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Direito Civil - LINDB

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LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS 
DO DIREITO BRASILEIRO 
Versão Full 
 
 
 
 
 
2 
SUMÁRIO 
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 3 
2. FONTES DO DIREITO ................................................................................................................ 4 
2.1 LEI ......................................................................................................................................... 5 
2.2 COSTUMES .......................................................................................................................... 7 
2.3 ANALOGIA ............................................................................................................................ 8 
2.4 PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO ...................................................................................... 9 
2.5 DOUTRINA .......................................................................................................................... 11 
2.6 JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................. 12 
2.7 EQUIDADE .......................................................................................................................... 13 
3. APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS ................................................................. 14 
4. INTEGRAÇÃO DAS NORMAS ................................................................................................. 16 
5. VIGÊNCIA DAS NORMAS ....................................................................................................... 18 
6. OBRIGATORIEDADE DAS NORMAS ..................................................................................... 23 
7. EFICÁCIA DAS LEIS NO TEMPO ............................................................................................ 25 
8. EFICÁCIA DAS LEIS NO ESPAÇO ......................................................................................... 29 
9. ESTUDO DAS ANTINOMIAS JURÍDICAS ............................................................................... 38 
10. NORMAS SOBRE SEGURANÇA JURÍDICA E EFICIÊNCIA NA CRIAÇÃO E NA 
APLICAÇÃO DO DIREITO PÚBLICO (ACRESCENTADAS PELA LEI Nº 13.655/2018)............. 40 
10.1 DECISÃO COM BASE EM VALORES JURÍDICOS ABSTRATOS ...................................... 41 
10.2 DECISÃO QUE ACARRETE INVALIDAÇÃO DE ATO, CONTRATO, AJUSTE, PROCESSO 
OU NORMA ADMINISTRATIVA ................................................................................................ 43 
10.3 INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS SOBRE GESTÃO PÚBLICA ....................................... 44 
10.4 MUDANÇA DE INTERPRETAÇÃO OU ORIENTAÇÃO E MODULAÇÃO DOS EFEITOS DA 
DECISÃO .................................................................................................................................. 45 
10.5 MOMENTO DA REVISÃO E A ORIENTAÇÃO VIGENTE NA ÉPOCA DA PRÁTICA DO ATO
 .................................................................................................................................................. 46 
10.6 COMPROMISSO PARA ELIMINAR IRREGULARIDADE, INCERTEZA JURÍDICA OU 
SITUAÇÃO CONTENCIOSA NA APLICAÇÃO DO DIREITO PÚBLICO ..................................... 47 
10.7 IMPOSIÇÃO DE COMPENSAÇÃO .................................................................................... 48 
10.8 RESPONSABILIDADE DO AGENTE PÚBLICO ................................................................. 49 
10.9 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 51 
 
 
 
 
3 
1. INTRODUÇÃO 
A anteriormente intitulada Lei de Introdução ao Código Civil - LICC (Dec.-Lei nº 4.657, de 
4/9/1942) é atualmente denominada de Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro - 
LINDB (denominação alterada pela Lei nº 12.376, de 30/12/2010), sendo a referida alteração de 
nomenclatura de extrema relevância para situar a Lei em tela como norma que interessa a todo o 
ordenamento jurídico nacional e não apenas ao Direito Civil. 
Trata-se de legislação anexa ao Código Civil, mas autônoma, dele não fazendo parte. Na 
realidade constitui um repositório de normas preliminares à totalidade do ordenamento jurídico 
pátrio. É tida, assim, como norma de “sobredireito”, tendo em vista a sua finalidade de 
regulamentar outros ramos jurídicos, podendo ser considerada um Código de Normas, por ter a lei 
como tema central.1 
A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro é um conjunto de normas sobre 
normas (lex legum), visto que disciplina as próprias normas jurídicas, determinando o seu modo 
de aplicação e entendimento, no tempo e no espaço. Ultrapassa, assim, o âmbito do Direito Civil, 
pois enquanto o objeto das leis em geral é o comportamento humano, o da Lei de Introdução às 
Normas do Direito Brasileiro é a própria norma, disciplinando a sua elaboração e vigência, 
a sua aplicação no tempo e no espaço, as suas fontes e etc. 
 (TRF 4 - 2014) A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), na redação em 
vigor, estabelece a disciplina jurídica que regula, entre outros temas, a vigência da lei no tempo e 
no espaço e a aplicação dos princípios gerais do direito, dos costumes, da analogia e da equidade 
para suprir lacunas legais em determinadas situações, além de promover a operacionalidade das 
garantias constitucionais relacionadas ao respeito à coisa julgada e ao ato jurídico perfeito, 
contemplando também regras de direito internacional privado. De acordo com o art. 1º da Lei nº 
12.376/10, houve ampliação do campo de aplicação do Decreto-Lei nº 4.657/42, de tal modo que 
a LINDB, no seu atual formato, não se limita às normas de introdução ao Código Civil de 2002 (Lei 
nº 10.406/02), mas a todo Direito brasileiro. 
CERTO 
 
A estrutura da LINDB pode ser dividida em sete tópicos para a sua melhor compreensão. 
1) Vigência das normas: artigos 1º e 2º. 
 
1 Wilson de Campos Batalha, Lei de Introdução ao Código Civil, v. 1, p. 5-6; Maria Helena Diniz, Curso de direito civil 
brasileiro, 18. ed., São Paulo, Saraiva, 2002, v. 1, p. 57; Carlos Roberto Gonçalves, Direito civil, p. 13 (Col. Sinopses 
Jurídicas, v. 1) 
 
 
4 
2) Obrigatoriedade da norma: art. 3º. 
3) Integração da norma: art. 4º. 
4) Interpretação da norma: art. 5º. 
5) Aplicação da lei no tempo: art. 6º. 
6) Aplicação da lei no espaço: artigos 7º a 19. 
7) Normas sobre segurança jurídica e eficiência na criação e na aplicação do direito 
público (acrescentados pela Lei nº 13.655/2018): artigos 20 a 30. 
Feita essa análise preliminar, passemos ao estudo do conteúdo da LINDB, aprofundando-
nos nas questões que mais interessam na realização das provas de concursos públicos. 
2. FONTES DO DIREITO 
A expressão “fontes do direito” tem várias acepções. Tanto significa o poder de criar 
normas jurídicas, quanto a forma de expressão dessas normas. No sentido que interessa a 
este estudo, a expressão “fontes do direito” está relacionada ao aspecto de fonte criadora do 
direito, servindo para demonstrar suas formas de expressão, ou seja, uma amálgama de 
ambas as possibilidades extraídas pela doutrina do termo “fontes do direito”. 
No entanto, não há consenso doutrinário no tocante à classificação das fontes do direito, 
variando a depender do parâmetro utilizado na classificação. Para Sílvio Venosa2, as fontes 
diretas são as que, de per si, têm força suficiente para gerar a regra jurídica. Segundo o autor, 
para a doutrina tradicional, as fontes diretas também podem ser denominadas fontes imediatas ou 
primárias e, para a maioria dos doutrinadores, nessa classificação se enquadram a lei e o 
costume. 
Ao lado dessas, estão as fontes mediatas ou secundárias, que não têm a força das 
primeiras,mas esclarecem os espíritos dos aplicadores da lei e servem de precioso substrato 
para a compreensão e aplicação global do Direito. Como exemplos dessas fontes, podem ser 
citadas, sem unanimidade entre os juristas, a doutrina, a jurisprudência, a analogia, os 
princípios gerais de Direito e a equidade. 
Já para Flávio Tartuce3, em uma visão civilista clássica, as fontes formais, diretas ou 
imediatas são constituídas pela lei, pela analogia, pelos costumes e pelos princípios gerais de 
Direito, referidas no art. 4ª da LINDB. São fontes independentes que derivam da própria lei, 
bastando por si para a existência ou manifestação do Direito. 
Para o referido doutrinador, a lei constitui fonte formal, direta ou imediata primária, 
 
2 VENOSA, Sílvio de Salvo, Direito Civil. Parte Geral - Volume 1, 17ª ed. Ed. Gen, 2016. 
3 Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. 7. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: 
MÉTODO, 2017. 
 
 
5 
enquanto as demais fontes referidas são formais, diretas ou imediatas secundárias. O autor 
entende, por outro lado, que a equidade (a justiça do caso concreto) é fonte não formal, indireta 
ou mediata, assim como a doutrina e a jurisprudência. 
Alguns autores, porém, a exemplo de Maria Helena Diniz4, entendem que doutrina e 
jurisprudência podem ser consideradas partes integrantes dos costumes, constituindo também 
fontes formais, diretas ou imediatas secundárias do direito, desde que reconhecida a sua 
utilização pela comunidade jurídica em geral. 
A despeito da diversidade de classificações, passemos à análise das fontes propriamente 
ditas, com base na redação da LINDB e nas diretrizes adotadas pelas principais bancas de 
concurso. 
2.1 LEI 
A legislação é o processo de criação das normas jurídicas escritas, de observância geral, 
e, portanto, a fonte jurídica por excelência. Fonte formal, destarte, é a atividade legiferante, o meio 
pelo qual a norma jurídica se positiva com legítima força obrigatória. 
Carlos Roberto Gonçalves5, de forma didática e pertinente, aponta para as principais 
características da lei: 
“Dentre as várias características da lei destacam-se as seguintes: 
a) Generalidade: dirige-se a todos os cidadãos, indistintamente. O seu comando é abstrato, não 
podendo ser endereçada a determinada pessoa. Essa é uma característica marcante da lei, pois 
perde ela essa conotação quando particulariza o destinatário, não podendo ser assim 
denominada, malgrado tenha emanado do poder competente. (...) 
b) Imperatividade: impõe um dever, uma conduta aos indivíduos. (...) A lei é uma ordem, um 
comando. Quando exige uma ação, impõe; quando quer uma abstenção, proíbe. (...) 
c) Autorizamento: (...) autoriza que o lesado pela violação exija o cumprimento dela ou a 
reparação pelo mal causado. É ela, portanto, que autoriza e legitima o uso da faculdade de coagir. 
(...) Não é a sanção, como pretendem alguns, malgrado se trate de característica relevante para a 
efetivação da lei, que faz essa distinção, pois tanto as normas jurídicas como as normas éticas 
são sancionadoras. (...) Não é também a coação, pois a norma jurídica existe sem ela, tendo 
plena vigência com sua promulgação, ao passo que a coação depende da preexistência da norma 
 
4 DINIZ, Maria Helena, Curso de Direito Civil Brasileiro 1. Teoria Geral do Direito Civil, 35ª ed. Ed. SaraivaJur, 2018. 
5 Direito civil brasileiro, volume 1: parte geral / Carlos Roberto Gonçalves. – 15. ed. – São Paulo: Saraiva, 2017. 
 
 
6 
de direito, porque decorre da sua violação. Não é nem mesmo atributividade, consistente na 
faculdade de exigir do violador o cumprimento dela ou a reparação do mal sofrido. 
Esse entendimento é perfilhado por MARIA HELENA DINIZ, que por esse motivo assim conceitua 
a norma jurídica: imperativo autorizante. 
d) Permanência: a lei não se exaure numa só aplicação, pois deve perdurar até ser revogada por 
outra lei. Algumas normas, entretanto, são temporárias, destinadas a viger apenas durante certo 
período, como as que constam das disposições transitórias e as leis orçamentárias. 
e) Emanação de autoridade competente, de acordo com as competências legislativas previstas na 
Constituição Federal. A lei é ato do Estado, pelo seu Poder Legislativo. (...) Quando exorbita de 
suas atribuições, o ato é nulo, competindo ao Poder Judiciário recusar-lhe aplicação (CF, art. 97). 
No que tange à classificação das leis, a mais relevante delas é a que considera a sua força 
obrigatória. 
 (PGR 2013) Relativamente às expressões ius cogens e ius dispositivum, referem-se a uma 
distinção já superada nos tempos atuais. 
ERRADO 
As normas cogentes (ou de ordem pública) são aquelas que atendem mais diretamente 
ao interesse geral, merecendo aplicação obrigatória, eis que são dotadas de imperatividade 
absoluta. As partes não podem, mediante convenção, ilidir a incidência de uma norma cogente. 
Ademais, essas leis podem ser imperativas, quando ordenam certo comportamento, ou 
proibitivas, quando vedam um comportamento. 
Por outro lado, existem as chamadas normas dispositivas (também chamadas 
supletivas, interpretativas ou de ordem privada), que são aquelas que interessam somente aos 
particulares, podendo ser afastadas por disposição de vontade. 
Tais normas funcionam no silêncio dos contratantes, suprindo a manifestação de vontade 
porventura faltante. Exemplo: normas que dizem respeito ao condomínio, ao regime de bens do 
casamento e à anulabilidade de um negócio jurídico. 
Importante destacar, ainda, que nas lições de Maria Helena Diniz, as normas jurídicas, 
quanto à imperatividade, podem ser: (a) impositivas (ou de imperatividade absoluta), 
ordenando a ação ou abstenção de conduta, sem qualquer alternativa ou opção diferenciada, ou 
(b) dispositivas (de imperatividade relativa), que, por sua vez, subdividem-se em permissivas, 
supletivas ou também impositivas por interpretação doutrinária ou jurisprudencial. 
Perceba que são as mesmas definições, mas com uma classificação levemente diferente. 
 
 
7 
No entanto, é pertinente conhecê-la também. Sistematizando: 
Normas cogentes Normas dispositivas 
- Aplicação obrigatória, eis que são dotadas de 
imperatividade absoluta. 
- Interessam somente aos particulares, 
podendo ser afastadas por disposição de 
vontade. 
Podem ser: 
- imperativas, quando ordenam certo 
comportamento; 
- proibitivas, quando vedam um 
comportamento. 
 
Na classificação de Maria Helena Diniz: 
- Impositivas (ou de imperatividade absoluta), 
ordenando a ação ou abstenção de conduta. 
Na classificação de Maria Helena Diniz: 
- Dispositivas (de imperatividade relativa), que, 
por sua vez, subdividem-se em: 
- permissivas, supletivas ou também 
impositivas por interpretação doutrinária ou 
Jurisprudencial. 
2.2 COSTUMES 
Os costumes são, também, fonte supletiva em nosso sistema jurídico, porém estão 
colocados em plano secundário em relação à lei. O juiz só pode recorrer a eles depois de 
esgotadas as possibilidades de suprir a lacuna pelo emprego da analogia. Daí dizer-se que os 
costumes se caracterizam como fonte subsidiária ou fonte supletiva. 
 (PGE-AC 2012) A analogia, assim como o costume e os princípios gerais de direito, tem 
função integrativa no sistema jurídico brasileiro. 
CERTO 
 (TRF 1-2015) Nos casos de omissão da lei, deve o juiz decidir de acordo com a analogia, os 
costumes, os princípios gerais do direito e a equidade, pois lhe é vedado o non liquet. 
CERTO 
O costume é composto por dois elementos: o uso ou prática reiterada de um 
comportamento (elemento externo ou material) e a convicção de sua obrigatoriedade (elemento 
interno ou psicológico, caracterizado pela opinio juris et necessitate). 
Os costumes podem ser secundum legem (há referência expressa aos costumes no texto 
legal, razão pela qualnão se fala em integração, mas sim em subsunção, eis que a própria norma 
 
 
8 
jurídica é aplicada), praeter legem (costume integrativo, serve para preencher lacunas quando a 
lei for omissa) ou contra legem (costume que se opõe ao dispositivo de uma lei e, para a maioria 
dos doutrinadores, não pode ser admitido, por gerar instabilidade no sistema). 
Um adendo é necessário: para a doutrina dominante, o costume contrário à aplicação da 
lei não tem o poder de revogá-la, não existindo mais a chamada “desuetudo” (não aplicação 
da lei em virtude do desuso). Os autores em geral rejeitam o costume contra legem por 
entendê-lo incompatível com a tarefa do Estado e com o princípio de que as leis só se revogam 
por outras. 
 (MP-SC 2016) De acordo com a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro são formas 
de integração jurídica a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. Quanto aos 
costumes, a legislação refere-se a espécie praeter legem, ou seja, aquele que intervém na falta ou 
omissão da lei, apresentando caráter supletivo. 
CERTO 
2.3 ANALOGIA 
Trata-se de um processo de raciocínio lógico pelo qual o juiz estende um preceito legal a 
casos não diretamente compreendidos na descrição da lei. O juiz, assim, pesquisa a vontade 
da lei para transportá-la a casos que a letra do texto não havia compreendido. Para que tenha 
cabimento, portanto, é necessária uma omissão no ordenamento jurídico. 
O fundamento da analogia se encontra no adágio romano ubi eadem ratio, ibi idem jus 
(onde existe a mesma razão, aí se aplica a mesma lei), que expressa o princípio da igualdade 
de tratamento. 
Para o emprego da analogia requer-se a presença de três requisitos: 
a) inexistência de dispositivo legal prevendo e disciplinando a hipótese do caso concreto; 
b) semelhança entre a relação não contemplada e outra regulada na lei; 
c) identidade de fundamentos lógicos e jurídicos no ponto comum às duas situações. 
A analogia pode se operar de duas formas: legal ou legis (o aplicador do Direito busca 
uma norma que se aplica a casos semelhantes) ou jurídica ou iuris (não encontrando um texto 
semelhante para aplicar ao caso em exame, o juiz tenta extrair do pensamento dominante em um 
conjunto de normas uma conclusão particular para o caso). Sistematizando: 
Analogia legal Analogia jurídica 
- Aplicação de uma norma existente, 
destinada a reger caso semelhante ao 
- Baseia-se em um conjunto de normas, para 
obter elementos que permitam a sua aplicação 
 
 
9 
previsto. 
- A sua fonte é a norma jurídica isolada, que é 
aplicada a casos idênticos. 
ao caso sub judice não previsto, mas similar. 
 
 (MPE-PB 2010) A analogia juris consiste na aplicação de uma norma existente, destinada a 
reger caso semelhante ao previsto. 
ERRADO 
Por fim, aponte-se que não se deve confundir analogia com interpretação extensiva. A 
primeira implica o recurso a outra norma do sistema jurídico, em razão da inexistência de norma 
adequada à solução do caso concreto. A segunda, porém, consiste na extensão do âmbito de 
aplicação da mesma norma a situações não expressamente previstas, mas compreendidas pelo 
seu espírito, mediante uma interpretação menos literal. 
 
Analogia Interpretação extensiva 
- Utilização de norma diversa do sistema 
jurídico, em razão da inexistência de norma 
adequada à solução do caso concreto. 
- Extensão do âmbito de aplicação da mesma 
norma a situações não expressamente 
previstas, mas dentro da mens legis (espírito da 
lei), afastando uma interpretação estritamente 
literal. 
2.4 PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO 
Para Carlos Roberto Gonçalves6, de maneira sucinta, os princípios gerais do Direito são 
“constituídos de regras que se encontram na consciência dos povos e são universalmente aceitas, 
mesmo não escritas”. 
O conceito não é unânime na doutrina. Para Maria Helena Diniz7, por outro lado, “os 
princípios são cânones que não foram ditados, explicitamente, pelo elaborador da norma, 
mas que estão contidos de forma imanente no ordenamento jurídico”. 
De toda forma, tais regras, de caráter genérico, orientam a compreensão do sistema 
jurídico, em sua aplicação e integração, estejam ou não incluídas no direito positivo. Muitas 
delas passaram a integrar o nosso direito positivo, como a de que “ninguém pode lesar a 
outrem” (CC/02, art. 186), a que veda o enriquecimento sem causa (CC/02, arts. 876, 1.216, 
 
6 Ob. cit. p. 76 
7 Ob. cit. p. 86 
 
 
10 
1.220, 1.255, etc.), a que não admite escusa de não cumprimento da lei por não a conhecer 
(LINDB, art. 3º) e etc. 
Segundo o ensinamento de Francisco Amaral8: 
“(...) princípios jurídicos positivos distinguem-se em princípios constitucionais ou superiores, e 
princípios institucionais, que fundamentam e sistematizam determinados institutos ou 
instituições jurídicas. No direito brasileiro são princípios constitucionais, superiores, fundamentais, 
os referidos no art. 1º da Constituição Federal: soberania, cidadania, dignidade da pessoa 
humana, os valores sociais do trabalho e da livre-iniciativa, o pluralismo político. Têm força 
normativa, são Constituição, tendo aplicação preferencial sobre qualquer norma ordinária 
que se lhes oponha ou contradiga”. 
O referido autor prossegue: 
“(...) são princípios institucionais, ou legislativos, no direito de família, o princípio da igualdade 
dos cônjuges (CF, art. 226, § 5º), o princípio da igualdade dos filhos (CF, art. 227, § 6º)”. 
No entanto, à parte de ambas as categorias, os princípios gerais de Direito são diretivas 
básicas e gerais que orientam o intérprete ao aplicar o direito no caso de omissão do texto 
legal. 
Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald9 alertam para “não confundir os princípios gerais de 
direito com os princípios fundamentais do sistema jurídico. Estes (os princípios fundamentais) são as 
normas jurídicas com conteúdo valorativo (axiológico) aberto, a ser preenchido no caso concreto, 
possuindo nítida força vinculante, normativa. Ou seja, os princípios fundamentais são normas jurídicas 
e obrigam, vinculam. (...) São, em palavras diretas, os valores adotados por um sistema jurídico, tendo 
força normativa e influenciando o sistema jurídico como um todo. Aqueles (os princípios gerais de 
direito) são meros mecanismos de preenchimento de lacunas, sem qualquer conteúdo valorativo e 
com características 
universais. Assim, os princípios gerais são os mesmos em qualquer sistema jurídico, inspirando 
métodos para colmatar vazios normativos. Nessa ordem de ideias, somente serão utilizados os 
princípios informativos quando houver um vazio normativo, isto é, quando não existir para um 
determinado caso concreto uma norma jurídica, seja norma-regra, seja uma norma-princípio. 
Trocando em miúdos, somente serão utilizados os princípios gerias quando ausente um princípio 
fundamental”. 
Por fim, não se deve confundir os princípios gerais do Direito com as máximas 
jurídicas, os adágios ou brocardos, que nada mais são do que fórmulas concisas 
 
8 Direito civil, cit., p. 93-94. 
9 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil. Parte Geral e LINDB. Vol. 1. Ed. 10. 
Salvador: JusPodivm. 2012. p. 119/120. 
 
 
11 
representativas de uma experiência secular, sem valor jurídico próprio, mas dotados de valor 
pedagógico. 
 (TJ-PB 2011) Segundo a doutrina, os princípios gerais do direito expressam-se nas máximas 
jurídicas, nos adágios ou brocardes, sendo todas essas expressões fórmulas concisas que 
representam experiência secular, com valor jurídico próprio. 
ERRADO 
 
 Cuidado: A integração de normas no âmbito do Direito Tributário muda um pouco com 
relação à estabelecida na LINDB. O art. 108 do CTN enumera de forma sucessiva os critérios de 
solução. Além disso, a referida norma prefere, de modo expresso, os princípiosgerais do direito 
tributário, ao invés dos princípios gerais do direito comum. Vejamos: 
Art. 108, CTN. Na ausência de disposição expressa, a autoridade competente para aplicar a 
legislação tributária utilizará sucessivamente, na ordem indicada: 
I - a analogia; 
II - os princípios gerais de direito tributário; 
III - os princípios gerais de direito público; 
IV - a equidade. 
2.5 DOUTRINA 
A doutrina é o entendimento firmado pelos juristas de um determinado ordenamento 
jurídico, equacionando as questões relacionadas ao estudo do Direito. Por isso, é chamada 
também de direito científico ou direito dos juristas. Hodiernamente, de maneira praticamente 
unânime, vem se entendendo que a doutrina é fonte não formal do direito, porque se revela 
através da influência sobre o espírito dos profissionais da ciência jurídica. 
Atualmente, a doutrina não é tão utilizada ou tão citada nas decisões quanto antes de 
nossa codificação ou em seus primórdios. Porém, não restam dúvidas de que na doutrina o Direito 
se inspira, ora aclarando textos, ora sugerindo reformas, ora importando institutos. 
Como exemplo, Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald10 citam os “chamados conceitos 
vagos. É o caso, exempli gratia, da parte final do inciso I do art. 178 do Código de Processo Civil, 
aludindo à intervenção do Ministério Público, no processo civil, como fiscal da ordem jurídica (custos 
juris), nas causas em que estiver presente o interesse público ou social. Trata-se, nitidamente, de 
 
10 Farias, Cristiano Chaves de Curso de direito civil: parte geral e LINDB/Cristiano Chaves de Farias, Nelson Rosenvald 
- 15. ed. rev., ampl. e atual.- Salvador: Ed. JusPodivm, 2017. 
 
 
12 
conceito indeterminado (interesse público ou social) que deverá ter o seu balizamento afirmado pela 
doutrina". 
Há, ainda, posicionamento afirmando que, na verdade, a doutrina pode ser utilizada para a 
interpretação das chamadas “cláusulas gerais”. 
Nos dizeres de Carlos Roberto Gonçalves11, as cláusulas gerais "são janelas abertas 
deixadas pelo legislador, para que a doutrina e a jurisprudência definam seu alcance, formulando 
o julgador a própria regra concreta". 
 (DPE-PR 2014) Os conceitos jurídicos indeterminados não estão indicados na lei, decorrendo, 
apenas, de valores éticos, morais, sociais, econômicos e jurídicos. 
ERRADO 
2.6 JURISPRUDÊNCIA 
Por jurisprudência tem-se o conjunto de decisões judiciais proferidas em 
determinado sentido, afirmando a existência de uma linha de orientação sobre determinados 
temas. Pressupõe dois elementos: o conhecimento do Direito (pelos aplicadores) e a sua 
aplicabilidade no caso concreto. 
No Direito brasileiro, após o advento da Emenda Constitucional nº 45, de acordo com a 
redação do art. 103-A da Constituição de 1988, a jurisprudência ganhou especial importância, 
podendo, até mesmo, vincular as decisões dos demais órgãos do Poder Judiciário, quando se 
tratar de decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional. É o que se 
convencionou chamar de jurisprudência com efeito vinculante, ou simplesmente, súmula 
vinculante. 
O Novo Código de Processo Civil aprofundou ainda mais a referida diretriz, ao dispor sobre 
a observância de precedentes e atribuir efeitos vinculantes a determinadas espécies de decisão, 
nos seguintes termos: 
 Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão: 
I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade; 
II - os enunciados de súmula vinculante; 
III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas 
repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos; 
IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do 
Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional; 
 
11 Ob. cit. p. 44 
 
 
13 
V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados. 
Existe controvérsia doutrinária acerca da natureza vinculante ou não das decisões 
previstas nos incisos do art. 927 do Novo CPC. Dentro do tema em estudo, basta ao aluno 
entender que a jurisprudência ampliou substancialmente o seu papel na dicção atual do direito 
brasileiro. 
 
 (TRF1 – 2015) Novo texto normativo de lei federal poderá entrar em vigor ainda no seu período 
de vacatio legis, quando reforçar tendências doutrinárias e jurisprudenciais que se tenham 
formado na vigência da lei anterior. 
ERRADO 
2.7 EQUIDADE 
De forma breve, podemos conceituar a equidade como o juízo de razoabilidade e 
equilíbrio baseado no bom-senso com que o caso concreto é apreciado (é a justiça do caso 
concreto). 
 Classifica-se em equidade legal e judicial, sendo a primeira com previsão em texto de lei 
(CC/02, arts.413, 738, 944, 953, p. ex.) e a segunda como uma ordem ao juiz para que aplique as 
disposições legais a respeito da equidade para a situação posta em juízo. 
Equidade legal Equidade judicial 
- Aquela cuja aplicação está prevista no próprio 
texto legal. 
Exemplo pode ser retirado do art. 413 do 
CC/2002, que estabelece a redução equitativa 
da multa ou cláusula penal como um dever do 
magistrado. 
- Presente quando a lei determina que o 
magistrado deve decidir por equidade o caso 
concreto. 
O parágrafo único do art. 140 do CPC/2015 é 
exemplo clássico de previsão da referida 
espécie de equidade. 
Segundo o art. 140, parágrafo único, do NCPC, o juiz só decidirá por equidade nos casos 
previstos em lei. 
 Art. 140. O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do 
ordenamento jurídico. 
Parágrafo único. O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei. 
 
 
14 
A doutrina de Carlos Roberto Gonçalves12 aponta que “a equidade não constitui meio 
supletivo de lacuna da lei, sendo mero recurso auxiliar da aplicação desta. Não considerada 
em sua acepção lata, quando se confunde com o ideal de justiça, mas em sentido estrito, é 
empregada quando a própria lei cria espaços ou lacunas para o juiz formular a norma mais 
adequada ao caso. É utilizada quando a lei expressamente o permite”. 
Obs.: As bancas de concurso NÃO têm considerado a equidade como uma fonte do 
direito. 
 (TJ-AL 2008) A equidade não se revela como fonte do direito, pois a autorização de seu 
emprego apenas permite ao juiz criar normas para o caso concreto com base em preceitos de 
justiça. 
CERTO 
 (TJ-PE 2013) No caso de publicação para corrigir texto de lei publicado com incorreção, deve 
o conflito entre os textos ser resolvido pelo juiz por equidade, porque a Lei de Introdução às 
Normas do Direito Brasileiro não regula os efeitos da nova publicação de texto de lei. 
ERRADO 
3. APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS 
Interpretação não se confunde com integração. Integrar é preencher uma lacuna. Já 
interpretar é buscar o alcance e o sentido. Logo, a atividade interpretativa é a atividade de 
buscar o sentido e o alcance de uma norma que já existe. 
Interpretar é descobrir o sentido e o alcance da norma jurídica. Toda lei está sujeita a 
interpretação, não apenas as obscuras e ambíguas. O brocardo romano in claris cessat 
interpretatio não é acolhido hodiernamente, pois até para afirmar-se que a lei é clara é preciso 
interpretá-la. Há, na verdade, interpretações mais simples quando a lei é clara, e mais complexas 
quando o preceito é de difícil entendimento. 
A hermenêutica é a ciência da interpretação das leis. Como toda ciência, tem os seus 
métodos. 
Quanto às fontes ou origem, os métodos de interpretação classificam-se em: autêntico, 
jurisprudencial e doutrinário. 
 
Autêntico Jurisprudencial Doutrinário 
- Interpretação feita pelo - Interpretação fixada pelos - Interpretação feita pelos 
 
12 Ob. cit. p. 77 
 
 
15 
própriolegislador, por outro 
ato normativo. Reconhecendo 
a ambiguidade da norma, 
vota uma nova lei, destinada 
a esclarecer a sua intenção. 
tribunais. Embora não tenha, 
em regra, força vinculante, 
influencia grandemente os 
julgamentos nas instâncias 
inferiores. Ganhou ainda mais 
destaque com o CPC/2015. 
estudiosos e comentaristas do 
direito: os jurisconsultos. Os 
doutrinadores estudam e 
analisam o texto da lei, 
fornecendo subsídios, à luz dos 
conceitos inspiradores da 
norma, para que os operadores 
do direito possam entender o 
seu sentido e alcance e melhor 
aplicá-la em suas atividades. 
Quanto aos meios, a interpretação pode ser feita pelos métodos gramatical, lógico, 
sistemático, histórico e sociológico. 
Gramatical Lógico Sistemático Histórico Sociológico 
-Também 
conhecido como 
método literal, 
realizado através 
das regras de 
linguística, 
analisando o 
texto normativo 
buscando o seu 
sentido filológico. 
- Desenvolve-se 
um raciocínio 
lógico, 
transcendendo a 
letra fria da lei, 
com o fito de fixar 
o alcance e 
extensão da lei a 
partir das 
motivações 
políticas, 
históricas e 
ideológicas. 
- Parte-se da 
ideia de que a lei 
não existe 
isoladamente, 
devendo ser 
alcançado o seu 
sentido em 
consonância com 
as demais 
normas que 
inspiram aquele 
ramo do Direito. 
- Averiguação da 
origem do texto a 
ser interpretado, 
desde os projetos 
de lei e votações 
até a norma final 
em vigor. 
- Também 
denominado 
teleológico, 
procura adaptar a 
lei às exigências 
atuais e 
concretas da 
sociedade. 
Ressalte-se que as referidas técnicas interpretativas não se excluem, devendo ser 
procedida a interpretação a partir da combinação de diferentes critérios. 
Analisando a interpretação das normas sob o viés da LINDB, pertinente observar a 
redação do seu art. 5º, in verbis: 
 Art. 5º Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências 
do bem comum. 
O art. 5º consagra que em toda interpretação devem ser respeitados os fins sociais a que 
 
 
16 
se dirige a norma. Assim, toda interpretação é sociológica e teleológica. Em outras palavras, 
há um dever de observar o impacto que a norma terá em uma comunidade em toda interpretação. 
Ao realizar a interpretação da norma, podemos chegar a um resultado ampliativo, restritivo 
ou declarativo. 
a) interpretação ampliativa: as normas que digam respeito aos direitos fundamentais 
individuais ou sociais (ex.: art. 5º e 6º da CF/88) se submetem à interpretação ampliativa. 
b) interpretação declaratória: as normas de Direito Administrativo se submetem a uma 
interpretação declarativa, por conta do princípio da legalidade. 
c) interpretação restritiva: as normas que estabeleçam privilégio, sanção, renúncia, 
fiança e aval se submetem a interpretação restritiva. 
É pertinente enunciarmos exemplos que facilitem a assimilação dos resultados possíveis. 
Veja-se, por exemplo, o art. 819 do CC/02: 
 Art. 819. A fiança dar-se-á por escrito, e não admite interpretação extensiva. 
E mais, a Súmula nº 214 do STJ dispõe que o fiador, na locação, não responde por 
obrigações resultantes de aditamento ao qual não anuiu. 
 STJ Súmula 214 
O fiador na locação não responde por obrigações resultantes de aditamento ao qual não anuiu. 
 
 (TRF 5 – 2015) Se, ao interpretar a lei, o magistrado concluir que a impenhorabilidade do bem 
de família deve resguardar o sentido amplo da entidade familiar, abrangendo, além dos imóveis do 
casal, também os imóveis pertencentes a pessoas solteiras, separadas e viúvas, ainda que estas 
não estejam citadas expressamente no texto legal, essa interpretação, no que se refere aos meios 
de interpretação, será classificada como teleológica. 
CORRETO 
4. INTEGRAÇÃO DAS NORMAS 
Quando o fato se enquadra perfeitamente à norma, ocorre o fenômeno da subsunção. 
Contudo, nem sempre a subsunção será viável, por falta de norma aplicável ao caso concreto. 
Sendo assim, o processo de busca da norma aplicável pode resultar do emprego da subsunção 
ou dos mecanismos de integração ou colmatação (analogia, costumes e princípios gerais do 
Direito). 
 
 
17 
Assim dispõe o art. 140 do Código de Processo Civil: “O juiz não se exime de decidir sob a 
alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico”. Quando a lei for omissa, “o juiz 
decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito” 
(LINDB, art. 4º). E, como já mencionado, o juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em 
lei (CPC, art. 140, parágrafo único). 
Ressalte-se que o art. 4º da LINDB traz um rol TAXATIVO e preferencial de integração da 
norma. Sendo assim, o juiz deve se valer dessa ordem e somente dos critérios integrativos 
colocados neste dispositivo. 
No entanto, existe doutrina que contesta a obrigatoriedade de aplicar os métodos de 
colmatação na exata ordem do art. 4º, principalmente no que concerne aos princípios 
constitucionais (Nesse sentido: Tepedino e Tartuce). 
Obs.: As provas de concurso têm adotado a literalidade do art. 4º da LINDB. 
 (MP-MS 2013) Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os 
costumes, a equidade e os princípios gerais de direito. 
ERRADO 
 (DPE-PA 2009) Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às 
exigências do bem comum, sendo certo que, ao interpretá-la, o juiz decidirá o caso de acordo com 
a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. 
ERRADO 
Dessa forma, sempre que o intérprete não localizar no ordenamento jurídico a norma 
(norma-regra ou norma-principio) aplicável ao caso concreto, deve promover uma colmatação da 
norma jurídica (regras e princípios). É que tem guarida entre nós a vedação ao non liquet 
(NCPC, art. 140; CDC, art. 7º; CLT, art. 8º; e CTN, art. 107). 
Segundo a proibição do non liquet, o juiz não pode deixar de sentenciar ou despachar 
alegando que há lacuna normativa ou obscuridade. Nesses casos, deverá se socorrer do rol 
(taxativo e preferencial) dos mecanismos de integração legal. 
 (MPE-PI 2012) Segundo as regras legais brasileiras, permite-se ao julgador o non liquet, nos 
casos de lacunas ou obscuridade da norma. 
ERRADO 
Além disso, como se presume que o juiz conhece todas as leis, basta que a parte narre o 
fato (narra-se o fato que eu te darei o direito – iura novit curiae). Há, todavia, exceções. 
Assim, nas seguintes hipóteses o juiz pode determinar à parte interessada que faça prova 
 
 
18 
da EXISTÊNCIA e da VIGÊNCIA da lei alegada: 
a) Direito municipal. 
b) Direito estadual. (desde que não seja de sua jurisdição). 
c) Direito estrangeiro. 
d) Direito consuetudinário. 
Conforme a doutrina de Maria Helena Diniz13, tem-se as seguintes espécies de lacunas: 
a) Lacuna normativa: ausência total de norma para um caso concreto; 
b) Lacuna ontológica: presença de norma para o caso concreto, mas que não tenha 
eficácia social; 
c) Lacuna axiológica: presença de norma para o caso concreto, mas cuja aplicação seja 
insatisfatória ou injusta; 
d) Lacuna de conflito ou antinomia: choque de duas ou mais normas válidas, pendente 
de solução no caso concreto. 
De todo modo, como já explicado, os métodos de integração normativa foram 
contemplados no art. 4º da LINDB, estabelecendo uma ordem preferencial e taxativa. Assim, são 
mecanismos de integração: (I) a analogia; (II) os costumes; (III) os princípios gerais do Direito. 
 (PGE-AC 2012) A analogia, assim como o costume e os princípios gerais de direito, tem 
função integrativa no sistema jurídico brasileiro. 
CORRETO 
5. VIGÊNCIA DAS NORMAS 
No que diz respeito à sua formação, a norma legal se submete a diferentes períodos, pelos 
quais deve passar, obrigatoriamente, para, somente então, produzir efeitos. São eles: a 
elaboração, a promulgação e a publicação. 
Com isso, é possível afirmar que, apesar de, sob o ponto de vistaformal, nascer com a 
promulgação, a lei somente começa a vigorar depois de publicada no Diário Oficial (Imprensa 
Oficial). 
Sobre o tema, sublinha Dirley da Cunha Júnior14 “que a promulgação é a declaração 
oficial de que a lei existe, é autêntica e está pronta para ser executada”, enquanto a publicação 
"constitui o meio em face do qual se transmite a lei promulgada aos seus destinatários. É ato de 
comunicação oficial. É condição para a lei entrar em vigor e tornar-se eficaz”. 
Ademais, destaque-se que a vigência da norma corresponde à força obrigatória, 
 
13 Ob. cit. p. 88 
14 CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Curso de Direito Constitucional, op. cit. p 913. 
 
 
19 
vinculante, a ela conferida”. Assim, vigente é a norma existente que se encontra apta a 
produzir os efeitos para os quais foi concebida. 
Por outro lado, não se deve confundir a vigência com a validade da norma! A validade 
formal da norma jurídica concerne à elaboração pelo órgão competente e com respeito aos 
procedimentos legais, como, por exemplo, o quórum de aprovação. Já a sua validade material, 
também chamada de validade constitucional, está correlacionada à necessidade de conformação 
(adequação) da norma com o ordenamento jurídico, em especial com o Texto Constitucional. 
Vigência Validade 
- Aptidão da norma para produzir os efeitos 
para os quais foi concebida. 
- Em regra, inicia-se após a publicação, pois 
esta é condição para a lei entrar em vigor e 
tornar-se eficaz. 
- Formal: elaboração da norma pelo órgão 
competente e com respeito aos procedimentos 
legais. 
- Material: necessidade de conformação 
(adequação) da norma com o ordenamento 
jurídico (destaque para a Constituição). 
Segundo Carlos Roberto Gonçalves15, com a publicação tem-se o início da vigência: 
“(...) a vigência é a qualidade temporal da norma, está relacionada ao tempo de duração da lei, ao 
passo que vigor está relacionado à sua força vinculante (...)”. 
Assim, é possível que uma determinada norma jurídica seja válida, mesmo ainda não 
possuindo vigência, isto é, pode ter sido elaborada adequadamente e em harmonia com a Lex 
Legum, mas ainda não vincular o comportamento geral e abstrato das pessoas. 
Nesse sentido, o art. 1º da LINDB dispõe: 
 Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias 
depois de oficialmente publicada. 
§ 1º Nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três 
meses depois de oficialmente publicada. 
(NÃO CONFUNDA ESSE PRAZO – NÃO SÃO 90 DIAS, MAS SIM TRÊS MESES) 
(...) 
§ 3º Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a 
correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação. 
§ 4º As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova. 
 
 
 (MP-AC 2014) A vigência da lei coincide necessariamente com a data de sua publicação no 
 
15 Ob. cit. p. 64. 
 
 
20 
Diário Oficial. 
ERRADO 
Essa obrigatoriedade é imposta de modo simultâneo em todo o território nacional, não 
mais havendo distinção, como outrora, entre diferentes regiões brasileiras para a vigência da 
norma legal. É o que se convencionou denominar sistema da obrigatoriedade simultânea. 
No passado, a lei se tornava obrigatória por etapas: primeiro na capital federal, depois nas 
zonas litorâneas e depois ia se interiorizando. Atualmente, no entanto, ela entra em vigor em 
todos os locais do país ao mesmo tempo. 
 (MPE-MS 2013) A obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia nos Estados 
estrangeiros três meses depois de sua publicação oficial. 
CORRETO 
O intervalo entre a data da publicação da lei e a sua entrada em vigor denomina-se 
vacatio legis. Enquanto a lei não entra em vigor, a norma não possui força vinculante. Apesar de 
publicada e vigente, a imperatividade da lei só é alcançada quando e enquanto vigorar. Logo, 
ainda que vigente, se durante o período de vacatio legis for praticado negócio jurídico vedado na 
lei nova, mas permitido na antiga, aquele será válido, pois a vinculação da norma, sua força 
imperativa, só é alcançada quando passar a vigorar. 
 (MPE-PE 2014) Publicada uma lei considerada de ordem pública, se, durante o período de sua 
vacatio, realizar-se negócio jurídico que por ela foi proibido, ele será inexistente, por contrariar a 
ordem pública. 
ERRADO 
O prazo de vacatio legis está regido, atualmente, pela Lei Complementar nº 95/98, cujo art. 
8° (com a redação alterada pela Lei Complementar nº 107/01) veio a estabelecer: 
 Art. 8º A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo 
razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula "entra em vigor na 
data de sua publicação" para as leis de pequena repercussão. 
§ 1º A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância 
far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia 
subsequente à sua consumação integral. 
§ 2º As leis que estabeleçam período de vacância deverão utilizar a cláusula ‘esta lei entra em 
vigor após decorridos (o número de) dias de sua publicação oficial. 
 
 
21 
Conforme se observa da redação legal, a contagem do prazo da vacatio legis possui uma 
regra autônoma/própria, incluindo-se o primeiro e o último dia (diferente da previsão do art. 
132 do CC/02), entrando a lei em vigor no dia subsequente à consumação integral do prazo. 
Segundo a doutrina, não importa se o último dia for feriado ou final de semana, entrando em vigor 
a norma mesmo assim, ou seja, a data não é prorrogada para o dia seguinte (por todos, 
Tartuce). 
Por outro lado, se o prazo de vacatio legis for fixado em mês ou ano, indevidamente, já 
que, de ordinário, ele deveria ser expresso em dias, utiliza-se a regra do §3º do art. 132 do CC/02, 
que estabelece que prazo em mês ou ano é contado de “data a data”, pouco interessando 
quantos dias existam entre as datas. 
 Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os prazos, 
excluído o dia do começo, e incluído o do vencimento. 
§3º os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou no imediato, se 
faltar exata correspondência. 
Por fim, destaque-se que as normas jurídicas administrativas federais (portarias, decretos, 
regulamentos, resoluções) entrarão em vigor na data de sua publicação (Decreto nº 572/1890). 
Prosseguindo na análise da LINDB, temos que, excetuados os casos especiais, com 
expressa previsão normativa, a lei tem caráter permanente, vigendo até que outra venha a lhe 
revogar, 
expressa ou tacitamente. É o princípio da continuidade normativa. 
 Art. 2º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou 
revogue. 
§ 1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela 
incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. 
§ 2º A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não 
revoga nem modifica a lei anterior. 
§ 3º Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido 
a vigência. 
Essa vigência indeterminada da lei tem fim com a sua revogação, que configura o gênero 
do qual se apresentam como espécies a ab-rogação (supressão total da norma legal anterior por 
lei nova) ou derrogação (quando a nova lei torna sem efeito apenas parte do texto legal 
anterior). 
 
 
22 
 (MPE-AC 2014) Por meio da revogação, em sentido amplo, termo afeto ao processo 
legislativo, a norma é extinta do sistema jurídico por outro ato normativo da mesma espécie, o que 
não se aplica às normas declaradas inconstitucionais. 
ERRADO 
 MPE-AC 2014)Pode ser promulgada nova lei sobre o mesmo assunto de norma já 
promulgada, sem que se ab-rogue tacitamente a anterior. 
CORRETO 
Ademais, é fácil notar que a revogação pode ser expressa (também dita direta) ou tácita 
(chamada, ainda, de indireta). Aquela ocorre quando a lei nova declara que a anterior, ou parte 
dela, estará revogada. De outra banda, a tácita se dará quando, não havendo disposição expressa 
nesse sentido no texto da lei, apresentar-se o novel diploma legal incompatível, no todo ou em 
parte, com disposição legal que antes cuidava da matéria. A revogação tácita, assim, tem fulcro 
na incompatibilidade entre uma e outra lei. 
O art. 9º da LC nº 95/98 estabeleceu uma novidade no que tange à revogação das normas, 
dispondo que a revogação das normas deve ser expressa (afastando-se, dessa forma, prática 
até então comum da revogação genérica – “revogam-se as disposições em contrário”). Sendo 
assim, toda vez que for editada uma nova lei, essa deverá indicar de forma expressa quais os 
dispositivos legais revogados por ela. 
 Art. 9º A cláusula de revogação deverá enumerar, expressamente, as leis ou disposições 
legais revogadas. 
Merece análise pormenorizada a regra contida no §3º do art. 2º da LINDB, que versa sobre 
o fenômeno conhecido como repristinação das leis, através do qual haveria revalidação da lei 
revogada pela perda de vigor da lei revogadora. Repristinação, portanto, "consiste na recuperação 
de vigência de uma lei que já fora revogada"16. 
Analisando a redação da LINDB, podemos destacar: (I) a proibição da repristinação, 
significando que a revogação da lei revogadora não restaura os efeitos da lei revogada; (II) a 
possibilidade de efeitos repristinatórios quando houver expressa disposição nesse sentido. 
Uma observação é necessária quando se está diante de casos de declaração de 
inconstitucionalidade, via controle concentrado, da lei revogadora. Nessa hipótese, afirmada a 
inconstitucionalidade da lei revogadora, serão restabelecidos, naturalmente, os efeitos da lei 
revogada, em face da perda de eficácia daquela. 
 
16 GIORDIANI, José Acir Lessa. Curso Básico de Direito Civil, op. cit. p. 23. 
 
 
23 
Assim, percebe-se que o reconhecimento da inconstitucionalidade de uma norma jurídica 
revogadora, através de controle de constitucionalidade concentrado, implicará efeitos 
repristinatórios da norma anteriormente revogada, já que a norma atacada passa a não mais 
existir, sendo excluída do ordenamento jurídico. Aliás, a norma inconstitucional será tratada 
como se nunca tivesse existido. 
Cabe destacar, nesse ponto, a orientação do Supremo Tribunal Federal no sentido de que 
o autor da ADI deverá impugnar todo o "complexo normativo", ou seja, tanto a norma atual 
como aquelas que eventualmente foram revogadas por ela e que continham os mesmos 
vícios, justamente para se evitar a repristinação de normas igualmente inconstitucionais. (STF. 
Plenário. ADI 3.735/MS, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 8/9/2016 (Info 838). 
Prosseguindo, devemos tratar da modificação de lei durante o prazo de vacatio legis. 
Durante a vacatio a lei já existe, de modo que só poderá ser modificada através de lei nova. 
Sendo assim, a modificação de uma lei dentro do seu período de vacatio legis só pode ocorrer por 
meio de uma nova lei. 
É possível, porém, que a correção de erros materiais ou inexatidões seja feita através da 
simples republicação da lei com as devidas correções. No caso de republicação da lei, o prazo 
de vacatio legis volta a correr do zero somente para a parte que foi corrigida. 
 (TJ-CE 2018) As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova. 
CORRETO 
 (TJ-PE 2013) Não se considerarão lei nova as correções, tenha ou não já entrado em vigor o 
texto incorreto. 
ERRADO 
6. OBRIGATORIEDADE DAS NORMAS 
O art. 3º da LINDB traz presunção de que todas as pessoas conheçam a lei. Por isso, a 
LINDB cria uma proibição de desconhecimento da lei para que ninguém possa se furtar à sua 
incidência. 
 Art. 3º Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece. 
Trata-se do princípio da obrigatoriedade das leis, que veda, em regra, a alegação do 
chamado erro de direito. 
Três são as teorias sobre o princípio da obrigatoriedade: a teoria da presunção legal, a da 
ficção e a da necessidade social; a última é a aceita, por razões de interesse público e eficácia 
 
 
24 
geral do sistema normativo, bem como por garantia da ordem social e jurídica. 
Distingue-se o erro de direito do erro de fato, uma vez que este não se refere ao conteúdo 
da norma jurídica em si mesmo, mas a um acontecimento por ela regulado. Ou seja, o erro de fato 
(error facti) incide sobre as circunstâncias de fato de um determinado ato, enquanto o erro de 
direito (error iuris) pertine à ignorância ou falso conhecimento sobre a norma jurídica ou o seu 
conteúdo. 
Fala-se “em regra”, pois a alegação de erro de direito só pode ser feita em casos 
previstos em lei. 
 (TJ-PR 2017) Consoante a LINDB, há uma presunção absoluta de que todos conhecem as leis 
brasileiras. 
ERRADO 
Esses casos previstos em lei são muito mais numerosos no Direito Penal. Exemplos: art. 
21, CP (erro de proibição); art. 65, II, CP (atenuante da pena); art. 8º da Lei de Contravenções 
Penais. 
No Direito Civil, há apenas dois casos em que se permite a alegação de erro de direito, 
quais sejam: 
a) Casamento putativo (art. 1.561, CC/02): no caso de casamento nulo ou anulável 
celebrado com boa-fé, os efeitos do ato serão preservados até o dia da sentença anulatória. 
 Art. 1561, CC Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé por ambos os 
cônjuges, o casamento, em relação a estes como aos filhos, produz todos os efeitos até o dia da 
sentença anulatória. 
 
b) Erro como vício de vontade no negócio jurídico (art. 139, III, CC/02): esse erro pode 
ser alegado para o desfazimento do negócio jurídico. 
 Art. 139, III, CC O erro é substancial quando sendo de direito e não implicando recusa à 
aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico. 
 
 
 (DPE-GO 2010) O princípio da irrelevância do desconhecimento da lei admite o erro de direito 
sobre o motivo do negócio, dando causa a sua anulação quando for seu motivo principal, não 
 
 
25 
afastando o cumprimento da lei. 
CORRETO 
7. EFICÁCIA DAS LEIS NO TEMPO 
As leis são elaboradas para, em regra, valerem para o futuro. Quando a lei é 
modificada por outra e já se haviam formado relações jurídicas na vigência da lei anterior, 
pode instaurar-se o conflito das leis no tempo. A dúvida dirá respeito à aplicação ou não da lei 
nova às situações anteriormente constituídas. 
Em tais casos, é preciso estabelecer o chamado direito intertemporal ou direito 
transitório, para regulamentar esses efeitos e consequências dos fatos praticados anteriormente 
à lei nova e que se protraem no tempo. 
O art. 6º da LINDB dispõe acerca do assunto, nos seguintes termos: 
 Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito 
adquirido e a coisa julgada. 
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se 
efetuou. 
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa 
exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-
estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. 
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso. 
Em sentido semelhante, tem-se o art. 5º, inciso XXXVI, da CF/88: 
 Art. 5º, XXXVI, CRFB (...) a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a 
coisa julgada. 
Assim, como regra, aplica-se a lei nova aos casos pendentes (facta pendentia) e aos 
futuros (facta futura), só podendo ser retroativa, para atingir fatos já consumados, pretéritos (facta 
praeterita),quando: a) não ofender o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada; b) 
quando o legislador, expressamente, mandar aplicá-la a casos pretéritos, mesmo que a 
palavra “retroatividade” não seja usada. 
Carlos Roberto Gonçalves17 aponta que “para solucionar tal questão, são utilizados dois 
critérios: o das disposições transitórias e o da irretroatividade das normas”. 
 
17 Ob. cit. p. 83 
 
 
26 
Irretroativa é a lei que não se aplica às situações constituídas anteriormente. É um 
princípio que objetiva assegurar a certeza, a segurança e a estabilidade do ordenamento 
jurídico-positivo, preservando as situações consolidadas em que o interesse individual 
prevalece. “Entretanto, não se tem dado a ele caráter absoluto, pois razões de política legislativa 
podem recomendar que, em determinada situação, a lei seja retroativa, atingindo os efeitos dos 
atos jurídicos praticados sob o império da norma revogada”18. 
No Direito Brasileiro, portanto, consagrou-se a regra da irretroatividade das leis, de 
modo que as leis novas não alcançam os fatos pretéritos. A regra da irretroatividade é aplicável, 
inclusive, às normas jurídicas de ordem pública. Excepcionalmente, no entanto, admitem-se 
efeitos retroativos na lei quando presentes dois requisitos (já mencionados anteriormente), quais 
sejam: 
a) expressa disposição neste sentido: é preciso que a lei diga que produzirá efeitos 
retroativos. 
b) que a retroação não prejudique o ato jurídico perfeito, a coisa julgada e o direito 
adquirido. 
 (MPE-PA 2014) A lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro veda, textual e literalmente, 
o efeito retroativo da lei. 
ERRADO 
Por outro lado, as disposições transitórias são elaboradas pelo legislador, no próprio 
texto normativo, destinadas a evitar e a solucionar conflitos que poderão emergir do confronto da 
nova lei com a antiga, tendo vigência temporária. 
Logo, a irretroatividade é a regra, admitindo-se a retroatividade em determinadas 
situações. São espécies de retroatividade: 
(a) justa – quando não ofende o ato jurídico perfeito, o direito adquirido ou a coisa julgada; 
(b) injusta – quando ofende o ato jurídico perfeito, o direito adquirido ou a coisa julgada); 
(c) máxima - a retroatividade atinge o direito adquirido e afeta negócios jurídicos perfeitos; 
(d) média - alcança os fatos pendentes, os direitos já existentes, mas ainda não integrados 
ao patrimônio do titular; 
(e) mínima - a lei nova afeta apenas os efeitos dos atos anteriores, mas produzidos após a 
data em que ela entrou em vigor. 
Teoria objetiva (Roubier): os efeitos futuros de fatos pretéritos (retroatividade mínima) 
não são reconhecidos como hipótese de retroatividade, sendo possível a aplicação da lei nova. 
 
18 140 Arnoldo Wald, Curso, cit., p. 92; Silvio Rodrigues, Direito civil, cit., v. 1, p. 28. 
 
 
27 
Teoria Subjetiva (Gabba): os efeitos futuros de fatos pretéritos (retroatividade mínima) 
são reconhecidos como hipótese de retroatividade, não sendo possível a aplicação da lei nova. É 
a teoria adotada no Brasil, segundo o STF e a doutrina majoritária. 
 
 Inf. 783/STF (Dizer o Direito): 
A Lei nº 9.069/95 (Lei do Plano Real) estabeleceu, em seu art. 21, que os índices de correção 
monetária previstos nos contratos de locação comercial que já existiam antes mesmo da sua 
vigência deveriam ser alterados. Essa medida não violou direito adquirido nem ato jurídico 
perfeito. Segundo a jurisprudência do STF, nas situações de natureza contratual, a lei nova pode 
incidir imediatamente sobre as cláusulas presentes no contrato, desde que as normas legais 
sejam de natureza cogente, ou seja, aquelas cujo conteúdo foge do domínio da vontade dos 
contratantes. Assim, se estivermos diante de um contrato de trato sucessivo e execução diferida, 
se surgir uma lei nova que determine, de forma cogente, sua aplicação imediata, os contratantes 
não podem invocar direito adquirido ou ato jurídico perfeito com o objetivo de manter o teor das 
cláusulas na forma como originalmente foram previstas no contrato. STF. Plenário. RE 
212609/SP, RE 215016/SP, RE 211304/RJ, RE 222140/SP e RE 268652/RJ, red. p/ o acórdão 
Min. Teori Zavascki, julgados em 29/4/2015 (Info 783). 
Conceitos que devem ser dominados pelo aluno nesse assunto: o ato jurídico perfeito, o 
direito adquirido e a coisa julgada, com exceção dos casos de retroatividade máxima, não serão 
prejudicados pela retroatividade da norma. Definindo cada um dos institutos, Carlos Roberto 
Gonçalves19 leciona: 
“Ato jurídico perfeito é o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou 
(LINDB art. 6º, § 1º), produzindo seus efeitos jurídicos, uma vez que o direito gerado foi exercido. 
Direito adquirido é o que já se incorporou definitivamente ao patrimônio e à personalidade de 
seu titular, não podendo lei nem fato posterior alterar tal situação jurídica. 
Coisa julgada é a imutabilidade dos efeitos da sentença, não mais sujeita a recursos”. 
Sistematizando: 
Ato jurídico perfeito Direito adquirido Coisa julgada 
- É o ato que nasce e se forma 
sob a égide de uma 
determinada lei, tendo todos os 
requisitos necessários exigidos 
- É aquele que se incorporou 
ao patrimônio do particular. 
- É uma concepção 
exclusivamente patrimonialista, 
- Qualidade que reveste os 
efeitos decorrentes de uma 
decisão judicial contra a qual 
não cabe mais impugnação 
 
19 Ob. cit. p. 85 
 
 
28 
Ato jurídico perfeito Direito adquirido Coisa julgada 
pela norma vigente. 
- O ato jurídico perfeito é 
aquele que, sob o regime da 
lei, tornou-se apto para 
produzir os seus efeitos pela 
verificação de todos os 
requisitos a isso indispensável. 
- É um ato que se aperfeiçoa, 
se integraliza, se faz inteiro, se 
consolida, se completa, se 
perfaz, debaixo de uma ordem 
normativa vigente, de uma 
legislação aplicável naquele 
instante. Por isso ele é 
chamado de ato jurídico 
perfeito. 
- Qualquer tentativa de 
mudança desse ato torna-se 
impossível, pois seria uma 
violação da coisa então 
consolidada. 
- Dessa forma, os efeitos 
produzidos permanecerão, 
mesmo com a mudança do 
ordenamento jurídico. 
de modo que não há direito 
adquirido personalíssimo. 
* O STF já se manifestou no 
sentido de que não há direito 
adquirido nem em face do 
Poder Constituinte 
Originário, nem em face do 
Poder Constituinte Derivado. 
Ou seja, emenda constitucional 
não precisaria, teoricamente, 
respeitar direito adquirido. (RE 
161320, Relator(a): Min. 
MOREIRA ALVES, Primeira 
Turma, julgado em 25/08/1998, 
DJ 04-12-1998 PP-00023 
EMENT VOL-01934-03 PP-
00539). 
Entretanto, o tema não é 
pacífico, pois existe doutrina (e 
alguns outros julgados do 
próprio Supremo) que apontam 
que o princípio da 
irretroatividade, por ser uma 
garantia constitucional (CF, art. 
5º, XXXVI), vincula tanto o 
legislador infraconstitucional 
como o legislador 
constitucional derivado 
(reformador e decorrente), 
sendo inconstitucional 
qualquer lei ou emenda 
constitucional que retroaja para 
ferir direito adquirido, ato 
dentro dos mesmos autos. 
- Pode haver coisa julgada de 
decisão interlocutória, desde 
que ela aprecie o mérito e não 
seja impugnada. 
- Atualmente, ganha força a 
tese da relativização da coisa 
julgada – com a sua adoção 
pela jurisprudência em alguns 
casos (ex.: investigação de 
paternidade - DNA). 
 
 
29 
Ato jurídico perfeito Direito adquirido Coisa julgada 
jurídico perfeito e coisa 
julgada. (ADIN 939-7-DF,Rel. 
Min.Sydney Sanches e ADIN 
829-DF,Rel. Min.Moreira Alves, 
já referidas). 
Em suma, o sistema jurídico brasileiro contém as seguintes regras sobre essa matéria: 
a) são de ordem constitucional os princípios da irretroatividadeda lei nova e do respeito ao 
direito adquirido; 
b) esses dois princípios obrigam ao legislador e ao juiz; 
c) a regra, no silêncio da lei, é a irretroatividade; 
d) pode haver retroatividade expressa, desde que não atinja direito adquirido; 
e) a lei nova tem efeito imediato, não se aplicando aos fatos anteriores. 
Por fim, a ultratividade da lei é tema correlato, consistindo no fenômeno através do qual 
uma lei, já revogada, produz efeitos mesmo após a sua revogação. Inúmeros são os exemplos de 
ultratividade vindos do Direito Penal, como é o caso da norma penal mais benéfica. 
No Direito Civil é bem mais rara a hipótese de ultratividade, mas ocorre isto, por exemplo, 
no direito de sucessão (ex.: princípio da saisine e alíquota do ITCMD – Súmula nº 112 do STF - o 
imposto de transmissão "causa mortis" é devido pela alíquota vigente ao tempo da abertura da 
sucessão). 
8. EFICÁCIA DAS LEIS NO ESPAÇO 
A regra geral de aplicação da lei no espaço é de que, dentro do território brasileiro, é 
aplicada a lei brasileira. Ou seja, a lei brasileira se aplica no espaço territorial brasileiro. 
 Art. 17 da LINDB. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações 
de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública 
e os bons costumes. 
Esse princípio da territorialidade, entretanto, não é absoluto. Existem situações 
excepcionais em que a própria LINDB admite a aplicação da lei estrangeira no território brasileiro. 
Pelo sistema da territorialidade, a norma jurídica se aplica no território do Estado, 
estendendo-se às embaixadas, aos consulados, aos navios de guerra onde quer se encontrem, 
aos navios mercantes em águas territoriais ou em alto-mar, aos navios estrangeiros (menos 
os de guerra em águas territoriais), e às aeronaves no espaço aéreo do Estado. 
 
 
30 
Pela extraterritorialidade, a norma é aplicada em território de outro Estado, segundo os 
princípios e as convenções internacionais. Estabelece-se um privilégio pelo qual certas pessoas 
escapam à jurisdição do Estado em cujo território se achem, submetendo-se apenas à jurisdição 
do seu país. A Norma estrangeira passa a integrar momentaneamente o direito nacional, para 
solucionar determinado caso submetido à apreciação. 
Diante do exposto, aponte-se que o Brasil adotou a teoria da territorialidade 
moderada/mitigada, uma vez que no espaço territorial brasileiro se aplica a lei brasileira em 
respeito à soberania nacional. 
No entanto, para que haja a aplicação da lei estrangeira no território brasileiro é preciso 
que haja uma regra de conexão, sendo um dos principais elementos de conexão o chamado 
estatuto pessoal em que se aplica a lei do domicílio ou nacionalidade do interessado. 
Denomina-se estatuto pessoal a situação jurídica que rege o estrangeiro pelas leis de seu 
país de origem. Baseia-se ele na lei da nacionalidade ou na lei do domicílio. 
Conforme explica Paulo Henrique Gonçalves Portela, o “domicílio é o principal elemento de 
conexão adotado no Brasil. Por esse critério, também conhecido como lex domicilii, aplica-se aos 
conflitos de leis no espaço a norma do domicílio de uma das partes. (...) Pelo elemento de 
conexão da nacionalidade, também chamado de lex patriae, aplica-se aos conflitos de leis a 
norma do Estado do qual a pessoa é nacional. (...) A nacionalidade não é mais o principal 
elemento de conexão do ordenamento brasileiro. No entanto, o critério ainda é empregado na 
ordem jurídica pátria, como evidenciam o artigo 18 da LINDB (...) e o art. 7ª, § 2º, também da 
LINDB (...). Quando uma pessoa é apátrida ou é refugiado no Brasil, aplica-se a lei de seu 
domicílio ou, em sua falta, a de sua residência, como determinam, respectivamente, o artigo 12, 
par. 1º, da Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas, de 1954, e o artigo 12, par. 1º, da 
Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados, de 1951”20. 
Dispõem, com efeito, os arts. 7º e 8º da LINDB: 
 Art. 7º A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o 
fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família. 
§ 1º Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos impedimentos 
dirimentes e às formalidades da celebração. 
§ 2º O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades diplomáticas ou 
consulares do país de ambos os nubentes. 
§ 3º Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidade do matrimônio a lei do 
 
20 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado: Incluindo Noções de Direitos Humanos 
e de Direito Comunitário. 10. ed. Salvador: JusPODIVM. p. 722/724. 
 
 
31 
primeiro domicílio conjugal. 
§ 4º O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em que tiverem os nubentes 
domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro domicílio conjugal. 
§ 5º O estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, pode, mediante expressa anuência de 
seu cônjuge, requerer ao juiz, no ato de entrega do decreto de naturalização, se apostile ao 
mesmo a adoção do regime de comunhão parcial de bens, respeitados os direitos de terceiros e 
dada esta 
adoção ao competente registro. 
§ 6º O divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges forem brasileiros, só será 
reconhecido no Brasil depois de 1 (um) ano da data da sentença, salvo se houver sido antecedida 
de separação judicial por igual prazo, caso em que a homologação produzirá efeito imediato, 
obedecidas as condições estabelecidas para a eficácia das sentenças estrangeiras no país. O 
Superior Tribunal de Justiça, na forma de seu regimento interno, poderá reexaminar, a 
requerimento do interessado, decisões já proferidas em pedidos de homologação de sentenças 
estrangeiras de divórcio de brasileiros, a fim de que passem a produzir todos os efeitos legais. 
§ 7º Salvo o caso de abandono, o domicílio do chefe da família estende-se ao outro cônjuge e aos 
filhos não emancipados, e o do tutor ou curador aos incapazes sob sua guarda. 
§ 8º Quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada no lugar de sua residência 
ou naquele em que se encontre. 
 Art. 8º Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do 
país em que estiverem situados. 
§ 1º Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o proprietário, quanto aos bens moveis que 
ele trouxer ou se destinarem a transporte para outros lugares. 
§ 2º O penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja posse se encontre a 
coisa apenhada. 
De maneira sistematizada, a LINDB prevê 07 hipóteses de aplicação da lei estrangeira no 
território brasileiro, com base na lei do domicílio do interessado: 
1) nome. 
2) personalidade. 
3) capacidade. 
4) direito de família. 
5) bens móveis que o interessado traz consigo. 
6) penhor. 
 
 
32 
7) capacidade sucessória. 
Nesses casos, teremos a aplicação do estatuto pessoal, hipótese na qual será aplicada a 
lei do domicílio do interessado. Ademais, verifica-se que, pela atual Lei de Introdução, o estatuto 
pessoal se funda, predominantemente, na lei do país onde a pessoa é domiciliada. 
 (TJ/AM 2019) Em se tratando de indivíduo de nacionalidade estrangeira domiciliado no Brasil, 
as regras sobre o começo e o fim da sua personalidade, seu nome, sua capacidade civil e seus 
direitos de família são aquelas da legislação vigente no seu país de origem. 
ERRADO 
 (MP/MT 2014) Em questões sobre a qualificação e regulação das relações concernentes a 
bens, deve ser aplicada a lei do país do domicílio do proprietário. 
ERRADO 
 (MP/MT 2014) Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se 
constituírem, reputando-se constituída no lugar em que residir o proponente. 
CERTO 
Mas a aplicação do estatuto pessoal pressupõe a filtragem interna ou filtragemconstitucional. Essa é uma necessidade para o respeito da soberania do Estado. Sendo assim, só se 
pode aplicar uma lei estrangeira ao território nacional se ela passar pelo crivo constitucional. Como 
exemplo, cite-se o árabe, que não pode casar mais de uma vez no Brasil, mesmo com as disposições 
relativas ao seu estatuto pessoal. 
É pertinente apontar, entretanto, que existem três casos em que a LINDB admite a 
aplicação da lei estrangeira sem a aplicação do estatuto pessoal, ou seja, a aplicação da lei 
estrangeira tem regra específica que não obedece ao domicílio ou nacionalidade do interessado. 
A primeira se dá no caso do conflito sobre bens imóveis, no qual se aplica a lei do lugar 
em que está situado o imóvel. 
 Art. 8º Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei 
do país em que estiverem situados. 
§ 1º Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o proprietário, quanto aos bens moveis 
que ele trouxer ou se destinarem a transporte para outros lugares. 
§ 2º O penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja posse se encontre a 
coisa apenhada. 
A segunda ocorre na aplicação da lei sucessória mais benéfica ao cônjuge ou aos 
filhos. 
 
 
33 
 Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domiciliado o 
defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens. 
§ 1º A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei brasileira em 
benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes 
seja mais favorável a lei pessoal do de cujus. 
E em terceiro, temos o lugar da obrigação, nos casos de contratos internacionais, nos 
quais se aplica a lei de residência do proponente. 
 Art. 9º Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se 
constituírem. 
§ 1º Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma essencial, será 
esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos 
do ato. 
§ 2º A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o 
proponente. 
Também a prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele 
vigorar. 
 Art. 13. A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele 
vigorar, quanto ao ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais brasileiros provas 
que a lei brasileira desconheça. 
Em sequência, aponte-se que as sentenças proferidas no estrangeiro dependem, para 
serem executadas no Brasil, do preenchimento dos requisitos mencionados no art. 15 da Lei de 
Introdução às Normas do Direito Brasileiro: 
 Art. 15. Será executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro, que reúna os 
seguintes requisitos: 
a) haver sido proferida por juiz competente; 
b) terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente verificado à revelia; 
c) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades necessárias para a execução no 
lugar em que foi proferida; 
d) estar traduzida por intérprete autorizado; 
e) ter sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal.* 
 
 
34 
*(Atualmente, trata-se de competência do Superior Tribunal de Justiça) 
De início, pertinente apontar que, com a revogação do parágrafo único do art. 15 da 
LINDB, passou-se a exigir a homologação do STJ para as sentenças e decisões meramente 
declaratórias de estado das pessoas. Exemplo: investigação de paternidade ou divórcio. 
O Tribunal da Cidadania, em diversas ocasiões, tem-se orientado pela máxima 
competência para homologar as sentenças estrangeiras, ainda que se enquadrassem no 
conceito de meramente declaratórias do estado das pessoas: “é homologável sentença que 
decretou divórcio por mútuo consentimento” (STJ. SEC 6.354/EX, Rel. Ministra Eliana Calmon, 
Corte Especial, julgado em 17/12/2012, DJe 20/02/2013). No mesmo sentido, de maneira mais 
didática: 
 SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. DIVÓRCIO. REQUISITOS FORMAIS. 
CUMPRIMENTO. AUSÊNCIA DE OFENSA À SOBERANIA NACIONAL E À ORDEM PÚBLICA. 
DEFERIMENTO DO PEDIDO HOMOLOGATÓRIO. 1. Com a Emenda Constitucional 66, de 13 de 
julho de 2010, que instituiu o divórcio direto, a homologação de sentença estrangeira de divórcio 
para alcançar eficácia plena e imediata não mais depende de decurso de prazo, seja de um ou 
três anos, bastando a observância das condições gerais estabelecidas na Lei de Introdução às 
Normas do Direito Brasileiro (LINDB) e no Regimento Interno do STJ. 2. Uma vez atendidos os 
requisitos previstos no art. 15 da LINDB e nos arts. 216-A a 216-N do RISTJ, bem como 
constatada a ausência de ofensa à soberania nacional, à ordem pública e à dignidade da 
pessoa humana (LINDB, art. 17; RISTJ, art. 216-F), é devida a homologação de sentença 
estrangeira. 3. Pedido de homologação deferido, estendendo seus efeitos ao pacto antenupcial, 
com a homologação também da sentença estrangeira parcial, tal como pleiteado pelas partes”. 
(SEC 4.445/EX, Rel. Ministro Raul Araújo, Corte Especial, julgado em 6/5/2015, publicado no 
Diário da Justiça Eletrônico em 17/6/2015). 
O art. 515, VIII, do Código de Processo Civil incluiu a “sentença estrangeira homologada 
pelo Superior Tribunal de Justiça” no rol dos “títulos executivos judiciais”. E o art. 963 do referido 
diploma estabelece os requisitos indispensáveis à homologação da decisão estrangeira. 
 Art. 963. Constituem requisitos indispensáveis à homologação da decisão: 
I - ser proferida por autoridade competente; 
II - ser precedida de citação regular, ainda que verificada a revelia; 
III - ser eficaz no país em que foi proferida; 
IV - não ofender a coisa julgada brasileira; 
 
 
35 
V - estar acompanhada de tradução oficial, salvo disposição que a dispense prevista em tratado; 
VI - não conter manifesta ofensa à ordem pública. 
Parágrafo único. Para a concessão do exequatur às cartas rogatórias, observar-se-ão os 
pressupostos previstos no caput deste artigo e no art. 962, § 2º. 
 Obs.: Importante registrar que a doutrina tem apontado que, em virtude de o art. 963 do Novo 
CPC não prever como requisito o trânsito em julgado da decisão objeto de homologação, 
diferentemente do que aduz o inciso III do art. 15 da LINDB, teria havido uma revogação tácita 
deste dispositivo. Veja-se o que aduz Flávio Tartuce21 sobre o tema: “Nos termos do art. 963 do 
CPC/2015, constituem requisitos indispensáveis à homologação de qualquer decisão proferida no 
estrangeiro: a) ser proferida por autoridade competente; b) ser precedida de citação regular, ainda 
que verificada a revelia; c) ser eficaz no país em que foi proferida; d) não ofender a coisa julgada 
brasileira; e) estar acompanhada de tradução oficial, salvo disposição que a dispense prevista em 
tratado; f) não conter manifesta ofensa à ordem pública. Como a norma instrumental não traz 
exatamente o mesmo teor do art. 15 da Lei de Introdução, entendemos que não houve revogação 
do último dispositivo, devendo ambos os preceitos conviver no sistema jurídico, em diálogo entre 
as fontes. De toda forma, há interpretação no sentido de ter sido o art.15 da LINDB revogado 
tacitamente pelo último comando do Estatuto Processual emergente citado. Assim, não haveria 
mais a necessidade do trânsito em julgado da sentença no país de origem, exigindo-se apenas a 
sua eficácia naquela localidade”. 
Ressalte-se que o controle ou juízo de delibação a ser feito pelo Superior Tribunal de 
Justiça visa somente ao exame formal do cumprimento daqueles requisitos e de inocorrência de 
ofensa à ordem pública e à soberania nacional, para se imprimir eficácia à decisão estrangeira no 
território brasileiro, sem que haja reexame do mérito da questão. 
Ademais, o STJ poderá homologar essas medidas de forma monocrática (somente a 
denegação da homologação que não pode ser feita monocraticamente). 
Com o NCPC, a sentença estrangeira

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