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Hugo Dantas
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Homens na 
Sociedade Ocidental 
os impactos produzidos 
pelas mudanças nas 
relações de gênero
4
Rose Marques
Kevin Batista
no Enfrentamento 
à Violência 
CONTRA MULHER
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA 
UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE50
Todos os direitos desta edição reservados à:
Fundação Demócrito Rocha
Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora 
CEP: 60.055-402 - Fortaleza-Ceará 
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André Avelino de Azevedo Diretor Administrativo-Financeiro
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Raymundo Netto Gerente Editorial e de Projetos
Chico Marinho Gerente do Canal FDR
Andrea Araujo Gerente Marketing & Design
Aurelino Freitas, Emanuela Fernandes e Fabrícia Góis Analistas de Projetos
Isabel Vale Editora de Mídias
UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (Uane)
Viviane Pereira Gerente Pedagógica
Marisa Ferreira Coordenadora de Cursos
Joel Bruno Designer Educacional
Isabela Marques Desenvolvedora Front-End
CURSO O PAPEL DO HOMEM NO ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA MULHER
Valéria Xavier Concepção e Coordenadora Geral
Leila Paiva Coordenadora de Conteúdo
Raymundo Netto Coordenador Editorial
Andrea Araujo Editora de Design e Projeto Gráfico
Miqueias Mesquita Designer
Kamilla Damasceno Estagiária de Design
Daniela Nogueira Revisora
Carlus Campos Ilustrador
Beth Lopes Analista de Projetos
Fábio Júnior Braga Analista de Marketing
ISBN 978-85-7529-964-7 (Coleção)
ISBN 978-65-86094-99-2 (Fascículo 4)
Este fascículo é parte integrante do curso O Papel do Homem no Enfrentamento 
à Violência contra Mulher, em decorrência do Termo de Fomento celebrado entre 
a Fundação Demócrito Rocha e Assembleia Legislativa sob o nº 011/2021.
no Enfrentamento à Violência CONTRA MULHER
51
Introdução
1. Gênero e transformação 
das representações sociais
2. Mídia, masculinidade e violência
Referências 
52
55
58
63
SUMÁRIO
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA 
UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE52
INTRODUÇÃO 
Se você chegou até aqui, é prová-vel que já tenha refletido sobre como educamos nossos filhos, sobre as masculinidades que 
são legitimadas socialmente e tantas ou-
tras inquietações. Você, sendo homem, já 
parou para pensar sobre suas atitudes e/
ou omissões no exercício dessas masculi-
nidades? E você, mulher, como tem perce-
bido a construção dessas masculinidades 
no cenário em que vive?
A história nos conta a imagem de um 
homem necessariamente provedor, chefe 
e ativo. Aliás, a atividade é colocada sem-
pre como um atributo essencial do mascu-
lino/homem, pois “homem de verdade” é 
aquele que nada teme, nem mesmo usar a 
força para exercer seu poder. Mas, afinal, 
o que é ser homem em nossa sociedade?
Até aqui, você também pôde acessar 
algumas perguntas e outras respostas 
sobre homens, masculinidades e como 
eles são construídos na sociedade. Para 
saber mais como essa construção acon-
tece aqui, no Brasil, você pode assistir ao 
documentário “O que te torna viril? Uma 
A masculinidade 
hegemônica
É um referencial estático 
sobre “ser homem”. 
Incorpora a ideia de 
“honra” de ser homem 
e defende que todos os 
homens devem tê-la 
como ideal. Segundo 
esse referencial, os 
homens são superiores 
às mulheres e o homem 
branco, cisgênero, 
heterossexual, urbano 
e de classe média 
está em um patamar 
maior na hierarquia 
social (CONNELL; 
MESSERSCHMIDT, 2013).
reflexão sobre a construção da masculini-
dade”. Neste vídeo você encontra uma sé-
rie de entrevistas e falas que estimulam 
a reflexão sobre o que pode ser um ho-
mem, enfatizando a pluralidade das mas-
culinidades e suas construções ao longo 
da história de brasileiros e brasileiras.
Nas próximas páginas, você será convi-
dada/convidado a pensar sobre a constru-
ção dessas masculinidades no Ocidente e 
como as mudanças nas relações de gênero 
mobilizam o questionamento da masculi-
nidade hegemônica (branca, heterosse-
xual e dominante) e a visibilidade e a pro-
dução de outras e novas masculinidades. 
A imagem do homem na sociedade 
ocidental passa da lógica de guerra à ló-
gica capitalista. Desloca-se da Era Medie-
val e a defesa do rei por meio da paixão, 
da violência e da crueldade, atravessan-
do as formas violentas de defesa da hon-
ra da família e da Nação pelos duelos, 
para, enfim, chegar à imagem de homem 
moderno que sabe usar da polidez e do 
cavalheirismo. Esse último serviria ao Es-
tado, à família e ao trabalho. 
no Enfrentamento à Violência CONTRA MULHER
53
#FICAADICA
• Assista a “O que te torna viril? 
Uma reflexão sobre a construção 
da masculinidade”.
Disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=znQaRkcNblg&t=70s
• Veja o documentário 
“O silêncio dos homens” (2019).
Disponível em: https://
www.youtube.com/
watch?v=NRom49UVXCE&t=2768s
• “Precisamos falar com os 
homens? / Do we need to talk 
to men?: uma jornada pela 
igualdade de gênero” (2017)
Disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=jyKxmACaS5Q&t=2354s
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA 
UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE54
As alegrias, a sensibilidade, a cordiali-
dade, a leveza e a cooperação são tidas 
como indesejáveis características “de mu-
lherzinha”; também são tidas por fraque-
zas e precisam ser negadas e distanciadas. 
Daí a compreensão de autores e autoras 
que percebem que essa masculinidade 
ocidental se dá pelo imperativo “seja ho-
mem” e a negativa “não seja mulherzinha” 
(WELZER-LANG, 2001; ZANELLO, 2020). 
Diante disso, muitos são os diálogos, os 
trabalhos e as pesquisas contemporâneas 
sobre os problemas que envolvem homens e 
masculinidades; sua construção social; saúde 
e saúde mental dos homens; afetividades e 
sexualidades; paternidades e parentalidades; 
homens autores de violência, dentre outros. 
Para compreender melhor como têm 
acontecido esses diálogos, veja o docu-
mentário “O silêncio dos homens” (2019). 
Esse filme, realizado pelo Instituto Papo 
de Homem, aborda as dores, as qualida-
des, as omissões e os processos de mu-
dança dos homens em nossos contextos 
brasileiros. O documentário é fruto de 
uma pesquisa com mais de 40.000 respos-
tas obtidas e meses de gravações. 
Você pode também ampliar essa dis-
cussão com o documentário “Precisamos 
falar com os homens? / Do we need to talk 
to men?: uma jornada pela igualdade de 
gênero” (2017) fruto do movimento #Eles-
PorElas (HeForShe). O filme debate que a 
igualdade de gênero é uma questão que 
afeta a todos e todas, fruto de uma pesqui-
sa qualitativa realizada em todo o Brasil. 
Essa imagem do homem ocidental é 
trazida e imposta pela colonização. O co-
lonialismo, como exercício de força de 
nações sobre outras pela conquista e do-
minação, forma a masculinidade à sua 
imagem e semelhança. Sustenta que ho-
mens devem ser dominadores e conquis-
tadores (LUGARINHO, 2013).
Ao mesmo tempo, o ideal de masculi-
nidade dominante torna invisível a pró-
pria humanidade desses homens, pois ele 
forma uma verdadeira armadura de ferro 
que esconde as dores, dúvidas, angústias 
e traumas. Essa humanidade é encarada 
como fraqueza que precisa ser eliminada 
para sustentar o homem todo poderoso. 
no Enfrentamento à Violência CONTRA MULHER
55
1
GÊNERO E TRANSFORMAÇÃO 
DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
Os mesmos questionamentos que lhe trouxeram até este tex-to têm afetado muitas outras pessoas para um grande movi-
mento de mudança. Não é mais admissível 
viver numa sociedade estruturada pelas 
desigualdades de gênero, com ampla tole-
rância às violências contra mulheres. Mas 
você sabe o que é gênero? Provavelmente já 
ouviu alguma explicação abstrata ou mes-
mo restrita ao sexo biológico e noções de 
“masculino” e “feminino”. Mas gênero é, so-
bretudo, um jeito de pensar e ver o mundo, 
sempre considerando a forma como os in-
divíduos são afetados a partir de suas iden-
tidades, performances e construção social. 
Gênero também é uma categoria de aná-
lise, comosustentam algumas autoras fe-
ministas, podendo ainda ser entendido de 
muitas outras formas. É possível aprofun-
dar essa leitura a partir das referências ao 
fim do texto e também assistindo ao vídeo 
“Vulnerabilidade social, gênero e masculini-
dades: leituras interseccionais”, produzido 
pelo Núcleo Feminista de Pesquisas em Gê-
nero e Masculinidades (Gema), da Universi-
dade Federal de Pernambuco (UFPE).
As representações sociais de mulheres 
e homens foram construídas a partir dessa 
divisão entre papéis de homens e papéis de 
mulheres. Esses papéis são determinados 
social e historicamente, sendo os papéis de 
cuidado e reprodução atributos considera-
dos “naturais” das mulheres, e os papéis 
de liderança, produção, trabalho e supri-
mento são “essencialmente” dos homens. 
Essas fronteiras de gênero, em que um lado 
é a dominação e o outro é a subordinação, 
alimentam a existência de um ideal de fa-
mília nuclear, heterossexual e monogâmi-
ca, que é considerado o núcleo central da 
sociedade. Tal modelo de família é patriar-
cal, herança da colonização. 
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA 
UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE56
Essa família nuclear patriarcal como 
padrão único de existência, tem sido mui-
to reivindicada por discursos religiosos 
fundamentalistas, atribuindo a esse mo-
delo de família a sustentação da estrutura 
social. Entretanto, quando se referenda 
um padrão de família heterossexual, mo-
nogâmica, branca, cristã e detentora de 
propriedades como absoluto, há um efei-
to revés perigoso e nocivo, sobretudo ao 
alimentar violências das mais diversas 
formas e ódio a todas as pessoas e identi-
dades que não cumpram esse dispositivo. 
Esse perigo é potencializado quando 
os fundamentalismos influenciam tam-
bém as políticas públicas e a elaboração 
de leis. Você conhece alguém que acredi-
ta que a família é composta apenas por 
homem e mulher, cabendo ao homem o 
papel de provedor e chefe da família? É 
bem possível que sim. E isso não é um 
problema, desde que as crenças, os va-
lores e as religiões de cada pessoa não 
determinem a forma como o Estado res-
ponde às questões sociais, que deve con-
siderar todas as realidades. Sobre mas-
culinidades e religiosidades, é possível 
aprofundar o estudo a partir do trabalho 
da professora Fernanda Lemos (2011).
SAIBA MAIS
Muitos são os estudos sobre gênero 
como categoria de análise. 
Podemos destacar um texto cânone 
de Joan Scott (SCOTT, 1990) e muitas 
outras reflexões críticas feministas a 
partir dele, sobretudo em tempos de 
olhares e perspectivas decoloniais.
SCOTT, Joan W. Gênero: uma categoria 
útil de análise histórica. Educação e 
Realidade, v. 15, n. 2, p. 5-22, 1990.
no Enfrentamento à Violência CONTRA MULHER
57
A violência doméstica e familiar contra as 
mulheres, algo já conhecido e muito aborda-
do neste curso, encontra guarida nesse pa-
drão de família. Sobre as mulheres recaem 
responsabilidades sobre-humanas de ma-
nutenção da harmonia do lar a qualquer cus-
to, inclusive o da violência. O papel sagrado 
(e sacralizado) na mulher na família está inti-
mamente relacionado à forma como as mas-
culinidades são construídas nesse espaço. 
A reafirmação perversa dessa masculini-
dade hegemônica e da validação da virilida-
de se manifesta, por exemplo, na chamada 
pornografia de vingança. É quando a internet 
se torna palco da violência e há a divulgação 
de imagens íntimas, normalmente como re-
vanche para a reparação da masculinidade 
perdida (MILNER, 2020). No Brasil, essa divul-
gação não autorizada de imagens e conteúdo 
sexual foi criminalizada pela Lei 13.718/2018.
Seja na internet, seja na vida real, mui-
tas são as demonstrações de que as vio-
lências baseadas no gênero têm um refle-
xo perverso sobre nossa sociedade, mas 
inegavelmente é contra as mulheres que 
ela se revela. Assim, pensar criticamente 
como construímos ou validamos repre-
sentações das masculinidades é vital para 
superar padrões de dominação.
TÁ NA LEI
Código Penal Brasileiro (CPB)
Divulgação de cena de estupro ou de 
cena de estupro de vulnerável, de cena 
de sexo ou de pornografia
Art. 218-C. Oferecer, trocar, 
disponibilizar, transmitir, vender ou expor 
à venda, distribuir, publicar ou divulgar, 
por qualquer meio – inclusive por meio 
de comunicação de massa ou sistema de 
informática ou telemática –, fotografia, 
vídeo ou outro registro audiovisual que 
contenha cena de estupro ou de estupro 
de vulnerável ou que faça apologia 
ou induza a sua prática, ou, sem o 
consentimento da vítima, cena de sexo, 
nudez ou pornografia:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, 
se o fato não constitui crime mais grave.
#FICAADICA
Vulnerabilidade social, gênero e 
masculinidades: leituras interseccionais.
Disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=B4k_xL9XKEE
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA 
UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE58
2
MÍDIA, MASCULINIDADE 
E VIOLÊNCIA
O “homem ocidental” tem a es-cola, as mídias e a família pa-triarcal como pilares para sua construção e sustentação. Es-
ses âmbitos por séculos fundamentam e 
naturalizam a superioridade dos homens 
sobre mulheres e crianças, enaltecendo as 
qualidades ditas “masculinas” como ide-
ais e desejadas. Mas você já pensou sobre 
a base histórica deste edifício?
Perceba que a estrutura colonial euro-
peia impôs aos povos latino-americanos 
e brasileiros modos, costumes e visões de 
mundo que sustentam a violência como 
força da civilização e a violação do corpo 
das mulheres como sinônimo de povoa-
mento. Neste processo de colonização, a 
oposição entre masculino e feminino con-
tribuiu para uma cultura de exclusão das 
mulheres dos espaços públicos e das de-
cisões políticas, intensificando o sexismo, 
a misoginia e a homofobia. Isso signifi-
ca, respectivamente, a discriminação das 
mulheres por serem mulheres; o ódio e a 
aversão às mulheres; e a discriminação e a 
aversão a homens “afeminados”, os quais 
se assemelham de alguma forma a carac-
terísticas femininas, pela forma de falar, 
de comportar-se ou de amar. 
A família já foi abordada no primeiro 
tópico como espaço de pedagogia da vio-
lência e subordinação. As pedagogias atra-
vessam a família e se intensificam na esco-
la. No período colonial, apenas os meninos 
eram levados à escola para consolidação 
da moral colonial, princípios fundamentais 
da masculinidade hegemônica (branca, 
heterossexual, dominante). E por mais que 
atualmente a escola seja lugar de educação 
para todas e todos, esse espaço reproduz, 
muitas vezes, a estrutura de dominação 
masculina e subordinação das mulheres 
desde meninos e meninas. Para ampliar 
esse diálogo sobre a escola, sugerimos a 
playlist “Desafio da igualdade” no perfil da 
Plan Internacional Brasil no YouTube. 
Nesse contexto educacional, caracte-
rísticas como dominação, protagonismo, 
competitividade e liderança são algumas 
associações ao “universo masculino” es-
timuladas, ao mesmo tempo, como cami-
nhos de sucesso na vida adulta. Prepara-
-se o menino para se tornar o homem viril 
e de sucesso nos negócios.
Portanto, atrelar atributos ditos mascu-
linos ao reconhecimento, sucesso e cresci-
mento profissional é um mecanismo que 
sustenta os homens e as masculinidades 
no Enfrentamento à Violência CONTRA MULHER
59
em lugar de poder, tomada de decisão e pri-
vilégios a partir de comportamentos como 
agressividade, competitividade e arrogância. 
Enquanto isso, leveza, parceria e cooperação 
são tidas por atitudes fracas, não cabem no 
empreendedorismo e no ramo comercial. 
Certamente você já deve ter ouvido a ex-
pressão “mercado predatório”. Essa carac-
terística exigiria dos trabalhadores (a priori, 
homens) agressividade, coragem e violên-
cia para sobreviver a essa “selva”. Um curta 
que expressa muito isso é o “Purl”, da Dis-
ney Pixar, também disponível no YouTube.
Mas, então, você pode se perguntar: 
“E esses comportamentos são negativos? 
Qual é o problema de essas característi-
cas masculinas serem estratégias dentro 
do mundo capitalista?”. Aqui é preciso 
parar erefletir. Por ser violenta e viola-
dora, essa masculinidade (hegemônica) 
imposta e convocada pela sociedade é 
danosa a todas e todos que estão em vol-
ta do homem, inclusive contra ele mesmo 
(ZANELLO, 2020). São justamente esses 
comportamentos que promovem assédio 
moral e sexual no ambiente de trabalho, 
produzem trabalhadores compulsivos 
(workaholics) e Síndrome de Burnout. 
Dentre os veículos de propagação, 
imposição e convocação dessa mascu-
linidade danosa, estão as mídias. Desde 
a invenção da rádio e das revistas, são 
estratégias de grande propagação de 
informações. Mas não só isso: elas pro-
duzem cultura e ditam comportamentos. 
Após as duas grandes guerras mundiais, 
consolidaram-se também o cinema e a 
televisão na produção da cultura de mas-
sa. E após os anos 1980, com a chegada 
da internet ao Brasil, a propagação de no-
tícias, conteúdos e discursos sociais man-
tém-se crescente entre as populações. 
VOCÊ 
SABIA?
Os mecanismos de homofobia e 
sexismo são faces da mesma moeda 
do machismo. Para o pesquisador 
Daniel Welzer-Lang (2001; 2004), eles 
promovem a hierarquização entre 
homens/homens, mulheres/mulheres 
e homens/mulheres. São formas de 
controle social que se exercem entre os 
homens desde os primeiros passos da 
educação masculina. Assim, para que o 
homem seja valorizado, ele precisa ser 
viril e demonstrar superioridade, 
força e competitividade.
Síndrome 
de Burnout
Distúrbio 
psíquico 
produzido 
pela exaustão 
extrema no 
âmbito do 
trabalho.
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA 
UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE60
Esses instrumentos de propagação dos 
papéis de gênero foram esquematizados 
primeiramente em revistas femininas e re-
vistas masculinas. As revistas femininas, 
como Cláudia, Marie Claire, Cosmopolitan, 
Nova, Capricho e Boa Forma, por muitos 
anos ensinaram as mulheres a manter a 
boa performance para conquistar os ho-
mens ou se manterem atraentes, dentro do 
padrão da moda e conforme o comporta-
mento esperado das mulheres. Para visua-
lizar mais sobre o início desse contexto das 
revistas femininas nos anos 1950 e 1960, 
assista à série “Coisa mais linda”, na Netflix, 
e atente ao episódio 2: “Garotas não são 
bem-vindas”. Você também pode conferir 
algumas das dicas e conselhos dados nes-
sas revistas na reportagem “A mulher no 
mundo machista: revistas femininas nos 
anos 50 e 60”, da Revista Prosa e Verso. 
As revistas masculinas, como Status, 
Homem, Playboy e VIP, por décadas esti-
mularam a performance do conquistador 
e “pegador”. Também produziram a ob-
jetificação das mulheres, assemelhando-
-as a alvos de conquista e reduziram-nas 
a corpos desnudos. E há ainda GQ, Men’s 
Health, Alfa e Forbes, que também operam 
pedagogias sobre corpos perfeitos e per-
formance do homem predador e do pro-
dutor. Para pensar mais sobre as atuais re-
vistas masculinas, ouça o podcast Papo H 
Podcast #3 – “Existem revistas masculinas 
com conteúdo? – Top 3: Filmes de macho”.
Desde as propagandas da famosa mar-
ca de cigarros Marlboro até as vinhetas 
das telenovelas e séries como “Malha-
ção”', as mídias têm propagado padrões 
de masculinidade a partir de mensagens 
em imagens, palavras e sons. Esses veícu-
los tendem a evidenciar e reproduzir es-
tereótipos tradicionais de masculinidade 
e feminilidade, associando aos homens 
atributos como poder e dinamismo; e às 
mulheres, sensibilidade, submissão e de-
pendência (MEDRADO, 1997). 
Veja que o gênero, assim como a se-
xualidade, é fruto de pedagogias e práti-
cas de ensino-aprendizagem no “conjunto 
inesgotável” de instâncias sociais e cultu-
rais (LOURO, 2008). As mídias, juntamente 
com as instituições de educação espalha-
das por toda a parte, acabam por cons-
tituir potentes pedagogias culturais dos 
ideais de masculinidade dominantes. 
no Enfrentamento à Violência CONTRA MULHER
61
Os veículos de propagação da masculi-
nidade hegemônica em peças publicitárias, 
como a propaganda “Vem Verão”, da cerve-
ja Itaipava, são exemplos da naturalização 
da objetificação da mulher. Essa, a serviço 
dos homens, traz ao consumidor da peça 
publicitária a sensação de poder de atração 
sexual no consumo do produto.
Dentre as pedagogias midiáticas, a 
pornografia opera um desserviço afetivo 
aos homens, ensinando a violência e a 
objetificação das mulheres como práti-
ca sexual e naturalização da subjugação, 
com performances de domínio e controle 
(ZANELLO, 2020). 
Filmes, músicas, desenhos, novelas e 
séries, juntamente às plataformas digitais, 
como TikTok e Instagram, formam um pa-
cote de produtos das mídias contemporâ-
neas que sustenta a situação de sexismo, 
misoginia, violência contra as mulheres 
e cultura do estupro em que vivemos (ou 
morremos). Uma história surpreendente 
e envolvente que exemplifica um pouco 
desse contexto é o filme “Bela Vingança” 
(2020), ganhador do Oscar de melhor ro-
teiro original. Outras duas produções em 
formato de séries que abordam a relação 
das redes sociais e a violência contra mu-
lheres são “Euphoria”, da HBO, e “Grand 
Army High School”, da Netflix. 
SAIBA MAIS
“Vem Verão”
Disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=_aRRwrlO4LU),
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA 
UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE62
• Movimento #ElesPorElas 
#HeForShe (ONU Mulheres)
• Dia laranja pelo fim da violência 
contra as mulheres – todo dia 25 de 
cada mês (ONU Mulheres) #DiaLaranja
• Campanha do Laço Branco 
(Instituto Papai)
• Campanha Una-se pelo fim da 
violência contra as mulheres (ONU 
Mulheres, 2014) 
• Projeto O valente não é violento 
(ONU Mulheres, 2014) 
• Instituto Papo de Homem 
(https://papodehomem.com.br/)
• Projeto Homem Paterno 
(@homempaterno)
• Memoh - Grupos reflexivos com 
homens (https://memoh.com.br/)
• Instituto NOOS (https://noos.org.br)
• ONG Promundo 
(https://promundo.org.br
• Espaço PrazerEle (@prazerele)
• Comercial Gillette – “The best a man 
can get” (https://www.youtube.com/
watch?v=2RIWPdM0KtY)
• Movimento #ehproblemameu 
(https://www.youtube.com/
watch?v=nneEFCHcQRQ&t=8s)
E aqui está posto um desafio para o 
presente/futuro: produzir novas masculi-
nidades, que sejam plurais, pela igualdade 
de gênero, lutando pelo fim da violência 
contra mulheres e pessoas LGBTQIA+, ten-
do as mídias (e novas mídias) como aliadas 
e envolvendo atores diversos na socieda-
de. É preciso mobilizar pessoas para este 
desafio, mas também é preciso mobilizar 
(e transformar) as instituições, sobretudo 
a partir das políticas públicas. Trata-se de 
uma agenda urgente, necessária e inadiá-
vel. É muito bom poder contar com você!
Ainda na discussão sobre redes so-
ciais, a segunda temporada da série 
“Homens?” (Comedy Central, 2020) apre-
senta cenas muito criativas com perso-
nagens na tela do WhatsApp dando vida 
a um grupo só de homens. Agora, pense 
em seu WhatsApp neste momento. Quais 
grupos são mais usados por você? Se 
você é homem, você tem grupo só com 
homens? Quais conteúdos circulam en-
tre vocês? Essa curiosidade sobre o que 
se passa em um grupo só com homens foi 
transformada em pesquisa pela psicólo-
ga e pesquisadora Valeska Zanello.
Com seis informantes que compar-
tilharam por meses os conteúdos de 
grupos só com homens, a pesquisadora 
“infiltrada” conseguiu levantar e analisar 
634 publicações, elencando seis catego-
rias de conteúdos: objetificação sexual 
da mulher para provar que se é homem; 
ser homem é não ser gay; o homem é 
guiado pelo sexo; mulher e comida são 
sinônimos; mulher gosta é de dinheiro; 
riso e cumplicidade diante da violência 
contra as mulheres (ZANELLO, 2020). 
Entretanto, como os demais fenôme-
nos sociais, as mídias e os discursos não 
são estáticos. Há metamorfoses em suas 
formatações e intenções. E neste último 
século veem-se mudanças possíveis pe-
los mesmos veículos de comunicação 
(se não os mesmos, outros) nas produ-
ções de discursos sobre as masculini-
dades, apresentando e possibilitando 
visibilidades às masculinidades negras, 
GBTQIA+ e às paternidades monoparen-
tais, homoparentais e outras.Exemplos dessas metamorfoses estão 
em campanhas, movimentos e projetos que 
debatem as masculinidades pelas mídias 
sociais na atualidade. Veja a seguir uma lista 
desses movimentos nas redes sociais. Pes-
quise e amplie seus conhecimentos.
#FICAADICA
As masculinidades vão ao cinema.
Segue uma lista de filmes para ampliar o 
diálogo sobre homens e masculinidades 
nas produções fílmicas:
• “Madame Satã” (2002)
• “Vergonha” (2011)
• “Tatuagem” (2013)
• “O lobo de Wall Street” (2013)
• “A máscara em que você vive” (2015)
• “Moonlight: Sob a luz do luar” (2016)
• “Eu não sou um homem fácil” (2018)
• “Dias sem Fim” (2020)
Confira a playlist “Desafio da igualdade” 
no perfil da Plan Internacional Brasil no 
YouTube. Disponível em:
• https://www.youtube.com/playlist?l
ist=PLwkbok3gzd80YH10C3PHV4WM
dhNxal33n
• Veja o curta “Purl”, da Disney 
Pixar, também disponível em: 
https://www.youtube.com/
watch?v=B6uuIHpFkuo. Para assistir, 
ative a legenda em português.
• Assista ao filme “Bela Vingança” 
(2020), ganhador do Oscar de 
melhor roteiro original.
• Ouça o podcast Papo H Podcast #3 
– “Existem revistas masculinas com 
conteúdo? – Top 3: Filmes de macho”.
no Enfrentamento à Violência CONTRA MULHER
63
REFERÊNCIAS
CONNELL, Robert W.; MESSERSCHMIDT, 
James W.. Masculinidade hegemônica: 
repensando o conceito. Estudos Feministas, 
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UFF, vol. 5, n° 10, abril, 2013.
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA 
UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE64
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AUTORES
Rose Marques é advogada e militante feminista. Possui atuação 
profissional no campo das políticas públicas em diversos níveis, 
especialmente nas políticas de atendimento às mulheres em situação 
de violência. Foi tutora nos cursos Gênero e Diversidade na Escola 
e Educação em Direitos Humanos, do Instituto UFC Virtual. Hoje, 
atua junto à equipe técnica do Projeto Contexto: Gênero, Educação, 
Emancipação, do Instituo Maria da Penha - IMP. É aluna do Programa 
de Pós-graduação em Avaliação de Políticas Públicas (mestrado 
acadêmico) da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Kevin Batista é graduado em Psicologia pela Universidade de Fortaleza 
(Unifor). Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará 
com bolsa Capes. Atua na clínica e em âmbitos da Psicologia Social 
e Comunitária. Professor universitário, palestrante e formador de 
profissionais na atuação com a temática de homens, masculinidades 
e violência de gênero. Atualmente, coordena o Grupo de Estudos 
em Psicologia Social da Faculdade Princesa do Oeste (FPO), onde 
desenvolve estudos transversais e interdisciplinares sobre a 
Psicologia Rural, agrária e implicada com as questões dos 
sertões brasileiros. Também coordena o Grupo de Estudos 
e Extensão Gêneros e Feminismos nesta mesma instituição. 
É integrante do Paralaxe: Grupo Interdisciplinar de Estudos, 
Pesquisas e Intervenções em Psicologia Social Crítica (UFC).
ILUSTRADOR
Carlus Campos é artista gráfico, pintor e gravador, 
começou a carreira em 1987 como ilustrador no jornal O 
POVO. Na construção do seu trabalho, aborda várias técnicas 
como: xilogravura, pintura, infogravura, aquarelas e desenho. 
Ilustrou revistas nacionais importantes como a Caros Amigos 
e a Bravo. Dentro da produção gráfica ganhou prêmios em 
salões de Recife, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

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