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N O VA R EP Ú B LI CA 2020 - 2022 NOVA REPÚBLICA 1. Nova República 2. História dos Povos Indígenas Da promulgação da Constituição de 1988 até os dias atuais. Aqui você vai estudar os anos mais recentes de história do Brasil. Este módulo é composto pelas seguintes apostilas: 3 NOVA REPÚBLICA www.aprovatotal.com.br/ GOVERNO SARNEY (1985-1990) José Sarney era vice-presidente de Tancredo Neves, morto antes da posse em 1985. Sendo assim, coube a ele a missão de consolidar a democracia no Brasil no período em que foi presidente. No governo Sarney houve um retorno à liberdade de imprensa e ao multipartidarismo, incluindo a volta à legalidade do partido comunista. Nova República, Nova Constituição Durante o mandato de Sarney foi promulgada uma nova constituição para o Brasil, no ano de 88. Mas os trabalhos que levaram à sua redação ficaram a cargo da Assembleia Nacional Constituinte. Por fim, foram tantos os avanços que nossa Lei Maior ficou conhecida como Constituição Cidadã. A nova constituição ampliava os direitos e deveres, ampliou o Direito das Minorias e estabeleceu a primeira eleição direta para presidente para o ano de 1989. Problemas Na Economia Qualquer que fosse o presidente a ocupar o cargo máximo da nação, estaria de frente com um grande problema econômico herdado do período da ditadura civil-militar: alta da inflação, crescimento da dívida externa, ausência de reserva de moeda estrangeira e altos gastos de manutenção da máquina pública. Porém, sem ter como pagar os juros da dívida externa, o Brasil decretou moratória em 1987. José Sarney Ulysses Guimarães com a Nova constituição. 4 N ov a R ep úb lic a O Plano Cruzado (1986) Objetivando conter a inflação, o governo Sarney lançou em 1986 o Plano Cruzado, que congelava preços de aluguéis, produtos, tarifas, salário e câmbio. Além disso, o plano substituiu o Cruzeiro, moeda então vigente, pelo Cruzado, cortando três zeros na moeda. E num gesto populista, o governo convocou a população civil para fiscalizar os supermercados de modo a que não se aumentassem os preços. Inicialmente, o plano conseguiu fazer cair bruscamente a inflação, o que aumentou a popularidade de Sarney. Mas passado algum tempo, ele mostrou-se insustentável e precisou ser substituído por um novo plano, o Cruzado II. O Cruzado II reajustou preços, tarifas e ainda aumentou impostos. Por outro lado, os salários eram reajustados automaticamente quando a inflação atingia certo índice - era o chamado “gatilho salarial”. Os Planos Bresser (1987) e Verão (1989) O governo Sarney lançou ainda mais dois planos, o Bresser e o Verão. O primeiro acabou com o gatilho salarial e manteve o congelamento de preços, elevando ainda as tarifas públicas. Já o segundo, além de trocar o cruzado pelo cruzado novo, desvalorizou o câmbio e retomou o pagamento da dívida externa. Foi um período muito difícil para a economia brasileira, com a inflação acumulada atingindo quase 3.000% entre 1989 e 1990 5 N ov a R ep úb lic a www.aprovatotal.com.br/ As Eleições de 1989 Luís Inácio da Silva e Fernando Collor, os principais candidatos das eleições de 1989. As eleições de 1989 foram históricas, pois desde a ditadura militar o povo brasileiro não votava diretamente para presidente. Ela contou com muitos candidatos, incluindo o apresentador Sílvio Santos. Contudo, a disputa final foi entre Luís Inácio da Silva e Fernando Collor de Mello, que foram para o segundo turno. Se utilizando de uma extensa campanha midiática, tal qual como Jânio Quadros nas eleições de 1960, Collor se apoiou num discurso anticorrupção, sendo colocado diversas vezes como “caçador de marajás” (neste contexto, marajás eram funcionários públicos que indevidamente recebiam altos salários). Isso somado a diversos ataques diretos ao candidato da oposição resultaram na vitória de Collor nas eleições. GOVERNO COLLOR (1990-1992) O povo brasileiro escolheu o jovem político Fernando Collor de Mello, que pertencia a uma família tradicional de Alagoas. Tendo feito uma campanha meteórica através de um partido pequeno, o PRN, e tendo feito carreira política num estado igualmente pequeno (Alagoas). Na prática, Collor foi o primeiro presidente brasileiro a colocar o país n'a rota do neoliberalismo. Foi em seu curto período de governo (1990- 1992) que várias estatais foram ou começaram a ser privatizadas, num programa de governo que ficou conhecido como Programa Nacional de Desestatização. Por outro lado, a economia brasileira foi aberta às importações. 6 N ov a R ep úb lic a Plano Collor ou “Brasil Novo” (1990) Como havia assumido um país com uma inflação de 80% ao mês, Collor sabia que precisava fazer algo urgente para sanar a economia brasileira. Pela primeira vez na História do Brasil, uma mulher foi escolhida para exercer o cargo de ministra da república. Não obstante, Zélia foi uma das figuras mais impopulares do governo Collor, principalmente por causa da medida do confisco. No dia seguinte à sua posse como ministra da economia, as contas bancárias que possuíam valores acima de um certo limite (50 mil cruzados) foram bloqueadas, impedindo assim que milhões de brasileiros pudessem dispor dos valores que haviam guardado no banco. Contudo, a medida do confisco gerou uma rápida queda na inflação, gerando então uma grande recessão na economia que foi seguida logo depois por uma forte volta da inflação. Quanto ao Plano Collor, ele propunha além de uma reforma administrativa, a abertura ao capital estrangeiro, o fim do incentivo às indústrias, o congelamento de preços e salários e a troca do Cruzado Novo pelo Cruzeiro. A QUEDA DE COLLOR Mas Fernando Collor não cumpriu o tempo do seu mandato. Após uma denúncia do seu irmão, Pedro Collor, em Maio de 1992, acusando o tesoureiro da campanha presidencial, Paulo César Farias (PC Farias) de corrupção, foi instalada uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar as acusações. Enquanto isso, o povo expressou sua revolta nas ruas e aconteceu um grande clamor popular pedindo o afastamento de Collor da presidência e a prisão de PC Farias. Os estudantes, que naquele momento eram uma nova geração diferente daquela do Golpe de 64 e das Diretas Já!, se organizaram em grandes manifestações pelo país, onde boa Zélia Cardoso de Mello, Ministra da Economia e a 1ª mulher a ser ministra no Brasil. 7 N ov a R ep úb lic a www.aprovatotal.com.br/ parte deles pintava o rosto. Por isso, esses estudantes ficaram conhecidos como “Caras- Pintadas”. Em Outubro de 1992, é instaurado o processo de Impeachment de Collor e ele é afastado da presidência, assumindo então o seu vice, Itamar Franco. Em Dezembro, pouco antes do Senado votar o seu impeachment, Collor renuncia à presidência, impedindo na prática o próprio impeachment. A manobra tinha o objetivo de garantir que ele pudesse retornar à vida política no futuro enquanto lutava nos tribunais para provar a sua inocência no caso PC-Farias. Entretanto, o STF ainda assim caçou os direitos políticos de Collor pelos próximos oito anos. GOVERNO ITAMAR FRANCO (1992 – 1994) Itamar Franco era vice de Collor, e assumiu a presidência logo após o seu impeachment. Sem dúvida, o principal destaque do seu governo foi o Plano Real, cujo sucesso foi aproveitado por Fernando Henrique Cardoso, seu Ministro da Fazenda, para sua própria campanha à presidência da República. Por outro lado, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) foi privatizada em seu governo e até mesmo o Fusca, carro popular, voltou a ser fabricado. Collor prestes a assinar a renúncia. 8 N ov a R ep úb lic a Plano Real O Plano Real, teve o seu crédito associado exclusivamente a Fernando Henrique Cardoso, foi um plano econômico extremamente popular no Brasil. Após vários anos de uma inflação que parecia não ter fim, finalmente a moeda brasileira, renomeada para Real, conseguiu chegar à estabilidade, com o controleda inflação e dos gastos públicos. Neste sentido, o Brasil seguia o exemplo de outros países latino- americanos, como México e Argentina. Inaugurado em 1994, o Plano Real funcionou através da sua equiparação ao dólar americano e o controle dos juros na economia. Mas, inicialmente, antes da moeda brasileira tornar-se definitivamente o Real, ela passou por uma fase preparatória onde se chamava URV (Unidade Real de Valor). Finalmente, em 1º de julho de 1994, foi lançado o Real. GOVERNO FERNANDO HENRIQUE CARDOSO (1995-2001) Por causa do Plano Real, do qual foi considerado o “pai”, a popularidade de FHC (Fernando Henrique Cardoso) estava altíssima, de tal modo que ele a aproveitou para se eleger à presidência da República. E assim, ele governou o Brasil, em seu primeiro mandato, entre os anos de 1995 e 1998, tendo vencido o candidato Luís Inácio Lula da Silva, do PT, que ficou em segundo lugar. Fernando Henrique Cardoso (FHC) FHC durante o anúncio das cédulas de Real. 9 N ov a R ep úb lic a www.aprovatotal.com.br/ Em seu governo, o modelo neoliberal de economia, já iniciado por Collor, foi aprofundado. Neste sentido, um amplo programa de privatizações foi levado a efeito, com a privatização da Vale do Rio Doce, da Embraer e do Sistema Telebrás. O Outro Lado do Real… A paridade entre o Real e o Dólar americano custou caro ao Brasil, que teve as suas reservas cambiais esgotadas. Numa tentativa de sanar este problema, o governo estimulou a vinda de capital estrangeiro com o aumento dos juros no país. Mas esse aumento dos juros gerou recessão, desemprego e um grande aumento da dívida pública. Já no aspecto social, os recursos advindos com as privatizações não foram aplicados, na infraestrutura das áreas de base, como saúde e educação. Não obstante, durante o governo FHC foi promulgada a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) e os PCN 's (Parâmetros Curriculares Nacionais). Além disso, o acesso à educação foi ampliado. No caso da saúde, cabe destacar a lei de incentivo aos genéricos, que fez com que o valor de vários medicamentos caísse. Entretanto, por falta de investimento em infraestrutura tanto escolas e universidades como hospitais públicos eram flagrantemente sucateados o que afetava a popularidade destes programas. Por outro lado, no governo FHC as tensões no campo se ampliaram. Um protesto de trabalhadores rurais sem-terra no Pará, que pediam a desapropriação de uma fazenda ociosa, foi reprimido a tiros pela polícia militar do estado, o que levou à morte de 19 manifestantes. Este acontecimento ficou conhecido como o Massacre de Eldorado dos Carajás. 10 N ov a R ep úb lic a Reeleição e o Segundo Mandato Visando a própria reeleição, FHC conseguiu aprovar junto a sua base aliada no Congresso, uma Emenda Constitucional que permitia a reeleição de presidentes, governadores e prefeitos. E assim, ele foi reeleito logo no primeiro turno com mais de 53% dos votos, deixando em segundo lugar a chapa Lula-Brizola. Gerenciando uma Crise De um modo geral, o segundo mandato de FHC não foi brilhante como o primeiro. Entre 1998 e 2002, o Brasil passou pela crise do apagão elétrico e pela desvalorização do Real. A crise do apagão marcou os meses de junho de 2001 até fevereiro de 2002, onde por conta dos baixos reservatórios das hidroelétricas, um plano de racionamento de luz foi aplicado em todo o território nacional. Limites de consumo mensal foram impostos sob o risco de corte de luz caso extrapolados, e parte da iluminação pública das cidades foi desativada sob a prerrogativa de economia de energia. A crise energética deixou o país em uma posição delicada no mercado internacional, visto que afetou gravemente a indústria, deixando investidores inseguros. Mas embora tenha passado por essas crises e o desgaste do Real, Fernando Henrique Cardoso conseguiu emplacar como sucessor o ex-ministro da Saúde, José Serra. Porém, as eleições de 2002 deram a vitória para o candidato do PT, Luís Inácio Lula da Silva, iniciando assim era do Partido dos Trabalhadores no poder, que só se encerraria em 2016 com o impeachment de Dilma Rousseff. GOVERNO LULA (2002 – 2010) Desde as eleições presidenciais de 1989, e depois nas seguintes, que Luís Inácio Lula da Silva tentava se eleger presidente da República. Finalmente, nas eleições de 2002, ele conseguiu ser eleito no segundo turno, vencendo o candidato do PSDB, José Serra, que havia sido Ministro da Saúde de Fernando Henrique Cardoso. Mas diferente do discurso socialista que vinha consistentemente desenvolvendo a cada pleito disputado, Lula em 2002 adotou uma política neoliberal muito semelhante à de FHC, mas com algumas diferenças. Por exemplo, com vistas a manter a estabilidade na economia, Lula manteve a mesma política econômica e cambial do governo anterior. Um gesto importante neste sentido foi a nomeação de Henrique Meirelles, do PSDB, como presidente do Banco Central. Capa da Revista Veja em junho de 2001 11 N ov a R ep úb lic a www.aprovatotal.com.br/ Uma consequência política dessa aproximação de Lula com a política econômica de FHC, foi uma divisão dentro do próprio PT, que levou à formação do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), composto pela ala petista que era a favor da manutenção do discurso socialista. O Nacional-Estatismo Uma diferença de Lula em relação à FHC foi o reforço do papel do Estado, que no neoliberalismo não é encarado como protagonista do desenvolvimento nacional. Porém, o governo Lula também não foi uma repetição pura e simples do modelo consagrado por Getúlio Vargas. No lugar das privatizações, Lula procurou implantar parcerias público- privadas (PPP). Além disso, como forma de incentivar o consumo e diminuir as desigualdades sociais, o governo do PT diminuiu os impostos que incidiam sobre a cesta básica e materiais de construção. E mais, a pesquisa científica foi reforçada e a política externa foi pautada pelo multilateralismo. No final do seu mandato, em 2006, foi descoberta o chamado Pré-Sal, que são extensas reservas petrolíferas localizadas debaixo de formações rochosas salinas no fundo do mar na costa do Brasil. Nas políticas sociais, o primeiro governo do PT destacou-se pelos programas Fome Zero e Bolsa Família, que apesar de serem vistos como manobras populistas pelos adversários de Lula, foram importantes para amenizar as desigualdades sociais do Brasil. Crise Política No ano de 2005, teve início uma crise política que ameaçou seriamente a estabilidade do governo Lula, mas que não impediu que ele fosse reeleito para mais um mandato (2007-2011). O escândalo em questão ficou conhecido como mensalão, e consistia 12 N ov a R ep úb lic a no pagamento de propinas a parlamentares para que eles aprovassem as propostas do governo no Congresso Nacional. Foi instalada então uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar as denúncias, mas como foi dito, os índices de aprovação do governo voltaram a subir e Lula conseguiu ser reeleito em 2006, quando derrotou Geraldo Alckmin, candidato do PSDB. Segundo Governo Lula (2006-2010) Em 2007, o PIB brasileiro crescia a 7,5% ao ano, um índice consideravelmente alto. No segundo mandato, Lula tratou de construir a imagem da sua ministra das Minas e Energia e, posteriormente, da Casa Civil, Dilma Rousseff, para que se tornasse sua sucessora. Surpreendentemente, mesmo com uma crise econômica que afetou vários países do mundo em 2008, o Brasil voltou a crescer em 2009, o que fez com que Lula terminasse o segundo mandato com um bom índice de aprovação, o que foi aproveitado por Dilma, que era candidata à presidência pelo PT. GOVERNO DILMA ROUSSEFF (2011-2016) Dilma Vana Rousseff (PT) tornou-se a primeira mulher presidente da república na História do Brasil, após vencer o candidato do PSDB, José Serra, nas eleições de 2010. Basicamente, Dilma manteve as políticas sociais do governo Lula e costurou uma aliança política com o PMDB, do seu vice-presidente, Michel Temer, para que conseguisse governar. Em seus mandatos ocorreram a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Além dos programas sociais, Dilma manteve o Fies, o Prouni e implementou o Ciência sem Fronteira. Portanto, podemos dizer que a ciência e o acesso ao ensino superior foram incentivados durante o governo Dilma. Devemos lembrar também que foi em 2014 que foi aprovada a lei que reserva 20% de cotas para negros nos concursos federais. Crises do Governo Foi durante o governo de Dilma Rousseff, em 2014, que foi instalada a Operação Lava- Jato, que buscava investigar um esquema de corrupção na Petrobrás. Com o avanço das investigações, foi ficando cada vez mais claro o envolvimento do governo do PT no 13 N ov a R ep úb lic a www.aprovatotal.com.br/ esquema, o que naturalmente levou ao desgaste político de Dilma Rousseff. Ao mesmo tempo, o país passava por um desaquecimento da economia a nível internacional e, muito rapidamente, milhões de pessoas perderam seus empregos, especialmente no setor de petróleo e gás. Por outro lado, o governo já estava desgastado por causa das jornadas de junho, que foram uma série de protestos e manifestações em massa nas ruas do país no ano de 2013. Os motivos iniciais eram o aumento das tarifas dos transportes públicos, mas com o tempo, foram incluídas outras reivindicações como o fim da corrupção, da violência policial e, até mesmo, a não realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas no Brasil. O Impeachment de 2016 Tudo levava a crer que Dilma não seria reeleita em 2014 para mais um mandato e, de fato, o resultado das eleições foi muito apertado, o que levou alguns até mesmo a questionarem a sua legitimidade. Na prática, o que ocorreu foi que os grupos políticos da oposição juntaram forças para incriminar a presidente Dilma Rousseff em um crime de responsabilidade que ficou conhecido como “pedaladas fiscais”, que consistiam no atraso do repasse de dinheiro do Tesouro Nacional para bancos e autarquias, com o objetivo de apresentar artificialmente despesas menores do que eram na realidade. Em 2016, a oposição conseguiu o seu intento e Dilma Rousseff foi afastada do poder, assumindo em seu lugar, o vice-presidente Michel Temer, do PMDB. Ironicamente, após o Impeachment, o Congresso aprovou uma lei que tornava legais as chamadas “pedaladas fiscais”. Jornadas de Junho de 2013 14 N ov a R ep úb lic a ANOTAÇÕES GOVERNO MICHEL TEMER (2016-2018) Michel Temer assumiu o poder em meio à impopularidade por parte dos setores da sociedade que acreditavam que Dilma havia sofrido um golpe. Por outro lado, ele representava os interesses dos grupos políticos que desejavam realizar uma reforma trabalhista, que afetaria os direitos que a classe trabalhadora havia conquistado através da CLT. De todo modo, em seu curto governo (2 anos), Temer teve que enfrentar a greve dos caminhoneiros, que parou o país e desabasteceu os supermercados, e também várias denúncias de corrupção, que agora se voltaram contra membros do seu partido (PMDB), inclusive alguns que em 2016 conduziram o processo de impeachment de Dilma, como o Deputado Eduardo Cunha. Finalmente, em 2018 foram realizadas novas eleições presidenciais que, uma vez mais, mostraram um profundo abismo político na sociedade brasileira, cada vez mais desacreditada dos partidos políticos e polarizada sob debates ideológicos. 15 N ov a R ep úb lic a www.aprovatotal.com.br/ 1www.biologiatotal.com.br EUA: O GOVERNO OBAMA E TRUMP BARACK HUSSEIN OBAMA 2009-2017 Barack Hussein Obama, ou simplesmente Barack Obama, era filho de um estudante queniano e uma americana do Havaí. A sua eleição foi um momento histórico na história dos Estados Unidos da América, um país profundamente racista onde a população negra é historicamente discriminada. Obama foi o primeiro presidente negro do país, e sua vitória nas eleições de 2008, fez com que boa parte da população dos EUA recuperasse a fé na democracia. Formado em duas universidades, ele estudou Direito em Harvard, tendo atuado como advogado comunitário durante alguns anos. Na década de 1990, ele foi eleito para o Senado dos EUA, e foi como senador que disputou as eleições presidenciais de 2008, que ele venceu disputando contra John McCain. Por outro lado, em seu primeiro mandato, Obama herdou os problemas militares no Oriente Médio deixados pelo seu antecessor, George W. Bush. Além disso, o país passava por uma grave crise econômica em 2008, que afetou muitos países além dos EUA, de forma muito semelhante à Crise de 1929. ORIENTE MÉDIO: “UM NOVO COMEÇO” Uma diferença de Obama em relação a Bush foi o seu compromisso em encerrar a Guerra ao Terror. O objetivo, segundo ele, era poupar vidas estadunidenses. Ao mesmo tempo, ele sabia que os Estados Unidos não poderiam demonstrar fraqueza. Assim, uma medida adotada por ele foi a substituição de tropas humanas pelo uso de inteligência e tecnologia, como por exemplo os drones militares. 2 EU A : O G ov er no O ba m a e Tr um p Em 2014, Obama encerrou a “Operação Liberdade Duradoura”, lançada por Bush após os atentados 11 de Setembro, e que tinha o objetivo de capturar todos os envolvidos. Uma das consequências diretas dela foi a invasão e ocupação estadunidense no Afeganistão, a partir de 2001. No ano seguinte, 2015, os EUA e a OTAN iniciaram a “Missão Apoio Resoluto”, que tinha o objetivo de fornecer assessoria e assistência às forças de segurança do Afeganistão. Contudo, esta operação também foi um fracasso, pois o Afeganistão não foi pacificado e continuou com vários problemas sociais. Isto levou os EUA a fazerem um acordo com o mesmo grupo político que eles haviam deposto em 2001, o Talibã. E assim, as tropas estadunidenses abandonaram o Afeganistão em 2021. SÍRIA E IRAQUE Desde 2011, a Síria atravessava uma intensa guerra civil. Os rebeldes revoltaram-se contra o governo de Bashar al Assad que, por outro lado, possuía o apoio da Rússia e do Irã. A escalada de guerra civil na Síria e no Iraque, país vizinho, abriu terreno para o crescimento de um grupo radical islâmico chamado “Estado Islâmico”, conhecido também como ISIS e DAESH, que chegou a controlar vastas áreas na Síria e no Iraque. Este grupo foi responsável por diversos ataques terroristas e verdadeiras demonstrações de violência que eram transmitidas ao vivo por diversas mídias digitais. Os seus membros vinham de vários países e eram normalmente jovens delinquentes de famílias muçulmanas europeias. Algumas fontes sugerem que o ISIS teria sido uma criação dos Estados Unidos para desestabilizar o governo de Bashar al Assad na Síria. De todo modo, em 2014, os estadunidenses iniciaram uma campanha militar contra o ISIS. IRÃ Desde 2005, a República Islâmica do Irã é motivo de tensões. O motivo é o programa nuclear iraniano, que apesar de ter alegadamente fins pacíficos, é visto com temor principalmente pelos Estados Unidos e por Israel. Como o Irã possui uma política de oposição clara aos dois países, a ideia do Irã ser capaz de produzir armas atômicas atemoriza os estadunidenses e israelenses. 3www.aprovatotal.com.br EU A : O G ov er no O ba m a e Tr um pPor isso, a ONU aplica sanções econômicas ao Irã desde 2006. Porém, o presidente Barack Obama iniciou um esforço de aproximação com o Irã desde 2013. Seu objetivo era aliviar as tensões e se certificar de que o país não estaria produzindo secretamente armas atômicas. Finalmente, em 2015, os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, o grupo P5 + 1 (China, França, Alemanha, Rússia, EUA e Reino Unido), assinaram o Plano de Ação Conjunta Global, que estabelecia entre outras coisas, um teto para o estoque de urânio enriquecido do Irã, o que em tese impediria a produção de armas atômicas, que necessitam do urânio enriquecido. PRIMAVERA ÁRABE No final de 2010, um jovem cidadão da Tunísia, Mohamed Bouazizi, ateou fogoao próprio corpo como forma de protesto contra o desemprego e as péssimas condições de vida em seu país. A partir disso, teve início uma série de manifestações em vários outros países árabes, como Egito, Síria e Líbia. E em alguns destes países, o resultado foi a guerra civil e até mesmo a derrubada de alguns presidentes, como Muammar Kadafi que governava a Líbia desde 1969. Mas neste caso, o país sofreu uma intervenção militar da OTAN, apoiada pela ONU, com a justificativa de proteger a população civil. Kadafi foi rapidamente tirado do poder e linchado pela população civil. Mas antes disso ele já havia recebido um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional por crimes Ali Khamenei Representantes dos países do P5+1, da EU e do Irã anunciam o acordo nuclear iraniano, em 2015 Hassan Rouhani 4 EU A : O G ov er no O ba m a e Tr um p contra a humanidade. Mas a guerra civil na Líbia ainda continuou por um bom tempo e chegou a vitimar o embaixador americano Christopher Stevens. MORTE DE BIN LADEN Foi durante o governo de Barack Obama que finalmente, o líder da Al Qaeda Osama Bin Laden foi capturado. Ele estava escondido em uma base militar do Paquistão, e os soldados estadunidenses armaram uma operação secreta para capturá-lo e executá-lo. Toda a operação foi acompanhada ao vivo pelo presidente americano e outras figuras do alto escalão do governo, e o assassinato do terrorista foi motivo de alegria para vários cidadãos estadunidenses que perderam parentes e amigos nos atentados de 11 de setembro. CRISE ECONÔMICA MUNDIAL No plano econômico, o governo Obama teve que enfrentar uma das piores crises econômicas dos últimos tempos, entre os anos de 2007 e 2009. Portanto, internamente, o governo procurou investir na geração de empregos e em intervenções estatais para solucionar a crise. Figura Muammar al-Gaddafi, Nigéria em 2006 Osama Bin Laden Celebração na Times Square pela morte de Bin Laden 5www.aprovatotal.com.br EU A : O G ov er no O ba m a e Tr um p REFORMA NA SAÚDE Já no campo da saúde, tradicionalmente os cidadãos estadunidenses contam somente com convênios particulares. Nunca houve um sistema de saúde pública e universal bancado pelo governo federal, como no Brasil. Não obstante, as pessoas idosas e abaixo da linha de pobreza, podem contar com atendimentos simples e de emergência, como o Medicaid e o Medicare. O que Obama fez foi ampliar o acesso dos mais pobres aos serviços gratuitos de saúde e, ao mesmo tempo, controlar os preços dos planos privados para que assim ficasse ao alcance da maior parte da população americana. Estas medidas ficaram popularmente conhecidas como Obamacare. 6 EU A : O G ov er no O ba m a e Tr um p CASAMENTO HOMOAFETIVO No campo dos direitos sociais e humanos, o governo Obama, através de uma decisão da Suprema Corte dos EUA aprovou o casamento entre pessoas do mesmo sexo (casamento homoafetivo). Por outro lado, Obama não foi tão condescendente com os imigrantes, e a mesma Suprema Corte barrou um decreto que iria regular a situação de mais de 4 milhões de imigrantes ilegais. Aliás, Obama foi o presidente que mais deportou imigrantes desde a década de 1950. CONFRONTOS RACIAIS A violência por motivos raciais sempre foi uma marca da sociedade estadunidense. E apesar de Barack Obama ter sido o primeiro presidente negro dos Estados Unidos, isso não impediu que essa violência continuasse e até aumentassem as ocorrências em todo o país, como denotam os casos de Ferguson em 2014, e Chalottesville em 2016. O caso de Ferguson foi de um policial branco que atirou contra um jovem negro desarmado. Já em Charlottesville, um extremista branco atirou o seu carro contra uma multidão que protestava contra o racismo. Com o advento das mídias sociais e as diversas opções de compartilhamentos de vídeos e fotos, muitos casos de violência, assassinatos e abusos de policiais contra cidadãos negros vieram à tona, o que acabou motivando vários protestos por todo o país. ESCÂNDALOS DE ESPIONAGEM Em 2013, Edward Snowden, que havia trabalhado na CIA e na NSA, como analista de sistemas, veio a público denunciar que os serviços de inteligência dos Estados Unidos espionavam secretamente pessoas e governos, muitas vezes buscando incriminar pessoas inocentes como forma de chantagem política. Sua denúncia abalou a diplomacia dos EUA e ele encontra-se atualmente foragido. 7www.aprovatotal.com.br EU A : O G ov er no O ba m a e Tr um p DEGELO CUBANO Outro gesto histórico do governo de Barack Obama, mas já no seu segundo mandato, foi a reaproximação com Cuba. As relações entre os dois países estavam estagnadas desde a época da Revolução Cubana e da fracassada Invasão da Baía dos Porcos. Anunciada no final de 2014, Obama visitou a ilha dois anos depois, perto do fim do seu mandato. A sua política de reaproximação com Cuba enfrentou muita oposição no governo dos EUA. Porém, ele conseguiu com que o embargo econômico à Cuba, que dura desde 1962, fosse flexibilizado. CHINA E RÚSSIA Mapa da Vigilância Global da Inteligência dos EUA, segundo Snowden. Os países em verde são os menos vigiados, conforme vão ficando mais claros vão se tornando mais vigiados. Já os países em cor laranja e vermelha são os mais vigiados. 8 EU A : O G ov er no O ba m a e Tr um p Sempre muito delicadas, as relações com a China e a Rússia mantiveram uma relativa estabilidade. O crescimento econômico e bélico da China não foi atacado pelo governo Obama, apesar de ter sempre sido motivo de preocupações para os Estados Unidos, sempre preocupados com a perda da sua hegemonia internacional. Quanto à Rússia, as relações dela com os EUA foram abaladas após a anexação da Criméia pela Federação Russa. A Criméia, desde a década de 50, fazia parte da Ucrânia, quando esta integrava a extinta União Soviética. Contudo, a maioria da sua população é etnicamente russa, além disso é região, que tem saída para o Mar Negro é de alta importância para a Rússia em termos geoestratégicos. Evidentemente, a anexação da Criméia gerou tensões políticas entre Rússia e Ucrânia, que na mesma época passou por uma mudança política interna que foi vista como um golpe político movido por forças anti-Rússia. Neste sentido, foram mobilizadas tropas russas para a fronteira leste com a Ucrânia, o que gerou uma preocupação internacional pela possibilidade de uma guerra entre dois países com armas atômicas. A reação de Obama foi aprovar algumas sanções de pouca relevância contra a Rússia e através da ONU, deslegitimar a anexação da Criméia, incluindo o referendo proposto por Vladimir Putin (primeiro-ministro da Rússia), para que a população da Criméia aprovasse ou não a anexação. DONALD TRUMP (2017-2021) Donald Trump foi um dos presidentes mais controversos da história recente dos Estados Unidos. Apoiado por grupos conservadores e de extrema-direita, Trump ficou famoso pela sua retórica anti- imigração, antifeminismo, anti-LGBT e pró-movimentos de supremacia branca. Como exemplo de suas políticas nacionalistas, podemos citar a construção do muro na fronteira com o México, com o objetivo de dificultar a imigração ilegal. Além disso, Trump retirou os Estados Unidos do TPP (Acordo Transpacífico de Cooperação Econômica), que havia sido negociado pelo governo Obama. Segundo Trump, o TPP afetava os interesses dos trabalhadores americanos. Outro acordo do qual os EUA foram retirados por Trump foi o Acordo de Paris, que buscava reduzir o aquecimento global através da redução dos gases emitidos por cada país desenvolvido na atmosfera. 9www.aprovatotal.com.br EU A : O G ov er no O ba m a e Tr um p POLÍTICA EXTERNA DO GOVERNO TRUMP Durante o governo Trump, que era de viés nacionalista, as relações entre Rússia e Estados Unidos continuaram tensas. Aliás, a Rússia foi acusada de interferir nas eleições estadunidenses duas vezes, uma em 2016 e outra em 2020.Curiosamente, eles teriam interferido para favorecer a vitória de Trump nas eleições. O fato é que em meio a troca de farpas com a China, com quem entabulou uma verdadeira guerra comercial, e com a Coréia do Norte, país com armas atômicas que volta e meio anunciava um novo teste de mísseis intercontinentais, os EUA de Trump souberam costurar algumas relações. No caso da Coréia do Norte, por exemplo, Trump chegou a se reunir três vezes com Kim Jong-Un para amenizar as tensões entre os dois países e tratar da desnuclearização da península coreana. Em relação à China, Trump também procurou amenizar as tensões, chegando até mesmo a se encontrar com o presidente Xi Jinping para tratar de acordos comerciais. Entretanto, após a pandemia da COVID-19, chamada pelo presidente americano de “praga da China”, a relação entre os dois líderes deteriorou-se. A propósito, nos Mapa da barreira EUA-México Trump checando protótipos do seu muro na fronteira com o México Marcha das Mulheres contra Trump no dia da posse do presidente Trump no dia da posse em 2017 Kim Jong-Un e Donald Trump durante a Cúpula entre EUA e Coreia do Norte em 2018 10 EU A : O G ov er no O ba m a e Tr um p primeiros anos do governo Trump, a economia se aqueceu, mas em 2020, ela entrou em recessão, principalmente por causa da pandemia. O TRUMP TROPICAL O presidente Jair Bolsonaro, eleito em 2018, era declaradamente um fã de Trump e seu jeito de fazer política. Assim, quando iniciou o seu mandato em 2019, muitos movimentos dos EUA na esfera internacional foram automaticamente aprovados e copiados pelo Brasil. É o caso, por exemplo, da mudança da embaixada dos Estados Unidos de Tel Aviv para Jerusalém. O problema é que Jerusalém é uma cidade dividida entre Israel e o povo palestino, que possui o apoio da maioria dos países árabes. Evidentemente, considerar Jerusalém como capital do Estado Judeu (Israel) seria um movimento que desagradaria muito os parceiros árabes do Brasil. Quando o Itamaraty anunciou que, assim como os EUA, faria o mesmo com a embaixada brasileira, vários países árabes, principais mercados de exportação do Brasil no ramo de carnes, fizeram menção de cortar relações. De todo modo, apesar da promessa feita em 2019, Bolsonaro chega a 2021 sem ter concluído a mudança da Embaixada. Além dessa questão com Israel, Trump e Bolsonaro também se aliaram na questão da Venezuela, ao reconhecerem Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional da Venezuela e líder da oposição ao presidente Nicolás Maduro. Autoproclamando-se presidente da Venezuela em 2019, Juan Guaidó foi rapidamente reconhecido por vários países, incluindo Estados Unidos e Brasil. Donald Trump com Xi Jinping durante a Cúpula do G-20 em 2018 11www.aprovatotal.com.br EU A : O G ov er no O ba m a e Tr um pContudo, Maduro contava com o apoio da maior parte das forças armadas e apesar das sanções impostas pelos EUA à Venezuela, estas medidas não conseguiram enfraquecer o governo e, no último ano do seu mandato, Trump buscou um diálogo com Maduro, o que fez com que várias cidadãos americanos que antes o apoiavam, ficassem contra ele. Voltando ao Oriente Médio, no começo de 2020, um importante general iraniano, Qassem Soleimani, que atuava no Iraque, foi assassinado por um míssil estadunidense. Ele era considerado por Trump como um inimigo dos Estados Unidos, mas para o povo iraniano ele era um herói de guerra. Evidentemente, isto elevou ainda mais as relações tensas entre os dois países, mas EUA e Irã não chegaram a ter um confronto direto. Apesar disso, o Irã atacou uma base estadunidense no Iraque dias depois do assassinato do general Soleimani, e ainda prometeram que se vingariam da morte militar. IMIGRAÇÃO - DREAM ACT Quanto à imigração, o governo Trump intensificou as medidas restritivas e de deportação. Neste sentido, um decreto proibindo a entrada de cidadãos de 7 países específicos, todos muçulmanos, gerou uma onda de protestos e acusações de islamofobia. Por outro lado, Trump reduziu o orçamento do programa DREAM, que em inglês significa “Lei de Desenvolvimento, Alívio e Educação para Menores Estrangeiros”, que beneficiava os imigrantes já em solo americano. Obviamente, este decreto desagradou a todos eles e foi visto como uma medida para favorecer a saída deles dos Estados Unidos e para dificultar a entrada de novos imigrantes. Protesto em favor dos Dreamers, em 2018 General Qassem Soleimani 12 EU A : O G ov er no O ba m a e Tr um p Em relação à saúde, Trump não conseguiu acabar com o Obamacare, programa do governo anterior que o novo presidente queria a todo custo terminar. Entretanto, Trump conseguiu em 2019, que a Suprema Corte aprovasse a proibição da entrada de pessoas transgênero nas forças armadas, que havia sido liberada antes por Barack Obama O final do governo Trump foi extremamente conturbado. Ele questionou o resultado das eleições de 2020 que deram a vitória a Joe Biden, e muitos duvidavam que ele fosse aceitar passar a faixa presidencial para o seu adversário político. Após sucessivas tentativas de anular o resultado através da justiça, Trump convocou uma grande manifestação dos seus apoiadores, em frente ao Capitólio, sede do governo federal dos EUA. No começo de janeiro, que é quando ocorre a posse dos novos presidentes, milhares de eleitores de Trump invadiram o Capitólio e depredaram as instalações. O objetivo deles era tumultuar a cerimônia que confirmaria a vitória de Biden. Muitos estavam armados, e ocorreu a morte de 4 manifestantes e 1 policial. A reação da polícia não foi contundente, e os manifestantes só foram controlados à noite, com a intervenção da Guarda Nacional. Dois dias depois da invasão ao Capitólio, Trump reconheceu sua derrota e o novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, do partido Democrata, foi empossado sem problemas nem contratempos. 1www.biologiatotal.com.br NEOLIBERALISMO E GLOBALIZAÇÃO GLOBALIZAÇÃO A ideia geral da globalização é atribuída ao sociólogo canadense Marshall McLuhan (1911-1980), que na verdade foi que criou o conceito de aldeia global na década de 1960. Conceito esse que é praticamente um sinônimo do que entendemos hoje por globalização. Basicamente, a ideia é que as novas tecnologias de comunicação e transportes diminuíram as fronteiras do mundo, fazendo com que se tornem uma aldeia. Mas as comparações do mundo globalizado com uma aldeia não param por aí. Segundo McLuhan, rumores e assuntos insignificantes iriam adquirir uma dimensão global neste novo contexto. E é exatamente isso que acontece na época das redes sociais e passeatas combinadas através de aplicativos de celular. Além disso, as relações de produção e consumo estariam reorientadas para uma escala global. GLOBALIZAÇÃO E NEOLIBERALISMO Atualmente, as discussões sobre a globalização estão inseridas no debate sobre o Neoliberalismo, devido a questão do livre trânsito de mercadorias, serviços e capitais. Neste sentido, as empresas transnacionais estariam até mesmo trazendo uma nova avaliação do conceito de soberania nacional. A propósito, o neoliberalismo é fundado na ideia de um mercado global e integrado, onde as fronteiras não fazem mais sentido. Por esse motivo, trabalha-se com o conceito de empresas transnacionais em substituição à clássica ideia de empresas multinacionais. A diferença é que as transnacionais são cada vez mais independentes dos seus países de origem. Por outro lado, elas também procuram países onde as leis trabalhistas sejam flexibilizadas ou inexistentes. Evidentemente, isso faz com que o neoliberalismo seja contrário ao Welfare State (Estado de Bem-estar Social). 2 N eo lib er al is m o e G lo ba liz aç ão OS FÓRUNS INTERNACIONAIS Da mesma forma, existe uma certa tensão entre organizações internacionais, como a ONU (Organização das Nações Unidas) e a OIT (Organização Internacional do Trabalho), e os governos que as vêem como umaviolação à soberania nacional, devido à sua ingerência nos assuntos internos. Mas na realidade, essas organizações lutam para que sejam respeitados os direitos básicos e universais dos trabalhadores do mundo todo. A livre circulação de mercadorias e pessoas faz com que ocorra uma preocupação com a “ocidentalização” dos países, pois junto aos produtos que são comercializados vêm valores e costumes. Como tradicionalmente a globalização foi levada a efeito por países ocidentais, existe um risco de ocidentalização do mundo. A SOCIEDADE PÓS-MODERNA Vários autores contribuíram para o entendimento que possuímos hoje a respeito do conceito de pós-modernidade, entre eles, Zygmunt Bauman, Adorno, Horkheimer, Friedrich Jameson e, certamente, Jean Baudrillard. Tornado popular após a trilogia Matrix, lançada pela primeira vez nos cinemas em 1999, Baudrillard capturou as imaginações e mentes da nova geração digital com o seu conceito de hiper-realidade. Esta é uma forma de entendermos o momento presente, onde vivemos cercados por produtos e redes eletrônicas e digitais, rompendo assim com a fronteira entre o imaginário e o real. Além disso, outros teóricos da pós-modernidade teceram igualmente relações entre este fenômeno e a globalização ao abordarem assuntos como a atomização das relações sociais e o chamado império do consumo, que estabelece uma hierarquia entre os indivíduos baseada em seu poder de compra. UM OLHAR CRÍTICO SOBRE A PÓS-MODERNIDADE As críticas à pós-modernidade costumam girar em torno da noção de tempo e da superficialidade das relações. Na questão do tempo, o homem pós-moderno vive num eterno presente, superficial e eterno. Isto, evidentemente, provoca um aumento da ansiedade, mas também da superficialidade nas relações e interações sociais. Por isso, o sociólogo Georg Simmel considerava o mundo moderno uma “sociedade de estranhos”. Jean Baudrillard 3www.aprovatotal.com.br N eo lib er al is m o e G lo ba liz aç ãoZYGMUNT BAUMAN E A PÓS-MODERNIDADE Quem mais se aprofundou nos novos modelos de relações que surgiram na pós- modernidade foi o sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman, que cunhou o conceito de modernidade líquida e liquidez das relações, em substituição ao de pós-modernidade. Sendo mais específico, Bauman identifica três grandes mudanças que caracterizam a modernidade líquida: f A mudança das relações sociais do trabalho para o consumo - visto enquanto prazer. f As estruturas tradicionais de solidariedade cedem espaço para as disputas entre os indivíduos, o que é um reflexo da metamorfose do cidadão enquanto sujeito de direitos para um indivíduo em busca de afirmação na sociedade. Como consequência disso, as relações sociedades na modernidade líquida são fluidas e inconstantes. ANOTAÇÕES 1www.biologiatotal.com.br MOVIMENTOS SOCIAIS E CULTURAIS No tempo presente (século XXI), os movimentos sociais sofrem uma grande influência das redes sociais. É através da internet que ideias são trocadas, grupos são formados e manifestações de rua são combinadas. A absoluta conectividade que a rede oferece faz também com que as informações, sejam elas escritas ou visuais, sejam compartilhadas quase que instantaneamente. Ao mesmo tempo, a consciência da sociedade se expandiu através do compartilhamento de valores e experiências. O maior exemplo desse novo tipo de mobilização feita pela internet foi a Primavera Árabe, que foram movimentos de contestação aos regimes árabes ditatoriais e corruptos, que não foram organizados por nenhum partido político e aconteceram simultaneamente em vários países do mundo árabe. Mas apesar da grande repercussão em todo o mundo árabe, as revoltas tiveram aspectos particulares e finais diferentes em cada país. Por exemplo, no caso da Líbia, ocorreu uma guerra civil e uma intervenção da OTAN que levou à queda de Muammar Kadafi. Já o Marrocos, apesar dos protestos, conseguiu avançar algumas reformas. Aliás, os únicos países árabes onde os governantes foram depostos foram o Egito, a Tunísia e a Líbia. Outros países, como Iêmen e Síria, entraram na espiral de guerra civil que dura até os dias de hoje (2021). Entre as muitas críticas que eram feitas a estes regimes árabes estava o fato dos governantes buscarem se perpetuar no poder, alguns por mais de 40 anos, como foi o caso de Kadafi. EXPANSÃO DAS MIGRAÇÕES O fato é que o grande número de conflitos, guerras civis e intervenções militares, principalmente nos países do Oriente Médio e Ásia Central, fez com que um número gigantesco de pessoas civis fosse obrigado a se deslocar de seus países e cidades, tornando-se refugiados em outros lugares do mundo. 2 M ov im en to s So ci ai s e Cu ltu ra is OCCUPY WALL STREET, 2011 Curiosamente, a Primavera Árabe serviu de inspiração para os jovens estadunidenses que resolveram ocupar as praças de Wall Street para protestar contra as desigualdades, a corrupção e a influência das grandes corporações no governo dos Estados Unidos. MOVIMENTO FEMINISTA O movimento feminista chegou ao século XXI sob os ataques de vários conversadores de direita e extrema-direita e também de religiosos radicais. Não obstante, ocorreram alguns avanços, e no Brasil, por exemplo, foi aprovada a Lei Maria da Penha e ampliou- se o número de delegacias especializadas no atendimento à violência contra a mulher. A internet também impactou bastante o movimento, na medida em que surgiram vários blogs feministas, sites e coletivos organizados por mulheres jovens desde os anos de 2010. O resultado foi positivo, pois foram criadas várias políticas institucionais que contemplavam as demandas do movimento. Centrais para o movimento são os temas da igualdade de direitos, violência sexual e representatividade. Malala Yousafzai, ativista paquistanesa conhecida por lutar pelos direitos humanos e das Mulheres. O uso da internet pelos movimentos sociais demonstrou também o poder das Hashtags para lançarem campanhas e manifestações. No caso do Brasil, que está entre os 5 primeiros países do mundo que mais são violentos contra as mulheres, foram feitas várias campanhas contra o assédio sexual, como por exemplo, a #Chegadefiufiu, de 2013 e as #MeuPrimeiroAssédio e #MeuAmigoSecreto. 3www.aprovatotal.com.br M ov im en to s So ci ai s e Cu ltu ra isMOVIMENTO LGBTQUIA+ A sigla LGBTQUIA+ significa: Lésbicas, Gays, Bissexuai, Travestis, Transexuais, Transgêneros, Queer, Intersexo, Assexual e mais. Estes grupos têm se organizado para lutarem por seus direitos desde a década de 60, e a era da Internet deu mais visibilidade para suas demandas. Entre estas encontram-se a criminalização da homofobia, o reconhecimento da identidade de gênero, o fim da “cura gay”, permissão da adoção para casais homoafetivos etc. Entre avanços e recuos, muitos países já reconhecem a união de casais do mesmo sexo, como é o caso do Reino Unido e dos Estados Unidos, mas outros não. A adoção de crianças por casais homoafetivos também é reconhecida em alguns países. Contudo, em certos países, ser pego em flagrante praticando atos homossexuais pode levar à prisão, tortura e, em alguns casos, à pena de morte. OS COLETIVOS, AS NOVAS HORIZONTALIDADES Algo que é bem marcante em todos esses movimentos sociais é a estrutura horizontal. Isto significa que eles não têm uma hierarquia a qual precisam seguir e obedecer, mas todos são iguais em termos de responsabilidades. Por isso, chama-se também de coletivo a esta forma de organização, e os que participam desses coletivos são chamados de ativistas. MOVIMENTO AMBIENTAL Dentro desse grande espectro de movimentos existe também o movimento ambiental, que procura lutar pela preservação do meio-ambiente pressionando os governos e conscientizando a população. MANIFESTAÇÕES CONTRA O RACISMO Algo que também marcou bastante os anos 2010 foram as manifestações antirracistas. Elas foram movidas principalmente pelos protestos contra a violência e brutalidadepolicial nos Estados Unidos. Violência essa voltada principalmente contra a população negra desarmada. Em alguns casos, verdadeiros ataques terroristas foram cometidos por supremacistas brancos contra aglomerações de pessoas negras, como foi o caso do atentado à igreja de Charleston em 2015. Mas o auge deste movimento foi atingido em 2020 após o assassinato do cidadão afro-americano George Floyd que foi morto enquanto um policial o imobilizava no chão enquanto ele dizia: “Eu não consigo respirar! ”. 4 M ov im en to s So ci ai s e Cu ltu ra is DIREITOS DAS POPULAÇÕES MARGINALIZADAS Em suma, os movimentos sociais abrangem um grande leque de causas, mas todas elas visam às populações marginalizadas da sociedade, como pessoas sem moradia, movimento sem- terra, povos indígenas, defesa de minorias religiosas, combate à xenofobia etc. Podendo também incluir a luta pela ética na política e pelo fim dos abusos do Estado. ANOTAÇÕES 1www.biologiatotal.com.br PATRIMÔNIO E MEMÓRIA Desde o assassinato do afro-americano George Floyd, têm acontecido mais e mais manifestações antirracistas em todo o mundo. Um dos principais aspectos das manifestações contra o racismo é a contestação de monumentos que celebram a memória de personagens históricos da época da colonização das Américas e da África. Este é o caso, por exemplo, do “Monumento às Bandeiras”, em São Paulo, que foi feito em homenagem aos Bandeirantes. Os bandeirantes, como é sabido, organizaram várias expedições no interior do Brasil com o objetivo de capturar indígenas para serem vendidos como escravos. Apesar da contestação a esses e vários outros monumentos não ser nova, foi somente após o assassinato de Floyd, ou seja, a partir de 2020, que aconteceram manifestações violentas em vários países. Algumas literalmente visando destruir estátuas, bustos e monumentos, enquanto outras buscam pedir a sua remoção por vias legais. PRESERVAR OU DESTRUIR? - EIS A QUESTÃO Então, desde 2020, que foi o ano em que o antirracismo esteve em alta, devido ao assassinato de Floyd em Maio. No mês seguinte, Junho, manifestantes na Inglaterra atiraram no rio a estátua do traficante de escravos Edward Colston. No Brasil, só no ano de 2021 foram incendiados dois monumentos: a estátua de Borba Gato, em São Paulo, e a estátua de Pedro Álvares Cabral, no Rio de Janeiro. 2 Pa tr im ôn io e M em ór ia FUNÇÕES DOS MONUMENTOS A palavra “monumento” é de origem grega e significa “lembrar”, “aconselhar” ou “alertar”. Os monumentos fazem parte da cultura material de determinada sociedade, e trazem a marca do tempo e lugar em que foram criados. Ao mesmo tempo, os monumentos são símbolos de poder e possuem uma função didática e pública, de transmitir às gerações futuras acontecimentos e personagens “memoráveis”. MEMÓRIA A memória representa e revela os valores de uma determinada sociedade. Em outras palavras, é o testemunho de uma determinada cultura em forma material. Desta forma, os seus valores e identidade são preservados e transmitidos para as futuras gerações dessa sociedade. Evidentemente, existe uma seleção do que será lembrado e preservado através do monumento. E isso pode trazer a marca as contradições sociais de uma determinada sociedade. REVISIONISMO OU REPARAÇÃO? O revisionismo histórico implica numa manipulação do passado visando uma determinada parcialidade. Assim, determinados personagens e acontecimentos históricos são ressaltados em detrimento de outros. De certa forma, alguns monumentos contribuem para a reprodução desse revisionismo. Por outro lado, deixar de homenagear através de monumentos determinadas personalidades que foram importantes para a história de um povo, também faz parte do revisionismo histórico. É aí que entram os movimentos que exigem reparações. Apontando e denunciando os diversos revisionismos, eles exigem que outras narrativas também sejam contadas e lembradas. Por outro lado, alguns também exigem a retirada dos monumentos, especialmente aqueles que pessoas ligadas a um passado de genocídio e escravidão. PATRIMÔNIO CULTURAL, MATERIAL E IMATERIAL Vamos agora entender o que significa patrimônio cultural, e como o mesmo é dividido em material e imaterial. O patrimônio cultural representa o conjunto de todas as obras, bens e manifestações populares de um determinado povo e cultura. Logo, ele guarda a história, ancestralidade e identidade desse povo ou cultura. No Brasil, quem cuida do patrimônio histórico e cultural brasileiro é o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Pela própria definição apresentada acima, deduzimos que o patrimônio cultural pode ser dividido em material e imaterial. 3www.aprovatotal.com.br Pa tr im ôn io e M em ór ia A diferença é que o patrimônio imaterial não exige uma materialidade imediata para ser reconhecido como patrimônio. Este é o caso, por exemplo, das danças e lutas típicas e tradicionais. A propósito, a capoeira é um patrimônio imaterial. DIFERENTES OPINIÕES SOBRE O TEMA - PRESERVAR OU DESTRUIR? X Desde os movimentos mais radicais que literalmente destruíram ou depredaram os monumentos em 2021, têm surgido cada vez mais vozes de intelectuais ligados ao campo da cultura e História, emitindo opiniões sobre a procedência ou não de tais atos. Evidentemente, a maioria deles não apoiou as atitudes mais radicais e violentas. Por outro lado, eles se mostraram abertos à discussão do sentido original dos monumentos no atual contexto em que vivemos. Segundo Laurentino Gomes, jornalista que se consagrou com uma série de livros sobre a história do Brasil, e mais recentemente lançou uma série sobre a escravidão, os monumentos devem ser preservados como objeto de estudo e reflexão. Em contrapartida, a historiadora Maria Helena Machado não acredita que destruir os monumentos é a mesma coisa que destruir a história. Na opinião dela, o próprio ato de destruir coletivamente um símbolo de escravidão é uma ação que se inscreve na história, e não fora dela. 4 Pa tr im ôn io e M em ór ia O curador do Museu do Ipiranga (Museu Paulista) da Universidade de São Paulo, Paulo Garcez Marins, afirma que destruir a estátua não destrói o problema, e os monumentos que causam controvérsias podem ser usados como ponto de partida para uma discussão. No entanto, segundo a opinião de outros especialistas, os monumentos já teriam perdido o seu papel no espaço público, devido à superação da questão da homenagem, e deveriam então ser deslocados para os espaços dos museus, onde poderiam ser apreciados e discutidos. Mas mesmo esta posição é problematizada por alguns historiadores, que não acreditam que uma exposição em museus possa realmente despertar a discussão que alguns monumentos demandam, devido ao caráter elitista dos museus, inacessíveis para a maior parte da população. ANOTAÇÕES 1 HISTÓRIA DOS POVOS INDÍGENAS www.aprovatotal.com.br/ “ÍNDIO” NA VISÃO DE QUEM? Antes de iniciarmos o estudo sobre os povos indígenas do Brasil, a primeira coisa que devemos ter bem clara é que o termo “índio” não é apropriado para descrever a grande variedade de povos nativos que habitavam o território que futuramente se tornaria o Brasil. Já a palavra indígena tem o mesmo sentido de “nativo”, ou seja, originário de um determinado território. Por vezes, eles também são chamados de “ameríndios”, no sentido de indígenas do continente americano. A origem da palavra “índio” como aplicada aos indígenas vem do fato de que os europeus que os avistaram pela primeira vez, pensaram que eles fossem da Índia, pois a expedição de Pedro Álvares Cabral estava se dirigindo ao subcontinente indiano. Portanto, desde o primeiro contato dos europeus com os nativos do continente americano, o “etnocentrismo” esteve presente. Um detalhe interessante é que os “Tupis” chamavam os outros povos não-tupis de “Tapuias”. Portanto, não faz sentido chamar todos eles de índios como se fossemuma coisa só. Uma forma de dividir e classificar os povos indígenas é através dos troncos linguísticos aos quais eles pertencem. Neste sentido, existiam dois grandes troncos: tupi-guarani e jê. Mas o número de povos em si era bem maior e, segundo o antropólogo Curt Nimuendaju existiam 1.400 deles na época do “achamento”. Principais famílias e troncos linguísticos indígenas (séc. XVI) http://www.aprovatotal.com.br/ 2 H is tó ria d os P ov os In dí ge na s O INDÍGENA E A VISÃO DO OUTRO Desde o primeiro contato com o europeu, o indígena era visto sob duas óticas distintas: ou de forma positiva, porém idealizada, ou como um ser bestial. Ambas bem longe da verdade. O primeiro contato registrado, que foi aquele da expedição de Cabral onde esteve presente Pero Vaz de Caminha, registra o primeiro encontro dos portugueses com os povos indígenas na costa brasileira. Nas palavras de Caminha, os indígenas eram pessoas belas e inocentes, que poderiam se tornar bons cristãos. Contudo, após mais alguns contatos e novas expedições, alguns europeus passaram a ter uma visão muito negativa dos povos indígenas. Neste sentido, tornou-se exemplar a frase de Pero Magalhães Gândavo, que chamou os ameríndios de povos sem Fé, sem Lei e sem Rei. Uma das características culturais que mais chocaram os europeus na época da colonização foi o canibalismo praticado pelos tupinambás. Lembrando mais uma vez que os povos indígenas não eram todos iguais e possuíam culturas diversificadas. Assim, somente os tupinambás ficaram conhecidos pela prática da antropofagia (consumo de carne humana). Segundo os antropólogos, esse canibalismo era uma espécie de exofagia, o que significa que os tupinambás não comiam membros da própria tribo, mas a carne dos seus inimigos. E isto era feito de forma ritualizada e com um determinado objetivo. A carne humana não fazia parte da dieta diária dos tupinambás. O MITO DO “POVO INDOLENTE” Uma das muitas construções feitas sobre os povos indígenas foi a ideia de que eram um povo indolente. Dito de forma mais simples, é o preconceito de que os ameríndios eram um povo “preguiçoso” que não gostava de trabalhar. Essa percepção vinha das diferenças entre a cultura indígena, baseada na lógica da subsistência, e a cultura do colonizador, baseada na lógica da acumulação e do lucro. Além disso, um outro mito projetado sobre os indígenas era o da “inocência”, como se eles fossem eternas crianças que, por isso, não saberiam cuidar de si, necessitando, portanto, da ajuda do colonizador. Por outro lado, não vendo sentido no trabalho que os portugueses queriam lhes impor, os ameríndios resolveram fugir para a mata como forma de resistência à exploração, o que pode ter reforçado a ideia da indolência. Theodore de Bry. Assando e comendo pedaços do corpo do prisioneiro. Grandes Viagens. 1592. 3 H is tó ria d os P ov os In dí ge na s www.aprovatotal.com.br/ ESCRAVIZAÇÃO E CATEQUIZAÇÃO Basicamente, as formas de dominação colonial contra os ameríndios assumiram duas formas: a escravização e a catequização. A justificativa para a primeira eram as chamadas “guerras justas”. A guerra justa ocorria quando os colonizadores combatiam tribos indígenas que os atacavam. Mas a partir do momento em que os europeus eram os invasores das Américas, era natural que os ameríndios procurassem resistir por todos os meios necessários, incluindo a guerra. Evidentemente, milhões de indígenas foram exterminados nesse processo que atravessou séculos. Neste sentido, uma outra forma de resistência indígena foi o isolamento para o interior. Prova disso é que quando os portugueses chegaram, a maioria dos ameríndios moravam perto do litoral. É somente após o avanço dos portugueses que eles avançam para o interior do território. Foram feitas muitas guerras contra os indígenas, e algumas foram registradas pela história, como a “Guerra dos Bárbaros”, na Bahia; a “Revolta dos Índios”, no Amazonas; e a “Guerra dos Sete Povos das Missões”, no Rio Grande do Sul, que acabou com a morte de 20 mil indígenas. No caso de Sete Povos das Missões, o conflito ocorreu porque a área onde estavam localizadas as missões (30) era de disputa entre Portugal e Espanha. Quando foi decidido que ela passaria para Portugal, as tropas portuguesas e espanholas tentaram remover os indígenas à força, e assim ocorreu essa guerra. A catequização funcionava como uma maneira, embora pacífica, de dominação dos indígenas. Neste sentido, os padres jesuítas foram pioneiros na defesa dos ameríndios contra as guerras de extermínio que eram feitas contra eles. Ruínas em São Miguel Arcanjo, onde travou-se a Guerra dos Sete Povos das Missões http://www.aprovatotal.com.br/ 4 H is tó ria d os P ov os In dí ge na s Estes fundaram várias aldeias educacionais que ficaram conhecidas como “reduções jesuíticas”, onde os ameríndios eram catequizados e aprendiam a aceitar a dominação dos europeus através da adoção da cultura e religião do colonizador. DE PREGUIÇOSO À HERÓI NACIONAL Durante o Império, como o Brasil já era uma nação independente, buscou-se uma identidade nacional. Os poetas e escritores românticos participaram desse esforço escrevendo livros e versos sobre episódios fundadores da história nacional, como I-Juca- Pirama, de Gonçalves Dias, e O Guarani, de José de Alencar. É no movimento romântico que o índio é eleito o herói nacional, ou em outras palavras, o símbolo da nacionalidade brasileira. Mas apesar das boas intenções, esse indígena do romantismo era entendido a partir de uma matriz europeia. Os românticos simplesmente pegaram o modelo romântico de herói europeu e lhe deram um nome e aparência indígena, que leva alguns a afirmarem que os personagens indígenas do romantismo são “índios de alma branca”. O projeto romântico foi abraçado pela autoridade imperial. Prova disso é que mesmo D. Pedro II era frequentemente retratado com elementos indígenas. Como exemplo, podemos citar as penas de papo de tucano compondo a murça do seu traje majestático, como se ele fosse um líder indígena. Ou então uma charge onde D. Pedro II aparece sendo coroado com louros por uma mulher indígena. NA REPÚBLICA, OS BUGREIROS Mas apesar dessa visão romântica do indígena, que de certa forma é forte até os dias de hoje, desde meados do Império (1850) até os primeiros anos da República (1914), era comum serem organizadas expedições para o extermínio sistemática dos povos indígenas. E em relação a isso, o Império foi conivente. O ano de 1850 é altamente emblemático, porque foi o ano em que foi promulgada a Lei de Terras do Império. Segundo ela, teria direito de propriedade a pessoa que pudesse comprar a terra. Sendo assim, várias pessoas que habitavam um determinado território e já possuíam o direito de posse, perderam esse direito do dia para a noite. Isto afetou principalmente os povos indígenas que habitavam nos territórios onde os interesses econômicos tinham necessidade de se expandir. 5 H is tó ria d os P ov os In dí ge na s www.aprovatotal.com.br/ Na região Sul, durante a República, os homens que realizavam expedições de extermínio de povos indígenas ficaram conhecidos como bugreiros. O termo bugres era aplicado aos indígenas não- cristãos que ainda viviam de forma tradicional. Os bugreiros, portanto, eram aqueles que faziam do extermínio dessas populações o seu modo de vida. EM 1910 SURGIA O SERVIÇO DE PROTEÇÃO AO ÍNDIO A questão indígena no Brasil só viria a renascer após as missões do Marechal Cândido Rondon, que levou linhas de telégrafo para o interior do Brasil. Nas suas jornadas pelo interior do Mato Grosso e da Bacia do Amazonas, Rondon encontrou várias tribos indígenas, mas sempre lidou com elas de forma amistosa, sendo fiel ao seu princípio de “morrer se preciso for, mas matar, nunca! ” Entretanto, o SPI não cumpriu bem a sua missão, e chegou até mesmo a ser acusado de praticar violência contra as populações nativas.Em face de todas essas graves denúncias, o SPI é extinto em 1967, já durante o período da ditadura militar, e em seu lugar é criada a FUNAI (Fundação Nacional do Índio), que apesar das boas intenções ainda trazia alguns preconceitos. É somente com a nova constituição de 1988 que os índios serão respeitados nas suas especificidades. VIOLÊNCIA CONTRA INDÍGENAS Os inúmeros casos de violência que existem hoje contra os indígenas no Brasil são resultado dos embates que ocorrem contra madeireiras, mineradores e agricultores que invadem ilegalmente os territórios indígenas para explorá-los. Evidentemente, as maiores vítimas são os indígenas, que além de serem agredidos nos seus direitos ainda são sistematicamente assassinados desde o começo da colonização europeia no Brasil. Um dos casos mais cruéis de violência contra um indígena na história recente, aconteceu em 1997 em Brasília, quando um grupo de criminosos jovens resolveu tacar fogo, “só de brincadeira”, num índio que dormia na rua. O nome dele era Galdino Pataxó, era um líder indígena e acabou morrendo em decorrência das queimaduras. http://www.aprovatotal.com.br/ 6 H is tó ria d os P ov os In dí ge na s E apesar de todos os avanços legais contidos na Constituição de 1988, que possui um capítulo destinado especialmente aos índios, eles ainda são vistos de forma estereotipada e pouco realista. Mesmo uma comemoração aparentemente inocente, como o Dia do Índio, na verdade impõe uma visão estereotipada sobre os indígenas. Por outro lado, suas crenças e tradições, reconhecidas pela lei, são ameaçadas pela ação de missionários que fazem hoje a mesma coisa que os jesuítas faziam no passado. Assim, existe atualmente uma verdadeira “guerra” pelas almas dos indígenas. Guerra essa que em última instância ameaça a existência das culturas e tradições dos povos ameríndios. Pastor festeja o batismo de indígenas da etnia Xavante no Mato Grosso