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Indaial – 2021 Fisioterapia NeuroFuNcioNal Profª. Débora Cristina Lima da Silva 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2021 Elaboração: Profª. Débora Cristina Lima da Silva Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: S586f Silva, Débora Cristina Lima da Fisioterapia neurofuncional. / Débora Cristina Lima da Silva. – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 226 p.; il. ISBN 978-65-5663-628-3 ISBN Digital 978-65-5663-627-6 1. Fisioterapia - Prática. – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 615.82 apreseNtação Olá, acadêmico! Daremos início ao nosso estudo sobre a Fisioterapia Neurofuncional. A Neurofuncional é a área de especialidade da Fisioterapia que atua de forma preventiva, curativa ou paliativa nas sequelas resultantes de danos ao Sistema Nervoso, abrangendo tanto o Sistema Nervoso Cen- tral como o Periférico, bem como aqueles com doenças neuromusculares (do neurônio motor, da placa motora e do músculo propriamente dito). O Fisioterapeuta neurofuncional tem a responsabilidade de avaliar o paciente, dar o diagnóstico cinético-funcional, prescrever o tratamento e re- alizá-lo de maneira efetiva, sempre focando na funcionalidade do paciente. Ao final da disciplina, espera-se que você tenha adquirido os conhe- cimentos relacionados aos princípios de neurologia e às principais doenças neurológicas, como Acidente Vascular Encefálico (AVE) e Doença de Parkin- son (DP), além das questões sociais que interferem nos indicadores de saúde e mostram o verdadeiro cenário a ser encontrado. Também abordaremos nessa disciplina as principais práticas e téc- nicas de avaliação utilizadas atualmente pela fisioterapia neurofuncional, como, a avaliação de sensibilidade e escalas específicas. Vale ressaltar que todo o embasamento deste livro se deu através da uti- lização de evidências atuais e alinhadas ao meio científico. A prática baseada em evidências é muito importante para a nossa profissão. O conteúdo foi seleciona- do e organizado para que você tenha uma formação de destaque e alinhada com o mercado de trabalho, portanto, é muito importante que você mantenha o foco! Lembre-se sempre de que o estudo e o aprendizado requerem pla- nejamento e dedicação, por isso, inicie o quanto antes e não se esqueça de estudar previamente as aulas e os conteúdos abordados. Abraços, bons estudos e muito sucesso! Profª. Débora Cristina Lima da Silva Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi- dades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun- to em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sumário UNIDADE 1 — FISIOTERAPIA NEUROLÓGICA ......................................................................... 1 TÓPICO 1 — SEMIOLOGIA NEUROLÓGICA PARA FISIOTERAPEUTAS ............................ 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 SEMIOLOGIA NEUROLÓGICA ..................................................................................................... 3 2.1 QUEIXA PRINCIPAL (Q.P.) E HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL (H.D.A.) ......................... 4 2.2 HISTÓRIA PATOLÓGICA PREGRESSA .................................................................................... 6 2.3 HISTÓRICO FAMILIAR ................................................................................................................ 7 2.4 HISTÓRICO SOCIAL ..................................................................................................................... 7 RESUMO DO TÓPICO 1....................................................................................................................... 8 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 9 TÓPICO 2 — ALTERAÇÕES FUNCIONAIS NA FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL ................................................................................................. 11 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 11 2 ALTERAÇÕES FUNCIONAIS ........................................................................................................ 11 2.1 CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE E INCAPACIDADE E SAÚDE (CIF) ............................................................................................. 11 2.2 TERMINOLOGIAS RELACIONADAS A FUNÇÕES ............................................................. 13 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 18 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 19 TÓPICO 3 — EXAME FÍSICO NA FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL ............................. 21 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 21 2 EXAME FÍSICO .................................................................................................................................. 21 2.1 FORÇA MUSCULAR ................................................................................................................... 21 2.2 AMPLITUDE DE MOVIMENTO................................................................................................ 25 2.3 TÔNUS MUSCULAR ................................................................................................................... 28 2.4 TROFISMO MUSCULAR ............................................................................................................ 30 2.5 REFLEXOS PROFUNDOS (MIOTÁTICOS) E SUPERFICIAIS .............................................. 32 2.6 COORDENAÇÃO MOTORA .....................................................................................................37 2.7 EQUILÍBRIO .................................................................................................................................. 39 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 41 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 42 TÓPICO 4 — EXAME DE SENSIBILIDADE .................................................................................. 43 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 43 2 SENSIBILIDADE EXTEROCEPTIVA E PROPIOCEPTIVA ...................................................... 43 2.1 AVALIAÇÃO DOS MIÓTOMOS ................................................................................................ 45 2.2 AVALIAÇÃO DOS DERMÁTOMOS ......................................................................................... 46 2.3 AVALIAÇÃO DOS NERVOS CRANIANOS............................................................................. 46 2.4 PRAXIAS E GNOSIAS ................................................................................................................. 51 2.5 DISTÚRBIOS DE LINGUAGENS – AFASIA ............................................................................ 52 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 54 RESUMO DO TÓPICO 4..................................................................................................................... 55 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 56 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 57 UNIDADE 2 — FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL ............................................................... 59 TÓPICO 1 — ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO / ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL (AVE/AVC) .............................................................................................. 61 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 61 2 ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO ....................................................................................... 61 3 FATORES DE RISCO PARA O ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO .............................. 62 4 TIPOS DE ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO .................................................................. 62 5 DÉFICITS PRIMÁRIOS E SECUNDÁRIOS ................................................................................ 64 6 TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO EM PACIENTES PÓS-AVE ...................................... 67 6.1 FASE AGUDA COM PACIENTES COMATOSOS (EM COMA) ........................................... 67 6.2 FASE AGUDA COM PACIENTES CONSCIENTES (NÃO COMATOSOS) ....................... 71 6.3 FASE TARDIA ............................................................................................................................... 73 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 74 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 75 TÓPICO 2 — TRAUMATISMO CRÂNIOENCEFÁLICO (TCE) ................................................ 77 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 77 2 TRAUMATISMO CRÂNIO ENCEFÁLICO ................................................................................. 77 3 FISIOPATOLOGIA DO TRAUMATISMO CRÂNIO ENCEFÁLICO ..................................... 78 4 CLASSIFICAÇÃO DOS TRAUMATISMOS CRÂNIOS ENCEFÁLICOS ............................. 79 5 TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO NO TRAUMATISMO CRÂNIO ENCEFÁLICO ..................................................................................................................................... 81 5.1 PROTOCOLO DE ATENDIMENTO FISIOTERAPÊUTICO PARA TRAUMATISMO CRÂNIO ENCEFÁLICO .............................................................................................................. 83 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 85 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 86 TÓPICO 3 — DOENÇA DE PARKINSON (DP)............................................................................. 87 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 87 2 DOENÇA DE PARKINSON ............................................................................................................ 87 3 ETIOLOGIA DA DOENÇA DE PARKINSON ............................................................................ 90 4 CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DA DOENÇA DE PARKINSON ....................................... 91 5 EPIDEMIOLOGIA DA DOENÇA DE PARKINSON ................................................................. 93 6 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO NA DOENÇA DE PARKINSON ................................... 94 7 TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO NA DP ........................................................................ 111 7.1 PROTOCOLO DE ATENDIMENTO FISIOTERAPÊUTICO NA DP .................................. 112 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 113 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 114 TÓPICO 4 — ESCLEROSE MÚLTIPLA (EM) ............................................................................... 115 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 115 2 ESCLEROSE MÚLTIPLA (EM) ..................................................................................................... 115 3 TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO DA ESCLEROSE MÚLTIPLA ................................ 118 3.1 ABORDAGENS FISIOTERAPÊUTICAS NA ESCLEROSE MÚLTIPLA ............................ 119 RESUMO DO TÓPICO 4................................................................................................................... 122 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 123 TÓPICO 5 — ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA (ELA) ................................................. 125 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 125 2 ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA ................................................................................... 125 3 TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO NA ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA ............................................................................................................................... 128 3.1 DISPOSITIVOS ORTÓTICOS .................................................................................................... 128 3.2 EXERCÍCIOS RESISTIDOS ....................................................................................................... 129 3.3 EXERCÍCIO AERÓBICO ............................................................................................................ 130 3.4 ALONGAMENTO ......................................................................................................................130 3.5 MOBILIZAÇÃO ARTICULAR ................................................................................................. 132 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 133 RESUMO DO TÓPICO 5................................................................................................................... 134 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 135 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 136 UNIDADE 3 — FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL ............................................................. 141 TÓPICO 1 — PARALISIA FACIAL PERIFÉRICA ........................................................................ 143 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 143 2 PARALISIA FACIAL PERIFÉRICA .............................................................................................. 143 3 SINAIS, SINTOMAS E DIAGNÓSTICO DA PARALISIA FACIAL PERIFÉRICA ........... 144 4 SINTOMAS E DIAGNÓSTICO DA PARALISIA FACIAL PERIFÉRICA ........................... 145 5 OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS DA FISIOTERAPIA NA PARALISIA FACIAL PERIFÉRICA ..................................................................................................................... 145 6 TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO NA PARALISIA FACIAL PERIFÉRICA .............. 146 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 149 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 150 TÓPICO 2 — ATAXIA ESPINOCEREBELAR ............................................................................... 153 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 153 2 ATAXIA ESPINOCEREBELAR ..................................................................................................... 153 2.1 PRINCIPAIS DÉFICITS MOTORES NA ATAXIA ESPINOCEREBELAR .......................... 154 2.2 ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA NAS SCA ................................................................... 156 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 158 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 159 TÓPICO 3 — SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ .................................................................... 161 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 161 2 CLÍNICA E FISIOPATOGENIA DA SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ ........................ 161 2.1 VARIANTES DA SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ ....................................................... 163 2.2 DIAGNÓSTICO DA SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ .................................................. 164 2.3 PROGNÓSTICO DA SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ ................................................. 165 2.4 TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO NA SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ ........... 166 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 169 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 170 TÓPICO 4 — LESÃO MEDULAR ................................................................................................... 171 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 171 2 LESÃO MEDULAR .......................................................................................................................... 171 2.1 AVALIAÇÃO DA LESÃO MEDULAR UTILIZANDO A ASIA ........................................... 172 2.2 SÍNDROMES MEDULARES ..................................................................................................... 177 2.3 TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO NAS LESÕES MEDULARES ................................ 178 RESUMO DO TÓPICO 4................................................................................................................... 181 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 182 TÓPICO 5 — DISTROFIAS MUSCULARES ................................................................................ 183 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 183 2 DISTROFIAS MUSCULARES ...................................................................................................... 183 3 SINTOMAS MAIS COMUNS NAS DISTROFIAS MUSCULARES .................................... 184 4 PRINCIPAIS TIPOS DE DISTROFIAS MUSCULARES ......................................................... 184 4.1 DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE .......................................................................... 184 4.2 DISTROFIA MUSCULAR DE BECKER .................................................................................. 186 4.3 DISTROFIA MUSCULAR DO TIPO CINTURAS .................................................................. 186 4.4 DISTROFIA MUSCULAR FACIO-ESCÁPULO-UMERAL................................................... 186 4.5 DISTROFIA MUSCULAR MIOTÔNICA OU DE STEINERT .............................................. 186 4.6 DISTROFIA MUSCULAR CONGÊNITA ................................................................................ 187 5 TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO NA DISTROFIA MUSCULAR .............................. 187 RESUMO DO TÓPICO 5................................................................................................................... 190 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 191 TÓPICO 6 — SÍNDROME DE DOWN .......................................................................................... 193 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 193 2 SÍNDROME DE DOWN................................................................................................................. 193 2.1 DIAGNÓSTICO CLÍNICO DA SÍNDROME DE DOWN ..................................................... 194 2.2 EPIDEMIOLOGIA DA SÍNDROME DE DOWN ................................................................... 196 2.3 LIMITAÇÕES NA SÍNDROME DE DOWN ........................................................................... 196 2.4 FISIOTERAPIA NA SÍNDROME DE DOWN ........................................................................ 197 RESUMO DO TÓPICO 6................................................................................................................... 200 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 201 TÓPICO 7 — TÉCNICAS FISIOTERAPÊUTICAS NA FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL ............................................................................................... 203 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 203 2 FACILITAÇÃO NEUROMUSCULAR PROPRIOCEPTIVA.................................................... 203 2.1 CONCEITO NEUROEVOLUTIVOBOBATH ......................................................................... 206 2.2 ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA FUNCIONAL (FES)................................................................. 208 2.3 BOLAS SUÍÇAS ........................................................................................................................... 210 2.4 TERAPIA POR RESTRIÇÃO E INDUÇÃO DO MOVIMENTO (TRIM) ............................ 212 2.5 ESTIMULAÇÃO TRANSCRANIANA POR CORRENTE CONTÍNUA (ETCC) .............. 213 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 217 RESUMO DO TÓPICO 7................................................................................................................... 219 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 220 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 221 1 UNIDADE 1 — FISIOTERAPIA NEUROLÓGICA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender a importância da realização de uma avaliação neu- rológica eficaz e completa; • analisar e verificar quais são os principais pontos chaves de uma boa avaliação fisioterapêutica neurológica; • compreender como a avaliação fisioterapêutica neurológica pode determinar o diagnóstico cinético functional; • compreender de que forma a avaliação fisioterapêutica pode influen- ciar diretamente a elaboração de metas e objetivos fisioterapêuticos; • estimular a compreensão e aplicação prática do diagnóstico topo- gráfico em neurologia; • promover o aprendizado dos termos técnicos relacionados às dis- funções do sistema nervoso. 2 PLANO DE ESTUDOS Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – SEMIOLOGIA NEUROLÓGICA PARA FISIOTERAPEUTAS TÓPICO 2 – ALTERAÇÕES FUNCIONAIS NA FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL TÓPICO 3 – EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO TÓPICO 4 – EXAME DE SENSIBILIDADE Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 SEMIOLOGIA NEUROLÓGICA PARA FISIOTERAPEUTAS 1 INTRODUÇÃO A fisioterapia neurofuncional objetiva demonstrar ao aluno como uma avaliação realizada de forma minuciosa e bem-feita pode fazer diferença na vida neurológica de um paciente. A definição de metas a curto (duas a três semanas) e longo prazo (mais de três semanas) é de extrema importância para o sucesso do tratamento fisioterapêutico. Nos tópicos a seguir, entenderemos como podemos realizar uma anamnese e um bom exame físico de maneira qualificada e eficaz. 2 SEMIOLOGIA NEUROLÓGICA Ao traçarmos um plano de tratamento, devemos entender que o objetivo principal é produzir modificações de maneira significativa na qualidade de vida e da função do indivíduo, levando a um favorecimento da independência em termos de marcha, de atividades de vida diária, retorno ao trabalho e atividades recreativas. Tudo isso levará a um resultado positivo na qualidade de vida do paciente, proporcionando uma sensação de bem-estar, tanto físico quanto psicos- social (CARR; SHEPHERD, 2008). Por outro lado, nem todos os comprometimentos poderão ser tratados pela fisioterapia, já que algumas patologias são degenerativas, como a doença de Al- zheimer, na qual o objetivo do fisioterapeuta será reduzir o número e a gravida- de dos comprometimentos indiretos, para promover a integridade funcional. Um exemplo desse fato é quando o paciente apresenta patologia degenerativa e não há como recuperar a sua força muscular. Nesse caso, o fisioterapeuta deverá manter a integridade articular para que o paciente não sinta dor no momento da realização de atividades como higiene pessoal e outras (CARR; SHEPHERD, 2008). Ao falarmos de objetivos com o paciente, é importante sabermos que esse momento é compreendido por uma série de etapas que auxiliam o fisioterapeuta a planejar um tratamento eficiente, sempre lembrando e levando em considera- ção as necessidades e metas que o paciente também deseja alcançar (SULLIVAN; SCHMITZ, 2010). Quais são essas etapas? • Examinar o paciente. • Análise dos dados da avaliação. • Definição do diagnóstico cinético funcional. UNIDADE 1 — FISIOTERAPIA NEUROLÓGICA 4 • Elaboração do tratamento fisioterapêutico. • Definição do prognóstico. • Reavaliação do paciente e análise dos resultados do tratamento. É importante saber que na avaliação de pacientes neurológicos não devemos nos ater somente ao exame físico, mas também levantar informações direcionadas com a utilização de medicamentos, avaliações psicológicas para entendermos se o paciente está orientado em tempo e espaço, cirurgias realizadas (caso tenha aconte- cido) e também exames complementares, como radiografias, tomografias computa- dorizadas, ressonâncias magnéticas e outros (CARR; SHEPHERD, 2008). Vamos verificar de que forma podemos realizar a avaliação desses itens a seguir. Para entendermos mais sobre a anamnese voltada para patologias específicas, o artigo escrito por Mesquita et al. (2014), expressa como a avaliação funcional é realizada em pacientes com hanseníase. • MESQUITA, R. et al. Avaliação neurofuncional em pacientes com Hanseníase. Revista Brasileira em Promoção da Saúde, v. 27, n. 2, p. 247-255, 2014. DICAS 2.1 QUEIXA PRINCIPAL (Q.P.) E HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL (H.D.A.) Comumente, a avaliação neurológica se inicia com a coleta da queixa principal do paciente, já que isso ajudará a nortear o plano de tratamento (SULLI- VAN; SCHMITZ, 2010). A grande maioria dos profissionais iniciam sua avaliação com a investiga- ção sobre a história patológica pregressa (veremos mais à frente), já que ela nos ajuda a entender a presença de algumas comorbidades, ou seja, fatores de risco para o desenvolvimento da doença atual (SULLIVAN; SCHMITZ, 2010). Um exemplo é a história patológica pregressa da hipertensão arterial sis- têmica não controlada, na qual favorece o desenvolvimento de um acidente vas- cular encefálico (AVE) ou acidente vascular cerebral (CARR; SHEPHERD, 2008). Conduzir a avaliação dessa forma auxilia a colocação da história da doença atual em perspectiva e faz com que se considere se a doença atual é uma complicação de al- guma condição subjacente ou é um processo independente (CARR; SHEPHERD, 2008). TÓPICO 1 — SEMIOLOGIA NEUROLÓGICA PARA FISIOTERAPEUTAS 5 Uma informação importante que devemos sempre levar em consideração é que a queixa principal deve ser sempre registrada com as palavras do paciente (SIC – Segundo informações coletadas) e entre aspas (SULLIVAN; SCHMITZ, 2010). Por exemplo: a senhora Mariana relatou “Meus dedos não se movimen- tam e estão duros e sem movimentos nenhum”. Vale a pena lembrar aqui que não podemos alterar a forma como o pacien- te descreve a queixa principal (LUNDY-EKMAN, 2004). Com relação à história da doença atual, podemos auxiliar o paciente realizando algumas perguntas de maneira direcionada para que o paciente relate de forma correta o que aconteceu durante a patologia em que ele procura auxílio fisioterapêutico. Podemos direcionar da seguinte forma: “Que tipo de problema a senhora está tendo?”, ou “O que o trouxe aqui?” Ou “O que há de errado com a senhora?” Ou “O que fez a senhora procurar a fisioterapia?” (SULLIVAN; SCHMITZ, 2010). É importante orientar o paciente a descrever a história de forma cronológica, para identificar o período de tempo até o início dos sintomas (SULLIVAN; SCHMITZ, 2010). Um exemplo que podemos observar quando o paciente relata a história da do- ença é a ocorrência sintomas antes do indivíduo procurar um hospital devido à ocor- rência de um AVE (esses sintomas são:fraqueza em membro superior, paralisia facial, desmaios entre outras. Vai depender do tipo de AVE) (LUNDY-EKMAN, 2004). Com isso, o paciente pressupõe rapidamente que algum evento recente é a causa de sua dificuldade atual (LUNDY-EKMAN, 2004). Outro fato que deve- mos levar em consideração quando descrevamos a história da doença atual é a evolução temporal da doença, ou seja, se ela é remissiva (não há sinais de ativida- de da doença), intermitente, progressiva ou se está apresentando melhora. Esse fator é importante, pois caracteriza a patologia e auxilia na sua etiologia. Dois bons exemplos desse fato são a presença de exacerbações e remissões na escle- rose múltipla ou um início abrupto de sintomas seguido de melhoras com graus variáveis de recuperação nos traumatismos cranianos e acidentes vasculares en- cefálicos (SULLIVAN; SCHMITZ, 2010). Da mesma forma, é importante verificarmos os marcos mais importantes da doença, ou seja, perguntar ao paciente qual foi a última vez que ele se sentiu bem, desde quando ele utiliza órtese de assistência, quando ele teve que parar de trabalhar, desde quando ele precisa de ajuda para realizar algumas atividades de vida diária e quando ele foi forçado a recolher ao leito (SULLIVAN; SCHMITZ, 2010). UNIDADE 1 — FISIOTERAPIA NEUROLÓGICA 6 2.2 HISTÓRIA PATOLÓGICA PREGRESSA A história patológica pregressa é de suma importância já que o apare- cimento dos sintomas neurológicos muitas vezes se correlaciona com doenças sistêmicas (LUNDY-EKMAN, 2004). É importante verificar a presença de algumas doenças anteriores ao apa- recimento das sequelas neurológicas, pois isso auxilia o fisioterapeuta na defi- nição de um diagnóstico e também a traçar um plano de tratamento com maior eficácia (LUNDY-EKMAN, 2004). Podemos demonstrar esse fato com o seguinte exemplo: uma história de cardiopatia congênita recente pode ser relevante em pacientes com doenças vascu- lares cerebrais, e com isso, devemos ficar atentos (LUNDY-EKMAN, 2004). Além disso, devemos questionar o paciente sobre os problemas médicos anteriores envolvendo outras regiões e sistemas do corpo, ou seja, verificar se os sistemas cardíaco, metabólico, visual, dermatológico, respiratório, gastrintestinal apresentam qualquer tipo de alterações (SULLIVAN; SCHMITZ, 2010). Com relação às terapias medicamentosas, devemos entender que é de grande importância questionar sobre o tipo de medicamento, a frequência e dose utilizada pelo paciente (SULLIVAN; SCHMITZ, 2010). Ainda, o fisioterapeuta deve saber que alguns medicamentos podem modificar ou até mesmo reduzir o nível dos sintomas durante a avaliação neurológica, como os analgésicos e anti-inflamatórios. Um exemplo disso é a utilização de corticosteroides, que podem reduzir a força tensiva dos ligamentos (SULLIVAN; SCHMITZ, 2010). Da mesma forma, o conhecimento das medicações utilizadas pelo paciente é um fator importante, porque várias medicações têm efeitos colaterais neurológicos. Muitas drogas podem causar efeitos colaterais, como náuseas, cefaleia, parestesias, câimbras, tonturas, fraqueza muscular entre outros (CARR; SHEPHERD, 2008). A avaliação fisioterapêutica (seja ela neurológica ou não) é muito importante e essencial para reabilitar de maneira efetiva o paciente. Leia o artigo de Gavim et al. e entenda mais sobre a influência de uma avaliação fisiotera- pêutica na reabilitação neurológica. • GAVIM, A. E. et al. A influência da avaliação fisioterapêutica na reabilitação neurológi- ca. Epilepsia, v. 7, p. 90, 2012. DICAS TÓPICO 1 — SEMIOLOGIA NEUROLÓGICA PARA FISIOTERAPEUTAS 7 2.3 HISTÓRICO FAMILIAR A história familiar do paciente é de suma importância e deve ser coletada. Ela representa uma investigação sobre a possibilidade de doenças hereditárias, além das perguntas habituais como presença de câncer, diabetes, hipertensão arterial sistêmica e doenças cardiovasculares, a história familiar é extremamente importante em pacientes com enxaqueca, epilepsia, doenças vasculares cerebrais, transtornos do movimento, miopatias e doenças cerebelares, dentre outras (SULLIVAN; SCHMITZ, 2010). 2.4 HISTÓRICO SOCIAL Para fecharmos a parte inicial da anamnese devemos coletar a história social do paciente (SULLIVAN; SCHMITZ, 2010). Adquirir informações a respeito do estado civil do paciente, nível de ins- trução, se houve casamentos anteriores, ocupação e hábitos pessoais é importante (SULLIVAN; SCHMITZ, 2010). É necessário saber se no trabalho são utilizados equipamentos de segurança pessoal e se o paciente tem contato com neurotoxinas ou outras substâncias prejudiciais, níveis de esforço físico e atividades motoras repetidas (SULLIVAN; SCHMITZ, 2010). Outra informação relevante é questionar sobre os passatempos e horas de lazer, pois nesse caso deve-se verificar se nesse caso há exposição a toxinas ou lesão por movimentos repetidos. Além disso, os hábitos regulares devem ser investigados, como o uso de álcool, tabaco, drogas, café, chá e substâncias seme- lhantes (SULLIVAN; SCHMITZ, 2010). 8 Neste tópico, você aprendeu que: RESUMO DO TÓPICO 1 • Comumente a avaliação neurológica se inicia com a coleta da queixa principal do paciente, já que isso ajudará a nortear o plano de tratamento. • Na história social, devemos adquirir informações a respeito do estado civil do paciente, nível de instrução, se houve casamentos anteriores, ocupação e hábitos pessoais. • Devemos questionar o paciente sobre os problemas médicos anteriores envol- vendo outras regiões e sistemas do corpo. • É importante orientar o paciente a descrever a história de forma cronológica, para identificar o período de tempo até o início dos sintomas. • Com relação à história da doença atual, podemos auxiliar o paciente realizan- do algumas perguntas de maneira direcionada. 9 1 “É necessário saber se no trabalho são utilizados equipamentos de segurança pessoal e se o paciente tem contato com neurotoxinas ou outras substâncias prejudiciais, níveis de esforço físico e atividades motoras repetidas”. Acerca do assunto correspondente do exposto, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) História da Doença Atual. b) ( ) Queixa Principal. c) ( ) Histórico Familiar. e) ( ) Histórico Social. 2 Na anamnese, uma parte muito importante demonstra que o aparecimento dos sintomas neurológicos muitas vezes se correlaciona com doenças sis- têmicas. Com isso, é importante verificar a presença de algumas doenças anteriores ao aparecimento das sequelas neurológicas, pois isso auxilia o fisioterapeuta na definição de um diagnóstico. Qual parte está relacionada com a assertiva citada? a) ( ) História Patológica Pregressa. b) ( ) Objetivos do tratamento. c) ( ) Planejamento do tratamento. d) ( ) Sinais e sintomas. 3 Comumente, a avaliação neurológica se inicia com a coleta da queixa prin- cipal do paciente, já que isso ajudará a nortear o plano de tratamento. Sendo assim, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Adquirir informações a respeito do estado civil do paciente, nível de instrução, se houve casamentos anteriores, ocupação e hábitos pessoais não irá fazer diferença no planejamento do tratamento. b) ( ) Comumente a avaliação neurológica se inicia com a coleta da queixa principal do paciente, já que isso ajudará a nortear o plano de tratamento. c) ( ) Não é de extrema importância saber se no trabalho são utilizados equipa- mentos de segurança pessoal e se o paciente tem contato com neurotoxinas. d) ( ) Com relação às terapias medicamentosas, não é de grande importância questionar sobre o tipo de medicamento, a frequência e dose utilizada. AUTOATIVIDADE 10 11 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 ALTERAÇÕES FUNCIONAIS NA FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL 1 INTRODUÇÃO Após a realização da anamnese de maneira inicial, é importante que haja continuidade na avaliação fisioterapêutica neurológica. Nesse tópico, abordare- mos as principais alterações encontradas durante a avaliação e, além disso, obser- var alguns instrumentosavaliativos que podemos utilizar, dentre eles a CIF, que é a Classificação Internacional de Funcionalidade e Incapacidade. 2 ALTERAÇÕES FUNCIONAIS Após a realização da anamnese inicial, é de suma importância realizar uma organização, analisar os dados coletados e posteriormente realizar a identificação de alterações funcionais. Nesse caso, o fisioterapeuta deve considerar uma série de fatores ao avaliar os dados coletados, incluindo o grau de comprometimento, o grau de perda funcional, o desempenho físico e o estado geral de saúde do paciente. 2.1 CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE E INCAPACIDADE E SAÚDE (CIF) A Classificação Internacional de Doenças e de Problemas Relacionados à Saúde (CID) é o sistema internacional que classifica os estados de saúde (GRAY; HENDERSHOT, 2000). Esse instrumento que é amplamente reconhecido e utiliza- do mundialmente não permite, no entanto, avaliar o impacto da doença no indiví- duo e nem descrever a restrição funcional determinada pela doença (OPAS, 2000). Com isso, a OMS iniciou estudos para a definição de um sistema classifica- tório e descritivo das alterações funcionais. Dessa forma, em 1980, em caráter expe- rimental, foi apresentada a primeira versão da Classificação Internacional de De- ficiências Incapacitantes e Desvantagens (CIDID) (GRAY; HENDERSHOT, 2000). Em outubro de 2000, essa classificação foi colocada em prática na segunda versão para avaliação de sua eficiência. E, desde outubro de 2001, já em sua versão final, foi in- cluída na “família” das classificações desenvolvidas pela OMS para aplicação em vários aspectos da saúde. A funcionalidade e a incapacidade, nos seus vários domínios, serão classificadas pela Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF) (WHO, 2001). 12 UNIDADE 1 — FISIOTERAPIA NEUROLÓGICA A CIF baseia-se no modelo de funcionalidade mais aceito atualmente, uma dinâmica interação entre a condição de saúde, estrutura corporal, atividade e participação, além dos fatores ambientais e pessoais (figura 1). FIGURA 1 – MODELO INTEGRADOR DA FUNCIONALIDADE HUMANA FONTE: <https://bit.ly/3ob1EiT>. Acesso em: 6 abr. 2021. A CIF apresenta objetivos específicos bem definidos e muito importantes. Vamos acompanhar: • Proporcionar uma base científica para a compreensão e o estudo da saúde, dos estados relacionadas com a saúde, dos resultados e dos determinantes. • Estabelecer uma linguagem comum para a descrição da saúde e dos esta- dos relacionados com a saúde, para melhorar a comunicação entre diferentes utilizadores, tais como: profissionais de saúde, investigadores, decisões e o público, inclusive pessoas com incapacidades. • Permitir a comparação de dados entre países, entre disciplinas relacionadas com os cuidados de saúde, entre serviços, e em diferentes momentos ao longo do tempo. • Proporcionar um esquema de codificação sistemático com aplicação nos siste- mas de informação de saúde. Estes objetivos estão inter-relacionados, já que que a necessidade de aplicar a CIF e a sua utilização requerem a construção de um sistema prático e útil que possa ser aplicado por vários utilizadores na política de saúde, na garantia da qualidade e na avaliação de resultados em diferentes culturas (GRAY; HENDERSHOT, 2000). TÓPICO 2 — ALTERAÇÕES FUNCIONAIS NA FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL 13 Para entender mais sobre a Classificação Internacional de Funcionalidade e Incapacidade, recomendamos a leitura da publicação do link a seguir: http://www.periciamedicadf.com.br/cif2/cif_portugues.pdf. DICAS 2.2 TERMINOLOGIAS RELACIONADAS A FUNÇÕES Como vimos anteriormente, a CIF da Organização Mundial de Saúde (OMS) pode ser utilizada para classificar observações clínicas, nas quais pode- mos classificar dois tipos de comprometimentos (SULLIVAN; SCHMITZ, 2010). Vamos entender cada um desses comprometimentos: • Comprometimentos diretos: são resultados diretos da doença ou da lesão, que consistem em alterações funcionais específicas. Como exemplo, pode-se citar a presença de parestesias, hipertonia e paresias como comprometimen- tos diretos do paciente que sofreu um AVE. • Comprometimentos indiretos: são sequelas que ocorrem devido a uma con- dição incapacitante, inatividade prolongada ou por falta de um tratamento fisioterapêutico adequado. Como exemplo, temos como comprometimentos indiretos a atrofia por desuso, pneumonias e úlceras de pressão. Com o objetivo de mensurar a independência funcional do paciente, o fisioterapeuta poderá utilizar mensurações globais, como: o Índice de Barthel (ou escala de Barthel), a Índice de Katz e a Mensuração de Independência Funcional (MIF) (DURWARD; BAER; WADE, 2000). Nesse momento, é importante sabermos como elas se apresentam e como funcionam. Vamos lá! Índice de Barthel O Índice de Barthel é um instrumento amplamente usado no mundo para a avaliação da independência funcional e mobilidade (PAIXÃO-JUNIOR; REI- CHENHEIM, 2005). Um estudo de revisão realizado em 2004 sobre instrumentos de avaliação do estado funcional do idoso, identificou este índice como um dos instrumentos mais uti- lizados para avaliar as atividades da vida diária (GUIMARÃES; GUIMARÃES, 2004). 14 UNIDADE 1 — FISIOTERAPIA NEUROLÓGICA Vale entender aqui que o Índice de Barthel não auxilia na elaboração do tratamento fisioterapêutico, porém nos ajuda a verificar o estado geral do pa- ciente quanto à dependência e independência, e assim auxiliar o fisioterapeuta a mensurar a progressão da doença, principalmente em doenças degenerativas (Figura 2) (DURWARD; BAER; WADE, 2000). FIGURA 2 – ESCALA DE BARTHEL TÓPICO 2 — ALTERAÇÕES FUNCIONAIS NA FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL 15 FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/3eEjbNf>. Acesso em: 29 mar. 2021. Escala de Katz O Índice de Katz tem a capacidade de avaliar seis funções relacionadas com as atividades cotidianas, que são a alimentação, a continência, a transferência (locomoção), a toalete, o vestir e o banho (Figura 3). 16 UNIDADE 1 — FISIOTERAPIA NEUROLÓGICA FIGURA 3 – ESCALA DE KATZ FONTE: <https://bit.ly/33zFbTg>. Acesso em: 29 mar. 2021 Medida de Independência Funcional (MIF) A MIF é uma escala multidimensional validada para o Brasil e que aborda o nível de independência em diversos domínios na execução das atividades mo- toras e cognitivas de vida diária por uma pessoa (REZENDE et al., 2011). Entre os domínios que a MIF aborda, podemos citar: uso do vaso sani- tário, transferências, vestir metade inferior e superior do corpo, higiene pessoal, alimentação entre outros (Figura 4). A pontuação da MIF segue os seguintes critérios: • 7 para independência completa; • 6 para independência modificada; • 5 para dependência moderada • 4 para dependência moderada com assistência com contato mínimo; • 3 para dependência moderada com assistência moderada; • 2 para dependência completa ou assistência máxima; • 1 para dependência completa com assistência total. Assim sendo, a MIF pode variar entre 18 e 126 pontos, sendo que 18 carac- teriza dependência completa e 126 se relaciona com a independência total. TÓPICO 2 — ALTERAÇÕES FUNCIONAIS NA FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL 17 FIGURA 4 – MEDIDA DE INDEPENDÊNCIA FUNCIONAL – MIF FONTE: <https://cutt.ly/6huWaeu>. Acesso em: 29 mar. 2021. 18 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • A Classificação Internacional de Doenças e de Problemas Relacionados à Saú- de (CID) é o sistema internacional que classifica os estados de saúde. • A funcionalidade e a incapacidade, nos seus vários domínios, serão classifica- das pela Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF). • A CIF baseia-se no modelo de funcionalidade mais aceito atualmente, uma dinâmica interação entre a condição de saúde, estrutura corporal, atividade e participação, além dos fatores ambientais e pessoais. • O Índice de Barthel é um instrumento amplamente usado no mundo para a avaliação da independência funcional e mobilidade. • O Índice de Katz tem a capacidade de avaliar seis funçõesrelacionadas com as atividades cotidianas, que são a alimentação, a continência, a transferência (locomoção), a toalete, o vestir e o banho. • A MIF é uma escala multidimensional validada para o Brasil e que aborda o nível de independência em diversos domínios na execução das atividades motoras e cognitivas de vida diária por uma pessoa. 19 1 Com o objetivo de mensurar a independência funcional do paciente, o fisiote- rapeuta poderá utilizar mensurações globais. Dentre elas, existe uma que nos diz “É uma escala multidimensional validada para o Brasil e que aborda o nível de independência em diversos domínios na execução das atividades motoras e cognitivas de vida diária por uma pessoa”. Qual é essa mensuração? a) ( ) Medida de Independência Funcional (MIF). b) ( ) Escala de BORG. c) ( ) Índice de Katz. d) ( ) Índice de Barthel. 2 Estabelecer uma linguagem comum para a descrição da saúde e dos estados relacionados com a saúde, para melhorar a comunicação entre diferentes utilizadores, tais como profissionais de saúde, investigadores, decisões e o público, inclusive pessoas com incapacidade é um dos objetivos da CIF. Sendo assim, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) A Classificação Internacional de Doenças e de Problemas Relacionados à Saúde (CIDID) é o sistema nacional que classifica os estados de saúde. b) ( ) A CID permitir a comparação de dados entre países, entre disciplinas relacionadas com os cuidados de saúde, entre serviços, e em diferentes momentos ao longo do tempo. c) ( ) A CIF baseia-se no modelo de funcionalidade mais aceito atualmente, uma dinâmica interação entre a condição de saúde, estrutura corporal, atividade e participação, além dos fatores ambientais e pessoais. d) ( ) A CIF é uma classificação que não proporciona um esquema de codificação sistemático com aplicação nos sistemas de informação de saúde, deixando a comunicação entre os profissionais de saúde cada vez mais prejudicada. 3 O Índice de Barthel é um instrumento amplamente usado no mundo para a avaliação da independência funcional e mobilidade. Sobre o exposto, assi- nale a alternativa CORRETA: a) ( ) O Índice de Barthel não auxilia na elaboração do tratamento fisiotera- pêutico. b) ( ) o Índice de Barthel auxilia na elaboração do tratamento fisioterapêutico além de verificar o estado geral do paciente. c) ( ) Não é de extrema importância, uma vez que ele avalia somente a de- pendência dos indivíduos pediátricos. d) ( ) Mensura a regressão de patologias degenerativas como a distrofia mus- cular de Duchenne. AUTOATIVIDADE 20 21 TÓPICO 3 — UNIDADE 1 EXAME FÍSICO NA FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL 1 INTRODUÇÃO Seguimos nosso livro chegando na parte de exame físico na fisioterapia neurofuncional. Devemos nos atentar que, no geral, a avaliação fisioterapêutica é a premissa do sucesso profissional. Através da coleta de dados realizada de ma- neira minuciosa e interpretação dos mesmos, garante-se condutas mais assertivas e, consequentemente, sucesso no tratamento. Possuímos uma gama de avaliações específicas, escalas e manipulações, porém, se faz necessário conhecer as necessi- dades individuais do paciente e aplicá-las. 2 EXAME FÍSICO O exame físico é o primeiro contato físico de fato com o paciente. No pri- meiro momento, o fisioterapeuta deverá entender a causa da disfunção e todo o processo nele envolvido sempre atento ao indivíduo como todo e a interação dos aspectos físicos, emocionais, ambientes e psíquicos do ser. Nesta etapa, a queixa principal (que já estudamos anteriormente) deve estar clara e todo o processo de adoecimento deve ser entendido (SULLIVAN; SCHMITZ, 2010). 2.1 FORÇA MUSCULAR Iniciaremos nossos estudos através da avaliação de força muscular. O tes- te muscular é um tema importante do exame físico, já que avalia o grau de força muscular que o paciente é capaz de realizar (UMPHRED, 2004). O teste muscular manual pode ser utilizado para a mensuração da força muscular de pacientes neurológicos. Uma das escalas amplamente utilizadas é a da MRC (Medical Research Council). 22 UNIDADE 1 — FISIOTERAPIA NEUROLÓGICA FIGURA 5 – ESCALA DE AVALIAÇÃO DA FORÇA MUSCULAR FONTE: <https://bit.ly/3eGI4Il>. Acesso em: 6 abr. 2021. No teste de força muscular devemos levar em consideração o arco de mo- vimento, a gravidade e a resistência (HISLOP; MONTGOMERY, 2008). No geral, o paciente é posicionado de forma que o músculo a ser testado esteja em uma posição na qual seja necessária a sua sustentação, ou seja, em uma posição que o obrigue a vencer a ação da gravidade (Figura 6) (HISLOP; MONTGOMERY, 2008). FIGURA 6 – EXEMPLO DE TESTE DE FORÇA MUSCULAR EM MEMBRO SUPERIOR FONTE: <https://cutt.ly/JhuEawc>. Acesso em: 29 mar. 2021. Caso o músculo não apresente força suficiente para vencer a ação da gravi- dade, ou seja, não é capaz de sustentar o peso do segmento corporal contra a gravi- dade, ele deverá ser posicionado no plano horizontal, no qual não haverá a ação da gravidade, para que o teste seja realizado (HISLOP; MONTGOMERY, 2008). Nessa avaliação muscular, o fisioterapeuta aplicará resistência gradual na parte distal do segmento corporal na qual o músculo se insere e em uma posição con- trária ao torque produzido pelo músculo testado (HISLOP; MONTGOMERY, 2008). TÓPICO 3 — EXAME FÍSICO NA FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL 23 Os graus do teste de força muscular fornecem uma impressão subjetiva da eficiência da contração de um músculo em determinadas condições, contudo, não é uma medida 100% fidedigna (HISLOP; MONTGOMERY, 2008). A força grau 0 é denominada plegia (Figura 7). As demais alterações rece- bem o nome de paresia. FIGURA 7 – TIPOS DE PLEGIA/PARESIA FONTE: <https://cutt.ly/5huEH6R>. Acesso em: 29 mar. 2021. Denomina-se monoparesia (ou plegia) o déficit restrito a um dos mem- bros, adicionando o adjetivo braquial ou crural, a depender do segmento acome- tido, membro superior ou membro inferior, respectivamente. Os déficits dimi- diados (ou seja, em metade do corpo) são denominados hemiparesia (ou plegia) (LUNDY-EKMAN, 2004). O termo paraparesia é empregado para déficit nos membros inferiores bilateralmente, e o termo tetraparesia, para déficits nos quatro membros. A força muscular para os movimentos de pressão e pinça pode ser mensu- rada por meio do uso do dinamômetro de mão (LUNDY-EKMAN, 2004). 24 UNIDADE 1 — FISIOTERAPIA NEUROLÓGICA FIGURA 8 – AFERIÇÃO DE FORÇA REALIZADA ATRAVÉS DE UM DINAMÔMETRO DE MÃO FONTE: <https://bit.ly/33Fy3om>. Acesso em: 29 mar. 2021. Além de utilizar a escala de força muscular manual, também podemos utilizar as manobras deficitárias. Vamos exemplificar algumas? A manobra de Mingazinni é uma das manobras deficitárias mais utilizadas nos membros inferiores. O indivíduo deve permanecer em decúbito dorsal, manter o quadril em e joelho em flexão e os pés em dorsiflexão. O paciente deve manter essa postura por dois minutos. Em condições em que há déficit, ocorrem oscilações ou quedas progressivas do pé, da perna ou da coxa, combinadas ou isoladas, caracteri- zando déficits distais, proximais ou combinados (Figura 9) (LUNDY-EKMAN, 2004). FIGURA 9 – MANOBRA DE MINGAZINNI FONTE: Adaptada de <https://cutt.ly/OhuRthM>. Acesso em: 29 mar. 2021. Já a manobra de Barré é caracteriza pelo indivíduo em decúbito ventral, man- tendo as pernas fletidas sobre as coxas (Figura 10). O déficit da musculatura flexora da perna leva a oscilações ou à queda da perna parética (LUNDY-EKMAN, 2004). TÓPICO 3 — EXAME FÍSICO NA FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL 25 FIGURA 10 – MANOBRA DE BARRÉ FONTE: Adaptada de <https://cutt.ly/8huRze0>. Acesso em: 29 mar. 2021. Uma outra manobra utilizada amplamente é a manobra dos braços esten- didos (ou mingazzini de membros superiores). Nessa manobra deficitária, o pa- ciente permanece na postura sentado ou de pé, mantendo os membros superiores estendidos para frente no plano horizontal, com os dedos afastados entre si. Essa posição deve ser mantidapor 2 minutos e permite constatar déficits distais, pro- ximais ou globais (LUNDY-EKMAN, 2004). FIGURA 11 – MANOBRA DOS BRAÇOS ESTENDIDOS (OU MINGAZINNI DE MEMBROS SUPERIORES) FONTE: <https://cutt.ly/EhuRE7o>. Acesso em: 29 mar. 2021. 2.2 AMPLITUDE DE MOVIMENTO A amplitude de movimento (ADM) é um parâmetro utilizado na avaliação e no acompanhamento fisioterapêutico. Muitas vezes, a avaliação da amplitude do movimento faz parte da definição da propedêutica e do prognóstico de um indivíduo submetido à Fisioterapia. A ADM varia de indivíduo para indivíduo, de acordo com idade, sexo, prática de atividade física (CARR; SHEPHERD, 2008). 26 UNIDADE 1 — FISIOTERAPIA NEUROLÓGICA Podemos classificar a ADM em: • Amplitude de movimento ativa: movimentação realizada voluntariamente, ou seja, sem auxílio do examinador. Nesse teste, é solicitado que o paciente realize movimentos de uma parte do corpo sem assistência: movimentos de flexão, extensão, abdução, adução, rotação medial e rotação lateral (Figura 12). FIGURA 12 – AMPLITUDE DE MOVIMENTO ATIVA DO OMBRO FONTE: <https://cutt.ly/LhuRG8U>. Acesso em: 29 mar. 2021. A amplitude de movimento ativa é mensurada de maneira mais fidedigna durante a realização de alguma ação relevante, como durante a fase de apoio ou de balanço da marcha e durante a transferência da posição sentada para a posição em pé. No caso de o paciente não conseguir realizar determinado movimento fun- cional, devemos pensar em algumas razões para a incapacidade, como: retrações de cápsula, de ligamentos, músculos e de tecidos moles, anormalidades de superfície articular e de fraqueza muscular. Todos esses fatores podem limitar a ADM ativa. Além disso, devemos observar se o paciente apresenta dor ou crepitações durante a realização do movimento ativo. • Amplitude de movimento passiva: são os movimentos realizados pelo exa- minador sem o auxílio ativo do paciente (Figura 13). TÓPICO 3 — EXAME FÍSICO NA FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL 27 FIGURA 13 – AMPLITUDE DE MOVIMENTO DO PASSIVA DE COTOVELO FONTE: <https://cutt.ly/2huR4Hx>. Acesso em: 29 mar. 2021. Normalmente, a amplitude de movimento passiva é maior que a ampli- tude de movimento ativa, pois as articulações têm uma pequena quantidade de movimento no final, que também chamamos de sensação final do movimento (end feel) de sua amplitude, que não é controlado voluntariamente. Vale ressaltar que, ao contrário da amplitude de movimentação ativa, a movimentação passiva não depende da força muscular e da coordenação do pa- ciente, afinal, o movimento é realizado pelo examinador; mas da mesma forma que a amplitude de movimentação ativa, a amplitude de movimentação passiva depende da integridade das superfícies articulares e da distensibilidade das cáp- sulas articulares, dos tendões e dos tecidos moles (LUNDY-EKMAN, 2004). Podemos avaliar a amplitude de movimento por meio da utilização de um goniômetro universal (Figura 14). FIGURA 14 – GONIÔMETRO (INSTRUMENTO QUE PERMITE A MENSURAÇÃO DE ÂNGULOS CORPORAIS) FONTE: <https://cutt.ly/PhuTatH>. Acesso em: 29 mar. 2021. 28 UNIDADE 1 — FISIOTERAPIA NEUROLÓGICA O goniômetro é o instrumento mais comumente utilizado na prática clí- nica. A goniometria é dependente dos pontos de referência usados como padrão para posicionamento dos braços do goniômetro e isso varia de acordo com a arti- culação testada (SULLIVAN; SCHMITZ, 2010). 2.3 TÔNUS MUSCULAR É caracterizado como o estado permanente de tensão dos músculos, ou seja, o estado de contração basal, definido como uma resistência à movimentação passiva (TEIXEIRA, 2008). Ao estudarmos a neurologia, devemos saber que a alteração de maior fre- quência das desordens do neurônio motor superior é a espasticidade, caracteri- zada por uma hiperexcitabilidade dos reflexos miotáticos e cutâneos, que fomen- tam o tônus muscular (hipertonia elástica). A hipertonia muscular é uma anormalidade motora caracterizada pelo aumento dos reflexos tônicos dependentes da velocidade do movimento (tônus muscular), resultando em hiperreflexia miotática decorrente da hiperatividade reflexa, um componente da síndrome do neurônio motor superior (Figura 15) (SULLIVAN; SCHMITZ, 2010). FIGURA 15 – ESPASTICIDADE EM MEMBRO SUPERIOR (MAIS PRECISAMENTE EM COTOVELO E PUNHO) FONTE: <https://bit.ly/3uMF7LW>. Acesso em: 29 mar. 2021. A espasticidade pode ser encontrada em diversas condições clínicas. Den- tre algumas, podemos citar: acidente vascular encefálico (AVE), paralisia cere- bral, lesões medulares, traumatismos cranianos, doenças degenerativas e desmie- linizantes entre outras alterações do neurônio motor superior. Ao avaliarmos o tônus, podemos entender que ele pode ser estudado das seguintes formas: TÓPICO 3 — EXAME FÍSICO NA FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL 29 • Palpação: verificação da consistência muscular, percebendo se há aumento do tônus ou diminuição do tônus. • Movimentação passiva: quanto à extensibilidade e à passividade. • Percussão: produção do fenômeno miotônico. Escala de Ashworth. A Escala Modificada de Ashworth é a escala mais utilizada na avaliação da espasticidade (Figura 16). Vamos analisá-la?! FIGURA 16 – ESCALA DE ASHWORTH MODIFICADA FONTE: <https://cutt.ly/YhuTn8R>. Acesso em: 29 mar. 2021. O examinador realiza o teste por meio da movimentação passiva da extre- midade com o arco de movimento para estirar determinados grupos musculares, quantificando sua resistência ao movimento de forma rápida nas diversas articu- lações (Figura 17) (SULLIVAN; SCHMITZ, 2010). FIGURA 17 – MOBILIZAÇÃO PARA AVALIAÇÃO DE TÔNUS FONTE: <https://cutt.ly/2huWYst>. Acesso em: 29 mar. 2021. 30 UNIDADE 1 — FISIOTERAPIA NEUROLÓGICA No caso das hipertonias musculares, dependendo do fator causal, o pa- ciente poderá apresentar uma hipertonia elástica (espasticidade, comum em pa- cientes com AVE) ou uma hipertonia plástica (rigidez, comumente encontrada em pacientes com doença de Parkinson) (Figura 18). FIGURA 18 – RIGIDEZ DO TIPO RODA DENTADA FONTE: <https://cutt.ly/BhuTXJS>. Acesso em: 29 mar. 2021. Por outro lado, quando houver diminuição do tônus, o paciente apresen- tará hipotonia muscular (Figura 19). FIGURA 19 – EXEMPLO DA CONDIÇÃO HIPOTÔNICA FONTE: <https://bit.ly/2SCdJC4>. Acesso em: 29 mar. 2021. 2.4 TROFISMO MUSCULAR O trofismo é caracterizado como a massa muscular, sendo o grau de hipertrofia do músculo. Ele pode ser avaliado através da inspeção visual, palpação e perimetria. Quando há a diminuição do trofismo muscular, algo bastante comum nas doenças neurológicas, dizemos que o paciente apresenta hipotrofia ou atrofia muscular (Figura 20). TÓPICO 3 — EXAME FÍSICO NA FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL 31 FIGURA 20 – ATROFIA MUSCULAR FONTE: <https://cutt.ly/NhuYybi>. Acesso em: 29 mar. 2021. Por outro lado, quando ocorre aumento da circunferência do músculo, dizemos que há hipertrofiamuscular (LUNDY-EKMAN, 2004). Existem também a pseudo-hipertrofia, que é o acúmulo de gordura ao invés da presença de trofismo, de fato (Figura 21). É muito comum em pacientes com distrofia muscular de Duchenne (LUNDY-EKMAN, 2004). FIGURA 21 – PSEUDOHIPERTROFIA DE PANTURRILHA ENCONTRADA NA DISTROFIA MUSCU- LAR DE DUCHENNE FONTE: <https://cutt.ly/FhuYkAV>. Acesso em: 29 mar. 2021. Examina-se o trofismo muscular pela inspeção, ou seja, observar locais de maior comprometimento como os adutores do polegar, deltoide, entre outros (LUNDY-EKMAN, 2004). 32 UNIDADE 1 — FISIOTERAPIA NEUROLÓGICA 2.5 REFLEXOS PROFUNDOS (MIOTÁTICOS) E SUPERFICIAIS Fisiologicamente falando, qualquer músculo estriado esquelético pode re- agir reflexamente à estimulação (LUNDY-EKMAN, 2004). Reflexos Profundos (Mioáticos) Uma vez que o estiramento do músculo constitui o estímulo específico para o reflexo miotático, concluímos que a percussão para testar os reflexos pro- fundos poderá ser realizada nos tendões, nos ossos ou no próprio músculo (Figu- ra 22) (LUNDY-EKMAN, 2004). FIGURA 22 – ESQUEMA RELACIONADO AO REFLEXO MIOTÁTICOFONTE: <https://cutt.ly/VhuYYrG>. Acesso em: 29 mar. 2021. A intensidade da resposta reflexa é graduada de acordo com a seguinte escala: 0 – abolição do reflexo; 1 a 3 – presente e com intensidade crescente; 4 – clônus transitório; 5 – clônus permanente. Embora todos os músculos possam responder ao estímulo de estiramento com contração reflexa, somente poucos reflexos são importantes do ponto de vista clínico e incluídos no exame neurológico (SULLIVAN; SCHMITZ, 2010). São eles: TÓPICO 3 — EXAME FÍSICO NA FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL 33 FIGURA 23 – REFLEXO BICIPITAL (C5-6) FONTE: <https://cutt.ly/uhuYHfc>. Acesso em: 29 mar. 2021. FIGURA 24 – REFLEXO TRICIPITAL (C6-8) FONTE: <https://cutt.ly/chuYChO>. Acesso em: 29 mar. 2021. FIGURA 25 – REFLEXO ESTILORRADIAL – RESPOSTA PROXIMAL (C5-6) E DISTAL (C7-8) FONTE: <https://cutt.ly/chuY2cg>. Acesso em: 29 mar. 2021. 34 UNIDADE 1 — FISIOTERAPIA NEUROLÓGICA FIGURA 26 – REFLEXO DOS ADUTORES DA COXA (L2-4) FONTE: <https://cutt.ly/5huUqgP>. Acesso em: 29 mar. 2021. FIGURA 27 – REFLEXO PATELAR (L2-4) FONTE: <https://cutt.ly/XhuUi71>. Acesso em: 29 mar. 2021. FIGURA 28 – REFLEXO AQUILEU (S1-2) FONTE: <https://cutt.ly/OhuUdyY>. Acesso em: 29 mar. 2021. TÓPICO 3 — EXAME FÍSICO NA FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL 35 • Reflexos superficiais Agora, quando falamos e estudamos sobre os reflexos cutâneos super- ficiais, o estímulo é aplicado na pele, evocando a contração reflexa do músculo (SULLIVAN; SCHMITZ, 2010). São diferentes dos reflexos profundos devido à variedade de estímulos capazes de produzi-los. Enquanto cada músculo apresenta o seu reflexo miotáti- co, apenas poucos músculos respondem ao reflexo superficial (TEIXEIRA, 2008). Nos reflexos superficiais o estímulo provocador do reflexo é superficial, feito, em geral, com uma agulha de ponta romba (muito presente nos martelinhos de reflexo). Vamos entender alguns desses reflexos: • Reflexo Cutâneo abdominal: estimulação com um objeto com ponta romba na região abdominal dos flancos para a cicatriz umbilical na região da inerva- ção das raízes T7-T9, T9-T10, T11-T12, com o paciente deitado. É importante que o estímulo provocador seja rápido, sendo difícil pro- vocar a resposta com a manobra lenta (Figura 29). Como resposta, haverá a con- tração da musculatura abdominal com desvio da cicatriz umbilical para o lado estimulado (músculo reto abdominal e oblíquos). FIGURA 29 – REFLEXO CUTÂNEO ABDOMINAL (INDICAÇÃO DA ESTIMULAÇÃO) FONTE: <https://cutt.ly/JhuUnSd>. Acesso em: 29 mar. 2021. • Reflexo Cutâneo-plantar: estimulação com um objeto semipontiagudo na planta dos pés, do calcanhar em direção aos dedos, pela borda lateral do pé, com o paciente deitado. Como resposta, ocorrerá contração dos músculos flexores dos pododáctilos (Figura 30). 36 UNIDADE 1 — FISIOTERAPIA NEUROLÓGICA FIGURA 30 – REFLEXO CUTÂNEO PLANTAR (IMAGEM À ESQUERDA) E PRESENÇA DO SINAL DE BABINSKI CASO HAJA UMA LESÃO NO TRATO CORTICOPIRAMIDAL (IMAGEM À DIRETA) FONTE: <https://cutt.ly/7huUDDY>. Acesso em: 29 mar. 2021. Nos casos de lesões nas vias piramidais, esse reflexo estará abolido, sendo substituído pelo sinal de Babinski, que consiste na flexão dorsal ou extensão lenta do hálux, provocada pela estimulação da região plantar. A abdução ou abertura em leque dos pododáctilos e a retirada por flexão do joelho e do quadril pode associar-se à extensão do hálux (SULLIVAN; SCHMITZ, 2010). Nos casos de lesão piramidal, o sinal de Babinski estará presente e sempre será evidenciado por meio da extensão do hálux (SULLIVAN; SCMITZ, 2004). Vale a pena ressaltar aqui que NÃO existe sinal de Babinski positivo ou negativo, e sim PRESENTE e AUSENTE. Caso o paciente não tolere a pesquisa do reflexo cutâneo-plantar (pesqui- sa do sinal de Babinski) podemos realizar a busca dos sucedâneos de Babinski. Vamos observar alguns?! • Sinal de Chaddock: obtido por meio da estimulação da face lateral do pé, em torno do maléolo externo (Figura 31). FIGURA 31 – SINAL DE CHADDOCK (SUCEDÂNEO DE BABINSKI) FONTE: <https://bit.ly/3y6Tfld>. Acesso em: 29 mar. 2021. TÓPICO 3 — EXAME FÍSICO NA FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL 37 • Sinal de Gordon: a pesquisa se dá por meio da compressão da região da pan- turrilha (Figura 32). FIGURA 32 – SINAL DE GORDON REALIZADO ATRAVÉS DA COMPRESSÃO DA PANTURRILHA FONTE: Adaptada de <https://cutt.ly/zhuU25Q>. Acesso em: 29 mar. 2021. FIGURA 33 – SINAL DE OPPENHEIM, UM DOS SUCEDÂNEOS DE BABINKI • Sinal de Oppenheim: é obtido através da pressão dos dedos polegar e indicador sobre a face interna da tíbia, por meio da compressão do calcâneo (Figura 33). FONTE: <https://cutt.ly/bhuU5uW>. Acesso em: 29 mar. 2021. 2.6 COORDENAÇÃO MOTORA Quando estudamos sobre coordenação motora, um termo muito utilizado é “ataxia” que descreve a coordenação anormal de movimentos, sendo caracteri- zada por deficiência na velocidade, amplitude de deslocamento, precisão direcio- nal e força de movimento (SPECIALI, 1996). No estudo da coordenação motora também encontramos o termo “dismetria” que é caracterizada pela amplitude incorreta de movimento e força mal direcionada e reflete a deficiência na regulação da força muscular. Há uma quantidade excessiva de movimento (hipermetria) ou quantidade insuficiente de movimento (hipometria). 38 UNIDADE 1 — FISIOTERAPIA NEUROLÓGICA Os movimentos hipermétricos podem ser melhor observados em movi- mentos curtos, rápidos e intencionais e durante os ajustes posturais. Por outro lado, os movimentos hipométricos são mais observados em movimentos lentos e de pequena amplitude (CARR; SHEPHERD, 2008). As seguintes manobras são utilizadas para realizar a avaliação da coorde- nação motora: - Prova index-nariz: tocar a ponta do nariz com o indicador. Essa prova deverá ser realizada acompanhada ou não pelo auxílio da visão. FIGURA 34 – FISIOTERAPEUTA DEMONSTRA COMO O PACIENTE DEVE REALIZAR O TESTE INDEX-NARIZ FONTE: <https://bit.ly/3uUfb0M>. Acesso em: 29 mar. 2021. - Prova índex-nariz-índex: consiste em tocar o nariz com o índex e, posterior- mente, o índex do examinador de forma repetida e com deslocamento de posi- ção do índex do examinador. - Prova calcanhar-joelho: paciente em decúbito dorsal, tocar o joelho com o calca- nhar do lado oposto e deslizar o calcanhar ao longo da crista da tíbia (Figura 35). FIGURA 35 – EXAMINADOR AUXILIA PACIENTE A REALIZAR A PROVA CALCANHAR-JOELHO FONTE: <https://bit.ly/3bmakOx>. Acesso em: 29 mar. 2021. TÓPICO 3 — EXAME FÍSICO NA FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL 39 d) Prova dos movimentos alterados: efetuar movimentos sucessivos de pronação e supinação das mãos (Figura 36). FIGURA 36 – PROVA DOS MOVIMENTOS ALTERNADOS EM MEMBROS SUPERIORES FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/33DBHPS >. Acesso em: 29 mar. 2021. 2.7 EQUILÍBRIO O equilíbrio postural é caracterizado como a manutenção da posição de equilíbrio, tanto estático como dinâmico, do corpo humano, capazes de assegurar que o centro de gravidade do corpo se mantenha dentro do eixo de sustentação, tanto em condições estáticas (posição em pé), quanto dinâmicas (marcha). Para avaliarmos o equilíbrio, utilizamos as seguintes manobras (TEIXEIRA, 2008). • Teste de Romberg para avaliação do equilíbrio estático: o teste é realizado em pé, pés unidos e olhos fechados. No caso de alteração do equilíbrio, o paciente apresen- tará oscilação da postura e aumentará sua base de sustentação (Figura 37). Também podemos realizar o teste de Romberg sensibilizado, no qual é colocado um pé na frente do outro (postura que chamamos de TANDEM). 40 UNIDADE 1 — FISIOTERAPIA NEUROLÓGICA FIGURA 37 – TESTE DE ROMBERG PARA EQUILÍBRIO ESTÁTICO FONTE: <https://bit.ly/3bnQBhf>. Acesso em: 29 mar. 2021. • Teste do passo Fukuda para avaliação do equilíbrio dinâmico: o teste é rea- lizado sobre três círculos concêntricos desenhados no chão, cujos raios têm 0,5 m de diferença entre si. Esses círculos são divididos em 12 partes iguais, por retas que cruzam o centro, formandoum ângulo de 30°. O paciente marcha, elevando os joelhos aproximadamente 45° sem des- locar-se, executando 60 passos (um por segundo) com os braços estendidos e os olhos fechados. São considerados resultados patológicos se houver deslocamento maior do que 1m e/ou rotação superior a 30° (Figura 38). FIGURA 38 – TESTE DO PASSO FUKUDA PARA AVALIAÇÃO DO EQUILÍBRIO DINÂMICO FONTE: Adaptada de <https://cutt.ly/QhuIbHp>. Acesso em: 29 mar. 2021. 41 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • O teste muscular é um tema importante do exame físico, já que avalia o grau de força muscular que o paciente é capaz de realizar. • A força muscular para os movimentos de pressão e pinça pode ser mensurada por meio do uso do dinamômetro de mão. • A manobra de Mingazinni é uma das manobras deficitárias mais utilizadas nos membros inferiores. • A amplitude de movimento (ADM) é um parâmetro utilizado na avaliação e no acompanhamento fisioterapêutico. • O goniômetro é o instrumento utilizado com frequência na prática clínica. • A Escala Modificada de Ashworth é a escala mais utilizada na avaliação da espasticidade. • O trofismo é caracterizado como a massa muscular, sendo o grau de hipertro- fia do músculo. • O equilíbrio postural é caracterizado como a manutenção da posição de equi- líbrio, tanto estático como dinâmico, do corpo humano. 42 1 O exame físico é o primeiro contato físico de fato com o paciente. No pri- meiro momento, o fisioterapeuta deverá entender a causa da disfunção e todo o processo nele envolvido, sempre atento ao indivíduo como todo e a interação dos aspectos físicos, emocionais, ambientes e psíquicos do ser humano. “A manobra de Mingazinni é uma das manobras deficitárias mais utilizadas nos membros inferiores. O indivíduo deve permanecer em decú- bito dorsal, manter o quadril e joelho em flexão e os pés em dorsiflexão”. O exposto corresponde a qual parte do exame físico? a) ( ) Manobra Deficitária. b) ( ) Avaliação de Trofismo. c) ( ) Avaliação de Amplitude de Movimento. d) ( ) Escala de Ashworth. 2 Qual é a manobra deficitária que é caracteriza pelo indivíduo em decúbito ven- tral, mantendo as pernas fletidas sobre as coxas, na qual há déficit da muscula- tura flexora da perna quando ocorre oscilações ou à queda da perna parética? a) ( ) Mingazinni. b) ( ) Barré. c) ( ) Fukuda. d) ( ) Raimiste. 3 O tônus muscular é caracterizado como o estado permanente de tensão dos músculos, ou seja, o estado de contração basal, definido como uma resistência à movimentação passiva. Sobre o exposto, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) A hipertonia muscular é uma caracterizada pela diminuição dos refle- xos tônicos dependentes da velocidade do movimento. b) ( ) A Escala Modificada de Ashworth é a escala menos utilizada na avalia- ção da espasticidade. c) ( ) No caso das hipertonias musculares, dependendo do fator causal, o pa- ciente poderá apresentar uma hipertonia elástica ou inelástica. d) ( ) A alteração de maior frequência das desordens do neurônio motor su- perior é a espasticidade. AUTOATIVIDADE 43 TÓPICO 4 — UNIDADE 1 EXAME DE SENSIBILIDADE 1 INTRODUÇÃO Chegamos no nosso último tópico da Unidade 1. Ainda falando de avaliação fisioterapêutica neurológica, compreenderemos como podemos avaliar a sensibilida- de do paciente. Entenderemos também sobre o que são os dermátomos e mioótomos e como podemos utilizá-los a favor da nossa avaliação. Finalmente, compreendere- mos também sobre os pares cranianos e suas responsabilidades e funções. 2 SENSIBILIDADE EXTEROCEPTIVA E PROPIOCEPTIVA O sistema sensitivo é importante para o dia a dia do ser humano, uma vez que ele faz com que o indivíduo se relacione com o ambiente (CARR; SHEPHERD, 2008). As sensações são dependentes de impulsos que surgem pela estimulação de receptores ou órgãos terminais (CARR; SHEPHERD, 2008). As sensibilidades somáticas compreendem todos os sentidos, com exceção do paladar, visão, olfato, audição e sensações vestibulares (LUNDY-EKMAN, 2004). A sensibilidade pode ser dividida em exteroceptiva, interoceptiva e propioceptiva. O sistema exteroceptivo fornece informação acerca do ambiente externo, já o sistema interoceptivo informa as funções internas, como a pressão arterial ou a concentração de substâncias nos fluidos orgânicos. Existem testes padronizados para avaliação da sensibilidade exterocepti- va e proprioceptiva. Vamos observar? • Sensação tátil: o examinador deve solicitar ao paciente que indique quando per- ceber a sensação realizada. A pele é tocada com o objeto do teste em partes e lados do corpo de forma aleatória, sendo as respostas pontuadas da seguinte forma: 0 – ausente; 1 – deficiente; 2 – normal. Toque leve: tocar levemente a pele com chumaços de algodão (Figura 39). 44 UNIDADE 1 — FISIOTERAPIA NEUROLÓGICA FIGURA 39 – TESTE DE SENSIBILIDADE SUPERFICIAL UTILIZANDO UM CHUMAÇO ALGODÃO FIGURA 40 – TESTE DE DISCRIMINAÇÃO ENTRE DOIS PONTOS FONTE: <https://cutt.ly/1huI2iA>. Acesso em: 29 mar. 2021. FONTE: <https://cutt.ly/1huOehD>. Acesso em: 29 mar. 2021. • Discriminação entre dois pontos: podemos utilizar um compasso, 1 ou 2 pontos simultaneamente são aplicados sobre a pele, de forma irregular, du- rante meio segundo. O paciente deverá responder se 1 ou 2 pontos estão em contato com a pele (Figura 40). • Estereognosia: é um teste de habilidade no reconhecimento de objetos por meio do toque, isto é, com os olhos vendados (Figura 41). Nesse teste, coloca-se um objeto na mão do paciente e ele terá 20 segundos para discriminar o objeto, nomeando-o ou descrevendo-o. Os objetos podem ser: moedas, pente, lápis, caneta, chaves, tesoura. Os objetos são escolhidos por suas diferentes texturas e formas. TÓPICO 4 — EXAME DE SENSIBILIDADE 45 FIGURA 41 – PACIENTE E EXAMINADOR REALIZANDO O TESTE DE ESTEREOGNOSIA FONTE: <https://cutt.ly/thuOp5w>. Acesso em: 29 mar. 2021. A pontuação é: 0 – ausente; 1– deficiente; 2 – normal. 2.1 AVALIAÇÃO DOS MIÓTOMOS A avaliação dos miótomos é caracterizada por se tratar de um teste fun- cional para avaliar a força muscular em movimentos específicos (Figura 42). Sua finalidade é identificar a fraqueza muscular de um grupo muscular correspon- dente a um único movimento articular (SULLIVAN; SCHMITZ, 2010). FIGURA 42 – PRINCIPAIS MIÓTOMOS FONTE: <https://bit.ly/3biqwjC>. Acesso em: 29 mar. 2021. 46 UNIDADE 1 — FISIOTERAPIA NEUROLÓGICA 2.2 AVALIAÇÃO DOS DERMÁTOMOS A região da pele inervada por um único par de raízes sensitivas forma um der- mátomo. Cada raiz dorsal (sensitiva) é responsável pela sensibilidade de regiões pre- visíveis do corpo humano, sendo assim é possível criar um mapa corporal (Figura 43). FIGURA 43 – DERMÁTOMOS FONTE: <https://cutt.ly/JhuOYDR>. Acesso em: 29 mar. 2021. Esta metodologia de avaliação é de grande importância para o fisiotera- peuta, já que é a partir destes mapas que podemos estimar, por exemplo, quais raízes nervosas sensitivas foram afetadas em um paciente com lesão medular, ou identificar qual raiz nervosa sensitiva está sendo comprimida por uma hérnia de disco. Com isso, quando realizamos essa avaliação, podemos predizer a região medular ou a raiz nervosa que sofreu lesão (SULLIVAN; SCHMITZ, 2010). 2.3 AVALIAÇÃO DOS NERVOS CRANIANOS Os doze pares de nervos cranianos são classicamente numerados em se- quência craniocaudal seguindo a ordem de emergência do encéfalo (LUNDY- -EKMAN, 2004) (Figura 44). A maioria dos nervos cranianos (do III ao XII) apresenta sua origem no tronco encefálico, enquanto o nervo olfatório (I) origina-se do telencéfalo; e o ner- vo óptico (II) tem sua origem no diencéfalo (LUNDY-EKMAN, 2004). TÓPICO 4 — EXAME DE SENSIBILIDADE 47 FIGURA 44 – ORIGEM DOS PARES DE NERVOS CRANIANOS FONTE: <https://bit.ly/2RgCCTF>. Acesso em: 29 mar. 2021. O posicionamento do indivíduo para a avaliação dos nervos cranianos irá variar de acordo com o nervo a ser testado. Para entender mais sobre a avaliação dos