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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) DESEMBARGADOR (A) PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Paciente: Nome do Preso Sobrenome
Impetrante: Edimar Ferreira Gomes 
Impetrado: M.M Juiz (a) de Direito da 99ª Vara Criminal da Capital –SP
EDIMAR FERREIRA GOMES, brasileiro, solteiro, advogado, inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil, Secção de São Paulo, sob o nº 340.866, vêm, perante esse Egrégio Tribunal, nos termos do artigo 5º, inciso LXVIII da Constituição Federal de 1.988 e artigos 647 e seguintes, do Código de Processo Penal, impetrar a presente ordem de HABEAS CORPUS com pedido de Liminar
em favor de;
NOME DO PRESO SOBRENOME, brasileiro, casado, RG nº 9999999 SSP/SP, CPF/MF nº999.999.999-99, residente e domiciliado na Avenida, nº 999, CEP 99999-999, São Paulo – SP; contra a r.Decisão do Juiz (a) de Direito da 99ª Criminal do Foro da Barra Funda da Comarca de São Paulo –SP, (processo nº: 9999999-99.2020.8.26.0050), pelos fatos e fundamentos a expor; 
I –DOS FATOS 
O Paciente, foi preso em flagrante em 27/01/2020, há 6 (seis) meses, e denunciado 04/02/2020, como incursos no artigo no artigo 33, caput, da Lei nº 11.343/06, e se encontra recolhido no Centro de Detenção Provisória _CDP II Guarulhos –SP. 
Aponta-se a acusação ministerial do Paciente na data da prisão, portar pra suposto fins traficância o ínfimo de (89,4 g) gramas de cocaína, sem autorização e em desacordo com determinação legal e regulamentar. 
Vossas Excelências: o Paciente, tem endereço residencial no distrito da culpa, há anos, sito a Avenida, nº 999, CEP 99999-999, São Paulo – SP, certo de ser localizado a qualquer hora e dia da semana, não tendo o porquê de outros motivos, mante-se o vigor do respectivo mandado preventivo.
E até a presente, visto saúde do Paciente, no presídio com superlotação e a pandemia do vírus Covid-19, não há previsão de data audiência de julgamento.
A defesa requereu a revogação da prisão e liberdade provisória do Paciente, sendo INDEFERIDA pela M.M. Juíz (a) de Direito, nos seguintes termos:
Vistos. 
(...)
Contudo, com o devido respeito e acatamento, não agiu com total acerto o nobre Magistrado, Desembargador. Vejamos:
II –DO DIREITO
Da Garantias Constitucionais Individuais Previstas Na Carta Magna Constituição Da Republica Federativa Do Brasil De 1988
Ab initio, sobre tal recurso constitucional insta consignar o seguinte:
A Carta Magna prevê em seu artigo 5º, LXVIII a sua concessão sempre que sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.
Conquanto que o Código de Processo Penal prescreve em seu artigo 647 que esse remédio será concedido sempre que alguém sofrer violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir.
O encarceramento sacrifica o direito fundamento da dignidade da pessoa humana, onde o preso, ademais, tem direito a progressão de regime, institutos esses resguardados pela Constituição Federal:
Art. 1º, CF A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: 
(...)
III – a dignidade da pessoa humana;
(...)
Art. 5º, CF- (...)
...
XLVII – não haverá penas:
b) de caráter perpétuo;
... 
Do excesso prazo da prisão 
Ainda, segundo o Ministro do Supremo Tribunal Federal, Celso de Mello: “afronta a ética-jurídica o excesso de prazo da prisão processual, além da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, que prevê no artigo 7º: “toda pessoa detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de um juiz ou outra autoridade autorizada pela lei a exercer funções judiciais e tem direito a ser julgada dentro de um prazo razoável ou a ser posta em liberdade”. (STF, HC 91.662- 7).
Ab initio cumpre mencionar que a instrução criminal sequer se findou.
Em síntese, há constrangimento ilegal quando alguém fica preso por mais tempo do que determina a lei (art. 648, II, CPP: A coação considerar-se-á ilegal: II quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei). 
Com base nesse preceito, a jurisprudência durante certo tempo orientou que o julgamento do réu preso, em primeiro grau, teria de se dar num prazo aproximado de 81 dias (que seria a soma de todos os prazos processuais no procedimento ordinário).
O princípio da razoabilidade, que nesta corte tem sido utilizado para afastar a existência de constrangimento ilegal em feitos complexos, no presente caso milita a favor da parte ré. Constrangimento caracterizado.
Art. 5º, CF- (...)
LXXVIII – a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.
Dos Tratados Internacionais De Direitos Humanos De 22/11/1969 Pacto De São Jose Da Costa Rica Ratificada Pelo Brasil 09/07/1992
O Brasil é um dos países que mais ratifica Tratados de Direitos Humanos, sendo por isso visto como um país com características humanitárias e preocupado com a proteção dos direitos fundamentais.
O Brasil, não obstante demonstrar internacionalmente seu interesse em preservar e legitimar os direitos humanos, tem agido de forma imprudente quanto a questão da violência aos direitos fundamentais dos presidiários. 
Ressalta-se que tais violações afrontam gravemente a Constituição Federal, na medida em que a Carta Maior assegura, em seu artigo 4º, II, que o Brasil rege-se-a, em suas relações internacionais, pela prevalência dos direitos humanos, sendo a proteção a tais direitos, verdadeiro imperativo constitucional.
Da Pandêmia Vírus Covid-19
Como se sabe, a Organização Mundial de Saúde reconheceu que o surto do novo coronavírus (2019-nCoV) constitui uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII), em 30 de janeiro de 2020 e, em 11 de março de 2020, caracterizá -lo como pandemia 1, sendo necessário o olhar especial para as pessoas que se enquadram no grupo de risco e, sobretudo, as pessoas presas que conjuguem doença grave. 
Sabe-se que pessoas com doenças crônicas correm maior risco ao serem contaminados com o vírus causador da COVID-19, pois a resposta imunológica não ocorre de maneira suficiente para garantir o combate da enfermidade, trazendo maior risco de agravamento da doença e de eventual morte.
Assim, pessoas com doenças respiratórias cônicas, diabetes, doenças cardíacas crônicas, pessoas com HIV, hipertensão, pessoas com insuficiência renal crônica, com câncer ou outras enfermidades que debilitem o sistema imunológico ficam ainda mais expostas aos perigos da doença e devem ser alvo prioritário das políticas voltadas à mitigação dos efeitos da pandemia, como o próprio Tribunal de Justiça de São Paulo reconheceu pelo Provimento n. 2545/2020 do Conselho Superior da Magistratura:
Art. 4º. Ficam afastados, por 30 (trinta) dias, Magistrados e Servidores: 
I. com 60 (sessenta) anos de idade ou mais; 
II. gestantes e lactantes; 
III. portadores de deficiências; 
IV. em tratamento oncológico que estejam realizando radioterapia ou quimioterapia; 
V. portadores de cardiopatia crônica; 
VI. portadores de diabetes insulinodependentes; 
VII. portadores de doenças pulmonares crônicas; 
VIII. portadores de insuficiência renal crônica; 
IX. portadores de HIV; 
X. portadores de doenças autoimunes; 
XI. portadores de cirrose hepática.
Nesse sentido, inclusive, a Recomendação nº 62/2020, do Conselho Nacional de Justiça:
Art. 4º. Recomendar aos magistrados com competência para a fase de conhecimento crimi nal que, com vistas à redução dos riscos epidemiológicos e em observância ao contexto local de disseminação do vírus, considerem as seguintes medidas: 
I – a reavaliação das prisões provisórias, nos termos do art. 316, do Código de Processo Penal, priorizando-se: 
a) mulheres gestantes, lactantes, mães ou pessoas responsáveis por criança de até doze anos ou por pessoa com deficiência, assim como idosos, indígenas, pessoas com deficiência ou que se enquadrem no grupo de risco; 
b) pessoas presas em estabelecimentos penais que estejam com ocupaçãosuperior à capacidade, que não disponham de equipe de saúde lotada no estabelecimento, que estejam sob ordem de interdição, com medidas cautelares determinadas por órgão do sistema de jurisdição internacional, ou que disponham de instalações que favoreçam a propagação do novo coronavírus ; 
Art. 5º. Recomendar aos magistrados com competência sobre a execução penal que, com vistas à redução dos riscos epidemiológicos e em observância ao contexto local de disseminação do vírus, considerem as seguintes medidas: 
I – concessão de saída antecipada dos regimes fechado e semiaberto, nos termos das diretrizes fixadas pela Súmula Vinculante no 56 do Supremo Tribunal Federal, sobretudo em relação às: 
a) mulheres gestantes, lactantes, mães ou pessoas responsáveis por criança de até 12 anos ou por pessoa com deficiência, assim como idosos, indígenas, pessoas com deficiência e demais pessoas presas que se enquadrem no grupo de risco; 
b) pessoas presas em estabelecimentos penais com ocupação superior à capacidade, que não disponham de equipe de saúde lotada no estabelecimento, sob ordem de interdição, com medidas cautelares determinadas por órgão de sistema de jurisdição internacional, ou que disponham de instalações que favoreçam a propagação do novo coronavírus .
Portanto, a conhecida e demonstrada precariedade das instalações prisionais e sua inadequação às necessidades de higiene e salubridade para impedir a contaminação e disseminação da doença demonstram a desproporcionalidade da prisão, e fazem com que o cárcere extrapole os limites constitucionais da intervenção do poder sobre o indivíduo (art. 5o, XLVII, (a) e XLIX da Constituição Federal).
A decisão impugnada citou dados do caso concreto e concluiu pela existência dos requisitos para a prisão preventiva. Ela está, então, viciada, o que acarreta a soltura. 
Os fatos utilizados somente compõem as elementares do delito vislumbrado no auto de prisão em flagrante. Com isso, já que eles não extrapolam o tipo penal, a decisão embasou-se, substancialmente, na gravidade ínsita ao crime. A postura é ilegal.
Se isso fosse suficiente para embasar a prisão provisória, haveria casos de prisão automática, onde o juiz seria dispensado do dever disposto no art. 93, IX, da Constituição. Ainda, não seria sequer necessária a existência dos arts. 312 e 313 do Código de Processo Penal. Estaria, então, ignorada a presunção de inocência. Logo, não é argumento idôneo para sustentar o cárcere. 
Conforme o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:
“(....) A jurisprudência desta Corte Superior não admite que a prisão preventiva seja amparada na mera gravidade abstrata do delito, por entender que elementos inerentes aos tipos penais, apartados daquilo que se extrai da concretude dos casos, não conduzem a um juízo adequado acerca da periculosidade do agente (....)”(STJ. HC 463.931/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 23/10/2018, DJe 13/11/2018)
Mas não é só. 
Os fatos deduzidos do auto de prisão em flagrante indicam que, caso a pessoa presa seja condenada, o regime a ser imposto poderá ser diverso do fechado, como determina o art. 33, § 2º, do Código Penal, contexto mais benéfico à liberdade do que a prisão atual. Ainda, não está afastada a possibilidade de substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos, nos termos do artigo 44 do CP, o que sedimenta a conclusão posta. Dessa maneira, a prisão é desproporcional.
Trata-se aqui da verificação da relação de homogeneidade entre a providência de direito material que será eventualmente aplicada na sentença (o bem jurídico que se restringirá do condenado), com a extensão e profundidade da própria medida cautelar, que, por ser instrumental, acessória e provisória, não pode tirar da pessoa presa mais do que ela deverá perder em virtude da condenação.
Conforme o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:
“(....) Segundo o princípio da homogeneidade, corolário do princípio da proporcionalidade, não se afigura legítima a custódia cautelar quando sua imposição se revelar mais severa do que a própria pena imposta ao final do processo em caso de condenação (....)”(STJ. HC 463.931/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 23/10/2018, DJe 13/11/2018)
Prosseguindo, o artigo 319, alterado pelo mesmo título, traz um rol com 10 medidas cautelares, sendo a prisão apenas uma delas.
Com isso, a lei ratificou o que a Constituição preconiza há décadas, em seu artigo 5º, incisos LIV e LXVI: a liberdade é a regra, e a prisão, exceção. 
A alteração legislativa vai mais longe, estabelecendo ao/à magistrado/a uma ordem hermenêutica imperativa, onde há relação de prejudicialidade: “Art. 282, § 4º: No caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas, o juiz, de ofício ou mediante requerimento do Ministério Público, de seu assistente ou do querelante, poderá substituir a medida, impor outra em cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão preventiva (art. 312, parágrafo único)” (grifo nosso).
Desse modo, pode ser determinado, por exemplo, o comparecimento periódico em juízo. É garantia razoável, quando considerado o presente caso, e que está em consonância com o fim constitucional e legal. Afinal, se descumprir a condição, a pessoa pode ser presa, como a própria lei determina no parágrafo único do art. 312.
Assim, deve aguardar em liberdade o deslinde da persecução penal.
Sendo já significativo o número de enfermidades graves e mortes pela ausência de garantia do direito à saúde dentro das unidades prisionais, a perspectiva diante da pandemia do CORONAVÍRUS é ainda mais preocupante.
É de conhecimento público que a medida mais eficiente para evitar a disseminação do vírus causador da COVID-19 é o isolamento e a vedação a aglomerações em locais fechados e sem ventilação, medidas impossíveis de serem adotadas em um sistema prisional que tem em média 171% de superlotação.
Além da superlotação e das dificuldades de higienização dos presos e recintos pela ausência de produtos, as instalações do sistema carcerário brasileiro também apresentam um problema de ventilação que agrava a disseminação do vírus.
Assim, forçoso reconhecer que não há maneira de contenção do contágio entre as pessoas que estão presas ou que trabalham e circulam nos estabelecimentos prisionais. A única medida capaz de mitigar os danos à saúde pública advindos dessa situação é a diminuição da lotação desses estabelecimentos e a exclusão de pessoas presas e funcionários enquadrados em grupos de risco mais grave à saúde e à vida.
O cenário demanda a adoção de medidas urgentes para evitar uma escalada de mortes sem precedentes no sistema carcerário, conferindo-se menores lapsos para aquisição de direitos e, em alguns casos, inclusive, suprimindo a necessidade de se cumprir determinado período de pena para a garantia de direitos, reconhecendo-se vulnerabilidades especiais.
Este Habeas Corpus visa garantir a liberdade da pessoa presa já que a fundamentação para a decretação da preventiva é inidônea, a prisão é desproporcional, quando considerada a pena cabível e cabe medida cautelar distinta do cárcere e, não são assim, é possível a prisão domiciliar.
Do Cabimento Da Liminar 
Vossas Excelências; não tendo o porquê mante-se o vigor do respectivo mandado preventivo.
É irredutível manter-se o entendimento prisional do Paciente pôr na data da prisão, portar para suposto fins traficância o ínfimo de (89,4 g) gramas de cocaína, sem autorização e em desacordo com determinação legal e regulamentar. 
O Paciente, tem endereço residencial no distrito da culpa, há anos, sito a Avenida, nº 999, CEP 99999-999, São Paulo – SP, certo de ser localizado a qualquer hora e dia da semana, não tendo o porquê de outros motivos, mante-se o vigor do respectivo mandado preventivo.
Diante de todo o argumentado, ficou demonstrada a ilegalidade do constrangimento imposto. Da mesma forma caracterizada a emergência da situação, tendo em vista que a manutenção da decisão impugnada implicará restrição continuada ao direito de locomoção.
Sendo assim, presentesos requisitos legais, é cabível, por decisão liminar, a expedição de alvará de soltura.
III –DO PEDIDO
Diante de todo o exposto, estando presente o fumus boni juris e o periculum in mora, requer:
1) A concessão da liminar para determinar a expedição do Alvará De Soltura ao Paciente, brasileiro, casado, Rg nº 99999 ssp/sp, Cpf nº 999.999.999-99.
Por fim, seja o presente pedido de Habeas Corpus Julgado Procedente ao final, por este Tribunal de Justiça, confirmando-se a respeitável r.decisão liminar. 
Requer todas as publicações e intimações, DOESP, sejam feitas em nome dos advogado EDIMAR FERREIRA GOMES, OAB/SP 340.866, sob pena de nulidade.
Nestes Termos, 
Pede Deferimento.
São Paulo, 31 de Agosto de 2020.
EDIMAR FERREIRA GOMES
OAB/SP 340.866 – Advogado

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