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Qual a relação do septo nasal com os sistemas carotídeos externo e interno? 1.1 ANATOMIA DO NARIZ 1.1.1 Anatomia externa 1.1.1.1 Pirâmide nasal É a estrutura externa do nariz, tendo na face inferior 2 aberturas – as narinas. A pirâmide é dividida em 2 porções: 1. Óssea: composta pelos ossos próprios do nariz e processos nasais da maxila e do osso frontal; 2. Cartilaginosa: 2 terços inferiores são cartilaginosos, com 2 cartilagens laterais superiores e 2 laterais – inferiores ou alares. O vestíbulo nasal é a região de entrada do nariz. É revestido internamente por pele e pelos com função protetora, as vibrissas. 1.1.1.2 Válvula nasal Localizada logo após o vestíbulo nasal, é uma projeção intranasal da união das cartilagens laterais inferior e superior. Quando estreitada, essa região pode ocasionar obstrução nasal. Figura 1.1 - Anatomia da pirâmide óssea Legenda: (A) osso nasal; (B) osso frontal; (C) processo frontal da maxila; (D) cartilagem lateral superior; (E) cartilagem lateral inferior; (F) cartilagens alares menores; (G) região da válvula nasal. Fonte: Ilustração Claudio Van Erven Ripinskas. Quadro 1.1 - Estruturas nasais externas 1.1.2 Fossas nasais 1.1.2.1 Parede medial – septo nasal O septo nasal é uma estrutura laminar que separa as 2 fossas nasais. Apresenta uma porção cartilaginosa, anterior, e uma porção óssea, posterior, formada pelo vômer, pela crista maxilar e pela lâmina perpendicular do osso etmoide. A drenagem venosa do septo ocorre em direção à face intracraniana, favorecendo a disseminação facial e meníngea de focos infecciosos dessa estrutura (Figura 1.2). A região anteroinferior do septo é chamada de zona de Kiesselbach, apresenta grande vascularização e é o principal foco de epistaxe em adultos e crianças. Seu terço anteroinferior é importante pela presença de um plexo arteriovenoso, o que torna essa região a mais propensa a sangramentos, principalmente pós-traumáticos e em rinites. Essa é também a região de origem de veias que drenam em direção intracraniana (Figura 1.2). Comumente, o septo nasal está desviado da linha média. Isso decorre de desvios isolados da cartilagem ou nas regiões de junção osteocartilaginosa. O tipo e o grau do desvio são variáveis, podendo chegar a obstruir o fluxo aéreo nasal. #IMPORTANTE A disseminação hematogênica para a meninge é uma via notavelmente importante (Figura 1.2). Figura 1.2 - Via de disseminação bacteriana intracraniana a partir da pirâmide nasal Fonte: elaborado pelos autores. a) Estruturas anatômicas do septo nasal 1. Cartilagem septal: anterior; 2. Vômer: posterior; 3. Crista maxilar: inferior; 4. Lâmina perpendicular do etmoide: superior. Quadro 1.2 - Estruturas importantes na vascularização do septo 1.1.2.2 Parede lateral do nariz a) Conchas – ou cornetos São projeções osteomucosas que contribuem para as funções de aquecimento, umidificação e filtragem do nariz. A concha inferior ocupa o terço inferior das fossas nasais. Quando aumentada de volume, é uma das grandes causadoras de obstrução nasal. A concha média tem anatomia mais complexa e se estende de forma vertical e oblíqua. A concha superior localiza-se anteriormente ao esfenoide e tem pouca relação com o fluxo aéreo nasal. b) Meatos Entre as conchas, encontram-se os meatos, denominados de acordo com sua localização: 1. Superior, entre as conchas superior e média: região de drenagem das células etmoidais posteriores; 2. Médio, entre as conchas média e inferior: região de drenagem dos óstios do seio maxilar, das células etmoidais anteriores e do seio frontal. É a principal região acometida pelas patologias nasais. Esse meato tem especial importância, pois as patologias que acometem essa região geralmente cursam com obstrução dos óstios dos seios e geram sinusites; 3. Inferior, abaixo da concha inferior: localiza-se inferiormente à concha inferior. Nesse espaço, encontramos o óstio nasal do ducto nasolacrimal; 4. Recesso esfenoetmoidal: localizado posteroinferiormente ao meato superior. Local de drenagem dos seios esfenoidais. Figura 1.3 - Visão sagital da parede lateral do nariz Nota: observar as conchas inferior, média e superior. Estão representados estiletes introduzidos nos óstios dos seios e do ducto lacrimonasal. Fonte: Ilustração Claudio Van Erven Ripinskas. Quadro 1.3 - Meatos e estruturas que drenam 1.1.2.3 Limites do nariz 1. Anteriormente: narina; 2. Superiormente: o teto nasal é formado por uma fina placa óssea, denominada lâmina crivosa, ou cribriforme. Nessa região, emergem as terminações nervosas do nervo olfatório – I par craniano. Essa fina placa óssea é vulnerável a fraturas em casos de trauma cranioencefálico, sendo, por isso, uma das principais regiões de fístulas liquóricas pós-traumáticas; geralmente está associada a hiposmia por lesão das fibras nervosas; 3. Lateralmente: separando a fossa nasal da órbita, encontra-se a lâmina papirácea. Por ser muito delgada, é a principal via de disseminação de infecções dos seios da face para as órbitas, principalmente em crianças; 4. Posteriormente: cóana, onde ocorre a transição com a faringe. Pode ser sítio de malformações congênitas – imperfurações coanais. Quadro 1.4 - Limites do nariz 1.1.3 Seios paranasais 1. Seios frontais: localizados na região frontal e supraorbitária. Drenam para o meato médio; 2. Seios maxilares: estão abaixo da órbita e acima da cavidade bucal (palato duro). Drenam para o meato médio; a região afunilada onde se encontra seu óstio é chamada infundíbulo (Figura 1.4); 3. Células etmoidais: situadas medialmente à órbita, em contato íntimo com a lâmina papirácea, existem em número variável e apresentam grande variação anatômica. A partir das células etmoidais, a sinusite se dissemina para a órbita. A concha média divide essas células etmoidais em anteriores e posteriores; 4. Seio esfenoidal: localizado na região mais posterossuperior da fossa nasal, tem contato íntimo com a base do crânio. Em seu interior, há lateralmente a projeção dos canais ósseos da artéria carótida interna (inferior) e do nervo óptico (superior – Figura 1.5). É importante observar que o assoalho maxilar é a região de inserção dos dentes superiores. Infecções dentárias podem supurar e drenar para o seio maxilar, causando sinusite odontogênica. Figura 1.4 - Relações topográficas do seio maxilar Nota: observe a relação do assoalho maxilar com a dentição. Observar a comunicação do seio maxilar com o meato médio. A região de comunicação também é denominada infundíbulo maxilar. Legenda: (A) concha inferior; (B) seio maxilar; (C) órbita; (D) concha média. Fonte: Ilustração Claudio Van Erven Ripinskas. Figura 1.5 - Meato médio, visualizado após remoção das conchas média e inferior Legenda: (A) ducto frontal drenando para o meato médio; (B) bula etmoidal (célula etmoidal anterior); (C) seio esfenoidal; (D) projeção do ducto lacrimonasal; (E) hiato semilunar, região de drenagem dos seios maxilar, frontal e etmoidal anterior. 1.1.4 Cóana Trata-se da abertura posterior da fossa nasal, delimitada pelo septo nasal medialmente, assoalho nasal inferiormente e toro tubário lateralmente. 1.1.5 Vascularização nasal A vascularização nasal provém de ramos das carótidas externa e interna. 1. Artéria carótida externa: fornece a maior parte da irrigação nasal por meio de 2 ramos: a) Artéria esfenopalatina: penetra as fossas nasais posteriormente à concha inferior e vasculariza boa parte das fossas nasais; b) Artérias angular e labial superior: seus ramos terminais vascularizam principalmente o vestíbulo e a pirâmide nasal. 2. Artéria carótida interna: fornece irrigação complementar das fossas nasais por meio de 2 ramos – artérias etmoidais anteriores e posteriores. A anastomose dos 2 sistemas carotídeos acontece na zona de Kiesselbach. Figura 1.6 - Origem das artérias nasais e convergência para zona de Kiesselbach Fonte: elaborado pelos autores. 1.1.6 Inervação A inervação sensitiva da parede lateral é feita por meio do primeiro e segundo ramos do nervotrigêmeo. O primeiro ramo – oftálmico – dá origem ao nervo ciliar. O ramo maxilar dá origem ao nervo nasopalatino. Esses nervos têm terminações livres espalhadas por toda a mucosa nasal e são estimulados por substâncias irritantes, como pimenta, pó e amônia; podem iniciar um reflexo protetor com espirros, lágrimas ou secreções. A inervação olfatória é dada pelo I par craniano – nervo olfatório –, cujas fibras se localizam principalmente no terço superior da mucosa nasal – parede lateral e septo. Essas fibras direcionam-se superiormente e cruzam a base do crânio na lâmina cribriforme até atingir o bulbo olfatório. A inervação olfatória é dada pelo I par craniano – nervo olfatório –, cujas fibras se localizam principalmente no terço superior da mucosa nasal – parede lateral e septo. Quadro 1.5 - Inervação do nariz Figura 1.7 - Principais nervos das fossas nasais Nota: observar que a inervação da região anterossuperior é dada pelo ramo oftálmico NC VI e a da região inferoposterior, pelo ramo maxilar NC VII. Fonte: site StudyBlue. Figura 1.8 - Bulbo olfatório e distribuição de suas fibras pela cavidade nasal Fonte: site Human Anatomy Body. 1.1.7 Rinofaringe Localizada posteriormente às cóanas e anteriormente à coluna cervical, já não faz mais parte da cavidade nasal. Três estruturas destacam-se nessa região: a adenoide, ou tonsila faríngea, o óstio tubário e o recesso retrotubário, ou fosseta de Rosenmüller (Figura 1.9). 1.1.7.1 Estruturas da rinofaringe 1. Adenoide: órgão linfoide secundário localizado na região superior da rinofaringe. Histologicamente é semelhante às tonsilas e tem especial importância na infância, pois, uma vez hipertrofiada, pode gerar obstrução total ou parcial do fluxo aéreo nasal, com consequente respiração bucal e suas complicações; 2. Óstio tubário: a tuba auditiva tem sua abertura nasal na região da rinofaringe, posteriormente à cauda da concha inferior. Tem relação muito próxima com a adenoide; 3. Fosseta de Rosenmüller: localiza-se posteriormente ao óstio tubário, é o principal sítio de origem dos tumores de rinofaringe. Figura 1.9 - Rinofaringe e parede lateral do nariz Legenda: (1) óstio faríngeo da tuba auditiva; (2) adenoide – atrófica; (3) toro tubário – porção superior; (4) fosseta de Rosenmüller; (5) toro tubário – porção posterior. Fonte: OtoRhinoLaryngology Portal. 1.1.8 Fisiologia das fossas nasais 1.1.8.1 Batimento mucociliar A mucosa do nariz e dos seios é composta por 80% de células pseudoestratificadas ciliadas (Figura 1.10 – A e B) e cerca de 10% por goblet cells, responsáveis pela produção e secreção de muco. Tal muco é composto por 2 camadas. A mais externa, de maior viscosidade, é chamada de fase gel; e a mais interna, de menor viscosidade, que fica em contato íntimo com as células, corresponde à fase sol. Os cílios têm importante função de clareamento. Agem realizando uma batida rápida para frente – na fase gel – e um retorno lento – batida de recuperação – na fase sol, movendo em fluxo unidirecional partículas sólidas ali presentes. Patologias que acometem o batimento mucociliar, como fibrose cística e discinesia mucociliar primária, são fatores importantes na gênese de sinusites crônicas, pois comprometem o clareamento e facilitam a infecção local. Figura 1.10 - Ciclo de batimento do cílio Legenda: (A) célula ciliar; (B) microscopia eletrônica de células ciliadas de seios da face. Fonte: (A) Ilustração Claudio Van Erven Ripinskas; (B) Acquired cilia dysfunction in chronic rhinosinusitis, 2016. 1.1.8.2 Fluxo aéreo nasal O ar inspirado segue uma trajetória turbilhonar, tendo como pontos mais baixos a narina e a cóana e o meato médio como ápice. Dessa forma, a perviedade do terço inferior das fossas nasais é crucial para um bom fluxo aéreo nasal. A concha inferior hipertrófica, rinite, é o principal sítio de obstrução nasal em adultos. O fluxo turbulento é importante para filtrar, aquecer e umidificar o ar inspirado. O fluxo aéreo adequado em ambas as cavidades permitirá ao indivíduo adequado desenvolvimento craniofacial durante a infância e a juventude. 1.2 ANATOMIA DA ORELHA 1.2.1 Orelha externa Compreende o pavilhão auricular e o Conduto Auditivo Externo (CAE – Figura 1.11). Quadro 1.6 - Estruturas da orelha externa A orelha externa é recoberta por pele e anexos; os pelos estão presentes apenas no terço externo. A pele contém glândulas ceruminosas. Figura 1.11 - Orelha externa Legenda: (A) pavilhão auricular; (B) conduto auditivo externo; (C) tímpano. Fonte: adaptada de sciencepics. 1.2.2 Orelha média Composta por: caixa ou cavidade timpânica, tuba auditiva e células mastoideas. 1.2.2.1 Tuba auditiva A tuba auditiva é um canal osteocartilaginoso envolto por músculos e que conecta o ouvido médio com a nasofaringe. A porção óssea, posterolateral, se abre na cavidade timpânica, e a musculocartilaginosa, anteromedial, na nasofaringe – óstios tubários – e tem íntima relação com a adenoide. Fisiologicamente, a tuba permanece fechada. Sua abertura ocorre de forma ativa utilizando-se de 3 músculos: tensor do véu palatino, o mais importante, elevador do véu palatino e salpingofaríngeo. Esses músculos estão intimamente ligados à deglutição e à movimentação palatal. O fechamento da tuba se faz de maneira passiva. Uma das funções da tuba auditiva é equalizar a pressão do ar dentro da orelha média com a pressão do ar ambiente – fossas nasais. Por isso, a deglutição gera a abertura transitória da tuba auditiva e consequente equalização da pressão. Disfunções no funcionamento da tuba auditiva refletem-se na orelha média, com consequentes otites e perdas auditivas condutivas. Figura 1.12 - Diferenças anatômicas da tuba auditiva Legenda: (A) crianças menores e (B) crianças maiores e adultos. Fonte: site do Curso ENARM. Figura 1.13 - Equalização da pressão na orelha média e na fossa nasal após a abertura da tuba auditiva Nota: à esquerda está representada a orelha média e à direita, a fossa nasal. Observar que, na situação inicial, a pressão na cavidade nasal era maior do que a pressão na orelha média. Fonte: elaborado pelos autores. 1.2.2.2 Células da mastoide A mastoide é a região posterolateral do osso temporal; é formada por diversas pequenas cavidades – células – de tamanho variável que se comunicam entre si. Dessa forma, apresenta-se como um osso aerado. A maior célula, e a primeira a surgir na criança, é o antro da mastoide. A partir dela se desenvolvem as demais células. 1.2.2.3 Caixa timpânica A caixa timpânica é uma pequena cavidade cuboide localizada entre a tuba auditiva, anterior, e as células da mastoide, posterior. Tem 6 paredes e, no seu interior, ossículos, músculos e ligamentos. a) Limites da caixa timpânica 1. Superior – tegmen tympani: assoalho da fossa cerebral média; 2. Inferior: relação com a veia jugular; 3. Lateral: membrana timpânica; 4. Medial: diversas saliências, como o promontório, que corresponde ao giro basal da cóclea, a abertura da janela oval ou do vestíbulo, onde se aloja o estribo, e a janela redonda ou da cóclea; 5. Anterior: relação com a carótida interna e a tuba auditiva; 6. Posterior: antro mastoide. 1.2.2.4 Membrana timpânica A Membrana Timpânica (MT) localiza-se no extremo medial do CAE. Suas funções básicas são separar a orelha média da externa e transmitir as vibrações sonoras para a cadeia ossicular. Possui 3 folhetos celulares fundidos entre si: 1. Externo: formado pela pele contínua com a pele do CAE; 2. Intermediário: formado por tecido fibroso; 3. Interno: formado pela mucosa da orelha média. Divide-se em porção tensa, inferior, e porção flácida, superior. Essa divisão é feita pelos ligamentos maleolares anterior e posterior. Ligado à MT está o martelo, que faz na membrana uma umbilicação na região superior. Dessa umbilicação partem os 2 ligamentos em direção à periferia da membrana. Os colesteatomas, compostos de epitélio escamoso estratificado e preenchidos por acúmulo de queratina esfoliada localizada dentro da orelha média, originam-sena pars flácida da membrana timpânica devido à ausência da lâmina intermediária. a) Representação esquemática das porções timpânicas 1. Porção flácida – superior: a) Folheto interno: mucoso; b) Folheto externo: pele. 2. Porção tensa – inferior: a) Folheto interno: mucoso; b) Folheto médio: fibroso; c) Folheto externo: pele. 3. Ligamentos maleolares. 1.2.2.5 Cadeia ossicular A Cadeia Ossicular (CO) é composta de 3 ossículos: 1. Martelo: composto de cabeça, colo e manúbrio, está em contato com a membrana timpânica; 2. Bigorna: composta de corpo, apófise curta e longa, que se articula com o estribo; 3. Estribo: composto por 2 cruras, ou “pernas”, e a platina, ou base. Faz articulação com a janela oval por meio da platina, transmitindo os impulsos vibratórios da CO para os líquidos do ouvido interno. Os ossículos do ouvido médio estão suspensos por seus músculos e ligamentos. São músculos do ouvido: 1. Músculo tensor do tímpano: liga-se ao martelo; 2. Músculo estapédio: liga-se ao estribo. Ambos, ao se contraírem, provocam rigidez da CO, protegendo o ouvido interno da transmissão de sons potencialmente lesivos. A vascularização do ouvido provém de ramos das artérias carótidas externa, interna e vertebral. Figura 1.14 - Orelha externa, média e interna Nota: observar as inter-relações entre as estruturas descritas. Fonte: adaptado de wiseGEEK. 1.2.3 Orelha interna Está localizada na profundidade do osso temporal e é formada por um arcabouço ósseo, o labirinto ósseo, dentro do qual se encontra o labirinto membranoso (Figura 1.15). Figura 1.15 - Orelha interna Legenda: (A) labirinto ósseo: observe a cóclea, o vestíbulo e os canais semicirculares; (B) labirinto membranoso, que preenche o labirinto ósseo. Fonte: Ilusmedical. 1.2.3.1 Labirinto ósseo O labirinto ósseo (Figura 1.16) dá suporte ósseo e formato ao labirinto membranoso e se divide anatomicamente em canais semicirculares (CSCs), vestíbulo e cóclea. Figura 1.16 - Labirinto ósseo Fonte: adaptado de Ilusmedical. 1.2.3.2 Labirinto membranoso O labirinto membranoso é preenchido por endolinfa – composição semelhante ao intracelular: maior concentração de potássio e menor de sódio – e encontra-se imerso na perilinfa, de composição iônica semelhante à plasmática – rica em sódio e pobre em potássio. 1.2.3.3 Estruturas do labirinto a) Canais semicirculares São canais dispostos nos 3 planos dimensionais, com angulação de cerca de 90° entre eles. São denominados lateral, superior e inferior – ou posterior. Em uma das extremidades, cada canal apresenta uma pequena dilatação denominada ampola, que é a região inervada pelo nervo vestibulococlear NC VIII. Esses canais têm a função de detectar os movimentos rotacionais da cabeça. b) Vestíbulo: utrículo e sáculo São dilatações na região intermediária entre os CSCs, posteriormente, e a cóclea, anteriormente, comunicando-se com essas estruturas. São responsáveis pela detecção de movimentos lineares da cabeça, como andar para frente ou subir de elevador. c) Canais e tipos de movimentos detectados 1. CSCs: movimentos rotacionais; 2. Sáculo e utrículo: movimentos lineares. d) Cóclea A cóclea é um órgão em formato de espiral ao redor de um cone ósseo central, chamado modíolo. Deste partem lâminas ósseas que subdividem a cóclea em subcanais, que são a rampa vestibular, rampa média e rampa timpânica. As rampas vestibular e timpânica são preenchidas por perilinfa e comunicam-se no ápice da cóclea. A rampa média é preenchida por endolinfa, e, em seu interior, está o órgão de Corti, responsável pela detecção dos estímulos auditivos. e) Órgão de Corti O órgão de Corti situa-se ao longo de toda a rampa média, o labirinto membranoso. Em sua base está a membrana basilar, sensível às vibrações das rampas vestibular e timpânica. Sobre a membrana basilar, há as células ciliadas internas e externas, que recebem fibras neurais e são capazes de transformar os estímulos mecânicos provenientes da vibração da membrana basilar em estímulos neurais, que atingem o Sistema Nervoso Central (SNC) por meio do NC VIII. As perdas auditivas tipo presbiacusia e induzida por ruído iniciam- se em frequências agudas. Acredita-se que isso ocorra devido ao uso excessivo do trecho inicial da membrana basilar, pois todos os sons devem passar por essa região para chegar à sua região de estímulo. 1.2.4 Inervação 1.2.4.1 Nervo vestibulococlear O ouvido interno é inervado pelo NC VIII, que emerge da ponte, entra por um canal ósseo, o Conduto Auditivo Interno (CAI) e chega ao labirinto. Divide-se, então, em ramo anterior, coclear, responsável pela inervação da cóclea, e ramo posterior (vestibular), responsável pela inervação do vestíbulo e dos CSCs. a) Divisões do VIII nervo craniano: nervo vestibulococlear – VIII par craniano 1. Ramo anterior: inervação da cóclea; 2. Ramo posterior: inervação dos CSCs e vestíbulo. Figura 1.17 - Vias percorridas pela estimulação sonora até atingir o sistema nervoso central Fonte: elaborado pelos autores. 1.2.4.2 Nervo facial O nervo facial NC VII é um nervo de especial importância na anatomia do ouvido. Ele emerge do SNC no ângulo pontocerebelar e entra pelo CAI junto com o NC VIII. Ao emergir do CAI, tem relação anatômica com a orelha média, o CSC lateral, a bigorna e a parede posterior do CAE. Seus principais ramos na orelha média são: 1. Nervo estapédio: responsável por ativar o músculo estapédio (reflexo do estapédio) e proteger a orelha interna de trauma acústico; 2. Nervo corda do tímpano: responsável por parte da inervação gustativa da língua. A paralisia facial pode cursar com sensação de gosto metálico na boca por acometimento desse ramo. Na orelha média, o NC VII corre através de um canal ósseo cujas paredes são estreitas. Dessa forma, a ocorrência de otites médias pode estender o processo inflamatório através de tais paredes e acometer o nervo facial, gerando edema neurite e consequente paralisia periférica. Outras patologias que acometem o ouvido, como tumores ou colesteatomas, também podem cursar com paresia ou paralisia facial do tipo periférica. O nervo facial emerge do osso temporal por meio do forame estilomastóideo e se subdivide em 5 ramos principais, responsáveis pela inervação motora da face. Dessa forma, a paralisia facial periférica cursa com paralisia de toda a hemiface. Figura 1.18 - Nervo facial e seus ramos Nota: observar os ramos estapédio e corda do tímpano, que emergem intratemporalmente; o NC VII emerge do osso temporal pelo forame estilomastoideo e se divide em seus 5 ramos motores. Fonte: Clinical Gate. Figura 1.19 - Ramos extratemporais do nervo facial Nota: observar sua distribuição e inervação de toda a hemiface. Fonte: Clinical Gate. #IMPORTANTE O nervo facial deve ser identificado durante cirurgias de ouvido, de forma a evitar lesão e paralisia facial periférica. 1.3 ANATOMIA DA FARINGE, DA LARINGE E DA CAVIDADE ORAL 1.3.1 Faringe A faringe divide-se, anatomicamente, em nasofaringe, orofaringe e hipofaringe (Figura 1.20). Figura 1.20 - Faringe e suas divisões Fonte: adaptado de Teguh Mujiono. 1. Nasofaringe: localiza-se superiormente, tendo o esfenoide como limite superior, a coluna cervical posteriormente, a cóana anteriormente e os óstios tubários lateralmente. Suas principais estruturas são a tuba auditiva, a adenoide, que, quando hiperplásica, pode cursar com obstrução nasal e as fossetas de Rosenmüller, região retrotubária, principal região de origem de carcinomas de rinofaringe. A adenoide de crianças pode estar aumentada de tamanho, de forma a obstruir até 100% do espaço faríngeo. Pode ocluir a abertura da tuba auditiva e gerar patologias da orelha média: otites secretoras, otites crônicas ou secretoras; Figura 1.21 - Cavidade nasal e rinofaringe Nota: observar a localização anatômica da adenoide, tuba auditiva e fosseta de Rosenmüller. Fonte: site Human Anatomy Body. 2. Orofaringe: anteriormente é limitada pelo palato mole, com seus 2 pilares – o anterior, músculo palatoglosso, e o posterior,músculo palatofaríngeo, que representam a transição entre a cavidade oral e a orofaringe. Entre esses pilares está a amígdala palatina. O espaço virtual entre os pilares amigdalianos e a amígdala é chamado cápsula amigdaliana. Nesse espaço formam-se os abscessos periamigdalianos (Figura 1.22) devido aos ligamentos da amígdala serem mais frouxos nessa região. A parede posterior da orofaringe está em contato íntimo com a coluna cervical. Essa região é formada pelos músculos constritores da orofaringe, de especial importância na fonação e na deglutição (Figura 1.24); Figura 1.22 - Orofaringe Legenda: (A) pilar amigdaliano posterior; (B) pilar anterior; (C) úvula; (D) amígdala; (E) língua. Fonte: Ilustração Claudio Van Erven Ripinskas. Figura 1.23 - Anatomia da amígdala Nota: observar os pilares anterior e posterior “envolvendo” a amígdala. A linha tracejada mostra esquematicamente a região ocupada pela amígdala entre os pilares. Fonte: adaptado de Klem, 2007. Figura 1.24 - Músculos constritores superior, médio e inferior da faringe Fonte: Ilustração Claudio Van Erven Ripinskas. 3. Hipofaringe: nessa região localiza-se a transição da faringe com o esôfago, posteriormente, e com a laringe, anteriormente. Sua visualização é feita apenas de forma indireta, com espelho de Garcia ou laringoscópio. O anel linfático de Waldeyer é composto por estruturas linfoides capazes de reconhecer antígenos inalados ou ingeridos, gerando resposta imunológica ao agressor. Esse anel é composto por: 1. Adenoide ou tonsilas faríngeas: localizada na rinofaringe; 2. Amígdalas ou tonsilas palatinas: localizadas lateralmente na orofaringe; 3. Amígdalas ou tonsilas linguais: localizadas posteriormente na língua; 4. Tonsilas tubárias: pequenas estruturas localizadas no toro tubário. Essas estruturas desempenham papel de “barreira” imunológica, porém podem se encontrar aumentadas –hiperplásicas, por razões ainda não totalmente elucidadas (Figura 1.25). Figura 1.25 - Estruturas do anel linfático de Waldeyer Fonte: adaptado de WebMD. 1.3.2 Laringe A laringe localiza-se na linha média cervical, anteriormente ao esôfago, superiormente à traqueia e inferiormente à hipofaringe. Suas funções são proteção da via aérea, respiração e fonação. 1.3.2.1 Cartilagens da laringe Ao todo, são 9 cartilagens: 1. Pares: aritenoide, cuneiformes e corniculadas. As aritenoides estão acima da cricoide, e nelas se inserem as pregas vocais; 2. Ímpares: epiglote, tireoide e cricoide. 1.3.2.2 Musculatura intrínseca A musculatura intrínseca da laringe é a principal responsável pela fonação. Os músculos são: 1. Adutores das pregas vocais: tireoaritenoides – que compõem as pregas vocais –, interaritenoide, cricoaritenoide lateral e cricotireoide; 2. Abdutor: cricoaritenoide posterior. 1.3.2.3 Musculatura extrínseca Os músculos extrínsecos da laringe têm origem e inserção em estruturas externas à luz laríngea e permitem a movimentação da laringe durante a deglutição, fonação e respiração. Os músculos são: 1. Infra-hióideos: omo-hióideo, esterno-hióideo, estilofaríngeo e esternotireóideo, que movimentam inferiormente o hioide e a laringe; 2. Supra-hióideos: estilo-hióideo, digástrico, milo-hióideo e gênio- hioide, que movimentam superiormente o hioide e a laringe. 1.3.2.4 Inervação da laringe 1. Motora: o nervo laríngeo inferior, recorrente, inerva todos os músculos, exceto o cricotireoide, inervado pelo laríngeo superior; 2. Sensitiva: nervo laríngeo superior. Todos esses nervos são ramos do nervo vago – NC X. O músculo cricotireoide é o único inervado pelo laríngeo superior; todos os demais são inervados pelo laríngeo recorrente. Considerando que a laringe é inervada pelo nervo vago, inervações sensitiva e motora, podemos dizer que eventuais lesões desse nervo podem cursar com alteração na motricidade laríngea ou na sensibilidade. Tumores comprimindo o nervo ou aneurismas de aorta podem cursar com esse tipo de lesão no nervo. Cirurgias de tireoide podem cursar com lesão do nervo laríngeo recorrente e consequente paralisia (uni ou bilateral) laríngea. 1.3.2.5 Fonação Ocorre pela vibração das pregas vocais quando o ar atravessa a laringe durante a expiração. Essa vibração das pregas vocais e da mucosa gera uma onda sonora de acordo com a tensão, a massa e a posição das pregas. Figura 1.26 - Fonação Legenda: (A) abdução das pregas vocais no movimento inspiratório; (B) adução das pregas durante a fonação (expiração) – (1) glote; (2) pregas vocais; (3) epiglote; (4) comissura anterior; (5) aritenoides; (6) comissura posterior. Fonte: Ilustração Claudio Van Erven Ripinskas. 1.3.2.6 Glândulas tireoide e paratireoides São responsáveis pela produção de tiroxina (T4), triiodotironina (T3) e por calcitonina. Estão localizadas na região anterior do pescoço, posteriormente aos músculos extrínsecos da laringe. Possuem 2 lobos laterais unidos na linha média por um istmo e têm estreita relação com a cartilagem cricoide, esôfago e os primeiros anéis traqueais. A relação clínica mais importante é com o nervo laríngeo recorrente, que percorre o espaço entre a tireoide e o esôfago e traqueia posteriormente. Em tireoidectomias, pode ser lesado e causar paralisia laríngea. A irrigação arterial é feita pelas artérias tireóideas superiores (primeiros ramos da artéria carótida externa) e inferiores (ramos dos troncos tirocervicais). Figura 1.27 - Glândula tireoide Nota: observe a relação anatômica com a laringe, traqueia e esôfago posteriormente. Fonte: Nerthuz. 1.3.3 Cavidade oral e glândulas salivares A cavidade oral é delimitada anteriormente pela rima bucal – músculo orbicular da boca –, lateralmente pela região jugal, superiormente pelo palato duro e mole e inferiormente pelo assoalho da boca. 1. Palato: formado anteriormente pelo osso maxilar, palato duro, e posteriormente pelo músculo palatofaríngeo, palato mole. Apresenta- se lateral e anteriormente à arcada dentária. Essa estrutura tem íntima relação com o assoalho do seio maxilar. Essa relação favorece a disseminação de bactérias para os seios maxilares durante processos infecciosos ou após cirurgias dentárias, as chamadas sinusites odontogênicas; 2. Assoalho da boca: formado pelos músculos gênio-hióideo, milo- hióideo e digástrico. Apresenta anteriormente os óstios de drenagem das glândulas salivares sublinguais e submandibulares – região de carúncula lingual; 3. Língua: composta por musculatura intrínseca, fibras musculares dispostas em diversas direções, e extrínseca, genioglosso, estiloglosso, hioglosso, palatoglosso. Em sua superfície, apresenta as carúnculas linguais e as papilas gustativas; 4. Glândulas salivares maiores: 3 pares principais, sendo eles: a) Parótidas: localizadas lateralmente ao ramo da mandíbula e anteriormente ao pavilhão auricular. Têm relação íntima com o NC VII, que passa em seu interior e emerge em seu terço anterior. O ducto de drenagem da glândula parótida localiza-se na mucosa jugal, na região do segundo molar superior; b) Submandibulares: localizam-se inferiormente à mandíbula. Seu ducto de drenagem corre inferiormente à língua até a carúncula lingual; c) Sublinguais: localizadas inferiormente à língua, drenam em conjunto com as submandibulares (Figura 1.28). Figura 1.28 - Glândulas salivares maiores e suas vias de drenagem Nota: observar a drenagem do ducto parotídeo na altura do segundo molar superior; o ducto das submandibulares drena na carúncula lingual, enquanto os ductos dos sublinguais drenam lateralmente à língua. Fonte: adaptado de WebMD. 1.4 ANATOMIA DOS ESPAÇOS CERVICAIS PROFUNDOS A musculatura cervical, bem como as fáscias musculares e viscerais, delimitam espaços virtuais que se comunicam entre si e servem como via de disseminação e expansão dos abscessos cervicais profundos. Tais espaços estendem-se desde a base do crânio – espaço parafaríngeo – até a coluna lombar, anteriormente à coluna vertebral; a extensão de um abscesso para a região mediastinal apresenta mortalidade de cerca de 50%. Anatomicamente, osespaços cervicais profundos são subdivididos em supra-hióideos, infra-hioideo e pancervicais. São eles: 1. Pancervicais: retrofaríngeo; danger space; pré-vertebral; visceral vascular; 2. Supra-hióideos: parafaríngeo; submandibular; parotídeo; temporal; mastigatório; peritonsilar; 3. Infra-hióideo: visceral anterior. 1.5 ANATOMIA DOS NÍVEIS CERVICAIS LINFONODAIS A drenagem linfática da face e estruturas cervicais corre para linfonodos distribuídos principalmente na região anterolateral do pescoço. Muitos tumores de cabeça e pescoço têm como primeiro sinal a presença de um linfonodo aumentado – metastático. A metástase linfonodal também ocorre, em geral, seguindo um padrão. Anatomicamente, os linfonodos estão distribuídos em áreas ou níveis cervicais, delimitados por estruturas anatômicas, conforme resumem o Quadro 1.7 e a Figura 1.29. Quadro 1.7 - Limites anatômicos dos níveis cervicais Figura 1.29 - Níveis cervicais Fonte: Ilustração Claudio Van Erven Ripinskas. Qual a relação do septo nasal com os sistemas carotídeos externo e interno? Conforme discutido na seção de irrigação nasal, vimos que na região anterior do septo nasal, a zona de Kiesselbach, há confluência do sistema carotídeo externo – artéria angular e labial superior – e do interno – artérias etmoidais anterior e posterior. Ou seja, o septo nasal é uma área de anastomose entre o sistema carotídeo interno e o externo. Em uma audiometria, por que o limiar sonoro por via aérea deve ser maior ou igual ao limiar medido por via óssea? 2.1 EXAMES DE IMAGEM 2.1.1 Radiografia de cavum Trata-se de radiografia simples da nasofaringe em perfil. Estando o paciente com a boca aberta e fechada, é possível a avaliação indireta do tamanho da adenoide e do grau de obstrução da rinofaringe causado por ela. 2.1.2 Radiografia de seios paranasais Muito utilizada no passado para a avaliação de rinossinusites, tem baixa sensibilidade e especificidade para a avaliação de quadros agudos, já que não diferencia processos inflamatórios de infecciosos (Figura 2.1). Figura 2.1 - Radiografia de seios paranasais Fonte: Inter-Observer and Intra-Observer Variability in the Assessment of The Paranasal Sinuses Radiographs, 2005. 2.1.3 Radiografia de ossos nasais Utilizada para avaliar os ossos nasais, principalmente na suspeita de fratura, quando realizada em perfil permite a avaliação da integridade e do alinhamento dos ossos nasais (Figura 2.2). Em crianças, aparentes linhas de fratura nos ossos nasais podem corresponder à região de fusão óssea. Figura 2.2 - Ossos nasais em perfil Nota: observar a fratura e o desalinhamento. Fonte: Fracture Nasal Bones, 2013. 2.1.4 Tomografia computadorizada de seios paranasais Na Tomografia Computadorizada (TC) de seios paranasais, as imagens mais utilizadas são as de cortes axiais e coronais, principalmente em janelas de partes ósseas. Em geral, espera-se que as fossas nasais e os seios paranasais estejam preenchidos por ar. Seu velamento indica a retenção de secreções ou a presença de lesão ocupando a luz das estruturas. As principais estruturas visualizadas e suas alterações são: 1. Septo nasal: presença de desvios; 2. Cornetos inferiores: hipertrofia ou atrofia; 3. Concha média: alterações anatômicas, concha bolhosa – preenchida por ar; 4. Meato médio: infundíbulo – região de drenagem do seio maxilar –, seios etmoidais anteriores, drenagem do seio frontal; o velamento dessa região geralmente ocorre em sinusites, ou secundariamente a polipose e papilomatose nasal; 5. Seio maxilar: velamento que indica processo patológico; 6. Seios etmoidais: em geral, acometidos com a região do meato médio; 7. Seio frontal e esfenoide: segue os princípios dos demais seios; 8. Órbita: avaliação da lâmina papirácea e seu acometimento em sinusites; 9. Base do crânio: avaliação da lâmina cribriforme ou crivosa. As imagens obtidas com janelas para partes moles são úteis para a visualização de tumores e patologias não ósseas da região. No entanto, fornecem menos detalhes anatômicos. Os cortes sagitais auxiliam na visualização do seio frontal e de seu óstio de drenagem. Figura 2.3 - Tomografia computadorizada de seios paranasais normal Legenda: (1) órbita/globo ocular; (2) seio maxilar; (3) septo nasal; (4) corneto inferior; (5) infundíbulo maxilar; (6) célula etmoidal infraorbitária (Onodi); (7) concha média; (8) etmoide; (9) lâmina cribriforme; (10) lâmina papirácea. Fonte: site Corner Stone – Ear, Nose and Throat. Figura 2.4 - Tomografia computadorizada de seios paranasais mostrando velamento maxilar esquerdo por sinusite infecciosa Fonte: Variações anatômicas e sinusopatias: estudo por tomografia computadorizada, 2002. As principais patologias que alargam o infundíbulo maxilar (comunicação do seio maxilar com meato médio) são o pólipo de Killian, o papiloma invertido, a mucocele maxilar e a sinusite fúngica. Figura 2.5 - Pólipo de Killian, ou antrocoanal Fonte: Adenoid cystic carcinoma of palate: A case report and review of Literature, 2013. Figura 2.6 - Papiloma invertido Fonte: Inverted papilloma: Evaluation with CT and MRI, 2007. Figura 2.7 - Mucocele maxilar Fonte: Endoscopic sinus surgery for maxillary sinus mucoceles, 2006. Figura 2.8 - Sinusite fúngica 2.1.5 Tomografia de ouvidos Usam-se predominantemente as imagens em janelas de partes ósseas, uma vez que se avalia a região do osso temporal. Normalmente, cavidade timpânica, o mastoide e o Conduto Auditivo Externo (CAE) estão bem aerados. As principais estruturas avaliadas são: 1. CAE: integridade óssea, tumorações, erosões; 2. Cadeia ossicular: integridade e continuidade; possivelmente erodida; 3. Cavidade timpânica: velamento e erosões. Observar a região de tegmen tympani – base do crânio; 4. Esporão de Chaussé: correspondente à projeção da parede superior do CAE no interior da caixa timpânica; erosão sugestiva de colesteatoma; 5. Mastoide: velamento e aeração; mastoides ebúrneas – poucas células aeradas – que indicam processos crônicos. #IMPORTANTE Coalescência, destruição do trabeculado ósseo, ocorre em otomastoidites de rápida evolução. 2.1.6 Tomografia de pescoço É utilizada para diversos fins. Os cortes axiais em janelas de partes moles com uso de contraste permitem melhor visualização dos vasos sanguíneos e são os que normalmente fornecem maior número de informações. Esse é o principal método utilizado para avaliar a extensão de abscessos, como os periamigdalianos. As principais estruturas são: 1. Palato: deve apresentar-se na linha média, simétrico e sem abaulamentos; 2. Rinofaringe, orofaringe e hipofaringe: devem seguir os princípios descritos. Atenção especial deve ser dada às fossetas de Rosenmüller; 3. Cavidade oral: avaliar língua e estruturas relacionadas; 4. Glândulas salivares: presença de tumorações, abaulamentos e cálculos em seus ductos; 5. Laringe: espaço aéreo, integridade das cartilagens e presença de tumorações; 6. Tireoide: posição, textura e tamanho. Verificar a presença de cistos ou nódulos; 7. Vasos: os principais vasos são as artérias carótidas internas e externas, além de veias jugulares internas, externas e anteriores; 8. Linfonodos: avaliar tamanho, número, forma e presença de necrose no interior; 9. Espaços cervicais profundos: em vigência de abscessos cervicais, avaliar a extensão e as estruturas relacionadas. Figura 2.9 - Tomografia computadorizada de pescoço, corte axial, janelas de partes moles, com uso de contraste intravenoso Legenda: (1) corpo da mandíbula; (2) músculo gênio-hióideo; (3) músculo milo-hióideo; (4) corno menor do osso hioide; (5) glândula submandibular; (6) corno maior do osso hioide; (7) veia jugular externa; (8) artéria carótida externa; (9) artéria carótida interna; (10) veia jugular interna; (11) corpo de C4; (12) lâmina de C4; (13) espinha de C4; (14) pilar articular; (15) forame intervertebral; (16) músculo trapézio; (17) músculo esternocleidomastóideo; (18) faringe; (19) epiglote; (20) valécula; (21) prega glossoepiglótica medial; (22) corpo do ossohioide. Fonte: site About Cancer. 2.1.7 Ressonância magnética de mastoides- ouvidos A Ressonância Nuclear Magnética (RNM) de mastoides-ouvidos é usada para o diagnóstico e o estadiamento de tumores locais – glomo, neurinomas –, a avaliação pré-implante coclear e a suspeita de fístulas liquóricas otogênicas. Figura 2.10 - Ressonância nuclear magnética de ouvido interno – sistema nervoso central Nota: observar o conduto auditivo interno, setas vermelhas, e os canais semicirculares laterais, setas amarelas. 2.1.8 Ressonância de nariz e seios da face É usada, geralmente, para o diagnóstico do estadiamento de tumores locais, como estesioneuroblastoma e carcinomas espinocelulares e a avaliação de extensão intracraniana de sinusites. 2.1.9 Exame ultrassonográfico Método de escolha para avaliação de estruturas cervicais relativamente superficiais, sem necessidade de exposição a radiação ou contraste. É utilizado principalmente para avaliação de: 1. Glândulas salivares: a) Lesões tumorais bem ou mal definidas, com ou sem sinais de invasão periférica; b) Processos inflamatórios crônicos ou agudos: aumento da vascularização e fluxo sanguíneo, alterações parenquimatosas; c) Abscessos: coleção líquida com sinais de processo inflamatório periférico; d) Sialolitíase: presença de imagem hipoecogênica, geralmente com sombra acústica. 2. Linfonodos: avaliação da quantidade e aspecto de linfonodos cervicais e intraórgãos, principalmente glândulas salivares. a) Linfonodos normais: hipoecoico, aspecto oval, medindo até 1 cm por 0,5 cm no maior e menor eixo, respectivamente. Possível visualização de hilo linfonodal; b) Linfonodo inflamatório ou reativo: geralmente há aumento do fluxo através do hilo, aumento em tamanho, com preservação do hilo, parênquima hipoecoico e formato ovoide. Em casos severos pode haver sinais de supuração ou abscessos; c) Linfonodo maligno: geralmente há sinais de neovascularização em área capsular, vasos hilares aberrantes e possível sinal de necrose intranodal. 3. Tireoide: tem uma aparência homogênea, a cápsula pode aparecer como uma linha hiperecoica fina. Volume de 10 a 15 mL para mulheres e 12 a 18 mL para homens. Alterações da ecogenicidade do órgão podem sugerir processos inflamatórios crônicos ou agudos; 4. Nódulos: deve-se avaliar tamanho, posição, ecogenicidade, calcificação, margens, halo e vascularização. Baseados nessas características, podemos sugerir malignidade dos nódulos. Em casos de lesões suspeitas à ultrassonografia, frequentemente se realiza a punção aspirativa por agulha fina (PAAF) guiada pela ultrassonografia. Esse teste permite avaliação da celularidade. Em casos inconclusivos, pode-se realizar a punção com biópsia, removendo-se fragmentos da lesão. 2.2 EXAMES ENDOSCÓPICOS 2.2.1 Nasofibrolaringoscopia A nasofibroscopia fornece uma avaliação de resolução menor do que a endoscopia rígida. Com um aparelho de fibra ótica flexível, introduzido pelas narinas, podem-se examinar detalhadamente: fossas nasais – cornetos, meatos, óstios de seios, septo nasal; rinofaringe – óstios tubários, fossetas de Rosenmüller e palato mole; e laringe – base da língua, epiglote, aritenoides, pregas vocais e infraglote. Figura 2.11 - Nasofibroscopia de nariz Legenda: (A) concha nasal inferior; (B) concha nasal média; (C) septo nasal. Fonte: adaptado Ressecção endoscópica de nasoangiofibroma, 2006. 2.2.2 Telescopia laríngea rígida É realizada sob anestesia tópica com spray de lidocaína na orofaringe, com introdução do aparelho pela cavidade oral. O endoscópio laríngeo rígido fornece imagem com mais detalhes do que o flexível, mas tem mobilidade reduzida e desencadeia maior reflexo de náuseas. Figura 2.12 - Endoscopia laríngea com aparelho rígido 2.2.3 Telescopia laríngea com estroboscopia Usa-se a mesma técnica descrita pela telescopia laríngea rígida, porém associada a uma fonte de luz estroboscópica. Essa luz é sincronizada com a frequência fundamental da voz e permite avaliar a vibração das pregas vocais com grande riqueza de detalhes, semelhante à câmera lenta. Esse método permite maior acurácia no diagnóstico de alterações estruturais mínimas de laringe e de outras pequenas lesões (Figura 2.13). Figura 2.13 - Visualização estroboscópica da vibração das pregas vocais, na qual pode-se avaliar tal processo com grande riqueza de detalhes Fonte: Видеоларингоскопическая картина голосового аппарата у пациентов с различными формами хронического ларингита [imagem videolaringoscópica da voz em pacientes com várias formas de laringite crônica (tradução literal)], 2016. 2.2.4 Videoendoscopia da deglutição – videodeglutograma O exame é usado em casos específicos e avalia a função de deglutição por meio da nasofibrolaringoscopia, realizada enquanto o indivíduo ingere alimentos corados. É possível observar a movimentação da língua levando o bolo alimentar, a elevação da laringe e o fechamento da glote. Quadro 2.1 - Principais testes endoscópicos faringolaríngeos 2.3 TESTES AUDITIVOS 2.3.1 Audiometria tonal A audiometria determina, para cada frequência sonora audível, a menor intensidade detectável em via aérea e via óssea (Figura 2.14). São testadas frequências que vão de 250 a 8.000 Hz, e as intensidades são medidas em decibéis (dB). Graficamente, obtém-se uma curva em que, nas abscissas, estão as frequências sonoras testadas e, nas ordenadas, está a intensidade sonora. Vale ressaltar que, no gráfico audiométrico, há a “inversão” dos valores nas ordenadas, ou seja, as maiores intensidades testadas encontram-se na região mais baixa do gráfico e as menores, na região mais alta. Figura 2.14 - Audiometria Legenda: (A) audiometria por via aérea – o fone é colocado no canal auditivo e o som percorre, na sequência, conduto auditivo, membrana timpânica, cadeia ossicular, cóclea, nervo auditivo; (B) audiometria por via óssea – o diapasão é colocado junto ao osso temporal, e a vibração sonora é transmitida diretamente à cóclea e, em seguida, ao nervo auditivo. Fonte: adaptada de Missorla. 2.3.1.1 Audiometria por via aérea Determina a menor intensidade sonora detectada por sons transmitidos por via aérea, ou seja, por meio de fone colocado no ouvido (CAE) do paciente (Figura 2.15). Figura 2.15 - Audiograma normal de via aérea Nota: observe que os menores sons detectáveis pela orelha direita são marcados por círculos vermelhos, enquanto a orelha esquerda é marcada por um “X” azul. Há, também, uma reta marcando o limiar da normalidade. Considera-se que há alguma perda auditiva quando a detecção do som ocorre em intensidades maiores que 25 dB. Fonte: adaptado de Improving detection of adolescent hearing loss, 2011. 2.3.1.2 Audiometria por via óssea Determina a menor intensidade sonora detectada por sons transmitidos por via óssea, ou seja, por meio de vibrador ósseo (diapasão) colocado na região retroauricular – mastoide. Assim, transmite-se o som diretamente à cóclea sem o uso do complexo tímpano-ossicular. Os limiares de detecção dos sons por via aérea e óssea devem ser coincidentes e menores do que 20 dB. Pacientes com detecção de sons em intensidades acima dessa apresentam algum grau de perda auditiva ou disacusia. As curvas das vias aérea e óssea são representadas no mesmo gráfico, e, quando presente, a diferença entre os limiares ósseos e aéreos é denominada gap, ou diferença aéreo-óssea. Os principais tipos de perda auditiva são: 1. Neurossensorial: a) Os limiares auditivos por via aérea e via óssea coincidem e ambos são maiores do que 25 dB; b) Geralmente esse tipo de perda decorre de lesões cocleares como presbiacusia, ototoxicidade e perda por ruído ou nervosas – neurinomas do NC VIII. 2. Condutiva: a) O limiar auditivo por via aérea é maior do que 25 dB, e o limiar auditivo por via óssea está dentro do normal (menor do que 25 dB); b) É sugestivo de patologias exclusivas da orelha média, como as otites médias – aguda, crônica e secretora – e a desarticulação da cadeia ossicular pós-traumática. 3. Mista: a) Tanto o limiar ósseo quanto oaéreo são maiores do que 25 dB, mas não são coincidentes, sendo o limiar por via aérea maior do que o limiar por via óssea; b) É um tipo de perda menos comum, em geral decorrente de patologias que acometem as orelhas média e interna (como otosclerose ou alguns traumas de osso temporal). 2.3.1.3 Audiometria vocal O examinador pronuncia palavras padronizadas em intensidades predeterminadas de acordo com a audiometria tonal e solicita ao paciente que as repita. Esse exame tem a função de confirmar o limiar audiométrico por via aérea e determinar a capacidade de discriminação da fala. 2.3.2 Timpanometria ou impedanciometria Mede a complacência ou mobilidade da membrana timpânica em função de pressões aplicadas no CAE. São possibilidades de curvas de complacência: 1. Curva A: é normal; 2. Curva Ar ou As: é sugestiva de rigidez da cadeia ossicular, como na otosclerose. Essa rigidez restringe a movimentação da membrana timpânica; 3. Curva Ad: é sugestiva de desarticulação da cadeia ossicular ou de formação de cicatrizes no tímpano – neotímpano. Nessa situação, a ausência de pressão bariátrica na membrana permite sua intensa mobilidade; 4. Curva B: é sugestiva de secreção na orelha média. A secreção impede a mobilização tanto interna quanto externa da membrana, de forma a não haver formação de “pico” de mobilidade; 5. Curva C: é sugestiva de disfunção da tuba auditiva. A membrana encontra-se retraída em direção à caixa timpânica. Por isso, quando aplicada pressão negativa no CAE, a membrana é “aspirada” de volta à sua posição original e, assim, tem seu pico de mobilidade em pressões negativas. 2.3.3 BERA (audiometria de tronco encefálico) A condução do estímulo sonoro até o sistema nervoso central segue este caminho (Figura 2.16): 1. Vibração da membrana timpânica; 2. Vibração da cadeia ossicular e estimulação da cóclea; 3. Ativação do órgão de Corti e ativação do nervo auditivo NC VIII; 4. Ativação do núcleo coclear ventral; 5. Ativação do núcleo coclear dorsal; 6. Ativação do complexo olivar superior; 7. Ativação do núcleo do lemnisco lateral. O BERA é realizado por meio da estimulação sonora no CAE com fones de ouvido e a captação do impulso nervoso gerado por tal estímulo. Para isso, são usados eletrodos fixos à pele do paciente. Obtém-se uma curva que demonstra os instantes em que o estímulo atingiu as principais estruturas anatômicas da via auditiva (Figura 2.16). O BERA é um teste objetivo que não depende da resposta voluntária do indivíduo. Aplica-se esse teste em: Pacientes com suspeita de simulação de perda auditiva; Crianças de até 4 anos, pois mede grosseiramente o limiar auditivo e independe da resposta do indivíduo; Triagem de lesões neurodegenerativas ou neurinomas de NC VIII: quando presentes, elas retardam o tempo de aparecimento da onda I. Figura 2.16 - Estruturas centrais avaliadas e suas ondas geradas (I a VII) na audiometria de tronco encefálico Fonte: adaptado do site Neurologic Labs. 2.3.4 Emissões otoacústicas O órgão de Corti, na orelha interna, transforma o estímulo mecânico vibratório, endolinfa, em estímulo elétrico que percorre o NC VIII. Nesse processo, o órgão gera ruídos que podem ser captados por fones ultrassensíveis colocados no CAE. Esse teste é utilizado como triagem auditiva neonatal, chamado “teste da orelhinha”. A ausência de respostas pode indicar perda auditiva de graus variados, mas precisa ser mais bem avaliada por apresentar muitos falsos negativos e deve ser testada novamente em 30 dias. 2.3.5 Eletrococleografia Usada na suspeita de doença de Ménière, testa os potenciais nervosos gerados no NC VIII após a estimulação sonora. Seus principais parâmetros são a intensidade do Potencial de Ação (PA) e do Potencial de Somação (PS), gerados no nervo. A relação PS- PA maior do que 30% sugere hidropisia endolinfática. 2.4 TESTE OTONEUROLÓGICO A avaliação do comportamento do nistagmo é fundamental para o correto diagnóstico das vestibulopatias periféricas. Nesse exame, testa-se a motilidade ocular voluntária e involuntária, além da ocorrência e da intensidade no nistagmo em diversas situações; o principal passo desse teste é realizado quando se procede ao aquecimento ou resfriamento unilateral do CAE com água corrente em temperatura entre 30 e 44 °C. Nessas situações, geram-se correntes de convecção nos canais semicirculares laterais, com consequentes estimulação labiríntica e geração de estímulo neurológico de sensação de rotação. Em seguida, há o aparecimento de nistagmo reflexo, cuja intensidade, associada às demais informações obtidas no exame, permite sugerir o tipo e a topografia da lesão labiríntica em curso. 2.5 POLISSONOGRAFIA Consiste na avaliação quantitativa de parâmetros variáveis durante o sono e da inter-relação entre esses parâmetros. É utilizada em pacientes com suspeita de síndrome de apneia e hipopneia obstrutiva do sono ou com outros distúrbios do sono. Nesse teste, o paciente dorme no laboratório, e monitorizam-se, simultaneamente: 1. Frequência cardíaca; 2. Frequência respiratória; 3. Oximetria; 4. Pressão arterial; 5. Tônus muscular; 6. Eletroencefalograma; 7. Fluxos aéreos nasal e oral; 8. Expansões torácica e abdominal; 9. Decúbito; 10. Ocorrência e intensidade de roncos; 11. Movimentos oculares. Diante desses parâmetros, podem-se determinar a ocorrência e a frequência média de apneias noturnas e seu grau de interferência na qualidade do sono – Índice de Apneia e Hipopneia (IAH). Nos adultos, os índices são definidos como: 1. Normal: 0 a 5; 2. Apneia leve: 5 a 10; 3. Apneia moderada: > 15 e < 30; 4. Apneia grave: ≥ 30. Em crianças, os parâmetros de normalidades são discutidos, porém aceita-se como normal IAH de 0 a 1, sendo IAH maior que 1 sugestivo de Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS). As apneias podem ser classificadas quanto à origem como: 1. Obstrutivas: decorrem de colabamento das vias aéreas durante o sono, secundariamente a hipotonia muscular e alterações anatômicas. Não há diminuição do estímulo neurológico para a respiração, e as contrações musculares torácicas-diafragmáticas estão mantidas; 2. Centrais: decorrem da redução da ventilação por diminuição do estímulo nervoso para a respiração durante o sono. É comum em neuropatias; 3. Mistas: trata-se da combinação das apneias obstrutivas e centrais, situação mais rara. Em uma audiometria, por que o limiar sonoro por via aérea deve ser maior ou igual ao limiar medido por via óssea? Conforme discutido no capítulo, para medição do limiar por via aérea, o fone é colocado na abertura do conduto auditivo externo. Dessa forma, o som deve atravessar: o conduto auditivo, membrana timpânica e cadeia ossicular até alcançar a cóclea, onde o estímulo vibratório sonoro é convertido em estímulo nervoso. Já para medição do limiar por via óssea, coloca-se um vibrador ósseo (diapasão) em contato com alguma saliência do osso temporal, geralmente a ponta da mastoide; dessa forma, o estímulo vibratório ósseo estimula diretamente a cóclea sem passar pelas 3 primeiras estruturas. Sendo assim, o limiar por via aérea deve ser maior ou igual àquele medido por via óssea. Paciente do sexo masculino, 18 meses. Mãe refere que há 2 dias apresenta febre de 38 °C, diminuição da aceitação alimentar e prostração leve. Ao exame físico, otoscopia normal à direita e abaulamento com hiperemia à esquerda. Devemos dar antibiótico a esse paciente? 3.1 DOENÇAS DA ORELHA EXTERNA 3.1.1 Oto-hematoma 1. Definição: coleção sero-hemática entre o pericôndrio e a pele, geralmente após trauma local; 2. Quadro clínico: abaulamento local, em geral na região da hélice, de coloração vinho-acastanhada, com flutuação e dor à palpação; 3. Diagnóstico: eminentemente clínico; 4. Tratamento: deve ser feito por drenagem local, seguida de curativo compressivo por 48 horas. Deve-se estabelecer a antibioticoterapia oral (cefalexina). 3.1.2 Pericondrite 1. Definição: infecção bacteriana da cartilagem e do pericôndrio do pavilhão auditivo; 2. Etiologia: em geral, ocorre após traumacom solução de continuidade com o meio externo ou pelo uso de brincos ou piercings. Também pode ocorrer como evolução de otites externas. Os principais agentes são os germes da pele (Streptococcus, Staphylococcus) e Pseudomonas aeruginosa; 3. Quadro clínico: hiperemia, dor e edema do pavilhão auricular de rápida evolução, após trauma local; 4. Diagnóstico: eminentemente clínico; 5. Tratamento: deve ser feito de forma agressiva, com antibioticoterapia oral (ciprofloxacino), associada a corticoterapia oral (prednisona, dexametasona). Em casos de formação de abscesso, deve ser drenado, e devem ser mantidos dreno e curativo compressivo. Deve-se, também, considerar o uso de pomadas com antibióticos na região da laceração traumática. As principais complicações são a necrose tecidual e a ocorrência de deformidades no pavilhão após a recrudescência da infecção. Quadro 3.1 - Patologias que acometem o pavilhão auricular 3.1.3 Otite externa difusa aguda 1. Definição: infecção aguda da derme e da epiderme do Conduto Auditivo Externo (CAE); 2. Agentes: P. aeruginosa, S. aureus, Streptococcus e Proteus mirabilis. Seus fatores predisponentes mais comuns são: a) Exposição à umidade: justifica maior incidência após piscina, banhos de imersão e em nadadores; b) Traumas: os externos, incluindo os por uso de hastes de algodão e corpos estranhos, podem gerar pequenas lacerações da pele do CAE, gerando solução de continuidade com o meio externo e facilitando a infecção. 3. Composição do manto lipídico: a secreção das glândulas ceruminosas, quando ausentes, ou alterações na composição da secreção das glândulas locais podem aumentar o pH e favorecer a penetração bacteriana; 4. Quadro clínico: otalgia moderada a intensa, geralmente unilateral, que piora à compressão do trágus ou manipulação do pavilhão auricular. Não se observam alterações sistêmicas como febre e queda do estado geral. A otoscopia é dolorosa, e observam-se edema difuso do CAE, chegando a ocluí-lo, hiperemia, descamação e secreção (Figura 3.1); 5. Diagnóstico: eminentemente clínico; quando possível, deve-se realizar cultura de secreção; 6. Tratamento: de acordo com a gravidade da doença: a) Casos leves: gotas tópicas contendo antibióticos e corticoides; b) Casos intensos: associar antibióticos orais (cefalexina, cefadroxila ou ciprofloxacino).. O paciente também deve ser orientado a proteger o ouvido contra a entrada de água no CAE durante o tratamento. Figura 3.1 - Otite externa difusa aguda Fonte: Otite externa difusa aguda: um estudo prospectivo no verão do Rio de Janeiro, 2004. 3.1.4 Otite externa circunscrita 1. Definição: infecção em complexo pilossebáceo do CAE, de localização bem definida e circunscrita (furúnculo); 2. Etiologia: causada principalmente por Staphylococcus aureus; 3. Quadro clínico: dor intensa local, evolução rápida, algumas vezes com febre. À otoscopia, observa-se edema localizado com sinais flogísticos, muito doloroso ao toque (Figura 3.2); 4. Tratamento: antibióticos com cobertura para Gram positivos, como cefalexina; analgésicos e anti-inflamatórios também devem ser utilizados. Em casos de abscessos organizados, deve-se proceder à drenagem cirúrgica. Figura 3.2 - Otite externa circunscrita Nota: observe o abaulamento em região superior do conduto auditivo externo, com aparente sinal de flutuação. Fonte: site London ENT Clinic. 3.1.5 Rolha de cerume - epidérmica 1. Definição: acúmulo de cerume no CAE, formando uma rolha que contém também debris celulares. Fisiologicamente, o cerume é produzido por glândulas ceruminosas localizadas no terço externo do CAE; 2. Quadro clínico: caracteriza-se por hipoacusia com plenitude auricular, em geral desencadeado por uso de hastes de algodão ou após imersão do ouvido em água. O diagnóstico é eminentemente clínico, por meio da observação de rolha ocluindo total ou parcialmente o CAE; 3. Tratamento: feito por meio da remoção do cerume com lavagem com água morna ou com curetas especiais. São situações que podem favorecer a formação da rolha de cerume: 1. Uso de hastes de algodão ou protetores auriculares: são objetos que podem descolar o cerume do terço externo do CAE em direção aos 2 terços internos, e, nessa região, o cerume não consegue ser eliminado pelo CAE pelos mecanismos fisiológicos; 2. Variações anatômicas: CAEs estreitos ou tortuosos possuem maior facilidade ao acúmulo de cerume; 3. Banho de imersão: a presença de água no CAE umedece uma rolha previamente existente, tornando-a maior e mais oclusiva, dando início aos sintomas. 3.1.6 Otite externa necrotizante ou maligna 1. Definição: infecção originária do CAE que se estende para as estruturas adjacentes – articulação temporomandibular, pavilhão auricular, orelha média, mastoide, base do crânio, orelha interna e osso temporal. Tem caráter bastante invasivo, gerando destruição tissular e intenso processo inflamatório; 2. Etiologia: Pseudomonas aeruginosa; 3. Fatores de risco: diabetes não controlado (90%), idosos e imunossupressão como AIDS, doenças linfoproliferativas e quimioterapias; 4. Quadro clínico: inicia-se como otite externa aguda refratária ao tratamento clínico. A dor é de moderada a intensa, prurido, otorreia. Sintomas sistêmicos como queda do estado geral, descompensação diabética, febre e cefaleia. Hipoacusia com plenitude auricular e otorreia são típicos. Com a evolução, pode acometer regiões adjacentes, gerando dor à movimentação da articulação temporomandibular, restrição à abertura oral – acometimento de masseter –, adenopatia cervical e necrose dos tecidos adjacentes. A invasão do osso temporal gera sinais de complicações secundárias, como paralisia facial periférica – acometimento do nervo facial – e formação de abscessos intracranianos ou intratemporais. Os nervos cranianos mais comumente envolvidos são o VII, X, XI; 5. Exame físico: intenso edema e hiperemia no pavilhão auricular e no CAE, secreção purulenta no CAE, ulcerações na derme, granulações locais e dor intensa ao toque; paralisia facial pode ocorrer (Figura 3.3); 6. Diagnóstico laboratorial e exames complementares: a) Cintilografia com gálio-67: marca os polimorfonucleares, sendo um marcador de infecção ativa (osteomielite). Utilizada para monitorizar a resposta terapêutica; b) Cintilografia com tecnécio-99: mostra regiões osteoblásticas, presentes em osteomielites. Usada para diagnóstico inicial da doença; c) Tomografia Computadorizada (TC) de mastoide: inicialmente observa-se espessamento dos tecidos moles relacionados ao osso temporal e base de crânio. Com a evolução, os tecidos ósseos também se espessam; d) Ressonância Nuclear Magnética (RNM) de mastoide: fornece informações complementares à TC. Também avalia possíveis alterações no Sistema Nervoso Central (SNC) secundárias ao processo infeccioso; e) Outros exames que devem ser solicitados são: cultura da secreção do ouvido, hemocultura e exames gerais: hemograma, proteína C reativa, velocidade de hemossedimentação, glicemia. 7. Tratamento: a) Compensação das patologias associadas: citam-se diabetes mellitus e compensação clínica geral – paciente internado; b) Antibioticoterapia parenteral: ciprofloxacino como o antibiótico mais comumente utilizado, porém outros agentes anti- Pseudomonas devem ser considerados; c) Abordagem cirúrgica: nos casos refratários ao tratamento clínico, com debridamento das áreas necróticas, a abordagem cirúrgica deve ser considerada. Figura 3.3 - Otite externa maligna Nota: observe a formação de tecido necrótico e de granulação em conduto auditivo e pavilhão auricular. Fonte: site Medical Foxx. A maioria dos estudos atuais relata uma taxa de mortalidade de menos de 10%, mas a mortalidade é mais alta para aqueles com neuropatias cranianas, complicações intracranianas ou imunossupressão sistêmica irreversível. Figura 3.4 - Otite externa maligna Nota: a seta aponta edema de tecidos e erosão óssea em região adjacente ao conduto auditivo externo esquerdo. Fonte: adaptado de Malignant External Otitis with Multiple Cranial Nerve Palsies:The Use of Hyperbaric Oxygen, 2004. 3.1.7 Otomicose 1. Definição: infecção do CAE causada por fungos; 2. Agentes: dos gêneros Candida spp. e Aspergillus spp.; 3. Quadro clínico: desde pouco sintomático, como, por exemplo, prurido isolado, até com sintomas mais intensos. À otoscopia, observam-se os filamentos fúngicos, de coloração variável; 4. Tratamento: gotas tópicas contendo antifúngicos e limpeza local por aspiração. Deve-se evitar umidade local até a resolução do quadro. 3.1.8 Miringite bolhosa 1. Definição: infecção na camada externa, epitelial, da Membrana Timpânica (MT), formando bolha pela delaminação dessas camadas, contendo secreção serosa em seu interior; 2. Etiologia: ainda não está totalmente elucidada, mas acredita-se que seja decorrente de infecção viral pós-Infecção das Vias Aéreas Superiores (IVAS) ou bacteriana, sendo possivelmente os mesmos agentes da Otite Média Aguda (OMA); 3. Quadro clínico: intensa otalgia, geralmente unilateral, após IVAS. Febre e outros sintomas gerais geralmente não são observados. Observam-se hipoacusia e plenitude e, ao exame físico, bolha com conteúdo líquido na MT, com hiperemia local e CAE preservado; 4. Diagnóstico: eminentemente clínico. Audiometria pode evidenciar perda condutiva ou mista – transitória; 5. Tratamento: proteção contra umidade, antibioticoterapia com claritromicina ou eritromicina, e corticoterapia oral e tópica. A punção da bolha tem validade questionável. Muitos autores sugerem não realizá-la. Figura 3.5 - Histologia da membrana timpânica Legenda: (1) conduto auditivo externo; (2) epitélio do conduto auditivo externo; (3) fibras colágenas orientadas radialmente; (4) fibras colágenas orientadas circularmente; (5) mucosa de orelha média; (6) orelha média; (7) plano de clivagem (entre epitélio e camada externa de colágeno) na miringite bolhosa. Fonte: adaptado de HistoWeb. Quadro 3.2 - Patologias que acometem o conduto auditivo 3.2 DOENÇAS NÃO INFECCIOSAS DA ORELHA MÉDIA 3.2.1 Disfunção tubária 1. Definição: incapacidade da tuba auditiva em se abrir adequadamente e equalizar a pressão no interior da orelha média com a pressão da cavidade nasal, pressão ambiente; 2. Etiologia: secundária ao edema da mucosa da tuba em vigência de IVAS ou processos alérgicos; pode acontecer de forma crônica, secundário a malformações craniofaciais, OMAs de repetição ou sem fator evidente; 3. Quadro clínico: plenitude auricular associada a hipoacusia e eventual zumbido. À otoscopia, observa-se a MT retraída para a orelha média; 4. Diagnóstico: clínico; curva C à timpanometria e presença de gap aéreo-ósseo; 5. Tratamento: direcionado à doença de base – antialérgicos e descongestionantes são bastante eficazes. Movimentos repetitivos de deglutição, como chupar bala ou mascar chiclete, ativam os músculos tubários e auxiliam na abertura da tuba auditiva. Em casos refratários a tratamento clínico, indica-se timpanotomia e tubo de ventilação. 3.2.2 Otosclerose (otospongiose) 1. Definição: patologia que acomete multifocalmente o labirinto ósseo, notadamente na região da janela oval. Ocorre um processo de reabsorção e síntese óssea que pode levar, no final, à fixação da platina do estribo na janela oval, com consequente rigidez na vibração da cadeia ossicular, que passa a não transmitir adequadamente as vibrações sonoras; 2. Fatores de risco: mulheres jovens com pico de incidência entre a terceira e quinta décadas de vida, antecedente de gestação; 3. Quadro clínico: hipoacusia progressiva com zumbidos; podem também ocorrer sintomas vestibulares. O exame físico costuma ser normal; 4. Testes complementares: a) Audiometria: perda auditiva condutiva ou mista, acometendo inicialmente as menores frequências – graves. Pode ocorrer perda auditiva mais pronunciada na frequência de 2 kHz, fenômeno conhecido como entalhe de Carhart (Figura 3.6); b) Imitanciometria: caracterizada por curva tipo “Ar”; c) Evolução: as demais frequências podem ser acometidas e a perda auditiva tornar-se do tipo mista pela invasão dos focos otoscleróticos no ouvido interno (Figura 3.7). 5. Tratamento: a) Clínico: readaptação auditiva por meio de Aparelhos de Amplificação Sonora Individual (AASIs), terapia medicamentosa com fluoreto de sódio ou alendronato de sódio, que tem efeito inibidor na progressão da doença; b) Cirúrgico: substituição do estribo por uma prótese (Figura 3.8). Em casos severos pode-se considerar próteses implantáveis ou implante coclear. Figura 3.6 - Entalhe de Carhart na orelha direita Nota: observar os limiares preservados na orelha esquerda. Figura 3.7 - Disacusia mista bilateral, secundária a otosclerose de longa evolução Fonte: adaptado de Malformações congênitas da orelha média - causa rara de hipoacusia pediátrica, 2014. Figura 3.8 - Tratamento cirúrgico da otosclerose Legenda: (A) foco de ossificação da janela oval com fixação do estribo; (B) remoção das cruras do estribo e alocação de prótese entre a bigorna e a platina do estribo. #IMPORTANTE As principais características da otosclerose são perda auditiva condutiva de caráter progressivo, sexo feminino, piora após gestação e fixação do estribo na janela oval. Quadro 3.3 - Patologias não infecciosas do ouvido 3.2.3 Traumas Os traumas do osso temporal são divididos, didaticamente, conforme segue. 3.2.3.1 Trauma do conduto auditivo externo 1. Mecanismo de trauma: geralmente secundário a uso de hastes de algodão ou corpos estranhos; 2. Quadro clínico: dor intensa e sangramento, sem alteração da acuidade auditiva. O exame físico evidencia laceração do conduto auditivo e MT íntegra; 3. Tratamento: proteção contra umidade, gotas tópicas contendo antibióticos e analgesia (Figura 3.9). Figura 3.9 - Laceração do conduto auditivo externo, sem acometimento da membrana timpânica Fonte: site Otoscopy. 3.2.3.2 Perfuração timpânica traumática 1. Mecanismo de trauma: penetração de corpo estranho ou por aumento súbito de pressão no CAE – “tapa na orelha”; 2. Quadro clínico: otalgia associada a otorragia e hipoacusia. À otoscopia, observam-se MT lacerada e sangramento local; 3. Tratamento: proteção auricular e observação clínica, uma vez que 85 a 95% das perfurações traumáticas cicatrizam espontaneamente (Figura 3.10), em geral até 2 meses. Caso não haja fechamento da perfuração, deve-se considerar a correção cirúrgica. Figura 3.10 - Perfuração traumática da membrana timpânica à esquerda Observar a presença de sangue no conduto auditivo externo e a perfuração na membrana timpânica, além da cadeia ossicular. Fonte: site Ear, Nose and Throat - USA. 3.2.3.3 Desarticulação de cadeia ossicular 1. Mecanismo de trauma: traumas penetrantes ou fechados, de maior energia; 2. Quadro clínico: hipoacusia súbita após o trauma, podendo estar associado ou não a perfuração da MT; 3. Diagnóstico: com base na audiometria – disacusia, condutiva ou mista –, com timpanometria evidenciando curva tipo Ad. A tomografia de mastoide também pode mostrar a região acometida; 4. Tratamento: protetização auditiva e/ou reconstrução cirúrgica da cadeia ossicular com próteses. 3.2.3.4 Fraturas do osso temporal a) Longitudinal 1. Mecanismo de trauma: geralmente secundário a trauma de leve a moderada energia; cerca de 80% das fraturas de ossos temporais são longitudinais, resultantes de traumas em direção lateral ao crânio na região parietal da cabeça; 2. Quadro clínico: varia de acordo com a estrutura acometida, porém comumente não cursa com lesão de estruturas nobres – nervo facial e cápsula ótica –, mas pode causar desarticulação da cadeia ossicular; 3. Diagnóstico: tomográfico; as estruturas mais envolvidas são a MT, o teto da caixa timpânica e a porção anterior do ápice petroso; 4. Tratamento: possivelmente conservador nos casos menos graves. b) Transversa 1. Mecanismo de trauma: geralmente secundário a trauma lateral ou frontal de alta energia. A linha de fratura comumente acomete estruturas nobres, como o canal do nervo facial, a cápsula ótica e a base do crânio; 2. Quadro clínico: varia de acordocom as estruturas acometidas; em geral envolvem paralisia facial periférica, hipo ou anacusia, vertigem severa e até mesmo otorreia hialina em casos de fratura de base do crânio e formação de fístula labiríntica; 3. Diagnóstico: com base em tomografia; 4. Tratamento: deve ser considerado de acordo com a estrutura acometida. Nos casos de paralisia facial, devem-se considerar a mastoidectomia e a descompressão do canal do NC VII. Quadro 3.4 - Traumas que acometem estruturas nobres 3.3 DOENÇAS INFECCIOSAS- INFLAMATÓRIAS DA ORELHA MÉDIA 3.3.1 Otite média aguda 1. Definição: a Otite Média Aguda (OMA) é um processo infeccioso da orelha média que pode ser viral ou bacteriano; 2. Etiologia: os principais agentes etiológicos são: a) Bacterianos: Em recém-nascidos e até a sexta semana de vida: S. aureus ou enterobactérias (E. coli, Klebsiella spp. e Enterobacter spp.) Após a sexta semana de vida: em ordem decrescente de frequência, S. pneumoniae, H. influenzae e M. catarrhalis. b) Virais: vírus sincicial respiratório, adenovírus, influenza A ou B. 3. Fisiopatologia: a OMA é, na maioria das vezes, secundária a IVAS e processos inflamatórios-alérgicos das vias aéreas superiores. Nessas situações, há edema mucoso e disfunção na tuba auditiva, favorecendo a estase de secreção na orelha média; 4. Epidemiologia: as crianças estão mais sujeitas à ocorrência de OMA, observando-se 2 picos de incidência – entre 6 e 24 meses e entre 4 e 7 anos; 5. Fatores de risco: a maior incidência em crianças deve-se, principalmente, a: a) OMAs ou IVAS de repetição previamente; b) Anatomia: a tuba auditiva mais curta e horizontalizada de crianças predispõe à aspiração de secreções da nasofaringe até o ouvido médio; c) Hábito de mamar deitado; d) Aleitamento materno por menos de 3 meses; e) Frequência a creches ou berçários (exposição a IVAS); f) Tabagismo passivo; g) Doença do refluxo gastroesofágico; h) Atopias; i) Meses de inverno. 6. Quadro clínico: otalgia, otorreia, plenitude auricular, toxemia e febre. Em crianças menores, são possíveis sinais e sintomas menos específicos, como diarreia e prostração, além de dificuldade para mamar; 7. Diagnóstico: eminentemente clínico. A otoscopia é fundamental e muitas vezes permite diferenciar a etiologia da otite. A avaliação da MT deve incluir: posição – normal, retraída, abaulada; cor – rosada, âmbar, branca, vermelha, azul; translucidez – translúcida, semiopaca, opaca; mobilidade, quando possível – normal, aumentada, diminuída, ausente; a) OMAs virais: a MT está hiperemiada – sinais de aumento da vascularização timpânica – e com transparência diminuída; b) OMAs bacterianas: além dos sinais anteriores, observa-se MT abaulada devido à secreção contida no interior do ouvido médio. 8. Tratamento: visa aliviar os sinais e sintomas e prevenir complicações. No entanto, a opção por introduzir a antibioticoterapia deve considerar a certeza do diagnóstico (vide adiante). Figura 3.11 - Membrana timpânica Nota: observar a membrana timpânica abaulada, opacificada e hiperemiada. Legenda: (A) MT normal; (B), (C) e (D) – diferentes estágios de otite média aguda. Fonte: The diagnosis and management of acute otitis media, 2013. Figura 3.12 - Orelha média em vigência de otite média aguda Nota: observar o preenchimento da cavidade por secreção purulenta. Fonte: adaptado de Svetlana Verbinskaya. Quadro 3.5 - Diagnóstico de otite média aguda bacteriana Apesar de os protocolos não serem consensuais, a American Academy of Pediatrics orienta seguir alguns critérios para iniciar antibioticoterapia (Quadro 3.6). Quadro 3.6 - Indicação de antibioticoterapia na otite média aguda A escolha da antibioticoterapia deve ser feita da seguinte forma: 1. Primeira escolha: amoxicilina. Em caso de falha terapêutica em 48 horas, deve ser aumentada a dose de amoxicilina. Alternativa para alérgicos: claritromicina ou clindamicina; 2. Segunda escolha: amoxicilina + ácido clavulânico ou axetilcefuroxima – na presença de falha terapêutica, deve ser usada para eliminar Haemophilus influenzae e Moraxella catarrhalis resistentes; 3. Terceira escolha: ceftriaxona por 3 dias consecutivos intramuscular em casos de vômitos persistentes ou em outras situações que não seja possível receber medicação oral. Pacientes sem resposta a amoxicilina com ácido clavulânico devem receber 3 dias de ceftriaxona intramuscular. O paciente deve ser reavaliado em 48 a 72 horas após o início do tratamento e fatores como dor, febre e estado geral devem ser considerados. Nos casos em que não há alívio dos sintomas, pode-se optar pela ampliação do espectro antimicrobiano. 3.4 TRATAMENTOS ASSOCIADOS A miringotomia, microincisão de alívio na MT, visa à drenagem da coleção purulenta da orelha média e deve ser considerada em pacientes refratários ao tratamento clínico, dor intensa e vigência de complicações. Vale ressaltar que a perfuração na MT cicatriza após a remissão do quadro infeccioso. Anti-inflamatórios não hormonais e antitérmicos complementam o tratamento. Gotas tópicas otológicas não são usadas de rotina. A vacina conjugada do pneumococo – PCV7 antes de 24 meses – mostrou-se efetiva na proteção contra otite, com redução dos casos e das visitas ao médico. Sabe-se que a maioria das otites é de causa viral e que 2 terços das crianças com influenza podem tê-la. A introdução da vacinação contra o vírus influenza mostrou eficácia, diminuindo em 30% a 55% as otites durante o inverno. A vacina é recomendada a partir de 6 meses. 3.4.1 Otite média aguda recorrente 1. Definição: episódios frequentes de OMA intercalados por períodos de normalidade; 2. Fatores de risco: os fatores predisponentes são semelhantes aos da OMA, associados a hipertrofia adenoidiana, imunodeficiências, deficiência de IgA, malformações craniofaciais; 3. Agentes etiológicos: em geral, são os mesmos da OMA. Deve-se atentar também para tratamentos prévios feitos incorretamente ou para possível resistência a antibióticos; 4. Tratamentos: tratamento dos fatores de base; a miringotomia com alocação de tubo de ventilação apresenta bons resultados. A quimioprofilaxia da OMA recorrente por meio do uso prolongado de antimicrobianos (geralmente amoxicilina) em baixa dose tem efeitos comprovados e pode ser considerada antes da cirurgia. 3.4.2 Otite média secretora 1. Definição: também denominada otite média serosa, otite média com efusão, a Otite Média Secretora (OMS) caracteriza-se pela persistência de líquido no interior do ouvido médio; frequentemente está associada a OMA de repetição; 2. Epidemiologia: há 2 picos de incidência, entre 6 e 13 meses e aos 5 anos. Deve-se lembrar que, após um episódio de OMA, é possível persistir certa quantidade de líquido no ouvido médio, podendo levar até 8 semanas para ser completamente reabsorvido. Esse líquido pode ou não ser o ponto de partida para a OMS; 3. Fatores de risco: semelhantes a OMA recorrente; 4. Quadro clínico: caracteriza-se pelo histórico de otites recorrentes e queixa de hipoacusia. Ao exame físico, encontram-se diminuição da transparência da MT, aumento de sua vascularização radial, coloração variável e áreas de retração; 5. Diagnóstico: os testes audiométricos indicam a disacusia condutiva, e a impedanciometria mostra alteração de curva tipo B; 6. Tratamento: no início e nos casos mais leves, pode ser clínico, com a associação de antibióticos e corticoides. Nos casos refratários ao tratamento clínico, está indicada miringotomia com colocação de tubos de ventilação na MT, associada a adenoidectomia quando necessário. São fatores de risco para a OMS idade menor do que 6 anos, hiperplasia de adenoide, malformação craniofacial, patologias da tuba auditiva e doença do refluxo gastroesofágico. 3.4.3 Otite média crônica 1. Definição: a Otite Média Crônica (OMC) pode ser definida como um processo inflamatório crônico da orelha média associado à perfuração da MT (Figura 3.13); 2. Quadro clínico: otorreia recorrente, principalmente ao molhar o ouvido, hipoacusia e zumbido; sintomas menos comuns são