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Commodities: Mercado Financeiro e de Capitais

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CENTRO UNIVERSITÁRIO MAURÍCIO DE NASSAU 
Campina Grande - PB 
CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TRABALHO MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAMPINA GRANDE 2021
 
SUMÁRIO 
 
 
1. O QUE SÃO COMMODITIES	 
2. EXEMPLOS DE COMMODITIES	 
3. COMO FUNCIONA O MERCADO	 
4. ATUAL CENÁRIO	 
6. VARIAÇÃO 	 
7. IMPACTOS 	 
 O QUE SÃO COMMODITIES
Commodities são produtos de origem primária que servem como matéria-prima para a fabricação de outros produtos. Aqui estamos falando de mercadorias em estado bruto que são produzidas em larga escala e que podem ser estocadas sem que a qualidade seja prejudicada. 
As commodities possuem alto nível de comercialização e têm grande importância no mercado internacional. Elas podem ser divididas em diferentes categorias, como agrícolas, ambientais e minerais. Alguns exemplos comuns de commodities são milho, café, soja, trigo, algodão, madeira, água, petróleo, gás natural e ouro. De acordo com a UNCTAD, países em que as exportações de commodities superam 60% das exportações totais em termos de valor já são considerados como dependentes desse tipo de mercadoria. Quem ganha destaque na produção nacional são as commodities agrícolas e minerais, já que no Brasil existe riqueza de recursos naturais e um território de tamanho continental. Em períodos de crise ao redor do mundo, o Brasil acaba sendo afetado justamente devido à baixa nos valores de commodities. Em compensação, em períodos de economia crescente, o país se beneficia por causa da elevação da demanda. 
Um dos grandes debates na economia brasileira e de muitos países da América Latina está no peso que os commodities significam no Produto Interno Bruto (PIB) de cada país, representando grande parcela de suas riquezas. Isso acaba tornando uma nação mais rica ou mais pobre aos sabores dos preços pagos pelo barril do petróleo, pelo minério de ferro ou pela arroba do boi gordo. Para alguns especialistas, isso corrobora uma visão segundo a qual os países subdesenvolvidos ou em subdesenvolvimento fiam suas bases econômicas nas commodities. 
Mas no caso do Brasil, essa visão não procede totalmente, pela força e diversidade de seus setores econômicos, tanto agrários quanto industriais. “O Brasil exporta muita commodities e tem um processo de fabricação grande. O setor agropecuário brasileiro é muito forte, com várias commodities, e o setor de extração mineral também. O país tem uma situação de pioneirismo em matérias primas elevadas, só que são produtos de baixo valor agregado. Em termos de faturamento, representa muito, mas o Brasil ainda é um país fechado para o comércio internacional: exporta pouco para o seu potencial e também importa pouco”, salienta o economista Sorgato, negando que o Brasil vive uma espécie de “commodi-dependência”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
COMO SÃO NEGOCIADAS 
Commodities podem ser vendidas como qualquer mercadoria, mas são normalmente negociadas no mercado futuro, em bolsas de valores. Isso é, produtor e comprador firmam um contrato com um preço fixado hoje para a entrega e pagamento do produto em uma data futura pré-definida. Assim, mesmo antes de ter colhido a soja ou matado o boi, o produtor já tem uma garantia de volume contratado e preço a receber. 
Quem detém o contrato no momento do vencimento é que tem o direito de receber o produto, mas isso nem sempre acontece. Os contratos são como seguros que garantem ao produtor um preço mínimo e ao comprador um preço máximo, travados no futuro. Se no mercado estiver abaixo do combinado, o vendedor recebe a diferença até chegar ao preço firmado. Se estiver acima, é o comprador quem recebe. Assim, mesmo com a variação, ambos negociam o produto pelo preço pré-estabelecido, se protegendo de variações. No Brasil, as commodities são negociadas na Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros BM&FBovespa. O contrato é formalizado para determinada quantidade de cada produto. A soja, na BM&FBovespa, por exemplo, é negociada em lotes de 450 sacas de 60 kg. Mas a quantidade, 27 toneladas de soja por contrato, não faz desse um mercado restrito a grandes consumidores dos produtos. 
Esses papéis, até o vencimento, são ativos que funcionam como investimentos normais. Seu preço varia de acordo com a oferta e a demanda. É comum que investidores que não têm o menor interesse no produto final, invistam em commodities. Entre as principais bolsas de commodities do mundo estão as de Chicago, Londres, Nova Yorque, Mumbai, Shangai e Tóquio. 
Os Estados Unidos e a China são grandes produtores de commodities, mas consumidores ainda maiores. Os dois são os maiores importadores mundiais. 
 
  
 
Alterações no apetite dos maiores consumidores afeta uma série de países produtores, como Brasil, Austrália, Chile e Índia. A lista dos produtores de commodities apresenta algumas coincidências. Geralmente são países com grande extensão territorial e com possibilidade de exploração de recursos naturais, o Japão por exemplo, por ser altamente industrializado e ter território pequeno e altamente povoado, tem dificuldades de produzir esses produtos, mas é um grande consumidor de commodities - tanto as que servem de matéria prima para as empresas locais quanto as que alimentam sua população 
Listamos, abaixo, as principais commodities do Brasil, de acordo com o volume de exportação em 2018, segundo dados compilados pelo portal TrendEconomy, que funciona como um repositório de dados sobre importação e exportação em todo o mundo. 
Soja 
A soja é a maior commodity exportada pelo Brasil, com 13,8% do total. Em 2018, a exportação de soja rendeu US$ 33 bilhões para o Brasil. É, de longe, a maior commodity agrícola exportada pelo país. 
Petróleo 
O petróleo foi responsável por 10,4% das exportações. Com a venda dessa commodity, o Brasil viu entrarem US$ 25 bilhões. 
Minério de ferro 
Em terceiro lugar, surge o minério de ferro, com 8,42% do total de exportações. Essas exportações garantiram US$ 20 bilhões aos cofres dos exportadores. 
 
Celulose 
Em quarto lugar na lista de exportações brasileiras, está a celulose, com participação de 3,31%. 
A exportação desse produto rendeu US$ 7,95 bilhões ao país. 
Outras commodities: 
Além dessas quatro principais commodities, também têm relevância no cenário de exportações no Brasil: 
  
· Farelo de soja: 2,8%, US$ 6,7 bilhões 
· Cana de açúcar: 2,7%, US$ 6,5 bilhões 
· Carne de frango: 2,5%, US$ 6 bilhões 
· Carne de gado: 1,9%, US$ 4,5 bilhões 
 
PRINCIPAIS EMPRESAS DE COMMODITIES NO BRASIL
Petrobras 
Maior empresa brasileira, a Petrobras produz petróleo, tendo seu valor de mercado superior a R$ 200 bilhões, e registrou lucro líquido de R$ 40,137 em 2019. 
Vale 
A Vale também está entre as maiores empresas do Brasil, e é a maior produtora de minério de ferro do mundo. 
Seu valor de mercado é superior a R$ 220 bilhões, em dados de abril de 2020. A empresa teve prejuízo de R$ 8,6 bilhões em 2019, ano da tragédia em Brumadinho. 
JBS 
A JBS é uma das maiores produtoras de proteína animal do mundo, e tem valor de mercado próximo a R$ 56 bilhões, em números de abril de 2020. 
Em 2019, seu lucro líquido foi de R$ 6,4 bilhões. 
Suzano 
A Suzano é considerada a maior produtora de celulose de eucalipto do mundo, com valor de mercado estimado em R$ 49 bilhões. 
A empresa registrou prejuízo de R$ 2,8 bilhões em 2019. 
Além dessas quatro empresas, que são as maiores companhias ligadas a commodities no Brasil, ainda é possível citar outras, como a Klabin, que também produz celulose, a PetroRio, que produz petróleo, a SLC Agrícola, que controla plantações de algodão, soja e outros grãos, e a BRF, que produz proteína animal. 
COMO VARIAM
O Brasil é um dos principais produtores agrícolas de todo o planeta. Nossa agricultura figura entre os maiores produtores de commodities agrícolas de todo o mundo. No entanto, saber exatamente o preço que irá receber na venda de seu produto é um fator que o produtor não consegue controlar.Isso ocorre por uma razão bastante comum nesse ambiente. Para as commodities agrícolas a formação dos preços pagos aos produtores ocorre de fora para dentro, ou seja, baseiam-se na cotação dos produtos nas bolsas de mercadorias e futuros internacionais. 
Exatamente por isso, as variações diárias do mercado de commodities são constantes e ocorrem em função de alguns fatores relacionados à área econômica, climática e mercadológica. Mas, entender as variações é realmente uma tarefa complicada em um primeiro momento, mas entender esse cenário será essencial dentro do setor, afinal esse conhecimento tem relação direta com o bolso de cada produtor. Por definição, commodities são matérias-primas básicas, produzidas em larga escala e que têm a capacidade de serem estocadas sem que percam sua qualidade. Assim, esse termo é designado para representar produtos como petróleo, ouro, dólar e muitos produtos agrícolas produzidos em larga escala e que são provenientes das práticas agropecuárias com o mínimo fator industrial possível em seus processos, como vimos anteriormente.  
 
Assim, as commodities, quer sejam agrícolas ou não, são fundamentais para a economia mundial, com grande peso na economia, tanto que a negociação das commodities ocorre por meio da bolsa de valores, com o preço sendo definido pela lei da oferta e da procura, sem considerar a “marca” ou empresa que produz. Como visto anteriormente, o preço das commodities agrícolas são regidas pela lei da oferta e da demanda. 
 Essa lei afeta o comportamento dos preços no mercado interno e no mercado externo. Por essa razão, a variação nos preços das commodities é diária. Por essa razão, é importante que o produtor entenda como funciona esse cenário. Para isso, ter conhecimento sobre alguns conceitos relacionados a um tripé da variação dos preços é fundamental. Em um primeiro momento é preciso compreender que há ambientes de negociação que ditam parâmetros de referência para os preços das commodities agrícolas. Para a soja e para o milho, por exemplo, o que determina as cotações de base é a Bolsa de Chicago. 
O segundo passo para entender o sobe e desce do preço das commodities, está relacionado às variáveis regionais de cada país. Para adaptar o valor de referência a cada realidade, há um cálculo que pode ser obtido por meio do chamado diferencial de base. Alguns são os fatores que influenciam o diferencial de base. O prêmio no porto, o custo com logística, gastos portuários, custo de elevação e oferta e demanda local são alguns destes fatores. 
O tripé que explica a variação do preço das commodities é finalizado com a forma de negociação destes produtos. Elas sempre ocorrem a nível internacional, ou seja, a precificação necessariamente considera a cotação do dólar.  
Por esse motivo, outro aspecto fundamental explica a variação: a taxa de câmbio. Esse aspecto ganhou ainda mais importância principalmente dentro do atual momento, devido à elevação do valor do dólar frente ao real nos últimos meses. Esta variação é influenciada, principalmente, pela economia nacional e internacional, perspectivas políticas, inflação e taxa de juros, com mais relação à conjuntura econômica do país. 
Já o petróleo o que mais influência o comportamento do preço do mesmo é o estoque dos grandes países consumidores, e a variação deste impacta severamente os preços dessa commodite. Para se ter uma ideia, de 2014 a 2016, os estoques de petróleo cru aumentaram substancialmente devido ao aumento da produção. Isso fez com que o preço da commodite despencasse.  
  
Contudo, após passado esse período, já em 2017, os estoques de petróleo cru reduziram drasticamente. Tal fato se deu devido uma forte demanda gerada pela economia mundial aquecida.  
Podemos observar isso no gráfico abaixo, onde, com o aumento da demanda e redução dos estoques, o preço do barril seguiu para uma tendência de alta. 
 
RISCOS GEOPOLÍTICOS 
O mercado de petróleo sempre acompanha o risco de perturbações no suprimento da commodite em nível mundial. Por isso, cada perturbação pode desencadear um desequilíbrio de abastecimento. Em 2018, um risco imediato era de que o então presidente Donald Trump abandonasse o acordo nuclear com o Irã. De fato, isso poderia replicar em sansões que vigorariam contra a exportação de petróleo do país do oriente médio. A estratégia dos grandes países produtores do mundo determina a variação do preço do ouro negro. No jogo mundial do petróleo, geopolítica e estratégia dos grandes produtores movem as peças do tabuleiro. Antes do início da retomada da alta, a Petrobras adotou, no início de 2016, uma política de variação dos preços do petróleo baseada nas variações do mercado internacional. 
Na época, a empresa explicava que os ajustes seriam baseados na paridade com o mercado externo, e que as revisões de preço seriam feitas ao menos uma vez por mês. A partir desse contexto, a Aepet (Associação dos engenheiros da Petrobras) fez algumas considerações: 
· A política de preços de Temer é melhor para a Petrobras? 
· Quem ganha com a atual política de preços dos combustíveis? 
· A Petrobras ganha com preços mais elevados no mercado interno? 
A associação já alertava que, com a ociosidade das refinarias brasileiras e a entrega de sua participação no mercado de combustíveis, perde a maioria dos brasileiros. Portanto, com os preços dos combustíveis mais altos, seguindo o preço do petróleo no mercado internacional, abre-se espaço para importação por concorrentes, fazendo com que os brasileiros paguem caro pelo combustível que move nossa economia. 
Também não podemos esquecer o gás de cozinha ou o GLP, como sabemos a  Petrobras reajustou em 7% o preço do botijão de gás em suas refinarias. Mas, para o consumidor final, o aumento deve ser maior do que esse, segundo a Associação Brasileira das Entidades Representativas da Revendas de Gás LP (Abragás). Além de uma possível recuperação da margem das distribuidoras, os revendedores falam que precisam cobrir altas de custos, entre eles, os dos combustíveis, utilizado no transporte do botijão.  Os aumentos de preços além de pesar muito aos consumidores atingem diretamente o capital de giro dos revendedores, quanto mais caro o gás, mais dinheiro precisamos colocar no caixa para sustentar o fluxo", afirmou a entidade em nota.  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ATUAL CENÁRIO DAS COMMODITIES NO BRASIL
 
Nos últimos dias temos percebido o mal humor dos mercados, ocasionado por fatores de ordem macroeconômica. A divulgação da ata do Fomc, comitê do Federal Reserve, as medidas de restrição para conter disseminação da variante Delta do coronavírus nos países asiáticos, a pressão regulatória chinesa sobre o minério de ferro, queda nos preços do petróleo, alta do dólar e um novo ciclo inflacionário voltando à pauta nos mercados, são aspectos fundamentais a avaliar para entender para onde vão as commodities. 
No entanto a combinação de alta dos preços de commodities, de taxa de câmbio desvalorizada e de expansão do comércio mundial vem dando uma sustentação mínima à atividade econômica no Brasil neste ano, contrabalançando uma parte dos efeitos negativos da pandemia e das incertezas políticas e fiscais. Grande parte dos analistas têm ponderado que estamos próximos de janelas de oportunidade importantes. Ainda assim, o cenário de curto prazo pede cautela. 
As commodities lideraram altas nas bolsas durante o primeiro semestre de 2021. Isso porque as economias globais reagiram ao avanço da vacinação e à flexibilização das medidas sanitárias. 
Entretanto, os fatores macroeconômicos têm intensificado as correções. Dessa forma, a volatilidade ainda será forte até que o mercado tenha uma leitura mais consistente quanto ao desempenho da economia global. O fluxo de curto prazo aponta para a continuidade do processo de ajustes. Contudo, se formos pensar em fundamentos, os resultados das empresas vieram fortes, e tendem a melhorar ainda mais com o avanço da vacinação no país e a retomada da economia a partir deste mês. 
Estamos falando de empresas com alta capacidade de geração de caixa,boas pagadoras de dividendos. Sendo assim, quanto mais se corrigir as distorções, melhor será a relação risco-retorno dos ativos. Com isso, quando o mercado der sinais claros de fundos e inverter, os gatilhos operacionais de tomada de riscos serão acionados. Será, então, uma ótima oportunidade para o investidor mais paciente. 
Estamos assistindo a um aumento das exportações líquidas, que induz uma recuperação econômica do Brasil um pouco mais forte”, afirma o ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore. “Veremos a revisão nas previsões de crescimento dos economistas do mercado financeiro, da faixa de 3% a 3,2% para percentuais como 3,4%, 3,6%, 3,8%. A própria consultoria de Pastore, a A. C. Pastore & Associados, divulgou relatório nesta segunda-feira aumentando a sua estimativa para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2021 de 3,2% para 4%. Outras casas estão também migrando para percentuais de 4% ou mais. 
“Por ora, não vemos superciclo, mas as commodities podem ficar fortes por 12 ou 18 meses, não vários anos”, afirma do ex-diretor do BC e economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita. “Dito isso, o contexto global é positivo para o real. E, por aqui, a atividade tem viés de alta. Recentemente puxamos a projeção do o PIB para 4%, e talvez tenhamos que rever para cima de novo. 
” A queda menos intensa da economia durante a segunda onda e a reabertura mais rápida também tem ajudado a aumentar as projeções para a economia. A XP Investimentos passou a projetar alta de 4,1%; a Bradesco Asset Management (BRAM), de 4,3%; e a ASA Investimentos, de 4,5%. Ninguém está sugerindo um crescimento exuberante. Esses números, aparentemente altos, estão inflados por fatores estatísticos, tecnicamente conhecidos como carregamento. Um crescimento de 3,6% significa que a atividade está apenas parada. O Brasil deve se expandir mais devagar que o mundo, cujo crescimento o Fundo Monetário Internacional (FMI) estima em 6%. Ainda assim, o motor externo está ajudando mais o Brasil. 
O cenário para o balanço de pagamentos também está se tornando mais positivo. O fluxo de moeda estrangeira para o Brasil começa a se recuperar, favorecendo, pela primeira vez desde fins de 2020, uma tendência de queda da cotação do dólar ante o real. O câmbio mais forte não resolve todas as pressões inflacionárias, parte delas causada pela alta das commodities - mas ajuda em vez de atrapalhar, num momento em que o Banco Central sobe os juros. 
Os bons preços dos produtos básicos podem ajudar ainda a recuperar pelo menos parte dos investimentos no setor, que ficaram baixos nos últimos anos e restringiram a capacidade de oferta desses produtos. O “boom” de commodities também aumenta a renda em algumas regiões do país, como a fronteira agrícola, e criam um efeito riqueza com a alta de ações na bolsa. 
Salvo algumas vozes discordantes, o atual ciclo das commodities é considerado pelos analistas econômicos como temporário - e que pode se desfazer em um ano ou dois, quando a recuperação cíclica de China e Estados Unidos se esgotar ou quando o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) começar a retirar estímulos monetários. Ou antes disso, já que a tarefa de projetar a evolução dos preços das commodities é tão difícil quando antecipar a taxa de câmbio. “Temos um equilíbrio tênue”, afirma o ex-diretor de política econômica do Banco Central Carlos Viana de Carvalho, hoje head de research da Asset 1. “Poderemos passar por um período mais perigoso, com os temores nos mercados com a inflação, com receios de que o Fed está tomando riscos demais.” 
Desde o começo deste ano, o índice CRB, que engloba as principais commodities, apresentou uma alta de 24%, dos quais perto da metade ocorreu de meados de abril para cá. O minério de ferro subiu 44%, e o preço da soja praticamente dobrou em um ano. Os pacotes de estimulo fiscal, de infraestrutura e da área social do presidente americano, Joe Biden, estão por trás da alta dos preços de commodities, assim como a forte expansão monetária patrocinada pelo Fed. Essas políticas levam a perda de valor do dólar, que tradicionalmente ocorre em paralelo com a alta das cotações de commodities, e incentivam a busca dos investidores por ativos de risco. Esse é o cenário que os economistas chamam de “reflação”, ou seja, uma convergência dos níveis de inflação muito baixa dos últimos anos nos Estados Unidos para mais próximos do percentual desejado, na casa dos 2%. Carlos Viana, da Asset 1, lembra que a tese da reflação ganhou mais visibilidade no começo do ano, com a posse do presidente Biden. O medo de que os estímulos passassem do ponto, no entanto, provocou uma alta real dos juros de títulos americanos, e o dólar ganhou um pouco de força, em vez de se desvalorizar. 
Ao longo do tempo, o Fed reforçou o seu discurso de que não pretende reagir antes de ver uma convergência concreta da inflação e emprego aos níveis desejados. A pressão sobre os juros dos títulos americanos refluiu um pouco, e o dólar começou a perder valor, ainda que o movimento não tenha sido muito grande. “Passamos a ter um quadro de ‘reflação’ mais completo, que é esta festa para os ativos de maior risco.” Mas, segundo ele, o quadro está sujeito a mudanças. 
O economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa, lembra que as commodities são também um ativo financeiro e, por isso, respondem a outros fatores além de fundamentos econômicos. “As commodities são uma forma de proteção contra a inflação”, afirma. “Há investidores desconfortáveis com os bancos centrais, que vinham sinalizando de que não chegou ao ponto de retirar estímulos, mesmo com as surpresas inflacionárias”. No caso das commodities agrícolas, há restrições na oferta, devido a eventos climáticos que limitaram a produção de grãos nos Estados Unidos e no Brasil. Além disso, a demanda aumentou durante a pandemia, quando as famílias trocaram o consumo de serviços por alimentação. 
Tem mais fatores, além dos preços, que estão puxando as exportações líquidas. Pastore destaca que o FMI reviu para 8,4% a sua projeção para o comércio mundial neste ano, e as exportações brasileiras costuma responder numa proporção de um para um a esses movimentos globais. O real fraco é outra peça na engrenagem. A taxa de câmbio efetiva real ajustada pela inflação ao consumidor, calculada pelo Banco Central, equipara-se ao menor nível da história, de 2002. 
Também tem os efeitos na indústria, diz Pastore, que ficou mais competitiva nas exportações e no fornecimento de insumos para produtos fabricados dentro do Brasil. “Aumentaram as exportações de manufaturados. Não foi como as commodities, mas teve um aumento.” 
Pastore foi um dos primeiros a projetar forte aumento das exportações e do superávit comercial, e foi recebido com certo ceticismo por parte do mercado. De lá para cá, os analistas econômicos estão se ajustando a essa nova realidade. A projeção mediana para as exportações em 2021, coletada pelo Banco Central, subiu de US$ 225 bilhões para US$ 244 bilhões desde o começo do ano. Há estimativas tão altas quanto US$ 270 bilhões. 
Esse efeito se espalha pela economia. Os preços das commodities são muito importantes para o PIB brasileiro: se as cotações sobem num trimestre, a atividade econômica responde já no trimestre seguinte e continua reverberando por algum tempo, antes de se dissipar completamente. 
“É um enorme ganho de renda para a economia brasileira”, resume Honorato. A equipe do Bradesco fez um estudo que ilustra um pouco desse impacto: o aumento do emprego formal nas localidades que produzem produtos para exportação é o dobro das demais regiões do país. 
Os efeitos são significativos também nos investimentos. O ex-diretor do Banco Central Tony Volpon, estrategista chefe da Wealth High Governance (WHG), afirma que desde o fim do superciclo de commodities, iniciado em 2002 e que começou a esvaziar em 2011, as empresas pararam de investir. 
“O investimento nesse setor é procíclico, segue muito os preços das commodities”, afirma Volpon. “O investimento caiu muito quando os preços baixarame, desde então, não tinha havido uma reversão importante que pudesse puxá-los. Agora, parece que vai ocorrer.” 
“A alta dos preços de commodities é um evento de cauda para a economia brasileira”, disse o diretor de política monetária do Banco Central, Bruno Serra Fernandes, em evento virtual na sexta-feira. De um lado, lembrou, acelera a inflação, já que a fragilidade fiscal, dentre outros fatores, quebrou a relação histórica que levava a apreciação cambial nos ciclos de commodities. 
 Mas, de outro lado, favorece investimentos no aumento da capacidade produtiva do país, a balança comercial e também o fluxo de capitais estrangeiros ao Brasil. “A bolsa é recheada de empresas produtoras de commodities. Temos o efeito nos investimentos diretos, o fluxo de investimentos em portfólio cresceu [ultimamente]”, completou. A grande discussão é se a alta das commodities vai se sustentar por muito tempo. Pastore diz que é difícil precisar quando vai acabar. Mas os fundamentos econômicos indicam que a fase de bonança terá um fim, sem repetir o superciclo do governo Lula. Naquela época, duas forças principais estavam por trás da alta dos preços. Primeiro, a entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC), que fez com que o crescimento do país passasse da faixa de 7% a 8% para os patamares como 10% e 12%. 
Outro fator foi o longo período de política monetária expansionista nos Estados Unidos, que levou ao enfraquecimento do dólar ante outras moedas. Hoje, o quadro é diferente. A China apresentou recentemente o seu plano quinquenal, com foco no consumo interno e qualidade de vida. “Não há nada que indique que a China vai crescer de novo àquelas taxas de quando estava voltada paras as exportações”, diz Pastore. Embora não haja uma meta explícita de crescimento do país asiático, as indicações são de uma expansão na faixa de 5% ou 5,5%. 
Pastore também antecipa que o Fed vai retirar, em algum momento, os estímulos monetários. O pacote contracíclico de Biden, de US$ 1,9 trilhão, representa grosso modo 10% do PIB americano. Biden anunciou outros planos trilionários para infraestrutura e área social. Embora sejam financiados por alta de impostos e tocados ao longo de anos, terão efeitos na economia, já que o multiplicador do gasto público é o maior do que da receita. “A economia americana vai caminhar para o pleno emprego”, diz Pastore. “Não estou dizendo que vai ser agora, amanhã, mas o Fed vai subir o juro. É a forma de um banco central reagir quando tem um risco de inflação. Carlos Viana acredita que a inflação vai inspirar mais atenção dos mercados.  
O índice de preços divulgado recentemente, que registra avanço do núcleo de inflação de 0,9% em abril, salta aos olhos, apesar de todas as ressalvas de que foi influenciado pela alta de preços de carros usados e de hotéis, que tiveram recuperação de demanda com a vacinação. Volpon considera que existe uma força mais perene por trás da alta das commodities: a migração das economias para um modelo mais sustentável, com menos emissões de carbono. “São vários planos de infraestrutura ao redor do mundo, como o de Biden, que vão demandar metais e outras matérias-primas”. Uma eventual ação do Fed pode representar uma oscilação nesse ciclo de valorização das commodities, opina ele, mas em seguida as forças mais duradouras voltariam a atuar para sustentar os preços. “Estamos diante de um novo superciclo”, aposta. 
REFERÊNCIAS  
 
AUGUSTO, DIEGO. Variação do preço das commodities agrícolas: como funciona. https://blog.sensix.ag/variacao-do-preco-das-commodities-agricolas-como-funciona/.Maio 21, 2021. 
DONINI, CRISTIANE. EU QUERO INVESTIR. https://www.euqueroinvestir.com/alta-das-commodities-como-a-queda-afeta-as-empresas-e-investimentos/. 07:00 de 22/08/21. 
FAYH, MARCELO. O que são Commodities e Como Funciona o Mercado. 
Fonte: https://comoinvestir.thecap.com.br/o-que-sao-commodities-significado/,21/07/21. 
RICO. O Que São Commodities, Tipos, Vantagens e Como Investir. https://riconnect.rico.com.vc/blog/commodities 31/03/2018. 
ROBERTO C. JOSÉ. As commodities e seu impacto na economia do Brasil. 
https://www.nexojornal.com.br/explicado/2016/03/31/As-commodities-e-seu-impacto-na-economia-do-Brasil, 27/06/21. 
CAPITAL. Commodities do Brasil: importância e principais empresas exportadoras. https://www.capitalresearch.com.br/blog/investimentos/commodities-brasil/,28/04/20.

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