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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS. Processo originário nº: 202016448001234. Comarca de origem: Goiânia Impetrante: Yan Batista Paciente: João Campos da Silva Autoridade coatora: Juízo da 3ª Vara Criminal da Comarca de Goiânia YAN BATISTA, (endereço), vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, impetrar ordem de HABEAS CORPUS com fulcro no art. 5º, LXVIII, da Constituição Federal, e arts. 647 e 648, VII, do Código de Processo Penal, em favor de JOÃO CAMPOS DA SILVA, brasileiro, casado, motorista, RG 12345, CPF 999.999.999-99, com domicílio civil na Rua 53, 100, Jardim Palmeiras, Goiânia-Goiás, contra ato ilegal praticado pelo Juízo da 3ª Vara Criminal da Comarca de Goiânia, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas: I-DOS FATOS João Campos da Silva, foi denunciado por suposta incursão no tipo penal inserto no art. 157, §2º, II, do CP. Após a instrução processual, o acusado foi condenado pelo Juízo da 3ª Vara Crimina da Comarca de Goiânia, nos exatos termos da denúncia, sendo-lhe cominada a pena de 7 anos de reclusão, nos autos do processo nº 202016448001234. O acusado não foi intimado pela sentença, embora tenha constituído advogado para patrocinar a defesa. Passados 30 dias da publicação da sentença, o magistrado determinou a prisão de João, para cumprimento da pena. O advogado de Joao interpôs recurso de apelação ao TJ. Foi declarado intempestivo pelo magistrado. A decisão também determinou ao escrivão que certificasse o trânsito em julgado da sentença. O mandado de prisão foi expedido e entregue para o Delegado de Polícia que encontra-se a procura de João e poderá efetuar a prisão a qualquer momento. II-DO DIREITO 2.1-Do cabimento do Habeas Corpus Consoante dispõe a Constituição Federal, em seu art.5º, inciso LXVIII: “conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.” Também, o art. 647, do Código de Processo Penal nos traz: “dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplina” Portanto, diante de ato coator cometido pela autoridade impetrada, consubstanciada em manifesta ilegalidade, tem-se por devido e cabível o presente pedido. 2.2- Do Cerceamento de Defesa Ao instaurar um processo judicial com repercussão direta ao acusado, o Estado tem o dever de conduzir todo trâmite de forma a garantir o direito ao contraditório e à ampla defesa, conforme destaca Liebman: “(...) é a garantia fundamental da justiça e regra essencial do processo, segundo o qual todas as partes devem ser postas em posição de xpor ao juiz suas razões antes que ele profira sua decisão (...). as partes devem poder desenvolver suas defesas de maneira plena e sem limitações impostas arbitrariamente. Qualquer disposição legal que contraste com essa regra deve ser considerada inconstitucional e, por isso, inválida.” (LIEBMAN, Henrico Tullio. O princípio do contraditório no processo civil italiano, in DESTEFENNI, Marcos. Curso de processo civil, Vol.1, Tomo 1, pag.15). O acusado não foi intimado pela sentença, embora tenha constituído advogado para patrocinar a defesa. Passados 30 dias da publicação da sentença, o magistrado determinou a prisão de João, para cumprimento da pena. A intimação é a ciência dada à parte, no processo, da prática de um ato, despacho ou sentença. A intimação da sentença ao réu é regulamentada no artigo 392 do Código de Processo Penal, onde se prevê as hipóteses várias de ele estar preso, solto ou foragido, de ter advogado constituído ou dativo, de ser a infração afiançável ou não. De toda sorte, há necessidade de intimação da sentença tanto ao réu preso como a seu defensor. Nessa linha tem-se OLIVEIRA, quando diz que o princípio constitucional da ampla defesa exige a intimação pessoal do acusado em qualquer hipótese, com que estaria revogado o disposto no inciso II do artigo 392 do Código de Processo Penal, que permite a intimação por intermédio do defensor. Entende ainda OLIVEIRA que, pelas mesmas razões, a intimação deverá ser feita pessoalmente ao réu, ainda no caso do inciso III do artigo 386 do Código de Processo Penal, pelo que restaria inaplicável a restrição contida. Por fim, na hipótese de não ser encontrado o acusado, independentemente da natureza da infração e de se tratar, ou não, de defensor constituído, a intimação do réu deverá ser feita por meio de edital. Nesse sentido, vejamos o julgado abaixo: RECURSO ESPECIAL. PENAL. SENTENÇA CONDENATÓRIA. NECESSIDADE DE INTIMAÇÃO PESSOAL DO RÉU E DO DEFENSOR CONSTITUÍDO. VIOLAÇÃO AO ART.392 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL CONFIGURADA. Recurso conhecido e provido. (STJ-RESP: 545687 MG/0037220-1, Relator: Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA, Data de Julgamento: 18/11/2002, T5-QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJ 09.12.2003 p.334) Ainda, o Superior Tribunal de Justiça entendeu haver nulidade absoluta na falta de intimação do réu na sentença condenatória de primeiro grau. Lemos: PROCESSO PENAL – SENTENÇA CONDENATÓRIA – APELAÇÃO – USO DE ENTORPECENTES – AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO DO DEFENSOR E DO RÉU – CAUSA DE NULIDADE. – É firme a jurisprudência desta Corte e do Pretório Excelso, no sentido de que a ausência de intimação do defensor e do réu para oferecimento de recurso contra a sentença condenatória é causa de nulidade. – Ordem concedida para anular a certidão de trânsito em julgado, determinando-se a regular intimação do réu e seu defensor da r. sentença condenatória. (STJ – HC: 172255 SP 2011/0078725-7, Relator: Ministro JORGE SCARTEZZINI, Data de Julgamento: 03/09/2020, T5 – QUINTA TURMA, Data de Publicação: →DJ 18/11/2002 p.244) NUCCI, ainda a comentar o artigo 392 do Código de Processo Penal, no que concerne a parte da intimação pessoal do réu preso e seu defensor, conclui que é consequência natural do direito de autodefesa e da possibilidade que tem de recorrer diretamente, sem que seja por meio de sua defesa técnica. Aduz que exige- se que o defensor seja intimado, para assegurar a ampla defesa e que, conforme o caso, será intimado pela imprensa, se constituído, ou pessoalmente, se nomeado. No entanto, em manifesta quebra ao direito constitucional da ampla defesa, foi cerceado o direito do acusado em ter o devido processo legal em manifesto prejuízo ao contraditório. Ainda há a demonstração do ato configurado nulo, no que se refere a não intimação do réu na decisão proferida pelo magistrado. Portanto, tem-se demonstrado claro cerceamento de defesa, razão pela qual, merece provimento o presente pedido. III-DOS PEDIDOS Diante do exposto, requer, após as informações prestadas pela autoridade apontada como coatora, seja concedida a ordem de habeas corpus, para João Campos da Silva. Termos em que, pede e espera deferimento. Goiânia, data Yan Batista de Mendonça e Sousa