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1 LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO Versão Full 2 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 3 2. FONTES DO DIREITO ................................................................................................................ 4 2.1 LEI ......................................................................................................................................... 5 2.2 COSTUMES .......................................................................................................................... 7 2.3 ANALOGIA ............................................................................................................................ 8 2.4 PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO ...................................................................................... 9 2.5 DOUTRINA .......................................................................................................................... 11 2.6 JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................. 12 2.7 EQUIDADE .......................................................................................................................... 13 3. APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS ................................................................. 14 4. INTEGRAÇÃO DAS NORMAS ................................................................................................. 16 5. VIGÊNCIA DAS NORMAS ....................................................................................................... 18 6. OBRIGATORIEDADE DAS NORMAS ..................................................................................... 23 7. EFICÁCIA DAS LEIS NO TEMPO ............................................................................................ 25 8. EFICÁCIA DAS LEIS NO ESPAÇO ......................................................................................... 29 9. ESTUDO DAS ANTINOMIAS JURÍDICAS ............................................................................... 38 10. NORMAS SOBRE SEGURANÇA JURÍDICA E EFICIÊNCIA NA CRIAÇÃO E NA APLICAÇÃO DO DIREITO PÚBLICO (ACRESCENTADAS PELA LEI Nº 13.655/2018)............. 40 10.1 DECISÃO COM BASE EM VALORES JURÍDICOS ABSTRATOS ...................................... 41 10.2 DECISÃO QUE ACARRETE INVALIDAÇÃO DE ATO, CONTRATO, AJUSTE, PROCESSO OU NORMA ADMINISTRATIVA ................................................................................................ 43 10.3 INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS SOBRE GESTÃO PÚBLICA ....................................... 44 10.4 MUDANÇA DE INTERPRETAÇÃO OU ORIENTAÇÃO E MODULAÇÃO DOS EFEITOS DA DECISÃO .................................................................................................................................. 45 10.5 MOMENTO DA REVISÃO E A ORIENTAÇÃO VIGENTE NA ÉPOCA DA PRÁTICA DO ATO .................................................................................................................................................. 46 10.6 COMPROMISSO PARA ELIMINAR IRREGULARIDADE, INCERTEZA JURÍDICA OU SITUAÇÃO CONTENCIOSA NA APLICAÇÃO DO DIREITO PÚBLICO ..................................... 47 10.7 IMPOSIÇÃO DE COMPENSAÇÃO .................................................................................... 48 10.8 RESPONSABILIDADE DO AGENTE PÚBLICO ................................................................. 49 10.9 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 51 3 1. INTRODUÇÃO A anteriormente intitulada Lei de Introdução ao Código Civil - LICC (Dec.-Lei nº 4.657, de 4/9/1942) é atualmente denominada de Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro - LINDB (denominação alterada pela Lei nº 12.376, de 30/12/2010), sendo a referida alteração de nomenclatura de extrema relevância para situar a Lei em tela como norma que interessa a todo o ordenamento jurídico nacional e não apenas ao Direito Civil. Trata-se de legislação anexa ao Código Civil, mas autônoma, dele não fazendo parte. Na realidade constitui um repositório de normas preliminares à totalidade do ordenamento jurídico pátrio. É tida, assim, como norma de “sobredireito”, tendo em vista a sua finalidade de regulamentar outros ramos jurídicos, podendo ser considerada um Código de Normas, por ter a lei como tema central.1 A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro é um conjunto de normas sobre normas (lex legum), visto que disciplina as próprias normas jurídicas, determinando o seu modo de aplicação e entendimento, no tempo e no espaço. Ultrapassa, assim, o âmbito do Direito Civil, pois enquanto o objeto das leis em geral é o comportamento humano, o da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro é a própria norma, disciplinando a sua elaboração e vigência, a sua aplicação no tempo e no espaço, as suas fontes e etc. (TRF 4 - 2014) A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), na redação em vigor, estabelece a disciplina jurídica que regula, entre outros temas, a vigência da lei no tempo e no espaço e a aplicação dos princípios gerais do direito, dos costumes, da analogia e da equidade para suprir lacunas legais em determinadas situações, além de promover a operacionalidade das garantias constitucionais relacionadas ao respeito à coisa julgada e ao ato jurídico perfeito, contemplando também regras de direito internacional privado. De acordo com o art. 1º da Lei nº 12.376/10, houve ampliação do campo de aplicação do Decreto-Lei nº 4.657/42, de tal modo que a LINDB, no seu atual formato, não se limita às normas de introdução ao Código Civil de 2002 (Lei nº 10.406/02), mas a todo Direito brasileiro. CERTO A estrutura da LINDB pode ser dividida em sete tópicos para a sua melhor compreensão. 1) Vigência das normas: artigos 1º e 2º. 1 Wilson de Campos Batalha, Lei de Introdução ao Código Civil, v. 1, p. 5-6; Maria Helena Diniz, Curso de direito civil brasileiro, 18. ed., São Paulo, Saraiva, 2002, v. 1, p. 57; Carlos Roberto Gonçalves, Direito civil, p. 13 (Col. Sinopses Jurídicas, v. 1) 4 2) Obrigatoriedade da norma: art. 3º. 3) Integração da norma: art. 4º. 4) Interpretação da norma: art. 5º. 5) Aplicação da lei no tempo: art. 6º. 6) Aplicação da lei no espaço: artigos 7º a 19. 7) Normas sobre segurança jurídica e eficiência na criação e na aplicação do direito público (acrescentados pela Lei nº 13.655/2018): artigos 20 a 30. Feita essa análise preliminar, passemos ao estudo do conteúdo da LINDB, aprofundando- nos nas questões que mais interessam na realização das provas de concursos públicos. 2. FONTES DO DIREITO A expressão “fontes do direito” tem várias acepções. Tanto significa o poder de criar normas jurídicas, quanto a forma de expressão dessas normas. No sentido que interessa a este estudo, a expressão “fontes do direito” está relacionada ao aspecto de fonte criadora do direito, servindo para demonstrar suas formas de expressão, ou seja, uma amálgama de ambas as possibilidades extraídas pela doutrina do termo “fontes do direito”. No entanto, não há consenso doutrinário no tocante à classificação das fontes do direito, variando a depender do parâmetro utilizado na classificação. Para Sílvio Venosa2, as fontes diretas são as que, de per si, têm força suficiente para gerar a regra jurídica. Segundo o autor, para a doutrina tradicional, as fontes diretas também podem ser denominadas fontes imediatas ou primárias e, para a maioria dos doutrinadores, nessa classificação se enquadram a lei e o costume. Ao lado dessas, estão as fontes mediatas ou secundárias, que não têm a força das primeiras,mas esclarecem os espíritos dos aplicadores da lei e servem de precioso substrato para a compreensão e aplicação global do Direito. Como exemplos dessas fontes, podem ser citadas, sem unanimidade entre os juristas, a doutrina, a jurisprudência, a analogia, os princípios gerais de Direito e a equidade. Já para Flávio Tartuce3, em uma visão civilista clássica, as fontes formais, diretas ou imediatas são constituídas pela lei, pela analogia, pelos costumes e pelos princípios gerais de Direito, referidas no art. 4ª da LINDB. São fontes independentes que derivam da própria lei, bastando por si para a existência ou manifestação do Direito. Para o referido doutrinador, a lei constitui fonte formal, direta ou imediata primária, 2 VENOSA, Sílvio de Salvo, Direito Civil. Parte Geral - Volume 1, 17ª ed. Ed. Gen, 2016. 3 Manual de direito civil: volume único / Flávio Tartuce. 7. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017. 5 enquanto as demais fontes referidas são formais, diretas ou imediatas secundárias. O autor entende, por outro lado, que a equidade (a justiça do caso concreto) é fonte não formal, indireta ou mediata, assim como a doutrina e a jurisprudência. Alguns autores, porém, a exemplo de Maria Helena Diniz4, entendem que doutrina e jurisprudência podem ser consideradas partes integrantes dos costumes, constituindo também fontes formais, diretas ou imediatas secundárias do direito, desde que reconhecida a sua utilização pela comunidade jurídica em geral. A despeito da diversidade de classificações, passemos à análise das fontes propriamente ditas, com base na redação da LINDB e nas diretrizes adotadas pelas principais bancas de concurso. 2.1 LEI A legislação é o processo de criação das normas jurídicas escritas, de observância geral, e, portanto, a fonte jurídica por excelência. Fonte formal, destarte, é a atividade legiferante, o meio pelo qual a norma jurídica se positiva com legítima força obrigatória. Carlos Roberto Gonçalves5, de forma didática e pertinente, aponta para as principais características da lei: “Dentre as várias características da lei destacam-se as seguintes: a) Generalidade: dirige-se a todos os cidadãos, indistintamente. O seu comando é abstrato, não podendo ser endereçada a determinada pessoa. Essa é uma característica marcante da lei, pois perde ela essa conotação quando particulariza o destinatário, não podendo ser assim denominada, malgrado tenha emanado do poder competente. (...) b) Imperatividade: impõe um dever, uma conduta aos indivíduos. (...) A lei é uma ordem, um comando. Quando exige uma ação, impõe; quando quer uma abstenção, proíbe. (...) c) Autorizamento: (...) autoriza que o lesado pela violação exija o cumprimento dela ou a reparação pelo mal causado. É ela, portanto, que autoriza e legitima o uso da faculdade de coagir. (...) Não é a sanção, como pretendem alguns, malgrado se trate de característica relevante para a efetivação da lei, que faz essa distinção, pois tanto as normas jurídicas como as normas éticas são sancionadoras. (...) Não é também a coação, pois a norma jurídica existe sem ela, tendo plena vigência com sua promulgação, ao passo que a coação depende da preexistência da norma 4 DINIZ, Maria Helena, Curso de Direito Civil Brasileiro 1. Teoria Geral do Direito Civil, 35ª ed. Ed. SaraivaJur, 2018. 5 Direito civil brasileiro, volume 1: parte geral / Carlos Roberto Gonçalves. – 15. ed. – São Paulo: Saraiva, 2017. 6 de direito, porque decorre da sua violação. Não é nem mesmo atributividade, consistente na faculdade de exigir do violador o cumprimento dela ou a reparação do mal sofrido. Esse entendimento é perfilhado por MARIA HELENA DINIZ, que por esse motivo assim conceitua a norma jurídica: imperativo autorizante. d) Permanência: a lei não se exaure numa só aplicação, pois deve perdurar até ser revogada por outra lei. Algumas normas, entretanto, são temporárias, destinadas a viger apenas durante certo período, como as que constam das disposições transitórias e as leis orçamentárias. e) Emanação de autoridade competente, de acordo com as competências legislativas previstas na Constituição Federal. A lei é ato do Estado, pelo seu Poder Legislativo. (...) Quando exorbita de suas atribuições, o ato é nulo, competindo ao Poder Judiciário recusar-lhe aplicação (CF, art. 97). No que tange à classificação das leis, a mais relevante delas é a que considera a sua força obrigatória. (PGR 2013) Relativamente às expressões ius cogens e ius dispositivum, referem-se a uma distinção já superada nos tempos atuais. ERRADO As normas cogentes (ou de ordem pública) são aquelas que atendem mais diretamente ao interesse geral, merecendo aplicação obrigatória, eis que são dotadas de imperatividade absoluta. As partes não podem, mediante convenção, ilidir a incidência de uma norma cogente. Ademais, essas leis podem ser imperativas, quando ordenam certo comportamento, ou proibitivas, quando vedam um comportamento. Por outro lado, existem as chamadas normas dispositivas (também chamadas supletivas, interpretativas ou de ordem privada), que são aquelas que interessam somente aos particulares, podendo ser afastadas por disposição de vontade. Tais normas funcionam no silêncio dos contratantes, suprindo a manifestação de vontade porventura faltante. Exemplo: normas que dizem respeito ao condomínio, ao regime de bens do casamento e à anulabilidade de um negócio jurídico. Importante destacar, ainda, que nas lições de Maria Helena Diniz, as normas jurídicas, quanto à imperatividade, podem ser: (a) impositivas (ou de imperatividade absoluta), ordenando a ação ou abstenção de conduta, sem qualquer alternativa ou opção diferenciada, ou (b) dispositivas (de imperatividade relativa), que, por sua vez, subdividem-se em permissivas, supletivas ou também impositivas por interpretação doutrinária ou jurisprudencial. Perceba que são as mesmas definições, mas com uma classificação levemente diferente. 7 No entanto, é pertinente conhecê-la também. Sistematizando: Normas cogentes Normas dispositivas - Aplicação obrigatória, eis que são dotadas de imperatividade absoluta. - Interessam somente aos particulares, podendo ser afastadas por disposição de vontade. Podem ser: - imperativas, quando ordenam certo comportamento; - proibitivas, quando vedam um comportamento. Na classificação de Maria Helena Diniz: - Impositivas (ou de imperatividade absoluta), ordenando a ação ou abstenção de conduta. Na classificação de Maria Helena Diniz: - Dispositivas (de imperatividade relativa), que, por sua vez, subdividem-se em: - permissivas, supletivas ou também impositivas por interpretação doutrinária ou Jurisprudencial. 2.2 COSTUMES Os costumes são, também, fonte supletiva em nosso sistema jurídico, porém estão colocados em plano secundário em relação à lei. O juiz só pode recorrer a eles depois de esgotadas as possibilidades de suprir a lacuna pelo emprego da analogia. Daí dizer-se que os costumes se caracterizam como fonte subsidiária ou fonte supletiva. (PGE-AC 2012) A analogia, assim como o costume e os princípios gerais de direito, tem função integrativa no sistema jurídico brasileiro. CERTO (TRF 1-2015) Nos casos de omissão da lei, deve o juiz decidir de acordo com a analogia, os costumes, os princípios gerais do direito e a equidade, pois lhe é vedado o non liquet. CERTO O costume é composto por dois elementos: o uso ou prática reiterada de um comportamento (elemento externo ou material) e a convicção de sua obrigatoriedade (elemento interno ou psicológico, caracterizado pela opinio juris et necessitate). Os costumes podem ser secundum legem (há referência expressa aos costumes no texto legal, razão pela qualnão se fala em integração, mas sim em subsunção, eis que a própria norma 8 jurídica é aplicada), praeter legem (costume integrativo, serve para preencher lacunas quando a lei for omissa) ou contra legem (costume que se opõe ao dispositivo de uma lei e, para a maioria dos doutrinadores, não pode ser admitido, por gerar instabilidade no sistema). Um adendo é necessário: para a doutrina dominante, o costume contrário à aplicação da lei não tem o poder de revogá-la, não existindo mais a chamada “desuetudo” (não aplicação da lei em virtude do desuso). Os autores em geral rejeitam o costume contra legem por entendê-lo incompatível com a tarefa do Estado e com o princípio de que as leis só se revogam por outras. (MP-SC 2016) De acordo com a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro são formas de integração jurídica a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. Quanto aos costumes, a legislação refere-se a espécie praeter legem, ou seja, aquele que intervém na falta ou omissão da lei, apresentando caráter supletivo. CERTO 2.3 ANALOGIA Trata-se de um processo de raciocínio lógico pelo qual o juiz estende um preceito legal a casos não diretamente compreendidos na descrição da lei. O juiz, assim, pesquisa a vontade da lei para transportá-la a casos que a letra do texto não havia compreendido. Para que tenha cabimento, portanto, é necessária uma omissão no ordenamento jurídico. O fundamento da analogia se encontra no adágio romano ubi eadem ratio, ibi idem jus (onde existe a mesma razão, aí se aplica a mesma lei), que expressa o princípio da igualdade de tratamento. Para o emprego da analogia requer-se a presença de três requisitos: a) inexistência de dispositivo legal prevendo e disciplinando a hipótese do caso concreto; b) semelhança entre a relação não contemplada e outra regulada na lei; c) identidade de fundamentos lógicos e jurídicos no ponto comum às duas situações. A analogia pode se operar de duas formas: legal ou legis (o aplicador do Direito busca uma norma que se aplica a casos semelhantes) ou jurídica ou iuris (não encontrando um texto semelhante para aplicar ao caso em exame, o juiz tenta extrair do pensamento dominante em um conjunto de normas uma conclusão particular para o caso). Sistematizando: Analogia legal Analogia jurídica - Aplicação de uma norma existente, destinada a reger caso semelhante ao - Baseia-se em um conjunto de normas, para obter elementos que permitam a sua aplicação 9 previsto. - A sua fonte é a norma jurídica isolada, que é aplicada a casos idênticos. ao caso sub judice não previsto, mas similar. (MPE-PB 2010) A analogia juris consiste na aplicação de uma norma existente, destinada a reger caso semelhante ao previsto. ERRADO Por fim, aponte-se que não se deve confundir analogia com interpretação extensiva. A primeira implica o recurso a outra norma do sistema jurídico, em razão da inexistência de norma adequada à solução do caso concreto. A segunda, porém, consiste na extensão do âmbito de aplicação da mesma norma a situações não expressamente previstas, mas compreendidas pelo seu espírito, mediante uma interpretação menos literal. Analogia Interpretação extensiva - Utilização de norma diversa do sistema jurídico, em razão da inexistência de norma adequada à solução do caso concreto. - Extensão do âmbito de aplicação da mesma norma a situações não expressamente previstas, mas dentro da mens legis (espírito da lei), afastando uma interpretação estritamente literal. 2.4 PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO Para Carlos Roberto Gonçalves6, de maneira sucinta, os princípios gerais do Direito são “constituídos de regras que se encontram na consciência dos povos e são universalmente aceitas, mesmo não escritas”. O conceito não é unânime na doutrina. Para Maria Helena Diniz7, por outro lado, “os princípios são cânones que não foram ditados, explicitamente, pelo elaborador da norma, mas que estão contidos de forma imanente no ordenamento jurídico”. De toda forma, tais regras, de caráter genérico, orientam a compreensão do sistema jurídico, em sua aplicação e integração, estejam ou não incluídas no direito positivo. Muitas delas passaram a integrar o nosso direito positivo, como a de que “ninguém pode lesar a outrem” (CC/02, art. 186), a que veda o enriquecimento sem causa (CC/02, arts. 876, 1.216, 6 Ob. cit. p. 76 7 Ob. cit. p. 86 10 1.220, 1.255, etc.), a que não admite escusa de não cumprimento da lei por não a conhecer (LINDB, art. 3º) e etc. Segundo o ensinamento de Francisco Amaral8: “(...) princípios jurídicos positivos distinguem-se em princípios constitucionais ou superiores, e princípios institucionais, que fundamentam e sistematizam determinados institutos ou instituições jurídicas. No direito brasileiro são princípios constitucionais, superiores, fundamentais, os referidos no art. 1º da Constituição Federal: soberania, cidadania, dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre-iniciativa, o pluralismo político. Têm força normativa, são Constituição, tendo aplicação preferencial sobre qualquer norma ordinária que se lhes oponha ou contradiga”. O referido autor prossegue: “(...) são princípios institucionais, ou legislativos, no direito de família, o princípio da igualdade dos cônjuges (CF, art. 226, § 5º), o princípio da igualdade dos filhos (CF, art. 227, § 6º)”. No entanto, à parte de ambas as categorias, os princípios gerais de Direito são diretivas básicas e gerais que orientam o intérprete ao aplicar o direito no caso de omissão do texto legal. Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald9 alertam para “não confundir os princípios gerais de direito com os princípios fundamentais do sistema jurídico. Estes (os princípios fundamentais) são as normas jurídicas com conteúdo valorativo (axiológico) aberto, a ser preenchido no caso concreto, possuindo nítida força vinculante, normativa. Ou seja, os princípios fundamentais são normas jurídicas e obrigam, vinculam. (...) São, em palavras diretas, os valores adotados por um sistema jurídico, tendo força normativa e influenciando o sistema jurídico como um todo. Aqueles (os princípios gerais de direito) são meros mecanismos de preenchimento de lacunas, sem qualquer conteúdo valorativo e com características universais. Assim, os princípios gerais são os mesmos em qualquer sistema jurídico, inspirando métodos para colmatar vazios normativos. Nessa ordem de ideias, somente serão utilizados os princípios informativos quando houver um vazio normativo, isto é, quando não existir para um determinado caso concreto uma norma jurídica, seja norma-regra, seja uma norma-princípio. Trocando em miúdos, somente serão utilizados os princípios gerias quando ausente um princípio fundamental”. Por fim, não se deve confundir os princípios gerais do Direito com as máximas jurídicas, os adágios ou brocardos, que nada mais são do que fórmulas concisas 8 Direito civil, cit., p. 93-94. 9 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil. Parte Geral e LINDB. Vol. 1. Ed. 10. Salvador: JusPodivm. 2012. p. 119/120. 11 representativas de uma experiência secular, sem valor jurídico próprio, mas dotados de valor pedagógico. (TJ-PB 2011) Segundo a doutrina, os princípios gerais do direito expressam-se nas máximas jurídicas, nos adágios ou brocardes, sendo todas essas expressões fórmulas concisas que representam experiência secular, com valor jurídico próprio. ERRADO Cuidado: A integração de normas no âmbito do Direito Tributário muda um pouco com relação à estabelecida na LINDB. O art. 108 do CTN enumera de forma sucessiva os critérios de solução. Além disso, a referida norma prefere, de modo expresso, os princípiosgerais do direito tributário, ao invés dos princípios gerais do direito comum. Vejamos: Art. 108, CTN. Na ausência de disposição expressa, a autoridade competente para aplicar a legislação tributária utilizará sucessivamente, na ordem indicada: I - a analogia; II - os princípios gerais de direito tributário; III - os princípios gerais de direito público; IV - a equidade. 2.5 DOUTRINA A doutrina é o entendimento firmado pelos juristas de um determinado ordenamento jurídico, equacionando as questões relacionadas ao estudo do Direito. Por isso, é chamada também de direito científico ou direito dos juristas. Hodiernamente, de maneira praticamente unânime, vem se entendendo que a doutrina é fonte não formal do direito, porque se revela através da influência sobre o espírito dos profissionais da ciência jurídica. Atualmente, a doutrina não é tão utilizada ou tão citada nas decisões quanto antes de nossa codificação ou em seus primórdios. Porém, não restam dúvidas de que na doutrina o Direito se inspira, ora aclarando textos, ora sugerindo reformas, ora importando institutos. Como exemplo, Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald10 citam os “chamados conceitos vagos. É o caso, exempli gratia, da parte final do inciso I do art. 178 do Código de Processo Civil, aludindo à intervenção do Ministério Público, no processo civil, como fiscal da ordem jurídica (custos juris), nas causas em que estiver presente o interesse público ou social. Trata-se, nitidamente, de 10 Farias, Cristiano Chaves de Curso de direito civil: parte geral e LINDB/Cristiano Chaves de Farias, Nelson Rosenvald - 15. ed. rev., ampl. e atual.- Salvador: Ed. JusPodivm, 2017. 12 conceito indeterminado (interesse público ou social) que deverá ter o seu balizamento afirmado pela doutrina". Há, ainda, posicionamento afirmando que, na verdade, a doutrina pode ser utilizada para a interpretação das chamadas “cláusulas gerais”. Nos dizeres de Carlos Roberto Gonçalves11, as cláusulas gerais "são janelas abertas deixadas pelo legislador, para que a doutrina e a jurisprudência definam seu alcance, formulando o julgador a própria regra concreta". (DPE-PR 2014) Os conceitos jurídicos indeterminados não estão indicados na lei, decorrendo, apenas, de valores éticos, morais, sociais, econômicos e jurídicos. ERRADO 2.6 JURISPRUDÊNCIA Por jurisprudência tem-se o conjunto de decisões judiciais proferidas em determinado sentido, afirmando a existência de uma linha de orientação sobre determinados temas. Pressupõe dois elementos: o conhecimento do Direito (pelos aplicadores) e a sua aplicabilidade no caso concreto. No Direito brasileiro, após o advento da Emenda Constitucional nº 45, de acordo com a redação do art. 103-A da Constituição de 1988, a jurisprudência ganhou especial importância, podendo, até mesmo, vincular as decisões dos demais órgãos do Poder Judiciário, quando se tratar de decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional. É o que se convencionou chamar de jurisprudência com efeito vinculante, ou simplesmente, súmula vinculante. O Novo Código de Processo Civil aprofundou ainda mais a referida diretriz, ao dispor sobre a observância de precedentes e atribuir efeitos vinculantes a determinadas espécies de decisão, nos seguintes termos: Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão: I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade; II - os enunciados de súmula vinculante; III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos; IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional; 11 Ob. cit. p. 44 13 V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados. Existe controvérsia doutrinária acerca da natureza vinculante ou não das decisões previstas nos incisos do art. 927 do Novo CPC. Dentro do tema em estudo, basta ao aluno entender que a jurisprudência ampliou substancialmente o seu papel na dicção atual do direito brasileiro. (TRF1 – 2015) Novo texto normativo de lei federal poderá entrar em vigor ainda no seu período de vacatio legis, quando reforçar tendências doutrinárias e jurisprudenciais que se tenham formado na vigência da lei anterior. ERRADO 2.7 EQUIDADE De forma breve, podemos conceituar a equidade como o juízo de razoabilidade e equilíbrio baseado no bom-senso com que o caso concreto é apreciado (é a justiça do caso concreto). Classifica-se em equidade legal e judicial, sendo a primeira com previsão em texto de lei (CC/02, arts.413, 738, 944, 953, p. ex.) e a segunda como uma ordem ao juiz para que aplique as disposições legais a respeito da equidade para a situação posta em juízo. Equidade legal Equidade judicial - Aquela cuja aplicação está prevista no próprio texto legal. Exemplo pode ser retirado do art. 413 do CC/2002, que estabelece a redução equitativa da multa ou cláusula penal como um dever do magistrado. - Presente quando a lei determina que o magistrado deve decidir por equidade o caso concreto. O parágrafo único do art. 140 do CPC/2015 é exemplo clássico de previsão da referida espécie de equidade. Segundo o art. 140, parágrafo único, do NCPC, o juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei. Art. 140. O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico. Parágrafo único. O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei. 14 A doutrina de Carlos Roberto Gonçalves12 aponta que “a equidade não constitui meio supletivo de lacuna da lei, sendo mero recurso auxiliar da aplicação desta. Não considerada em sua acepção lata, quando se confunde com o ideal de justiça, mas em sentido estrito, é empregada quando a própria lei cria espaços ou lacunas para o juiz formular a norma mais adequada ao caso. É utilizada quando a lei expressamente o permite”. Obs.: As bancas de concurso NÃO têm considerado a equidade como uma fonte do direito. (TJ-AL 2008) A equidade não se revela como fonte do direito, pois a autorização de seu emprego apenas permite ao juiz criar normas para o caso concreto com base em preceitos de justiça. CERTO (TJ-PE 2013) No caso de publicação para corrigir texto de lei publicado com incorreção, deve o conflito entre os textos ser resolvido pelo juiz por equidade, porque a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro não regula os efeitos da nova publicação de texto de lei. ERRADO 3. APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS Interpretação não se confunde com integração. Integrar é preencher uma lacuna. Já interpretar é buscar o alcance e o sentido. Logo, a atividade interpretativa é a atividade de buscar o sentido e o alcance de uma norma que já existe. Interpretar é descobrir o sentido e o alcance da norma jurídica. Toda lei está sujeita a interpretação, não apenas as obscuras e ambíguas. O brocardo romano in claris cessat interpretatio não é acolhido hodiernamente, pois até para afirmar-se que a lei é clara é preciso interpretá-la. Há, na verdade, interpretações mais simples quando a lei é clara, e mais complexas quando o preceito é de difícil entendimento. A hermenêutica é a ciência da interpretação das leis. Como toda ciência, tem os seus métodos. Quanto às fontes ou origem, os métodos de interpretação classificam-se em: autêntico, jurisprudencial e doutrinário. Autêntico Jurisprudencial Doutrinário - Interpretação feita pelo - Interpretação fixada pelos - Interpretação feita pelos 12 Ob. cit. p. 77 15 própriolegislador, por outro ato normativo. Reconhecendo a ambiguidade da norma, vota uma nova lei, destinada a esclarecer a sua intenção. tribunais. Embora não tenha, em regra, força vinculante, influencia grandemente os julgamentos nas instâncias inferiores. Ganhou ainda mais destaque com o CPC/2015. estudiosos e comentaristas do direito: os jurisconsultos. Os doutrinadores estudam e analisam o texto da lei, fornecendo subsídios, à luz dos conceitos inspiradores da norma, para que os operadores do direito possam entender o seu sentido e alcance e melhor aplicá-la em suas atividades. Quanto aos meios, a interpretação pode ser feita pelos métodos gramatical, lógico, sistemático, histórico e sociológico. Gramatical Lógico Sistemático Histórico Sociológico -Também conhecido como método literal, realizado através das regras de linguística, analisando o texto normativo buscando o seu sentido filológico. - Desenvolve-se um raciocínio lógico, transcendendo a letra fria da lei, com o fito de fixar o alcance e extensão da lei a partir das motivações políticas, históricas e ideológicas. - Parte-se da ideia de que a lei não existe isoladamente, devendo ser alcançado o seu sentido em consonância com as demais normas que inspiram aquele ramo do Direito. - Averiguação da origem do texto a ser interpretado, desde os projetos de lei e votações até a norma final em vigor. - Também denominado teleológico, procura adaptar a lei às exigências atuais e concretas da sociedade. Ressalte-se que as referidas técnicas interpretativas não se excluem, devendo ser procedida a interpretação a partir da combinação de diferentes critérios. Analisando a interpretação das normas sob o viés da LINDB, pertinente observar a redação do seu art. 5º, in verbis: Art. 5º Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum. O art. 5º consagra que em toda interpretação devem ser respeitados os fins sociais a que 16 se dirige a norma. Assim, toda interpretação é sociológica e teleológica. Em outras palavras, há um dever de observar o impacto que a norma terá em uma comunidade em toda interpretação. Ao realizar a interpretação da norma, podemos chegar a um resultado ampliativo, restritivo ou declarativo. a) interpretação ampliativa: as normas que digam respeito aos direitos fundamentais individuais ou sociais (ex.: art. 5º e 6º da CF/88) se submetem à interpretação ampliativa. b) interpretação declaratória: as normas de Direito Administrativo se submetem a uma interpretação declarativa, por conta do princípio da legalidade. c) interpretação restritiva: as normas que estabeleçam privilégio, sanção, renúncia, fiança e aval se submetem a interpretação restritiva. É pertinente enunciarmos exemplos que facilitem a assimilação dos resultados possíveis. Veja-se, por exemplo, o art. 819 do CC/02: Art. 819. A fiança dar-se-á por escrito, e não admite interpretação extensiva. E mais, a Súmula nº 214 do STJ dispõe que o fiador, na locação, não responde por obrigações resultantes de aditamento ao qual não anuiu. STJ Súmula 214 O fiador na locação não responde por obrigações resultantes de aditamento ao qual não anuiu. (TRF 5 – 2015) Se, ao interpretar a lei, o magistrado concluir que a impenhorabilidade do bem de família deve resguardar o sentido amplo da entidade familiar, abrangendo, além dos imóveis do casal, também os imóveis pertencentes a pessoas solteiras, separadas e viúvas, ainda que estas não estejam citadas expressamente no texto legal, essa interpretação, no que se refere aos meios de interpretação, será classificada como teleológica. CORRETO 4. INTEGRAÇÃO DAS NORMAS Quando o fato se enquadra perfeitamente à norma, ocorre o fenômeno da subsunção. Contudo, nem sempre a subsunção será viável, por falta de norma aplicável ao caso concreto. Sendo assim, o processo de busca da norma aplicável pode resultar do emprego da subsunção ou dos mecanismos de integração ou colmatação (analogia, costumes e princípios gerais do Direito). 17 Assim dispõe o art. 140 do Código de Processo Civil: “O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico”. Quando a lei for omissa, “o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito” (LINDB, art. 4º). E, como já mencionado, o juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei (CPC, art. 140, parágrafo único). Ressalte-se que o art. 4º da LINDB traz um rol TAXATIVO e preferencial de integração da norma. Sendo assim, o juiz deve se valer dessa ordem e somente dos critérios integrativos colocados neste dispositivo. No entanto, existe doutrina que contesta a obrigatoriedade de aplicar os métodos de colmatação na exata ordem do art. 4º, principalmente no que concerne aos princípios constitucionais (Nesse sentido: Tepedino e Tartuce). Obs.: As provas de concurso têm adotado a literalidade do art. 4º da LINDB. (MP-MS 2013) Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes, a equidade e os princípios gerais de direito. ERRADO (DPE-PA 2009) Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum, sendo certo que, ao interpretá-la, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. ERRADO Dessa forma, sempre que o intérprete não localizar no ordenamento jurídico a norma (norma-regra ou norma-principio) aplicável ao caso concreto, deve promover uma colmatação da norma jurídica (regras e princípios). É que tem guarida entre nós a vedação ao non liquet (NCPC, art. 140; CDC, art. 7º; CLT, art. 8º; e CTN, art. 107). Segundo a proibição do non liquet, o juiz não pode deixar de sentenciar ou despachar alegando que há lacuna normativa ou obscuridade. Nesses casos, deverá se socorrer do rol (taxativo e preferencial) dos mecanismos de integração legal. (MPE-PI 2012) Segundo as regras legais brasileiras, permite-se ao julgador o non liquet, nos casos de lacunas ou obscuridade da norma. ERRADO Além disso, como se presume que o juiz conhece todas as leis, basta que a parte narre o fato (narra-se o fato que eu te darei o direito – iura novit curiae). Há, todavia, exceções. Assim, nas seguintes hipóteses o juiz pode determinar à parte interessada que faça prova 18 da EXISTÊNCIA e da VIGÊNCIA da lei alegada: a) Direito municipal. b) Direito estadual. (desde que não seja de sua jurisdição). c) Direito estrangeiro. d) Direito consuetudinário. Conforme a doutrina de Maria Helena Diniz13, tem-se as seguintes espécies de lacunas: a) Lacuna normativa: ausência total de norma para um caso concreto; b) Lacuna ontológica: presença de norma para o caso concreto, mas que não tenha eficácia social; c) Lacuna axiológica: presença de norma para o caso concreto, mas cuja aplicação seja insatisfatória ou injusta; d) Lacuna de conflito ou antinomia: choque de duas ou mais normas válidas, pendente de solução no caso concreto. De todo modo, como já explicado, os métodos de integração normativa foram contemplados no art. 4º da LINDB, estabelecendo uma ordem preferencial e taxativa. Assim, são mecanismos de integração: (I) a analogia; (II) os costumes; (III) os princípios gerais do Direito. (PGE-AC 2012) A analogia, assim como o costume e os princípios gerais de direito, tem função integrativa no sistema jurídico brasileiro. CORRETO 5. VIGÊNCIA DAS NORMAS No que diz respeito à sua formação, a norma legal se submete a diferentes períodos, pelos quais deve passar, obrigatoriamente, para, somente então, produzir efeitos. São eles: a elaboração, a promulgação e a publicação. Com isso, é possível afirmar que, apesar de, sob o ponto de vistaformal, nascer com a promulgação, a lei somente começa a vigorar depois de publicada no Diário Oficial (Imprensa Oficial). Sobre o tema, sublinha Dirley da Cunha Júnior14 “que a promulgação é a declaração oficial de que a lei existe, é autêntica e está pronta para ser executada”, enquanto a publicação "constitui o meio em face do qual se transmite a lei promulgada aos seus destinatários. É ato de comunicação oficial. É condição para a lei entrar em vigor e tornar-se eficaz”. Ademais, destaque-se que a vigência da norma corresponde à força obrigatória, 13 Ob. cit. p. 88 14 CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Curso de Direito Constitucional, op. cit. p 913. 19 vinculante, a ela conferida”. Assim, vigente é a norma existente que se encontra apta a produzir os efeitos para os quais foi concebida. Por outro lado, não se deve confundir a vigência com a validade da norma! A validade formal da norma jurídica concerne à elaboração pelo órgão competente e com respeito aos procedimentos legais, como, por exemplo, o quórum de aprovação. Já a sua validade material, também chamada de validade constitucional, está correlacionada à necessidade de conformação (adequação) da norma com o ordenamento jurídico, em especial com o Texto Constitucional. Vigência Validade - Aptidão da norma para produzir os efeitos para os quais foi concebida. - Em regra, inicia-se após a publicação, pois esta é condição para a lei entrar em vigor e tornar-se eficaz. - Formal: elaboração da norma pelo órgão competente e com respeito aos procedimentos legais. - Material: necessidade de conformação (adequação) da norma com o ordenamento jurídico (destaque para a Constituição). Segundo Carlos Roberto Gonçalves15, com a publicação tem-se o início da vigência: “(...) a vigência é a qualidade temporal da norma, está relacionada ao tempo de duração da lei, ao passo que vigor está relacionado à sua força vinculante (...)”. Assim, é possível que uma determinada norma jurídica seja válida, mesmo ainda não possuindo vigência, isto é, pode ter sido elaborada adequadamente e em harmonia com a Lex Legum, mas ainda não vincular o comportamento geral e abstrato das pessoas. Nesse sentido, o art. 1º da LINDB dispõe: Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada. § 1º Nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada. (NÃO CONFUNDA ESSE PRAZO – NÃO SÃO 90 DIAS, MAS SIM TRÊS MESES) (...) § 3º Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação. § 4º As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova. (MP-AC 2014) A vigência da lei coincide necessariamente com a data de sua publicação no 15 Ob. cit. p. 64. 20 Diário Oficial. ERRADO Essa obrigatoriedade é imposta de modo simultâneo em todo o território nacional, não mais havendo distinção, como outrora, entre diferentes regiões brasileiras para a vigência da norma legal. É o que se convencionou denominar sistema da obrigatoriedade simultânea. No passado, a lei se tornava obrigatória por etapas: primeiro na capital federal, depois nas zonas litorâneas e depois ia se interiorizando. Atualmente, no entanto, ela entra em vigor em todos os locais do país ao mesmo tempo. (MPE-MS 2013) A obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia nos Estados estrangeiros três meses depois de sua publicação oficial. CORRETO O intervalo entre a data da publicação da lei e a sua entrada em vigor denomina-se vacatio legis. Enquanto a lei não entra em vigor, a norma não possui força vinculante. Apesar de publicada e vigente, a imperatividade da lei só é alcançada quando e enquanto vigorar. Logo, ainda que vigente, se durante o período de vacatio legis for praticado negócio jurídico vedado na lei nova, mas permitido na antiga, aquele será válido, pois a vinculação da norma, sua força imperativa, só é alcançada quando passar a vigorar. (MPE-PE 2014) Publicada uma lei considerada de ordem pública, se, durante o período de sua vacatio, realizar-se negócio jurídico que por ela foi proibido, ele será inexistente, por contrariar a ordem pública. ERRADO O prazo de vacatio legis está regido, atualmente, pela Lei Complementar nº 95/98, cujo art. 8° (com a redação alterada pela Lei Complementar nº 107/01) veio a estabelecer: Art. 8º A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula "entra em vigor na data de sua publicação" para as leis de pequena repercussão. § 1º A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subsequente à sua consumação integral. § 2º As leis que estabeleçam período de vacância deverão utilizar a cláusula ‘esta lei entra em vigor após decorridos (o número de) dias de sua publicação oficial. 21 Conforme se observa da redação legal, a contagem do prazo da vacatio legis possui uma regra autônoma/própria, incluindo-se o primeiro e o último dia (diferente da previsão do art. 132 do CC/02), entrando a lei em vigor no dia subsequente à consumação integral do prazo. Segundo a doutrina, não importa se o último dia for feriado ou final de semana, entrando em vigor a norma mesmo assim, ou seja, a data não é prorrogada para o dia seguinte (por todos, Tartuce). Por outro lado, se o prazo de vacatio legis for fixado em mês ou ano, indevidamente, já que, de ordinário, ele deveria ser expresso em dias, utiliza-se a regra do §3º do art. 132 do CC/02, que estabelece que prazo em mês ou ano é contado de “data a data”, pouco interessando quantos dias existam entre as datas. Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os prazos, excluído o dia do começo, e incluído o do vencimento. §3º os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou no imediato, se faltar exata correspondência. Por fim, destaque-se que as normas jurídicas administrativas federais (portarias, decretos, regulamentos, resoluções) entrarão em vigor na data de sua publicação (Decreto nº 572/1890). Prosseguindo na análise da LINDB, temos que, excetuados os casos especiais, com expressa previsão normativa, a lei tem caráter permanente, vigendo até que outra venha a lhe revogar, expressa ou tacitamente. É o princípio da continuidade normativa. Art. 2º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. § 1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. § 2º A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior. § 3º Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência. Essa vigência indeterminada da lei tem fim com a sua revogação, que configura o gênero do qual se apresentam como espécies a ab-rogação (supressão total da norma legal anterior por lei nova) ou derrogação (quando a nova lei torna sem efeito apenas parte do texto legal anterior). 22 (MPE-AC 2014) Por meio da revogação, em sentido amplo, termo afeto ao processo legislativo, a norma é extinta do sistema jurídico por outro ato normativo da mesma espécie, o que não se aplica às normas declaradas inconstitucionais. ERRADO MPE-AC 2014)Pode ser promulgada nova lei sobre o mesmo assunto de norma já promulgada, sem que se ab-rogue tacitamente a anterior. CORRETO Ademais, é fácil notar que a revogação pode ser expressa (também dita direta) ou tácita (chamada, ainda, de indireta). Aquela ocorre quando a lei nova declara que a anterior, ou parte dela, estará revogada. De outra banda, a tácita se dará quando, não havendo disposição expressa nesse sentido no texto da lei, apresentar-se o novel diploma legal incompatível, no todo ou em parte, com disposição legal que antes cuidava da matéria. A revogação tácita, assim, tem fulcro na incompatibilidade entre uma e outra lei. O art. 9º da LC nº 95/98 estabeleceu uma novidade no que tange à revogação das normas, dispondo que a revogação das normas deve ser expressa (afastando-se, dessa forma, prática até então comum da revogação genérica – “revogam-se as disposições em contrário”). Sendo assim, toda vez que for editada uma nova lei, essa deverá indicar de forma expressa quais os dispositivos legais revogados por ela. Art. 9º A cláusula de revogação deverá enumerar, expressamente, as leis ou disposições legais revogadas. Merece análise pormenorizada a regra contida no §3º do art. 2º da LINDB, que versa sobre o fenômeno conhecido como repristinação das leis, através do qual haveria revalidação da lei revogada pela perda de vigor da lei revogadora. Repristinação, portanto, "consiste na recuperação de vigência de uma lei que já fora revogada"16. Analisando a redação da LINDB, podemos destacar: (I) a proibição da repristinação, significando que a revogação da lei revogadora não restaura os efeitos da lei revogada; (II) a possibilidade de efeitos repristinatórios quando houver expressa disposição nesse sentido. Uma observação é necessária quando se está diante de casos de declaração de inconstitucionalidade, via controle concentrado, da lei revogadora. Nessa hipótese, afirmada a inconstitucionalidade da lei revogadora, serão restabelecidos, naturalmente, os efeitos da lei revogada, em face da perda de eficácia daquela. 16 GIORDIANI, José Acir Lessa. Curso Básico de Direito Civil, op. cit. p. 23. 23 Assim, percebe-se que o reconhecimento da inconstitucionalidade de uma norma jurídica revogadora, através de controle de constitucionalidade concentrado, implicará efeitos repristinatórios da norma anteriormente revogada, já que a norma atacada passa a não mais existir, sendo excluída do ordenamento jurídico. Aliás, a norma inconstitucional será tratada como se nunca tivesse existido. Cabe destacar, nesse ponto, a orientação do Supremo Tribunal Federal no sentido de que o autor da ADI deverá impugnar todo o "complexo normativo", ou seja, tanto a norma atual como aquelas que eventualmente foram revogadas por ela e que continham os mesmos vícios, justamente para se evitar a repristinação de normas igualmente inconstitucionais. (STF. Plenário. ADI 3.735/MS, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 8/9/2016 (Info 838). Prosseguindo, devemos tratar da modificação de lei durante o prazo de vacatio legis. Durante a vacatio a lei já existe, de modo que só poderá ser modificada através de lei nova. Sendo assim, a modificação de uma lei dentro do seu período de vacatio legis só pode ocorrer por meio de uma nova lei. É possível, porém, que a correção de erros materiais ou inexatidões seja feita através da simples republicação da lei com as devidas correções. No caso de republicação da lei, o prazo de vacatio legis volta a correr do zero somente para a parte que foi corrigida. (TJ-CE 2018) As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova. CORRETO (TJ-PE 2013) Não se considerarão lei nova as correções, tenha ou não já entrado em vigor o texto incorreto. ERRADO 6. OBRIGATORIEDADE DAS NORMAS O art. 3º da LINDB traz presunção de que todas as pessoas conheçam a lei. Por isso, a LINDB cria uma proibição de desconhecimento da lei para que ninguém possa se furtar à sua incidência. Art. 3º Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece. Trata-se do princípio da obrigatoriedade das leis, que veda, em regra, a alegação do chamado erro de direito. Três são as teorias sobre o princípio da obrigatoriedade: a teoria da presunção legal, a da ficção e a da necessidade social; a última é a aceita, por razões de interesse público e eficácia 24 geral do sistema normativo, bem como por garantia da ordem social e jurídica. Distingue-se o erro de direito do erro de fato, uma vez que este não se refere ao conteúdo da norma jurídica em si mesmo, mas a um acontecimento por ela regulado. Ou seja, o erro de fato (error facti) incide sobre as circunstâncias de fato de um determinado ato, enquanto o erro de direito (error iuris) pertine à ignorância ou falso conhecimento sobre a norma jurídica ou o seu conteúdo. Fala-se “em regra”, pois a alegação de erro de direito só pode ser feita em casos previstos em lei. (TJ-PR 2017) Consoante a LINDB, há uma presunção absoluta de que todos conhecem as leis brasileiras. ERRADO Esses casos previstos em lei são muito mais numerosos no Direito Penal. Exemplos: art. 21, CP (erro de proibição); art. 65, II, CP (atenuante da pena); art. 8º da Lei de Contravenções Penais. No Direito Civil, há apenas dois casos em que se permite a alegação de erro de direito, quais sejam: a) Casamento putativo (art. 1.561, CC/02): no caso de casamento nulo ou anulável celebrado com boa-fé, os efeitos do ato serão preservados até o dia da sentença anulatória. Art. 1561, CC Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé por ambos os cônjuges, o casamento, em relação a estes como aos filhos, produz todos os efeitos até o dia da sentença anulatória. b) Erro como vício de vontade no negócio jurídico (art. 139, III, CC/02): esse erro pode ser alegado para o desfazimento do negócio jurídico. Art. 139, III, CC O erro é substancial quando sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico. (DPE-GO 2010) O princípio da irrelevância do desconhecimento da lei admite o erro de direito sobre o motivo do negócio, dando causa a sua anulação quando for seu motivo principal, não 25 afastando o cumprimento da lei. CORRETO 7. EFICÁCIA DAS LEIS NO TEMPO As leis são elaboradas para, em regra, valerem para o futuro. Quando a lei é modificada por outra e já se haviam formado relações jurídicas na vigência da lei anterior, pode instaurar-se o conflito das leis no tempo. A dúvida dirá respeito à aplicação ou não da lei nova às situações anteriormente constituídas. Em tais casos, é preciso estabelecer o chamado direito intertemporal ou direito transitório, para regulamentar esses efeitos e consequências dos fatos praticados anteriormente à lei nova e que se protraem no tempo. O art. 6º da LINDB dispõe acerca do assunto, nos seguintes termos: Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. § 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. § 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré- estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. § 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso. Em sentido semelhante, tem-se o art. 5º, inciso XXXVI, da CF/88: Art. 5º, XXXVI, CRFB (...) a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. Assim, como regra, aplica-se a lei nova aos casos pendentes (facta pendentia) e aos futuros (facta futura), só podendo ser retroativa, para atingir fatos já consumados, pretéritos (facta praeterita),quando: a) não ofender o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada; b) quando o legislador, expressamente, mandar aplicá-la a casos pretéritos, mesmo que a palavra “retroatividade” não seja usada. Carlos Roberto Gonçalves17 aponta que “para solucionar tal questão, são utilizados dois critérios: o das disposições transitórias e o da irretroatividade das normas”. 17 Ob. cit. p. 83 26 Irretroativa é a lei que não se aplica às situações constituídas anteriormente. É um princípio que objetiva assegurar a certeza, a segurança e a estabilidade do ordenamento jurídico-positivo, preservando as situações consolidadas em que o interesse individual prevalece. “Entretanto, não se tem dado a ele caráter absoluto, pois razões de política legislativa podem recomendar que, em determinada situação, a lei seja retroativa, atingindo os efeitos dos atos jurídicos praticados sob o império da norma revogada”18. No Direito Brasileiro, portanto, consagrou-se a regra da irretroatividade das leis, de modo que as leis novas não alcançam os fatos pretéritos. A regra da irretroatividade é aplicável, inclusive, às normas jurídicas de ordem pública. Excepcionalmente, no entanto, admitem-se efeitos retroativos na lei quando presentes dois requisitos (já mencionados anteriormente), quais sejam: a) expressa disposição neste sentido: é preciso que a lei diga que produzirá efeitos retroativos. b) que a retroação não prejudique o ato jurídico perfeito, a coisa julgada e o direito adquirido. (MPE-PA 2014) A lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro veda, textual e literalmente, o efeito retroativo da lei. ERRADO Por outro lado, as disposições transitórias são elaboradas pelo legislador, no próprio texto normativo, destinadas a evitar e a solucionar conflitos que poderão emergir do confronto da nova lei com a antiga, tendo vigência temporária. Logo, a irretroatividade é a regra, admitindo-se a retroatividade em determinadas situações. São espécies de retroatividade: (a) justa – quando não ofende o ato jurídico perfeito, o direito adquirido ou a coisa julgada; (b) injusta – quando ofende o ato jurídico perfeito, o direito adquirido ou a coisa julgada); (c) máxima - a retroatividade atinge o direito adquirido e afeta negócios jurídicos perfeitos; (d) média - alcança os fatos pendentes, os direitos já existentes, mas ainda não integrados ao patrimônio do titular; (e) mínima - a lei nova afeta apenas os efeitos dos atos anteriores, mas produzidos após a data em que ela entrou em vigor. Teoria objetiva (Roubier): os efeitos futuros de fatos pretéritos (retroatividade mínima) não são reconhecidos como hipótese de retroatividade, sendo possível a aplicação da lei nova. 18 140 Arnoldo Wald, Curso, cit., p. 92; Silvio Rodrigues, Direito civil, cit., v. 1, p. 28. 27 Teoria Subjetiva (Gabba): os efeitos futuros de fatos pretéritos (retroatividade mínima) são reconhecidos como hipótese de retroatividade, não sendo possível a aplicação da lei nova. É a teoria adotada no Brasil, segundo o STF e a doutrina majoritária. Inf. 783/STF (Dizer o Direito): A Lei nº 9.069/95 (Lei do Plano Real) estabeleceu, em seu art. 21, que os índices de correção monetária previstos nos contratos de locação comercial que já existiam antes mesmo da sua vigência deveriam ser alterados. Essa medida não violou direito adquirido nem ato jurídico perfeito. Segundo a jurisprudência do STF, nas situações de natureza contratual, a lei nova pode incidir imediatamente sobre as cláusulas presentes no contrato, desde que as normas legais sejam de natureza cogente, ou seja, aquelas cujo conteúdo foge do domínio da vontade dos contratantes. Assim, se estivermos diante de um contrato de trato sucessivo e execução diferida, se surgir uma lei nova que determine, de forma cogente, sua aplicação imediata, os contratantes não podem invocar direito adquirido ou ato jurídico perfeito com o objetivo de manter o teor das cláusulas na forma como originalmente foram previstas no contrato. STF. Plenário. RE 212609/SP, RE 215016/SP, RE 211304/RJ, RE 222140/SP e RE 268652/RJ, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, julgados em 29/4/2015 (Info 783). Conceitos que devem ser dominados pelo aluno nesse assunto: o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada, com exceção dos casos de retroatividade máxima, não serão prejudicados pela retroatividade da norma. Definindo cada um dos institutos, Carlos Roberto Gonçalves19 leciona: “Ato jurídico perfeito é o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou (LINDB art. 6º, § 1º), produzindo seus efeitos jurídicos, uma vez que o direito gerado foi exercido. Direito adquirido é o que já se incorporou definitivamente ao patrimônio e à personalidade de seu titular, não podendo lei nem fato posterior alterar tal situação jurídica. Coisa julgada é a imutabilidade dos efeitos da sentença, não mais sujeita a recursos”. Sistematizando: Ato jurídico perfeito Direito adquirido Coisa julgada - É o ato que nasce e se forma sob a égide de uma determinada lei, tendo todos os requisitos necessários exigidos - É aquele que se incorporou ao patrimônio do particular. - É uma concepção exclusivamente patrimonialista, - Qualidade que reveste os efeitos decorrentes de uma decisão judicial contra a qual não cabe mais impugnação 19 Ob. cit. p. 85 28 Ato jurídico perfeito Direito adquirido Coisa julgada pela norma vigente. - O ato jurídico perfeito é aquele que, sob o regime da lei, tornou-se apto para produzir os seus efeitos pela verificação de todos os requisitos a isso indispensável. - É um ato que se aperfeiçoa, se integraliza, se faz inteiro, se consolida, se completa, se perfaz, debaixo de uma ordem normativa vigente, de uma legislação aplicável naquele instante. Por isso ele é chamado de ato jurídico perfeito. - Qualquer tentativa de mudança desse ato torna-se impossível, pois seria uma violação da coisa então consolidada. - Dessa forma, os efeitos produzidos permanecerão, mesmo com a mudança do ordenamento jurídico. de modo que não há direito adquirido personalíssimo. * O STF já se manifestou no sentido de que não há direito adquirido nem em face do Poder Constituinte Originário, nem em face do Poder Constituinte Derivado. Ou seja, emenda constitucional não precisaria, teoricamente, respeitar direito adquirido. (RE 161320, Relator(a): Min. MOREIRA ALVES, Primeira Turma, julgado em 25/08/1998, DJ 04-12-1998 PP-00023 EMENT VOL-01934-03 PP- 00539). Entretanto, o tema não é pacífico, pois existe doutrina (e alguns outros julgados do próprio Supremo) que apontam que o princípio da irretroatividade, por ser uma garantia constitucional (CF, art. 5º, XXXVI), vincula tanto o legislador infraconstitucional como o legislador constitucional derivado (reformador e decorrente), sendo inconstitucional qualquer lei ou emenda constitucional que retroaja para ferir direito adquirido, ato dentro dos mesmos autos. - Pode haver coisa julgada de decisão interlocutória, desde que ela aprecie o mérito e não seja impugnada. - Atualmente, ganha força a tese da relativização da coisa julgada – com a sua adoção pela jurisprudência em alguns casos (ex.: investigação de paternidade - DNA). 29 Ato jurídico perfeito Direito adquirido Coisa julgada jurídico perfeito e coisa julgada. (ADIN 939-7-DF,Rel. Min.Sydney Sanches e ADIN 829-DF,Rel. Min.Moreira Alves, já referidas). Em suma, o sistema jurídico brasileiro contém as seguintes regras sobre essa matéria: a) são de ordem constitucional os princípios da irretroatividadeda lei nova e do respeito ao direito adquirido; b) esses dois princípios obrigam ao legislador e ao juiz; c) a regra, no silêncio da lei, é a irretroatividade; d) pode haver retroatividade expressa, desde que não atinja direito adquirido; e) a lei nova tem efeito imediato, não se aplicando aos fatos anteriores. Por fim, a ultratividade da lei é tema correlato, consistindo no fenômeno através do qual uma lei, já revogada, produz efeitos mesmo após a sua revogação. Inúmeros são os exemplos de ultratividade vindos do Direito Penal, como é o caso da norma penal mais benéfica. No Direito Civil é bem mais rara a hipótese de ultratividade, mas ocorre isto, por exemplo, no direito de sucessão (ex.: princípio da saisine e alíquota do ITCMD – Súmula nº 112 do STF - o imposto de transmissão "causa mortis" é devido pela alíquota vigente ao tempo da abertura da sucessão). 8. EFICÁCIA DAS LEIS NO ESPAÇO A regra geral de aplicação da lei no espaço é de que, dentro do território brasileiro, é aplicada a lei brasileira. Ou seja, a lei brasileira se aplica no espaço territorial brasileiro. Art. 17 da LINDB. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes. Esse princípio da territorialidade, entretanto, não é absoluto. Existem situações excepcionais em que a própria LINDB admite a aplicação da lei estrangeira no território brasileiro. Pelo sistema da territorialidade, a norma jurídica se aplica no território do Estado, estendendo-se às embaixadas, aos consulados, aos navios de guerra onde quer se encontrem, aos navios mercantes em águas territoriais ou em alto-mar, aos navios estrangeiros (menos os de guerra em águas territoriais), e às aeronaves no espaço aéreo do Estado. 30 Pela extraterritorialidade, a norma é aplicada em território de outro Estado, segundo os princípios e as convenções internacionais. Estabelece-se um privilégio pelo qual certas pessoas escapam à jurisdição do Estado em cujo território se achem, submetendo-se apenas à jurisdição do seu país. A Norma estrangeira passa a integrar momentaneamente o direito nacional, para solucionar determinado caso submetido à apreciação. Diante do exposto, aponte-se que o Brasil adotou a teoria da territorialidade moderada/mitigada, uma vez que no espaço territorial brasileiro se aplica a lei brasileira em respeito à soberania nacional. No entanto, para que haja a aplicação da lei estrangeira no território brasileiro é preciso que haja uma regra de conexão, sendo um dos principais elementos de conexão o chamado estatuto pessoal em que se aplica a lei do domicílio ou nacionalidade do interessado. Denomina-se estatuto pessoal a situação jurídica que rege o estrangeiro pelas leis de seu país de origem. Baseia-se ele na lei da nacionalidade ou na lei do domicílio. Conforme explica Paulo Henrique Gonçalves Portela, o “domicílio é o principal elemento de conexão adotado no Brasil. Por esse critério, também conhecido como lex domicilii, aplica-se aos conflitos de leis no espaço a norma do domicílio de uma das partes. (...) Pelo elemento de conexão da nacionalidade, também chamado de lex patriae, aplica-se aos conflitos de leis a norma do Estado do qual a pessoa é nacional. (...) A nacionalidade não é mais o principal elemento de conexão do ordenamento brasileiro. No entanto, o critério ainda é empregado na ordem jurídica pátria, como evidenciam o artigo 18 da LINDB (...) e o art. 7ª, § 2º, também da LINDB (...). Quando uma pessoa é apátrida ou é refugiado no Brasil, aplica-se a lei de seu domicílio ou, em sua falta, a de sua residência, como determinam, respectivamente, o artigo 12, par. 1º, da Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas, de 1954, e o artigo 12, par. 1º, da Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados, de 1951”20. Dispõem, com efeito, os arts. 7º e 8º da LINDB: Art. 7º A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família. § 1º Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração. § 2º O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes. § 3º Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidade do matrimônio a lei do 20 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado: Incluindo Noções de Direitos Humanos e de Direito Comunitário. 10. ed. Salvador: JusPODIVM. p. 722/724. 31 primeiro domicílio conjugal. § 4º O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em que tiverem os nubentes domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro domicílio conjugal. § 5º O estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, pode, mediante expressa anuência de seu cônjuge, requerer ao juiz, no ato de entrega do decreto de naturalização, se apostile ao mesmo a adoção do regime de comunhão parcial de bens, respeitados os direitos de terceiros e dada esta adoção ao competente registro. § 6º O divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges forem brasileiros, só será reconhecido no Brasil depois de 1 (um) ano da data da sentença, salvo se houver sido antecedida de separação judicial por igual prazo, caso em que a homologação produzirá efeito imediato, obedecidas as condições estabelecidas para a eficácia das sentenças estrangeiras no país. O Superior Tribunal de Justiça, na forma de seu regimento interno, poderá reexaminar, a requerimento do interessado, decisões já proferidas em pedidos de homologação de sentenças estrangeiras de divórcio de brasileiros, a fim de que passem a produzir todos os efeitos legais. § 7º Salvo o caso de abandono, o domicílio do chefe da família estende-se ao outro cônjuge e aos filhos não emancipados, e o do tutor ou curador aos incapazes sob sua guarda. § 8º Quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada no lugar de sua residência ou naquele em que se encontre. Art. 8º Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados. § 1º Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o proprietário, quanto aos bens moveis que ele trouxer ou se destinarem a transporte para outros lugares. § 2º O penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja posse se encontre a coisa apenhada. De maneira sistematizada, a LINDB prevê 07 hipóteses de aplicação da lei estrangeira no território brasileiro, com base na lei do domicílio do interessado: 1) nome. 2) personalidade. 3) capacidade. 4) direito de família. 5) bens móveis que o interessado traz consigo. 6) penhor. 32 7) capacidade sucessória. Nesses casos, teremos a aplicação do estatuto pessoal, hipótese na qual será aplicada a lei do domicílio do interessado. Ademais, verifica-se que, pela atual Lei de Introdução, o estatuto pessoal se funda, predominantemente, na lei do país onde a pessoa é domiciliada. (TJ/AM 2019) Em se tratando de indivíduo de nacionalidade estrangeira domiciliado no Brasil, as regras sobre o começo e o fim da sua personalidade, seu nome, sua capacidade civil e seus direitos de família são aquelas da legislação vigente no seu país de origem. ERRADO (MP/MT 2014) Em questões sobre a qualificação e regulação das relações concernentes a bens, deve ser aplicada a lei do país do domicílio do proprietário. ERRADO (MP/MT 2014) Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem, reputando-se constituída no lugar em que residir o proponente. CERTO Mas a aplicação do estatuto pessoal pressupõe a filtragem interna ou filtragemconstitucional. Essa é uma necessidade para o respeito da soberania do Estado. Sendo assim, só se pode aplicar uma lei estrangeira ao território nacional se ela passar pelo crivo constitucional. Como exemplo, cite-se o árabe, que não pode casar mais de uma vez no Brasil, mesmo com as disposições relativas ao seu estatuto pessoal. É pertinente apontar, entretanto, que existem três casos em que a LINDB admite a aplicação da lei estrangeira sem a aplicação do estatuto pessoal, ou seja, a aplicação da lei estrangeira tem regra específica que não obedece ao domicílio ou nacionalidade do interessado. A primeira se dá no caso do conflito sobre bens imóveis, no qual se aplica a lei do lugar em que está situado o imóvel. Art. 8º Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados. § 1º Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o proprietário, quanto aos bens moveis que ele trouxer ou se destinarem a transporte para outros lugares. § 2º O penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja posse se encontre a coisa apenhada. A segunda ocorre na aplicação da lei sucessória mais benéfica ao cônjuge ou aos filhos. 33 Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens. § 1º A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus. E em terceiro, temos o lugar da obrigação, nos casos de contratos internacionais, nos quais se aplica a lei de residência do proponente. Art. 9º Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem. § 1º Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato. § 2º A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o proponente. Também a prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar. Art. 13. A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar, quanto ao ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais brasileiros provas que a lei brasileira desconheça. Em sequência, aponte-se que as sentenças proferidas no estrangeiro dependem, para serem executadas no Brasil, do preenchimento dos requisitos mencionados no art. 15 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro: Art. 15. Será executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro, que reúna os seguintes requisitos: a) haver sido proferida por juiz competente; b) terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente verificado à revelia; c) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades necessárias para a execução no lugar em que foi proferida; d) estar traduzida por intérprete autorizado; e) ter sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal.* 34 *(Atualmente, trata-se de competência do Superior Tribunal de Justiça) De início, pertinente apontar que, com a revogação do parágrafo único do art. 15 da LINDB, passou-se a exigir a homologação do STJ para as sentenças e decisões meramente declaratórias de estado das pessoas. Exemplo: investigação de paternidade ou divórcio. O Tribunal da Cidadania, em diversas ocasiões, tem-se orientado pela máxima competência para homologar as sentenças estrangeiras, ainda que se enquadrassem no conceito de meramente declaratórias do estado das pessoas: “é homologável sentença que decretou divórcio por mútuo consentimento” (STJ. SEC 6.354/EX, Rel. Ministra Eliana Calmon, Corte Especial, julgado em 17/12/2012, DJe 20/02/2013). No mesmo sentido, de maneira mais didática: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. DIVÓRCIO. REQUISITOS FORMAIS. CUMPRIMENTO. AUSÊNCIA DE OFENSA À SOBERANIA NACIONAL E À ORDEM PÚBLICA. DEFERIMENTO DO PEDIDO HOMOLOGATÓRIO. 1. Com a Emenda Constitucional 66, de 13 de julho de 2010, que instituiu o divórcio direto, a homologação de sentença estrangeira de divórcio para alcançar eficácia plena e imediata não mais depende de decurso de prazo, seja de um ou três anos, bastando a observância das condições gerais estabelecidas na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB) e no Regimento Interno do STJ. 2. Uma vez atendidos os requisitos previstos no art. 15 da LINDB e nos arts. 216-A a 216-N do RISTJ, bem como constatada a ausência de ofensa à soberania nacional, à ordem pública e à dignidade da pessoa humana (LINDB, art. 17; RISTJ, art. 216-F), é devida a homologação de sentença estrangeira. 3. Pedido de homologação deferido, estendendo seus efeitos ao pacto antenupcial, com a homologação também da sentença estrangeira parcial, tal como pleiteado pelas partes”. (SEC 4.445/EX, Rel. Ministro Raul Araújo, Corte Especial, julgado em 6/5/2015, publicado no Diário da Justiça Eletrônico em 17/6/2015). O art. 515, VIII, do Código de Processo Civil incluiu a “sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de Justiça” no rol dos “títulos executivos judiciais”. E o art. 963 do referido diploma estabelece os requisitos indispensáveis à homologação da decisão estrangeira. Art. 963. Constituem requisitos indispensáveis à homologação da decisão: I - ser proferida por autoridade competente; II - ser precedida de citação regular, ainda que verificada a revelia; III - ser eficaz no país em que foi proferida; IV - não ofender a coisa julgada brasileira; 35 V - estar acompanhada de tradução oficial, salvo disposição que a dispense prevista em tratado; VI - não conter manifesta ofensa à ordem pública. Parágrafo único. Para a concessão do exequatur às cartas rogatórias, observar-se-ão os pressupostos previstos no caput deste artigo e no art. 962, § 2º. Obs.: Importante registrar que a doutrina tem apontado que, em virtude de o art. 963 do Novo CPC não prever como requisito o trânsito em julgado da decisão objeto de homologação, diferentemente do que aduz o inciso III do art. 15 da LINDB, teria havido uma revogação tácita deste dispositivo. Veja-se o que aduz Flávio Tartuce21 sobre o tema: “Nos termos do art. 963 do CPC/2015, constituem requisitos indispensáveis à homologação de qualquer decisão proferida no estrangeiro: a) ser proferida por autoridade competente; b) ser precedida de citação regular, ainda que verificada a revelia; c) ser eficaz no país em que foi proferida; d) não ofender a coisa julgada brasileira; e) estar acompanhada de tradução oficial, salvo disposição que a dispense prevista em tratado; f) não conter manifesta ofensa à ordem pública. Como a norma instrumental não traz exatamente o mesmo teor do art. 15 da Lei de Introdução, entendemos que não houve revogação do último dispositivo, devendo ambos os preceitos conviver no sistema jurídico, em diálogo entre as fontes. De toda forma, há interpretação no sentido de ter sido o art.15 da LINDB revogado tacitamente pelo último comando do Estatuto Processual emergente citado. Assim, não haveria mais a necessidade do trânsito em julgado da sentença no país de origem, exigindo-se apenas a sua eficácia naquela localidade”. Ressalte-se que o controle ou juízo de delibação a ser feito pelo Superior Tribunal de Justiça visa somente ao exame formal do cumprimento daqueles requisitos e de inocorrência de ofensa à ordem pública e à soberania nacional, para se imprimir eficácia à decisão estrangeira no território brasileiro, sem que haja reexame do mérito da questão. Ademais, o STJ poderá homologar essas medidas de forma monocrática (somente a denegação da homologação que não pode ser feita monocraticamente). Com o NCPC, a sentença estrangeira