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Storytelling contando histórias nas empresas 51 histórias para 22 situações by Gislayne Avelar Matos (z-lib org)

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AGRADECIMENTO	E	DEDICATÓRIA
	
Agradeço	a	todas	as	empresas,	instituições	e	associações	que,	acreditando	no	poder	do	trabalho	com	as
histórias	em	contexto	organizacional,	têm	sido	boas	parceiras,	ao	longo	de	muitos	anos.
Pioneiras,	elas	vêm	apostando	na	utilização	das	histórias	em	diversos	 formatos	de	 intervenção	em	seu
ambiente	profissional:
Para	 abrir	 ou	 fechar	 treinamentos,	 para	 integrar	 novos	 membros	 na	 equipe	 ou	 formar	 equipes,	 para
introduzir	 mudanças,	 para	 celebrar	 datas	 importantes,	 para	 abrir	 espaço	 à	 inovação.	 E	 também	 para
treinamentos	em	liderança.
A	todas	elas	dedico	este	livro.
	
AÇOFORJA,	Santa	Luzia-MG
AMICULT-ASSOCIAÇÃO	AMIGOS	DO	CENTRO	DE	CULTURA,	Belo	Horizonte-MG
ANDRADE	GUTIERREZ,	Belo	Horizonte-MG
ASSEMBLEIA	LEGISLATIVA	DE	MINAS	GERAIS,	Belo	Horizonte-MG
AUSTER,	São	Paulo-SP
BOX	1824	PLANEJAMENTO	E	MARKETING	LTDA,	São	Paulo-SP
CENTRO	MINEIRO	DE	REFERENCIA	DE	RESÍDUOS,	Belo	Horizonte-MG
CEPEAD:	DEPTO.	DE	ADMINISTRAÇÃO	DA	FACE/UFMG,	Belo	Horizonte-MG
COPASA,	Belo	Horizonte-MG
ESAB	INDUSTRIA	E	COMERCIO	LTDA,	Contagem-MG
FUNDAÇÃO	DOM	CABRAL	-	ESCOLA	DE	NEGÓCIOS,	Belo	Horizonte-MG
ISCEBRA-INSTITO	SÓCIO-CULTURAL	ECOLÓGICO	DO	BRASIL,	Belo	Horizonte-MG
INSTITUTO	HISTÓRICO	E	GEOGRÁFICO	DE	TIRADENTES,	Tiradentes-MG
ITAÚ	CULTURAL,	São	Paulo-SP
ITAÚ	UNIBANCO,	São	Paulo-SP
INOVATECA	-	ITAÚ,	São	Paulo-SP
ISVOR,	Belo	Horizonte-MG
MANESMAN,	Belo	Horizonte-MG
MENDES	JÚNIOR	TRADING	E	ENGENHARIA	S/A,	Belo	Horizonte-MG
MERCANTIL	DO	BRASIL,	Belo	Horizonte-MG
MIND	PERFORMANCE,	Rio	de	Janeiro-RJ
ORTHOCRIN,	Belo	Horizonte-MG
PIC-CIDADE,	Belo	Horizonte-MG
REDE	GLOBO,	Belo	Horizonte-MG/Curitiba-PR/Rio	de	Janeiro-RJ/São	Paulo-SP
SESCOOP-SP,	São	Paulo-SP/Ourinhos-SP/Franca-SP/	VOTUPORANGA-SP
SESC	-RJ,	Três	Rios-RJ
SESI,	Araxá-MG
REDE	PARANAENSE	DE	COMUNICAÇÃO-RPC/AFILIADA	REDE	GLOBO,	Curitiba-PR
SIDERTUBE,	Belo	Horizonte-MG
ST	JUDE	MEDICAL,	Belo	Horizonte-MG
TRIBUNAL	REGIONAL	ELEITORAL,	Belo	Horizonte-MG
TRIBUNAL	DE	JUSTIÇA	DE	MINAS	GERAIS,	Belo	Horizonte-MG
USIMINAS,	Belo	Horizonte	e	Ipatinga-MG
VACCINAR,	Belo	Horizonte	e	Bom	Despacho-MG/	Curitiba-PR
VALE	DO	RIO	DOCE,	Belo	Horizonte-MG
VALLOUREC,	Belo	Horizonte-MG
SUMÁRIO
	
Rubrica	e	contos
Os	contos	e	histórias	de	tradição	oral
Feedback
O	efeito	de	certas	consultorias
Responsabilidade	individual	e	coletiva	sobre	o	resultado
Coragem	para	assumir	riscos
Responsabilidade	social	e	planetária
Necessidade	de	se	renovar
Visão	de	futuro
Autocontrole
Comunicação	interpessoal
Deficiências	na	comunicação
Resistência	à	mudança
Percepção	de	pessoas	e	processos
Qualidades	pessoais	e	objetivos	comuns
Paciência	e	humildade	para	aprender
Capacidade	de	observação
Compreensão	de	momentos	difíceis
Habilidade	para	administrar	conflitos
Arte	nos	negócios
Organização	e	planejamento
Atitude	diante	dos	desafios
Foco	no	resultado
Integração
Referências	bibliográficas
Sobre	a	autora
	
APRESENTAÇÃO
	
Há	 três	 décadas	 trabalhando	 com	 contos,	 ou	 histórias	 de	 tradição	 oral,
inicialmente	nos	contextos	educativo,	terapêutico	e	artístico,	finalmente	em	2010
estendi	minha	 pesquisa	 ao	mundo	 organizacional.	 Tal	movimento	 aconteceu	 a
partir	 de	 um	 convite	 da	 Editora	 Qualitymark	 para	 escrever	 um	 livro	 sobre	 o
Storytelling.
Confesso	que	recebi	com	surpresa	esse	convite,	uma	vez	que	o	ambiente	das
empresas,	 apenas	 a	 partir	 dos	 anos	 1990,	 começou	 a	 se	 interessar	 pelas
narrativas.	Tanto	aquelas	que	correm	nos	seus	corredores,	quanto	a	utilização	de
contos	tradicionais	para	incrementar	diferentes	atividades.
O	livro	em	questão:	Storytelling:	líderes	narradores	de	histórias,	trata	o	tema
de	forma	teórica,	mas	também	sugere	algumas	práticas	que,	tendo	como	eixo	os
contos	 de	 tradição	 oral	 podem	 ser	 utilizadas	 nas	 empresas,	 com	 diversos
objetivos	 e	 em	 treinamentos.	 Tais	 práticas	 tem	 se	mostrado	 comprovadamente
eficazes.
Dizem	 os	 especialistas	 da	 área	 que	 a	 utilização	 de	 contos	 no	 ambiente
organizacional	 facilita	 a	 comunicação,	 acelera	 as	 mudanças	 necessárias	 na
empresa,	 estimula	 a	 inovação	 e	 a	 transmissão	 de	 conhecimentos.	 Eles	 podem
atuar	também,	como	mola	propulsora,	na	gestão	do	conhecimento,	na	construção
da	 memória	 organizacional	 e	 na	 humanização	 do	 ambiente	 de	 trabalho.	 Sua
aplicação	estende-se	desde	as	práticas	de	liderança,	esclarecimentos	de	conceitos
abstratos,	até	o	incremento	de	vendas	e	alavancagem	do	marketing.
Por	 tudo	 isso,	 há	 algum	 tempo,	 as	 empresas	 me	 contratam	 para	 realizar
apresentações	para	seus	empregados,	do	chão	de	fábrica	aos	cargos	de	liderança.
Numa	entrevista	inicial	com	o	cliente,	recolho	dados	sobre	os	objetivos	de	tal
contratação	e	busco	selecionar	contos	que	atendam	às	suas	necessidades.
Estes	 podem	 contribuir	 no	 aquecimento	 de	 equipes	 para	 a	 implantação	 de
programas	 de	 desenvolvimento	 ou	 na	 sua	 mobilização	 em	 torno	 de	 um
determinado	projeto,	o	que	sempre	requer	o	comprometimento	de	todos	com	os
resultados.
Além	 disso,	 esses	 contos	 ajudam	 a	 despertar	 o	 interesse	 para	 temas	 como
integração	 e	 maior	 envolvimento	 pessoal	 e	 profissional.	 Eles	 são	 ainda,	 uma
forma	calorosa	e	acolhedora	para	se	dar	as	boas	vindas	aos	novos	integrantes	de
uma	equipe.	E	são	um	recurso	sem	igual	para	se	refletir	sobre	as	inseguranças	e
incertezas	 geradas	 por	 momentos	 que	 pressupõem	 mudanças,	 adaptações	 e
necessidade	de	inovação.
A	 eficácia	 dos	 contos	 se	 deve	 ao	 fato	 de	 que,	 tendo	 suas	 mensagens	 e
temáticas	 contextualizadas	 em	 cenários,	 e	 uma	 construção	 simples,	 são
facilmente	lembrados.	Quando	se	vive	uma	situação	cuja	estrutura	é		semelhante
a	 de	 um	conto	 ouvido,	 este	 emerge	 da	memória	 profunda	 e	 traz	 respostas	 que
apontam	saídas	e	mostram	soluções.
Os	contos,	diferentemente	de	materiais	técnicos,	que	atuam	apenas	no	registro
da	 lógica,	 usam	 uma	 linguagem	 metafórica,	 incluem	 emoções	 e	 facilitam	 a
identificação	 com	personagens.	 Isto	 faz	 com	que	 conceitos	 complexos	 possam
ser	mais	facilmente	compreendidos.
Por	fim,	minhas	experiências	no	ambiente	empresarial	resultaram	no	livro	que
lhes	apresento	agora.	Nele,	os	líderes	e	o	pessoal	de	RH	poderão	encontrar	uma
compilação	 de	 alguns	 dos	 contos	 que	 tenho	 apresentado	 nas	 empresas.	 Sua
repercussão	 na	 realização	 dos	 objetivos	 propostos	 tem	 sido	 verificada	 e	 sua
eficácia	reconhecida.	
Eles	poderão	ser	utilizados	em	diferentes	situações	organizacionais.	O	fato	de
estarem	elencados	em	uma	determinada	rubrica	não	significa	que	não	abordam
também	 muitas	 outras	 questões.	 Dependerá	 da	 sensibilidade	 do	 profissional
escolher	o	melhor	conto	para	cada	situação.
É	 claro	 que	 contá-los	 com	 graça	 é	 também	 importante	 para	 que	 causem	 o
efeito	 desejado.	Variar	 a	 entonação,	 interpretar	 personagens	 sem	 que	 isso	 seja
uma	 teatralização,	 usar	 as	 expressões	 do	 corpo	 para	 comunicar	 estados	 de
espírito	 dos	 personagens,	 não	 esquecer	 os	 silêncios	 que	 criam	 os	 suspenses,
enfim,	tudo	isso	faz	parte	da	boa	arte	de	contar	histórias.
Boa	leitura	e	sucesso	com	os	contos	que	escolher	contar!
	
	 	
RUBRICA	E	CONTOS
	
Feedback
O	verdadeiro	valor	do	anel
O	 que	 estás	 fazendo	 pela	 vida	 afora	 pretendendo	 que	 qualquer	 um
descubra	teu	valor?
A	navalha
O	que	sucede	às	pessoas	inteligentes	que	preferem	ser	preguiçosas	a	usar
seus	talentos.
A	garrafa
Se	você	se	sente	estimulado…
O	efeito	de	certas	consultorias
O	uso	da	colher
Uma	grande	lição	sobre	como	os	consultores	podem	fazer	certas	diferenças
numa	empresa.														
Responsabilidade	individual	e	coletiva	sobre	o	resultado
O	anel	mágico
Saber	esperar	ajuda	a	conseguir.
A	charrete
Ninguém	sabe	se	não	pode	fazer	algo,	antes	de	tê-lo	tentado.
Coragem	para	assumir	riscos
Para	tudo	há	solução
Como	 reverter	 100%	 de	 chances	 de	 algo	 dar	 errado	 em	 100%	 de
possibilidades	de	dar	certo.
Enigma
Responsabilidade	Social	e	Planetária
Salvando	o	céu
Cada	um	pode	contribuir	com	a	sua	parte.
A	criaçãoe	a	destruição	do	mundo
Vamos	aprender	a	compartilhar	a	 tarefa	de	reinventar	a	vida?	A	história
está	em	aberto.
Necessidade	de	se	renovar
A	decisão	da	águia
Para	enfrentar	um	processo	de	renovação.
A	capa	velha
Antes	de	estar	por	cima,	é	preciso	encarar	desafios.
Visão	de	futuro
O	jovem	rapaz	e	a	estrela	do	mar
Para	esta,	eu	fiz	a	diferença.
A	parreira	de	trinta	anos
O	 idoso	 respondeu	 que	 plantava	 para	 as	 gerações	 futuras.	 Se	 não
plantasse,	certamente,	aquela	espécie	se	extinguiria.													
Autocontrole
O	cavalo	bravio
E	o	que	você	faz,	quando	lhe	sucede	cair	do	cavalo?
O	samurai
As	pessoas	não	podem	lhe	tirar	a	calma,	se	você	não	o	permitir.
Comunicação	interpessoal
Viajantes	no	tempo
	Cada	um	encontra	na	vida	exatamente	o	que	traz	dentro	de	si.
Fábula	da	convivência
Nas	relações	é	importante	saber	manter	a	boa	distância
Deficiências	na	comunicação
A	disputa	das	palavras
Ignorantes,	os	homens	não	sabiam	que	todos	desejavam	a	mesma	coisa.
Os	cegos	e	o	elefante
Ainda	hoje	os	cegos	continuam	brigando.
Resistência	a	mudanças
As	babuchas	de	Abu-Kassin
Por	que	mudar	as	velhas	ideias,	hábitos	e	pensamentos	agora?
O	sapo	e	a	água	quente
Quando	não	percebemos	as	mudanças	à	nossa	volta…
Percepção	de	pessoas	e	processos
O	cavalariço
Falou	durante	mais	de	duas	horas.
O	maior	perigo	para	um	corvo
Um	vento	pelas	costas	é	pior	que	um	exército	pela	frente.
O	mandarim	e	o	alfaiate
Há	quanto	tempo	o	senhor	está	no	cargo?
Qualidades	pessoais	e	objetivos	comuns
O	deficiente	físico	e	o	cego
Podem	assim,	usar	os	pés	de	um	e	os	olhos	do	outro	para	dirigi-los.
Paciência	e	humildade	para	aprender
O	mestre	e	o	jovem	arrogante
Não	sou	tão	jovem	para	saber	tanto!	
A	pedra	na	mão
Ao	final	de	um	ano,	voltou	à	casa	do	mestre.
O	cavalo	velho
Aprenda	também	que	há	tempo	para	tudo,	até	para	aprender	as	coisas	mais
simples.
Capacidade	de	observação
Os	três	homens	perceptivos
Descobrir	a	verdade	por	seus	próprios	meios	seria	melhor	para	todos	nós.
A	pedra	filosofal
Onde,	afinal,	sem	prestar	atenção,	ele	havia	realizado	o	seu	sonho?
Compreensão	dos	momentos	difíceis
O	Homem	cujo	tempo	estava	alterado
É	preciso	reconhecer	e	aceitar	que	a	roda	do	 tempo	às	vezes	gira	contra
nós.
Desejos	jamais	devem	ser	vagos
O	fato	é	que	meu	pedido	foi	atendido.
Habilidade	para	administrar	conflitos
Nada
Pois	pega	este	“nada”	e	vai-te	embora
A	calúnia
Como	explicar	a	gravidade	do	mal	que	provem	da	calúnia?
Arte	nos	negócios
Burro	precioso
Dou	50	moedas	e	fecho	o	negócio.
O	diamante	e	o	mendigo
Quero	estar	informado	com	toda	segurança	do	preço.
O	freguês	sempre	tem	razão
Quando	um	freguês	insiste,	insiste	mesmo!
O	padeiro
Não	há	magia	em	nada	disso.
Organização	e	planejamento
A	formiga	e	a	libélula
Eu,	com	o	meu	plano,	inicio	um	ciclo.
O	caminho
Os	 homens	 têm	 a	 tendência	 de	 seguir	 como	 cegos	 por	 trilhas	 feitas	 por
pessoas	inexperientes.
Paciência	X	xadrez
Paciência	e	rapidez	ao	mesmo	tempo.
Atitude	diante	dos	desafios
As	asas	são	para	voar
Ainda	que	caias,	não	morrerás.
Deus	e	o	agricultor
Os	desafios	são	uma	necessidade.
Foco	no	resultado
O	cume	inviolado
Mas	como	vocês	fizeram	para	chegar	ao	cume?
A	formiga	e	o	grão	de	trigo
Cem	grãos	em	troca	de	um	só...	Mas	isto	é	um	milagre!
O	vendedor	de	água
De	tanto	falar,	ele	ficou	com	sede	e	me	comprou	duas	canecas	grandes!
Integração
Os	gravetos
Estejam	sempre	unidos	e	serão	fortes.
As	codornas
Se	um	fracassa,	todos	fracassam.
O	leão,	o	javali	e	os	urubus
Desta	forma,	o	inimigo	comum	foi	combatido.
A	lição	do	fogo
O	 líder	 acomodou-se	 confortavelmente	 no	 local	 indicado,	 mas	 não	 disse
nada.
	
OS	CONTOS	OU	AS	HISTÓRIAS	DE	TRADIÇÃO
ORAL
	
Os	 contos	 ou	 histórias	 apresentadas	 aqui	 são	 ditos	 de	 tradição	 oral,
tradicionais	 ou	 populares,	 como	 se	 queira.	 Eles	 não	 têm	 autoria	 e	 podem	 ser
encontrados	em	diferentes	culturas	ou	tradições	com	algumas	modificações,	mas
sempre	com	a	mesma	estrutura.	
Da	 tradição	 judaica	 temos:	 “A	 charrete”,	 "Para	 tudo	 há	 solução”,	 "O
cavalariço”,	"O	diamante	e	o	mendigo”.
Da	tradição	sufi:	“Os	três	homens	perceptivos”,	“O	homem	cujo	tempo	estava
alterado”,	 “Viajantes	 do	 tempo”,	 "A	 disputa	 das	 palavras”,	 “Os	 cegos	 e	 o
elefante”,	“O	mestre	e	o	jovem	arrogante”,	bem	como	as	anedotas	de		Nasrudin
e	as	fábulas:	“A	formiga	e	a	libélula”	e	“A	formiga	e	o	grão	de	trigo”.
Da	 tradição	 zen-budista:	 “O	 samurai”,	 "O	 cavalo	 bravio"	 e	 o	 “O	 cavalo
velho”.
Da	cultura	árabe	temos:	“O	anel	mágico”,	“O	verdadeiro	valor	do	anel”,	As
babuchas	 de	 Abu-Kassin”,	 Paciência	 	 x	 	 xadrez”,	 “Os	 gravetos”,	 "Deus	 e	 o
agricultor”	e	“A	parreira	de	trinta	anos”.
Alguns	parecem	ter	sido	construídos	para	situações	organizacionais	como:	“A
lição	do	fogo”,	“O	cume	inviolado”,	"A	garrafa”	e	“O	padeiro”.
Alguns	outros,	embora	sem	precisão	sobre	a	origem,	são	bastante	conhecidos.
Todos	foram	recontados	por	mim.	Cito	ao	final	a	bibliografia	consultada,	mas
nem	 todos	 os	 contos	 tem	 uma	 referencia	 bibliográfica,	 pois	 alguns	 foram
ouvidos	ou	chegaram	a	mim	em	cópias	sem	indicação	de	fonte.
	
FEEDBACK
	
O	verdadeiro	valor	do	anel
O	que	estás	fazendo	pela	vida	afora	pretendendo	que	qualquer	um	descubra	teu
valor?
	
Um	jovem	foi	procurar	um	mestre.	Venho	aqui	mestre,	porque	me	sinto	 tão
pouca	coisa	que	não	tenho	forças	para	fazer	nada.	Dizem-me	que	não	sirvo,	que
não	faço	nada	bem	e	que	sou	bastante	tonto.	Como	posso	melhorar?	Que	posso
fazer	para	que	me	deem	valor?	E	o	mestre,	sem	olhar	para	ele,	disse:
-	Sinto	muito,	rapaz,	não	posso	ajudar-te,	devo	resolver	primeiro	meu	próprio
problema.	 Talvez	 depois...	 -	 e	 fazendo	 uma	 pausa,	 completou:	 -	 	 Se	 quiseres
ajudar-me,	eu	poderia	resolver	meu	problema	com	mais	rapidez	e	depois	talvez
poderia	ajudar-te.
-	 Ó...ótimo,	 mestre	 –	 gaguejou	 o	 jovem,	 apesar	 de	 sentir	 que	 outra	 vez	 era
desvalorizado	e	suas	necessidades	postergadas.
-	 Bom	 -	 assentiu	 o	 mestre	 e	 tirou	 um	 anel	 que	 levava	 no	 dedo	 mindinho.
Passando-o	 ao	 jovem,	 disse:	 -	 Pega	 o	 cavalo	 que	 está	 ali	 fora	 e	 vá	 até	 o
mercado.	Preciso	 vender	 este	 anel	 para	 pagar	 uma	 dívida.	 	 É	 necessário	 que
obtenhas	por	ele	o	máximo	possível,	mas	não	aceites	menos	que	uma	moeda	de
ouro.	Vai	e	regressa	com	essa	moeda	o	mais	rápido	que	puderes.
O	jovem	pegou	o	anel	e	partiu.	Mal	chegou	ao	mercado,	começou	a	oferecê-lo
aos	mercadores.	Estes	o	olhavam	com	algum	interesse,	até	que	o	jovem	dizia	o
que	pretendia	por	ele.	Pois	quando	mencionava	a	moeda	de	ouro,	alguns	 riam,
outros	o	ignoravam.	Somente	um	velhinho	foi	muito	amável	e	lhe	explicou	que
uma	moeda	de	ouro	era	muita	coisa	para	aquele	anel.	Com	intenção	de	ajudar,
alguém	 lhe	ofereceu	uma	moeda	de	prata	e	outro,	uma	de	cobre,	mas	o	 jovem
tinha	 instruções	 de	 não	 aceitar	 menos	 que	 uma	 moeda	 de	 ouro	 e	 rejeitou	 as
ofertas.
Depois	de	oferecer	a	joia	a	todos	que	passavam	pelo	seu	caminho	no	mercado
–	mais	de	cem	pessoas	-	e	abatido	pelo	fracasso,	montou	no	cavalo	e	regressou.
Adoraria	 poder	 ter	 em	 mãos	 aquela	 moeda	 de	 ouro	 e,	 assim,	 entregá-la	 ao
mestre,	liberá-lo	de	suas	preocupações	e	receber,	então,	o	conselho	de	que	tanto
preciso,	pensou	ele.
-	Mestre	–	disse	ao	encontrá-lo:	–	Sinto	muito,	não	é	possível	conseguir	o	que
você	me	pediu.	 	 Talvez	 pudesse	 conseguir	 duas	 ou	 três	moedas	 de	 prata,	mas
creio	que	não	possa	enganar	a	ninguém	sobre	o	verdadeiro	valor	do	anel.
-	Muito	 importante	o	que	disseste,	 jovem	amigo	 	 -	disse	sorrindo	o	mestre.	-
Devemos	saber	primeiro	o	valor	do	anel.	Retorna	a	montar	e	vai	ao	joalheiro.
Quem	 melhor	 para	 sabê-lo?	 Dize	 a	 ele	 que	 gostarias	 de	 vender	 o	 anel	 e
pergunta-lhe	 quanto	 te	 daria	 por	 ele.	 Não	 importa	 o	 que	 ele	 oferecer,	 não	 o
vendas.	Depois	retorna	com	meu	anel.
O	jovem	saiu	a	cavalo.	O	joalheiro	observou	o	anel	à	luz	de	sua	lupa,	pesou-o
e	falou:
-	Diz	ao	teu	mestre,	rapaz,	que	se	ele	quiser	vender	imediatamente,	não	posso
dar	mais	do	que	58	moedas	de	ouro	pelo	anel.
-	58	MOEDAS	!!!!!!-	Exclamou	o	jovem.
-	Sim	-	replicou	o	joalheiro.	-	Sei	que	com	o	tempo	poderíamos	obter	por	ele
cerca	de	70	moedas,	mas	não	sei....se	a	venda	é	urgente...
O	jovem	correu	emocionado	à	casa	do	mestre	e	contou-lhe	o	acontecido.
-	 Senta	 -	 disse	 o	mestre	 depois	 de	 escutá-lo.	 –	Você	 é	 como	 este	 anel,	 uma
joia,	valiosa	e	única.	E	como	tal,	só	pode	ser	avaliado	por	um	especialista.
-	O	que	estás	 fazendo	pela	vida	pretendendo	que	qualquer	um	descubra	 teu
valor?
E	dizendo	isto,	voltou	a	colocar	o	anel	no	dedo	mindinho.	Todos	somos	como
aquela	 joia,	 valiosos	 e	 únicos.	 Mas	 andamos	 pelos	 mercados	 da	 vida
pretendendo	que	gente	ignorante	nos	deem	valor.	Nós	devemos	ser	o	especialista
de	nós	mesmos.
	
A	navalha
O	que	sucede	às	pessoas	inteligentes	que	preferem	ser	preguiçosas	a	usar	seus
talentos.
	
Era	uma	vez	uma	navalha	de	excelente	qualidade	que	morava	numa	barbearia.
Um	dia	em	que	a	loja	estava	vazia,	ela	resolveu	dar	uma	voltinha.	Soltou-se	do
cabo	e	saiu	para	apreciar	o	lindo	dia	de	primavera.
Quando	 a	 navalha	 viu	 o	 reflexo	 do	 sol	 em	 si	 mesma,	 ficou	 surpresa	 e
encantada.	A	lâmina	de	aço	lançava	uma	luz	tão	brilhante	que,	subitamente,	com
excessivo	orgulho,	disse	a	si	mesma:
-	E	eu	vou	voltar	para	aquela	loja	de	onde	acabo	de	fugir?	É	claro	que	não!
Os	deuses	não	podem	querer	que	uma	beleza	tal	como	a	minha	seja	desonrada
desta	maneira.	Seria	loucura	ficar	lá	cortando	as	barbas	ensaboadas	daqueles
camponeses,	 repetindo	 sem	 cessar	 a	mesma	 tarefa	mecânica!	 Será	 que	minha
beleza	 foi	 realmente	 feita	para	um	 trabalho	desses?	Certamente	que	não!	Vou
esconder-me	num	local	secreto	e	passar	o	resto	da	vida	em	paz.
Em	seguida,	foi	procurar	um	escritório	onde	ninguém	a	visse.
Passaram-se	meses.	Um	dia,	a	navalha	teve	vontade	de	respirar	ar	fresco.	Saiu
cautelosamente	 de	 seu	 refúgio	 e	 olhou	 para	 si	mesma.	 O	 que	 aconteceu?	 Sua
lâmina	estava	horrorosa,	parecendo	uma	serra	enferrujada	e	não	refletia	mais	a
luz	do	sol.
A	 navalha	 ficou	 muito	 arrependida	 pelo	 que	 havia	 feito	 e	 lamentou
amargamente	a	irreparável	perda,	dizendo:
-	Oh,	como	teria	sido	melhor	se	eu	tivesse	conservado	em	forma	minha	linda
lâmina	 cortando	 barbas	 ensaboadas!	 Minha	 superfície	 teria	 permanecido
brilhante	e	minha	lâmina	afiada!	Agora	aqui	estou	eu,	toda	corroída	e	coberta
de	uma	horrível	ferrugem!	E	não	há	nada	a	fazer!
O	 triste	 fim	 da	 navalha	 é	 o	mesmo	 que	 sucede	 às	 pessoas	 inteligentes	 que
preferem	 ser	 preguiçosas	 a	 usar	 seus	 talentos.	 Essas	 pessoas,	 assim	 como	 a
navalha,	perdem	o	brilho	e	a	parte	afiada	de	seus	intelectos,	sendo	logo	corroídas
pela	ferrugem	da	ignorância.
	
A	garrafa
Se	você	se	sente	estimulado…
	
Era	 uma	 vez	 um	 homem	 que	 deveria	 ocupar	 um	 alto	 cargo.	 O	 imperador
acabara	de	nomeá-lo	governador	de	uma	grande	província.
Como	esse	homem	tinha	uma	natureza	reflexiva	e	sábia,	decidiu	consultar	um
mestre	para	saber	se	realmente	estava	pronto	para	exercer	tal	poder.
Na	véspera	de	sua	posse	no	cargo,	ele	foi	até	a	casa	do	mestre,	que	ficava	do
outro	 lado	 do	 rio.	 Foi	 bem	 recebido	 pelo	mestre	 que	 o	 convidou	 a	 entrar	 e	 a
sentar-se,	 ouvindo	 atentamente	 o	 que	 ele	 tinha	 a	 dizer.	 Depois	 de	 relatar	 o
motivo	que	o	levara	ali,	o	homem	perguntou:
-	Mestre	será	que	eu	realmente	estou	pronto	para	exercer	tal	poder?
O	 mestre	 nada	 disse.	 Levantou-se	 e	 com	 um	 gesto	 pediu	 ao	 homem	 para
segui-lo.
Eles	 desceram	 até	 a	 vila.	 No	 caminho	 nenhuma	 palavra	 foi	 dita	 e	 nenhum
olhar	que	comunicasse	algo	foi	dado.
O	homem	seguiu	o	mestre	que	andava	muito	rápido.
À	noite,	chegaram	à	vila	e	foram	direto	para	um	albergue.	O	mestre	 indicou
uma	mesa	para	que	o	homem	se	sentasse	e	entrou	nas	dependências	privadas	do
albergue.
O	homem	nada	compreendia.
Logo	o	mestre	 voltou	 com	um	copo	 e	 uma	garrafa	 de	 cachaça,	 colocando-a
sobre	a	mesa	diante	dele.
-	Beba	-	disse	o	mestre.	-	Eu	volto	amanhã.
E	saiu	do	albergue	deixando	o	homem	só,	em	companhia	do	copo,	da	cachaça
e	da	perplexidade.
Após	um	curto	espaço	de	tempo	e	reflexão,		o	homem	abriu	a	garrafa,	encheu
o	copo,	sentiu	o	aroma	da	cachaça	e	virou.	A	cachaça	queimou-lhe	a	garganta,
mas	era	das	boas.	Ele	pensou:	“O	mestre	disse:	 ‘Beba!’	Eu	devo	beber	apenas
um	copo?	Ou	dois?	Ou	toda	a	garrafa?”
Encheu	outro	copo	e	virou.	Seu	estômago	queimou	e	seu	espírito	começou	a
ficar	soltinho.	Ele	virou	o	terceiro	copo.	E	a	noite	passou.
Na	 manhã	 seguinte,	 bem	 cedo,	 a	 porta	 do	 albergue	 se	 abriu	 e	 lá	 estava	 o
mestre	 que	 veio	 se	 sentar	 diante	 dele.	 1/3	 da	 garrafa	 estava	 vazia.	 O	 homem
parecia	cansado,	mas	seu	olhar	estava	claro.	Ele	repetiu	a	pergunta:
-	Mestre	será	que	eu	realmente	estou	pronto	para	exercer	tal	poder?
O	mestre	olhou-o	profundamente	e	disse:
-	Você	veio	me	ver:	você	sabe	decidir.	Você	seguiu	meu	conselho,	você	sabe
escutar	 com	humildade.	E	 você	parou	de	beber	na	hora	 certa,	 você	 sabe	agir
com	temperança,	mas	–	prosseguiu	ele	-	você	se	sente	estimulado	e	sente	prazer
nisso?	Seja	sincero..
O	homem	olhou	nos	olhos	do	mestre	e	disse:
-	Sim!
O	mestre	colocou	sua	mão	no	coração	do	homem	e	disse:
-	Então	você	está	pronto.
	
	 	
O	EFEITO	DE	CERTAS	CONSULTORIAS
	
O	uso	da	colher
Uma	 grande	 lição	 sobre	 como	 os	 consultores	 podem	 fazer	 certas	 diferenças
numa	empresa.
	
Certa	vez,	um	grupo	de	amigos	foi	a	um	novo	restaurante.	Logo	perceberam
que	 o	 garçom	 que	 anotava	 os	 pedidos	 carregava	 uma	 colher	 no	 bolso	 de	 sua
camisa,	o	que	era	meio	estranho.	Quando	o	auxiliar	de	garçom	trouxe-lhes	água
e	 talheres,	 perceberam	 que	 ele	 também	 carregava	 uma	 colher	 no	 bolso	 da
camisa.	 Olharam	 ao	 redor	 e	 viram	 que	 todos	 os	 funcionários	 do	 restaurante
tinham	 colheres	 nos	 bolsos	 de	 suas	 camisas.	 Quando	 o	 garçom	 retornou	 para
servir	o	primeiro	prato,	perguntaram-lhe:
-	Por	que	a	colher	no	bolso?
-	 Bem	 -	 respondeu	 ele	 -	 os	 proprietários	 do	 restaurante	 chamaram	 a
Consultoria	 Anderson	 para	 melhorar	 todos	 os	 nossos	 procedimentos.	 Após
vários	meses	de	análises,	eles	concluíram	que	a	colher	é	o	talher	que	mais	cai
no	 chão.	 Isso	 significa	 uma	 frequência	 de	 aproximadamente	 3	 colheres	 por
mesa/hora.	Se	o	nosso	pessoal	estiver	mais	bem	preparado,	podemos	reduzir	o
número	de	viagens	à	cozinha	para	buscar	colheres	limpas	e	isso	significa	uma
redução	em	15-homens-hora,	por	turno.
Coincidentemente,	 alguém	 do	 grupo	 derrubou	 uma	 colher	 e	 o	 garçom	 pôde
substituí-la	 de	 imediato	 com	 a	 sua	 colher	 sobressalente.	 Em	 seguida,
acrescentou:
	-	Apanharei	uma	nova	colher	na	próxima	vez	que	for	à	cozinha,	ao	invés	de
ir	lá	especialmente	para	essa	tarefa.	
Ficaram	todos	muito	bem	impressionados.	Até	que	perceberam	que	havia	um
barbante	 pendurado	 para	 fora	 do	 zíper	 de	 sua	 calça.	Olhando	 em	 volta,	 viram
que	todos	os	garçons	tinham	um	barbante	similar	para	fora	de	suas	calças.	Antes
que	o	garçom	se	afastasse	da	mesa,	um	deles	perguntou-lhe:
-	 Desculpe-me.	 Mas,	 pode	 me	 explicar	 por	 que	 você	 tem	 um	 barbante
pendurado	bem	aí?
	-	Certamente	-	disse-me	ele;	e,	abaixando	o	 tom	de	sua	voz,	acrescentou:	-
Não	são	todos	que	observam	isso.	A	empresa	de	consultoria	que	lhe	mencionei
também	 descobriu	 que	 podemos	 ganhar	 tempo	 no	 banheiro.	 Amarrando	 esse
barbante,	o	senhor	sabe	aonde,	podemos	puxá-lo	sem	encostar	'naquilo',	e	isso
elimina	 a	 necessidade	 de	 lavarmos	 as	 mãos,	 reduzindo	 o	 tempo	 gasto	 no
lavatório	em	76,39%.
-	E	como	é	que	guarda	o	dito	cujo,	após	usá-lo?	–	outro	perguntou.
-	 Bem	 -	 ele	 sussurrou	 -	 eu	 não	 sei	 sobre	 os	 meus	 colegas,	 mas	 eu	 uso	 a
colher...
	
	 	
RESPONSABILIDADE	INDIVIDUAL	E	COLETIVA
	
O	anel	mágico
Saber	esperar,	ajuda	a	conseguir.
	
Era	uma	vez	um	 lavrador.	Trabalhava	 arduamente.	Certo	dia,	 o	 sol	 estava	 a
pino,	 ele	 parou	 o	 arado	 à	 sombra	 de	 uma	 árvore.	 Olhou	 o	 céu,	 o	 horizonte,
fechou	os	olhos	e,	com	o	queixo	apoiado	nas	mãos,	começou	a	pensarna	vida.
As	 coisas	 estavam	 ficando	 difíceis!	Deu	 um	 longo	 suspiro	 e	 foi	 soltando	 o	 ar
lentamente,	em	 longa	baforada,	assim	mandaria	para	o	espaço	a	depressão	que
teimava	penetrar-lhe	na	alma.	Foi	então	que	viu	aproximar-se	uma	velhinha.	Os
anos	curvavam-lhe	as	costas,	o	andar	era	difícil.	Olhando,	olho	no	olho,	aquele
jovem	lavrador,	ela	disse:
-	Boa	tarde,	jovem,	ouça	o	meu	conselho.
-	Conselho?	-	E	sem	saber	o	porquê	acrescentou:	-	Estou	desnorteado...
-	Abandone	o	serviço	e	caminhe	dois	dias,	em	linha	reta.	No	final	do	segundo
dia,	você	estará	no	meio	de	uma	floresta.	Corte	a	mais	alta	árvore	e	encontrará
sua	fortuna.
Após	 dizer	 estas	 palavras,	 a	 velha	 continuou	 seu	 caminho,	 deixando	 o
lavrador	boquiaberto.	Aturdido	com	o	conselho,	voltou	para	casa,	desatrelou	o
animal,	conversou	com	a	esposa	que	aprovou	a	sua	decisão	de	seguir	o	conselho
da	velha.	Despedindo-se,	pegou	o	machado	e	pôs-se	a	caminho.
No	 final	 do	 segundo	 dia	 encontrou	 a	 árvore.	 Com	 várias	 machadadas	 a
derrubou.	Do	galho	mais	alto	caiu	um	ninho	com	dois	ovos.	Eles	se	quebraram.
De	um	deles	saiu	um	filhote	de	águia	e	do	outro	rolou	um	anel	de	ouro.
O	filhote	foi	crescendo,	crescendo,	até	ficar	adulto	e,	antes	de	alçar	voo	para	o
infinito,	disse:
-	 Obrigada	 por	 libertar-me.	 Fique	 com	 o	 anel	 mágico.	 Se	 desejar	 muito
alguma	 coisa,	 gire-o	 no	 dedo.	 Preste	 atenção:	 você	 tem	 direito	 a	 um	 pedido,
somente	um	pedido.
De	posse	do	anel,	o	 lavrador	começou	a	viagem	de	volta.	Anoitecia	quando
chegou	a	uma	cidade.	Encontrou	um	ourives	parado	 à	porta	da	 loja.	Pediu-lhe
que	avaliasse	o	anel.	Examinando	a	joia,	o	ourives	disse	sorrindo:
-	Não	vale	quase	nada.
-	Errou,	senhor	ourives	-	disse	o	lavrador,	dando	sonora	gargalhada	-	Esta	joia
vale	mais	do	que	sua	loja!	Este	anel	é	mágico	e	vai	me	dar	o	que	eu	quiser.
Ofendido,	o	ourives	pediu	para	ver	novamente	o	anel	e	devolveu-o	dizendo:
-	 Pode	 até	 ser,	mas	 não	me	 interessa.	 -	E	 continuou:	 -	Vejo	 que	 você	 está
longe	de	casa	e	tem	muito	chão	a	percorrer.	Convido-o	a	pousar	em	minha	casa
esta	noite.
O	lavrador	aceitou	a	oferta.	Após	o	jantar,	exausto	como	estava,	não	tardou	a
pegar	 num	 sono	 profundo.	 O	 ourives	 aproveitando	 a	 ocasião,	 sorrateiramente,
trocou	o	anel	por	outro	igualzinho.
Na	 manhã	 seguinte,	 o	 lavrador,	 sem	 desconfiar	 do	 roubo,	 agradeceu	 a
hospitalidade	e	seguiu	viagem.
O	ourives,	tendo	se	certificado	de	que	seu	hóspede	já	estava	longe,	fechou	as
janelas	e	a	porta	da	loja.	Sozinho	em	seu	escritório,	olhou	o	anel	com	cobiça	e
fez	o	pedido	que	lhe	queimava	os	lábios	e	o	coração:
-		Quero	cem	mil	moedas	de	ouro!
Mal	dissera	a	última	palavra	e	as	moedas	caíram	como	chuva.	E	eram	tantas
que	o	soterraram.
Os	 vizinhos,	 vendo	 que	 a	 loja	 estava	 fechada,	 pressentiram	 que	 algo	 de
anormal	 acontecera	 e	 arrombaram	 a	 porta.	 Sob	 a	 montanha	 de	 ouro,	 jazia	 o
corpo	do	ourives.
Enquanto	isso,	o	lavrador	chegou	feliz	em	casa.	Radiante,	contou	à	mulher	a
história	do	anel	e	juntos	pensaram	no	único	pedido	a	que	teriam	direito.	O	que
pedir?	 São	 tantos	 os	 desejos!	 Tantas	 as	 necessidades!	 Prudentes,	 eles	 não	 se
deixaram	dominar	pela	cobiça.
-	Olhe,	mulher,	vamos	guardar	o	pedido.	Se,	durante	um	ano,	 trabalharmos
com	afinco,	poderemos	aumentar	nossa	propriedade.
Assim	disseram,	assim	fizeram.
E	durante	aquele	ano	e	nos	muitos	outros	que	se	seguiram,	trabalharam	muito
e,	nos	momentos	de	dificuldade,	se	abraçavam,	olhavam	carinhosamente	para	o
anel,	pensavam	que	poderiam	vencer	a	dificuldade	apresentada	sem	ter	de	fazer
o	pedido.
-	 Vamos	 guardar	 o	 pedido	 para	 uma	 emergência	 -	 diziam,	 prudentes,	 e	 se
sentiam	fortalecidos.
Foram	recompensados.	Prosperaram	e	eram	felizes.
O	lavrador	morreu	já	bem	velho,	logo	depois	de	ter	ficado	viúvo.
Antes	do	enterro,	o	filho	caçula	quis	ficar	com	a	joia	que	o	pai	usava	há	mais
de	quarenta	anos	no	mesmo	dedo.	Porém,	o	irmão	mais	velho	ponderou:
-	 Não!	 Vamos	 enterrar	 o	 nosso	 pai	 com	 o	 anel	 em	 seu	 dedo,	 onde	 sempre
esteve.	 Quantas	 vezes	 surpreendemos	 os	 dois	 olhando	 carinhosamente	 este
anel?	Com	certeza,	eles	tinham	um	segredo!
E	assim,	o	velho	foi	enterrado	com	o	anel	que	julgava	mágico,	sem	nunca,	ele
e	a	mulher,	terem	feito	o	pedido.
Nós	sabemos	a	verdade.	E	sabemos	também	que	aquele	casal	teve	a	fortuna	e
a	felicidade	que	nenhum	poder	mágico	teria	capacidade	de	realizar.
	
A	charrete
Ninguém	sabe	se	não	pode	fazer	algo	antes	de	tê-lo	tentado.
	
Um	homem	encontrou	em	seu	caminho	uma	charrete	virada,	que	atrapalhava	a
passagem.	O	camponês	que	conduzia	a	charrete	pediu	ao	viajante	que	o	ajudasse
a	colocar	a	charrete	no	lugar.
-	 Como	 é	 que	 apenas	 dois	 homens	 poderiam	 virar	 uma	 carga	 tão	 pesada
como	essa	charrete?	É	inútil...	Eu	não	posso	ajudá-lo	-	disse	o	homem,	ao	que	o
camponês	respondeu:
-	Você	pode,	mas	não	quer!	Esta	é	a	verdade:	você	não	quer!
Tocado	pelo	que	dissera	o	camponês,	o	viajante	pôs-se	ao	trabalho.	Procurou
umas	 pranchas	 e	 ajudou	 o	 charreteiro	 a	 deslizá-las	 sob	 as	 rodas.	 Depois,
servindo-se	de	uma	alavanca,	os	dois	homens	conseguiram	levantar	a	charrete.	O
camponês	 afagou	 os	 bois	 e,	 depois	 de	 colocar	 a	 carga	 novamente	 no	 lugar,
preparou-se	para	continuar	seu	caminho.
O	viajante	então	disse	ao	camponês:
-	Posso	seguir	um	pouco	do	caminho	ao	seu	lado?
-	Com	prazer!
Começaram	 a	 andar	 lado	 a	 lado.	 Depois	 de	 um	 momento	 de	 silencio,	 o
viajante	perguntou:
-	Como	você	pôde	pensar	que	eu	não	queria	ajudá-lo?
-	Eu	pensei	porque	você	disse	que	não	podia.	Ninguém	sabe	se	não	pode	fazer
algo	antes	de	tê-lo	tentado.
-	Mas	como	você	pôde	pensar	que	eu	poderia	fazê-lo?
-	Assim	que	percebi	que	você	havia	sido	colocado	no	meu	caminho!
-	 Então	 você	 acredita	 que	 sua	 charrete	 virou	 apenas	 para	 que	 eu	 pudesse
ajudá-lo?
-	E	por	que	outra	razão	seria,	meu	irmão?	-	respondeu	o	camponês.
	
	 	
CORAGEM	PARA	ASSUMIR	RISCOS
	
Para	tudo	há	solução
Como	reverter	100%	de	chances	de	algo	dar	errado	em	100%	de	possibilidades
de	dar	certo.
	
Um	rapaz	foi	preso	e	acusado	de	um	terrível	assassinato.
Apesar	de	afirmar	e	reafirmar	que	era	inocente,	ninguém	lhe	deu	ouvidos.	O
rei	 precisava	de	 um	bode	 expiatório	 para	 distrair	 o	 povo	da	 revolta	 que	 sentia
pelas	coisas	erradas	que	andava	fazendo	contra	os	cidadãos.
A	única	pessoa	que	visitava	o	prisioneiro	era	um	rabino.	Sempre	que	chegava
à	 prisão,	 o	 rapaz	 lhe	 falava	 de	 sua	 falta	 de	 esperança,	 de	 toda	 sua	 tristeza	 e
angustia	 por	 estar	 naquela	 situação	 sem	 saída.	Ambos	 sabiam	que	não	haveria
um	julgamento	justo	e	que	o	rapaz	seria	condenado	à	morte.
O	rabino	o	ouvia	atentamente	e	no	final	lhe	dizia	para	não	se	esquecer	de	que
para	tudo	há	uma	solução.
No	dia	do	julgamento,	o	rapaz	foi	levado	à	presença	do	Rei	e	sua	corte.	O	Rei
lhe	disse:
-	 Você	 terá	 50%	de	 chance	 de	 ser	 declarado	 inocente	 e	 50%	de	 sair	 como
culpado.	 Vou	 escrever	 em	 dois	 pedaços	 de	 papel.	 Em	 um	 estará	 escrito
“inocente”;	no	outro,	“culpado”.	Você	deverá	sortear	um	desses	papéis	e	nele
estará	sua	sentença.
Nesse	 momento,	 o	 rapaz	 teve	 certeza	 de	 que	 seria	 condenado,	 pois	 o	 Rei,
certamente,	escreveria	culpado	em	ambos	e	assim	ele	não	teria	como	se	salvar.
De	fato.
Chegado	 o	 momento	 do	 sorteio,	 o	 rapaz	 ainda	 não	 via	 solução	 para	 seu
problema.	 Mas,	 quando	 pegou	 o	 papel,	 imediatamente	 o	 levou	 à	 boca	 e	 o
engoliu.
O	rei	ficou	furioso	e	gritou:
-	 Como	 vamos	 saber	 qual	 a	 sentença	 que	 você	 se	 deu,	 se	 você	 engoliu	 o
papel?
O	rapaz	respondeu	tranquilo:
-	 É	 só	 olhar	 o	 papel	 que	 sobrou	 e	 Vossa	Majestade	 saberá	 qual	 foi	 o	 que
escolhi	e	engoli,		este	que	sobrou	é	o	seu	contrario.
Foi	assim	que	o	rapaz	reverteu	100%	de	chances	de	ser	condenado	em	100%
de	possibilidades	de	ser	absolvido.
	
Enigma
	
Um	cortesão	da	corte	do	grande	 imperador	mongol,	Akbar,	 traçou	 	com	um
giz	 uma	 linha	 no	 chão	 e	 pediu	Mahesh	 Das	 para	 encurtá-lasem	 tocá-la	 nem
apagá-la.	Mahesh	Das	abaixou-se	e	 traçou	 	outra	 linha	mais	 longa	ao	 lado	 	da
primeira.
	
	 	
RESPONSABILIDADE	SOCIAL	E	PLANETÁRIA
	
Salvando	o	céu
Cada	um	pode	contribuir	com	sua	parte.
	
Um	dia,	um	elefante	viu	um	beija-flor	deitado	na	grama	com	o	bico	e	os	pés
muito	finos	para	cima.
-	O	que	está	fazendo?	-	Perguntou	o	elefante.
-	Eu	soube	que	o	céu	vai	sofrer	um	colapso	e	cair	sobre	nós,	hoje	mesmo.	Se
isso	 realmente	 for	 acontecer,	 já	 estou	 pronto	 para	 colaborar	 com	 a	 minha
pequena	parte.
O	elefante	riu	e	zombou	da	pequena	ave:
-	E	você	acredita	que	seus	pés,	assim	tão	frágeis,	poderão	segurar	o	céu?
-	Não	se	eu	estiver	sozinho.	Mas	cada	um	pode	contribuir	com	a	sua	parte.
Esse	é	o	meu	modo	de	fazê-lo.
	
A	criação	e	a	destruição	do	mundo
Vamos	aprender	a	compartilhar	a	 tarefa	de	reinventar	a	vida?	A	história	está
em	aberto.
	
Foi	Tiramãe	Tujá	quem	contou	esta	história.
Tiramãe	Tujá	era	um	índio	guarani	que	tinha	a	idade	e	a	sabedoria	dos	grandes
jequitibás.
E	 ele	 nunca	 se	 sentia	 à	 vontade	 no	 meio	 da	 chamada	 civilização.	 Um	 dia,
comentou	com	um	amigo:
-	A	alma	desse	povo	da	cidade	é	uma	alma	de	pedra,	que	nem	a	de	um	dos
irmãos	gêmeos	que	criaram	as	coisas	da	Terra.
-	E	como	é	a	história	desses	gêmeos?	-	Quis	saber	o	amigo.
E	Tiramãe	Tujá	contou	assim:
No	início	dos	tempos,	não	havia	nada,	havia	só	Tupã,	o	Criador,	o	Senhor	de
si	mesmo.	Foi	então	que	Tupã	resolveu	colocar	na	Grande	Roça	(que	era	o	nada)
dois	 irmãos	 gêmeos:	Nhanderequei	 e	Nhanderuvutsu,	 dois	 curumins,	 para	 que
eles	cultivassem	o	mundo.
Deu,	então,	a	cada	um	deles,	um	popyguá,	 isto	é,	uma	vara	com	o	poder	de
criar.
Os	dois	curumins	saíram	caminhando	com	suas	varas.
Aí,	um	deles	girou	o	popyguá	e	inventou	o	céu.	Os	dois	acharam	aquilo	muito
engraçado	e	começaram	a	rir.	O	outro	também	girou	sua	varinha	e	fez	surgirem
as	estrelas.
Parecia	uma	grande	brincadeira,	 e,	 assim,	os	dois	 foram	criando,	 sem	parar:
rios,	pedras,	matas,	tatus,	tatuíras	e	baratas.	Montanhas,	peixes,	cores,	a	relva,	o
vento	e	as	flores.	Até	que,	de	tanto	inventar,	os	dois	ficaram	cansados.
Pararam	para	descansar	e	ficaram	com	fome.	Então,	um	deles	girou	a	varinha
e	da	terra	brotaram	as	mangas,	os	abacaxis	e	as	bananas.
Depois	 tiveram	 vontade	 de	 ter	 um	 abrigo.	 Foi	 só	 uma	 girada	 na	 varinha,	 e
apareceram	as	ocas.
Sobre	a	criação	das	mulheres,	a	história	não	fala	nada.	Mas	imagino	que	elas
devem	ter	sido	criadas	junto	com	as	fontes,	as	libélulas	e	as	maritacas.
Só	sei	que,	quando	os	gêmeos	se	deram	conta,	o	mundo	estava	todo	criado.	E
eles	continuaram	achando	tudo	muito	engraçado.
Até	que,	um	dia,	Nhanderequei	riscou	com	a	vara	uma	área,	fez	ali	o	desenho
de	todas	as	coisas	que	ele	havia	criado	e	disse:
-	Isso	é	tudo	meu.
Nhanderuvutsu	disse:
-	Está	bem.
E	afastou-se	do	irmão	e	foi	criando,	sozinho,	outras	coisas.
Um	dia,	seu	irmão	apareceu	à	sua	frente,	cheio	de	criações,	e	disse:
-	Tudo	o	que	você	está	criando	está	errado.	As	coisas	que	eu	crio	são	muito
mais	bonitas.	Chega	pra	lá,	que	eu	quero	colocar	aqui	as	minhas	criações.
Nhanderuvutsu	 afastou-se,	 dando	 lugar	 para	 o	 irmão	 e	 ficou	morando	 lá	 no
interior	da	mata,	enquanto	Nhanderequei	ia	tomando	conta	de	tudo.
Mas	havia	 um	 segredo	deixado	por	Tupã	nos	 popyguás:	 se	 eles	 não	 fossem
usados	 com	 o	 mesmo	 peso	 e	 a	 mesma	 medida,	 pelos	 dois	 irmãos,	 uma	 das
varinhas	 iria	 destruir	 tudo	 o	 que	 já	 tinha	 sido	 criado	 e,	 ao	 final,	 até	 o	 próprio
Criador.
A	história	de	Tiramãe	Tujá	acaba	aqui.
E,	agora,	vocês	vão	me	perguntar:
-	E	o	que	foi	que	aconteceu?
-	E	eu	vou	dizer:	Também	não	sei.	O	tempo	é	que	vai	dizer.	Porque	esta	é	a
história	 da	 criação	 do	mundo	 e,	 também,	 da	 sua	 possível	 destruição.	 Cabe	 a
nós,	o	povo	do	coração	de	pedra	decidir:	vamos	pelo	caminho	da	ganância	ou
vamos	 aprender	 a	 compartilhar	 com	 todos	 os	 seres	 a	 tarefa	 de	 reinventar	 a
vida?	A	história	está	em	aberto.
	
	 	
NECESSIDADE	DE	SE	RENOVAR
	
A	decisão	da	águia
Para	enfrentar	um	processo	de	renovação.
	
A	águia	é	uma	ave	que	chega	a	viver	até	setenta	anos.	Mas	para	alcançar	essa
idade,	ela	tem	de	tomar	uma	séria	decisão	por	volta	dos	quarenta	anos.
É	uma	fase	em	que	está	com	as	unhas	compridas,	flexíveis	e	já	não	consegue
caçar.	 Seu	 bico	 alongado	 e	 pontiagudo	 está	 curvo.	 Suas	 asas,	 envelhecidas	 e
pesadas,	 por	 causa	 da	 grossura	 das	 penas,	 apontam	 para	 o	 peito.	Voar	 está	 se
tornando	uma	tarefa	difícil.
Então,	a	águia	tem	apenas	duas	alternativas:	morrer	ou	enfrentar	um	dolorido
processo	de	renovação	que	irá	durar	cento	e	cinquenta	dias.
Este	processo	consiste	em	voar	para	o	alto	de	uma	montanha	e	recolher-se	a
um	ninho,	 próximo	 a	 um	paredão	 rochoso	onde	 ela	 não	necessite	 voar.	Tendo
encontrado	 esse	 lugar,	 a	 águia	 começa	 a	 bater	 com	 o	 bico	 contra	 a	 rocha	 até
conseguir	arrancá-lo.	Após	arrancá-lo,	espera	nascer	um	novo	bico	com	o	qual
vai	depois	arrancar	as	unhas.
E	quando	as	unhas	novas	começam	a	nascer,	ela	se	põe	a	arrancar	as	velhas
penas.	Somente	depois	de	cinco	meses,	sai	para	o	seu	famoso	voo	da	vitória.	E
poderá	então,	viver	mais	trinta	anos.
	
A	capa	velha
Antes	de	estar	por	cima,	é	preciso	encarar	desafios.
	
Sobre	a	mesa,	o	corte	de	linho	envaidecia-se	de	sua	beleza	e	qualidade.
–	Em	que	linda	roupa	me	transformarei!	–	exclamou,	orgulhoso.
De	repente,	o	linho	reparou	numa	capa	velha	e	puída	atirada	num	canto.	Com
desprezo,	o	linho	novo	disse	à	capa	velha:
–	Ora,	seu	trapo	imundo!	Que	coisa	mais	feia!
Passados	vários	dias,	o	dono	do	linho	mandou	fazer	com	ele	uma	roupa.	Mas,
ao	sair	à	rua,	apesar	disso,	jogou	por	cima	a	capa	velha.	Quando	a	roupa	nova	a
reconheceu,	ficou	toda	ressentida:
–	Como	 foi	que,	de	 repente,	 você	 ficou	 tão	 importante	a	ponto	de	estar	por
cima	de	mim?
Respondeu	a	capa	velha:
–	Primeiro,	mandaram	me	lavar.	Torceram-me	com	toda	vontade	para	tirar	a
poeira,	 a	 terra	 e	 a	 lama	 que	 havia.	Quando	 acabaram,	 pensei:	 puxa,	 valeu	 a
pena	tanto	sofrimento	para	ficar	limpa	de	novo!	Olhem	só!	Não	pareço	melhor,
mais	 bonita	 do	 que	 antes?	 Enquanto	 eu	 pensava	 assim,	 meteram-me	 num
caldeirão	 de	 água	 quente,	 depois	 num	 outro,	 de	 água	 morna.	 Lavaram-me,
enxaguaram,	 secaram,	 passaram.	 De	 repente,	 quando	 olhei,	 havia-me
transformado	numa	roupa	linda!	Dei-me	conta,	então,	de	que,	antes	de	estar	por
cima,	é	preciso	encarar	desafios.
	
	 	
VISÃO	DE	FUTURO
	
O	jovem	rapaz	e	a	estrela	do	mar
Para	esta,	eu	fiz	a	diferença.
	
Era	 uma	 vez	 um	 escritor,	 que	 morava	 numa	 praia	 tranquila,	 junto	 a	 uma
colônia	 de	 pescadores.	 Todas	 as	 manhãs,	 ele	 passeava	 à	 beira	 mar,	 para	 se
inspirar,	e	à	tarde	ficava	em	casa,	escrevendo.
Um	dia,	caminhando	pela	praia,	ele	viu	um	vulto	que	parecia	dançar.	Quando
chegou	perto,	era	um	jovem	pegando	na	areia	as	estrelas	do	mar,	uma	por	uma,	e
jogando	novamente	de	volta	ao	oceano.
-	Por	que	você	está	fazendo	isto?	-	Perguntou	o	escritor.
-	Você	não	vê?	 -	 disse	o	 jovem	 -	A	maré	está	baixa	e	o	 sol	 está	brilhando.
Elas	vão	secar	no	sol	e	morrer,	se	ficarem	na	areia.
-	Meu	jovem,	existem	milhares	de	quilômetros	de	praia	por	este	mundo	afora
e	 centenas	 de	 milhares	 de	 estrelas	 do	 mar	 espalhadas	 pelas	 praias.	 Que
diferença	 faz?	 Você	 joga	 umas	 poucas	 de	 volta	 ao	 oceano.	 A	 maioria	 vai
perecer	de	qualquer	forma.
O	 jovem	pegou	mais	 uma	 estrela	 na	 areia,	 jogou	 de	 volta	 ao	 oceano,	 olhou
para	o	escritor	e	disse:
-	Pra	essa,	eu	fiz	a	diferença.
Naquela	noite,	o	escritor	não	conseguiu	dormir	nem	conseguiu	escrever.
De	manhãzinha	 foi	 para	 a	 praia,	 reuniu-se	 ao	 jovem	 e	 juntos	 começaram	 a
jogar	estrelas	do	mar	de	volta	ao	oceano.
	
A	parreira	de	trinta	anos
O	 idoso	 respondeu	 que	 plantava	 para	 as	 gerações	 futuras.	 Se	 não	 plantasse,
certamente,	aquela	espécie	se	extinguiria.
	
Um	rei	passeava	pelo	seu	reino	quando,	de	repente,	ordenou	ao	cocheiro	que
parasse	 a	 carruagem,	 poisavistara,	 à	 margem	 da	 estrada,	 um	 homem	 idoso
plantando	uma	muda	de	parreira.
O	rei	entendia	bem	de	uvas	e	sabia	que	aquela	muda	era	de	uma	espécie	rara
que	levaria,	pelo	menos,	trinta	anos	para	começar	a	produzir.
Observando	a	idade	do	homem,	não	se	conteve,	aproximou-se	e	disse:
-	 Meu	 amigo,	 você	 sabe	 que	 esta	 parreira	 vai	 levar	 uns	 trinta	 anos	 para
começar	a	produzir?
O	homem	respondeu-lhe	que	sabia.	O	rei	argumentou:
-	Na	 sua	 idade,	 provavelmente,	 você	 não	 terá	 oportunidade	 de	 saborear	 as
uvas	dessa	magnífica	parreira!
O	idoso	respondeu-lhe	que	não	estava	pensando	nisso,	pois	plantava	para	as
gerações	 futuras,	 seus	 netos	 e	 bisnetos,	 e	 se	 ele	 não	 a	 plantasse,	 certamente,
aquela	espécie	se	extinguiria.
O	rei	sorriu	e	disse-lhe:
-	 Vamos	 fazer	 um	 trato,	 quando	 esta	 parreira	 começar	 a	 produzir,	 se	 você
ainda	for	vivo	e	eu	também,	por	favor,	leve-me	uns	cachos	de	uva	para	que	eu
possa	saboreá-las.
O	rei	despediu-se,	continuou	seu	passeio	e	logo	se	esqueceu	do	homem	e	do
trato	feito,	pois	chegou	à	conclusão	de	que	daí	a	trinta	anos,	certamente,	ele	e	o
velho	não	estariam	vivos.
O	 tempo	passou...Trinta	anos	se	passaram.	A	parreira,	 finalmente,	 floresceu,
formaram-se	 cachos	 e	 as	 uvas	 amadureceram.	 Todos	 na	 região	 ficavam
encantados	ao	ver	cachos	tão	grandes	de	uvas	doces	como	o	mel.
O	homem,	agora,	muito	velhinho	e	encurvado,	não	se	esqueceu	do	trato	com	o
rei	e	fez	questão	de	levar-lhe	os	primeiros	cachos	colhidos.
Chegando	ao	palácio,	 se	 fez	anunciar.	O	 rei	 foi	 informado	de	que	ali	 estava
um	velhinho,	com	uma	cesta	de	uvas,	dizendo	estar	cumprindo	um	trato	feito	há
mais	de	trinta	anos.
O	rei,	também	já	bastante	idoso,	recebeu-o	com	todas	as	honras	e	ficou	muito
feliz,	degustando	as	uvas.	Em	 recompensa	por	 aquele	gesto,	presenteou-o	com
sacos	 de	 moedas	 de	 ouro.	 O	 velho	 viveu	 na	 opulência	 o	 resto	 de	 seus	 dias,
deixando	muito	rica	toda	sua	família	e	sua	descendência.
Ora,	 morava	 naquela	 região	 uma	 mulher	 muito	 invejosa.	 Quando	 ficou
sabendo	 da	 inesperada	 riqueza	 do	 homem,	 pensou:	 “se	 o	 rei	 recompensou	 tão
generosamente	aquele	velho,	por	um	cesto	de	uvas,	certamente	vai	me	oferecer
muito	mais	se	eu	lhe	levar	um	cesto	bem	maior”.
Assim	 pensando,	 assim	 fez,	 dirigindo-se	 ao	 palácio	 real.	 Só	 que	 suas	 uvas
eram	 muito	 comuns,	 daquelas	 parreiras	 que	 não	 demoram	 nem	 um	 ano	 para
produzir.
Chegando	ao	palácio,	ela	se	 fez	anunciar.	O	rei	mandou	 lhe	dizer	que	não	a
conhecia	 e	 não	 aceitava	 aquelas	 uvas.	 Ainda	 ordenou	 aos	 criados	 que	 a
expulsassem.
Ela	saiu	sem	entender	o	porquê	da	atitude	real.
Mas,	 nós	 que	 conhecemos	 a	 história	 desde	 o	 princípio,	 entendemos	 bem	 o
procedimento	do	rei.
	
	 	
AUTOCONTROLE
	
O	cavalo	bravio
E	o	que	você	faz	quando	lhe	sucede	cair	do	cavalo?
	
Um	aldeão,	 homem	 rude,	 de	 pouca	 educação	 e	 pouca	 cortesia,	mas	 sincero,
procurou	o	sábio	de	sua	aldeia	e,	queixando-se,	confessou-lhe	que	tinha	um	mau
impulso	 que	 o	 dominava	 constantemente	 e	 o	 arrastava	 para	 situações
constrangedoras	 e,	 às	 vezes,	 até	 arriscadas.	Quando	 era	 dominado	 pela	 cólera,
tornava-se	um	animal	furioso	e	irracional,	fazendo	todo	tipo	de	besteiras.
-	Sabes	montar	a	cavalo?	-	perguntou-lhe	o	sábio.
-	 Sei	 -	 respondeu	prontamente	 o	 aldeão.	E	monto	 com	perícia.	 Sei	 lidar	 até
com	cavalos	bravios.
-	E	o	que	você	faz,	quando	lhe	sucede	cair	do	cavalo?
-	Monto	outra	vez	-		respondeu-lhe	o	aldeão,	com	certa	empáfia.
-	Pois	bem!	Faça	de	conta	que	o	mau	impulso	é	o	cavalo	selvagem.	Se	caíres,
torna	 a	 montar.	 No	 fim,	 terás	 domado	 o	 cavalo	 bravio.	 Um	 ser	 humano	 de
verdade	é	aquele	capaz	de	domar	seus	cavalos	selvagens.
	
O	samurai
As	pessoas	não	podem	lhe	tirar	a	calma,	se	você	não	o	permitir.
	
Perto	de	Tóquio,	vivia	um	grande	Samurai,	já	idoso,	que	agora	se	dedicava	a
ensinar	o	zen	aos	 jovens.	Apesar	de	sua	 idade,	corria	a	 lenda	de	que	ainda	era
capaz	de	derrotar	qualquer	adversário.	Certa	 tarde,	um	guerreiro	conhecido	por
sua	total	falta	de	escrúpulos	apareceu	por	ali.	Era	famoso	por	utilizar	a	técnica	da
provocação,	 	esperando	que	seu	adversário	 fizesse	o	primeiro	movimento	e,	só
então,	contra-atacava	com	velocidade	fulminante.
O	jovem	e	impaciente	guerreiro	jamais	havia	perdido	uma	luta.	Conhecendo	a
reputação	do	Samurai,	estava	ali	para	derrotá-lo	e	aumentar	sua	fama.	Todos	os
estudantes	se	manifestaram	contra	a	ideia,	mas	o	velho	aceitou	o	desafio.	Foram
todos	 para	 a	 praça	 da	 cidade	 e	 o	 jovem	 começou	 a	 insultar	 o	 velho	 mestre.
Chutou	algumas	pedras	 em	 sua	direção	 e	 cuspiu	 em	 seu	 rosto,	 gritou	 todos	os
insultos	conhecidos,	ofendendo	inclusive	seus	ancestrais.	Durante	horas,	fez	tudo
para	 provocá-lo,	 mas	 o	 velho	 permaneceu	 impassível.	 No	 final	 da	 tarde,
sentindo-se	 já	 exausto	 e	 humilhado,	 o	 impetuoso	 guerreiro	 retirou-se.
Desapontados	pelo	 fato	de	seu	mestre	aceitar	 tantos	 insultos	e	provocações,	os
alunos	perguntaram:
	 -	Como	 o	 senhor	 pôde	 suportar	 tanta	 indignidade?	Por	 que	 não	 usou	 sua
espada,	mesmo	sabendo	que	podia	perder	a	luta,	ao	invés	de	mostrar-se	covarde
diante	de	todos	nós?
-	 Se	 alguém	 chega	 até	 você	 com	 um	 presente	 e	 você	 não	 o	 aceita,	 a	 quem
pertence	o	presente?	-	perguntou	o	mestre	samurai.
-	A	quem	tentou	entregá-lo.	-	respondeu	um	dos	discípulos.
-	O	mesmo	vale	para	a	inveja,	a	raiva	e	os	insultos	-	disse	o	mestre.	-	Quando
não	são	aceitos,	continuam	pertencendo	a	quem	os	carregava	consigo.
A	sua	paz	 interior,	depende	exclusivamente	de	você.	As	pessoas	não	podem
lhe	tirar	a	calma,	se	você	não	o	permitir...
	
	 	
COMUNICAÇÃO	INTERPESSOAL
	
Viajantes	no	tempo
Cada	um	encontra	na	vida	exatamente	o	que	traz	dentro	de	si.
	
Conta	a	lenda,	que	um	jovem	chegou	à	beira	de	um	oásis,	junto	a	um	povoado
e,	aproximando-se	de	um	ancião,	perguntou-lhe:
-	Que	tipo	de	pessoas	vivem	neste	lugar?
O	ancião,	por	sua	vez,	perguntou:
-	Que	tipo	de	pessoas	vivem	no	lugar	de	onde	você	vem?
-	 Oh!	 Um	 grupo	 de	 egoístas	 e	 malvados.	 -	 respondeu-lhe	 o	 rapaz	 -	 Estou
satisfeito	de	haver	saído	de	lá.
A	isso	o	ancião	replicou:
-	A	mesma	coisa	você	haverá	de	encontrar	por	aqui.
No	mesmo	dia,	um	outro	jovem	se	acercou	do	oásis	para	beber	água	e	vendo	o
ancião	perguntou-lhe:
-	Que	tipo	de	pessoas	vivem	por	aqui?
O	ancião	respondeu	com	a	mesma	pergunta:
-	Que	tipo	de	pessoas	vivem	no	lugar	de	onde	você	vem?
E	o	rapaz	respondeu:
-	 Um	 magnífico	 grupo	 de	 pessoas,	 amigas,	 honestas,	 hospitaleiras.	 Fiquei
muito	triste	por	ter	que	deixá-las.
O	ancião	respondeu:
-	O	mesmo	encontrará	por	aqui.
Um	homem	que	havia	escutado	as	duas	conversas,	perguntou	ao	velho:
-	Como	é	possível	dar	respostas	tão	diferentes	à	mesma	pergunta?
E	o	ancião	respondeu:
-	 Cada	 um	 carrega	 no	 seu	 coração	 o	 meio	 em	 que	 vive.	 Aquele	 que	 nada
encontrou	 de	 bom	 nos	 lugares	 por	 onde	 passou,	 não	 poderá	 encontrar	 outra
coisa	por	aqui.	Aquele	que	encontrou	amigos	ali,	também	os	encontrará	aqui.
Somos	 todos	 peregrinos!	 Cada	 um	 encontra	 na	 vida	 exatamente	 o	 que	 traz
dentro	de	si.
	
Fábula	da	convivência
Nas	relações	é	preciso	saber	manter	a	boa	convivência.
	
Durante	uma	era	glacial,	muito	remota,	quando	parte	do	globo	terrestre	esteve
coberta	 por	 densas	 camadas	 de	 gelo,	 muitos	 animais	 não	 resistiram	 ao	 frio
intenso	 e	 morreram	 indefesos,	 por	 não	 se	 adaptarem	 às	 condições	 do	 clima
hostil.
Foi	então	que	uma	grande	manada	de	porcos-espinhos,	numa	 tentativa	de	se
proteger	e	 sobreviver,	 começou	a	 se	unir	 e	 juntar-se	mais	e	mais.	Assim,	cada
um	 podia	 sentir	 o	 calor	 do	 corpo	 do	 outro.	 E	 todos	 juntos,	 bem	 unidos
agasalhavam-se	mutuamente,	 aqueciam-se,	 enfrentando	por	mais	 tempo	 aquele
inverno	tenebroso.
Porém,	 vida	 ingrata,	 os	 espinhos	 de	 cada	 um	 começaram	 a	 ferir	 os
companheiros	mais	próximos,	justamente	aqueles	que	lhes	forneciam	mais	calor,
aquele	calor	vital,	questãode	vida	ou	morte.	E	afastaram-se,	feridos,	magoados,
sofridos.	Dispersaram-se,	por	não	suportarem	mais	 tempo	os	espinhos	dos	seus
semelhantes.	Doíam	muito...
Mas,	essa	não	foi	a	melhor	solução,	afastados,	separados,	 logo	começaram	a
morrer	 congelados.	 Os	 que	 não	 morreram	 voltaram	 a	 se	 aproximar,	 pouco	 a
pouco,	 com	 jeito,	 com	 precauções,	 de	 tal	 forma	 que,	 unidos,	 cada	 qual
conservava	certa	distância	do	outro,	mínima,	mas	o	suficiente	para	conviver	sem
magoar,	sem	causar	danos	recíprocos.
Assim	resistiram	à	longa	era	glacial	e	sobreviveram.
	
	 	
DEFICIÊNCIAS	NA	COMUNICAÇÃO
	
A	disputa	das	palavras
Ignorantes,	os	homens	não	sabem	que	todos	desejavam	a	mesma	coisa.
	
Um	homem	doou	uma	moeda	de	prata	a	quatro	pessoas.	Uma	delas,	um	persa,
disse:
-	Com	esta	moeda,	quero	comprar	angur.
O	segundo,	um	árabe,	exclamou:
-	Que	insensato,	não	vamos	comprar	angur,	vamos	comprar	inab.
O	terceiro	era	turco	e	disse:
-	Esta	moeda	é	minha	também	e	não	quero	nem	inab	nem	angur,	quero	uzum.
O	quarto,	um	grego,	não	se	conformou:
-	Calem-se	todos,	com	esta	moeda	compraremos	israfil.
Começaram	 a	 brigar	 entre	 eles	 porque	 ignoravam	 o	 verdadeiro	 sentido	 das
palavras.	Esbofetearam-se,	 insultaram-se,	até	que	um	homem	sábio	chegou	ali.
Ele	conhecia	muitas	línguas	e	lhes	disse:
-	 Deem-me	 esta	 moeda	 e	 confiem	 em	 mim.	 Com	 ela	 comprarei	 algo	 que
satisfará	a	todos	vocês.
Sem	 opção	 melhor,	 eles	 lhe	 entregaram	 a	 moeda.	 O	 homem	 sábio	 foi	 ao
mercado,	comprou	uma	boa	porção	de	uvas	que	entregou	aos	quatro	briguentos.
Todos	ficaram	satisfeitos	vendo	seu	desejo	realizado.
Ignorantes,	eles	não	sabiam	que	todos	desejavam	a	mesma	coisa.	Angur,	inab,
israfil	e	uzum	significam	uvas	nesses	idiomas.
	
Os	cegos	e	o	elefante
Ainda	hoje	os	cegos	continuam	brigando.
	
Havia	uma	cidade	onde	todos	os	habitantes,	por	alguma	razão,	eram	cegos.
Certo	dia,	não	longe	dali,	passou	um	rei	que	viajava	no	dorso	de	um	elefante,
animal	completamente	desconhecido	naquelas	paragens.
Os	 cegos	 da	 cidade,	 ouvindo	 falar	 desse	 animal	 fenomenal,	 enviaram	 uma
delegação	 ao	 encontro	 do	 rei,	 que	 lhes	 deu	 autorização	 para	 tocar	 o	 elefante,
como	quisessem.
Quando	 voltaram	 à	 cidade,	 uma	multidão	 de	 outros	 cegos	 os	 aguardava,	 na
praça,	para	ouvir	a	descrição	do	extraordinário	animal.
O	primeiro	cego,	que	tinha	tocado	a	orelha	do	elefante,	disse:
-	É	um	animal	 largo	e	plano,	enrugado	como	se	 fosse	uma	enorme	folha	de
couve.
O	segundo,	que	tinha	tocado	a	tromba	do	elefante,	disse:
-	Nada	 disso!	O	 elefante	 é	 longo,	 redondo	 e	 oco,	 movimenta-se	 como	 uma
grande	corda	e	tem	muita	força.
O	terceiro	cego,	que	havia	tocado	uma	das	patas	do	elefante,	disse:
-	O	que	vocês	estão	descrevendo	não	é,	de	 jeito	nenhum,	o	elefante.	Ele,	na
verdade,	é	uma	coluna	sólida	e	estável.
Os	habitantes	não	 ficaram	satisfeitos	 com	essas	descrições	 e	pediram	outros
detalhes,	mas	os	 três	cegos	eram	 incapazes	de	entrar	num	acordo.	A	discussão
foi	esquentando,	e	eles	começaram	a	se	bater	com	a	bengala.
Alguns	 cegos,	 mais	 sábios	 que	 os	 outros,	 sugeriram	 enviar	 uma	 outra
delegação	para	obter	uma	descrição	mais	completa	da	montaria	do	rei.
Todos	 concordaram,	 mas,	 para	 formar	 a	 delegação,	 eles	 gastaram	 um	 bom
tempo,	pois	queriam	escolher	os	mais	inteligentes.
Quando,	enfim,	a	delegação	designada	partiu	ao	encontro	do	rei,	este	já	havia
partido.
Isso	faz	muito	tempo,	mas	ainda	hoje	os	cegos	continuam	brigando.	Cada	um
afirma	ser	o	único	a	conhecer		a	verdade	sobre	o	elefante.
	
	 	
RESISTÊNCIA	À	MUDANÇA
	
As	babuchas	de	Abu-Kassin
Porque	mudar	as	velhas	ideias,	hábitos	e	pensamentos	agora?
	
Era	 uma	 vez	 um	mercador	 de	 nome	 Abu-Kassin.	 Ele	 comprara	 um	 par	 de
babuchas	e	não	se	separava	delas.
Ele	as	calçou	até	que	ficassem	completamente	gastas.
Mas	como	achava	as	babuchas	muito	confortáveis,	ele	as	consertou	e	usou	até
que	as	solas	ficassem	aos	bagaços.
As	 solas	 foram	 trocadas	 por	 outras	 solas	 e	 ele	 continuou	 usando	 suas
babuchas.
Os	 avaros	 e	 os	 econômicos	 achavam	 que	 o	 mercador	 tinha	 toda	 razão	 em
mantê-las.		Afinal,	para	que	gastar	com	um	par	novo?
Mas	 acontece	 que	 elas	 eram	 incômodas	 para	 todo	 mundo.	 Seu	 aspecto	 era
repugnante,	 cheiravam	mal	 e	 	 levantavam	muita	 poeira	 do	 chão.	Mas	 quando
alguém	reclamava	da	poeira	que	levantavam,	Abu-Kasim		respondia:
-	 Se	 a	 poeira	 não	 estivesse	 lá,	 as	 babuchas	 não	 a	 levantariam.	 Vá	 até	 a
prefeitura	e	faça	a	sua	reclamação	sobre	o	estado	das	ruas.
As	babuchas	faziam	grande	barulho	quando	o	mercador	descia	a	rua	principal
com	seu	passo	pesado.	Mas	a	maioria	dos	cidadãos	já	tinha	se	acostumado	com	o
barulho	feito	por	elas.
Havia	muita	gente	para	louvar	a	prudência	com	a	qual	Abu-Kassim	usava	seu
dinheiro.	Havia,	também	os	que	falavam	do	poder	que	ele	tinha	de	incomodar	os
outros	 com	aquelas	babuchas	nojentas.	Outros	 ainda	pensavam	que	 aquilo	não
tinha	nenhuma	importância.
Então	 esse	 assunto	 era	 entendido	 assim:	 as	 babuchas	 do	 mercador	 deviam
ficar	do	jeito	que	estavam.
Uma	verdade	tão	universalmente	reconhecida	que	foi	necessário	acontecer	um
evento	extraordinário	para	que	ele	decidisse	reexaminar	o	negócio	das	babuchas.
O	mercador	 tinha	comprado	uns	belos	 frascos	de	cristal	a	um	ótimo	preço	e
pensava	 em	 revendê-los	 com	um	bom	 lucro.	Para	 festejar	 sua	boa	 fortuna	que
viria	com	a	venda	dos	frascos,	decidiu	ir	até	os	banhos	públicos	e	se	ofereceu	um
suntuoso	banho	a	vapor.
Enquanto	estava	no	banho,	veio-lhe	a	ideia	de	utilizar	uma	parte	do	dinheiro
da	venda	dos	frascos	para	comprar	um	novo	par	de	babuchas.	Mas	logo	afastou-a
dizendo	a	si	mesmo:	“Elas	ainda	podem	ser	usadas	por	um	bom	tempo!”.
Mas	por	uma	razão	qualquer,	a	ideia	agia	sobre	o	seu	pensamento,	sobre	suas
babuchas	 e	mesmo	 sobre	 os	 seus	 frascos...	 e	 sobre	muitas	 outras	 coisas	 ainda,
como	vamos	ver!
Saindo	da	casa	de	banhos,	o	mercador	colocou	nos	pés	automaticamente	um
par	de	luxuosas	babuchas	e	partiu	com	elas.	Ele	se	enganara	de	porta	ao	sair.	As
babuchas	que	se	encontravam	ali,	no	mesmo	lugar	onde	ele	achava	que	estavam
as	suas,	pertenciam	ao	Juiz	da	cidade.
Quando	 o	 Juiz	 saiu	 dos	 banhos,	 observou	 que	 suas	 babuchas	 tinham
desaparecido	e	não	encontrando	mais	nenhum	outro	par,	a	não	ser	as	horríveis
babuchas	do	mercador,	foi	obrigado	a	calçá-las	e	ir	embora	para	casa	com	elas.
Ele,	 claro,	 reconheceu	 aquelas	 monstruosidades,	 pois	 todos	 na	 cidade	 as
conheciam.	 Rapidamente,	 convocou	 Abu-Kassin	 ao	 tribunal	 e	 o	 condenou	 a
pagar	uma	grande	multa	pelo	roubo	de	suas	babuchas.
Cheio	de	indignação,	o	mercador	voltando	para	casa	e	olhando	para	a	 janela
que	dava	para	um	rio,	jogou	as	velhas	babuchas	na	água.	Assim,	ele	enfim	iria	se
desembaraçar	 daqueles	 objetos	 de	maldição,	 pensou.	E	 poderia	 escapar	 de	 sua
influência.	Mas	o	poder	dos	calçados	ainda	estava	longe	de	acabar...
Um	pescador	 que	 subia	 o	 rio	 com	 sua	 rede	 de	 pescar	 acabou	 recolhendo	 as
babuchas	que	tinham	sido	jogados	no	rio	e	elas	arrebentaram	as	malhas	de	sua
rede,	pois	tinham	grossos	pregos	que	saíam	de	sua	sola.
O	pescador,	como	todos	sabiam,	viu	que	as	babuchas	eram	do	mercador	Abu-
Kassin.	 Furioso,	 ele	 correu	 até	 debaixo	 de	 sua	 casa	 e	 lançou-as	 violentamente
pela	janela	da	casa.	Elas	caíram	sobre	os	frascos	preciosos	que	o	mercador	tinha
comprado,	quebrando-os	em	mil	pedaços.
Quando	o	mercador	viu	o	que	 tinha	acontecido,	explodiu	de	raiva.	Levou	as
babuchas	até	o	jardim	e	furou	um	buraco	para	enterrá-las.
Mas	os	vizinhos	surpresos	de	vê-lo	num	trabalho	que	não	era	o	seu	habitual
foram	dizer	ao	governador	que	o	mercador	parecia	procurar	um	tesouro.
Ora,	todo	tesouro,	segundo	a	lei	daquele	país,	tinha	que	ser	levado	ao	Estado.
O	governador	persuadido	de	que	 teria	um	grande	proveito	com	aquela	história
toda,	 fez	uma	grande	dívida	para	comprar	magníficas	porcelanas	que	há	muito
tempo	desejava.	Depois,	convocou	o	mercador	e	ordenoua	ele	que	lhe	trouxesse
o	 tesouro	 que	 tirara	 do	 jardim.	 O	 mercador	 explicou	 que	 não	 tinha	 tesouro
algum.	 O	 que	 tinha	 feito	 foi	 um	 buraco	 para	 enterrar	 e	 ficar	 livre	 dos	 seus
objetos	de	maldição,	as	babuchas.
O	 governador,	 depois	 de	 ter	 feito	 alguém	 ir	 até	 o	 jardim	 e	 revirá-lo	 para
confirmar	 a	 história,	 fez	 o	 mercador	 pagar	 uma	 grande	 soma	 para	 cobrir	 os
custos	 daquilo	 que	 ele	 gastara	 por	 conta	 do	 tal	 tesouro.	 Ele	 justificou	 isso
dizendo	 que	 o	 mercador	 o	 fizera	 perder	 muito	 	 tempo	 e	 ele	 era	 um	 alto
funcionário	que	não	podia	perder	tempo.
Então,	o	infortunado	mercador	levou	suas	babuchas	para	longe	da	cidade	e	as
jogou	dentro	de	um	canal.	Elas	escorreram	pela	água	e	acabaram	chegando	até
os	 canais	 de	 irrigação	 e	obstruíram	um	conduto	privando	de	 água	o	 jardim	do
Rei.	Todas	as	flores	morreram.
Quando	os	 jardineiros	 descobriram	e	 identificaram	as	 babuchas,	 o	mercador
foi	chamado	para	comparecer	diante	do	soberano	que	deu	a	ele	uma	nova	multa,
para	pagar	por	aquilo	que	acontecera	com	suas	flores.	Nosso	homem,	numa	total
desesperança,	cortou	as	babuchas	ao	meio	e	enfiou	cada	uma	das	partes	dentro
de	um	esgoto	público,	cada	uma	num	canto	de	saída	da	cidade.
Foi	 assim	que	quatro	 cachorros,	 fuxicando	o	 lixo	 e	 os	 esgotos,	 encontraram
cada	uma	das	metades	das	babuchas	e	as	levaram	até	o	mercador.	Chegando	lá,
começaram	 a	 latir	 esperando	 por	 uma	 recompensa	 por	 terem	 devolvido	 as
babuchas.	Os	vizinhos	não	podiam	mais	dormir	e	nem	sair	à	rua,	tanto	o	barulho
que	os	cães	faziam	ali	naquela	porta.
Quando	tudo	se	acalmou,	o	mercador	foi	até	o	tribunal:
-	Honorável	Juiz	–	disse	ele	–	eu	desejo	renunciar,	de	uma	vez	por	 todas,	a
estas	babuchas.	O	problema	é	que	elas	não	querem	renunciar	a	mim.	Eu	peço
então	que	seja	feito	um	ato	jurídico	que	ateste	que,	daqui	pra	frente,	tudo	o	que
acontecer	com	elas,	através	delas,	por	meio	delas	ou	com	elas	não	tem	nenhuma
relação	comigo.
O	Juiz	estudou	a	questão	e	refletiu	longamente.	Depois	chamou	o	mercador	e
disse:
	-	Eu	não	encontrei	nos	meus	livros	nenhum	precedente	tratando	da	hipótese
pela	 qual	 as	 babuchas	 devam	 ficar	 com	 as	 pessoas.	 Neste	 caso,	 não	 existe
nenhum	termo	ao	qual	eu	pediria	a	separação	de	você	e	suas	babuchas.	Eu	não
posso,	em	consequência,	satisfazer	a	sua	demanda.
Curiosamente,	desde	que	Abu-Kassim,	o	mercador,	decidiu	comprar	um	novo
par	de	babuchas	–	porque	até	então	ficara	com	os	pés	descalços	–	ele	nunca	mais
teve	nenhuma	desventura	com	suas	velhas	babuchas.
Isso,	é	claro,	é	a	resposta	à	questão:	por	que	eu	deveria	mudar	minhas	ideias,
meus	hábitos	ou	meus	pensamentos	agora?
	
O	sapo	e	a	água	quente
Quando	não	percebemos	as	mudanças	à	nossa	volta…
	
Vários	estudos	biológicos	demonstram	que	um	sapo,	colocado	num	recipiente
com	 a	 mesma	 água	 de	 sua	 lagoa,	 fica	 estático	 durante	 todo	 o	 tempo	 em	 que
aquecemos	 essa	 água,	 mesmo	 que	 ela	 chegue	 a	 ferver.	 O	 sapo	 não	 reage	 ao
gradual	aumento	de	temperatura	(mudança	de	ambiente)	e	morre	quando	a	água
ferve.
Inchado	e	feliz.
Por	outro	 lado,	outro	 sapo,	 jogado	nesse	 recipiente	 com	a	 água	 já	 fervendo,
salta	imediatamente	para	fora.	Meio	chamuscado,	porém	vivo!
Às	vezes,	somos	sapos	fervidos.	Não	percebemos	as	mudanças.	Achamos	que
está	 tudo	muito	bom,	ou	que	o	que	está	mal	vai	passar	–	é	 só	uma	questão	de
tempo.	Estamos	prestes	a	morrer,	mas	ficamos	boiando,	estáveis	e	apáticos,	na
água	que	se	aquece	a	cada	minuto.	Acabamos	morrendo,	inchados	e	felizes,	sem
termos	percebido	as	mudanças	à	nossa	volta.
	
	 	
PERCEPÇÃO	DE	PESSOAS	E	PROCESSOS
	
O	cavalariço
Falou	durante	mais	de	duas	horas.
	
Um	 pregador	 entrou	 num	 determinado	 recinto	 para	 dar	 um	 sermão.	 A	 sala
estava	vazia,	exceto	pela	presença	de	um	jovem	cavalariço,	sentado	na	primeira
fila.	O	pregador,	cogitando	se	deveria	falar	ou	não,	finalmente	disse	ao	cocheiro:
-	Você	é	a	única	pessoa	aqui.	Acha	que	eu	deveria	falar	ou	não?
O	cavalariço	respondeu-lhe:
-	Senhor,	eu	sou	apenas	um	homem	simples	e	não	entendo	destas	coisas.	Mas
se	eu	entrasse	nos	estábulos	e	visse	que	todos	os	cavalos	haviam	fugido	e	apenas
um	restava,	mesmo	assim,	eu	daria	comida	a	ele.
O	 pregador	 tomou	 isso	 a	 peito	 e	 começou	 a	 pregar.	 Falou	 durante	mais	 de
duas	 horas.	 Depois	 disso,	 sentiu-se	 exultante,	 e	 querendo	 que	 a	 plateia
confirmasse	a	grandeza	do	seu	sermão,	perguntou:
-	Você	gostou	do	meu	sermão?
-	 Já	 lhe	 disse	 que	 sou	 um	homem	 simples	 e	 não	 entendo	 dessas	 coisas.	 -	 o
cavalariço	 respondeu.	 -	Entretanto,	 se	 eu	 entrasse	 nos	 estábulos	 e	 descobrisse
que	 todos	os	cavalos	haviam	 fugido,	 exceto	um,	eu	daria	de	comer	a	ele,	mas
não	lhe	daria	toda	a	ração	que	eu	tivesse.
	
O	maior	perigo	para	um	corvo
Um	vento	pelas	costas	é	pior	que	um	exército	pela	frente.
	
Em	um	bando	de	corvos,	todos	seguiam	regras	pré-estabelecidas	e	uma	delas
determinava	 que	 os	 corvos	 jovens	 deveriam	 ser	 submetidos	 a	 testes	 a	 fim	 de
provar	que	já	eram	capazes	de	viver	sozinhos,	independentes.
Três	jovens	pássaros	foram	convocados	para	entrevistas	com	o	líder	do	grupo
e	perante	os	mais	velhos	do	bando.
Ao	primeiro	candidato	foi	perguntado:
-	Qual	o	maior	perigo	existente	para	nós,	corvos?
O	jovem	pensou	um	pouco	e	respondeu:
-	O	maior	perigo	que	existe	é	a	flecha.	Ela	representa	a	morte	para	nós.
Os	adultos	que	o	testavam	acharam-no	inteligente	e	batendo	as	asas	disseram:
-	Este	está	capacitado	para	seguir	sozinho.
A	mesma	pergunta	foi	feita	ao	segundo	jovem	e	este	logo	respondeu:
-	 Uma	 flecha	 sozinha	 não	 representa	 perigo.	 O	 que	 devemos	 temer	 é	 o
arqueiro	de	boa	pontaria	que	nunca	erra	o	alvo	escolhido.
Todos	acharam	muito	sábia	aquela	afirmação.	Os	pais	do	candidato	sorriram
felizes	e	sentiram-se	recompensados	pelos	ensinamentos	que	haviam	transmitido
ao	filho.
O	líder	parabenizou	o	jovem	e	o	proclamou	adulto	e	independente.
O	terceiro	corvo	ao	responder	a	mesma	pergunta	disse:
-	O	maior	perigo	para	nós	é	o	arqueiro	de	má	pontaria.
-	Que	resposta	mais	estranha!	-	pensaram	todos.	-	Com	certeza	este	jovem	é
ainda	imaturo	e	não	percebe	onde	reside	o	perigo!
O	líder	do	grupo	quis	lhe	dar	mais	uma	oportunidade	e	indagou:
-	Meu	jovem,	não	entendemos	sua	afirmação.	Explique-nos	melhor.
-	 Eu	 ouvi	 as	 respostas	 dos	 meus	 companheiros	 e	 acho	 que	 não	 há	 mesmo
perigo	em	uma	flecha	sozinha.	Mas	um	arqueiro	hábil	 também	não	representa
tanto	perigo,	pois	ele	 sempre	acerta	o	alvo	e	basta	 ficarmos	bem	atentos.	Tão
logo	ouvirmos	o	barulho	do	arco	sendo	esticado	e	o	sibilo	da	flecha,	devemos	ir
para	 longe,	 pois	 assim,	 não	 seremos	 atingidos.	Mas	 se	 for	 um	mau	 arqueiro,
nunca	se	sabe	a	direção	da	flecha	e	esta	poderá	nos	atingir	ao	tentarmos	fugir.
Todos	 que	 o	 ouviram	 se	 calaram	 admirados	 da	 sabedoria	 daquele	 jovem
pássaro.	Este	 realmente	poderia	seguir	a	sua	vida,	pois	enxergava	além	do	que
lhe	fora	ensinado.
	
O	mandarim	e	o	alfaiate
Há	quanto	tempo	o	senhor	está	no	cargo?
	
Um	homem	que	 tinha	 se	 esforçado	muito	 por	 um	 cargo	 veio	 a	 consegui-lo.
Seria	 nomeado	 mandarim.	 Enfrentara	 grande	 concorrência,	 mas	 tinha
conquistado	 o	 que	 queria.	 Quase	 não	 se	 aguentando	 de	 contentamento,	 foi
procurar	um	amigo	e	disse-lhe:
-	Agora	que	serei	mandarim,	preciso	de	roupas	novas,	de	acordo	com	minha
nova	condição.
O	amigo,	solícito,	disse-lhe:
-	Pois	conheço	o	alfaiate	certo	para	você.	Aqui	está	o	endereço.
O	novo	mandarim	foi	imediatamente	à	loja	do	alfaiate,	que	lhe	tirou	todas	as
medidas	com	cuidado.	Isso	feito,	disse-lhe:
-	Há	ainda	uma	 informação	de	 que	 necessito.	Há	quanto	 tempo	o	 senhor	 é
mandarim?
-	Ora,	mas	que	pergunta	sem	propósito.	O	que	isso	tem	a	ver	com	a	feitura	de
um	manto?
-	Sem	essa	informação	não	posso	fazer	o	manto,	porque	um	mandarim	recém-
nomeado	 fica	 tão	 deslumbrado	 com	 sua	 nova	 condição	 que	mantém	a	 cabeça
altiva,	 ergue	 o	 nariz	 e	 estufa	 o	 peito.	 Assim	 sendo,	 tenho	 defazer	 a	 parte	 da
frente	maior	que	a	de	trás.	Depois	de	alguns	anos,	com	tanto	trabalho	que	terá
de	executar,	com	as	dificuldades	que	terá	de	vencer,	ele	se	torna	mais	experiente
e	olha	adiante	para	ver	o	que	vem	em	sua	direção	e	o	que	deve	fazer	a	seguir.
Então,	eu	costuro	o	manto	de	forma	que	a	parte	da	frente	e	a	de	trás	tenham	o
mesmo	comprimento.	Mais	tarde,	pelo	esforço	do	seu	trabalho,	pelo	empenho	do
dia-a-dia,	sem	falar	na	humildade	adquirida	com	os	aprendizados,	faço	o	manto
de	 forma	 que	 as	 costas	 fiquem	 mais	 largas	 que	 a	 frente,	 pois	 seu	 corpo
certamente	 terá	 mudado.	 Por	 tudo	 isso,	 tenho	 de	 saber	 há	 quanto	 tempo	 o
senhor	está	no	cargo.
O	novo	mandarim	saiu	da	 loja	pensando	menos	no	manto	e	mais	no	motivo
que	levara	o	amigo	a	mandá-lo	procurar	justamente	aquele	alfaiate.
	
	 	
QUALIDADES	PESSOAIS	E	OBJETIVOS
COMUNS
	
O	deficiente	físico	e	o	cego
Puderam	assim,	usar	os	pés	de	um	e	os	olhos	do	outro.
	
Certa	vez	um	homem	de	muletas	entrou	numa	hospedaria	e	se	sentou	junto	a
um	outro	homem.	Disse-lhe	suspirando:
-	 Nunca	 chegarei	 a	 tempo	 ao	 banquete	 	 do	 sultão,	 já	 que,	 devido	 a	minha
deficiência	física,	não	consigo	mover-me	com	rapidez	suficiente.
			O	outro	homem	ergueu	a	cabeça	disse:
-	Eu	também	fui	convidado,		mas	minha	situação	é	pior	que	a	sua.	Sou	cego	e
não	posso	ver	o	caminho.
-	Mas,	se	pensarem	melhor,	 	perceberão	que	se	ajudando	mutuamente	 terão
meios	de	chegar	ao	seu	destino	-	disse	alguém	que	ouvia	a	conversa.	-	O	cego
pode	caminhar	apoiando	o	deficiente	físico	que	lhe	indicará	o	caminho	a	seguir.
Podem	assim,	usar	os	pés	de	um	e	os	olhos	do	outro	para	dirigi-los.
Desse	 modo	 os	 dois	 homens	 	 puderam	 chegar	 ao	 fim	 da	 estrada,	 onde	 o
banquete	se	realizaria.
	
	 	
PACIÊNCIA	E	HUMILDADE	PARA	APRENDER
	
A	 vida	 é	 uma	 fonte	 inesgotável	 de	 possibilidades	 para	 aprender.	 Os	 mais
velhos	 têm	muito	 a	 ensinar	 aos	mais	 jovens	 porque	 tiveram	mais	 tempo	 para
acumular	 experiências.	Os	mais	 jovens	 têm	 a	 ensinar	 aos	mais	 velhos	 sobre	 o
futuro	que	eles		podem	ver	e	ter	uma	compreensão	melhor	que	a	deles.
Na	França		há	um	ditado	que	diz:	“que	o	mais	velho	partilhe	os	bens	em	duas
partes,	 e	 que	 o	 mais	 moço	 escolha	 primeiro”.	 De	 toda	 forma,	 na	 base	 de
qualquer	processo	de	ensinar	e	aprender,	está	a	paciência.
Um	 jovem	foi	procurar	um	 respeitado	mestre,	homem	de	muita	experiência,
com	a	intenção	de	aprender	com	ele	sobre	o	conhecimento	e	a	sabedoria.
-	Quanto	tempo	será	preciso	para	que	alcance	meu	objetivo?
-	Dez	anos.	-	respondeu	o	velho.
-	Isso	é	muito	tempo!	E	se	eu	trabalhar	dobrado?
-	Então,	nesse	caso,	seriam		necessários	20	anos.
	
O	mestre	e	o	jovem	arrogante
Não	sou	tão	jovem	para	saber	tanto!	
	
O	mestre	 sufi	 Junaid	 estava	 trabalhando	 com	 um	 jovem.	O	 rapaz	 não	 tinha
consciência	da	 sabedoria	 interior	de	 Junaid,	que	vivia	uma	vida	absolutamente
comum.	Apenas	olhos	muito	perspicazes	poderiam	perceber	que	se	estava	perto
de	um	grande	sábio.
Junaid	estava	trabalhando	como	operário	e	era	uma	pessoa	comum	em	todos
os	 aspectos.	 O	 jovem	 que	 trabalhava	 com	 ele	 criticava-o	 constantemente,
exibindo	seus	conhecimentos	e	a	qualquer	coisa	que	Junaid	fizesse,	ele	dizia:
-	Está	errado!	Pode	ser	feito	de	outro	modo.	Não	é	assim	que	se	faz.
Ele	sabia	tudo,	até	que	finalmente	Junaid	riu	e	disse:
-	Desculpe-me,	rapaz.	Não	sou	tão	jovem	para	saber	tanto!
	
A	pedra	na	mão
Ao	final	de	um	ano,	voltou	à	casa	do	mestre.
	
Um	jovem,	atraído	por	pedras	preciosas	e	estando	na	 idade	de	escolher	uma
profissão,	 decidiu	 tornar-se	 joalheiro.	 Dessa	 forma,	 foi	 à	 procura	 do	 mestre
joalheiro,	para	que	o	formasse.
O	mestre,	como	primeira	lição,	colocou	na	mão	do	rapaz	uma	pedra	de	jade.
Fechando-lhe	a	mão,	disse:
-	Fique	com	a	mão	fechada,	assim,	durante	um	ano	e	depois	volte.
O	jovem	voltou	para	casa	indignado.
-	Como	 é	 possível	 que	 um	mestre	me	 peça	 algo	 tão	 estúpido,	 tão	 difícil	 de
fazer?	Como	alguém	pode	ficar	com	a	mão	fechada	por	um	ano?	Isso	só	pode
ser	um	capricho.
No	 entanto,	 passado	 o	 primeiro	 momento	 de	 cólera,	 o	 rapaz,	 secretamente
intrigado,	manteve	a	mão	fechada,	dia	e	noite,	durante	um	ano.	Ao	final	de	um
ano,	 voltou	 à	 casa	 do	 mestre.	 Abriu	 a	 mão	 e	 entregou	 a	 pedra	 ao	 mestre,
perguntando:
-	E	agora?	O	que	devo	fazer?
-	 Eu	 vou	 colocar	 uma	 segunda	 pedra	 em	 sua	 mão	 e	 você	 ficará	 com	 ela
durante	um	ano.
Desta	vez,	o	jovem	explodiu:
-	Mais	um	ano	com	uma	pedra	na	mão?	Isso	é	absurdo!	É	uma	ideia	idiota,
saída	da	cabeça	doente	de	um	velho	imbecil.
Mas,	 enquanto	 ele	 esbravejava,	 o	 mestre	 colocou	 em	 sua	 mão	 uma	 outra
pedra.	Automaticamente	o	rapaz	fechou	a	mão	e,	espantado,	disse:
-	Mas	essa	pedra	não	é	jade!
	
O	cavalo	velho
Aprenda	 também	 que	 há	 tempo	 pra	 tudo,	 até	 para	 aprender	 as	 coisas	 mais
simples.
	
Era	 uma	vez	um	cavalo	 velho	que,	 por	 sua	 experiência	 e	 sabedoria,	 sempre
dava	 conselhos	 aos	 potros.	 Quando	 as	 éguas	 ou	 os	 cavalos	 mais	 novos	 não
sabiam	decidir	 alguma	 coisa,	mandavam	os	 filhos	 para	 o	 velho	 cavalo	 ensiná-
los.	Ele	ficava	todo	satisfeito	e,	com	ar	de	grande	professor,	ensinava-lhes	coisas
incríveis.	Ensinava	como	escolher	o	melhor	capim.	Ensinava	a	renegar	as	ervas
daninhas.	Dizem	que	ensinava	até	lições	de	amor.
Um	dia,	os	potros	discutiam	longamente	sobre	o	melhor	caminho	para	chegar
a	 uma	 famosa	 pastagem.	Mesmo	 com	 tanta	 saliva	 gasta,	 não	 chegaram	 a	 um
acordo.	Foram	com	o	problema	para	que	o	velho	cavalo	os	ajudasse	a	resolvê-lo.
-	Mestre,	precisamos	ir	à	pastagem	da	Fazenda	Triunfo.	Dizem	que	o	capim
de	 lá	 é	 de	 primeira	 e	 há	 poucos	 animais	 pastando.	 Só	 que	 há	 dois	 caminhos
depois	da	encruzilhada.	Um	à	esquerda	e	outro	à	direita.	Qual	dos	dois	será	o
melhor?	Qual	será	o	mais	seguro?
O	cavalo	 levantou	a	pata	direita,	abaixou	a	cabeça	e	 ficou	pensando	por	um
momento.	 Nunca	 dava	 uma	 resposta	 afobada,	 com	 medo	 de	 errar.	 Deu	 um
relincho	forte	–	outro	hábito	dele	antes	de	responder	–	e	aconselhou:
-	Cada	um	deve	seguir	por	um	lado	e	vamos	aguardar.	É	experimentando	que
se	aprende	o	melhor	caminho	a	seguir.
Os	dois	potros	foram	juntos	até	a	encruzilhada.	Lá	se	despediram	e	cada	um
seguiu	 a	galope	 em	direção	 contrária.	De	 longe,	 o	 cavalo	olhava	os	discípulos
com	orgulho	e	aguardava	notícias...
Meia	hora	depois,	o	potro	do	caminho	da	esquerda	voltou	bufando.	O	cavalo
quis	saber	a	razão	da	volta.	Assim	que	pôde	soltar	a	fala,	ele	disse-lhe:
-	 O	 caminho	 da	 esquerda	 pode	 levar	 ao	 bom	 pasto,	 mas	 tem	 um	 atoleiro
imenso	e	fundo.	Quase	fiquei	preso	lá.	Se	não	fosse	esperto...
-	Então,	meu	amigo,	o	certo	é	ir	para	o	caminho	da	direita.	O	seu	amigo	fez	a
melhor	escolha	e	você	deve	admitir	isso.
-	O	mestre	já	sabia	qual	era	o	melhor	caminho,	não	sabia?	Por	certo	queria
que	aprendessemos,	não	é?
-	 Não,	 não	 sabia.	 Até	 fiquei	 esperando.	 Sabia	 que	 aquele	 que	 seguisse	 o
caminho	errado	voltaria.	Aprenda	uma	coisa,	meu	jovem	potro:	na	vida,	a	gente
aprende	 mais	 com	 os	 que	 erram	 do	 que	 com	 os	 que	 acertam.	 O	 erro	 é	 um
espelho.	Você	sabe	o	que	isso	quer	dizer?
-	Sei,	acho	que	sei...	Isto	é,	acho	que	estou	aprendendo...
-	Vá	procurar	o	melhor	capim.	Aprenda	também	que	há	tempo	pra	tudo,	até
para	aprender	as	coisas	mais	simples.
	
	 	
CAPACIDADE	DE	OBSERVAÇÃO
	
Os	três	homens	perceptivos
Descobrir	a	verdade	por	seus	próprios	meios	seria	melhor	para	todos	nós.
	
Certa	vez	existiam	três	sufis,	tão	observadores	e	experientes	a	respeito	da	vida
que	ficaram	conhecidos	como	“os	três	homens	perceptivos”.
Uma	 ocasião,	 numa	 de	 suas	 viagens,	 encontraram	 um	 cameleiro	 que	 lhes
perguntou:
-	Viram	meu	camelo?	Eu	o	perdi.
-	É	cego	de	um	olho?	–	perguntou	o	primeiro	homem	perceptivo.
-	Sim	–	respondeu	o	cameleiro.
-	Falta-lhe	um	dos	dentes	da	frente?	–	perguntou	o	segundo	perceptivo.
-	Sim,	sim	–	disse	o	cameleiro.
-	É	coxo	de	uma	pata?	–	investigou	o	terceiro	homemperceptivo.
-	Certamente	–	reconheceu	o	cameleiro.
Os	 três	 perceptivos	 aconselharam	 o	 bom	 homem	 a	 caminhar	 na	 mesma
direção	 que	 eles	 tinham	 seguido	 até	 lá,	 porém	 em	 sentido	 contrário,	 e	 poderia
encontrá-lo.	Pensando	que	eles	o	tinham	visto,	o	cameleiro	apressou-se	a	seguir
seu	conselho.
Mas	 não	 encontrou	 o	 camelo.	Então,	 voltou	 a	 toda	 pressa	 para	 encontrar-se
mais	 uma	 vez	 com	 os	 perceptivos,	 a	 fim	 de	 que	 lhe	 dissessem	 o	 que	 deveria
fazer.
Encontrou-os	ao	entardecer,	num	lugar	onde	descansavam.
-	 Seu	 camelo	 carrega	 mel	 de	 um	 lado	 e	 milho	 do	 outro?	 –	 perguntou	 o
primeiro	perceptivo.
-	Sim,	sim	–	disse	o	homem.
-	 Está	 sendo	 montado	 por	 uma	 mulher	 grávida?	 –	 perguntou	 o	 segundo
perceptivo.
-	Sim,	sim	–	respondeu	o	cameleiro.
-	Não	sabemos	onde	está	–	disse	o	terceiro	perceptivo.
Depois	das	perguntas	e	da	negativa,	o	cameleiro	ficou	convencido	de	que	os
três	perceptivos	 tinham	 roubado	 seu	camelo,	 com	carga	 e	ginete.	Acusando-os
de	ladrões,	levou-os	perante	o	juiz.
O	 juiz	 achou	 que	 havia	 motivos	 para	 desconfiar	 deles	 e	 deteve-os	 como
suspeitos	de	roubo,	a	fim	de	fazer	diligências	que	confirmassem	a	culpa	deles	ou
os	absolvessem.
Pouco	 mais	 tarde,	 o	 cameleiro	 encontrou	 o	 animal	 vagando	 pelo	 campo.
Voltou	à	corte	e	pediu	que	os	três	perceptivos	fossem	postos	em	liberdade.
O	 juiz,	 que	 até	 então	 não	 lhes	 havia	 dado	 oportunidade	 para	 justificar-se,
perguntou	 como	 sabiam	 tanto	 a	 respeito	 do	 camelo	 se	 nem	 sequer	 o	 tinham
visto?
-	Vimos	suas	pegadas	no	caminho	–	disse	o	primeiro	perceptivo.
-	Uma	das	marcas	 era	mais	 fraca	do	que	as	outras	 e	assim	deduzi	 que	 era
coxo	–	disse	o	segundo	perceptivo.
-	 Tinham	 mordiscado	 moitas	 de	 capim	 só	 de	 um	 lado	 do	 caminho	 e,	 por
conseguinte,	devia	ser	cego	de	um	olho	–	disse	o	terceiro	perceptivo.
-	As	folhas	de	capim	estavam	rasgadas	–	continuou	o	primeiro	perceptivo	–	o
que	indicava	que	tinha	perdido	um	dente.
-	Abelhas	de	um	lado	do	caminho	e	formigas	do	outro	amontoavam-se	sobre
algo	 depositado	 no	 	 chão.	 Vimos	 que	 era	 mel	 e	 milho	 –	 explicou	 o	 segundo
perceptivo.
-	Encontramos	também	alguns	cabelos	humanos,	tão	longos	que	nos	fizeram
pensar	que	eram	de	mulher.	E	estavam	exatamente	onde	alguém	tinha	parado	o
animal	e	havia	descido	–	declarou	o	terceiro	perceptivo.
-	No	lugar	onde	a	pessoa	sentou,	observamos	marca	das	palmas	de	ambas	as
mãos,	o	que	nos	fez	pensar	que	tivera	de	apoiar-se,	tanto	quando	sentou,	como
quando	se	 levantou.	Deduzimos	daí	que	devia	estar	grávida,	num	período	bem
adiantado	de	gravidez	–	disse	o	primeiro	perceptivo.
-	Por	que	não	pediram	para	ser	ouvidos	pelo	 juiz	a	 fim	de	apresentar	estes
argumentos	em	defesa	de	vocês?
-	Porque	achamos	que	o	cameleiro	continuaria	a	procurar	e	não	 tardaria	a
encontrar	o	animal	–	disse	o	primeiro	perceptivo.
-	 Também	 contamos	 com	 a	 curiosidade	 natural	 do	 juiz,	 que	 o	 levaria	 a
investigar	–	disse	o	terceiro	perceptivo.
-	Descobrir	a	verdade	por	seus	próprios	meios	seria	melhor	para	todos	nós,
em	 vez	 de	 insistirmos	 que	 nos	 haviam	 julgado	 apressadamente	 –	 disse	 o
primeiro	perceptivo.
-	Chegou	a	hora	de	partimos.	Espera-nos	uma	tarefa	que	precisamos	cumprir.
E	os	pensadores	sufis	seguiram	o	destino	que	tinham	traçado	para	si.	Contudo,
poderão	ser	encontrados	trabalhando	pelos	caminhos	da	Terra.
	
A	pedra	filosofal
Onde,	afinal,	sem	prestar	atenção	ele	havia	realizado	o	seu	sonho?
	
Um	homem	andava	pelo	mundo,	procurando	a	pedra	 filosofal	 –	 aquela	que,
diziam	os	alquimistas,	faz	qualquer	metal	se	transformar	em	ouro		–	Para	alguns
ele	era	apenas	um	pobre	louco.
Na	 praia	 deserta,	 ele	 caminhava	 realmente	 como	 um	 louco,	 procurando	 a
pedra	filosofal.	Avançava	sem	sossego,	continuando	a	pesquisa	que	se	tornara	a
sua	razão	de	ser.
Um	dia,	um	garoto	da	aldeia	aproximou-se	dele	e	disse:
-	Como	achaste	essa	corrente	de	ouro	que	te	cinge	a	cintura?
O	 louco	 estremeceu:	 a	 corrente,	 que	 era	 antigamente	 de	 ferro,	 tinha-se
transformado	 em	 ouro.	 Não	 era	 sonho.	 Mas	 como	 se	 teria	 dado	 essa
transformação?
Brutalmente,	 bateu	 na	 testa:	 “onde,	mas	 onde	 teria	 sido	 que	 ele,	 sem	 saber,
havia	realizado	o	seu	sonho?”
Ele	adquirira	o	habito	de	provar	as	pedras	que	colhia,	batendo-as	contra	a	sua
corrente	 de	 ferro,	 e	 de	 rejeitá-las	 logo,	maquinalmente,	 sem	 notar	 se	 qualquer
mudança	se	teria	operado	em	sua	corrente.	Foi	assim	que,	por	puro	descuido,	o
pobre	louco,	que	na	verdade	era	apenas	um	homem,	encontrou	e	perdeu	a	pedra
filosofal.
O	sol	desaparecia.	No	horizonte	o	céu	era	todo	de	ouro.
Aniquilado,	quebrado	de	corpo	e	de	espírito,	o	homem,	como	um	louco,	partiu
de	novo	à	procura	do	tesouro	perdido.
	
	 	
COMPREENSÃO	DE	MOMENTOS	DIFÍCEIS
	
O	homem	cujo	tempo	estava	alterado
É	preciso	reconhecer	e	aceitar	que	a	roda	do	tempo	às	vezes	gira	contra	nós.
	
Havia	 certa	 vez,	 um	 rico	 negociante	 que	 vivia	 em	 Bagdá.	 Tinha	 uma	 casa
excelente,	grandes	e	pequenas	propriedades	e	embarcações	que	navegavam	para
as	 Índias	 com	 valiosos	 carregamentos.	 Obtivera	 tais	 coisas	 como	 parte	 de
herança	 e	 outra	 por	 seus	 próprios	 esforços,	 empreendidos	 no	 lugar	 e	 tempo
apropriados,	em	parte	também,	graças	ao	generoso	conselho	e	orientação	do	Rei
do	Ocidente,	como	era	chamado,	à	época	o	sultão	de	Córdoba.
Foi	então	que	algo	não	correu	bem.	Um	cruel	opressor	se	apossou	das	terras	e
dos	negócios	de	todos	os	homens	pródigos.
E	 não	 parou	 por	 aí.	 Os	 navios	 do	 rico	 mercador,	 a	 caminho	 das	 Índias
naufragaram	durante	 um	 tufão.	A	 série	 de	 desgraças	 afetou	 sua	 família	 e	 seus
negócios.	Mesmo	os	amigos	mais	íntimos	pareciam	ter	perdido	a	capacidade	de
manter-se	 em	 verdadeira	 harmonia	 com	 ele,	 embora	 desejassem	 manter	 o
habitual	e	bom	relacionamento	social.
Então,	o	mercador	resolveu	viajar,	através	do	deserto,	até	a	Espanha	para	ver
seu	antigo	protetor.	Durante	o	 trajeto,	ocorreu	uma	 sucessão	de	acidentes.	Seu
jumento	 morreu,	 foi	 capturado	 por	 bandoleiros	 e	 vendido	 como	 escravo,
escapando	com	enorme	dificuldade.	O	sol	queimou-lhe	a	pele	do	rosto	até	que
esta	se	assemelhou	ao	couro.	E	rudes	aldeões	o	afugentaram	das	portas	de	suas
casas.	Aqui	e	ali	um	dervixe	 lhe	dava	um	pouco	de	comida	e	um	andrajo	com
que	 cobrir-se.	Uma	 vez	 ou	 outra	 pôde	 beber	 um	 pouco	 de	 água	 fresca	 de	 um
poço,	mas,	comumente,	ela	era	salobra.
Finalmente	 colocou	 os	 pés	 na	 Espanha	 e	 chegou	 ao	 palácio	 do	 Rei	 do
Ocidente.
Ainda	ali	encontrou	as	maiores	dificuldades	para	poder	entrar.	Os	guardas	o
afastavam	com	as	pontas	de	suas	lanças,	camareiros	se	negavam	a	falar	com	ele.
Colocaram-no	como	empregado	humilde	da	corte	até	que	pudesse	comprar	uma
roupa	decente	para	ser	admitido	à	presença	do	rei.
Mas	não	se	esquecia	de	que	estava	naquele	palácio,	e	a	lembrança	da	bondade
do	sultão	para	com	ele,	há	anos,	ainda	persistia.
No	 entanto,	 por	 ter	 passado	 tanto	 tempo	 em	 estado	 de	 pobreza	 e	 desgraça,
seus	modos	tinham	se	ressentido	e	o	mestre	de	cerimônias	da	corte	decidiu	que
ele	 devia	 tomar	 aulas	 de	 etiqueta	 e	 autodisciplina	 antes	 de	 ser	 autorizado	 a
apresentar-se	na	sala	de	audiências	do	palácio.
O	mercador	suportou	tudo	isso	até	que,	três	anos	depois	de	ter	deixado	Bagdá,
foi	 levado	à	sala	de	audiências.	O	rei	o	 reconheceu	de	 imediato,	perguntou-lhe
como	estava,	e	lhe	pediu	para	se	sentar	num	lugar	de	honra	a	seu	lado.
-	Sua	Majestade	-	disse	então	o	mercador	-	tenho	sofrido	intensamente	nesses
últimos	 anos.	Minhas	 terras	me	 foram	 tomadas	 por	 um	usurpador,	meus	 bens
expropriados,	meus	barcos	soçobraram	e	com	eles	se	foi	toda	a	minha	fortuna.
Durante	 três	anos,	 tenho	 lutado	 contra	a	 fome,	 os	bandidos,	 o	deserto,	 e	 com
pessoas	cujo	idioma	eu	não	compreendia.	Agora,	aqui	estou	para	me	colocar	em
mãos	da	misericórdia	de	Vossa	Majestade.
O	rei	voltou-se	para	o	camarista	da	corte,	dizendo:
Dê-lhe	cem	ovelhas,	faça-o	pastor

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