathos-e-logos-corrigido>. 
Acesso em: 26 abr. 2021.
104
UNIDADE 2 — LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
• Falácia ad miseridordiam ou apelo à piedade: tal	modelo	de	falácia	consiste	
em	 apelar	 a	 sentimentos	 de	 compaixão	 e/ou	 piedade	 para	 conquistar	 uma	
conclusão	errada	e	insustentável.	
Observe	a	figura	a	seguir.	O	argumento	do	aluno	ao	afirmar	que	estudou	
16	horas	por	dia	pretende	convencer	que	merece	ser	aprovado.	
FIGURA 16 – APELO À PIEDADE
FONTE: <https://www.slideshare.net/jadsonmoura1/falcias-argumentativas>. Acesso em: 26 abr. 2021.
• Como pode dizer que 
eu reprovo? Eu estava 
mais perto da positiva 
e, além disso, estudei 
16 horas por dia.
QUADRO 8 – TEXTO-SÍNTESE: FUJA DAS FALÁCIAS ARGUMENTATIVAS
Todo texto argumentativo	 busca	 convencer.	 Para	 alcançar	 esse	 objetivo,	 os	
argumentos	tornam-se	imprescindíveis.	Há	várias	estratégias	argumentativas,	
as	citações,	exemplos,	argumento,	contra-argumento,	entre	outras.	Todos	os	
argumentos	 são	válidos?	 	 Posso	usar	 qualquer	 exemplo	para	 embasar	meu	
texto?	Ao	argumentar,	buscam-se	 razões	que	embasem	uma	conclusão,	por	
isso	é	preciso	tomar	cuidado	com	as	falácias.
Falácia	 é	 um	 substantivo,	 derivado	de	um	adjetivo	 latino	 fallace, que	 significa	
enganador,	ilusório.	Todas	as	vezes	em	que	um	raciocínio	errado	ou	mentiroso	
é	 colocado	 como	 verdadeiro	 ocorre	 a	 falácia.	A	 imagem	 utilizada	 no	 texto	 é	
falaciosa.	Por	quê?	Todos	sabem	que	os	coelhos	não	botam	ovo,	mas	a	imagem	
coloca	 esse	 argumento	 como	verdadeiro.	Entretanto,	 a	 lógica	o	 invalida.	Todo	
argumento	 falacioso	 pode	 encontrar	 razões	 psicológicas,	 íntimas,	 emocionais,	
mas	nunca	lógicas.	Por	isso,	é	preciso	estar	atento	à	construção	textual,	porque	o	
texto	argumentativo	deve	usar	argumentos	plausíveis,	pautados	na	lógica.	Então,	
cuidado	com	aqueles	que	parecem	sustentar	uma	conclusão,	mas	na	realidade	
não	sustentam.		A	seguir,	veja	alguns	exemplos	de	argumentos	falaciosos:
“Todo	político	é	corrupto”.
“A	violência	no	Brasil	é	resultado	dos	programas	de	TV”.
“Joana	morreu	depois	de	fazer	radioterapia.	Então	quem	tem	câncer	não	deve	
fazer	esse	procedimento”.
Os	argumentos	acima	são	falaciosos,	visto	que	não	são	pautados	na	lógica,	portanto,	
não	podem	sustentar	uma	conclusão.	No	primeiro	exemplo,	a	afirmação	não	leva	
TÓPICO 2 — ARGUMENTAÇÃO: CONCEITOS E ELEMENTOS CARACTERIZADORES
105
FONTE: <https://www.portugues.com.br/redacao/fuja-falacia-no-texto-argumentativo.html>. 
Acesso em: 26 abr. 2021.
em	consideração	que	possam	existir	políticos	honestos.	Já	no	segundo,	afirma-se	
que	a	única	culpada	pela	violência	é	a	mídia	e	isso	não	é	uma	verdade	absoluta,	
uma	vez	que	a	violência	tem	outras	causas.	No	último	exemplo,	o	fato	de	os	eventos	
terem	acontecido	em	sequência,	não	significa	que	um	seja	a	causa	do	outro.
Como	visto	acima,	a	falácia	pode	fragilizar	sua	argumentação,	por	isso	não	a	
use.	Lembre-se	de	que	os	argumentos	precisam	ser	contundentes.
5 FIGURAS DE LINGUAGEM
As	figuras	de	linguagem	são	importantes	recursos	linguísticos	utilizados	
de	maneira	 original	 e	 criativa	 para	 tornar	 a	 comunicação	mais	 expressiva.	As	
figuras	 de	 linguagem	 são	 formas	 de	 utilização	 não	 literal	 das	 palavras	 que,	
distanciando-se	 dos	 padrões	 gramaticais	 convencionais,	 dão	 à	 argumentação	
mais	ênfase.	Por	sua	importância	merecem	destaque	particular.
 
São	inúmeras	as	figuras	de	linguagem.Algumas	têm	a	finalidade	de	dar	
estilo	 e	 ornamentação	 ao	 discurso	 enquanto	 outras	 facilitam	 a	 persuasão	 ou	
mesmo	servem	para	sensibilizar	e	emocionar	o	auditório.	
Antes	de	iniciarmos	a	tipificação	das	figuras	de	linguagem	é	importante	
conhecermos	os	conceitos	de	denotação	e	conotação	para	melhor	compreendermos	 
o	uso	das	figuras	de	linguagem.	Observe	a	figura	a	seguir.
FIGURA 17 – CONOTAÇÃO
FONTE: <https://conhecimentocientifico.r7.com/conotacao-gramatica/>. Acesso em: 26 abr. 2021.
	Conotação	 é	quando	a	palavra	 é	utilizada	 em	uma	oração	 em	sentido	
figurativo	 e	 a	 intenção	 da	 mensagem	 apenas	 é	 compreendida	 ao	 analisar	 ou	
conhecer	o	contexto	em	que	é	utilizada,	tal	qual	a	expressão	“cabeças	vão	rolar”	
é	utilizada	na	Figura	17.	Portanto,	conotação	ocorre	quando	a	palavra	é	utilizada	
em	sentido	figurado,	indo	além	de	seu	sentido	literal.
106
UNIDADE 2 — LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
QUADRO 9 – FIGURAS DE PALAVRAS
FONTE: <https://blog.maxieduca.com.br/figuras-linguagem-escrita/>. Acesso em: 26 abr. 2021.
Figuras Definição Exemplos
Metáfora:
Comparação	(mental)	sem	uso	de	
conectivos	comparativos,	com	verbo	de	
ligação	explícito	na	frase.
	"Sua	boca	era	um	pássaro	escarlate."	
(Castro	Alves)
Catacrese:
Transferir	a	uma	palavra	o	sentido	
próprio	de	outra,	utilizando-se	formas	já	
incorporadas	aos	usos	da	língua
Batata	da	perna,	pé	da	mesa,	
cabeça	de	alho.
Comparação 
ou Símile:
Comparação	entre	dois	elementos	
comuns,	semelhantes.	Normalmente	se	
emprega	uma	conjunção	comparativa:	
como, tal qual, assim como, que nem.	
"Como	um	anjo	caído	
	questão	de	esquecer..."
(Legião	Urbana)
Sinestesia: Fusão	de	no	mínimo	dois	dos	cinco	sentidos	físicos.
"De amargo	e	então	salgado 
ficou	doce,"	-	Paladar (Legião	Urbana)
Antonomásia: Substituímos	um	nome	proprio	pela	qualidade	ou	característica	que	o	distingue.	
O	Pai	da	Aviação
(=	Santos	Dumont)
Metonímia: Troca-se	uma	palavra	por	outra	com	a	qual	ela	se	relaciona.
Gosto	de	ler Jorge Amado.
(observe	que	o	nome	do	autor	está	
sendo	usado	no	lugar	de	suas	obras).	
Sinédoque:
Troca	que	ocorre	por	relação	de	
compreensão	e	que	consiste	no	uso	do	
todo	pela	parte,	do	plural	pelo	singular,	
do	gênero	pela	espécie,	ou	vice-versa.	
O mundo	é	violento.	
(=	os	homens)
Perífrase: Substituição	de	um	nome	por	uma	expressão	que	facilita	a	sua	identificação.
O país do futebol acredita	no	seu	povo.	
(país	do	futebol	=	Brasil)
Denotação	 é	 quando	 a	 palavra	 é	 utilizada	 de	 maneira	 próxima	 a	 seu	
sentido	real,	literal	ou	dicionarizado.	Em	geral,	o	sentido	denotativo	é	utilizado	
quando	o	objetivo	é	a	transmissão	de	uma	mensagem	cuja	finalidade	é	persuadir,	
transmitir	 informações	 ou	 orientar	 sobre	 determinados	 assuntos	 como,	 por	
exemplo,	memorandos,	manual	de	instruções,	reportagens.	O	sentido	denotativo	
é	utilizado	para	definir	conceitos.	
Portanto,	 as	 figuras	 de	 linguagem	 compreendidas	 como	 estratégias	 do	
orador	para	alcançar	determinado	“efeito”	nos	ouvintes	através	do	uso	não	literal	
das	palavras	aproximam-se	do	uso	conotativo	das	palavras.	São	recursos	linguísticos	
que	tornam	as	mensagens	mais	expressivas	e	significativas.	As	figuras	de	linguagem	
podem	ser	classificadas	em	distintos	tipos.	Vejamos	algumas	dessas	classificações.	
• Figuras de Palavras ou Semânticas:	são	as	figuras	de	 linguagem	em	que	há	
o	 emprego	 das	 palavras	 em	 sentido	 figurado	 ou	 conotativo,	 indo	 além	 ou	
extrapolando	o	significado	original	das	palavras	dando	a	elas	um	sentido	novo	
ou	incomum.	
TÓPICO 2 — ARGUMENTAÇÃO: CONCEITOS E ELEMENTOS CARACTERIZADORES
107
QUADRO 10 – FIGURAS DE PENSAMENTO
Figuras Definição Exemplos
Antítese É	a	aproximação	de	palavras	de	sentidos	contrários,	antagônicos.
Onde	queres	prazer,	sou	o	que	dói	
E	onde	queres	tortura,	mansidão	
Onde	queres	um	lar,	Revolucão	
E	onde	queres	bandido,	
sou	heroi."	(Caetano	Veloso)
Paradoxo ou
Oximoro:
É	mais	que	a	aproximacao	antitética;	
é	a	propria	ideia	que	se	contradiz.
	"O	mito	é	o	nada	que	é	tudo."
(Fernando	Pessoa)
Apóstrofe:
É	a	evocação,	o	chamamento.	
Identifica-se	facilmente	na	função	
sintática	do	VOCATIVO.
O	lindo	mar	verdejante,	tuas	ondas	
entoam	cantos,	és	tu	o	dono	reinante
das	brancas	mares	espumantes	...	
(Nel	de	Moraes)	
Perífrase:
Designação	dos	objetos,	acidentes	
geográficos,	indivíduos	e	outros	que	
não	queremos	simplesmente	nomear.	
Cidade	Luz	(=	Paris)
Gradação:
É	uma	sequência	de	palavras	ou	
ideias	que	servem	de	intensificação	
numa	sequência	temporal.
"Dissecou-a	a	tal	ponto,	e	
com	tal	arte,	que	ela,	
Rota	baca	noienta	vil."
(Raimundo	Corrêa)
Ironia:
Consiste	em	dizer	o	oposto	do	que	
se	pensa,	com	intenção	sarcástica	ou	
depreciativa.
	A	excelente	Dona	Inácia	era	
mestra	na	arte	de	judiar	de	criança"	
(Monteiro	Lobato)
Hipérbole:
É	a	figura	do	exagero,	a	fim	de	
proporcionar	uma	imagem	chocante	
ou	emocionante.
"Rios	te	correrão	dos	olhos,	se	
chorares!"	(Olavo	Bilac)
Eufemismo: Figura	que	atenua	ideias	desagradáveis	ou	penosas.
"E	pela	paz	derradeira	que
enfim	vai	nos	redimir	
Deus	lhe	pague."	
(Chico	Buarque)	
Paz	derradeira	=	morte
Disfemismo Expressão	grosseira	em	lugar	de	outra,	suave,	branda.	
Você	não	passa	de	um	porco...	
um	pobretão.
Personicação ou
Prosopopeia:
Consiste	em	dar	vida	a	seres
inanimados.
		"O	vento	beija	meus	cabelos	
As	ondas	lambem	minhas	pernas	
O	sol	abraça	o	meu	corpo."	
(Lulu	Santos	-	Nelson	Motta)	
Reificação: Consiste	em	'coisificar'	os	seres	humanos.	 "Tia,	botei	os	candidatos	na	lista	"
Litotes: Consiste	em	negar	por	afirmação	ou	vice-versa
"Ela	até	que	não	é	feia."
(logo,	é	bonita!)
• Figuras de Pensamento: seu	 uso	 possui	 como	 objetivo	 dar	 mais	 ênfase	 às	
ideias	e	pensamentos	que	se	deseja	expressar	buscando-se	provocar	emoções	e	
sentimentos	através	da	exploração	e	ampliação	do	uso	das	palavras.	
FONTE: <https://blog.maxieduca.com.br/figuras-linguagem-escrita/>. Acesso em: 26 abr. 2021.
108
UNIDADE 2 — LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
• Figuras de Efeito Sonoro ou de Harmonia:	são	as	figuras	sonoras	que	criam	
efeitos	de	sentido	pela	representação	de	sons	na	 língua	escrita.	Servem	para	
dar	ritmo	expressivo	à	frase.	
QUADRO 11 – FIGURAS SONORAS
FONTE: <http://joanaguga.blogspot.com/2015/06/figuras-sonoras-ou-de-harmonia.html>. 
Acesso em: 26 abr. 2021.
• Figuras de Construção ou de Sintaxe:	são	as	que	se	caracterizam	por	algum	
tipo	de	modificação,	inversão,	repetição	ou	omissão	dos	termos	em	uma	frase.	
Por	outras	palavras,	é	um	tipo	de	estratégia	utilizada	para	modificar	a	estrutura	
sintática	da	oração	de	um	texto	a	fim	de	tornar	mais	expressivo	seu	conteúdo.	
TÓPICO 2 — ARGUMENTAÇÃO: CONCEITOS E ELEMENTOS CARACTERIZADORES
109
QUADRO 12 – FIGURAS DE CONSTRUÇÃO
FONTE: <https://pt.slideshare.net/AulasParticularesInfo/figuras-de-linguagem-
inverso-16421998>. Acesso em: 26 abr. 2021.
110
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
•	 A	argumentação	é	definida	como	processo	de	estruturação	de	um	raciocínio	
lógico	e	coerente	que	tem	como	propósito	convencer	alguém	para	modificar	
seu	comportamento	ou	opinião	e,	assim,	é	de	fundamental	relevância	para	a	
atuação	de	profissionais	da	área	jurídica.
•	 A	 argumentação	 é	 constituída	 de	 distintos	 elementos,	 quais	 sejam:	 a)	
Coerência	 –	 a	 construção	de	uma	 sequência	 lógica	de	 forma	a	possibilitar	 a	
compreensão	 da	 conclusão	 e	 depende	 de	 fatores	 tais	 como	 conhecimento,	
inferência	e	contextualização;	b)	Carisma	–	virtude	ou	capacidade	pessoal	de	
produzir	alto	grau	de	convencimento;	e;	c)	Dialética	–	espécie	de	“movimento”	
argumentativo	em	que	se	produz	o	embate	de	ideias	distintas	(tese	e	antítese)	
do	qual	é	possível	a	produção	de	uma	nova	(síntese).
 
•	 É	 possível	 a	 utilização	 de	 diferentes	 tipos	 de	 argumentos	 de	 acordo	 com	 a	
finalidade	e	o	auditório,	sendo	os	mais	comuns	o	de	autoridade,	de	pressupostos	
comuns,	analogia	ou	de	comparação,	dentre	outros.
•	 Conceituar	e	diferenciar	as	falácias	argumentativascompreendidas	como	erros	
lógicos,	 conscientes	 ou	 não,	 que	 conduzem	 a	 pré-compreensões	 equivocadas	
produzindo	preconceitos	ilegítimos,	estereótipos	e	más	decisões.
 
•	 Como	se	caracterizam	e	quais	são	as	diferentes	figuras	de	linguagem	enquanto	
estratégias	utilizadas	pelo	orador	cujo	objetivo	é	alcançar	determinado	efeito	
nos	ouvintes	através	do	uso	não	oral	das	palavras.
111
1	 A	 argumentação	 é	 definida	 como	 atividade	 utilizada	 para	 justificar	 ou	
refutar	opiniões	de	forma	a	 justificar	de	maneira	razoável	algo	e	envolve	
um	conjunto	de	declarações	com	a	finalidade	de	persuadir	ou	demonstrar	
um	conteúdo,	ideia	ou	conceito	de	maneira	consistente	e	sem	contradições.	
Acerca	da	argumentação,	assinale	a	afirmação	CORRETA:
a)	(			)	Argumentação	 são	 opiniões	 aceitas	 sem	 necessidade	 de	 justificação,	
bastando	a	coerência.
b)	(			)	Argumentar	e	persuadir	são	fenômenos	distintos	e	sem	relação	entre	si.
c)	 (			)	Argumentar	é	uma	habilidade	que	pode	ser	adquirida.
d)	(			)	Argumentação	não	é	utilizada	em	textos	escritos.
2	 A	 argumentação	 é	 elaborada	 de	 acordo	 com	 o	 auditório	 e	 deve	 possuir	
elementos	ou	componentes	básicos	dentre	os	quais	a	coerência,	que	é	definida	
como	uma	sequência	lógica	que	permite	a	compreensão	de	uma	conclusão.	
A	construção	de	argumentação	coerente	depende	do	uso	de	determinados	
fatores,	dentre	 os	quais,	 o	 conhecimento.	Acerca	do	 conhecimento	 como	
elemento	argumentativo,	considere	as	seguintes	asserções:
I-	 Conhecimento	 é	 o	 conjunto	de	 saberes	que	 integra	o	patrimônio	 intelectual	
acumulado	pelo	orador	que	possibilita	a	elaboração	de	argumentos	coerentes.
PORQUE
II-	 O	conhecimento	é	uma	forma	de	inferência	argumentativa.	
 
Assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	(			)	As	asserções	I	e	II	são	falsas.
b)	(			)	As	asserções	I	e	II	são	verdadeiras,	sendo	a	II	a	justificativa	da	I.
c)	 (			)	A	asserção	I	é	verdadeira	e	a	II	é	uma	proposição	falsa.
d)	(			)	A	asserção	I	é	falsa	e	a	II	é	uma	proposição	verdadeira.
3	 A	argumentação	é	uma	estratégia	cuja	finalidade	é	estabelecer	um	“acordo”	
entre	o	orador	e	o	auditório	que	são	partícipes	de	uma	interação	que	se	dá	
em	distintas	etapas.	Em	uma	primeira	etapa	ou	fase	podem	ser	utilizados	
distintos	tipos	de	argumentos,	dentre	os	quais,	o	de	autoridade.	Acerca	do	
argumento	de	autoridade,	assinale	a	afirmação	CORRETA:
a)	(			)	O	argumento	de	autoridade	é	um	tipo	de	argumento	que	serve	para	
estabelecer	uma	relação	hierárquica	ou	de	subordinação.
b)	(			)	Argumento	de	autoridade	independe	da	competência	do	orador,	uma	
vez	que	depende	do	grau	de	hierarquia	entre	os	partícipes	da	interação	
comunicativa.
AUTOATIVIDADE
112
c)	 (			)	Argumento	de	autoridade	não	deve	ser	utilizado	juridicamente.
d)	(			)	Argumento	de	autoridade	independe	dos	valores	compartilhados	por	
um	grupo	de	pessoas	ou	de	um	grupo	social.
4	 Em	Minas	Gerais,	na	cidade	de	Carmo	da	Cachoeira,	o	Juiz	Ronaldo	Tovani,	
substituto	 da	 Comarca	 de	 Varginha,	 concedeu	 a	 liberdade	 provisória	 a	 um	
acusado	preso	em	flagrante	por	ter	furtado	duas	galinhas,	lavrando	a	sentença	
em	versos.	Considere	o	trecho	da	referida	sentença	transcrito	a	seguir:		
“No	dia	cinco	de	outubro
Do	ano	ainda	fluente
Em	Carmo	da	Cachoeira	Terra	de	boa	gente
Ocorreu	um	fato	inédito
Que	me	deixou	descontente.
O	jovem	Alceu	da	Costa
Conhecido	por	"Rolinha"
Aproveitando	a	madrugada
Resolveu	sair	da	linha
Subtraindo	de	outrem
Duas	saborosas	galinhas...”.
FONTE: <https://jus.com.br/artigos/32022/juiz-poeta-sentencia-em-versos-a-liberdade-de-
-um-ladrao-de-galinha>. Acesso em: 26 abr. 2021.
Pergunta-se:	Por	que	a	expressão	“sair	da	linha”	é	uma	figura	de	linguagem?	
Que	tipo	de	figura	de	linguagem	é?
5	 A	 argumentação	 é	 definida	 como	 atividade	 utilizada	 para	 justificar	 ou	
refutar	opiniões	de	forma	a	 justificar	de	maneira	razoável	algo	e	envolve	
um	conjunto	de	declarações	com	a	finalidade	de	persuadir	ou	demonstrar	
um	conteúdo,	ideia	ou	conceito	de	maneira	consistente	e	sem	contradições.	
Quais	 são	 os	 distintos	 elementos	 que	 constituem	 a	 argumentação?	
Caracterize	cada	um	deles.
113
UNIDADE 2
TÓPICO 3 — 
DIREITO, ARGUMENTAÇÃO E LÓGICA JURÍDICA
1 INTRODUÇÃO
A	 lógica	 jurídica	 é	 definida	 como	 um	 conjunto	 de	 técnicas	 racionais	
que	 possibilitam	 a	 elaboração	 de	 um	 raciocínio	 argumentativo	 persuasivo	
cujo	objetivo	é	a	 tomada	de	uma	decisão	na	esfera	 jurídica.	Neste	 tópico,	você	
compreenderá	que	o	exercício	do	direito	é	mais	do	que	conhecer	as	leis,	mas	exige	
também	a	habilidade	de	enfrentar	contradições	e	solucionar	um	conflito	da	vida	
social	através	da	operacionalização	do	sistema	normativo	lógico	e	coerente.
Veremos	 que	 a	 validade	 de	 um	 argumento	 jurídico	 decorre	 da	 lógica	
das	 inferências	 elaboradas,	 ou	 seja,	poderemos	 compreender	que	na	 atividade	
do	 jurista	 se	 impõe	 a	 necessidade	 de	 realização	 de	 um	 conjunto	 de	 deduções	
conceituais	e	relacionadas	aos	fatos	ou	informações	relevantes	a	fim	de	produzir	
o	direito	do	caso	concreto.		
Em	síntese,	compreenderemos	a	possibilidade	de	estruturar	argumentos	
jurídicos	de	maneira	 lógica	de	 forma	a	 conferir	 operacionalidade	 e	 sentido	 ao	
sistema	normativo.	
2 ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
Como	 já	estudado,	a	argumentação	é	definida	como	recurso	 linguístico	
que	tem	como	estratégia	razões	de	defesa	de	uma	conclusão	–	argumentos	–	a	fim	
de	convencer	alguém.		Assim,	ao	utilizarmos	recursos	lógicos	de	argumentação	
estamos	 fazendo	 uso	 de	mecanismos	 para	 convencer	 alguém	 a	 “pensar	 como	
pensamos”	(ELTZ;	TEIXEIRA;	DUARTE,	2018,	p.	110).	
Esse	mesmo	conceito	aplica-se	quando	falamos	em	argumentação	jurídica,	
que	é	definida	como	um	recurso	próprio	e	técnico	de	convencimento	cujo	objetivo	
é	a	tomada	de	uma	decisão	na	esfera	jurídica.	“Toda	decisão	jurídica	deverá	ser	
embasada	com	o	emprego	racional	de	análise	da	legislação	pertinente	–	porém,	
a	argumentação	poderá	vir	a	se	tornar	fator	decisivo	para	a	análise	e	a	aplicação	
da	lei”	(ELTZ;	TEIXEIRA;	DUARTE,	2018,	p.	110).	Assim,	a	atividade	jurídica,	em	
qualquer	um	de	seus	campos,	exige	o	domínio	de	técnicas	argumentativas,	não	se	
admitindo	que	o	profissional	do	direito	desconheça,	além	da	linguagem	jurídica,	
a	técnica	argumentativa.	
114
UNIDADE 2 — LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
Nesse	sentido,	Atienza	(2014,	p,	17)	chama	a	atenção:
Ninguém	duvida	de	que	a	prática	do	direito	consista,	fundamentalmente,	
em	 argumentar,	 e	 todos	 costumamos	 convir	 em	 que	 a	 qualidade	 que	
melhor	define	o	que	se	entende	por	um	“bom	jurista”	talvez	seja	a	sua	
capacidade	de	construir	argumentos	e	manejá-los	com	habilidade.
O	exercício	do	direito	não	é	tão	somente	o	conhecimento	de	leis,	mas	é	
o	 exercício	 de	 uma	 atividade	 argumentativa	 buscando	 cumprir	 as	 funções	 da	
concretização	do	direito	na	prática.	Sem	dúvida,	a	argumentação	jurídica	é	um	
processo	em	que	conceitos	e	conhecimentos	técnicos	e	factuais	se	interagem	a	fim	
de	 instrumentalizar	o	operador	do	direito	no	enfrentamento	de	contradições	e	
inúmeras	possibilidades	de	solução	diante	de	um	fato	da	vida	social.	
Lembremos	de	que,	no	campo	jurídico	há,	em	geral,	a	oposição	de	interesses,	
bens	jurídicos	e	direitos,	o	que	se	chama	de	lide,	exigindo	do	profissional	da	área	
sustentação	das	razões	de	direito	através	da	argumentação.	
FIGURA 18 – RETÓRICA E DIREITO
FONTE: <http://filosofialogoss.blogspot.com/2019/02/retorica-como-arte-da-persuasao.html>. 
Acesso em: 26 abr. 2021.
O QUE É “LIDE”?
 “Trata-se do conflito de interesses manifestado em juízo. Tal termo é muitas vezes 
utilizado como sinônimo de ação, porém na verdade aquela (lide) é um meio pelo qual se 
exercita o direito a esta (ação). Significa demanda, litígio, pleito judicial. Pode ser pendente, 
quando já houve citação, porém ainda não se proferiu a sentença; e temerária, quando há 
abuso de direito, em que uma parte litiga apenas para prejudicar outrem”.
FONTE: <https://www.direitonet.com.br/dicionario/exibir/873/Lide>.Acesso em: 26 abr. 2021.
DICAS
TÓPICO 3 — DIREITO, ARGUMENTAÇÃO E LÓGICA JURÍDICA
115
No	 direito	 não	 há	 exercício	 de	 nenhuma	 atividade	 sem	 justificação	 e	
argumentação.	Costuma-se	afirmar	que	não	se	formula	nenhum	pedido	a	um	juiz	
sem	que	se	explique	o	porquê	sob	pena	de	indeferimento	do	pedido,	podendo,	em	
caso	de	petição	inicial,	por	exemplo,	ser	considerada	inepta.	Ou	seja,	um	pedido	
judicial	deve	ser	muito	bem	formulado,	sendo	o	fato	e	os	fundamentos	jurídicos	
muito	bem	demonstrados,	sob	pena	de	ser	indeferido.	Veja	a	decisão	a	seguir.
 
INDEFERIMENTO	DA	INICIAL.	NARRATIVA	CONFUSA.		AUSÊNCIA	
DE	 CONCLUSÃO	 LÓGICA.	 INÉPCIA	 DA	 INICIAL.	 SENTENÇA	
MANTIDA.	Na	hipótese	em	julgamento	deve	ser	mantida	a	 inépcia	da	
inicial	decretada	pelo	MM	Juízo	a	quo,	pois	 a	 exordial	não	permite	
ao	 magistrado	 uma	 apreciação	 lógica	 do	 pedido,	 pois	 a	 narrativa	
dos	 fatos	 é	 confusa,	 desconexa	 e	 impede	 uma	 análise	 lógica	 do	
pedido.	 Indeferimento	da	 inicial	que	se	mantém.	 (TRT-13	–	Recurso	 
Ordinário:	 RO	 0152600-30.2014.5.13.00010152600-30.2014.5.13.0001.	
Data	de	publicação:	02/06/2015).
QUANDO UM PEDIDO JUDICIAL É CONSIDERADO INEPTO? 
 Inepto é algo que não tem habilidade ou aptidão para produzir efeito jurídico. 
A petição inicial ou a denúncia, por exemplo, são consideradas ineptas quando não 
preenchem os requisitos legais e, portanto, são rejeitadas pelo juiz. As peças inaugurais 
ineptas devem ser "refeitas".
 Fundamentação: Artigo 395, inciso I, do Código de Processo Penal Artigos 330, 
inciso I e parágrafo único; 337, inciso III; 918, inciso II; todos do Código de Processo Civil.
FONTE: <https://www.direitonet.com.br/dicionario/exibir/961/Inepcia-Novo-CPC-Lei-no-13 
105-15>. Acesso em: 26 abr. 2021.
DICAS
Da	mesma	maneira,	nenhum	juiz	profere	uma	decisão	sem	justificativa.	
Não	é	admitido	no	direito	que	a	fundamentação	de	uma	decisão	se	limite	à	mera	
transcrição	ou	se	remeter	à	outra	peça	processual,	conforme	decisão	do	Superior	
Tribunal	de	Justiça	que	transcrevemos	a	seguir:	
A	 jurisprudência	 do	 Superior	 Tribunal	 de	 Justiça,	 embora	 admita	
que	o	 julgador	 se	utilize	da	 transcrição	de	outros	alicerces	 jurídicos	
apresentados	 nos	 autos	 para	 embasar	 as	 suas	 decisões	 –	 no	 caso,	
do	 parecer	 do	Ministério	 Público	 –,	 ressalta	 a	 necessidade	 também	
de	 fundamentação	 própria,	 devendo	 o	 julgador	 expor,	 ainda	 que	
sucintamente,	as	 razões	de	 suas	conclusões,	o	que	não	 foi	 realizado	
pelo	 Tribunal	 de	 origem.	 2.	 Recurso	 ordinário	 em	 habeas	 corpus	
provido	 para	 anular	 o	 acórdão	 proferido	 pelo	 Tribunal	 Regional	
Federal	 da	 2ª.	 Região	 nos	 autos	 do	 Habeas	 Corpus	 n.°	 0008330-
61.2018.4.02.0000,	 determinando	 que	 outro	 seja	 prolatado,	 com	 a	
necessária	fundamentação”	(RHC	104.665/RJ,	j.	13/12/2018).
116
UNIDADE 2 — LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
Você	 facilmente	 percebe	 que	 a	 prática	 do	 direito	 é	 essencialmente	
argumentativa,	 sendo	 considerado	 um	 bom	 profissional	 aquele	 que	 possui	 a	
habilidade	de	construir	e	utilizar	bons	argumentos,	uma	vez	que	não	se	trata	somente	
de	extrair	meras	conclusões	de	um	texto	legal.	Através	da	argumentação,	o	jurista	
elabora,	além	do	conhecimento,	critérios	de	validade	das	decisões	judiciais.	
Elaborar	a	correta	relação	entre	os	fatos	da	vida	social	e	o	direito	é	um	trabalho,	
além	de	 lógico,	 como	adiante	veremos,	 também	argumentativo.	Não	 é	por	 outra	
razão	que	se	costuma	dizer	que	a	verdade	jurídica	é	uma	construção	argumentativa	
elaborada	a	partir	da	análise	dos	fatos	à	luz	do	conjunto	de	normas	jurídicas.
É	necessário	que	 se	 reconheça	que	verdade	é	uma	criação	humana	e	 tem	
como	base	um	processo	de	conhecimento	e	formas	sociais.	Michel	Foucault	(2005),	
um	dos	maiores	filósofos	do	século	XX,	toma	como	exemplo	as	verdades	jurídicas	
para	demonstrar	que	são	resultado	de	complexa	construção	social,	demonstrando	
como	as	práticas	sociais	constroem	conceitos,	técnicas	e	formas	de	conhecimento.	
Em	seu	trabalho,	Foucault	(2005)	analisa	os	discursos	e	entende	que	são	
como	jogos	estratégicos	de	ação	e	reação	relacionados	com	seu	campo	de	origem,	
como	o	direito	e	a	literatura,	assim,	a	verdade	produzida	não	é	objetiva,	absoluta	
e	inquestionável.	Em	sua	obra	A Verdade e as Formas Jurídicas,	publicada	na	década	
de	1970	a	partir	de	uma	série	de	conferências,	Foucault	questiona	radicalmente	o	
conceito	de	verdade	e	a	relaciona	com	a	construção	do	poder.	
Em	 síntese,	 no	 direito,	 o	 conceito	 de	 verdade	 é	 relacionado	 ao	 de	
probabilidade	 e	 validade	 jurídica,	 como	 ensina	 a	 consagrada	 jurista	 Ada	 P.	
Grinover	(1999,	p.	74):	“Verdade	e	certeza	são	conceitos	absolutos,	dificilmente	
atingíveis,	no	processo	ou	fora	dele.	Mas	é	imprescindível	que	o	juiz	diligencie	
a	fim	de	 alcançar	o	maior	grau	de	probabilidade	possível”.	Como	nos	 explica	
Foucault	 (2005),	 é	 o	mesmo	 que	 dizer	 que	 algo	 é	 verdade	 por	 não	 poder	 ser	
refutado	 e	 qualificado	 ou	mesmo	 que	 algo	 não	 existe	 porque	 é	 algo	 que	 não	
acreditamos	ou	não	conhecemos.	
VERDADE E JUSTIÇA PARA FOUCAULT
 Sem dúvida, o pensador francês Michel Foucault em relação ao conceito de justiça 
explorado na obra A Verdade e Formas Jurídicas, centrada na análise dos discursos jurídicos 
merece ser conhecido. Segue um breve resumo de interessante texto que indicamos para 
leitura complementar.
DICAS
TÓPICO 3 — DIREITO, ARGUMENTAÇÃO E LÓGICA JURÍDICA
117
“Resumo: 
Nas suas obras se evidencia o empenho no resgate histórico, arqueológico e a análise 
crítica da problemática. Em específico, a obra base desta pesquisa é Verdade e as Formas 
Jurídicas (1973/2005), na qual o autor trata dos três conceitos centrais, apresentados no 
título deste texto. O percurso do texto inicia, na primeira parte, localizando o conceito de 
conhecimento na história, tratando de diversas formas de definição. O entendimento da 
que as formas de definição de conhecimento anteriores são a justificativa para produção 
de Foucault. Sua obra pode ser entendida como um exercício de reconstrução das formas 
de conhecimento inventadas pela humanidade. Mas especificamente, a obra de Foucault 
está centrada na análise das práticas discursivas, compreendendo as mesmas como uma 
plataforma para visualizar o conhecimento numa sequência histórica que partiu da razão, 
do sujeito racional e passou pela linguagem. A segunda parte do texto trata da relação 
entre e da dependência que o conceito de conhecimento tem do conceito de verdade, 
bem como a vinculação histórica entre verdade e formas jurídicas. A pesquisa realizada 
apresenta uma compreensão do conceito de justiça, vinculado aos conceitos de forma 
jurídica, verdade e conhecimento, disponibilizando referenciais para compreender os 
parâmetros das relações humanas e a vida em sociedade. Assinala-se, por fim, que o 
método empregado nessa pesquisa é a análise do discurso”.
FONTE: <https://www.imed.edu.br/Uploads/israelkujawa_maurogaglietti_(%C3%A1rea4).pdf>. 
Acesso em: 26 abr. 2021.
Perceba	a	importância	da	argumentação	na	construção	de	uma	verdade	
jurídica	ou	de	um	conceito	válido.
Argumentação,	 no	 sentido	 jurídico,	 é	 utilizada	 especificamente	 como	
uma	forma	de	desenvolver	um	raciocínio	de	forma	a	estabelecer	uma	sucessão	
de	questionamentos	e	por	essa	razão,	na	Antiguidade,	o	discurso	argumentativo	
era	 chamado	 de	 questiones.	 Segundo	 Ferraz	 Jr.	 (2016),	 todo	 problema	 jurídico	
tem	o	caráter	de	um	conflito	que	necessita	de	uma	decisão	e	tem	início	com	um	
questionamento	prévio	que	condiciona	as	respostas	argumentativas	subsequentes.	
A	retórica	antiga	chamava	essa	primeira	etapa	de	translatio,	pois	ela	
permite	às	partes	litigantes	uma	transferência	do	objeto	da	discussão	
para	outro	que	mantém	com	o	primeiro	uma	 relação	 condicionante	
de	que	um	não	possa	ser	discutido	sem	que	antes	se	discuta	o	outro	
(lembre-se,	por	exemplo,	da	possibilidade	de	se	discutir	a	validade	de	
um	documento	–	em	uma	ação	declaratória–	que	serve	de	base	a	uma	
ação	executiva)	(FERRAZ	JR.,	2016,	p.	28).
Após	a	translatio,	ou	seja,	da	identificação	do	interesse	ou	conflito	humano	
como	bem	jurídico	–	amparado	pelo	direito	–	passa-se	ao	procedimento	conjuntural, 
que	é	a	demonstração	das	condições	fáticas,	articulando-se	o	fato ao autor. É	aí	que	
nasce	o	ato	de	argumentar	como	um	conjunto	de	sucessivos	questionamentos	a	
fim	de	respondê-los.	
118
UNIDADE 2 — LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
Portanto,	explica	Ferraz	Jr.	(2016,	p.	30),	que:	
O	ato	de	argumentar	procede,	então,	pelo	questionamento:	há	o	fato?	
Quem	é	o	autor?	Esta	última	interrogação,	por	sua	vez,	sugere	uma	
conjectura	 do	 ânimo	 do	 autor	 (vontade	 livre,	 coagida,	 intencional,	
etc.),	de	suas	condições	de	possibilidade,	de	seu	relacionamento	com	
o	 fato.	O	 questionamento	 estrutura	 as	 posições	 de	 ataque	 e	 defesa.	
O	 ataque	mais	 forte	 afirma	 o	 fato	 e	 relaciona-o	 ao	 autor.	A	 defesa	
mais	forte	nega	ambos.	A	defesa	mais	fraca	admite	o	fato,	mas	nega	
a	autoria,	objetando	o	ânimo,	ou	as	condições	de	possibilidade,	ou	o	
relacionamento	causal.		
A	 sequência	 de	 questionamentos	 vai	 estruturando	 o	 raciocínio	
argumentativo,	relacionando	o	fato	ao	sujeito	envolvido	na	lide,	 levando	a	um	
terceiro	momento	que	é	a	proposição,	 a	definitivo,	 quando	 se	discute	a	 relação	
entre	 o	 fato	 e	 seu	 sentido	 previsto	 na	 norma	 jurídica,	 sendo	 a	 resposta	mais	
adequada	às	questões	propostas	a	mais	forte	sob	o	aspecto	argumentativo.	
QUADRO 13 – QUESTIONAMENTOS GERAIS DO RACIOCÍNIO ARGUMENTATIVO
FONTE: A autora
O quê? Fato	jurídico	principal	ou	questão	jurídica	em	discussão.
Quem?
Definição	 das	 partes	 envolvidas	 e	 devidamente	 qualificadas:	 nome,	
nacionalidade,	 estado	 civil,	 profissão,	 residência	 e	demais	 informações	de	
identificação	(RG,	CPF	etc.).
Quando? Sequência	cronológica	dos	fatos.	
Como? Dinâmica	da	ocorrência	dos	fatos.
Por quê? Razões	que	deram	origem	ou	justificam	o	fato	jurídico.
Então .... Adequação	do	fato	à	norma	jurídica.	
Facilmente,	concluímos	que	a	argumentação,	no	campo	 jurídico,	é	uma	
maneira	organizada	e	sistematizada	de	expor	claramente	e	de	forma	compreensível	
as	razões	que	conduzem	à	determinada	conclusão.	
No	 entender	 de	 Eltz,	 Teixeira	 e	 Duarte	 (2018,	 p.	 110),	 os	 argumentos	
jurídicos	podem	ser	simples	ou	padronizados	e	complexos.	
• Argumentos Simples: é	a	padronização	de	um	argumento	de	forma	a	estabelecer	
frases	que	servem	de	premissas	e	frases	que	servem	como	conclusão.	
TÓPICO 3 — DIREITO, ARGUMENTAÇÃO E LÓGICA JURÍDICA
119
QUADRO 14 – EXEMPLO DE ARGUMENTO SIMPLES
FONTE: Eltz, Teixeira e Duarte (2018, p. 110)
Observe	que	o	argumento	padronizado	é	mais	simples	que	o	original	e	
as	últimas	frases	são	repetidas	e	são	utilizadas	para	enfatizar	as	premissas.	Os	
argumentos	simples,	em	geral,	são	compostos	ou	uma	ou	mais	premissas	de	uma	
única	conclusão.	
No	 campo	 jurídico,	 os	 argumentos	 simples	 são	 aqueles	 que	 são	
construídos	recorrendo	à	lei	e	à	jurisprudência	que	não	apresentam	divergências	
de	 entendimento,	 exigindo	menos	 esforço	 argumentativo.	 Em	 geral,	 utiliza-se	
uma	 introdução	para	 a	 colocação	do	problema,	 seguida	de	um	argumento	de	
autoridade,	a	lei	e	a	jurisprudência	seguidas	de	conclusão,	incluindo,	se	necessário,	
outros	tipos	de	argumento.	
• Argumentos Complexos:	possuem	mais	encadeamentos	lógicos	que	os	simples.	
120
UNIDADE 2 — LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
QUADRO 15 – EXEMPLO DE ARGUMENTO COMPLEXO
FONTE: Eltz, Teixeira e Duarte (2018, p. 112)
No	 caso	 acima,	 a	 premissa	 B	 é	 um	 argumento	 bastante	 simples	 que	
decorre	da	premissa	A,	sendo	que	a	premissa	B	serve	de	argumento	para	outra	
premissa,	a	C,	e	esta	última	conduz	à	premissa	D	como	conclusão.	Note	que	são	
argumentos	organizados	e	encadeados	que	conduzem	a	uma	conclusão	final.	Esse	
tipo	de	argumento	é	bastante	utilizado	no	campo	jurídico	nas	sentenças	judiciais,	
petições	de	advogados,	denúncia	de	promotores	etc.	
Sobre	 o	 tema,	 Atienza	 (2014,	 p.	 116)	 afirma:	 “Nos	 casos	 simples,	 pode-se	
considerar	 que	 o	 respaldo	 consistiria	 simplesmente	 na	 enunciação	 da	 proposição	
normativa	correspondente.	Mas,	nos	casos	difíceis,	isso	não	basta;	é	preciso	também	
apresentar	uma	combinação	de	enunciados	descritivos,	normativos	e	avaliativos”.
Finalizando,	o	direito	não	é	tão	somente	o	que	está	literalmente	explícito	em	
uma	norma	jurídica,	ou	seja,	o	direito	é	mais	que	a	lei.	O	exercício	profissional	do	
direito	é	basicamente	argumentativo	com	o	claro	objetivo	de	produzir	uma	resposta	
adequada	ao	caso	concreto	desde	o	conhecimento	técnico,	ético	e	responsável.	
3 LÓGICA E ARGUMENTAÇÃO
Vamos	 compreender	 alguns	 conceitos	 básicos	 e	 essenciais	 de	 lógica	
a	 fim	 de	 podermos	 compreender	 sua	 relação	 com	 a	 argumentação	 jurídica.	
Lógica	 é	 um	 termo	 relacionado	 tanto	 a	 um	 conjunto	de	 regras	 racionais	 que	
conduzem	a	um	conhecimento	como	à	área	da	filosofia	que	estuda	a	validade	
formal	 de	 proposições	 matemáticas	 ou	 linguísticas.	 Especificamente,	 no	
campo	da	linguística,	a	lógica	não	tem	como	objetivo	discutir	a	veracidade	dos	
enunciados,	mas	 sua	 validade	 formal,	 ou	 seja,	 conferir	 sentido	 estrutural	 do	
argumento	 ou	 frase	 enunciada.	 Por	 outras	 palavras,	 pode-se	 afirmar	 que	 há	
lógica	no	enunciado	que	há	um	padrão	formal	correto.	
Pode-se	dizer	que	a	lógica	é	o	que	caracteriza	a	racionalidade	humana	
e	não	foi	criada,	mas	nominada	e	estudada	sistematicamente	desde	o	pensador	
grego	Aristóteles,	entre	os	anos	384	a.C.	e	322	a.C.
TÓPICO 3 — DIREITO, ARGUMENTAÇÃO E LÓGICA JURÍDICA
121
FIGURA 19 – A LÓGICA DETERMINA A ORGANIZAÇÃO E VALIDADE DO PENSAMENTO 
E DOS ENUNCIADOS LINGUÍSTICOS
FONTE: <https://mundoeducacao.uol.com.br/filosofia/logica.htm>. Acesso em: 26 abr. 2021.
A	chamada	lógica	aristotélica	é	a	clássica	e	tem	como	fundamento	princípios	
racionais	e	o	silogismo.	Aristóteles	definiu	o	ser	humano	como	“animal	que	fala”,	
ou	seja,	percebeu	que	diferente	dos	demais	animais,	o	homem	possui	linguagem	e	
que	os	enunciados	linguísticos	possuem	sentido	e	validade,	nascendo	desde	aí,	a	
lógica	como	estudo	sistemático	dos	enunciados	linguísticos.	
O QUE É A LÓGICA ARISTOTÉLICA? 
 
 Aristóteles define que o fundamento 
da lógica é a proposição. Essa usa a linguagem 
para expressar os juízos que são formulados pelo 
pensamento. Proposição atribui um predicado 
(denominado P) a um sujeito (denominado S). 
Os juízos encadeados por esse segmento são 
expressados de maneira lógica por conexões de 
proposições, o que é denominado silogismo. 
O silogismo é o ponto central da lógica 
aristotélica. Representa a teoria que permite a 
demonstração das provas a que estão ligados 
o pensamento científico e filosófico. A lógica
investiga o que faz um silogismo ser verdadeiro, os tipos de proposições de silogismo e os 
elementos que constituem uma proposição. É marcado por três características principais: 
é mediato, é demonstrativo (dedutivo ou indutivo), é necessário. Três proposições o 
constituem: premissa maior, a premissa menor e a conclusão.
 O mais famoso exemplo de silogismo é: Todos os homens são mortais. Sócrates 
é homem. Logo, Sócrates é mortal.
NOTA
122
UNIDADE 2 — LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
 Analisemos:
1. Todos os homens são mortais - premissa universal afirmativa, pois inclui todos os seres 
humanos.
2. Sócrates é homem - premissa particular afirmativa porque refere-se apenas a um 
determinado homem, Sócrates.
3. Sócrates é mortal - conclusão - premissa particular afirmativa.
 Proposição: é o enunciado por meio do discurso declarativo de tudo o que foi 
pensado, organizado, relacionado e reunido pelo juízo. Representa, reúne ou separa pela 
demonstração verbal o que foi separado pelo juízo mentalmente. A reunião de termos é 
feita pela afirmação: S é P (verdade). A separação ocorre pela negação: S não é P (falsidade).
 Sob o prisma do sujeito (S), existem dois tipos de proposições:proposição 
existencial e proposição predicativa.
 As proposições são declaradas conforme a qualidade e a quantidade e obedecem 
à divisão por afirmativas e negativas. Sob o prisma da quantidade, as proposições se dividem 
em universais, particulares e singulares. Já sob o prisma da modalidade, se dividem em 
necessárias, não-necessárias ou impossíveis e possíveis.
 Caso tenha interesse, leia também: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-
que-e-logica-aristotelica/. 
FONTE: <https://www.todamateria.com.br/logica-aristotelica>. Acesso em: 26 abr. 2021.
Os	 estudos	 de	Aristóteles	 sobre	 a	 lógica	 o	 levaram	 a	 concluir	 que	 um	
enunciado	ou	argumento	válido	deve	obedecer	a	três	princípios	básicos:
• Princípio da Identidade: é	a	enunciação	da	identidade,	do	que	é,	os	seres	e	as	
coisas.	Por	exemplo,	quando	afirmamos:	“isto	é	um	texto”	estamos	anunciando	
ou	indicando	a	identidade	da	coisa.
• Princípio da não Contradição:	segundo	tal	princípio,	um	ser	ou	uma	coisa	não	
pode	ao	mesmo	tempo	ter	e	não	ter	uma	identidade.	Ou	seja,	algo	não	pode	ser	
e	não	ao	mesmo	tempo.	Exemplo:	se	afirmamos	“isto	é	um	texto”	não	posso	
afirmar	que	“isto	não	é	um	texto”	em	relação	à	mesma	coisa.
• Princípio do Terceiro Excluído:	segundo	tal	princípio,	se	o	ser	ou	a	coisa	é	ou	
não	é	algo	não	existe	uma	possibilidade.	Exemplo:	se	afirmo	“isto	é	um	texto”	
ou	“isto	não	é	um	texto”	não	há	outra	possibilidade.	Se	isto	“é	um	cavalo”	
deixa	de	ser	“um	texto”	e	se	encaixa	como	segunda	possibilidade.	
TÓPICO 3 — DIREITO, ARGUMENTAÇÃO E LÓGICA JURÍDICA
123
FIGURA 20 – OS PRINCÍPIOS DA LÓGICA ARISTOTÉLICA
FONTE: <https://pt.slideshare.net/hodukitove/lgica-formal-58342380>. Acesso em: 26 abr. 2021.
Já	 na	 contemporaneidade,	 outros	 filósofos	 estudaram	 a	 relação	 entre	
a	lógica	e	linguagem,	dentre	os	quais	se	destaca	Bertrand	Russell	(1872-1970),	
um	dos	mais	 influentes	 filósofos	 do	 século	XX	 que	 se	 dedicou	 ao	 estudo	 da	
relação	 da	 matemática	 e	 das	 analogias	 com	 a	 ciência,	 conhecido	 por	 defesa	
de	 causas	 sociais	 e	 pacifista,	 seguramente	 pelos	 impactos	 que	 sofreu	 pelas	
guerras	mundiais	e	tecnologia.	Defendeu	o	não	recrutamento	militar	durante	a	
segunda	guerra,	o	que	lhe	custou,	além	da	prisão,	a	demissão	da	Universidade	
de	Cambridge.	Juntamente	com	Albert	Eistein	fundou	um	movimento	pela	paz	
mundial	e	liderou	movimentos	antiarmamentistas.			
FIGURA 21 – BERTRAND RUSSELL
FONTE: <https://novaescola.org.br/conteudo/1415/bertrand-russell-um-logico-na-educacao>. 
Acesso em: 21 abr. 2021.
“O	problema	é	que	os	imbecis	são	categóricos	
e	os	inteligentes	são	cheio	de	dúvidas”	
(B.	Russell)
124
UNIDADE 2 — LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
Mas	qual	a	relação	da	lógica	com	a	argumentação?	
Como	vimos,	a	argumentação	é	um	instrumento	persuasivo	elaborado	a	
partir	de	um	conjunto	de	proposições	concatenadas	de	maneira	específica,	sendo	
que	uma	proposição	sustenta	outra,	havendo	inferência	entre	elas.	
FIGURA 22 – CONCEITO DE INFERÊNCIA
FONTE: <https://www.dicio.com.br/inferencia/>. Acesso em: 26 abr. 2021.
Inferência	é	uma	operação	mental	através	da	qual	se	extrai	uma	conclusão	
–	nova	proposição	–	de	outras	proposições	já	conhecidas.	Realizar	uma	inferência	é	
deduzir	conceitos,	ideias	ou	informações	que	estão	implícitas	em	um	texto,	sendo	
este	o	ato	que	confere	lógica	e	coerência	ao	texto.	
Quando	a	 inferência	obedece,	 com	rigor,	aos	princípios	da	 identidade,	
terceiro	excluído	e	não	contradição,	bem	como	às	demais	regras	lógicas,	
o	 argumento	 é	 logico	 e,	 então,	 poderemos	 ter	 a	 certeza	 de	 que,	 se	 as	
premissas	são	verdadeiras	e	se	efetivamente	são	atendidos	tais	princípios	
e	regras,	a	conclusão	é	verdadeira	também	(COELHO,	2012,	p.19).	
A	validade	de	um	argumento	decorre	da	lógica	das	inferências	enquanto	
que	a	veracidade	ou	falsidade	são	atributos	das	proposições.	
Observe	 a	 figura	 a	 seguir	 e	 perceba	 que	 o	 erro	 do	 pinguim	 está	 nas	
proposições	e	não	na	forma	de	raciocínio.	Portanto,	se	utilizarmos	premissas	ou	
proposições	falsas	chegaremos	a	uma	conclusão	errada,	porém	logicamente	válida.	
Portanto,	se	partimos	de	uma	premissa	errada	chegaremos	a	uma	conclusão	falsa	
mesmo	que	o	raciocínio	seja	correto.	
TÓPICO 3 — DIREITO, ARGUMENTAÇÃO E LÓGICA JURÍDICA
125
FIGURA 23 – A “LÓGICA DO PINGUIM”
FONTE: <https://www.indagacao.com.br/2019/07/fatec-2019-silogismo-e-uma-estrutura-
logica-que-designa-uma-forma-de-raciocinio-dedutivo.html>. Acesso em: 26 abr. 2021.
Para	Coelho	(2012,	p.	18),	há	duas	condições	para	que	um	raciocínio	lógico	
conduza	à	verdade:	
A	primeira	é:	 a	veracidade	das	premissas.	Partindo-se	de	premissas	
falsas,	pode-se	chegar	a	conclusões	falsas,	mesmo	que	o	raciocínio	seja	
vigorosamente	lógico.	A	segunda	condição	para	se	chegar	à	verdade	
é	a	correção	do	próprio	raciocínio,	no	sentido	de	obediência	estrita	às	
regras	da	lógica.	Os	lógicos	se	ocupam	apenas	da	segunda	condição,	
já́	 que	 da	 veracidade	 das	 premissas	 cuidam	 os	 cientistas	 (biólogos,	
físicos,	sociólogos,	psicólogos	etc.).
A	importância	de	conhecermos	a	lógica,	principalmente	no	campo	jurídico,	 
é	o	cuidado	com	o	procedimento	argumentativo	e	não	nos	deixarmos	 fascinar	
pelo	mero	encadeamento	lógico	das	ideias	e	não	analisarmos	sua	veracidade.	
4 O DIREITO COMO SISTEMA LÓGICO
Como	vimos,	a	lógica	é	um	instrumento	que	permite	organizar	o	raciocínio	
e	elaborar	argumentos	de	maneira	adequada	de	forma	a	produzir	um	resultado.	
É,	portanto,	uma	maneira	de	organizar	o	pensamento	relacionando	ideias	desde	
determinadas	 premissas	 obedecendo	 às	 regras	 próprias	 como	 o	 princípio	 da	
identidade,	não	contradição,	terceiro	excluído,	silogismo	etc.	Assim,	um	sistema	
de	 enunciados	 ou	 conceitos	 é	 lógico	 na	medida	 em	 que	 estiver	 articulado	 de	
forma	específica	obedecendo	a	tais	regras.
126
UNIDADE 2 — LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
A	 fim	 de	 verificarmos	 a	 lógica	 e	 coerência	 do	 direito	 é	 necessário	
compreender	inicialmente	a	diferença	entre	norma	jurídica	e	proposição	jurídica,	
uma	vez	que	ambas	compõem	o	sistema	operado	pelo	profissional	da	área.	As	
normas	jurídicas	são	prescrições	–	devem	ser	–	definidas	por	uma	autoridade	
política	competente,	o	Estado	através	dos	Poderes	constituídos,	que	formula	um	
juízo	de	valor	definindo	uma	consequência.	Por	exemplo,	o	Código	Penal	define	
em	seu	artigo	121	que	matar	alguém	tem	como	punição,	como	consequência,	
reclusão	de	6	a	20	anos.	Significa	dizer	que	“se	alguém	matar	alguém	deverá	
ser	imposta	a	pena	de	6	a	20	anos”.	Ou	seja,	há	uma	relação	lógica	entre	matar	
alguém	e	a	imposição	de	uma	pena,	uma	vez	que	tem	uma	premissa	válida.	A	
validade	ou	não	das	normas	jurídicas	depende,	por	exemplo,	da	competência	
da	autoridade	que	a	produz.	
Porém,	 essas	 normas	 são	 estudadas	 e	 analisadas	 pelos	 estudiosos	 do	
direito,	 pelos	 doutrinadores	 os	 quais	 elaboram,	 através	 da	 ciência	 jurídica,	
um	fundamento.	Por	exemplo,	para	o	referido	artigo	121	do	Código	Penal	há	
todo	um	fundamento	e	justificativa	que	discute	a	vida	como	um	bem	protegido	
juridicamente,	a	necessidade	de	haver	a	relação	entre	o	ato	praticado	e	o	evento	
morte	–	o	nexo	de	causalidade,	causas	de	exclusão	de	culpabilidade	etc.	Essas	
fundamentações	 elaboradas	pelos	doutrinadores	que	 se	 referem	ao	 conteúdo	
da	norma	 são	 as	 chamadas	proposições	 jurídicas.	Não	 se	 trata	de	uma	mera	
reprodução	 da	 norma	 jurídica,	 é	 sua	 descrição	 científica,	 considerando	 sua	
finalidade	e	valores.	
Assim,	ao	ser	criada	uma	norma	jurídica	por	um	legislador,	ela	ganha	
harmonia	com	o	conjunto	de	fundamentos	e	valores	do	direito	para	ser	aplicada	
e	 inserida	 no	 conjunto	 do	 ordenamento	 jurídico,	 adquirindo	 uma	 espécie	
de	 “novo	 status”	 como	 prescrição	 jurídica,	 e	 dessa	 maneira	 adquire	 lógica	
e	 coerência	 dentro	 do	 sistema	 normativo.	 Considera-se	 que	 para	 manter	 a	
unidade	e	coerência	do	direito	é	necessário	que,	de	alguma	maneira,	sobretudo	
argumentativa,	 conferirsentido	 às	 normas	 jurídicas,	 solucionando-se	 os	
problemas	de	 lacuna	e	antinomia.	Mais	adiante	você	verá	que	o	 fundamento	
valorativo	 da	 norma	 jurídica	 e	 do	 sistema	 normativo	 é	 dado	 pela	 ordem	
constitucional	que	estabelece	as	diretrizes,	finalidades,	valores	e	princípios	que	
devem	nortear	o	agir	político	do	Estado	e	da	sociedade.
Considerar	o	direito	um	sistema	lógico	e	coerente	pressupõe	a	inexistência	
de	lacunas	e	antinomias.	Lacuna	é	a	ausência	de	norma	para	disciplinar	o	caso	
concreto,	que	pode	ser	de	diferentes	tipos,	como	você	poderá	observar	melhor	
na	Figura	 24.	Uma	das	 soluções	 é	 a	 analogia	que	 consiste	 em	uma	 forma	de	
raciocínio	 lógico	 através	 da	 comparação,	 servindo	 como	 integração	 da	 lei.	 É	
um	 método	 de	 interpretação	 jurídica	 utilizado	 quando,	 diante	 da	 ausência	
de	previsão	 específica	 em	 lei,	 aplica-se	uma	disposição	 legal	 que	 regula	 casos	
idênticos,	semelhantes,	ao	da	controvérsia.
TÓPICO 3 — DIREITO, ARGUMENTAÇÃO E LÓGICA JURÍDICA
127
FIGURA 24 – AS LACUNAS DO DIREITO
FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/382665299563439655/>. Acesso em: 26 abr. 2021.
Como	exemplo	de	lacuna	normativa	podemos	citar	o	artigo	499	do	Código	
Civil,	quando	trata	do	contrato	de	compra	e	venda	e	afirma:	“É	lícita	a	compra	e	
venda	entre	cônjuges,	com	relação	a	bens	excluídos	da	comunhão”.	Observe	que	
a	lei	fala	em	cônjuges	e	não	em	companheiros.	Mas	como	fica	em	casos	de	união	
estável?	Neste	caso,	pode-se	utilizar	a	analogia.	Se	é	lícita	a	compra	e	venda	entre	
cônjuges	na	constância	do	casamento,	 também	é	 lícita	a	compra	e	venda	entre	
companheiros	na	constância	da	união	estável,	desde	que	relativa	a	bens	excluídos	
da	 comunhão,	 uma	 vez	 que	 união	 estável	 e	 casamento	 possuem	 semelhança	
quanto	ao	bem	jurídico	protegido	que	é	a	família.	
128
UNIDADE 2 — LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
FIGURA 25 – USO DE ANALOGIA NO DIREITO
FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/382665299563439655/>. Acesso em: 26 abr. 2021.
O	fundamento	da	analogia	é	o	princípio	da	igualdade,	segundo	o	qual	a	
lei	deve	tratar	de	forma	igual	os	iguais	e	na	exata	medida	de	sua	desigualdade	e,	
assim,	casos	semelhantes	devem	ser	regulados	por	normas	semelhantes.		
DIFERENÇA ENTRE ANALOGIA, INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA 
E INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA
“1. Analogia: Faz-se uso da analogia na ausência de norma a regular o caso concreto, 
colmatando-se a lacuna normativa com a aplicação de outro texto legal que regule outra 
hipótese semelhante ou idêntica. Aplica-se a solução de um caso previsto e regulado pelo 
direito a outro caso não regulado. O operador do direito deve argumentar que, se houvesse 
regulação prevista para o caso lacunoso, teria a mesma aplicação e solução do dispositivo 
legal o qual usa como referência. Além de estar presente expressamente em outros textos 
legais, a analogia tem previsão na Lei de Introdução das Normas do Direito Brasileiro – 
LINDB, conforme se verifica de seu art. 4°: Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso 
de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. Colhe-se da 
redação literal que o uso da analogia depende de omissão da lei e, por isso, se diz que não 
é método de interpretação, mas de integração da lei.
NOTA
TÓPICO 3 — DIREITO, ARGUMENTAÇÃO E LÓGICA JURÍDICA
129
2. Interpretação analógica: Diferentemente da analogia, na interpretação analógica há 
uma lei a ser aplicada e interpretada e, então, não há lacuna ou omissão legislativa ou 
normativa. Todavia, há a necessidade da aplicação desse método interpretativo quando 
em parte do próprio texto da lei há uma fórmula ou conceito genérico que precisa ser 
interpretado e ter sua norma revelada a partir do mesmo texto legal. Nesse caso, não se 
utilizam outras leis para tal interpretação, extraindo-se conceitos análogos do próprio texto 
o qual se procura interpretar.
Os exemplos mais famosos são os do Direito Penal, como o seguinte: Art. 121. Matar 
alguém:... Homicídio qualificado...§ 2° Se o homicídio é cometido: I - mediante paga 
ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; ...A própria lei indicou que a 
paga ou a promessa de recompensa seriam motivos torpes, razão pela qual a descoberta 
de "outro motivo torpe" a qualificar o crime deverá ser extraída da análise dos próprios 
conceitos do precitados. Essas hipóteses ocorrem especialmente quando o legislador, por 
impossibilidade de antecipar e prever todos os fatos da vida, estipula uma fórmula genérica 
que permite ao interprete revelar outras situações comparativas às quais deveriam se 
aplicar a lei.
3. Interpretação extensiva: Por fim, na interpretação extensiva também não há lacuna, 
nem generalidade nos conceitos. Há lei regulando o caso concreto e interpreta-se 
conceitos ou palavras do texto de forma a ampliar seu alcance ou significado. Dessa 
forma, desvenda-se o sentido e extensão dos conceitos determinados e previstos no 
texto legal para que situações que, à primeira vista, não possuíam regulação por aquela 
norma, possam ser por ela também regidas. É por isso que se defende, nesse tipo de 
interpretação, que seu uso naquele caso concreto é possível porque "o legislador teria 
dito menos do que queria". Um exemplo interessante consta na decisão do STJ no Resp 
621.399/RS em que se ampliou o alcance da impenhorabilidade de bem de família para 
proteger imóvel que, embora fosse de propriedade de pessoa jurídica, abrigava a única 
moradia dos sócios de uma empresa familiar. 
Veja-se o teor da norma interpretada extensivamente: Art. 1° O imóvel residencial próprio 
do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de 
dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges 
ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses 
previstas nesta lei. (Lei n. 8.009/1990)”.
FONTE: <http://twixar.me/6D8m>. Acesso em: 26 abr. 2021.
130
UNIDADE 2 — LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
Já	a	antinomia	é	o	caso	de	conflito	de	normas	que	pode	ocorrer	em	três	
situações:	 a)	 quando	 uma	 norma	 obriga	 certo	 ato	 e	 outra	 o	 proíbe	 (normas	
contrárias);	b)	quando	uma	norma	obriga	certo	ato	e	outra	permite	a	abstenção	
desse	 ato	 (normas	 contraditórias);	 c)	 quando	 uma	 norma	 proíbe	 certo	 ato	 e	
outra	o	permite	(normas	contraditórias).	Como	solução	existem	três	critérios:	o	
cronológico,	o	hierárquico	e	o	da	especialidade.
O	critério	cronológico	ocorre	quando	a	norma	posterior	prevalece	sobre	a	
anterior	-	lex posterior derogat priori.	Ou	seja,	no	direito	brasileiro	entende-se	que	
a	norma	jurídica	mais	nova	revoga	a	mais	antiga,	pela	necessidade	de	constante	
aperfeiçoamento	do	direito	positivo	 e	 tem	 como	 fundamentado	 o	 artigo	 2°,	 §	
1°,	 da	 Lei	 de	 Introdução	 às	 Normas	 do	 Direito	 Brasileiro,	 que	 regula	 que	
norma	posterior	 revoga	a	anterior:	 “A	 lei	posterior	 revoga	a	anterior	quando	
expressamente	o	declare,	quando	seja	com	ela	incompatível	ou	quando	regule	
inteiramente	a	matéria	de	que	tratava	a	lei	anterior”	(COELHO,	2012,	p.	67).
FIGURA 26 – ANALOGIA SEGUNDO A LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO
FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/509117932856628831/>. Acesso em: 26 abr. 2021.
TÓPICO 3 — DIREITO, ARGUMENTAÇÃO E LÓGICA JURÍDICA
131
O	 critério	 hierárquico	 é	 a	 solução	 por	 excelência	 das	 antinomias,	 isso	
porque	a	norma	superior	prevalece	sobre	a	inferior,	por	exemplo,	a	Constituição	
Federal	 de	 1988	 tem	 caráter	 supralegal,	 na	 qual	 as	 demais	 leis	 (ordinárias,	
complementares	 etc.)	 devem	 estar	 em	 consonância,	 em	 harmonia	 com	 os	
princípios	por	ela	estabelecidos,	sob	pena	de	declaração	de	inconstitucionalidade,	
perdendo,	assim,	sua	efetividade.0	Portanto,	“Se	um	dispositivo	constitucional	é	
antinômico	em	relação	a	uma	lei	ordinária,	aquele	deve	ser	respeitado	em	prejuízo	
desta”	(COELHO,	2012,	p.	18).
E,	finalmente,	o	critério	da	especialidade	é	o	que	determina	que	a	normaespecial	prevalece	sobre	a	geral.	Por	exemplo,	as	regras	sobre	o	contrato	de	compra	
e	venda	do	Código	Civil	não	se	aplicam	às	relações	de	consumo	caso	o	Código	de	
Defesa	do	Consumidor	possuir	disposição	diversa,	porque	esta	é	mais	específica,	
por	dizer	respeito	apenas	aos	contratos	envolvendo	consumidores	enquanto	que	
o	Código	Civil	é	aplicável	aos	contratos	em	geral.	Outro	exemplo	é	a	Lei	Maria	
da	Penha,	que	é	aplicável	nos	casos	de	grave	ameaça	doméstica,	enquanto	que	o	
artigo	158	do	Código	Penal	é	geral	e	diz	respeito	a	situações	gerais.
Mas	como	no	cotidiano	dos	profissionais	do	direito	a	lógica	e	argumentação	
são	 utilizadas?	 Advogados,	 juízes,	 promotores,	 procuradores	 da	 justiça	 etc.	
diariamente	 obrigam-se	 a	 produzir	 peças	processuais,	 pareceres	 ou	decisões	de	
maneira	organizada	e	com	bons	argumentos.	Se	refletirmos	bem	a	lógica	é	o	que	
auxilia	na	estruturação	de	toda	argumentação,	com	ênfase	no	silogismo.	Conforme	
afirma	 Coelho	 (2012,	 p.	 78),	 “Para	 alguns	 lógicos	 do	 direito,	 o	 profissional	 do	
direito,	 em	seu	 trabalho,	não	 se	 limita	a	 encadear	operações	mentais	dedutivas,	
mas,	 ao	 contrário,	 conjuga	diversas	 outras	 faculdades	mentais,	 como	a	 intuição	
e	a	indução”.	Consiste	em	um	trabalho	silogístico,	sendo:	a)	a	premissa	maior,	o	
conteúdo	da	norma	jurídica	–	a	lei;	b)	a	premissa	menor,	o	caso	concreto,	a	realidade	
do	fato;	e,	c)	a	conclusão,	a	aplicação	ou	adequação	da	norma	ao	caso	concreto.	
Vejamos	um	exemplo	bastante	simples:	
Matar	alguém	é	crime	previsto	no	artigo	121	do	Código	Penal	com	punição	de	6	
a	20	anos	–	premissa	maior;
Pedro	matou	João	–	fato	ou	premissa	menor;
Logo,	Pedro	deve	ser	punido	-	conclusão.	
Esse	tipo	de	raciocínio	é	denominado	subsunção,	que	é	a	transformação	da	
norma	jurídica,	na	maioria	das	vezes,	geral	e	abstrata	em	direito	no	caso	concreto.	
132
UNIDADE 2 — LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
SUBSUNÇÃO – UM ESTUDO DE CASO DE SILOGISMO JURÍDICO 
 “Suponhamos que ocorra uma colisão entre dois automóveis. Os respectivos 
motoristas dizem que a culpa foi do outro. Desejam obter o pagamento de um valor que 
permita o conserto dos carros. Como não querem aceitar as razões alheias, param de se 
comunicar, frustrados.
 Um dos motoristas, dias depois, busca um terceiro comunicador que possa ouvi-
lo e ao outro, para decidir quem tem razão. Esse terceiro é o juiz de direito, procurado por 
meio de um processo judicial. A partir de então, a comunicação torna-se exigível e deixa 
de ser meramente subjetiva. Os motoristas não podem mais comunicar quando, como 
e o quê quiserem. Agora, devem comunicar aquilo o que é solicitado no processo, no 
momento em que for solicitado.
 O processo judicial, assim, é uma forma de se restabelecer a comunicação 
interrompida que causa o conflito. Ele se inicia por meio da interposição de uma petição inicial 
(regulada no art. 282 do CPC). Nessa petição, o autor deve apresentar, entre outras coisas:
1. Os fatos, demonstrando que existe um conflito e descrevendo todas as circunstâncias 
que o envolvem. Sobretudo, deve apresentar um responsável pelo conflito e destacar 
que se trata de uma situação que viola o direito;
2. Os fundamentos jurídicos, a fim de especificar a violação do direito, destacando quais 
as normas legais que serão utilizadas para resolver o caso (se houver lacuna, quais os 
procedimentos para preenchê-la que devem ser adotados). Uma vez destacadas as 
normas legais, elas devem ser interpretadas, demonstrando-se que possuem significados 
válidos e vigentes (sem serem incompatíveis com outras normas superiores), que se 
referem ao fato que engloba o conflito (alcançam o fato, sociológica e historicamente) 
e que podem resolver o conflito com eficácia (cumprindo seus fins sociais) e com 
legitimidade (permitindo a concretização do bem comum);
3. O pedido, que consiste na aplicação das normas legais interpretadas aos fatos narrados.
 A petição inicial, assim, descreve o conflito, sugere normas legais que podem 
resolvê-lo e pede a aplicação das mesmas. Ela reinstaura a comunicação, exigindo do réu 
uma resposta, que se torna obrigatória. O meio mais comum de responder é a contestação 
(art. 300 do CPC). De modo geral, o réu contesta os três itens acima, negando a versão 
apresentada dos fatos, questionando as normas jurídicas e suas interpretações e pedindo 
uma aplicação diversa das leis.
 Lembremos: a causa do conflito é a falta de comunicação. Ao ser institucionalizado 
no Poder Judiciário, a comunicação torna-se obrigatória e o conflito será resolvido 
pelo juiz. Mas, para que o conflito possa ser resolvido, há a necessidade de que ele seja 
determinado: qual sua abrangência? Serão considerados pontos conflituosos aquelas 
questões que surgirem durante a comunicação: as controvérsias entre o autor e o réu, ou 
seja, as divergências comunicacionais.
 Voltando ao exemplo da colisão de automóveis, se o autor afirmar que o acidente 
ocorreu no dia 10, às 10h e o réu concordar com isso, não teremos um ponto controvertido, 
pois ambos se entenderam no processo comunicacional. O juiz nada precisará fazer quanto 
ao momento do acidente. Porém se o réu afirmar que cruzou o sinal verde e o autor disser 
que o sinal estava vermelho para o autor, teremos uma controvérsia. O conflito limitar-se-á 
a esta questão.
NOTA
TÓPICO 3 — DIREITO, ARGUMENTAÇÃO E LÓGICA JURÍDICA
133
 O juiz resolverá os pontos controvertidos por meio da sentença (art. 485 do 
CPC). Ele tomará decisões para resolver os conflitos fáticos e jurídicos. Em termos fáticos, 
os envolvidos no conflito deverão apresentar provas que permitam convencer o juiz da 
veracidade do que alegam. Em termos jurídicos, os conflitantes deverão convencer o juiz a 
utilizar determinadas normas legais, interpretá-las da forma que reputam melhor e aplicá-
las por meio da apresentação de argumentos doutrinários e jurisprudenciais.
 De modo simplificado, a decisão é um ato no qual uma possibilidade é escolhida 
e outras são descartadas. O juiz escolherá uma versão para os fatos narrados (pode ser a 
versão de uma das partes, uma mescla de ambas ou uma versão própria do juiz, obtida por 
meio das provas apresentadas), escolherá as leis que utilizará, delimitará seus significados 
por meio de uma interpretação e, enfim, transformará o texto legal em um texto sentencial.
 A resolução final do conflito dar-se-á, assim, pela aplicação do direito. Podemos 
enxergá-la como um procedimento silogístico”.
FONTE: <https://direito.legal/interpretacao-e-alicacao/53-aplicacao-do-direito/>. Acesso em: 
26 abr. 2021.
FIGURA 27 – SILOGISMO JURÍDICO
FONTE: <http://twixar.me/KF8m>. Acesso em: 26 abr. 2021.
Observe	na	figura	anterior,	a	proposta	de	estruturação	de	um	argumento	
jurídico,	verbal	ou	escrito,	de	maneira	lógica.	Há	que	sempre	se	considerar	que	o	
objetivo	de	um	argumento	jurídico	é	o	convencimento	que	deve	ser	demonstrado	
de	maneira	lógica	e	coerente	a	fim	de	conduzir	a	uma	necessária	conclusão.	
134
UNIDADE 2 — LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
LEITURA COMPLEMENTAR
“LINGUAGEM: QUAL SUA IMPORTÂNCIA NO MUNDO JURÍDICO?”
Kelly	Graziely	da	Cruz
A	 sociedade	 depende	 fundamentalmente	 da	 linguagem.	 O	 que	 é	 a	
linguagem,	porém?	Em	qualquer	dicionário	de	língua	portuguesa	significa,	“o	uso	
da	palavra	articulada	ou	escrita	como	meio	de	expressão	e	de	comunicação	entre	
pessoas”,	isto	é,	a	linguagem	é	a	forma	de	comunicação	entre	os	seres	humanos	
e	 para	 isso	utiliza-se	 da	 ferramenta	palavra	 e	 seus	 respectivos	 significados.	O	
Direito,	por	sua	vez,	é	um	conjunto	de	normas,	ou	seja,	um	dever	ser	expressado	
por	meio	de	 textos	escritos	e	 transmissão	oral	que	nada	mais	são	do	que	uma	
linguagem.	A	linguagem	é	um	conjunto	de	signos	naturais	e	artificiais.	Os	signos	
artificiais	 são	 elaborados	 pelo	 homem	 e	 possuem	uma	 base	 (dicionário)	 e	 um	
contexto	(da	base	retira-se	um	significado	que	seja	mais	coerente	com	o	contexto	
em	análise).	A	linguagem	tem	três	aspectos	relevantes:	a	sintática	(signo+	signo);	
a	 semântica	 (signo	 +	 referente	 –	 a	 imagem	 convencionada	 culturalmente);	 e	
a	 pragmática	 (signo	 +	 contexto	 e	 usuário).	 Logo,	 o	mundo	 jurídico	 tem	 como	
principal	instrumento	de	labor	a	linguagem.
Atualmente	 o	 mundo	 jurídico	 busca	 soluções	 para	 os	 casos	 concretos	
ou	 conflitos	da	 sociedade	na	hermenêutica,	 com	seus	métodos	 interpretativos,	
principalmente	 averiguando	 a	 linguagem	 das	 normas.	 Deve-se	 salientar,	
entretanto,	que	ainda	hoje	 se	dá	pouca	 importância	à	parte	 teórica	do	Direito,	
preferindo-se	mais	o	Direito	substancial	que	o	material,	ação	totalmente	errônea,	
pois	a	prática	para	ser	boa	necessita	muito	da	formação	teórica	do	profissional,	
ou	 seja,	 de	 sua	 argumentação.	 Assim,	 é	 extremamente	 importante	 analisar	 a	
interpretação	e	consequentemente	a	linguagem	do	Direito.
Em	vista	disso	percebe-se	que	o	Direito	instrumental	não	pode	ser	visto	
como	uma	lógica	matemática,	em	que	dois	mais	dois	são	quatro,	e	sim	interligado	
ao	Direito	material,	 estudando	os	dois	 conjuntamente.	Com	 isso	vem	à	 tona	o	
problema	da	linguagem	e	até	onde	o	Direito	tem	uma	linguagem	extremamente	
técnica?	Será	que	o	mundo	jurídico	se	“aliena”	da	linguagem	vulgar?	Para	saber	
se	o	Direito	tem	linguagem	técnica	ou	natural	é	preciso	conhecer	as	duas	divisões.	
A	 linguagem	natural	se	caracteriza	por	ser	o	 instrumento	de	comunicação	por	
excelência	entre	os	seres	humanos,	não	se	preocupando	com	rigor	científico	ou	
técnico,	enfim,	é	a	linguagem	espontânea.
Por	outro	lado,	a	linguagem	técnica	tem	um	caráter	mais	cientifico,	com	
signos	determinados,	embora	encontre	sua	base	na	linguagem	natural.
TÓPICO 3 — DIREITO, ARGUMENTAÇÃO E LÓGICA JURÍDICA
135
É	 fundamental	 destacar,	 que	 a	 linguagem	 ordinária	 não	 é	 suprimida	
pela	jurídica,	sendo	que	a	vulgar	possui	pressupostos	e	elementos	constitutivos	
do	 Direito.	 A	 linguagem	 do	 Direito	 atua	 também	 em	 termos	 caricaturais	
e	 até	da	 literatura	 infantil	 o	 leitor	 retira	de	 alguns	dos	 seus	 fundamentos.	O	
Direito,	muitas	vezes,	se	afasta	da	realidade	reduzindo	as	pessoas	à	condição	
institucional.	Várias	vezes,	se	não	em	todas,	o	discurso	da	argumentação	jurídica	
alega	posições	que	não	aquela	que	nos	convém	naquele	momento,	sendo	este	
um	discurso	puramente	institucional.
Em	vista	disso,	para	ser	um	jurisconsulto	renomado	não	se	pode	esquecer	
a	linguagem	comum,	visto	que	o	cliente	é	afeito	apenas	à	linguagem	diária	e	o	
advogado	terá	de	 lhe	responder	na	mesma	linguagem,	caso	contrário	não	será	
entendido.	A	autora	Joana	Aguiar	e	Silva,	citando	o	ilustre	jurista	White,	aborda	
o	seguinte:	“E	uma	vez	que	a	história	tanto	começa	como	acaba	na	linguagem	e	
experiência	vulgares,	o	essencial	do	Direito	é	o	processo	de	tradução	através	do	
qual	tem	que	trabalhar	da	linguagem	vulgar	para	a	 jurídica	e	outra	vez	para	a	
vulgar”.	A	legislação	não	é	imutável,	uma	vez	que	a	sociedade	se	modifica	a	cada	
minuto.	O	legislador	se	refere	à	mulher	honesta,	mas	o	que	é	honestidade	hoje?	É	
o	mesmo	que	significava	quando	a	regra	foi	elaborada,	em	1940?
É	dizer	que	a	linguagem	possui	vários	segmentos	no	âmbito	da	sociedade,	
como	a	dos	médicos,	dos	juristas	e	da	população	em	geral,	que	é	universal	e	todos	
a	entendem.	O	Direito	 tem	sua	própria	 linguagem	e	é	através	das	palavras	ou	
signos	que	se	exterioriza	a	lei,	que	por	sua	vez	deve	ser	interpretada	e	aplicada	
ao	 caso	 concreto.	 Então,	 a	 arte	 das	 palavras	 faz	 com	que	 o	 jurista	 descubra	 a	
solução	mais	adequada.	Salienta-se	que	o	jurista	com	vocabulário	pobre	não	terá	
sucesso	profissional.	De	outro	lado,	o	Direito	não	pode	esquecer	da	linguagem	
comum,	 visto	 que	 tudo	 começa	 com	 a	 linguagem	 vulgar	 e	 com	 esta	 também	
termina.	Na	verdade,	o	que	ocorre	é	uma	 tradução,	 assim	como	 traduzir	uma	
língua	estrangeira	desconhecida.
A	linguagem,	além	disso,	não	é	extremamente	clara	e	objetiva,	havendo	
imprecisão	 em	 seus	 signos,	 entrando	 em	 cena	 as	 figuras	 da	 vagueza	 e	 da	
ambiguidade.	A	vagueza	tem	uma	dimensão	denotativa	(o	que	é?),	por	exemplo,	
a	palavra	“careca”	tem	vários	significados	e	deve-se	averiguar	no	caso	concreto	
a	qual	deles	a	palavra	está	sendo	aplicada.	A	ambiguidade,	dimensão	conotativa	
(qual	dos	sentidos?),	por	exemplo,	“manga”,	pode	ser	de	uma	blusa	ou	uma	fruta.	
O	Direito	também	contém	em	suas	normas	as	figuras	da	vagueza	e	a	ambiguidade,	
tendo	inúmeros	casos	de	 imprecisão	ou	de	dúvidas	de	 interpretação	acerca	da	
significação	de	algum	termo	contido	na	lei.
O	Direito,	 deste	modo,	 é	 interligado	 à	 linguagem,	 quem	 sabe	 até	mais	
que	o	próprio	curso	de	Letras,	por	isso	a	importância	de	aprofundar	os	estudos	
com	um	vocabulário	enriquecido	e	ao	mesmo	tempo	conseguir	a	tradução	desta	
linguagem	técnica	para	a	comum,	para	ser	entendida	por	todos	indistintamente.
136
UNIDADE 2 — LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
O	mundo	jurídico	com	o	uso	da	retórica	procura	solucionar	os	conflitos	
da	sociedade	e	é	por	meio	da	linguagem	que	as	leis	se	exteriorizam,	sejam	elas	
escritas	ou	verbais.	Daí	a	preocupação	dos	mestres	em	ensinar	um	palavreado	
mais	rebuscado	aos	acadêmicos	para	que	tenham	uma	formação	mais	aberta	e	não	
sejam	simples	formalistas,	quer	dizer,	aplicar	a	lei	tal	qual	é,	estritamente	formal,	
devendo	aplicá-la,	mas	sob	o	aspecto	social	e	atual,	em	que	o	fato	se	concretizou,	
utilizando	as	palavras	para	obter	o	resultado	almejado.	De	tal	modo,	no	âmbito	
jurídico	a	comunicação	é	o	fator	que	viabiliza	a	existência	do	Direito.
Assim,	a	 linguagem	do	Direito	é	 técnica,	porém	é	a	vulgar	que	o	 torna	
entendido	pelos	leigos.	Por	isso	tal	importância	da	linguagem	na	vida	do	jurista,	
e	até	se	deve	conhecer	mais	a	fundo	as	palavras	e	seus	significados	para	construir	
uma	interpretação	criativa	com	embasamento	forte	e	convincente.
É	 necessário	 ainda	 inferir	 que	 a	 linguagem,	 sendo	 uma	 forma	 de	
comunicação	entre	as	pessoas,	busca	construir	signos	com	significados	para	uma	
relação	clara	e	objetiva.	A	linguagem	técnica,	por	ter	um	caráter	de	cientificidade	
deixa	muitas	pessoas	confusas	e	por	isso	a	importância	de	operadores	jurídicos	
para	 sanar	 essas	 dúvidas,	 esclarecendo	 os	 termos	 técnicos	 que	 a	 ciência	 do	
Direito	possui.
Conclui-se	 nessa	 pequena	 e	 rápida	 análise	 que	 o	 Direito	 não	 deve	
reduzir-se	a	uma	só	linguagem,	apesar	de	não	poder	se	afastar	da	tecnicidade	
de	suas	normas.	Ou	seja,	a	linguagem	do	Direito	não	é	exclusivamente	natural	
ou	 exclusivamente	 técnica,	 mas	 composta	 de	 ambas	 as	 espécies,	 podendo-
se	 denominar	 a	 linguagem	 jurídica	 como	 mista.	 Afinal,	 em	 decorrência	 da	
necessidade	 de	 se	 cumprir	 as	 normas,	 a	 linguagem	 empregada	 nas	 normas	
jurídicas,	ou	melhor,	na	tradução	destas,	deve	se	basear	na	linguagem	natural	
para	que	o	Direito	cumpra	o	seu	papel	de	controle	social	e	resolução	de	conflitos.
Linguagem	e	Direito	são,	portanto,	como	“a	panela	e	a	tampa”,	e	o	Direito	
nada	seria	sem	a	linguagem.	Logo,	o	Direito	não	é	e	não	pode	ser	uma	linguagem	
estritamente	 técnica	 nem	 especificamente	 vulgar,	 bem	 como	 o	 acadêmico	 ou	
operador	jurídico	não	deve	se	ater	apenas	ao	Direito	instrumental,	“esquecendo-
se”	do	Direito	material,	devendo	haver	um	equilíbrio	entre	ambos	para	obter	um	
bom	desempenho	jurídico	e	social,	traduzindo	os	termos	jurídicos	e	esclarecendo	
as	pessoas	em	geral”
FONTE: <https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/revistadireitoemdebate/article/view/760>. 
Acesso em: 26 abr. 2021.
137
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
•	 A	argumentação	jurídica	é	definida	como	estratégia	específica	de	convencimento	
e	tem	como	objetivo	uma	tomada	de	uma	decisão	na	esfera	jurídica	a	fim	de	
tornar	o	direito	realidade.
•	 O	processo	de	 construção	argumentativo	no	direito	deve	 ser	 feito	de	 forma	
lógica	e	demonstrável	com	vistas	a	produzir	um	resultado	válido	juridicamente.
 
•	 O	 domínio	 da	 lógica	 e	 argumentação	 jurídica	 permite	 elaborar	 e	 discutir	 a	
validadedas	premissas	e	conclusões	jurídicas	auxiliando,	assim,	o	profissional	
da	área	jurídica	atuar	de	forma	competente	e	com	alta	probabilidade	de	êxito.
 
•	 O	direito	é	um	sistema	lógico	cujo	domínio	auxilia	na	organização	do	raciocínio	
e	argumento	jurídico,	relacionando	ideias	a	partir	de	premissas	que	obedecem	
a	regras	e	princípios	articulados	de	forma	a	solucionar	os	casos	de	lacunas	e	
antinomias.				
Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem 
pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao 
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
CHAMADA
138
1	 No	 exercício	da	 atividade	profissional	 considera-se	o	bom	 jurista	 aquele	
que	possui	não	apenas	a	capacidade	de	construir	argumentos	adequados,	
mas	 também	 a	 habilidade	 de	 os	manejar	 com	 competência	 e	 segurança.	
Desde	tal	concepção,	considere	as	seguintes	afirmações:
I-	 O	exercício	do	direito	não	é	tão	somente	o	conhecimento	de	leis,	mas	é	o	
exercício	de	uma	atividade	argumentativa.
II-	 No	campo	jurídico	há,	em	geral,	a	oposição	de	interesses,	bens	jurídicos	
e	 direitos,	 o	 que	 se	 chama	 de	 lide,	 exigindo	 do	 profissional	 da	 área	
sustentação	das	razões	de	direito	através	da	argumentação.		
III-	 A	formulação	de	um	pedido	a	um	magistrado	não	exige	justificação	e	sim	
argumentação.
IV-	 Um	pedido	judicial	deve	ser	bem	formulado,	sendo	o	fato	e	os	fundamentos	
jurídicos	muito	bem	demonstrados,	sob	pena	de	ser	indeferido.	
 
Assinale	a	afirmação	CORRETA:
a)	(			)	As	afirmações	I,	II	e	III	estão	corretas.
b)	(			)	As	afirmações	I,	II	e	IV	estão	corretas.
c)	 (			)	As	afirmações	II,	III	e	IV	estão	corretas.
d)	(			)	As	afirmações	II	e	III	estão	corretas.	
2	 No	direito,	o	conceito	de	verdade	é	relacionado	à	probabilidade	e	validade	
jurídica,	uma	vez	que	ao	afirmarmos	que	algo	é	verdadeiro	significa	que	não	
pode	ser	contestado	ou	refutado,	sobretudo	porque	verdade	é	um	conceito	
absoluto	e	dificilmente	atingido	no	campo	jurídico.	Acerca	do	conceito	de	
verdade	no	campo	jurídico,	considere	as	seguintes	asserções:
I-	 No	campo	jurídico	é	dever	do	órgão	julgador	atuar	de	forma	cuidadosa	a	
fim	de	alcançar	a	maior	probabilidade	possível	de	certeza.	
PORQUE
II-	No	direito,	a	verdade	e	justiça	não	dependem	da	lei	e	sim	da	capacidade	
argumentativa	do	profissional	da	área	jurídica.	
Assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	(			)	As	asserções	I	e	II	são	falsas.
b)	(			)	As	asserções	I	e	II	são	verdadeiras,	sendo	a	II	a	justificativa	da	I.
c)	 (			)	A	asserção	I	é	verdadeira	e	a	II	é	uma	proposição	falsa.
d)	(			)	A	asserção	I	é	falsa	e	a	II	é	uma	proposição	verdadeira.
AUTOATIVIDADE
139
3	 Considere	o	seguinte	texto:	
“A	linguagem	do	Direito	há	de	conformar-se	aos	rigores	da	técnica	jurídica.	
Mas	sem	desprezo	à	clareza,	à	transparência,	à	elegância	e	ao	ritmo	melodioso	
da	poesia.	As	palavras,	para	o	professor,	para	o	advogado,	para	os	operadores	
do	 Direito,	 em	 geral	 são	 feitas	 para	 persuadir,	 demover,	 incentivar.	 Não	
basta	 sintaxe.	 É	preciso	paixão	 (Luís	Roberto	Barroso).	A	 citação	destaca	 a	
importância	da	linguagem	verbal	para	o	profissional	do	direito	no	desempenho	
de	 suas	 funções.	 Observa-se	 que	 Luís	 Roberto	 Barroso	 enfatizou	 o	 uso	 de	
uma	linguagem	clara,	objetiva,	precisa,	em	que	a	razão	direcione	o	discurso	
a	 ser	 produzido,	 a	 fim	 de	 que	 se	 alcance	 o	 principal	 objetivo	 no	 discurso	
jurídico:	o	convencimento.	Entretanto	com	destaque,	exaltou	um	componente	
indispensável	a	ser	associado	à	razão:	a	emoção.	Ora,	o	orador	deve	envolver,	
emocionar,	apaixonar	o	seu	auditório,	a	fim	de	persuadi-lo.	”
FONTE: VALVERDE, Alda da Graça Marques e outros. Linguagem e argumentação jurídica. 
6. ed. São Paulo: Editora Forense, 2020. p. 401-402). 
Acerca	 da	 relevância	 da	 linguagem	 e	 argumentação	 jurídica,	 assinale	 a	
afirmação	CORRETA:
a)	(			)	Argumentação	 jurídica	 é	um	 recurso	de	 convencimento	utilizado	na	
área	jurídica	que	deve	ser	construída	de	forma	a	utilizar	uma	linguagem	
clara	e	objetiva	embasada	racionalmente	na	lei	e	técnica	jurídica.	
b)	(			)	Para	o	convencimento,	o	jurista	deve	privilegiar	a	retórica	e	a	emoção	
em	detrimento	da	técnica	jurídica.	
c)	 (			)	A	atividade	do	profissional	do	direito	exige	capacidade	de	convencer	
com	emoção	e	não	o	manejo	da	técnica	jurídica.
d)	(			)	Na	aplicação	da	lei	não	há	que	ser	considerados	argumentos	e	sim	fatos.
 
4	 O	 direito	 é	 definido	 como	 um	 sistema	 normativo	 lógico	 cujo	 domínio	
auxilia	 na	 organização	 do	 raciocínio	 e	 argumento	 jurídico,	 relacionando	
ideias	a	partir	de	premissas	que	obedecem	a	regras	e	princípios	articulados	
de	forma	a	solucionar	os	casos	de	lacunas	e	antinomias.	Diferencie	lacuna	
de	antinomia.
5	 Considera-se	 antinomia	 quando	há	 conflito	 de	 norma	 jurídica	 diante	 do	
caso	 concreto	 e	 pode	 ocorrer	 em três	 situações:	 a)	 quando	 uma	 norma	
obriga	 certo	 ato	 e	 outra	 o	 proíbe	 (normas	 contrárias);	 b)	 quando	 uma	
norma	 obriga	 certo	 ato	 e	 outra	 permite	 a	 abstenção	 desse	 ato	 (normas	
contraditórias);	c)	quando	uma	norma	proíbe	certo	ato	e	outra	o	permite	
(normas	 contraditórias).	 Como	 são	 solucionados	 os	 casos	 de	 antinomia?	
Fundamente	sua	resposta.
140
REFERÊNCIAS
ARISTÓTELES.	Retórica.	Traduzido	por	Edson	Bini.	Editora:	Edipro,	2017.
ATIENZA,	M.	As razões do direito: teoria	da	argumentação	jurídica. Tradução	de	
Maria	Cristina	Guimarães	Cupertino.	2.	ed.	Rio	de	Janeiro:	Editora	Forense,	2014.
BRASIL.	Lei n° 8.906 de 04 de julho de 1994.	Disponível	em:	http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8906.htm.	Acesso	em:	26	abr.	2021.
CAVALCANTI,	D.	Atuação vocal do advogado-oratória.	Rio	de	Janeiro,	1999.
COELHO,	F.	U.	Roteiro de lógica jurídica. 7.	ed.	São	Paulo:	Editora	Saraiva,	2012.			
ELTZ,	M.	K.	F.;	TEIXEIRA,	J.	K.	M.;	DUARTE,	M.	de.	F.	Hermenêutica e 
Argumentação Jurídica. Porto	Alegre:	Sagah	Educação	S.A.,	2018.		
FERRAZ	JR.,	T.	S.	Argumentação jurídica. 2.	ed.	São	Paulo:	Editora	Manole,	2016.	
FOUCAULT,	M.	A verdade e as formas jurídicas.	Rio	de	Janeiro:	Editora	Nau,	2005.	
FREITAS,	J.	Sustentabilidade.	Direito	ao	futuro.	Belo	Horizonte:	Editora	Forum,	
2012.
GRINOVER,	A.	P.	A	iniciativa	instrutória	do	juiz	no	processo	penal	acusatório. 
In: Revista Brasileira de Ciências Criminais,	ano	7,	n.	27,	~jul./set.	1999.		
HENRIQUES,	A.	Argumentação e Discurso Jurídico. 2.	ed.	São	
Paulo:	Atlas,	2013.	Disponível	em:		http://www.cefac.br/library/teses/
d3a52bd39fc943ead47ffe6563b8bebd.pdf.	Acesso	em:	26	abr.	2021.
OLIVEIRA,	P.	C.	Concepções de justiça em Chaim Perelman e John Rawls: 
introdução	ao	debate	multidisciplinar	entre	o	relativismo	e	o	universalismo.	Ed:	
CRV,	2020.		
PERELMAN,	C.	Tratado da argumentação:	a	nova	retórica.	São	Paulo:	Martins	
Fontes,	2014.		
PLATÃO,	P.	Société	d’Edition	‘Les	Belles	Lettres’.	In: CARNEIRO,	M.	F.	et al.	
Teoria e prática da argumentação jurídica.	Curitiba:	Juruá,	2004.
141
UNIDADE 3 — 
DIREITO MODERNO, ARGUMENTAÇÃO 
JURÍDICA E HERMENÊUTICA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
•	 compreender	o	direito	moderno	como	produto	da	racionalidade	científica	
moderna que nega o senso comum e concebe que o conhecimento deve ser 
demonstrável	e	verificável	por	um	método	objetivo;
•	 identificar	 o	 Positivismo	Científico	 como	 concepção	de	 ciência	 social	 que	
reduz os fenômenos da realidade a fatos comprováveis e que abandona 
questões	metafísicas	ou	demasiadamente	complexas;	
•	 diferenciar	 o	 Positivismo	 Jurídico	 do	 Positivismo	 científico	 de	 forma	
a	 individualizar	 o	 Positivismo	 Jurídico	 como	 concepção	 de	 direito	
estritamente	legal	produzidas	pelo	Estado;
•	 relacionar	o	processo	de	codificação	do	direito	moderno	com	as	correntes	
interpretativas	que	se	limitam	ao	procedimento	de	subsunção;		
•	 particularizar	 a	 teoria	de	Hans	Kelsen	 com	 relação	 aos	procedimentos	
interpretativos do direito considerado como sistema normativo 
hierárquico	e	autossuficiente;•	 analisar	a	crise	do	direito	desde	o	marco	positivista	identificando	a	novo	
constitucionalismo	como	novo	paradigma	de	direito	e	de	interpretação;
•	 diferenciar	o	conceito	de	regras	e	princípios	jurídicos	de	forma	a	compreender	
os	distintos	procedimentos	compreensivos	destas	categorias	normativas;
•	 compreender	a	ressignificação	interpretativa	do	direito	a	partir	da	Teoria	
da	Argumentação	de	Robert	Alexy	adquirindo	a	habilidade	de	interpretar	
a	norma	jurídica	desde	o	procedimento	da	ponderação;
•	 conceituar	 Hermenêutica	 Jurídica	 como	 campo	 específico	 de	 saber	
preocupado	com	os	pressupostos	que	norteiam	a	interpretação	e	aplicação	
da	norma	jurídica;
•	 diferenciar	 as	 distintas	 concepções	 hermenêuticas	 desde	 o	 marco	 do	
positivismo	jurídico;
•	 analisar	a	particularidade	do	direito	brasileiro	contemporâneo	em	relação	
aos	desafios	a	serem	superados	no	campo	interpretativo	e	argumentativo.
142
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
PLANO DE ESTUDOS
Esta	unidade	está	dividida	em	três	tópicos.	No	decorrer	da	unidade,	
você	 encontrará	 autoatividades	 com	 o	 objetivo	 de	 reforçar	 o	 conteúdo	
apresentado.
TÓPICO	1	–	 O	DIREITO	MODERNO	E	A	QUESTÃO	INTERPRETATIVA
TÓPICO	2	–	 A	REDEFINIÇÃO	INTERPRETATIVA	E	ARGUMENTATIVA	
DO	DIREITO	CONTEMPORÂNEO
TÓPICO	3	–	 HERMENÊUTICA	E	ARGUMENTAÇÃO	JURÍDICA:	
DESAFIOS	DO	DIREITO	BRASILEIRO	CONTEMPORÂNEO
143
UNIDADE 3
TÓPICO 1 — 
O DIREITO MODERNO E A QUESTÃO INTERPRETATIVA
1 INTRODUÇÃO
Atualmente,	quando	falamos	em	direito	estamos	situados	na	tradição	do	
pensamento	moderno,	 que	 se	define	 como	 técnico	 e	 instrumental	 e	 tem	 como	
maior	expressão,	no	campo	das	ciências	sociais,	o	positivismo	comtiano.	Trata-
se	 de	 uma	 concepção	 que	 se	 funda	 na	devoção	 à	 ciência	 legítima	um	 tipo	de	
conhecimento	neutro,	ou	seja,	livre	de	valores	de	qualquer	natureza.	
No	campo	do	direito,	especificamente,	o	que	melhor	expressa	o	pensamento	
moderno	é	o	positivismo	jurídico.	Direito	Positivo	designa	o	conjunto	de	normas	
jurídicas	“postas”	pelo	poder	político.	Portanto,	o	Direito	Positivo	é,	nesse	sentido,	
o	conjunto	de	normas	legais	formais	necessárias	ao	controle	social	estabelecido	e	
modernamente	postas	pelo	Estado.	A	maior	expressão	do	positivismo	jurídico	foi	
a	chamada	Escola	da	Exegese,	que	criou	conceitos	e	procedimentos	interpretativos	
que	serviram	de	sustentação	e	justificação	da	lógica	positivista.
Partindo	de	tais	concepções,	neste	Tópico	1	será	discutida	a	interpretação	do	
direito	como	reprodução	do	texto	legal,	o	que	torna	o	trabalho	do	jurista	mera	exegese	
e	limitada	a	subsunção	do	texto	legal	ao	fato	da	vida	social	desde	um	raciocínio	lógico	
dedutivo,	que	tem	na	Teoria	Pura	de	Hans	Kelsen	sua	grande	expressão.	
2 A RACIONALIDADE CIENTÍFICA MODERNA
Quando	 falamos	 em	Direito	 estamos	 nos	 referindo	 a	 uma	 certa	 concepção	
construída	 na	modernidade	 quando,	 desde	 a	 convergência	 de	 fatores	 e	 elementos	
sociais,	 políticos,	 econômicos,	 históricos	 e	 culturais	 ocorridas	 no	mundo	 ocidental	
a	partir	dos	séculos	XVIII	e	XIX,	se	define	um	novo	modo	de	vida	e	de	pensar	que	 
colocou	fim	de	maneira	definitiva	a	Idade	Média	e	abandonada	a	crença	na	posição	
secundária	 do	Direito	 em	 relação	 ao	 poder	 divino.	 Sem	dúvida,	 foi	 um	 enorme	 e	
prodigioso	esforço	para	a	superação	da	tradição	medieval	até	então	dominante,	o	que	
acabou	por	 conduzir	 a	uma	nova	 concepção	de	mundo,	 inaugurando-se	um	novo	
momento	da	sociedade	humana.
Neste	 novo	 cenário,	 a	 recuperação	 do	 conhecimento	 e	 a	 revolução	 da	
cultura	começam	a	ser	considerados	ponto	de	partida	para	a	construção	de	uma	
nova	maneira	de	pensar	o	ser	humano	em	suas	múltiplas	dimensões.	As	inovações	
técnicas	se	alastram	e	permitem	a	visualização	de	um	novo	horizonte	existencial,	
UNIDADE 3 — DIREITO MODERNO, ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA E HERMENÊUTICA
144
por	exemplo,	a	bússola	magnética,	a	pólvora,	o	relógio	mecânico	e	a	imprensa.	
Inovações	 que	provocam	a	 expansão	do	mundo	 conhecido,	 uma	nova	 relação	
com	o	tempo	e	a	expansão	da	secularização	do	conhecimento
Este	é	o	ambiente	de	um	novo	ser	humano	que	constrói	novas	formas	de	
pensar	sobre	si	mesmo	e	as	relações	de	poder	adquirindo	mais	confiança	em	sua	
própria	capacidade	de	discernimento	e	autodeterminação	do	que	nas	autoridades.	
Enfim,	um	 ser	 orgulhoso	de	 sua	própria	 razão	 e	 ciente	de	que	 seria	 capaz	de	
compreender	e	controlar	o	mundo	circundante	desde	suas	próprias	categorias	da	
razão	sem	depender	de	nenhuma	divindade	onipotente.			
FIGURA 1 – CONCEITO DE MODERNIDADE
FONTE: <https://pt.slideshare.net/carolinapuerto505/filosofiamoderna1anook-
120913154712phpapp02-1>. Acesso em: 27 abr. 2021.
Então,	 de	 forma	 definitiva	 eram	 rompidos	 os	 vínculos	 com	 o	 passado	
medieval e inaugurada uma era em moldes absolutamente novos anunciando 
o	alvorecer	de	um	progresso	humano	infinito.	Nesses	novos	tempos,	o	passado	
não	tinha	mais	sentido	em	ser	revivido,	mas	ser	compreendido	como	forma	de	
perspectiva	 para	 o	 futuro.	A	 autoridade	 da	 tradição	 é	 abolida.	 O	 conceito	 de	
moderno	inclui	a	independência	e	a	inovação.	Talvez,	por	essa	razão,	o	conceito	
de	modernidade	é	de	abertura;	de	contínua	ideia	de	inovação;	de	predominância	
da	ciência.
TÓPICO 1 — O DIREITO MODERNO E A QUESTÃO INTERPRETATIVA
145
Vejamos	as	razões	que	tornam	a	ciência	moderna	uma	forma	inédita	de	
produzir	conhecimento.	
Entre	os	séculos	XVIII	e	XIX,	na	Europa,	quando	a	ciência	já	havia	assumido	
uma	instância	superior,	indo	além	do	bem	e	do	mal	(SOUSA	SANTOS,	2001,	p.	
51),	finalmente,	os	“tempos	modernos”	vão	predominando	e	a	ciência	torna-se	
um	novo	meio	de	conhecimento	que	exige	uma	forma	específica	de	racionalidade.	
Trata-se	de	um	modelo	de	racionalidade	essencialmente	orientada	pelos	
postulados	e	métodos	das	ciências	naturais	que	pouco	a	pouco	se	estende	aos	
diversos	campos	do	conhecimento,	que,	no	entender	de	Sousa	Santos,	acabou	por	
constituir-se	num	modelo	totalitário,	universal	de	conhecimento,	já	que	“nega	o	
caráter	racional	a	todas	as	formas	de	conhecimento	que	se	não	pautarem	pelos	
princípios	epistemológicos	e	pelas	suas	regras	metodológicas” (SOUSA	SANTOS,	
2001,	p.	61). 
O QUE É A CIÊNCIA?
 “O conceito de ciência é algo que vem sendo debatido desde os primeiros 
estudos sobre o próprio termo. Por conta disso, torna-se difícil estabelecer algo estático, já 
que os estudos e desenvolvimento científico são uma constante. Dessa forma, podemos 
estabelecer alguns tópicos para exemplificar o conceito deste termo. O conhecimento 
científico se caracteriza como uma crença que pode ser questionada. Ou seja, para se 
chegar à algo conclusivo os estudos passam por uma série de testes e averiguações 
com o intuito de comprovar e afirmar algo ou alguma questão. Neste caso, se difere 
da religião, por exemplo, pois independente das crenças, qualquer pessoa pode chegar aos 
mesmos resultados ou, até mesmo, colocá-los em análise novamente. Assim, é passível 
de questionamentos, pesquisas e investigações. Outro ponto a ser analisado, é que a 
ciência não é um argumento de autoridade. Ou seja, os estudos evoluem de acordo com 
novas descobertas, novos instrumentos de pesquisa, etc. Com isso, não significa que o 
conhecimento desenvolvido por estudiosos (Sócrates, Platão, Aristóteles, Tales de Mileto, 
etc.) seja lei ou algo do tipo. Isso porque, estão sujeitos à averiguação e análises. Assim, para 
que o conhecimento seja considerado científico, ele deve ser racionalmente garantido. 
A ciência também não se enquadra no conceito de senso comum. Ou seja, o senso 
comum se refere à saberes adquiridos durante determinado tempo e que são passados por 
gerações. Portanto, aprendemos sobre determinada situação pelas experiências de vida. 
Pelo senso comum, temos respostas prontas sobre questões do dia a dia, por exemplo”
FONTE: <https://conhecimentocientifico.r7.com/o-que-e-ciencia/>.Acesso em: 26 abr. 2021.
INTERESSA
NTE
UNIDADE 3 — DIREITO MODERNO, ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA E HERMENÊUTICA
146
FIGURA 2 – MÉTODO CIENTÍFICO MODERNO E O RELIGIOSO
FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/559079741224068150/>. Acesso em: 26 abr. 2021.
Observe	 a	 figura	 acima.	 Perceba	 que	 a	 produção	 do	 conhecimento	
considerado	 científico	obedece	 a	um	criterioso	 e	 rigoroso	método	 e	 é	distinto,	
por	 exemplo,	 da	 religião	 que	 explica	 os	 fenômenos	 através	 da	 fé	 e	 revelação.	
Essa	 característica	essencial	da	 ciência	moderna	é	diferente	das	 concepções	de	
conhecimento	em	momentos	históricos	anteriores.
Com	 o	 conceito	moderno	 de	 conhecimento	 é	 edificado	 um	modelo	 de	
racionalidade	que	rompe	com	o	senso	comum,	negando	qualquer	conhecimento	
fundado	tão	somente	na	prática.	Partindo	da	concepção	de	que	o	mundo	pode	
ser	 compreendido	 como	uma	 espécie	 de	 “máquina”	 consolida-se	 a	 concepção	
de	 que	 o	 conhecimento	 é	 resultado	 da	 adoção	 de	 critérios	 metodológicos	
adequados	e	precisos,	tendo	como	pressuposto	a	certeza	da	existência	da	ordem,	
previsibilidade	e	estabilidade	que	pode	ser	conhecida.	Assim,	a	compreensão	da	
realidade	passa	a	pressupor	o	uso	adequado	de	uma	operação	técnica.		
Tal	 modelo	 de	 racionalidade	 que	 foi	 sendo	 construída	 desde	 o	
Renascimento	no	mundo	europeu,	e	a	partir	do	século	XIX,	adquire	o	status de 
modelo	global	de	racionalidade	científica	alastrando-se	para	os	diversos	campos	
do	conhecimento,	colonizando	culturas	e	sociedades,	sobretudo	ocidentais.	Esse	
modelo	é	representado	melhor	pelo	positivismo,	em	suas	distintas	vertentes,	que	
para	Sousa	Santos	assenta-se	nas	seguintes	ideias	fundamentais:	
[...]	 distinção	 entre	 sujeito	 e	 objecto	 e	 entre	 natureza	 e	 sociedade	
ou	 cultura;	 redução	 da	 complexidade	 do	 mundo	 a	 leis	 simples	
susceptíveis	de	formulação	matemática;	uma	concepção	da	realidade	
dominada pelo mecanicismo determinista e da verdade como 
representação	 transparente	 da	 realidade;	 uma	 separação	 absoluta	
TÓPICO 1 — O DIREITO MODERNO E A QUESTÃO INTERPRETATIVA
147
entre	 o	 conhecimento	 científico	 –	 considerado	 o	 único	 válido	 e	
rigoroso	 –	 e	 outras	 formas	 de	 conhecimento	 como	 o	 senso	 comum	
ou	estudos	humanísticos;	privilegiamento	da	causalidade	 funcional,	
hostil	à	investigação	das	“causas	últimas”,	consideradas	metafísicas,	e	
centrada	na	manipulação	e	transformação	da	realidade	estudada	pela	
ciência	(SOUSA	SANTOS,	2006,	p.	25).
O	 termo	 “positivismo”	 foi	 empregado	 pela	 primeira	 vez	 pelo	 filósofo	
francês	Claude	Saint-Simon	(1760-1825)	para	designar	o	método	exato	das	ciências	
e	 a	 possibilidade	 de	 sua	 extensão	 à	 filosofia.	Mais	 tarde,	Auguste	 Comte	 (1798-
1857)	utilizou	a	expressão	para	designar	a	sua	filosofia,	que	teve	grande	expressão	
no	mundo	ocidental	durante	a	segunda	metade	do	século	19	(estendendo-se	no	
Brasil	à	primeira	metade	do	século	20).
FIGURA 3 – AUGUSTE COMTE E O POSIVITIVISMO
FONTE: <https://slideplayer.com.br/slide/11117776/>. Acesso em: 27 abr. 2021.
A	característica	essencial	ao	positivismo,	tal	qual	o	concebeu	Comte,	é	a	
devoção	à	ciência,	vista	como	único	guia	da	vida	individual	e	social,	única	moral	
e	única	religião	possível.
UNIDADE 3 — DIREITO MODERNO, ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA E HERMENÊUTICA
148
Da	obra	fundamental	de	Comte,	Curso de Filosofia Positiva,	escrita	entre	1830	
e	1942,	a	partir	das	aulas	dadas	pelo	pensador	se	extrai	elementos	fundamentais	
de seu pensamento:
 
	 Enfim,	 no	 estado	 positivo,	 o	 espírito	 humano,	 reconhecendo	 a	
impossibilidade	 de	 obter	 noções	 absolutas,	 renúncia	 a	 procurar	
a	origem	e	o	destino	do	universo,	a	 conhecer	as	 causas	 íntimas	dos	
fenômenos,	 para	 preocupar-se	 unicamente	 em	 descobrir,	 graças	 ao	
uso	bem	combinado	do	raciocínio	e	da	observação,	as	suas	leis	efetivas,	
a	 saber,	 as	 suas	 relações	 invariáveis	 de	 sucessão	 e	 de	 similitude.	A	
explicação	dos	fatos,	reduzida	então	a	seus	termos	reais,	se	resume	de	
agora	em	diante	à	 ligação	estabelecida	entre	os	diversos	 fenômenos	
particulares	e	a	alguns	fatos	gerais,	cujo	número	o	progresso	da	ciência	
tende	cada	vez	mais	a	diminuir	(COMTE,	1978,	p.	36-37).
É	a	partir	do	positivismo	filosófico	de	Comte	que	passa	a	predominar	a	
concepção	segundo	a	qual	as	ciências	devem	se	ater	aos	fatos	e	aos	fenômenos	
conhecidos,	abandonando	questões	metafísicas	ou	demasiadamente	complexas,	
utilizando-se	 da	 observação	desses	 fenômenos	 e	 da	 reflexão	 lógica	 sobre	 eles.	
O	positivismo	 comtiano	 é	 absorvido	por	diversos	 ramos,	 tais	 como	a	história,	
sociologia	e	também	o	direito	(ELTZ;	TEIXEIRA;	DUARTE,	2018,	p.	33-34).	
Em	 síntese,	 o	 positivismo	 é	 a	 concepção	 que	 melhor	 caracteriza	 a	
ciência	moderna.	 Se	 caracteriza	 pela	 crença	 que	 somente	 é	 válido	 e	 confiável	
o	 conhecimento	 acerca	 dos	 fatos	 observados	 e	 estudados	 através	 do	 método	
próprio	das	ciências	experimentais	(observação,	quantificação	e	experimentação),	
pressupõe	que	o	espírito	e	os	métodos	científicos	experimentais	devem	se	estender	
a	todos	os	domínios	da	vida	intelectual,	política	e	moral.
Porém,	 como	 veremos	 a	 seguir,	 positivismo	 jurídico	 é	 uma	 expressão	
específica	utilizada	para	designar	uma	doutrina	de	direito	que	é	elaborada	desde	
a	predominância	do	legalismo	como	legitimação	de	qualquer	ação	social,	tanto	
no	 individual	 quanto	 no	 plano	 político,	 a	 partir	 da	 previsão	 legal	 –	 conjunto	
normativo	 escrito	 de	 caráter	 geral	 e	 abstrato	 –	 e	 que	 obedece	 a	 um	 modelo	
técnico-racional	e	produzida	unicamente	pelo	Estado,	trazendo	como	um	de	seus	
corolários	o	princípio	do	primado	da	lei.	
O	predomínio	do	paradigma	da	legalidade	como	fundamento	de	direito	
é	 uma	 invenção	 do	 século	 XIX	 que	 vem	 na	 esteira	 das	 revoluções	 burguesas	
que	vincula	a	teoria	da	soberania	popular	e	da	representação	parlamentar	como	
reação	à	concepção	absolutista	de	Estado.
TÓPICO 1 — O DIREITO MODERNO E A QUESTÃO INTERPRETATIVA
149
3 O POSITIVISMO JURÍDICO COMO EXPRESSÃO DO 
DIREITO MODERNO
Para	melhor	 compreendermos	 como	 se	 construiu	 o	Direito	Moderno,	
seus	 postulados	 interpretativos	 e	 argumentativos,	 é	 necessário	 lembrar	
rapidamente	o	“cenário”	político	e	histórico	no	qual	ele	foi	construído,	e	para	
isso	 retornemos	ao	mundo	europeu	dos	 séculos	XVI	a	XVIII,	dentro	do	qual	
reinventou-se	o	conceito	de	política	e	de	poder	que	servirá	de	explicação	para	o	
modo	como	o	Direito	foi	elaborado.
Um	 dos	 elementos	 centrais	 e	 ponto	 de	 partida	 é	 o	 conceito	 de	
contratualismo,	 uma	 espécie	 de	 “fórmula”	 política	 e	 jurídica	 que	 vai	 aliar	
convenientemente	 convivência	 social	 e	 submissão	 a	 um	 poder	 comum.	 Os	
pensadores	 contratualistas,	 tais	 como	Thomas	Hobbes	 (1588-1679),	 B.	 Spinoza	
(1632-1677),	 S.	 Pufendorf	 (1632-1694),	 John	 Locke	 (1632-1704),	 Jean-Jacques	
Rousseau	(1712-1778),	I.	Kant	(1724-1804)	defendiam	a	ideia	de	que	o	“estado	de	
natureza”	é	um	tipo	de	condição	humana	irracional	que	deveria	definitivamente	
ser	superado	quando	uma	forma	de	poder	fosse	capaz	de	controlar	os	conflitos.	
Esse	 estado	de	natureza,	marcado	por	um	 individualismo	 caótico,	 deveria	 ser	
substituído por um mundo de indivíduos dotados de direitos iguais formando 
um	corpo	político	comum,	uma	força	esmagadoramente	maior	do	que	qualquer	
um	isolado,	e	governado	por	um	único	poder	legítimo:	o	Estado.
O	 contratualismo	 moderno,	 proposto	 nas	 teorias	 de	 Hobbes,	 Locke	 e	
Rousseau,	funda-se	na	crença	de	que	para	haver	uma	nova	ordem	social	e	política	
esta	 deve	 estar	 subordinada	 a	 uma	 justiça	 comum	 racional	 e	 objetivamente	
elaborada,	de	forma	que	sua	compreensão	se	aproxime	do	método	científico	e,	
assim,	as	obrigações	políticas	e	jurídicas,	unificadas,	vão	sendo	elaboradas	como	
legítimas,	racionais,	verdadeiras	e	objetivas.
É	 nessa	 concepção	 de	 contrato	 social	 e	 racionalidade	moderna	 que	 se	
funda	o	 corpo	político:	 a	 recíprocaobrigação	política	horizontal,	 cidadão	para	
cidadão,	e	vertical,	do	cidadão	para	com	o	Estado.	Nessa	indissociável	relação	é	
que	se	compreende	o	objetivo	do	Direito	Moderno.	Em	outras	palavras,	o	direito	
não	 pode	 servir	 de	 instrumento	 de	 violação	 da	 vontade	 geral	 e	 deve	 ser	 tão	
universal	e	abstrato	como	a	vontade	que	o	justifica.
Em	 síntese,	 o	 Direito	Moderno	 é	 definido	 potencialmente	 como	 vontade	
do	 soberano,	 manifestação	 de	 consentimento	 e	 autoprescrição.	 Embora	 com	
divergências,	os	pensadores	políticos	e	jurídicos	modernos	são	movidos	pelo	desejo	
de	 justificar	 uma	 nova	 ordem	 social	 que	 vinha	 emergindo	 a	 partir	 de	 critérios	
racionais	e	universalmente	válidos,	na	qual	o	direito	ocupa	um	papel	central.
UNIDADE 3 — DIREITO MODERNO, ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA E HERMENÊUTICA
150
QUADRO 1 – OS CONTRATUALISTAS E SUAS TEORIAS
FONTE: <https://fabiomesquita.wordpress.com/2018/03/02/contratualistas/>. Acesso em: 27 abr. 2021.
TÓPICO 1 — O DIREITO MODERNO E A QUESTÃO INTERPRETATIVA
151
É	a	partir	da	concepção	do	contratualismo	que	se	consolida	um	dos	grandes	
princípios	 do	 Direito	 Moderno:	 o	 princípio	 da	 legalidade.	 Tal	 princípio	 funda-se	
na	 ideia	 de	 que	 um	 conjunto	 de	 normas	 objetivas,	 tecnicamente	 adequadas	
e	 legitimamente	 construídas	 é	 capaz	 de	 promover	 a	 segurança	 jurídica	 e	 a	
previsibilidade	nas	relações	humanas.
Segurança	 jurídica,	 para	 o	 jusfilósofo	Miguel	 Reale	 (1994,	 p.	 102),	 é	 a	
existência	de	“algo	subjetivo,	um	sentimento,	a	atitude	psicológica	dos	sujeitos	
perante	o	complexo	de	regras	estabelecidas	como	expressão	genérica	e	objetiva	
da	segurança	mesma”.	Para	esse	autor,	o	problema	da	“segurança”	não	é	somente	
uma	questão	de	“sentimento”	ou	“sensação”,	mas	também	a	certeza	de	existência	
de	 um	 conjunto	 de	 instrumentos	 eficazes	 e	 complexos	 de	 garantias	 a	 fim	 de	
proteger	os	indivíduos	envolvidos	nas	“tramas”	da	convivência	humana.	Afinal,	
“segurança”	sem	“certeza”	seria	uma	falácia!
Lembrando	 o	 conceito	 de	 Estado	Moderno	 enquanto	 produto	 de	 uma	
vontade	geral,	ideia	de	contrato	social,	este	ente	político	torna-se	fonte	legítima	
para	a	produção	do	Direito	através	de	algumas	crenças,	tais	como	o	paradigma	
da	legalidade	e	a	onipotência	do	legislador.
O	 legalismo	 moderno	 pode	 ser	 compreendido	 como	 um	 conjunto	 de	
normas	objetivas	gerais	e	abstratas	produzidas	exclusivamente	pelo	Estado,	cuja	
finalidade	é	controlar	a	ação	social,	tanto	individual	como	política,	estabelecendo	
deveres	e	direitos	de	forma	coercitiva.
FIGURA 4 – MÁXIMA EXPRESSÃO DA LEGALIDADE
FONTE: <http://www.acarlosoliveira.com/2017/04/12/dura-lex-sedlex-a-lei-e-dura-
mas-e-a-lei/>. Acesso em: 27 abr. 2021.
O	paradigma	da	legalidade	era,	no	século	XIX,	de	certa	maneira	é,	um	dos	
pilares	centrais	da	segurança	 jurídica,	uma	vez	que	garante	a	coesão	do	grupo	
social	 e	 organiza	 a	 consciência	 individual	 em	 função	 de	 padrões	 universais,	
válidos	para	todos,	de	 justiça	e	previsibilidade,	 legitimando	a	ordem	política	e	
jurídica	posta,	criando	uma	espécie	de	“consenso”	no	agir	coletivo	e	individual.
UNIDADE 3 — DIREITO MODERNO, ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA E HERMENÊUTICA
152
O	historiador	português	do	Direito,	Antonio	Manuel	Hespanha,	 esclarece	
que	 o	 plano	 jurídico	 vinha	 ao	 encontro	 da	 pretensão	 de	 colocar	 fim	 tanto	 à	
incerteza	 e	 ao	 casuísmo	do	modelo	 jurídico	 tradicional,	 quanto	 à	 proliferação	
de sistemas especulativos sobre direito natural que haviam surgido ao longo do 
século	XVIII,	“ou	seja,	dirigia-se	tanto	contra	a	vinculação	do	direito	à	religião	e	à	
moral,	como	contra	a	sua	identificação	com	especulações	de	tipo	filosófico	como	
as	que	eram	correntes	nas	escolas	jus-racionalistas.	Contra	uma	coisa	e	contra	a	
outra	proclamava-se	a	necessidade	de	um	saber	dirigido	para	coisas	positivas”	
(HESPANHA,	1997,	p.	15).	
A	partir	do	século	XIX,	passa	a	predominar	a	concepção	de	que	o	direito	é	
um	sistema	de	normas	que	expressam	os	direitos	inatos	do	indivíduo	e	necessários,	
definidos	pela	natureza	humana	expressos	na	letra	da	lei.	
Assim,	vai	se	construindo	a	concepção	de	Direito	como	Direito	Positivo,	
ou	seja,	de	que	direito	legítimo	e	válido	é	aquele	posto	pelo	poder	político	estatal,	
e	este	é	o	postulado	central	do	positivismo	jurídico,	que	é	a	doutrina	segundo	a	
qual	o	único	direito	é	o	direito	positivo.	
FIGURA 5 – POSITIVISMO JURÍDICO
FONTE: <http://legemdiscipulus.blogspot.com/2014/08/o-positivismo-juridico.html>. 
Acesso em: 27 abr. 2021.
“Direito	Positivo”	é	a	expressão	que	designa	o	conjunto	de	normas	jurídicas	
“postas”	pelo	poder	político.	Portanto,	o	Direito	Positivo	é,	nesse	sentido,	o	que	
é	necessário	para	o	controle	social	estabelecido	modernamente	pelo	Estado,	cuja	
maior	expressão	do	positivismo	jurídico	foi	a	chamada	Escola	da	Exegese.
A	 Escola	 ou	 Corrente	 Exegética	 é	 produto	 do	 contexto	 da	 França	
revolucionária	do	século	XIX,	quando	o	movimento	da	codificação	veio	a	mudar	
radicalmente	o	conceito	de	Direito,	 fazendo	verdadeira	“tábua	rasa”	da	ordem	
jurídica	anterior.	Ao	criar	uma	nova	mentalidade	que	identifica	Direito	com	os	
códigos,	 os	 juristas	 desenvolvem	 um	 instrumental	 técnico	 de	 interpretação	 e	
aplicação	do	Direito,	seguindo	uma	orientação	exegética.	
TÓPICO 1 — O DIREITO MODERNO E A QUESTÃO INTERPRETATIVA
153
FIGURA 6 – CÓDIGO CIVIL FRANCÊS PROMULGADO NO SÉCULO XIX
FONTE: <https://www.todoestudo.com.br/historia/codigo-napoleonico>. Acesso em: 29 abr. 2021.
A MODERNA CODIFICAÇÃO NAPOLEÔNICA
 O Código Napoleônico surge após Napoleão Bonaparte tornar-se Imperador da 
França, entrando em vigou no dia 21 de março de 1804. Nesse período, a economia nacional 
atendia às necessidades da elite burguesa tanto financeira, como de grupos ligados ao 
comércio e à produção de bens de consumo. Além desse apoio ao projeto econômico 
burguês, o governo de Bonaparte ofereceu garantias jurídicas que os proprietários vinham 
querendo há bastante tempo, instituindo assim o Código Napoleônico, um novo código 
civil. Napoleão criou uma comissão para elaborar esse novo código civil. De acordo com o 
novo Código Napoleônico, todos os franceses estavam sujeitos às mesmas leis. Antes do 
Código outorgado por Napoleão, a França não tinha um único conjunto de leis, estas eram 
baseadas em costumes locais, havendo frequentes isenções e privilégios dados por reis 
ou senhores feudais. Os princípios de igualdade e liberdade foram consagrados no código 
elaborado por Napoleão. Instituiu o casamento civil e o divórcio e abolia os privilégios 
do clero e da nobreza. As greves foram consideradas ilegais. O Código Napoleônico 
também determinava: Liberdade individual; Liberdade de iniciativa privada; Consolidava 
o liberalismo político e econômico; Favorecia os interesses da burguesia; Liberdade de 
pensamento; Liberdade religiosa; Direito à propriedade privada; Consolida a discriminação 
a mulher: a mulher deve estar submetida ao homem (pai, irmão ou marido). Para garantir 
a adoção desse sistema, foi necessária a imposição de forte censura à imprensa e a 
organização de uma força policial eficiente para cumprir as determinações do imperador 
nas cidades. Tais medidas, mais semelhantes às políticas feudais do que as ideias trazidas 
com a Revolução permitiram à França tornar-se o primeiro país a ter um efetivo sistema de 
leis escrito. Grande parte do Código, em especial os artigos que tratam do direito privado e 
do direito das obrigações permanecem em vigor na França até hoje neste que é certamente 
a contribuição mais duradoura de Napoleão para a história.
FONTE: <https://www.todoestudo.com.br/historia/codigo-napoleonico>. Acesso em: 29 
abr. 2021.
INTERESSA
NTE
UNIDADE 3 — DIREITO MODERNO, ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA E HERMENÊUTICA
154
Com	a	codificação	é	 inaugurada	uma	forma	específica	de	 interpretação	
do	 direito	 conhecida	 como	 técnica	 exegética.	 No	 dizer	 de	 Bobbio,	 a	 técnica	
exegética	consiste	em:	“[...]assumir	pelo	tratamento	científico	o	mesmo	sistema	
de	distribuição	da	matéria	seguido	pelo	 legislador	e,	sem	mais,	em	reduzir	 tal	
tratamento	 a	um	comentário,	 artigo	por	 artigo,	do	próprio	Código” (BOBBIO,	
1993,	p.	83). 
A	 Escola	 da	 Exegese	 teve	 como	 pretensão	 reduzir	 o	 direito	 à	 lei	
sistematizada	nos	códigos,	desde	então	compreendidos	como	única	manifestação	
legítima	do	direito.	Tal	 concepção	acaba	por	 transformar	o	 saber	 jurídico	em	
conhecimento	dos	códigos,	trazendo	como	consequência	um	autêntico	culto	à	
lei	e	o	princípio	da	autoridade.	Nessa	perspectiva,	a	interpretação	e	aplicação	da	
lei	tem	por	base	a	intenção	do	legislador	expressa	na	lei.	Em	assim,	a	função	do	
jurista	é	“revelar”	ou	“desentranhar”	do	texto	legal	a	vontade	do	legislador.	
A	 ficção	 jurídica	 da	 crença	 de	 um	 legislador	 onipotente	 e	 detentor	 de	
“uma	 vontade”	 expressa	 no	 texto	 legal	 é	 herança	 do	 dogmatismo	 positivista,	
que	compreende	o	texto	da	lei	como	expressão	da	mens legislatoris (vontade	do	
legislador)	e	pressupõe	que	os	códigos	são	instrumentos	políticos	com	poder	de	
garantir	a	certeza	das	relações	sociais	e	políticas.		
Assim,	 o	 direito	 considerado	 como	 fato	 objetivado	 e	 delimitado	 nos	
códigos	deve	ser	interpretado	e	aplicado	através	de	regras	de	dedução	de	forma	
a	estabelecer	o	sentido	imanente	da	norma	tal	qual	foi	previsto	pelo	legislador.	
A	máxima	do	pensamento	exegético	dura lex sed lex	(a	lei	é	dura,	mas	é	a	
lei)	deixa	evidente	que	a	interpretação	e	aplicação	da	lei	devem	ser	submetidas	à	
razão	expressa	na	lei,	a	razão	de	um	Estado	Legislador.
Para	 dar	 conta	 da	 perspectiva	 formalista	 e	 lógica	 da	 ciência	 jurídica,	
definitivamente	o	intérprete	não	pode	operar	senão	o	que	lhe	é	dado,	que	são	as	
proposições	normativas	e	sistematicamente	organizadas	nos	códigos.
Essa	 preocupação	 cientificista	 herdada	 pelos	 juristas	 do	 século	 XVIII	
se	explica	pelo	conceito	sistemático	de	Direito,	que	se	resume	em	um	conjunto	
de	elementos	estruturados	pelas	regras	da	dedução.	Nesse	sentido,	 interpretar	
significa,	sob	tal	ótica,	estabelecer	o	sentido	imanente	da	norma	na	totalidade	do	
sistema	tal	qual	foi	previsto	pelo	legislador.	
4 A INTERPRETAÇÃO DO DIREITO MODERNO NO MARCO 
DO POSITIVISMO LEGALISTA
Desde	a	perspectiva	moderna,	interpretar	o	direito	se	reduz	à	reprodução	do	
texto	legal,	tornando	o	trabalho	do	jurista	uma	mera	exegese	limitada	à	subsunção	
do	texto	legal	ao	fato	da	vida	social	desde	um	raciocínio	lógico	dedutivo.
TÓPICO 1 — O DIREITO MODERNO E A QUESTÃO INTERPRETATIVA
155
Subsunção é a aplicação da norma ao caso concreto; o perfeito enquadramento 
do fato individual à norma abstrata e geral prevista.
IMPORTANT
E
Desde	 o	 século	 XX,	 poucos	 foram	 os	 autores	 que	 ousaram	 desafiar	 o	
paradigma	interpretativo	da	subsunção,	especialmente	após	o	advento	da	obra	
Teoria Pura do Direito,	de	Hans	Kelsen,	pensador	que	se	esmerou	em	demonstrar	
como	 a	 “pureza”	 metodológica	 do	 Direito	 é	 a	 principal	 característica	 de	 sua	
cientificidade.	
O	direito,	nessa	perspectiva,	é	transformado	em	uma	ciência	dogmática	
estática,	reservando	ao	jurista	o	papel	de	reprodutor	de	códigos	e	leis,	eliminando	
qualquer	discussão	acerca	dos	valores,	interesses	e	necessidades	sociais	que	estão	
subjacentes	à	norma	jurídica	e	como	isso,	além	de	empobrecer	o	papel	do	direito,	
o	transforma	de	instrumento	de	reprodução	de	uma	ordem	política	posta.
A	 subsunção	 é	 uma	 forma	 de	 raciocínio	 jurídico	 própria	 da	 prática	
positivista.	Trata-se	de	uma	concepção	que	entende	que	a	aplicação	do	direito	ao	
caso	concreto	é	resultado	de	um	pensamento	silogístico	no	qual	o	juiz	fixa:	
a)	O	fato	como	premissa	maior.
b)	O	sistema	normativo	como	premissa	menor.
c)	O	direito	do	caso	concreto	como	conclusão	necessária	e	inquestionável.
Esse modelo pressupõe:
a)	O	direito	como	um	sistema	autossuficiente	–	não	necessita	de	nenhum	elemento	
valorativo	externo	como	por	exemplo	moral	–	e	coerente.
b)	O	raciocínio	lógico	é	a	metodologia	adequada	para	fixar	o	justo	do	caso	concreto.
c)	Há	 possibilidade	 de	 distinção	 entre	 fato	 (premissa	 maior)	 e	 direito	 (premissa	
menor).
d)	A	decisão,	justo	do	caso	concreto,	é	resultado	do	necessário	e	inquestionável	
“enquadramento”	(subsunção),	extraindo	daí	os	efeitos	legais	e	jurídicos	para	
o	caso	concreto.
O	 fundamento	 dessa	 prática	 é	 a	 ideia	 de	 que	 o	 direito	 posto	 (direito	
positivo)	 tem	 a	 capacidade	de	 resolver	 todos	 os	 casos	 concretos	 e	 a	 atividade	
jurídica	é	um	ato	neutro	(independente	de	valores	morais	e	éticos)	e	imparcial.
UNIDADE 3 — DIREITO MODERNO, ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA E HERMENÊUTICA
156
Kelsen	 contribui	 decisivamente	 para	 a	 autonomia	 científica	 do	Direito,	
sobretudo	com	a	publicação	da	obra	Teoria Pura do Direito,	em	1934	–	com	segunda	
edição	em	1960,	sendo	esta	a	mais	destacada	produção	do	autor	ao	lado	de	Teoria 
Geral do Direito e do Estado e Teoria Geral das Normas	–	obra	póstuma.
A Teoria Pura do Direito	 é	 a	 obra	 pioneira	 que	 distingue	 duas	 esferas	
distintas:	o	 fenômeno	 jurídico	–	manifestação	social	e	valorativa	do	Direito	–	
e	 a	 ciência	 do	Direito	 –	 entendimento	 técnico	 procedimental	 científico	 dessa	
manifestação.	 E	 é	 nessa	 distinção	 que	 vamos	 encontrar	 a	 base	 da	 teoria	
kelseniana,	qual	seja:	direito	e	moral.
Desde	 tal	perspectiva,	o	órgão	 julgador	–	Estado	–	não	está	 legitimado	
a	 julgar	 de	 acordo	 com	 convicções	 políticas/morais,	 mas	 sim	 de	 acordo	 com	
o	 sentido	do	 fato	dado	pelas	 normas	 estatais.	 É	 nessa	dimensão	que	deve	 ser	
compreendida	a	 famosa	dicotomia	“ser”	 -	mundo	dos	 fatos/da	vida	 social	 -;	 e	
“dever	ser”	–	direito	positivado/o	fato	como	deve	ser	-;	ou	seja,	a	preocupação	de	
Kelsen	é	diferenciar	o	direito	como	é	(vigente)	da	valoração	moral	do	conteúdo	
ou	sentido	normativo.	
O	 “dever	 ser”	 é	 sempre	produto	de	uma	vontade	política	 legítima	 e	 o	
“ser”	 é	 produto	 da	 vontade	 politicamente	 sem	 legitimidade.	 Ou	 seja,	 alguém	
pode	exigir	que	outro	faça	ou	deixe	de	fazer	algo	por	entender	moralmente	justo	
(prescrever	 uma	 ação	 ou	 omissão),	mas	 não	 pode	 obrigar	 ao	 sujeito	 fazer	 ou	
deixar	de	fazer	o	que	quer.	Por	quê?	Exatamente	porque	não	possui	legitimidade	
política	para	tal	exigência.	E	a	ciência	do	Direito	permite	a	abstração	do	direito	do	
mundo	dos	fatos	sociais.	
Vejamos	como	Kelsen	define	sua	Teoria:
A	teoria	Pura	do	Direito	é	uma	teoria	do	Direito	positivo	–	do	Direito	
positivo	em	geral,	não	de	uma	ordem	jurídica	especial.	É	teoria	geral	do	
Direito,	não	interpretação	de	particulares	normas	jurídicas,	nacionais	
ou	internacionais.	Contudo,	fornece	uma	teoria	da	interpretação.
Como	 teoria,	 quer	 única	 e	 exclusivamente	 conhecer	 o	 seu	 próprio	
objeto.	Procura	responder	a	esta	questão:	o	que	é	e	como	é	o	Direito?	
Mas	 já	não	 lhe	 importa	a	questão	de	saber	como	deve	ser	o	Direito,	
ou	como	deve	ser	feito.	É	ciência	jurídica	e	não	política	do	Direito	[...]
De	 um	 modo	 inteiramente	 acrítico,	 a	 jurisprudência	 tem-se	
confundido	 com	 a	 psicologia	 e	 a	 sociologia,	 com	 a	 ética	 e	 a	 teoria	
política.	Esta	confusão	pode	porventura	explicar-se	pelo	fato	de	estas	
ciências	se	referirem	a	objetos	que	indubitavelmente	têm	uma	estreita	
conexão	 com	o	Direito.	Quando	a	Teoria	Pura	empreende	delimitar	
o	 conhecimento	do	Direito	 em	 face	destas	disciplinas,	 fá-lo	não	por	
ignorar	ou,	muito	menos,	por	negar	essa	conexão,	mas	porque	intenta	
evitar	 um	 sincretismo	 metodológico	 que	 obscurece	 a	 essência	 da	
ciência	jurídica	e	dilui	os	limites	que	lhe	são	impostos	pela	natureza	
do	seu	objeto	(KELSEN,	2006,	p.	1).
TÓPICO 1 — O DIREITO MODERNO E A QUESTÃO INTERPRETATIVA
157
Lendo	atentamente	as	primeiras	palavras	da	obra	não	é	difícil	 concluir	
que	o	objetivo	de	Kelsen	é	“depurar”	o	Direito,	entendido	exclusivamente	como	
Direito	 Positivo,	 de	 outras	 formas	 de	 conhecimento,	 compreendendo-o	 como	
ciência	em	simesma.
É	evidente	em	Kelsen	que	a	atividade	do	jurista,	a	partir	de	um	sistema	
normativo	previamente	definido	 –	Direito	Positivo	 –	deve	 chegar	 à	 norma	do	
caso	concreto,	não	cabendo	nesta	análise	os	valores	que	antecedem	a	elaboração	
da	norma.	Exatamente	por	esta	concepção	é	que	Direito	e	Estado	seriam	“duas	
faces”	de	uma	mesma	“moeda”.	
Um	conceito	importante	na	teoria	kelseniana	é	o	conceito	de	validade	da	
norma.	Validade	deve	ser	compreendida	como	a	qualidade	e	condição	da	norma	
que	quando	ela	é	emanada	de	um	órgão	político	competente	e	se	elaborada	de	
acordo	com	o	procedimento,	modo,	hierarquia,	estrutura	e	lógica	prevista	pelo	
ordenamento	jurídico.	
Validade	não	significa	que	a	norma	é	certa	ou	errada/	justa	ou	injusta;	mas	
elaborada de acordo com os pressupostos estabelecidos de maneira formal pelo 
sistema	normativo.
A validade normativa deve ser compreendida a partir do fundamento 
de	 validade	 de	 todo	 sistema	 normativo:	 a	 norma	 hipotética	 fundamental	
(Grundnorm).	A	recíproca	e	hierárquica	relação	de	validade	entre	as	normas	que	
compõem	o	 sistema	é	definida	 a	partir	do	 fundamento	último	de	validade	de	
todo	ordenamento	jurídico,	formando	uma	espécie	de	“pirâmide”	cujo	vértice	é	
a	norma	fundamental.
[...]	 segundo	 uma	 teoria	 jurídica	 positivista,	 a	 validade	 do	 Direito	
positivo	se	apoiar	numa	norma	 fundamental	que	não	é	uma	norma	
posta	 nas	 uma	 norma	 pressuposta	 e	 que,	 portanto,	 não	 é	 uma	
norma	 pertencente	 ao	 Direito	 positivo	 cuja	 validade	 objetiva	 é	
por	 ela	 fundamentada,	 e	 também	 no	 fato	 de,	 segundo	 uma	 teoria	
jusnaturalista,	a	validade	do	Direito	positivo	se	apoiar	numa	norma	
que	não	é	uma	norma	pertencente	ao	Direito	positivo	relativamente	ao	
qual	ela	funciona	como	critério	ou	medida	de	valor,	podemos	ver	um	
certo	 limite	 imposto	 ao	princípio	do	positivismo	 jurídico	 (KELSEN,	
2006,	p.	238).		
Portanto,	há	um	pressuposto	de	validade	de	 todo	 sistema,	uma	norma	
não	 jurídica,	mas	política,	que	estabelece	uma	espécie	de	estrutura	hierárquica	
de	normas	onde,	em	tal	escalonamento,	no	ápice	–	ponto	mais	alto	da	hierarquia	
–	há	uma	última	norma	que	não	é	a	norma	constitucional	de	um	Estado,	mas	um	
pressuposto	inexistente	fisicamente,	mas	existente	logicamente.
Todo	 sistema	 hierárquico	 requer	 um	 “ponto	 final”	 de	 referência	 para	
não	regressar	ad infinitum,	além	de	que,	se	não	há	um	pressuposto	de	validade	
pode	ser	aceito	qualquer	um.	O	que	se	pode	afirmar	é	que	o	limite	de	validade	
158
UNIDADE 3 — DIREITO MODERNO, ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA E HERMENÊUTICA
aceito	pelo	pacto	social	são	os	valores	que	constituíram	a	ordem	constitucional,	
e	é	a	partir	daí	que	deve	raciocinar	o	 jurista,	 funcionando	como	um	princípio/
fundamento	de	legitimidade	de	todo	sistema.
Desde	 esse	 conceito	 de	 validade	 não	 é	 difícil	 compreender	 que	Kelsen	
nos	leva	a	compreender	que	Direito	é	um	sistema	de	normas	hierarquicamente	
definidas	desde	a	ordem	política	e	jurídica	estabelecida	segundo	um	pressuposto	
de	 validade	 –	 norma	 hipotética	 fundamental	 –	 e	 que	 permite	 o	 controle	 de	
constitucionalidade	das	normas.
FIGURA 7 – A HIERARQUIA E VALIDADE DAS NORMAS EM KELSEN
FONTE: <http://blogoosfero.cc/politica-cidadania-e-dignidade/blog/piramide-de-kelsen>. 
Acesso em: 30 abr. 2021.
Não	 é	 difícil	 concluir	 que	 o	 método	 kelseniano	 de	 interpretação	 deve	
ser	compreendido	como	a	busca	de	uma	tentativa	de	autonomia	da	ciência	do	
Direito,	não	como	o	estudo	ou	a	 teoria	de	uma	ordem	 jurídica	particular,	mas	
TÓPICO 1 — O DIREITO MODERNO E A QUESTÃO INTERPRETATIVA
159
compreender	 as	 estruturas	 sobre	 as	 quais	 de	 constrói	 o	 Direito	 Positivo	 e	 a	
universalização	dessas	estruturas.	Exclui-se	qualquer	preocupação	sociológica	ou	
juízo	acerca	do	justo,	uma	vez	que	o	que	importa	para	a	Teoria	Pura	é	compreender	
os	pressupostos	de	validade,	vigência	e	eficácia	da	norma	jurídica.
Isso	 significa	que	o	objeto	do	Direito	nessa	 concepção	pode	 e	deve	 ser	
estudado	como	algo	diverso/separado	dos	fenômenos	sociais	e	estudar	a	ciência	
jurídica	é	independente	da	realidade	social.	Essa	é	uma	das	grandes	problemáticas	
do	positivismo	jurídico,	devendo	o	jurista	limitar-se	ao	Direito	posto,	estabelecido	
pelas	relações	de	poder,	não	observando	as	questões	valorativas,	éticas	ou	sociais	
que	o	conduziriam	a	realidade	social.
O	Direito	normativo/dogmático	e	somente	este	é	seu	objeto	de	estudo.	
Diante	disso,	o	jurista	não	precisa	ficar	indiferente	no	que	diz	respeito	
a	valores	éticos,	morais	e	sociais;	ele	pode	criticar	o	Direito	positivo	
e	 esforçar-se	 para	 modificá-lo,	 alcançando	 assim	 sua	 reforma	 e	 a	
estruturação	 de	 algumas	 normas	 quando	 julgar	 necessário	 (LIXA;	
SPAREMBERGER,	2016,	p.	36).
Como	 já	 afirmado,	 o	 postulado	 central	 do	 positivismo	 é	 a	 crença	
epistemológica	que	o	sentido	do	justo	está	expresso	na	letra	da	lei.	Como	parte	
integrante	 da	mesma	 crença,	 os	 ideais	 de	plenitude,	 coerência,	 universalidade	
e	atemporalidade	do	sistema	normativo	permitem,	enquanto	instância	racional,	
a	 elaboração	 de	 ficções	 hermenêuticas,	 como	 a	 “vontade	 do	 legislador”	 e	
“vontade	da	lei",	de	múltiplas	funções	práticas	e	ideológicas.	Inicialmente,	esses	
postulados	 justificam	 a	 atividade	 compreensiva	 do	 direito	 como	 ato	 formal,	
excluindo	qualquer	possibilidade	de	criação	por	parte	do	intérprete	e	inferência	
de	elementos	substanciais,	em	nome	da	igualmente	ficção	“segurança	jurídica”.
Em	 tal	 perspectiva,	 as	 aparentes	 ambiguidades,	 insuficiências,	 lacunas	
ou	 mesmo	 contradições	 do	 sistema	 poderiam	 ser	 solucionadas	 com	 critérios	
hermenêuticos	adequados	e	análise	mais	detalhada	do	significado	do	texto	legal.	
Esta	 “flexibilidade	 dogmática”	 seria	 necessária	 para	 resolver	 as	 dificuldades	
práticas,	 solucionada	 com	 a	 reportação	 do	 intérprete	 à	 mente	 do	 legislador,	
compreendendo o caso concreto tal qual teria sido previsto ou poderia resolver o 
elaborador	da	lei.	
Enfim,	 o	 postulado	 da	 vontade	 do	 legislador	 permitiria	 ao	 intérprete	
superar	 os	 silêncios,	 imprecisões	 e	 contradições	 do	 texto	 legal,	 mantendo	 as	
exigências	procedimentais	do	formalismo	em	sua	aplicação.	
Assim,	 a	 operacionalidade	 técnica	 do	 sistema	 normativo	 acaba	 por	
identificar	 metodologia	 da	 ciência	 jurídica	 com	 procedimento	 interpretativo,	
confundindo-se	 essa	 metodologia,	 e	 por	 vezes	 absorvendo,	 com	 o	 ato	
hermenêutico.	Trata-se,	sobretudo,	de	uma	racionalidade	cognitiva-instrumental	
específica	 do	 direito	moderno	 que	 pretende	 solucionar	 o	 problema	 básico	 da	
atividade	 jurídica	como	a	correta	e	segura	determinação	do	sentido	prático	da	
ordem	normativa.	 
160
Neste tópico, você aprendeu que:
•	 O	direito	moderno	é	resultado	da	racionalidade	científica	moderna	que	nega	o	
senso	comum	e	concebe	que	o	conhecimento	deve	ser	demonstrável	e	verificável	
por	um	método	objetivo.
•	 O	Positivismo	Científico	é	a	concepção	de	ciência	social	que	reduz	os	fenômenos	
da realidade a fatos comprováveis e que abandona questões metafísicas ou 
demasiadamente	complexas.
•	 O	Positivismo	Jurídico	se	diferencia	do	Positivismo	científico,	sendo	o	Positivismo	
Jurídico	a	concepção	de	direito	estritamente	legal	produzidas	pelo	Estado.
•	 A	 codificação	do	direito	moderno	 iniciada	no	 século	XIX	 legaram	correntes	
interpretativas	que	se	limitam	ao	procedimento	de	subsunção.
•	 A	 Teoria	 Pura	 do	 Direito	 de	 Hans	 Kelsen	 com	 relação	 aos	 procedimentos	
interpretativos	considera	direito	como	direito	positivo,	ou	seja,	como	sistema	
normativo	hierárquico,	autossuficiente	e	autointerpretativo.
RESUMO DO TÓPICO 1
161
1	 A	questão	interpretativa	do	direito	moderno	é	reduzida	à	reprodução	do	
texto	 legal,	 tornando	o	 trabalho	do	 jurista	uma	mera	 exegese	 limitada	 à	
subsunção	do	texto	legal	ao	fato	da	vida	social	desde	um	raciocínio	lógico	
dedutivo.	Acerca	do	procedimento	interpretativo	de	subsunção,	assinalea	
afirmação	CORRETA:
a)	(			)	A	 subsunção	 é	 um	 procedimento	 que	 considera	 como	 fonte	 de	
interpretação	os	fatos	e	valores	da	vida	social.
b)	(			)	A	 subsunção	 entende	 que	 a	 aplicação	 do	 direito	 ao	 caso	 concreto	 é	
resultado de um pensamento silogístico que considera o fato como 
premissa maior e o direito positivo ou sistema normativo como 
premissa	menor.
c)	 (			)	A	subsunção	considera	que	o	direito	não	é	autossuficiente,	necessitando	
de	referências	morais	e	éticas	para	sua	interpretação	e	aplicação.
d)	(			)	A	decisão	do	caso	concreto	no	marco	do	positivismo	jurídico	não	utiliza	
a	subsunção	e	sim	a	ponderação.	
2	 Hans	 Kelsen	 foi	 um	 pensador	 que	 contribuiu	 decisivamente	 para	 a	
autonomia	 científica	 do	 Direito,	 sobretudo	 com	 a	 publicação	 da	 obra	
Teoria Pura do Direito,	em	1934.	Tal	teoria	distingue	duas	esferas	distintas:	
o	 fenômeno	 jurídico	 –	manifestação	 social	 e	 valorativa	 do	 Direito	 –	 e	 a	
ciência	do	Direito	 –	 entendimento	 técnico	procedimental	 científico	desta	
manifestação.	 Considerando	 o	 conceito	 de	 interpretação	 do	 direito	 em	
Kelsen,	assinale	a	afirmação	CORRETA:
a)	(			)	Para	Kelsen,	a	atividade	do	jurista,	a	partir	de	um	sistema	normativo	
previamente	 definido	 –	 Direito	 Positivo	 –	 deve	 chegar	 à	 norma	 do	
caso	concreto,	não	cabendo	nesta	análise	os	valores	que	antecedem	a	
elaboração	da	norma.
b)	(			)	Na	interpretação	necessariamente	devem	ser	incluídos	valores	éticos	e	
sociais,	a	fim	de	conferir	validade	ao	procedimento	interpretativo.
c)	 (			)	A	validade	da	interpretação	não	depende	do	órgão	político	que	emana	
e	sim	do	poder	argumentativo	do	órgão	julgador.	
d)	(			)	O	método	de	Kelsen	de	 interpretação	não	pretende	autonomia,	uma	
vez	que	inclui	o	juízo	acerca	do	justo	ético.		
3	 Para	 o	 pensamento	 científico	 moderno,	 a	 produção	 do	 conhecimento	
considerado	 científico	 obedece	 a	 um	 criterioso	 e	 rigoroso	 método	 e	 é	
distinto,	por	exemplo,	da	religião	que	explica	os	fenômenos	através	da	fé	e	
revelação.	Desde	tal	consideração,	assinale	a	afirmação	CORRETA:
AUTOATIVIDADE
162
a)	(			)	Para	a	ciência	moderna	há	uma	reaproximação	com	o	senso	comum.
b)	(			)	O	conhecimento	deve	ser	resultado	da	adoção	de	critérios	metodológicos	
adequados	e	precisos	de	forma	a	produzir	um	saber	objetivo	e	demonstrável.
c)	 (			)	O	positivismo	de	Comte	condena	a	ciência	moderna	por	compreender	
que	a	fé	é	o	fundamento	da	razão.
d)	(			)	Com	a	ciência	moderna	há	aproximação	entre	saber	e	moral.	
4	 Do	 positivismo	 de	Augusto	 Comte	 se	 originou	 o	 cientificismo	moderno	
que	 se	 caracteriza	pela	 crença	 absoluta	na	 razão	humana	e	nos	métodos	
de	 investigação	objetivos	 e	verificáveis.	Para	Comte,	 a	devoção	 à	 ciência	
deve	 ser	 o	 único	 guia	 da	 vida	 individual	 e	 social,	 única	 moral	 e	 única	
religião	possível.	Pergunta-se:	desde	Comte,	o	que	pode	ser	 considerado	
um	conhecimento	confiável	cientificamente?
5	 Considere	a	seguinte	afirmação	de	Lenio	L.	Streck:	
“[...]	o positivismo é uma postura científica que se solidifica de maneira decisiva no século 
XIX. O “positivo” a que se refere o termo positivismo é entendido aqui como sendo os fatos 
[...]. Evidentemente, fatos, aqui, correspondem a determinada interpretação da realidade 
que engloba apenas aquilo que se pode contar, medir ou pesar ou, no limite, algo que se 
possa definir por meio de um experimento. No âmbito do direito, essa mensurabilidade 
positivista será encontrada num primeiro momento no produto do parlamento, ou seja, nas 
leis, mais especificamente, um tipo de lei: os Códigos”. 
FONTE: STRECK, L. L. Verdade e Consenso: Constituição, hermenêuticas e teorias 
discursivas. São Paulo: Ed. Saraiva, 2012. p. 31).
Conforme	tal	afirmação,	como	se	pode	definir	positivismo	jurídico?
163
UNIDADE 3
TÓPICO 2 — 
A REDEFINIÇÃO INTERPRETATIVA E ARGUMENTATIVA DO 
DIREITO CONTEMPORÂNEO
1 INTRODUÇÃO
No	 campo	 do	 direito,	 o	 século	 XX	 é	 marcado	 simultaneamente	 pela	
ascensão	 e	 queda	 do	 positivismo	 jurídico,	 sobretudo	 pela	 grande	 catástrofe	
humana	 que	 foi	 a	 Segunda	 Guerra	 Mundial	 e	 seus	 desdobramentos.	 As	
guerras	mundiais	significaram	o	rompimento	com	o	positivismo	jurídico	e	seus	
postulados,	levando	ao	descrédito	as	teorias	que	haviam	servido	de	sustentação,	
encontrando	aproximação	entre	democracia	e	constitucionalismo,	a	solução	para	
um	novo	modelo	de	Estado	constitucional	de	Direito,	movimento	que	passou	a	ser	
conhecido	como	neoconstitucionalismo.	
O	 neoconstitucionalismo	 ou	 constitucionalismo	 contemporâneo	 trouxe	
significativas	 alterações	 no	 direito,	 particularmente	 na	 interpretação	 normativa,	
principalmente	quando	os	princípios,	amparados	e	declarados	pelas	constituições,	
antes	considerados	como	meros	adornos,	ganham	força	normativa.
Neste	 Tópico	 2,	 desde	 a	 compreensão	 do	 novo	 constitucionalismo	 e	 a	
nova	exigência	 interpretativa	será	analisada	a	Teoria	dos	Direitos	Fundamentais	
de	Robert	Alexy	como	nova	proposta	no	campo	argumentativo,	destacando-se	a	
ponderação	como	procedimento	capaz	de	assegurar	Direitos	Fundamentais	e	os	
valores	amparados	pelas	constituições	contemporâneas.	
2 A CRISE DO POSITIVISMO JURÍDICO
Se	 o	 século	 XIX	 foi	 marcado	 por	 um	 enorme	 esforço	 de	 construção	 de	
ciência	desde	o	modelo	proposto	por	Comte,	com	a	pretensão	de	estabelecer	um	
conhecimento	 fundado	 na	 neutralidade	 e	 objetividade	 científica,	 no	 século	 XX	
assiste-se	a	uma	autêntica	 crise,	uma	 transformação,	 sobretudo	no	período	pós-
guerra.	Crise,	no	campo	da	ciência,	é	quando	uma	teoria	ou	uma	forma	dominante	
de	compreender	a	realidade	não	é	mais	eficiente,	obrigando	à	utilização	de	novos	
métodos	de	observar	o	mundo	ao	nosso	redor,	obrigando	à	busca	de	novas	teorias.	
Enquanto	não	são	elaborados	novos	métodos	e	novas	formas	de	conhecimento	há	
um	período	de	transição,	de	crise.	
Para	autores	como	Habermas	(1992,	p.	109-110),	o	projeto	da	modernidade	
foi	construído	graças	a	um	enorme	esforço	intelectual	de	pensadores	iluministas	
que	 pretenderam	 desenvolver	 uma	 ciência	 objetiva,	 uma	 moralidade	 e	 uma	
164
UNIDADE 3 — DIREITO MODERNO, ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA E HERMENÊUTICA
concepção	de	direito	que	 fossem	universalmente	válidas	pela	 intrínseca	 lógica	
de	 suas	 proposições	 gerada	 pelo	 acúmulo	 de	 conhecimento	 produzido	 por	
sujeitos	livres	e	criativos	aliados	pelo	objetivo	comum	de	buscar	emancipação	e	
enriquecimento.	
O	resultado,	como	já	vimos	no	tópico	anterior,	foi	um	grande	otimismo	em	
relação	à	ciência,	o	que	 foi	dolorosamente	rompido	pelos	eventos	que	marcaram	o	
século	XX,	particularmente	 a	grande	 catástrofe	humana	que	 foi	 a	 Segunda	Guerra	
Mundial,	marcada	pelos	 episódios	de	Auschwitz	 e	Hiroshima,	 sendo	 colocado	 em	
cheque	a	concepção	positivista	de	direito.	
Auschwitz foi um campo de concentração localizado no sul da Polônia 
encontrado por soldados soviéticos no dia 27 de janeiro de 1945, quando foram resgatados 
sobreviventes torturados e extremamente fracos e calcula-se que foram exterminadas mais 
de 1,1 milhão de pessoas pelo regime nazista. A maioria eram judeus que chegavam aos 
campos de concentração em trens sem janelas, banheiros ou comida. Ao chegar eram 
divididos entre os que poderiam trabalhar e os que deveriam ser mortos imediatamente, 
quando então eram encaminhados às câmaras de gás Zyklon-B. O holocausto, que é o 
nome dado ao genocídio cometido pelos nazistas, ao todo vitimou 6 milhões de pessoas 
entre judeus, ciganos, testemunhas de Jeová, homossexuais, opositores políticos etc., 
embora sendo o maior número de vítimas, judeus. 
 Hiroshima é uma cidade japonesa que durante a segunda guerra serviu de quartel 
general para as tropas sino-japonesas. Em 06 de agosto de 1945, a cidade foi arrasada 
por uma bomba atômica lançada pelos Estados Unidos da América matando 250 mil 
pessoas e ferindo milhares. O objetivo era a rendição total do Japão e a demonstração do 
poder bélico-americano.No momento da exploração morreram instantaneamente 86% 
das pessoas que estavam próximas e os corpos foram desintegrados, não restando sequer 
corpos para serem contados.
NOTA
FIGURA 8 – EXTERMÍNIO EM CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO
FONTE: <https://veja.abril.com.br/blog/isabela-boscov/sobibor/>. Acesso em: 30 abr. 2021.
TÓPICO 2 — A REDEFINIÇÃO INTERPRETATIVA E ARGUMENTATIVA DO DIREITO CONTEMPORÂNEO
165
O	 aprofundamento	 da	 crise	 do	 positivismo	 jurídico	 tem	 como	 marco	
a	 origem	 dos	 regimes	 totalitários	 nos	 países	 europeus	 logo	 após	 a	 Primeira	
Guerra	Mundial	(1914-1918).	O	totalitarismo,	em	suas	distintas	versões	como	o	
stalinismo	soviético,	o	fascismo	italiano	de	Benito	Mussolini,	o	nazismo	alemão	
de	Hitler,	 o	 salazarismo	 português	 e	 o	 franquismo	 espanhol,	 levou	 boa	 parte	
da	 humanidade	 a	 deixar	 de	 acreditar	 que	 através	 da	 lei	 haveria	 justiça.	 Os	
regimes	 totalitários	 e	 suas	 atrocidades,	 alimentados	 por	 crenças	 ideológicas	
internacionalizadas	 socialmente,	produziram	barbáries	 e	 inegável	violação	aos	
direitos	fundamentais,	encontraram	no	estrito	legalismo	o	álibi	perfeito.	Talvez	
por	 essa	 razão	 o	 positivismo	 jurídico	 tornou-se	 alvo	 de	 acusações	 teóricas	 e	
políticas	no	pós-guerra.	
A	partir	dos	anos	1950,	a	Europa,	e	com	ela	boa	parte	da	humanidade,	
deixou	de	acreditar	na	neutralidade	e	autonomia	do	direito	constatando-se	que	a	
exclusão	de	valores	éticos	e	morais	do	campo	interpretativo	seriam	responsáveis	
pela	 complacência	 dos	 juristas	 com	 o	 extermínio	 de	 seres	 humanos.	 Caía	 em	
descrédito	as	grandes	promessas	que	sustentaram	o	discurso	da	modernidade.	
Em	síntese,	em	fins	da	primeira	metade	do	século	XX,	marcado	pelo	pessimismo	
e	descrença,	tornou-se	urgente	a	tarefa	de	lançar	um	novo	olhar	sobre	um	mundo	
alienado,	aniquilado	e	sem	esperança	emancipatória.
O	 modelo	 positivista,	 ferrenhamente	 defendido	 desde	 fins	 do	 século	
XIX,	é	 levado	a	 julgamento	 juntamente	com	os	oficiais	nazistas	no	Tribunal	de	
Nuremberg,	 iniciado	 em	 20	 de	 novembro	 de	 1945,	 quando	 então	 os	 acusados	
invocaram	 em	 sua	 defesa	 o	 cumprimento	 da	 lei	 e	 obediência	 emanada	 de	
representantes	de	um	Estado	legítimo.
Os	principais	acusados	de	Nuremberg	invocaram	o	cumprimento	da	
lei	e	a	obediência	a	ordens	emanadas	da	autoridade	competente.	Ao	
fim	da	Segunda	Guerra	Mundial,	a	ideia	de	um	ordenamento	jurídico	
indiferente	a	valores	éticos	e	da	 lei	 como	uma	estrutura	meramente	
formal,	 uma	 embalagem	 para	 qualquer	 produto,	 já	 não	 tinha	mais	
aceitação	 no	 pensamento	 esclarecido	 (BARROSO;	 BARCELLOS,	 
2003,	p.	107).
Sem	 dúvida,	 as	 guerras	 mundiais	 também	 significaram	 rompimento	 com	
o	positivismo	 jurídico	 e	 seus	postulados,	 levando	ao	descrédito	as	 teorias	que	
haviam	 servido	 de	 sustentação.	 Mesmo	 Hans	 Kelsen,	 judeu	 perseguido	 pelo	
regime	 nacional-socialista,	 foi	 acusado	 de	 ser	 elaborador	 de	 uma	 teoria	 que	
sustentou	o	nazismo.	Como	vimos	anteriormente,	para	Kelsen,	a	 interpretação	
e	 aplicação	 do	 direito	 decorre	 de	 um	 raciocínio	 lógico-dedutivo	 a	 partir	 da	
hierarquia	 normativa,	 o	 que	 subordina	 as	 normas	 inferiores	 às	 superiores,	
independente	da	validade	ética	ou	moral.	Advertia	Kelsen:	
Segundo	o	Direito	dos	Estados	totalitários,	o	governo	tem	poder	para	
encerrar	 em	 campos	 de	 concentração,	 forçar	 a	 quaisquer	 trabalhos	
e	 até	 matar	 os	 indivíduos	 de	 opinião,	 religião	 ou	 raça	 indesejável.	
Podemos	condenar	com	a	maior	veemência	tais	medidas,	mas	o	que	
não	 podemos	 é	 considerá-las	 como	 fora	 da	 ordem	 jurídica	 desses	
Estados	(KELSEN,	2006,	p.	44).
166
UNIDADE 3 — DIREITO MODERNO, ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA E HERMENÊUTICA
Por	 outras	 palavras,	 o	 positivismo	 jurídico	 em	 sua	 versão	 kelseniana	
evidencia	a	inexistência	de	valores	transcendentes	de	justiça	absoluta	e	universal,	
demonstrando	que	o	direito	é	vulnerável	aos	regimes	políticos	que	podem	ser	
despóticos,	totalitários,	antidemocráticos	e	violadores	de	direitos	fundamentais.	
A	tentativa	de	superação	do	legalismo	positivista	distanciado	de	valores	
surge com o movimento do constitucionalismo democrático europeu da segunda 
metade	do	 século	XX,	batizado	 como	neoconstitucionalismo,	que	 redefine	não	
apenas	a	ordem	política	e	 jurídica,	mas	o	procedimento	interpretativo,	quando	
então	a	argumentação	jurídica	é	renovada,	como	veremos	a	seguir.	
3 EMERGÊNCIA DO NOVO CONSTITUCIONALISMO 
COMO PARADIGMA DE DIREITO E DE INTERPRETAÇÃO
A crise do positivismo e as catástrofes humanitárias deixaram evidentes a 
necessidade	de	mudança	do	direito	no	sentido	de	assegurar	garantias	fundamentais	
e	estabelecer	limites	jurídicos	para	a	ação	do	Estado.	No	dizer	de	Padilha	(2011,	p.	5):		
As	atrocidades	cometidas	por	Adolf	Hitler	só	foram	possíveis	graças	
a	este	entendimento;	e.g.,	através	de	Decreto	expedido	em	07.04.1933,	
os	 Judeus	 foram	 afastados	 do	 funcionalismo	 público,	 do	 exército	
e	das	universidades;	 através	da	Lei	publicada	 em	14.07.1933,	 foram	
retirados	 os	 direitos	 de	 cidadão	 dos	 Judeus	 imigrantes	 no	 Leste	
Europeu;	 a	 chamada	 ‘Lei	da	Cidadania’	 tirou	dos	 judeus	alemães	a	
cidadania	 alemã;	 a	 ‘Lei	 da	 Proteção	 da	 Honra	 e	 Sangue	 Alemão’	
proibia	os	casamentos	dos	Judeus	com	não	Judeus,	proibia	o	emprego	
de	 judeus	na	Alemanha	e	proibia	os	 Judeus	de	exibirem	a	bandeira	
alemã,	entre	outras	medidas.	Por	fim,	através	de	Decreto	assinado	pelo	
então	presidente	Paul	Von	Hindenburg,	foram	suspensas	sete	seções	
da	 Constituição	 de	 1919	 da	 República	 de	 Weimar,	 que	 garantiam	
liberdades	individuais	e	civis	ao	povo.
Portanto,	por	mais	sanguinário	que	 tenha	sido	o	regime	nazista,	Hitler	não	
cometeu	 ilegalidades	 ou	 mesmo	 inconstitucionalidades.	 Muitas	 atrocidades	 eram	
amparadas	pela	lei.	A	própria	constituição	alemã	vigente	na	época,	a	chamada	
constituição	de	Weimar,	em	seu	artigo	48	conferia	poderes	ao	presidente,	poderes	
para	 adotar	 as	medidas	 necessárias	 para	manutenção	 e	 restauração	da	 ordem	
pública,	 utilizando,	 se	 necessário,	 o	 uso	 das	 forças	 armadas	 e	 a	 suspensão	
temporária,	total	ou	parcial	dos	direitos	fundamentais.	
Esse	fato	demonstra	que	não	basta	a	existência	da	lei	ou	de	uma	constituição	
para	garantir	direitos.	Em	“nome	da	lei”,	o	Estado,	através	de	seus	agentes,	pode	
violar	a	liberdade,	a	vida,	a	igualdade	e	tantos	outros	direitos	fundamentais.	
A	 tentativa	de	superação	desse	cenário	dá-se	com	o	surgimento	de	um	
movimento	que	se	alastra	no	meio	jurídico	que	passa	a	aproximar	direito,	ética	e	
justiça,	bem	como	a	recuperação	dos	valores	morais	aplicados	ao	direito	até	então	
“esquecidos”	pelo	positivismo	jurídico.	
TÓPICO 2 — A REDEFINIÇÃO INTERPRETATIVA E ARGUMENTATIVA DO DIREITO CONTEMPORÂNEO
167
Pouco	a	pouco	vai	se	definindo	uma	nova	cultura	jurídica	sustentada	por	
um	novo	constitucionalismo,	consagrado	por	algumas	Constituições	do	período	
pós-guerra,	que	aproximou	democracia	e	constitucionalismo,	dando	contornos	
a	um	novo	modelo	de	Estado	constitucional	de	Direito,	passando-se	a	utilizar	o	
termo	neoconstitucionalismo	para	designar	a	reformulação	do	direito	desde	um	
constitucionalismo	que	 reafirma	os	direitos	 fundamentais,	 a	democracia	 e	 seja	
capaz	de	romper	com	o	tradicional	positivismo	jurídico.	
O	 termo	 “neoconstitucionalismo”	 é	 relacionado	 ao	 conceito	 de	
constitucionalismo	 construído	 na	 Espanha	 e	 na	 Itália	 e	 tem	 sido	 amplamente	
utilizado	 sobretudo	 após	 os	 estudos	 do	 jurista	 mexicano	 Miguel	 Carbonell.	
Segundo	Carbonell	(2004),	o	constitucionalismo	contemporâneo,	particularmente	
representado	inicialmente	pelas	constituições	da	Itália	(1947),	Alemanha	(1949)	e	
posteriormente	pelas	constituições	de	Portugal	(1976)	e	Espanha	(1978)	possui,	
apesar	das	diversidades,	traços	específicos,	dentre	os	quais	a	supremacia	atribuída	
à	Constituição	no	 sentido	de	atribuir	alta	hierarquia	no	ordenamento	 jurídico.	
Trata-se	de	uma	redefiniçãoda	própria	cultura	jurídica	que	passou	a	considerar	
as	constituições	como	normas	superiores	de	natureza	programática,	ou	seja,	os	
princípios	 por	 elas	 declarados	 passam	 a	 vincular	 também	 a	 interpretação	 do	
próprio	direito.	
FIGURA 9 – CONCEITO DE NEOCONSTITUCIONALISMO
FONTE: <https://pt.slideshare.net/jeffersonmatheus94/neoconstitucionalismo-41904121>. 
Acesso em: 30 abr. 2021.
168
UNIDADE 3 — DIREITO MODERNO, ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA E HERMENÊUTICA
O	neoconstitucionalismo,	chamado	também	de	novo	constitucionalismo	
ou	 constitucionalismo	 contemporâneo,	 trouxe	 significativas	 alterações	 no	
direito,	particularmente	na	interpretação	normativa.	Ao	se	considerar	o	caráter	
normativo	da	Constituição,	ou	seja,	considerar	os	direitos	declarados	norma	em	
si	com	poder	coercitivo,	e	a	necessidade	de	proteger	valores	anunciados	através	
de	soluções	jurídicas	inaugura	uma	nova	prática	de	interpretação	e	aplicação	de	
normas	jurídicas,	indo	além	da	mera	subsunção.
PARA LEMBRAR:
 Subsução é a ação ou efeito de subsumir, isto é, incluir (alguma coisa) em algo 
maior, mais amplo. Juridicamente, ocorre a subsunção quando o caso concreto se “encaixa”, se 
“enquadra” a uma legal em abstrato. É o raciocínio interpretativo próprio do positivismo legalista!
NOTA
Os	 princípios	 amparados	 e	 declarados	 pelas	 constituições,	 antes	
considerados	 como	 meros	 adornos,	 ganham	 força	 normativa,	 sendo	 possível	
afirmar	 que	 a	 compreensão	 dos	 sistemas	 normativos	 contemporâneos	 se	
condiciona,	necessariamente,	aos	princípios	constitucionais.	
O QUE SÃO PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS?
 “Os princípios constitucionais são aqueles que guardam os valores fundamentais 
da ordem jurídica. Nos princípios constitucionais condensa-se bens e valores considerados 
fundamentos de validade de todo sistema jurídico. Sabe-se que os princípios, ao lado das 
regras, são normas jurídicas. Os princípios, porém, exercem dentro do sistema normativo 
um papel diferente dos das regras. As regras, por descreverem fatos hipotéticos, possuem 
a nítida função de regular, direta ou indiretamente, as relações jurídicas que se enquadrem 
nas molduras típicas por elas descritas. Os princípios consagrados constitucionalmente, 
servem, a um só tempo, como objeto de interpretação constitucional e como diretriz 
para a atividade interpretativa, como guias a nortear a opção de interpretação. Serve 
o princípio como limite como limite de atuação do jurista. No mesmo passo em que 
funciona como vetor de interpretação, o princípio tem como função limitar a vontade 
subjetiva do aplicador do direito”.
FONTE: <https://marcelduraes.jusbrasil.com.br/artigos/189323010/principios-constitucionais>.
NOTA
TÓPICO 2 — A REDEFINIÇÃO INTERPRETATIVA E ARGUMENTATIVA DO DIREITO CONTEMPORÂNEO
169
FIGURA 10 – DIFERENÇAS ENTRE REGRAS E PRINCÍPIOS
FONTE: <https://emporiododireito.com.br/leitura/teoria-dos-principios-de-humberto-avila-por-
marcelo-pichioli-da-silveira>. Acesso em: 30 abr. 2021.
A	 alternativa	 para	 a	 superação	 da	 crise	 do	 positivismo	 jurídico	 que	
reduz	 o	 direito	 à	 noção	 tradicional	 de	 norma	 limitada	 à	 regra	 é	 quando,	 no	
entender	do	neoconstitucionalismo,	o	direito	passa	a	considerar	os	princípios	
como	normas	 jurídicas,	 até	 então	 consideradas	 como	meras	normas	políticas	
dirigidas	ao	legislador.	
170
UNIDADE 3 — DIREITO MODERNO, ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA E HERMENÊUTICA
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1.
TÓPICO 2 — A REDEFINIÇÃO INTERPRETATIVA E ARGUMENTATIVA DO DIREITO CONTEMPORÂNEO
171
De	 maneira	 bastante	 simplificada,	 Luiz	 Roberto	 Barroso	 propõe	 três	
critérios	para	diferenciar	regras	de	princípios:
1. Quanto ao conteúdo:	 regras	 são	 relatos	 objetivos	 descritivos	 de	
condutas	a	serem	seguidas;	princípios	expressam	valores	ou	fins	a	
serem	alcançados;
2.	Quanto à estrutura normativa:	regras	se	estruturam,	normalmente,	
no	modelo	tradicional	das	normas	de	conduta:	previsão	de	um	fato	
–	atribuição	de	um	efeito	jurídico;	princípios	indicam	estados	ideais	
e	comportam	a	realização	por	meio	de	variadas	condutas;
3. Quanto ao modo de aplicação: regras operam por via do 
enquadramento	 do	 fato	 no	 relato	 normativo,	 com	 enunciação	 da	
consequência	daí	resultante,	isto	é,	aplicam-se	mediante	subsunção;	
princípios	podem	entrar	em	rota	de	colisão	com	outros	princípios	ou	
encontrar	resistência	por	parte	da	realidade	fática,	hipóteses	em	que	
serão	aplicados	mediante	ponderação	(BARROSO,	2009,	p.	317).
Segundo	Canotilho	(2002),	os	princípios	são	normas	com	um	alto	grau	de	
abstração,	enquanto	as	regras	possuem	uma	abstração	relativamente	reduzida.	
Em	 relação	 à	 aplicação	 aos	 casos	 concretos,	 os	 princípios,	 por	 serem	 vagos	 e	
indeterminados,	necessitam	de	mediações	concretizadoras	(do	legislador,	do	juiz),	
enquanto	as	regras	são	susceptíveis	de	aplicação	direta.	Ainda,	os	princípios	são	
normas de natureza estruturante ou com um papel fundamental no ordenamento 
jurídico	devido	a	sua	posição	hierárquica	no	sistema	das	fontes	(ex.:	princípios	
constitucionais)	ou	com	importância	estruturante	dentro	do	sistema	jurídico	(ex.:	
princípio	do	Estado	de	Direito).	
A	normatividade	dos	princípios,	ou	seja,	a	 igualdade	de	status	 jurídico	
entre	 regras	 e	 princípios	 aponta	 para	 uma	 superação	 do	 positivismo	 jurídico,	
descortinando	um	novo	conceito	não	apenas	de	direito,	mas	de	interpretação	na	
medida	em	que	passa	a	exigir	do	intérprete	do	direito	novas	formas	de	expressar	
o	 conteúdo	 valorativo	 das	 normas	 jurídicas,	 ganhando	 também	 relevância	 a	
argumentação	jurídica,	como	veremos	a	seguir.	
4 A ARGUMENTAÇÃO E A NORMATIVIDADE DOS PRINCÍPIOS 
O	 constitucionalismo	 contemporâneo	 com	 a	 normatividade	 dos	
princípios	 trouxe	 profundas	 transformações	 com	 relação	 à	 interpretação	 e	
aplicação	das	normas	jurídicas,	sobretudo	por	colocar	em	destaque	os	direitos	
fundamentais	 amparados	 constitucionalmente,	 o	 que	 veio	 a	 representar	 um	
novo	desafio	aos	juristas.	Debruçando-se	sobre	a	inovação	trazida	pelos	direitos	
fundamentais,	 o	 pensador	 Robert	 Alexy	 desenvolveu	 uma	 destacada	 teoria	
conhecida	 como	 Teoria	 dos	 Direitos	 Fundamentais,	 que	 possui	 importante	
desdobramento	no	campo	argumentativo.	
172
UNIDADE 3 — DIREITO MODERNO, ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA E HERMENÊUTICA
FIGURA 11 – ROBERT ALEXY
FONTE: <https://www.dw.com/pt-br/filosofia-permanecer%C3%A1-sempre-indispens%C3%A1vel-
diz-professor-robert-alexy/a-15098328>. Acesso em: 30 abr. 2021.
O jurista Robert Alexy é professor titular da cadeira de Direito Público e Filosofia 
do Direito na Universidade de Kiel. Considerado um dos mais importantes filósofos do direito 
da Alemanha, sua pesquisa se concentra na interface entre Direito Constitucional e Filosofia 
do Direito, especialmente nos temas que envolvem a jurisdição constitucional, os Direitos 
Fundamentais, a Teoria da Justiça e a relação entre as esferas do Direito e da Moral. Seu 
livro mais conhecido é a Teoria da argumentação jurídica, trabalho de referência obrigatória 
nas Faculdades de Direito e traduzido para pelo menos oito idiomas diferentes, inclusive o 
português. Nesse livro ele defende, em linhas gerais, que uma argumentação jurídica não 
deve ficar apenas no campo exclusivo da racionalidade lógica da decisão jurídica, mas 
deve valorar os fatos e as normas (argumentação lógico-valorativa), procurando assim uma 
justificação racional e ao mesmo tempo prática do discurso jurídico. 
FONTE: <https://www.dw.com/pt-br/filosofia-permanecer%C3%A1-sempre-
indispens%C3%A1vel-diz-professor-robert-alexy/a-15098328>. Acesso em: 30 abr. 2021.
NOTA
A	proposta	desenvolvida	por	Robert	Alexy	parte	da	 teoria	dos	direitos	
fundamentais,	que	aprimora	a	análise	e	compreensão	dos	direitos	fundamentais	
contidos	na	Constituição	alemã	e	as	decisões	do	Tribunal	ConstitucionalFederal	
Alemão.	 Entende	 Alexy	 que	 os	 direitos	 fundamentais,	 em	 certa	 medida,	 se	
assemelham	a	princípios,	e	que,	em	algum	momento	na	prática,	vão	colidir,	o	que	
obriga	a	uma	solução	equilibrada	e	sensata	em	favor	de	um	ou	outro.	
É,	portanto,	no	momento	da	decisão	que	se	coloca	o	problema	interpretativo.	
Quando	se	trata	da	relação	entre	regras	e	direitos	fundamentais,	em	geral,	há	uma	
regra	que	garante	esse	direito.	Entretanto,	nem	sempre	há	normas	positivadas	ou	
explícitas	de	direitos	fundamentais,	isso	porque	pode	ocorrer	que	há	normas	de	
direitos	fundamentais	que	não	são	previstas	como	direito	objetivo.
TÓPICO 2 — A REDEFINIÇÃO INTERPRETATIVA E ARGUMENTATIVA DO DIREITO CONTEMPORÂNEO
173
Para	 a	 Teoria	 dos	 Direitos	 Fundamentais	 (ALEXY,	 2017),	 norma	 é	
considerado	como	conceito	fundamental	e	taxativo,	ou	seja,	não	é	dirigido	a	uma	
finalidade	ou	 caso	 concreto	 específico,	uma	vez	que,	por	 sua	natureza	de	 alto	
grau	de	abstração,	possibilita	aplicação	de	acordo	com	cada	caso	concreto.	Daí	
surge	a	necessidade	de	distinção	entre	regras	e	princípios	e	adota,	que	para	Alexy	
(2017)	é	uma	distinção	qualitativa,	uma	vez	que	este	considera	que	os	princípios	
são	 mandamentos	 de	 otimização,	 ou	 seja,	 devem	 ser	 realizados	 ao	 máximo,	
sendo	 normas	 que	 determinam	 sua	 concretização	 na	 maior	 medida	 possível,	
considerando	a	possibilidade	dos	fatos	e	dentro	do	Direito.	
Entende	Alexy	(2017)	que	as	regras	são	ordens	definitivas	e	só	podem	ser	
cumpridas	 ou	 não.	 Portanto,	 há	 obrigatoriamente	 uma	metodologia	 diferente	 de	
solucionar	os	conflitos	entre	as	 regras	e	colisões	entre	princípios.	O	conflito	entre	
regras	 deve	 ser	 resolvido	 por	 meio	 de	 subsunção,	 sendo	 que	 o	 a	 colisão	 entre	
princípios	dever	ser	solucionada	por	intermédio	do	sopesamento,	ou	ponderação,	
como	veremos	a	seguir.	
QUADRO 2 – DIFERENÇA ENTRE A COLISÃO DE REGRAS E PRINCÍPIOS
FONTE: <https://slideplayer.com.br/slide/3553615/>. Acesso em: 30 abr. 2021.
Pelo	quadro	acima	é	bastante	evidente	a	diferença	entre	regra	e	princípio	
quando	 da	 colisão	 entre	 regras	 e	 entre	 princípios,	 uma	 vez	 que	 há	 diferença	
de	grau	de	generalidade	e	na	diferença	qualitativa.	Enquanto	os	princípios	são	
ordens	de	otimização,	como	já	dissemos	anteriormente,	devem	ser	aplicados	até	
o	seu	esgotamento	dentro	das	possibilidades	fáticas	e	 jurídicas	permitidas.	Por	
174
UNIDADE 3 — DIREITO MODERNO, ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA E HERMENÊUTICA
terem	generalidade	mais	ampla,	os	princípios	podem	ser	utilizados	como	ponto	
de	partida	a	 ser	observado	no	cumprimento	das	 regras.	 Isso	vale	dizer	que	as	
regras	possuem	como	característica	principal	as	determinações	e	são	aplicadas	
sem	ponderações	ou	flexibilizações.	
A	chamada	lei	do	sopesamento	ou	ponderação	é	utilizada	quando	existem	
princípios	em	colisão,	não	sendo	utilizada	em	casos	de	regras	conflitantes,	uma	
vez	que	em	caso	de	colisão	de	regras	uma	anula	a	outra	o	que	não	é	o	caso	de	
princípios.	
Ao	ser	aplicada	a	lei	do	sopesamento	em	uma	situação	com	dois	princípios	
colidentes,	 não	há	uma	 solução	prévia	 e	definida	para	 o	 caso	 em	apreço.	 Isso	
significa	 que	 quando	 houver	 conflito	 de	 dois	 princípios,	 um	 deve	 ceder	 para	
a	 aplicação	do	outro,	 sem	que	 se	 opere	 a	 invalidação	do	princípio	que	 cedeu.	
Portanto,	há	que	se	avaliar	de	forma	individual	o	“peso”	ou	relevância	de	cada	
princípio	e	não	a	sua	validade,	se	considerando	todas	as	variáveis	que	incidem	no	
caso	concreto	para,	então,	ser	atribuído	“um	peso”	a	cada	necessidade,	valor	ou	
interesse	em	questão	de	forma	a	identificar	qual	princípio	deve	prevalecer.	Essa	
avaliação	com	base	no	peso	de	cada	princípio	é	a	base	da	lei	do	sopesamento.	
Como	 toda	 teoria,	 a	 ponderação	 não	 permanece	 sem	 críticas	 e	
dificuldades.	A	primeira	crítica	que	se	 faz	à	 lei	do	sopesamento	é	que	permite	
grande	 subjetivismo	 na	 interpretação,	 podendo	 incorrer	 em	 arbitrariedade	 e	
voluntarismo	nas	decisões.	Assim,	corre	o	risco	de	imprevisibilidade,	o	que	seria	
uma	ameaça	aos	direitos	fundamentais.	A	segunda	crítica	está	relacionada	à	perda	
da	autonomia	dada	ao	legislador,	pela	natureza	de	mandamento	otimizador	dos	
direitos	fundamentais.	
5 A PONDERAÇÃO COMO TÉCNICA INTERPRETATIVA
A	 ponderação	 de	 princípios	 é	 um	 árduo	 exercício	 interpretativo	 e	
argumentativo.	 Seguindo	 o	 pensamento	 de	 Alexy	 (2017),	 ao	 compreender	 o	
direito	 como	razão	prática	discursiva,	propõe	o	preceito	de	proporcionalidade	
como	método	de	aplicação	e	solução	de	conflito	de	princípios.	Tendo	como	base	
a	razoabilidade	e	devido	processo	legal,	subdivide	a	proporcionalidade	em	três	
sub-regras:	a	adequação,	a	necessidade	e	a	proporcionalidade	em	sentido	estrito.	
Tais	sub-regras	na	prática	devem	ser	aplicadas	de	forma	sucessiva	e	subsidiária,	
ou	seja,	deve	ser	desenvolvida	uma	forma	de	raciocínio	sequencial	avaliando	a	
adequação	e	idoneidade	do	meio	adequado	para	dar	concretude	ao	fim	necessário.	
Portanto,	 apenas	 pode	 ser	 adotada	 uma	medida	 ou	 decisão	 em	 nome	 de	 um	
princípio	somente	se	puder	realizar	sua	finalidade.	
A	adequação	é	evidente	quando	leva	em	conta,	além	de	sua	inépcia	para	
garantir	a	realização	de	uma	finalidade	amparada	por	um	princípio,	ainda	afeta	
negativamente	outro	princípio,	sendo,	portanto,	o	juízo	de	adequação	a	relação	
entre	os	meios	utilizados	para	os	fins	desejados.	
TÓPICO 2 — A REDEFINIÇÃO INTERPRETATIVA E ARGUMENTATIVA DO DIREITO CONTEMPORÂNEO
175
De	acordo	com	o	próprio	Alexy	(2017,	p.	46):
Vamos	supor	que	o	legislador	elabore	a	norma	N	com	a	intenção	de	
melhorar	 a	 segurança	do	Estado.	N	viola	 a	 liberdade	de	 expressão.	
A	segurança	do	Estado	pode	ser	concebida	como	materialmente,	um	
princípio,	 dirigido	 a	 proteção	 de	 um	 bem	 coletivo.	 Este	 princípio	
podemos	chamar	de	P1.	A	liberdade	de	expressão	pode	ser	concebida	
como	direito	individual	fundamental	que	tem	como	base	um	princípio.	
A	esse	princípio	chamemos	de	P2.	Vamos	supor	que	a	norma	N	não	é	
adequada	para	promover	P1,	ou	seja,	a	liberdade	de	expressão.	Nesse	
caso	 há	 uma	 inadequação,	 existe	 a	 possibilidade	 fática	 de	 cumprir	
ambos	princípios	conjuntamente	em	uma	maior	medida	declarando	
inválida	N.	aceitar	a	validade	de	N	não	garante	nenhum	direito	para	
P1,	apenas	perdas	para	P2.
A	 necessidade,	 por	 sua	 vez,	 ocorre	 quando	 comparados	 os	 princípios	
normativos,	 a	 aplicação	 de	 um	 poderia	 causar	 restrição	 ou	 prejuízo	 a	 outros.	
Sendo	assim,	deve-se	optar	pelo	meio	menos	gravoso,	ou	seja,	o	princípio	que	
cause	 menos	 prejuízo	 aos	 demais.	 Por	 outras	 palavras,	 diante	 de	 múltiplas	
possibilidades	 e	 decisões	 diferentes,	 a	 necessidade	 será	 atendida	 através	 da	
adoção	de	um	meio	que	menos	afete	os	demais	princípios	que	incidem	no	caso	
em	questão.	
Novamente,	tomemos	o	exemplo	proposto	por	Alexy	(2017,	p.	46):	“Vamos	
supor	que	há	uma	alternativa	N*	para	N,	e	é	suficiente	adequada	para	promover	
P1,	e	fere	menos	P2	que	N.	Nesse	caso,	P2	proíbe	a	aplicação	de	N,	uma	vez	que	
não	é	necessária	porque	P1	pode	ser	cumprido	com	um	custo	menor”.	
Em	 ambos	 os	 casos,	 as	 sub-regras	 são	 suficientes	 e	 há	 possibilidade	
fática	de	 incidência	de	um	princípio.	Porém,	quando	há	 situações	 em	que	um	
ato	necessário	e	adequado	atinge	diretamente	princípios	relevantes,	 fala-se	em	
proporcionalidade.	Neste	caso,	entra	em	questão	a	razoabilidade	de	restrição	aos	
princípios	preteridos	quando	se	compara	aos	benefícios	obtidos	com	a	prevalência	
de	um	princípio.	
Vejamos	um	caso	concreto	em	que	se	utiliza	a	ponderação	como	critério	
interpretativo:
CONSTITUCIONAL	 E	 CIVIL.	 LIBERDADE	 DE	 IMPRENSA	
VERSOS	DIREITO	À	 IMAGEM.	PONDERAÇÃO	DE	PRINCÍPIOS	 -	
PREVALÊNCIA	DO	DIREITO	À	IMAGEM,	NO	CASO	CONCRETO.	
INDENIZAÇÃO	POR	DANOS	MORAIS	-	VALOR	ADEQUADO	AOS	
CRITÉRIOS	DA	PROPORCIONALIDADE	E	DA	RAZOABILIDADE.	
RECURSO	CONHECIDO	E	IMPROVIDO.	1.	 Insurge-se	o	recorrente	
contra	 a	 sentença	 que	 reconheceu	 os	 danos	 moraissofridos	 pelo	
requerido	 e,	 por	 consequência,	 deferiu	 a	 indenização	 imaterial	 no	
valor	de	R$	5.000,00.	 Irretocável	o	 julgado.	2.	Os	princípios	da	 livre	
manifestação	de	pensamento	e	liberdade	de	informação	(art.	5°,	incisos	
IV	e	IX,	e	art.	220	da	Constituição	Federal)	devem	levar	em	consideração	
os	direitos	 fundamentais	 à	honra	 e	 à	 imagem	do	 indivíduo	 (art.	 5°,	
176
UNIDADE 3 — DIREITO MODERNO, ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA E HERMENÊUTICA
inciso	X	da	Constituição	Federal)	quanto	se	referem	à	publicação	de	
notícia	 relativa	 a	 sua	 vida	 íntima.	 3.	 Em	 sede	 de	 reclamação	 o	 STF	
proferiu entendimento no sentido de que: Eventual uso abusivo da 
liberdade	 de	 expressão	 deve	 ser	 reparado,	 preferencialmente,	 por	
meio	de	retificação,	direito	de	resposta	ou	indenização.	Ao	determinar	
a	 retirada	 de	 matéria	 jornalística	 de	 sítio	 eletrônico	 de	 meio	 de	
comunicação,	a	decisão	reclamada	violou	essa	orientação.	Rcl	22328/
RJ-	julgado	em	06/03/2013	1ª	Turma	Dje	09/05/2018	4.	Na	ponderação	de	
princípios	constitucionais	conflitantes	deve	o	juiz,	para	julgar	a	causa,	
eleger	aquele	que	deva	prevalecer	sobre	os	demais,	tomando	em	conta	
o	caso	concreto	e	o	direito	violado.	5.	No	afã	de	conseguir	um	número	
maior	de	leitores,	não	se	pode	publicar	manchetes	sensacionalistas	e	
ou	propor	matérias	usando	termos	que	denigram	o	direito	de	imagem	
da	pessoa	 envolvida	na	notícia	 veiculada.	 6.	No	 caso,	 da	 leitura	da	
matéria	publicada	em	08/11/2017	(ID	3654681	págs.1/3)	observa-se,	ao	
contrário	do	que	 afirma	o	 recorrente,	 que	 o	 enfoque	da	notícia	 não	
se	 limitou	 à	natureza	 informativa	 acerca	de	depoimento	de	 terceiro	
vinculado	a	processo	criminal	de	amplo	conhecimento	e	divulgação	
de	 esquemas	 de	 propinas	 envolvendo	 figuras	 públicas	 em	 âmbito	
nacional,	mas	sim	é	possível	verificar	que	o	recorrente	atribuiu	juízo	
de	valor	negativo	a	 comportamento	privado	atribuído	ao	 recorrido,	
ao	 dar	 à	 matéria	 o	 título:	 “Na	 orgia	 petista,	 senador	 comemorou	
propina	 em	 prostíbulo”,	 bem	 como	 ao	 afirmar	 no	 texto	 da	matéria	
que:	 “A	 tradicional	 cortesia,	 o	 ministro	 preferiu	 transformar	 numa	
noite	de	festa	em	uma	casa	de	massagem,	um	prostibulo	na	acepção	
da	 palavra.	 A	 festa	 foi	 memorável,	 as	 meninas	 muito	 animadas	
e	 o	 ministro	 feliz	 da	 vida”.	 7.	 O	 juízo	 sentenciante	 corretamente	
reconheceu	 que	 a	 matéria	 divulgada	 foi	 abusiva	 e	 violou	 a	 honra	
subjetiva	do	autor/recorrido	e	que	a	recorrente	extrapolou	seu	direito	
de	 livre	 informação,	 restando	 induvidoso	 o	 nexo	 causal	 existente	
entre	a	conduta	e	o	resultado	danoso,	a	ensejar	a	incidência	de	dano	
moral.	8.	Noutro	passo,	o	fato	de	se	tratar,	o	autor	recorrido,	de	pessoa	
no	exercício	de	cargo	público	 (Senador	da	República)	não	exime	ou	
minora	a	responsabilidade	da	publicação,	haja	vista	a	maior	extensão	
e	alcance	da	matéria	 jornalística	 inadequada	e	não	informativa.	9.	A	
indenização	fixada	em	R$	5.000,00,	para	o	caso	em	exame,	atende	aos	
critérios	da	proporcionalidade	e	da	razoabilidade,	por	isso	que	deve	
ser	mantido.	10.	RECURSO	CONHECIDO	E	IMPROVIDO.	11.	Decisão	
proferida	na	 forma	do	art.	46	da	Lei	n°	9.099/95,	 servindo	a	ementa	
como	acórdão.	12.	Custas	e	honorários	pela	recorrente,	estes	fixados	
em	15%	(quinze)	por	cento	sobre	o	valor	da	condenação.
(TJ-DF	07470688920178070016	DF	0747068-89.2017.8.07.0016,	Relator:	
ASIEL	HENRIQUE	DE	 SOUSA,	Data	 de	 Julgamento:	 14/08/2018,	 3ª	
Turma	Recursal	dos	 Juizados	Especiais	do	Distrito	Federal,	Data	de	
Publicação:	Publicado	no	DJE	:	21/08/2018	.	P.:	Sem	Página	Cadastrada.)
No	caso	acima,	tem-se	o	conflito	entre	dois	direitos	fundamentais	expressos	
em	princípios:	os	princípios	da	livre	manifestação	de	pensamento	e	liberdade	de	
informação	(art.	5°,	incisos	IV	e	IX,	e	art.	220	da	Constituição	Federal)	devem	levar	
em	consideração	os	direitos	fundamentais	à	honra	e	à	imagem	do	indivíduo	(art.	
5°,	inciso	X	da	Constituição	Federal)	quando	se	referem	à	publicação	de	notícia	
relativa	a	sua	vida	íntima	a	liberdade	de	expressão.	A	decisão	foi	feita	desde	a	
ponderação	entre,	como	se	lê	no	acórdão,	o	afã	de	conseguir	um	número	maior	de	
leitores	através	de	manchetes	sensacionalistas	e	ou	propor	matérias	e	denigram	
TÓPICO 2 — A REDEFINIÇÃO INTERPRETATIVA E ARGUMENTATIVA DO DIREITO CONTEMPORÂNEO
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o	direito	de	imagem	da	pessoa	envolvida	na	notícia	veiculada.	Verificou-se	no	
caso	concreto	que	a	notícia	não	se	limitou	a	informar	um	acontecimento,	mas	
foi	 abusiva	 e	 violou	 a	 honra	 de	 um	 indivíduo,	 o	 que	 não	 pode	 ser	 tolerado	
pelo	direito.	Por	fim,	o	valor	fixado	para	indenização	foi,	segundo	o	Tribunal,	
razoável	e	proporcional	ao	mal	causado,	devendo	ser	mantido.	
Outra	 situação	 comum	 é	 o	 uso	 da	 ponderação	 para	 o	 pagamento	 de	
aluguel	pelo	Poder	Público.	No	caso	trazido	a	seguir	há	a	colisão	de	princípios	
entre	 o	 direito	 à	 moradia	 e	 recebimento	 do	 benefício	 do	 aluguel	 social	 e	 o	
interesse	financeiro	do	Estado	que	foi	considerado	de	menor	peso	em	relação	ao	
primeiro.	Vejamos:	
APELAÇÃO	 CÍVEL	 -	 PAGAMENTO	 DE	 ALUGUEL	 SOCIAL	 -	
RESPONSABILIDADE	SOLIDÁRIA	-	ESTADO	DO	RIO	DE	JANEIRO	
E	 MUNICÍPIO	 -	 SEPARAÇÃO	 DE	 PODERES	 -	 RESERVA	 DO	
POSSÍVEL	-	PONDERAÇÃO.	Pleito	autoral	versa	direito	fundamental	
à	moradia	e	o	princípio	da	dignidade	da	pessoa	humana,	prevendo	
a	Constituição	 Federal	 competência	 comum	dos	 entes	 da	 federação	
em	promover	programas	de	construção	de	moradias	e	a	melhoria	das	
condições	 habitacionais	 e	 de	 saneamento	 básico.	Autora	 preencheu	
os	 requisitos	 ao	 recebimento	 do	 benefício	 aluguel	 social.	 Colisão	
de	 princípios	 constitucionais.	 Solução	 dimensional	 sugerida	 por	
Dworkin.	Direito	 à	moradia	 segura	 integra	 o	direito	 fundamental	 à	
vida	e	à	dignidade	da	pessoa	humana,	prevalecendo	sobre	o	interesse	
financeiro	e	secundário	do	Estado.	Ainda	que	não	fosse	assim,	aplica-
se	 a	 hipótese	 o	 enunciado	 de	 súmula	 241	 deste	 Tribunal.	 Exclusão	
da	 condenação	 do	 Estado	 do	Rio	 de	 Janeiro	 ao	 pagamento	 da	 taxa	
judiciária	ante	o	instituto	da	confusão.	Negado	provimento	ao	recurso	
do	Município	e	parcial	provimento	ao	recurso	do	Estado.
(TJ-RJ	 -	APL:	 00627207520128190002	 RIO	DE	 JANEIRO	NITEROI	 9	
VARA	CIVEL,	Relator:	EDSON	AGUIAR	DE	VASCONCELOS,	Data	
de	Julgamento:	21/03/2018,	DÉCIMA	SÉTIMA	CÂMARA	CÍVEL,	Data	
de	Publicação:	23/03/2018).
Vamos	relembrar	os	Direitos	e	Garantias	Fundamentais?
178
UNIDADE 3 — DIREITO MODERNO, ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA E HERMENÊUTICA
FIGURA 12 – DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS DE ACORDO COM A 
CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA
FONTE: <https://www.passeidireto.com/arquivo/50592706/direitos-e-garantias-fundamentais-
mapa-mental>. Acesso em: 30 abr. 2021.
TÓPICO 2 — A REDEFINIÇÃO INTERPRETATIVA E ARGUMENTATIVA DO DIREITO CONTEMPORÂNEO
179
Em	 síntese,	 quando	 da	 aplicação	 de	 princípios	 ao	 caso	 concreto,	 o	
jurista	deve	responder	através	da	argumentação	questões	 tais	como:	quais	os	
princípios	incidem	no	caso	concreto?	Quais	as	necessidades,	valores	e	interesses	
por	eles	protegidos?	Quais	são	mais	relevantes?	Por	quê?	Estabelecendo	uma	
relação	entre	as	perdas	e	os	ganhos,	qual	princípio	deve	prevalecer?	O	princípio	
sacrificado	 é	 justificável?	 Observe	 que	 há	 que	 ser	 demonstrado	 de	 forma	
argumentativa,	a	princípio,	deve	ser	dado	mais	peso.	
Evidente	que	a	ponderação	deve	ser	realizada	considerando	os	impactos	
da	decisão	na	realidade	e	sua	viabilidade	fática,	considerando	sua	adequação	
à	 estrutura	 do	 ordenamento	 jurídico	 conferindo	 validade	 e	 legitimidade	 à	
decisão.	Observe	que	a	subsunção,	como	critério	interpretativo,	não	exige	tanta	
demonstração	do	“caminho”	escolhido	pelo	julgador,	uma	vez	que	em	casos	de	
regras	não	há	que	se	falar	em	ponderação	diante	do	caso	concreto.		
180
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• A crise do direito desde o marco positivista ganhou maior intensidade a partir 
da	segundametade	do	século	XX,	quando	as	mudanças	políticas	e	 jurídicas	
acabam	por	construir	uma	nova	concepção	de	constitucionalismo	como	novo	
paradigma	de	direito	e	de	interpretação.
•	 Com	 o	 novo	 constitucionalismo,	 os	 Direitos	 Fundamentais	 ganham	 maior	
status	 jurídico.	Com	essa	nova	ordem	política	e	 jurídica	há	diferenciação	no	
conceito	de	regras	e	princípios	jurídicos	de	forma	a	compreender	os	distintos	
procedimentos	compreensivos	destas	categorias	normativas.
•	 O	 novo	 constitucionalismo	 redefine	 o	 procedimento	 interpretativo	 quando	
então	 o	 compreender	 normativo	 é	 ressignificado,	 sobretudo	 a	 partir	 da	
Teoria	da	Argumentação	de	Robert	Alexy	que	possibilita	a	aquisição	de	nova	
habilidade	interpretativa	desde	o	procedimento	da	ponderação.
181
1	 O	 termo	 “neoconstitucionalismo”	 é	 relacionado	 ao	 conceito	 de	
constitucionalismo	construído	na	Espanha	e	na	Itália	e	tem	sido	amplamente	
utilizado	sobretudo	após	os	estudos	do	jurista	mexicano	Miguel	Carbonell,	
que	entende	que	as	novas	constituições,	apesar	das	diferenças,	adquirem	
supremacia	na	hierarquia	no	ordenamento	jurídico.	Acerca	do	conceito	de	
neoconstitucionalismo	é	CORRETO	afirmar:
a)	 (			)	Considera	o	caráter	normativo	das	constituições	e	o	poder	coercitivo	
dos	direitos	declarados.
b)	(			)	Não	reconhece	a	natureza	normativa	dos	princípios.
c)	 (			)	Por	não	haver	diferença	entre	regras	e	princípios,	as	constituições	são	
consideradas	cartas	políticas	declarativas	de	direitos.
d)	(			)	Os	princípios	não	são	normas	jurídicas,	mas	fundamento	de	validade	
formal	das	normas.
2	 O	 neoconstitucionalismo	 desde	 fins	 do	 século	 XX	 representou	 uma	
possibilidade	 de	 superação	 do	 positivismo	 jurídico	 que	 reduz	 o	
direito	 à	 noção	 tradicional	 de	 norma	 limitada	 à	 regra,	 enquanto	 para	 o	
neoconstitucionalismo,	 o	 direito	 passa	 a	 considerar	 os	 princípios	 como	
normas	 jurídicas,	 até	 então	 consideradas	 como	 meras	 normas	 políticas	
dirigidas	ao	legislador.	Em	relação	à	diferença	entre	regras	e	princípios	é	
CORRETO	afirmar:
a)	 (			)	Não	há	diferença	entre	regras	e	princípios,	pois	são	normas	jurídicas	
com	igual	natureza	e	poder	coercitivo.
b)	(			)	Regras	são	previsões	e	relatos	objetivos	descritivos	de	condutas	a	serem	
seguidas	e	princípios	expressam	valores	ou	fins	a	serem	alcançados.
c)	 (			)	As	regras	são	normas	em	colisão	aplicadas	através	da	subsunção.
d)	(			)	Os	princípios	são	previsões	legais	de	condutas.	
 
3	 Considere	 a	 seguinte	 afirmação:	 Para	 a	 Teoria	 dos	 Direitos	 Fundamentais	
proposta	 por	 Robert	 Alexy,	 norma	 jurídica	 é	 um	 conceito	 fundamental	 e	
taxativo,	ou	seja,	não	é	dirigido	a	uma	finalidade	ou	caso	concreto	específico,	
uma	vez	que,	por	sua	natureza	de	alto	grau	de	abstração,	possibilita	aplicação	
de	acordo	com	cada	caso	concreto.	Desde	tal	Teoria,	recepcionada	pelo	direito	
brasileiro	 contemporâneo,	 há	 distinção	 entre	 regras	 e	 princípios.	 Pergunta-
se:	 desde	 a	 diferenciação	 entre	 regras	 e	 princípios,	 qual	 o	 procedimento	
interpretativo	em	caso	de	colisão	de	princípios?
AUTOATIVIDADE
182
4	 A	 ponderação	 de	 princípios	 é	 um	 árduo	 exercício	 interpretativo	
e	 argumentativo.	 Para	 o	 pensador	 do	 direito,	 Robert	 Alexy,	 ao	
compreender	o	direito	como	razão	prática	discursiva,	propõe	o	preceito	
de	 proporcionalidade	 como	método	 de	 aplicação	 e	 solução	 de	 conflito	
de	 princípios.	 Tendo	 como	 base	 a	 razoabilidade	 e	 devido	 processo	
legal,	subdivide	a	proporcionalidade	em	três	sub-regras:	a	adequação,	a	
necessidade	e	a	proporcionalidade	em	sentido	estrito.		Como	se	diferenciam	
a	adequação	da	necessidade	e	da	proporcionalidade	em	sentido	estrito?
183
UNIDADE 3
TÓPICO 3 — 
HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA: DESAFIOS 
DO DIREITO BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO
1 INTRODUÇÃO 
A	 Hermenêutica	 é	 definida	 como	 uma	 forma	 específica	 de	 conhecimento	
acerca	da	interpretação	dos	textos	que	tem	como	objetivo	determinar	seu	significado.	
A	 preocupação	 hermenêutica	 é	 discutir	 ou	 questionar	 quais	 são	 os	 pressupostos	
e	 elementos	 que	 interferem	 no	 processo	 compreensivo	 com	 a	 finalidade	 de	 ser	
estabelecido	um	“diálogo”	entre	o	autor	de	um	texto	e	seu	intérprete.	
Especificamente	no	campo	jurídico,	a	hermenêutica	é	construída	com	o	
advento	do	direito	moderno	quando,	diante	de	um	agir	político-social	no	sentido	
de	 estabelecer	 as	 condições	 para	 viabilizar	 o	 Estado	 e	 o	modelo	de	 sociedade	
moderna,	 é	que	 se	 coloca	a	necessidade	de	uma	específica	 racionalização,	não	
apenas	da	 criação	do	Direito,	mas	de	 sua	 interpretação	 e	 aplicação	através	de	
critérios	hermenêuticos.	
Neste	Tópico	3	será	analisada	e	discutida	especificamente	a	Hermenêutica	
Jurídica	 como	 conhecimento	 prévio	 e	 necessário	 para	 o	 desenvolvimento	 do	
procedimento	argumentativo,	dando	ênfase	à	hermenêutica	jurídica	brasileira	e	
os	desafios	colocados	com	o	advento	do	constitucionalismo	contemporâneo	que	
exige	cuidadoso	critério	metodológico.
2 HERMENÊUTICA E INTERPRETAÇÃO: CONCEITOS INICIAIS
O	uso	do	 termo	“Hermenêutica”	para	querer	 significar	 interpretação	ou	
compreensão	do	sentido	de	uma	mensagem	expressa	na	linguagem	não	é	recente	
na	 cultura	 ocidental.	 Trata-se	 da	 tradução	 latina	 da	 palavra	 grega	 hermèneutike 
(IIЄpí EpµηνЄίας utilizado	por	Aristóteles)	que	é	relacionado	à	compreensão	da	
mensagem	expressa	de	um	texto.	Isso	significa	que	o	problema	da	interpretação	
do	 discurso	 –	 expresso	 nas	 diversas	 formas	 –	 é	 o	 objeto	mais	 tradicionalmente	
associado	à	hermenêutica.
184
UNIDADE 3 — DIREITO MODERNO, ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA E HERMENÊUTICA
FIGURA 13 – HERMENÊUTICA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
FONTE: <http://santiagobarreto97.blogspot.com/2017/05/hermeneutica.html>. 
Acesso em: 30 abr. 2021.
O QUE É HERMENÊUTICA?
 É o conhecimento e a interpretação, especialmente de textos, para determinar 
o significado exato das palavras por meio das quais um pensamento foi expresso. É 
interpretar, declarar, anunciar, esclarecer e finalmente traduzir. Significa que algo se torna 
compreensível ou levado à compreensão.
 O termo hermenêutica deriva do grego "hermenéuiein" que significa expressar 
ou enunciar um pensamento, decifrar e interpretar uma mensagem ou um texto 
filosoficamente. Trata-se de uma tendência que surgiu no século XX e cujos maiores 
expoentes são Hans Georg Gadamer, Martin Heidegger, Luigi Pareyson, Gianni Vattimo e 
Paul Ricoeur.
FONTE: <http://santiagobarreto97.blogspot.com/2017/05/hermeneutica.html>. Acesso em: 
30 abr. 2021.
NOTA
Mas	 qual	 é	 o	 problema	 da	 interpretação	 que	 é	 objeto	 de	 preocupação	
da	 hermenêutica?	 A	 questão	 interpretativa	 envolve	 a	 discussão	 acerca	 da	
possibilidade de ser estabelecido um consenso compreensivo dentre um universo 
de	sujeitos.	Buscando	responder	a	essa	questão	surge	o	conceito	mais	tradicional	
de	 hermenêutica	 desenvolvido	 entre	 os	 séculos	 XVII	 e	 XVIII	 por	 pensadores	
europeus,	 sobretudo	 após	 a	 Reforma	 Luterana,	 como	 a	 seguir	 veremos,	 cuja	
preocupação	 foi	 a	 de	 buscar	 a	 compreensão	 do	 sentido	 do	 texto	 a	 partir	 do	
próprio	 texto.	Nesta	perspectiva,	a	atividade	hermenêutica	era	a	de	“revelar	o	
sentido	certo	ou	verdadeiro”	de	um	texto	tal	qual	teria	pretendido	o	autor.		
TÓPICO 3 — HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA: DESAFIOS DO DIREITO BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO
185
Porém,	como	já	vimos	na	Unidade	1	de	nosso	estudo,	há	arbitrariedade 
dos signos	quando	ocorre	a	separação	das	significações	de	suas	bases	concretas,	
os	significantes.	É	necessário	que	se	leve	em	conta	algumas	condições,	tais	como	o	
contexto	cultural,	a	temporalidade	e	a	particularidade	do	autor,	como	elementos	
de	construção	da	mensagem,	o	que	permite	afirmar	que	não	há	sentido	pleno	e	
fixo	de	uma	mensagem	sem	levar	seu	contexto,	as	mudanças	de	sentido	ao	longo	
do	tempo	e	autoria.	
Além	de	outros	elementos	relevantes,	o	contexto	é	elemento	que	constrói	
o	 sentido,	 exatamenteporque	 é	 no	 contexto	 que	 encontramos	 a	 expressão	 da	
cultura	de	um	grupo	social.	A	compreensão	de	sentido	não	se	trata	de	somente	
domínio	da	linguagem	ou	o	reconhecimento	das	palavras.	A	construção	de	sentido	
e	interpretação	de	um	texto	trata-se	de	uma	autêntica	“trama”	que	envolve	vários	
elementos,	como	você	pode	observar	na	figura	a	seguir.
FIGURA 14 – O ENTRELAÇAMENTO DE “FIOS” NO PROCESSO DA COMPREENSÃO DE UM TEXTO
FONTE: <https://www.iniciativaeducacao.org/pt/ed-on/ed-on-artigos/para-compreender-o-
-que-le-nao-basta-ao-aluno-conhecer-as-letras>. Acesso em: 30 abr. 2021.
A	 compreensão,	 portanto,	 é	 um	processo	 que	 envolve	 o	 conhecimento	
prévio	 da	 linguagem	 em	 si,	 a	 decodificação	 das	 palavras	 e	 o	 vínculo	 ou	 elo	
cultural	 e/ou	 intelectual	 com	 o	 autor	 do	 texto.	No	 processo	 compreensivo	 há	
existência	de	elementos	prévios	que	o	intérprete	carrega	em	si	e	agem	diretamente	
na	compreensão.	É	aí	que	está	um	dos	campos	da	hermenêutica.	Seu	objeto	de	
estudo:	a	definição	de	pressupostos	que	reconhecem	os	elementos	prévios	que	
agem	no	processo	compreensivo	e	norteiam	o	processo	argumentativo,	a	partir	
da	definição	de	um	método.			
186
UNIDADE 3 — DIREITO MODERNO, ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA E HERMENÊUTICA
FIGURA 15 – CONCEITO DE COMPREENSÃO
FONTE: <https://www.dicio.com.br/compreensao/>. Acesso em: 30 abr. 2021.
Ainda,	outro	elemento	relevante	a	ser	analisado	é	a	relação	estabelecida	
entre	o	compreender	e	a	realidade	em	que	o	intérprete	se	insere.	Trata-se	de	uma	
relação	 entre	o	 texto	 e	o	mundo	da	vida,	 o	 contexto,	 que	 é	histórico,	 cultural,	
político,	econômico	etc.
O	processo	compreensivo	decorre	das	circunstâncias	em	que	o	intérprete	
se	insere	e	sua	carga,	ou	bagagem,	intelectual,	cultural,	ideológica	etc.,	ou	seja,	
o	sujeito	é	produto	de	suas	circunstâncias	desde	as	quais	estabelece	o	horizonte	
compreensivo,	ou	horizonte	hermenêutico.	
O	que	é	ter	horizonte?	Vamos	recorrer	à	definição	do	importante	pensador	
Hans-George	Gadamer:
Horizonte	é	o	âmbito	de	visão	que	abarca	e	encerra	tudo	que	é	visível	
a	partir	de	um	determinado	ponto	[...],	ter	horizonte	significa	não	estar	
limitado	ao	que	há	de	mais	próximo,	mas	poder	ver	mais	além	disso	
[...].	A	elaboração	da	situação	hermenêutica	significa	então	a	obtenção	
do horizonte de questionamento correto para as questões que se 
colocam	frente	à	tradição	(GADAMER,	1999,	p.	452).
Por	 outras	 palavras,	 “ter	 horizonte”,	 no	 sentido	 hermenêutico,	 é	
estabelecer,	de	maneira	consciente	e	proposital,	um	“ponto”	a	partir	do	qual	se	
dá	a	compreensão	da	realidade.	É	o	que	o	senso	comum	muitas	vezes	chama	de	
“ponto	de	vista”.	Um	“ponto	de	vista”	ou	“lugar	de	fala”,	como	preferem	alguns,	
é	 eleger	 os	pressupostos	valorativos	 e	 culturais	desde	os	 quais	 a	mensagem	é	
elaborada,	emitida	e	compreendida.	
TÓPICO 3 — HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA: DESAFIOS DO DIREITO BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO
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A	 preocupação	 hermenêutica	 é	 discutir	 ou	 questionar	 quais	 são	 os	
pressupostos e elementos que interferem no processo compreensivo com a 
finalidade	 de	 ser	 estabelecido	 um	 “diálogo”	 entre	 o	 autor	 de	 um	 texto	 e	 seu	
intérprete.	A	 interpretação	 é	 um	 diálogo	mediado	 pela	 linguagem	 entre	 dois	
horizontes	 que	 se	 fundem.	 Portanto,	 compreender	 não	 é	mera	 reprodução	 de	
sentidos	 ou	 concepções	 alheias.	 É	 o	 intérprete,	 desde	 suas	 circunstâncias	 do	
presente,	que	recria	um	sentido	dado	por	um	autor.	
FIGURA 16 – FUSÃO DE HORIZONTES: UM PROCESSO DE CONSTRUÇÃO COMPREENSIVA
FONTE: <http://marcosmucheroni.pro.br/blog/?p=15444#.YG9F8vlKjIU>. Acesso em: 30 abr. 2021.
Portanto,	 falar	 de	 interpretação	 no	 campo	 hermenêutico	 é	 pensar,	
no	 sentido	 mais	 contemporâneo,	 não	 como	 um	 ato	 subjetivo	 e	 individual,	
mas	 um	 diálogo	 entre	 o	 passado	 e	 o	 presente	 mediado	 pela	 linguagem.	
Independentemente	 de	 cada	 particularidade	 histórica	 de	 cada	 intérprete,	 a	
compreensão	é	sempre	diferente	daquilo	que	originalmente	foi	pretendido.	Se	
a	 diferença	 compreensiva	 pode	 criar	 “muros”	 entre	 os	 indivíduos	 correndo-
se	 riscos	 de	 isolamento	 de	 cada	 qual	 em	 “suas	 verdades”	 interpretativas,	 a	
hermenêutica	possibilita,	através	do	diálogo,	construir	pontes	com	as	“pedras”	
–	obstáculos	–	tiradas	dos	próprios	“muros”	e	“verdades”	que	isola.					
Observe	a	figura	a	seguir.	É	uma	representação	do	complexo	processo	
interpretativo	 que	 envolve	 o	 ato	 de	 compreender,	 analisar	 e	 interpretar.	 Por	
evidente	 que	 esses	 distintos	 fenômenos	 se	 somam	 para	 produzir	 um	 único	
resultado	que	é	a	apreensão	e	reprodução	do	sentido	de	um	texto	ou	mensagem.	
188
UNIDADE 3 — DIREITO MODERNO, ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA E HERMENÊUTICA
FIGURA 17 – PROCESSO INTERPRETATIVO
FONTE: <https://pt.slideshare.net/clauheloisa/interpretao-e-compreenso-de-texto>. 
Acesso em: 30 abr. 2021.
Perceba	que	os	recursos	da	linguagem	são	inúmeros	e	podem	produzir	
inúmeras	formas	de	um	enunciado,	porém	isso	não	significa	que	também	sejam	
infinitas	as	interpretações.	Até	porque,	se	assim	fosse,	não	haveria	possibilidade	
de	 segurança	 jurídica	e	a	 interpretação	do	direito	 seria	 tão	 infinita	e	variável	
como	o	número	de	 intérpretes.	É	 exatamente	 aí	que	a	hermenêutica	 se	 torna	
uma	ferramenta	muito	eficaz	para	serem	definidos	os	pressupostos	adequados	
de	interpretação.
A	 atividade	 hermenêutica	 é	 utilizada	 nos	 diferentes	 campos	 onde	 se	
coloca	a	questão	interpretativa,	quais	sejam:	o	teológico,	o	literário	e	o	jurídico.	
Vejamos	brevemente	como	se	construiu	o	pensamento	hermenêutico	moderno	
para	individualizar	a	hermenêutica	jurídica.	
Em	síntese,	a	hermenêutica	é	definida	como	um	campo	de	estudo,	para	
alguns	 uma	 teoria,	 acerca	 dos	 pressupostos	 que	 norteiam	 um	 procedimento	
interpretativo	adequado.	
TÓPICO 3 — HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA: DESAFIOS DO DIREITO BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO
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“Hermenêutica”,	 no	 sentido	 aqui	 tratado,	 é	 um	 conceito	 moderno	
reinventado	no	século	XVII,	quando	a	palavra	“hermenêutica”	passou	a	designar	
um	tipo	específico	de	conhecimento	de	pretensão	doutrinária-técnica-normativa	
cujo	objetivo	era	estabelecer	critérios	competentes	para	dirimir	controvérsias	na	
interpretação	de	textos.	
Sem	querer	mergulhar	no	“imenso	oceano”	da	construção	ocidental	das	
diferentes	concepções	acerca	da	hermenêutica,	o	importante	a	destacar	é	que	o	
problema	da	compreensão	do	sentido	adquire	um	caráter	novo,	porque,	como	
afirma	Gadamer	(1999),	foi	neste	momento	histórico	que	são	reunidas	condições	
inéditas	e	renovadoras	para	a	questão	interpretativa.	
Tais	 condições	 começaram	 a	 ser	 definidas	 entre	 os	 séculos	 XV	 e	 XVII,	
como	 já	 vimos	 anteriormente,	 quando	 um	 conjunto	 de	 transformações	 sociais	
aliadas	à	emergente	Revolução	Científica	modificam	as	concepções	de	mundo	e	do	
conhecimento	até	então	dominantes.	No	campo	hermenêutico,	o	evento	que	veio	a	
representar	o	passo	inicial	para	a	definição	da	hermenêutica	moderna	foi	a	Reforma	
Luterana,	e	essa	mudança,	como	veremos,	foi	significativa	para	o	campo	jurídico.	
Sob	a	inspiração	do	humanismo,	Martinho	Lutero	abriu	o	caminho	para	
o	fim	da	concepção	homogênea	cristã	do	mundo	e	também	de	interpretação	de	
textos.	Segundo	a	proposta	luterana,	a	Sagrada	Escritura	deveria	ser	interpretada	
em	si	mesma,	sem	a	necessidade	de	se	recorrer	a	uma	autoridade	interpretativa,	
uma	 vez	 que	 segundo	 Lutero	 e	 seus	 seguidores,	 o	 texto	 bíblico	 possui	 uma	
literalidade	de	sentido	unívoco.	
Partindo	do	desafio	de	 interpretar	 o	 texto	 a	partir	do	próprio	 texto,	 os	
protestantes	que	se	dedicaram	à	questão	hermenêutica	resgataram	um	importante	
conceito	que	é	o	de	Círculo	Hermenêutico.	Trata-se	de	um	conceito	que	parte	do	
pressuposto	de	que	há	em	todo	texto	um	sentido	que	é	o	que	permite	a	coerência	
de	cada	parte	do	 texto	e	sua	relação	com	o	 todo,	 sentido	este	que	é	captado	e	
reproduzido	pelo	intérprete.	
FIGURA 18 – CÍRCULOHERMENÊUTICO
FONTE: <https://ensaiosenotas.com/2014/11/20/o-circulo-hermeneutico-para-leituras-criticas/>. 
Acesso em: 30 abr. 2021.
190
UNIDADE 3 — DIREITO MODERNO, ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA E HERMENÊUTICA
Círculo	hermenêutico	pode	 ser	definido	 como	um	raciocínio	de	ordem	
lógica	em	que	é	estabelecida	a	relação	de	um	todo	significativo	com	seus	elementos	
e	vice-versa	e	deste	 com	o	 intérprete.	É	 também	uma	 forma	de	 ser	 construída	
a	 argumentação	 circular,	 até	 porque	 ao	 ser	 elaborado	 um	 argumento,	 com	 a	
finalidade	de	convencer,	é	necessária	a	demonstração	dos	fatos	ou	fundamentos	
que	se	deseja	provar.	
Ao	compreender	e	interpretar	um	texto,	seja	literário,	religioso	ou	jurídico,	
além	da	relação	entre	o	autor	e	o	 intérprete	desde	sua	experiência	existencial,	a	
confrontação	de	um	horizonte	com	outro	é	uma	operação	que	pressupõe	a	pré-
compreensão,	isso	porque	apenas	se	compreende	o	que	se	compara	com	algo	que	
já	 se	 conhece.	Toda	 compreensão	 é	uma	 reorganização	 e	 redefinição	do	prévio,	
sendo,	portanto,	ao	mesmo	tempo	um	processo	de	reconstrução	e	integração.	
A	compreensão	é,	portanto,	um	processo	que	se	dá	através	das	relações	
significativas	entre	o	autor,	o	texto	e	o	intérprete,	devendo	ser	levado	em	conta	o	
contexto	presente.	Por	essa	razão,	interpretar	é	uma	dinâmica	reinvenção	desde	
os	 juízos	 prévios,	 ou	 pré-compreensões.	 Para	 Palmer	 (2018,	 p.	 180)	 o	 passado	
não	é	um	amontoado	de	fatos	sem	sentido,	mas	um	fluxo	de	significações	dentro	
do	qual	nos	movemos	e	construímos	nossas	referências	que	não	são	absolutas	e	
desde	o	qual	se	dá	a	interpretação.	
3 HERMENÊUTICA JURÍDICA
Com	 o	 advento	 da	 moderna	 concepção	 de	 direito	 como	 instrumento	
técnico,	 racional,	 intrinsicamente	 lógico	 e	 disciplinador	 da	 vida	 social	 que	
encontra	na	lei	a	máxima	expressão	de	um	saber	e	vontade	política	legítima,	o	
direito	é	convertido	em	uma	ciência	sistemática	racional.	
Como	já	vimos,	é	sob	tal	paradigma	que	se	constrói	o	positivismo	jurídico,	
desde	 o	 qual,	 direito	 e	 estrita	 legalidade	 tornam-se	 conceitos	 inseparáveis,	
formando	como	“duas	faces”	de	uma	mesma	moeda.	Por	via	de	consequência,	
hermenêutica	jurídica	passa	a	querer	significar	a	correta	interpretação	das	normas	
desde	 um	 método	 adequado.	 Assim,	 a	 metodologia	 hermenêutica	 positivista	
absorveu	e	acabou	por	confundir-se	com	a	reprodução	do	sistema	normativo.	
Na	 esteira	 desse	modelo	 jurídico	 e	 hermenêutico	 floresce	 e	 predomina	
a	 convicção	 de	 que	 o	 sistema	 normativo	 positivado	 possui	 em	 si	 os	 critérios	
necessários	para	legitimamente	resolver	os	conflitos	jurídicos,	não	necessitando	
seu	operador	recorrer	a	nenhuma	outra	fonte	para	além	daquelas	estabelecidas	
pelo	 legislador.	Nessa	perspectiva,	 tendencialmente	a	ordem	jurídica	possuiria	
capacidade	 de	 autointegração,	 devendo,	 portanto,	 seus	 operadores	 estarem	
submetidos	 exclusivamente	 à	 lei,	 sendo	 então,	 a	 administração	 da	 justiça	 a	
administração	do	Direito	legal	(SAAVEDRA,	1978).	
TÓPICO 3 — HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA: DESAFIOS DO DIREITO BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO
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A	 estatização	 da	 lei	 acaba	 por	 produzir	 a	 perda	 de	 autoridade	 dos	 
juristas	 frente	 às	 novas	 formas	 de	 exercício	 de	 poder	 legislativo,	 e,	 segundo	
Garcia	(1994,	p.	142),	faz	com	que	o	direito	deixe	de	ser	um	direito	dos	juristas	em	
sentido	estrito	da	palavra.
A	positivação	do	direito,	 um	 longo	 e	 complexo	processo,	 onde	 convergem	 
fatores	sociais,	políticos,	 ideológicos,	orquestrados	pelos	interesses	da	burguesia	em	
ascensão,	 transformam	a	 racionalização	em	estatização	do	direito	 culminando	com	
o	fenômeno	moderno	da	codificação	que	acaba	por	produzir	progressivamente	um	 
sistema	 normativo	 complexo	 que	 exige,	 para	 sua	 interpretação	 e	 aplicação	 a	
intermediação	 de	 juristas	 profissionais	 e	 especializados.	 E	 é	 aí	 que	 se	 define	 a	
hermenêutica	jurídica	como	saber	técnico	limitado	à	formalidade	legal.	 
A	 necessidade	 de	 um	 saber	 dogmático	 acerca	 da	 norma	 jurídica,	 que	
passará	a	ser	nominado	hermenêutica	jurídica,	um	campo	específico,	especializado	
de	conhecimento,	pode	ser	compreendida	como	parte	integrante	de	um	processo	
cultural,	ideológico	e	político	que	impôs	não	apenas	a	necessidade	de	racionalizar	
e	explicar	a	criação	do	Direito,	mas	também	sua	interpretação	e	aplicação.	
Portanto,	apenas	diante	de	um	agir	político-social	no	sentido	de	estabelecer	
as	condições	para	viabilizar	o	Estado	e	o	modelo	de	sociedade	moderna	é	que	se	
coloca	 a	necessidade	de	uma	 específica	 racionalização,	 não	 apenas	da	 criação	do	
Direito,	mas	de	sua	interpretação	e	aplicação.		A	crença	segundo	a	qual	a	vontade	
jurídica	do	Estado	é	expressa	na	lei	–	portadora	de	princípios	estáveis,	seguros	
e	permanentes	da	“vontade	geral”	–	permite	que	a	lei	ganhe	uma	centralidade	
nova	(HESPANHA,	2005).
Em	síntese,	nessa	perspectiva,	o	ato	interpretativo	se	confunde	com	método	
de	fixar	um	sentido	estritamente	técnico	e	legal.	Por	outras	palavras,	no	campo	do	
direito,	o	problema	hermenêutico consiste	em	definir,	a	partir	do	texto	 jurídico,	o	
sentido normativo formal	e	legal	a	ser	conferido	a	um	fato	da	vida	social.	
Para	 as	 correntes	 tradicionais	 do	 direito,	 a	 interpretação	 não	 é	 apenas	
restrita	 ao	 órgão	 julgador,	 uma	 vez	 que	 a	 função	 do	 juiz	 é	 decidir/aplicar	 da	
sentença.	Porém,	há	outros	órgãos	 com	competência	para	 interpretar.	Desde	essa	
consideração,	a	interpretação	jurídica	se	classifica	de	acordo	com	o	seu	intérprete	que	
pode	ser:	autêntica,	judicial	e	doutrinária,	podendo-se	falar	ainda	em	interpretação	
administrativa	que	é	aquela	feita	pelos	órgãos	da	administração	pública.	
A	Interpretação	Autêntica	é	aquela	que	é	feita	pelo	Legislador,	que	é	feita	na	
própria	lei	ou	em	lei	complementar.	É,	portanto,	um	ato	do	Poder	Legislativo	e	por	
isso	tem	força	de	lei.	Já	a	Interpretação	Judicial	ou	Jurisdicional	é	aquela	que	é	feita	 
pelo	órgão	julgador,	que	aplica	a	norma	ao	caso	concreto.	Esse	tipo	de	interpretação	só	
tem	força	de	lei	para	o	caso	em	apreço.	A	Interpretação	Doutrinária	é	a	interpretação	
feita	por	profissionais	do	direito	que	utilizam	os	preceitos	normativos	de	acordo	com	 
as	doutrinas,	as	 teorias	do	direito.	Por	fim,	a	Interpretação	Administrativa	é	aquela	 
que	 é	 feita	 pelos	 próprios	 órgãos	 administrativos	 do	 governo	mediante	 pareceres,	
portarias,	circulares,	despachos	etc.
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UNIDADE 3 — DIREITO MODERNO, ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA E HERMENÊUTICA
FIGURA 19 – A INTERPRETAÇÃO DE ACORDO COM O INTÉRPRETE
FONTE: <https://www.slideshare.net/EstresLopes/reviso-estratgia-para-oab-xxi-filosofia-do-
direito-ricardo-torques-filosofia-dodireitoricardotorques>. Acesso em: 30 abr. 2021.
Em	relação	aos	métodos	ou	procedimentos,	vejamos	os	principais	métodos	
da	hermenêutica	tradicional	de	matriz	positivista:
 
1- MÉTODO EXEGÉTICO, LITERAL OU GRAMATICAL: esse	método	surgiu	
no	século	XIX,	na	França,	com	a	codificação	e	a	chamada	Escola	da	Exegese.	
Para	essa	concepção,	a	interpretação	do	direito	restringe-se	à	interpretação	das	
leis,	priorizando	o	método	gramatical	buscando	o	significado	e	alcance	de	cada	
uma	das	palavras	do	texto	legal.	A	interpretação	gramatical	preocupa-se	com	a	
expressão	escrita	da	norma,	devendo	ser	o	intérprete	fiel	ao	seu	conteúdo.
2- MÉTODO LÓGICO-SISTEMÁTICO: esse	 método	 busca	 situar	 a	 norma	
dentro	do	conjunto	do	sistema	jurídico	compreendendo	seu	sentido	levando	em	
conta	que	ela	é	parte	de	um	 todo	normativo.	Diferente	do	método	exegético,	
não	considera	as	palavras	do	texto	normativo	isoladamente,	mas	no	contexto	e	
as	proposições	expressas	por	elas.		Tal	método	leva	em	consideração	o	sistema	
jurídico	 como	 um	 todo,	 introduzindo	 na	 interpretação	 elementos	 gerais	 do	
sistema,	por	exemplo,	analisando	e	confrontando	o	texto	normativo	principal	em	
apreço	e	outro	texto	da	mesma	lei,	ou	com	os	textos	de	outros	sistemas	jurídicos	
positivos,	levando	em	contaque	as	normas	são	mutuamente	relacionadas.
3- MÉTODO TELEOLÓGICO: o termo Telos significa	 finalidade,	 portanto,	 o	
método	teleológico	busca	compreender	o	propósito	e	finalidade	da	norma.	É	
evidente	que	o	direito	tem	como	finalidade	maior	promover	o	bem	comum	e	
amparar	necessidades,	interesses	e	potencialidades	humanas,	sendo	a	norma	
uma	 das	 expressões	 do	 direito	 e	 busca	 atender	 a	 tal	 fim,	 de	 acordo	 com	 o	
método	teleológico.
TÓPICO 3 — HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA: DESAFIOS DO DIREITO BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO
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4- MÉTODO HISTÓRICO-EVOLUTIVO:	 a	 origem	 desse	 método	 está	 no	
pensamento	 jurídico	 alemão	 do	 século	 XIX	 na	 Escola	 Histórica	 de	 Savigny.	
Surge	 como	 espécie	 de	 reação	 ao	 método	 exegético,	 considerando	 que	 em	
inúmeras	situações	práticas	as	normas	não	contemplam	os	casos	concretos.	Para	
esse	método,	 o	 sentido	da	norma	é	 encontrado	buscando-se	 as	 condições	 e/ou	
contexto	de	surgimento	da	norma	com	o	objetivo	de	encontrar	a	“vontade”	por	
trás	de	sua	criação.	O	método	histórico-evolutivo	cria	um	legislador	fictício	–	um	
mero	artifício	retórico	–	e	atribui-se	a	ele	uma	vontade.	Ainda	compara	as	normas	
antigas	com	as	que	as	sucederam,	bem	como	as	transformações	jurisprudenciais	a	
fim	de	compreender	o	contexto	e	as	condições	em	que	foram	criadas.
FIGURA 20 – SÍNTESE: OS MÉTODOS TRADICIONAIS DE INTERPRETAÇÃO
FONTE: <https://slideplayer.com.br/slide/10055011/>. Acesso em: 30 abr. 2021.
Pode-se	 concluir	 que	 os	 procedimentos	 hermenêuticos	 de	 matriz	
positivista	 trataram	 de	 colocar	 a	 tarefa	 interpretativa	 como	 uma	 questão	
puramente	 metodológica	 formal,	 se	 afastando	 de	 valores	 ou	 mesmo	 reflexão	
sobre	 sua	 finalidade	 prática.	 Assim,	 a	 hermenêutica	 jurídica	 assume	 a	 tarefa	
de	 legitimar	 a	 ordem	 normativa	 cumprindo	 a	 função	 de	 conferir	 coerência	 e	
plenitude	ao	sistema	jurídico,	ao	mesmo	tempo,	dando	a	flexibilidade	necessária	à	
aplicação	da	norma,	reafirmando	os	postulados	da	generalidade	e	universalidade	
do	Direito,	privilegiando	a	subsunção	do	fato	à	norma,	conforme	nos	 ilustra	a	
figura	a	seguir.	
194
UNIDADE 3 — DIREITO MODERNO, ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA E HERMENÊUTICA
FIGURA 21 – ATIVIDADE INTERPRETATIVA DO DIREITO NA PERSPECTIVA FORMAL
FONTE: <https://www.esquematizarconcursos.com.br/artigo/metodos-de-interpretacao-da-
constituicao>. Acesso em: 30 abr. 2021.
4 DESAFIOS PARA A HERMENÊUTICA JURÍDICA DO BRASIL 
CONTEMPORÂNEO
A	ordem	política	e	jurídica	colocada	em	marcha	no	Brasil	com	a	Constituição	
de	 1988	 e	 o	 inédito	 momento	 histórico	 de	 então	 somados	 representaram	 a	
consolidação	dos	direitos	 fundamentais	 que	 representaram	a	 concretização	de	
uma	ordem	política	e	jurídica	que	buscava	superar	um	histórico	e	quadro	social	
de	exclusão	e	violação	sistemática	de	direitos.	
Naquele	momento,	lembra	Sarmento	(2010),	a	maioria	dos	juristas	entram	
em	sintonia	com	as	tendências	constitucionalistas	que	apontavam	como	grande	
desafio	garantir	a	efetividade	das	constituições	democráticas,	como	já	estudado.	
Até	 então,	 historicamente,	 os	 comandos	 jurídicos	 e	 políticos	 constitucionais,	
de	 fato,	 estavam	 nas	 mãos	 dos	 detentores	 dos	 poderes	 político,	 econômico	 e	
social	e,	finalmente,	o	país	começou	a	“levar	a	sério”,	como	se	costuma	dizer,	a	
Constituição	 e,	 apesar	das	dificuldades	 enfrentadas,	 os	 avanços	 em	 relação	ao	
passado	são	inquestionáveis	(SARMENTO,	2010,	p.	3-4).
Logo	 após	 a	 homologação	da	Constituição	de	 1988,	 juristas	 como	Luis	
Roberto	Barroso	e	Clèmerson	Merlin	Clève	passaram	a	militar	a	concepção	de	que	
a	Constituição,	enquanto	norma	 jurídica,	deveria	 ser	aplicada	comumente	pelos	
juízes,	defendendo	um	“constitucionalismo	de	efetividade”,	independentemente	
de	qualquer	mediação	legislativa.	
[...]	o	que	viria	a	tirar	do	papel	as	proclamações	generosas	de	direitos	
contidas	na	Carta	de	88,	promovendo	justiça,	igualdade	e	liberdade.	Se	
até	então,	o	discurso	da	esquerda	era	de	desconstrução	da	dogmática	
jurídica,	a	doutrina	da	efetividade	vai	defender	a	possibilidade	de	um	
uso	emancipatório	da	dogmática,	tendo	como	eixo	a	concretização	da	
Constituição	(SARMENTO,	2010,	p.	248).	
TÓPICO 3 — HERMENÊUTICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA: DESAFIOS DO DIREITO BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO
195
Destacando-se a obra Direito Constitucional e a Efetividade das Normas, de 
Luis Roberto Barroso publicada no início da década de 1990 e A Teoria Constitucional 
e o Direito Alternativo: para uma dogmática constitucional emancipatória. In: Uma vida 
dedicada ao Direito: uma homenagem a Carlos Henrique de Carvalho publicada em 1995.
NOTA
Desde	aí	se	aprofundaram	e	se	radicalizaram	os	estudos	da	hermenêutica	
jurídica.	 Influenciados	 pelo	 pensamento	de	Ronald	Dworkin,	 Robert	Alexy,	 John	
Rawls,	 Hans	 Georg	 Gadamer,	 Jurgen	 Habermas,	 entre	 outros,	 juristas	 como	
Lenio	L.	Streck	e	Eros	Roberto	Grau	refundam	o	pensamento	jurídico	brasileiro	
denunciando e renunciando ao velho positivismo e seus procedimentos 
hermenêuticos.	Nessa	nova	etapa	é	acentuada	a	natureza	valorativa	do	Direito	e	
dos	princípios	constitucionais.
Nesse	 contexto,	 lembra	 Daniel	 Sarmento,	 há	 uma	 “verdadeira	 febre	
de	 trabalhos	 sobre	 teoria	 dos	 princípios,	 ponderação	 de	 interesses,	 teorias	 da	
argumentação,	proporcionalidade,	razoabilidade,	etc.”	(SARMENTO,	2010,	p.	249)	
e	se	incorpora	no	pensamento	jurídico	crítico	brasileiro	o	neoconstitucionalismo.	
Tratava-se	de	um	momento	de	conquistas	e	necessidade	de	que	fossem	garantidas.	
Entretanto,	já	na	primeira	década	do	século	XXI,	muitos	se	davam	conta	
das	 dificuldades	 de	 interpretação	 com	 o	 neoconstitucionalismo.	 Como	 afirma	
Streck	(2011),	não	é	porque	o	neoconstitucionalismo	tem	um	discurso	valorativo	
que	é	superado	o	positivismo	formal	legalista.
As	novas	teorias	utilizando	a	ponderação	de	princípios,	como	estudado,	
acabaram	 por	 cair	 na	 incerteza	 e	 indeterminação	 do	 Direito.	 Seguramente,	 a	
Teoria	da	argumentação	de	Alexy	foi	mal	incorporada	no	pensamento	brasileiro	
e,	 ao	 se	 decretar	 o	 fim	do	método	 e	 o	 triunfo	 da	 ponderação	 passou	 a	 reinar	
absoluta	 incerteza	 e	 relativismo	 nas	 decisões	 judiciais.	 Possivelmente,	 são	 os	
efeitos	perversos	de	uma	lógica	colonizada	que	insiste	em	ser	mantida	na	cultura	
jurídica	brasileira.
As	 novidades	 interpretativas	 e	 argumentativas	 trazidas	 ao	 Brasil	 em	
fins	do	século	XX,	sobretudo	com	a	entrada	em	cena	do	neoconstitucionalismo,	
acabou por produzir descontrolado solipsismo que corre o risco de confundir 
discricionariedade	com	arbitrariedade.	
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UNIDADE 3 — DIREITO MODERNO, ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA E HERMENÊUTICA
SOLIPSTISMO INTERPRETATIVO: é uma espécie de sacralização da atividade 
judicial. Uma crença de que o julgador, por sua própria natureza e características imanentes, 
é capaz de dizer o que é bom, justo, certo e verdadeiro para toda sociedade, em especial, 
para aqueles que sofrerão os efeitos de suas decisões, chegando ao desprezo de elementos 
processuais para formar sua convicção. A postura solipsista é comum no ambiente forense, 
e é visível quando alguns magistrados, ao julgar, utilizam frases como “minha íntima convicção”, 
“minha compreensão”, “decido conforme minha consciência, convicção e sentir” etc.
NOTA
FIGURA 22 – O SOLIPTISTA
FONTE: <https://maestrovirtuale.com/solipsismo-historia-caracteristicas-e-representantes/>. 
Acesso em: 30 abr. 2021.
A	interpretação	solipsista	tem	como	fonte	de	certeza	seu	“eu”	e	a	atividade	
hermenêutica	 é	 independente	da	 realidade	 e	qualquer	outra	 referência.	Desde	aí,	
todo	procedimento	argumentativo	é	fundamentado	na	crença	do	“eu”	e	“minhas”	
deduções	intelectuais.	
Para melhor conhecer o tema do solipsismo produzido pela dificuldade de 
recepção da Teoria da Argumentação pelo direito brasileiro sugerimos a leitura do texto: o 
problema da decisão jurídica em tempos pós-positivistas, de Lenio Luiz Streck, disponível 
em: https://siaiap32.univali.br/seer/index.php/nej/article/viewFile/1766/1406.

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